TENTATTVA DE
DESEIWOLVIMENTODE
AIJGT]NS NOVOS PRINCIPIOS DECIÊNCIA NATURAL PARA UMA
PSICOLOGIA APLIC,Á,VELTSNTO
AO^COM-PORTAMENTOANIMAL
QUANTOAO
COMFORTAMENTOE A
E)CERIENCIA HUMANOSWAL'TER HUGO DE ANDRADE CUNHA Universidade de Sfu Paub
Pensei
demonstração do seguinteconjun-to
de
com certa imprecisão eredundân-cia,
e
claro de organização; na verdade,foram
reram):-
A
psicologia animal pode ser importante para a psicologia humana, ao menos pelofato
åe qn. -não se podìrá chegar a uma concepção do propriamente humano noho'
mem fora de uma perspectiva comparativa.-
A
psicologiatem
a ver essencialmente como
mecanismo ou com os mecanismos de um organismo individual que lhe permitem utilizar, em ações regulativas, suaexpe-existenciais e dos tènômenos de comportamento.
\-.
F
70
Walter Hugo de Anrlrade Cunha-
Psicologicamente, os estímulos são necessários não para desencadear uma açâ'o, rnassim para colocar o comportamento sob controle do passado, e para apoiar, interromper ou mudar seqüências de açâo
já
em marcha.-
Quandoa
natureza físico-química específica do estímulo, e sua forma de atuaçãonum organismo dotado de uma particular organização anátomo-fisiológica e de certos estados de seus mecanismos regulativos, são suficientes para determinar uma resposta ou padrão de respostas, estamos diante de reflexos ou de padrões fixos de ação.
-
Espfrito e matéria não são duas substâncias diferentes, mas duas maneiras diferentes em que nos são acessíveis as nossas interações presentes ou passadas com o ambiente.Oespírito
diz
respeito aos efeitosdo
ambiente que estão presentesno
organismo naforma
de
ajustamentos funcionaisa
ambientes mudados, e a matéria, aos efeitos do meio que estão presentes na atividade sensorial.-
As coisas perceptuais são compostas de emblemas e significados. Os emblemas sãointerações presentes entre
o
organismoe o
meio. Os significados sâ'o interações de mesmotipo,
reintegradas a partir da forma como se acham registradas nosajustamen-tos
do
organismo. Emblemase
significados estão numa relaçâ'o semelhante àquela entre o significante e o sigrificado no signo saussuriano (cf. SAUSSURE 1916).-
O
condicionamento clássico eo
condicionamento operante são fenômenos devidos aos fenômenos mais primitivostanto do
ajustamento funcional do organismo aam-bientes alterados
quanto da
reintegraçã'odo
ajustamento,e
constituem expressâ'o desses fenômenos.-
A
emoção é uma relação que as coisas e acontecimentos-
todas as coisas e todos os acontecimentos-
têm
com a gente e com os ambientes mudados a que nos ajus-tamos, e que elas e eles'nos permitem ou não reintegrar.-
A
totalidade dos nossos ajustamentos, capaz deinfluir
em nossas reintegrações, éum dos significados que se pode atribuir ao "inconsciente".
-
Uma
coisatem
sempre significados positivos, negativose/ou
associados. Essessignificados crescem em função de nossa exposição a outras coisas com as quais entra-mos em contato.
-
O
organismo está sempre exibindo um processo de regulação que afeta aquilo queserá reintegrado das situações
de
ajustamentoa partir de uma
situaçâ'o presente.-
A
psicologia nãoé
a ciênciado
comportamento, mas uma ciência que estuda o comportamento e outros fenômenos quando são afetados por uma experiéncia propria-mente individual, isto é, quando esses fenômenos expressam o fato de que o organismoem questão possui, entre seus mecanismos pré-programados, um aparelho fisiológico especial para lidar adaptativamente com o ambiente a partir dos efeitos da experiência
ìndividual. Esse aparelho pode ser chamado
"mente",
e
seus produtos podem serchamados mentais,
da
mesmaforma que
a digestâoé
estomacale a
visàìo, visual.-
A
etologia fez morre¡ a antiga psicologia comparadae a
sucedeu ao substituir acomparação de mal concebidas mentes nas várias espécies animais pela busca de uni-dades de comportamento he¡dadas em espécies proximamente aparentadas. Mas, hoje, penso que uma nova psicologia comparativa pode ser vislumbrada, decorrente do reco-nhecimento de que uma psicologia constitui
um
recurso adaptativo, adicional aos até aqui estudados pelos etólogos, surgido na história evolucionária de algumas espécies. Essa psicologia comparada, um r¿uno da etologia, como que vindica a antiga psicologia comparada, e é um desenvolvimento necessário para que a etologia se aproxime de suaNovos
hinclpios
para umaPsicologia l1
ambição
de
tornar-seuma
ciência completado
comportamento.A
llova psicol<lgia comparada caberá uma tareia semelhante à que tem cabido â etologia quando estuda comparativamenteos
mecanismosde
organizaçãoestrutural
do
comportamento; estudar as mentes das espécies animais comparando-as erìtre si e com o lromem, enten-dendo a mente no sentido renovado acima.- A
etologia necessita, para tornar-seuma
ciência completado
comportamento, estudar a mente, da mesma forma que tem estudadoo
comportamelìto: a causação, afilogênese, a ontogênese,
o
papel na evolução e o valor de sobrevivéncia desse fenôme-no.-
Não háum ponto único
em queo
organismo deixa de ser fìsiológico para se tor-nar psicológico, mas deve haver um ponto, na escala evolucionária, em que a fisiologia é modificada paralidar
adaptativamente com a experiência(no
sentido de efeito deestimulação) individual.
-
Um sistema orgânico podeter
comportamento e, no comportamento, variabilidade, reatividade, molaridade e até algo como propósito, sem ser psicológico, como é o casoda cauda móvel de uma lagartixa, após autotornia'
-
A
psicologia não precisa, pata adquirir status de cientificidade, superaro
behavio-rismo,ou
abandoná-lo: basta ampliar o número de seus princípios explicativos atuais.-
Os princípios de ajustamento funcional, de inércia do comportamento e de reinte-graçãode
ajustamento possivelmentepermitirão
à
psicologia reinterpretare
talvez superar os seus dilemas tradicionaís, ou dicotonlias, dotipo
mente-corpo, objetivo-sub-jetivo, explicar-compreender, periferalismo-centralismo, holismo-elernentarismo'-
A
diferença principal entre o homem e os animais, do ponto de vista psicológico, éalgo
que
se prende, emúltima
análise, a diferenças quantitativas de ajustamento ereintegação e, também, a uma motivação
-
mais forte no homem do que em qualquer outro animal-
paft testar suas reintegrações.-
A
dificuldade encontrada na unificação da psicologia não provém de ser o homem radicalmente diferentedo
animal não humano, nem de que a experiência ex{a, para ser compreendida, metodologia e princípios distintos dos requeridos pÍìra a compreen-são do comportamento. Na verdade, essa unificação será obtida quando fordesenvol-vido um conjunto de princípios
para dar contado
fenômen<¡ psicológico em suasdiversas formas de manifestação.
-
A
visão da individualidade fornecida pela etologiae
pela psicologia experimental deixa a desejar, e falha no essencial, ao concebero
indivíduo com uma interseção de processos gerais, abstratos e impessoais.-
O
organismo psicológicoé
o
quetem
seu comportamento e experiência determi-nadosa partir da
cspecificação de uma situação, deum
processo de regulação em marcha e de uma história individual de ajustamento.-
O ajustamento e a reintegração não apenas permitem a um organismo ser histórico como também ser historíal,no
sentido dado ao termo por Heiddegger (1952), de um ser que faz suas condições.-
O
domfnio
das normas pertenceao
social, maso
domínio do
comportamento sob normas é um domínio inteligível a partir dos fenômenos do ajustamento e da rein' tegraçÍio de ajustamento.72
WalterHup
de AndradeAnha
-
O cornportamento dirigido para um alvofuturo
é, na verdade, um comportamento acionado pelo passado reintegado.-
A
liberdade do homem consiste no fato de ele ser, por seus ajustamentos anteriores,definidor do valor de estímulo de seu ambiente juntamente com as propriedades
obje-tivas desse mesmo ambiente. Mas não se trata de uma liberdade absoluta,
já
que essefato é decorrência de o homern ser alnoldável pelo meio.
-
Uma
grande parcela da reflexão contemporânea se concentra na psicologia. Issoindica que essa ciência ainda não conseguiu uma clara conformação positiva, estanto
ainda presa
a
confusões conceituais. Mas, dada essa concentração,é
provavelmenteiminente uma solução capaz de desembaraçála dessas confusões e, apresentando uma solução satisfatória para seus dilemas tradicionais, promover sua unificaçâo.
-
Aceita-se, desde os tempos de Aristóteles, que a ciência se refere ao geral e não ao individual. Maso
mais geral acerca das formas orgânicas que exibem determinantes psicológicosem
seu comportamentoé
sua individualidacle. Logo, deve ser possível formar uma concepção geral desse fato.-
"Expectativa"
se refere a reintegrações na iminência de serem verificadas ou infir-madas, e cresce ou diminui na proporção em que a série de reintegrações a que perten-ce vai sendo confirmada ou infirmada.-
Se a psicologia é, emúltima
análise, expressão de um mecanismo fìlogeneticamentedeterminado para
lidar
adaptativamente com a experiência individual, ela integra aetologia, e the caberá, em seu ramo comparativo, estudar esse mecanismo da mesma
forma que os etólogos
têm
estudado outros mecanismos: as caus:tsou
condições deseu funcionamento, sua filogênese, sua ontogênese, seus produtos e respectivo valor adaptativo, e seu papel em promover a evolução da espécie.
Depois que essas afirmações foram arroladas, dei-me conta de que eu não teria nem espaço,
nem tempo,
atualmente, para demonstrá-las todas neste escrito. Por out¡o lado,muito
poucas foram æ que não exigiam, pÍìra serem justificadas, a utilização devárias outras. Se tivesse que haver escolha, naturalmente, eu deveria fazê-la da forma que Parecesse mais apropriada a
um
trabalho de fundamentação.A
escolha deveria recair sobre as afirmações que, num certo sentido, pudessem servir de fundamento àsdemais.
E
tais afirmações, a meu ver, eram as corporificadas nos novos princfpios de ciência natural que julguei haver descoberto a partir de meus estudos com animais. Tais são os princípios que denominei "ajustamento funcional", (regulativo ou psicológico) do organismo face a alterações de seu ambiente especlfico, "inércia decomportamen-to"
e
"reintegração de ajustamento". Isto é apenas um primeiro p¿ìsso para se tentar fundamentaro
citado conjunto de aflumações, e outras mais que cheguei a formular noutros escritos. Reconheço que isso, miseravelmente, é pouco. No entanto, resta-me o consolo de saber, com Lao Tseu (rn CODELIER 1984,p.
167), que "aviagem de milNovos Princlpbs
pøa
umaPsicologia
73I
DA
INSUFICIÊNCIA DOS PRINCIPIOSDE
CIÊNCIANATURAL
EXISTENTES PARA EXPLICARO
COMPORTAMENTO, OS FENÔMENOS MENTAIS E OS EPI-SODIOS DAVIDA
QUOTIDIANAT¡ês conceitos, parece-me, têm-se revelado úteis no estudo experimental do
comporta-mento:
o
conceitode
reflexo,o
de condicionamentoe
o
de padrãofixo
de açâ'o.A
noção de reflexofoi
uma descoberta de Descartes (1662 e s/ data), que teria sidoo
primeiro
a
concebero
comportamentocomo
o
resultadode um
mecanismo(HERRNSTEIN e BORING, 1966) e, portanto, em termos de ciência natural. É verda-de que, no caso humano, Descartes admitia, certamente por influência de idéias
religio-sasr , também a operação, ao lado do reflexo, de um princípio racional capaz de
condu-zir o
comportamento pÍua metas antecipadas. Esse dualismo de interpretaçâ'o, quese-diava os princípios da ação tanto no espírito como no corpo, vistos como duas espé-cies radicalmente distintas
tle
substâncias, ao mesmo tempo que pôs em marcha aciência
do
cornportamento, emaranhou-a em inúmeras confusões conceituais que seprendem, em
última
análise, às relações entre a mente eo
corpo. Em conseqüência, apsicologia se apresenta desde sua origem cindida entre correntes mentalistas e materia-listas, com suas correspondentes opções metodológicas pelo holismo ou pelo
elemen-tarismo,
geralmente acompanhadas, cadaqual, de
aliados epistemológicoscaracte-rlsticos:
o
racionalismo e o apriorismo, no caso das primeiras, e o empirismo e opositi-vismo, no caso das últimas. Nos dias de hoje essa divisão na psicologia se apresenta sob
a forma de uma disputa entre os chamados humanismos e os naturalismos, como a que se vê entre a psicanálise, a psicologia existencial e a fenomenológica, de um lado, e a
etologia e os behaviorismos, de outro. Não têm faltado a essa divisão nem mesmo as
correntes conciliatórias
e
ecléticas, representadaspor
estranhas combinações dessastendências doutrinárias e metodológicas, das quais me parecem um claro exetnplo a
psicologia daGestølt, no passado, e a de Jean Piaget, no presente.
A
noção de reflexo conduzia diretamente ao estudo das conexões inatas eutre exci-tantes do meio ambiente-
"estímulos"-
e a atividade clo organismo-
"respostas".A
noção de condicionamentofoi
elaborada po Pavlov (1927) explicitamente a partir da noção ca¡tesianado
reflexo. Elafoi
utilizada, especialmente por Watson (1919) eoutros behavioristas
(por
exemplo,HULL
1943),para explicar como certos aspectosdo
ambiente, inicialmente não conectados com reações naturais deum
organismo, podiam, com o tempo, controlá-las ou provocáJas.A
demonstração, por Thorndike, Konorski, Skinner e outros, de uma outra modali' dadede
condicionamento (alémdo
condicionamento clássico estudadopor
Pavlove
Bechterev) denominado condicionamento operante,foi outro
passo importante no sentido de interpretar o comportamento inteiramente em termos de princípios daciên-lAlgunr, como La Mettric (1748),
chegaram a conside¡ar quc essa admissão naio passava de
"malícia dc estilo", espécie de álibi ou subterfúgio usado por Desca¡tes para protegcr-se da
perse-guição que os tóologos certamento lhe fa¡iam
-
como assim mcsmo lhe fizeram-
por introduzir na cxplicação da açâo humana um princípio ti¡ado de uma analogia como
animal. Esse prin-clpio acabaria por ser o germe da destruição final do dogmatismo religioso.74
llalter Ilugo de Andrade C'unlucia natural, com
exclusâ'oda
açâ'o racionalde uma
substância espiritual. Skinner, sobretudo, partindo das noções de reflexo, de condicionamento clássico e de condicio-namento operante, elaborou uma concepçiio mais ampla e flexfvel das relações entreo
comportamentoe
o
meio
ambiente.Por
essa concepção, passou-se aincluir,
aolado das funções eliciadora e reforçadora dos estímulos, admitidas no
condicionamen-to
clássico, também as funções discriminativa, reforçadora condicionada e emocional(SKINNER
1938, 1953e
1959;KELLER
e SCHOENFELD 1950;MILLER
1962 eMTLLENSON 1967).
A
noção de padrãofixo
de açâ'o, como constituindoo
núcleo central das açõesque caracterizarn o animal como nrernbro de uma espécie ou agrupamento taxonômico mais elevado e não como indivícluo,
foi
uma contribuição de l-orenz (1950). Coube aI-aretz
a importante demonstração da existência dos movimentos endógenos ou instin-tivos, diferenciando-os dos reflexos, particularmente no que respeita à conexão dessesrnovimentos com os estados de
utn
tnecanismo central,dito
meca¡risrno de desenca-dealnento inato. Esse meca¡risrno seria caracterizado por um bloqueio ou inibição de uln sisterna de reaçâ'o que, ern conseqüôncia, acumularia de lnodo crescente e regular, corn a passagem do tempo, urn potencial específico de ação, até a verifìcação de uma das duas condições seguintes: a) ocorrência de uln estímulo-signo particular, ou b) acu-mulação desse potencial acima de um valor crítíco ou limiar. O estímulo-siguo corres-ponde, ern geral, a um estímulo altamente característico de uma dada situação bioló-gicana
qual a apresentação das açõesdo
sistelna de comportamento em causa teriaalto valor
adaptativo paraa
espécie. Poroutro
lado,o
sistema em causa "sangra", ou seja, tem suas ações próprias liberadas no "vácuo" (na ausência de qualquerestímu-lo
desencadeador externo) quando o potencial acumulado atinge o valor críticomen-cionado em
(b),
acima. As condições (a) e(b)
atuariarn removendoo
bloqueio dessemecanismo
de
acumulação,dito
mecanismode
desencadeamentoinato (IORENZ
1950, 1955; THORPE 1956;HINDE
e TINBERGEN 1958; HESS 1962; e CUNHA 1983).Os três conceitos acima considerados são, sem dúvida, os principais conceitos que
têm servido ao estudioso para interpretar
o
comportamento inteiramente em termos de ciência natural. Dir-se-ia que, coln base nas noções de reflexo e padrãofixo
de ação,os estudiosos
do
cotnportamento procuramcobrir
todos os cotnportamentos inatos, ao passo que, com os princfpios derivados do condicionamento clássico e do condicio-namento operante, procuramdar conta de todos os
comportamentos adquiridos. Pode-se dizer que um esforço para circunscrever todas as interpretações do comporta-mentono domínio
desses três princípiose
de suas interrelações é o que caraclerizagande
parte do movimento naturalista experirnental constitufdo pela etologia e pelo behaviorismo atuais.No entanto, mantendo
tal limite,
existe a dificuldade de dar conta de toda avarie-dade
de
fenômenos psicolôgicos conhecidos. Nãoé
minha intenção examinar aqui, exaustivamente e de forma sistemática, os fenômenos que se têm, de tempos em tem-pos, invocado para apontar a insufìciência dos princípios mencionados, ou que tém tradicionalmente recebido interpretações diversas das preferidas pelos movimentos naturalistas. Trata-sc, em geral, de fenômenos estabelecidos na clínica psicológica, ou7_
tYovos
hittct¡tios
pøra unrupsicologiu
7 5introspectivantente,
ou
rnesrìro fenômenos cncontrados na vida ordi¡rária. Sua forma de observação não ate¡rde aos cânones usuais de objetividade e rigor que gelah¡e¡te são possibilitados pelos proccdimentosde
observaçãoe
experimetrtação utilizadospela
análise experirnelttaldo
comportarnento e pela etologia compalativa. Os fe¡rô-menos mencionados incluern desde cornportarnentos dotados de certa raridacle e, por vezes,.de carâter bizarro, até coisas couro a percepção estética, a cxecuçõo, quarido ern vigllia, de comandos ¡ccebidos eln estado hipnótico, fenôrnenos lingi.iísticos, atos inventivose
conversões. Irtcluen'r, tanrbérn, as associações, os sonhos, as alucinações, os atos falhos e os sintomas neuróticos ern geral, fenôrnenos esses quc, por longai dó-cadas, têm contitufdo um domínio ca¡acte¡ístico da llsicanálise. Serenr esses fenôme-nos reais e objeto de uma curiosidade científìca legítilna é urn irnportante l'ator, a meu ver, para que essa antiga escola psicológica contùrue ainda lroje a scrdiscuti{a
eaBa-nhar adeptos, enquanto a nraior parte das escolas psicológicas <.le sua época são atual-nrentc pouco mais do que curiosidades do passa<Io.Mesrno sern sair
do
campo de fatos ao qual a ntodcrna teoriatlo
cornportamento ¡larece ttrais afeita, dir-se'ia possívcl cilcontrar unla outra razào bastallte geral{e
i¡sa-tisfação quanto a perrnanecer estritamente de¡rtro tle seu quaclro conceitual. E, para-doxaltttente, essa Ca
nìesnìa razão que, suponho, originou a allítlisc experimentãl docolnpottameltto
e
as ca¡acterísticas cla investigaçâo experinrentaldo
cornportamento recelÌte. Trata-se do que considero sero
traço ilistintivo por excelôrrcia dos comporta-metrtos psicologicarnente detenninados, que, no. casoilo
ser hunrano, tìtas tanrbént rJernuitos outros animais, coltstituern a grande lnaioria dos cornportauìeutos observajos:
o
seu cqrdter dc a¡tarerúe gratuùlaale e ørbitrarietlale,lo
sentido de que ná'o podem serexplicados neur pela constituição anátolno-fisiológica dos organisrnos nenr pela consti-tuição lÌsico-c1uínrica dos estímulos ou objetos l'ro nlomento em que são apresentados. Sâ'o atos psicológicos que nã'o são eliciados ao ¡nodo dos reflexos nem desencadeados ao
modo
dos ¡radrõcsde
açãofixa: por
exemplo,o
deitarnro¡'ros enì uma cama, olavar as nrãos sob água corrente,
o
enxugá-las,o
beber aígua,o
ajoelhanno-nosao parafuso caído,o pintar
urn quadro.Não
o, o na constituição do ser humano, nel'n nacle
1oo
ato de falar a ele (em vez delnerarnente
ar golpeá-lo)coÍllo utn ato
que devesseser
aspessoas em geral.
No
que rcspcita ao animal, esse caráter é,talvez, menos óbvio. Mas, a quem se dedi-que a olhar u¡tt anilnal c¡rl sua i¡ldividualidade e ao longo <.lo tenrpo, este costuma ser,tambén,
urr
làto
perf'eitarncnte caructerizâwel. Assim, por excnrplo, observoo
com-Portamcnto <Ic fornrigas para corn unìa mestna f<llha de vegetal no interior de ulnaban-dcja onde abrigo urna colônia de saúvas. É verdade que a nraior parte das formigas, ao
chegar perto do vegetal, tateia partes de seu limbo com as anteltas. No entanto, outras formigas reoricrttanr sua rnarcha, de modo que se desviam da folha. Quanto âs primei-ras,
o
que fazcm cln seguida é bastante variável e freqüenterrÌeltte iuìprevisível. Algu-mas, depoisdc
certos preliminares(cf. MELO
1977 eCAIìESIA
1977),começama cortaro
vegetal; outras, a perarnbular sobre ele; e outras, ainda, a apreendé-lo coln asn.randíbulas e a operar de modo que tende a erguê-lo; outras, lambem-no, enquanto
al-gutnas outras se postam sob ele, imóveis ou a friccionar as patas contra as alttenas ou as
76
Walter Hugo de AruJrade CtutlwBem sei
que
loi
a dificuldade de entender esses comportamentos (cornuurentedi-tos
voluntáriosou
propositatlos) rruma concepção cle estímulo-e-resposta que levouSkinne¡, Irá nrais de quatro décadas atrás
(cf.
SKINNER, Belwviorof
oryanisnts),a conceber leis rnais flexíveisc
dinâmicas sobreo
relacionamentodo
corrportamentocorr
o
ambiente. Desrle cntâ'o, urn grande progressofoi feito
no sentido dedemons-trar
conro esscs col.nportallreritos (aparenternente arbitrários e gratuitos na sua relação com deternrhados aspectosdo
rncio) podiam scradquiridos
ou, talvcz melhor, po-deriarnter
sido a<lc1uirìdos coul base cm princípios descobertos no laboratório apar-ti¡
da
análise dos fetrôrnenos básicos citados mais acima.No
entanto, acredito quequalquer teórico
da
moderna teoriado
comportamento conviria comigo que, neste caso-'
assim como no caso clos fenômenos tipicamente considerados pela psicanálise, pelo humanisrno existencialista c pelafenomenologia
ainda falta ulna grande distân-cia a ser percorrida para essa dernonstração. Muitos cstudiosos, rnestno dentro de ummovimento de cunho nitidamente experimental, procurarn contornar essa dificuldade apelando
para princípios de
ação não estritalnente observados nem claranrente de-rnonstrados.Em
suas teorias, essesprincípios tomam
a
força
de variáveis de tipomental, como "intenção"
e
"compreensão", intervenientesentre
o
es+,ímuloe
aresposta,
ou a
formade
"constructos" hipotéticos, como no sistema de Jean Piaget(B io lo gie e t co t uwissatrce ; "Que stion s préalable s " ; Psic olog ía) .
Ern
rninha obra ante¡ior incorri, sobre vários aspcctos, nessa atitude que acabo denrerrciorrar.
No
entanto, corrsidero-a hoje, com Skinner(1959,
1950, 1971) e outros autores(por
exernplo, MILLENSON 1967 eGALVÃO
1980), eLrônea, por não distin-guir claramente entre invenção e descoberta. Concordo que, por vezcs, essa distinção, tãoútil
para separil ficção e ciência, não é nada fácil. No entanto, creio talnbém-
e,nesse
ponto,
concordando em parte com os autores ditos cognitivistas, fenomenólo-gos, "construtivistas",etc.
que os princípios até aclui desenvolvidos pela modernatcoria do
conrportamento para explicartoda
a varie<ladeile
fenôrnenos psicológicos existerrtes são provavelmente insuficientes. Sendo assim, também sou deopinilo
que, ao lado de se prosseguir na tentativa de ampliar a compreensão dos fenôlnenos existen-tes ern termos dos princípios mencionados, será igualmente legítimo, corno fazem os citados autores, tentar obter essa ampliação através da descoberta de princípios novos.Contudo,
diferindo
desses mesmos autores, haveremos de nos impor como condiçãor¡ue tais princípios
se enquadrernna
mesma categoria daquelesoutros
princlpios(do
reflexo, do condicionamento e do padrão fixo de açâo), isto é, que se constituam, também, em princípios demonstrados da ciáncia natural.Nas páginas subseqüentes
faço
uma tentativa de dernonstração cle novos princí-pios explicativosdo
comportamento inteiralnente em termos de ciáncia natural. Elaé
seguidapor
uma especulação sobre como esses princípios permitiriam propor uma nova doutrina sobre a nzlvreza dos fenômenos, juntamente com uma reinterpretação do problema da relação entre a mente e o corpo.Novos
hinctpios
pøraunaPsicologia
il
2 TENTATryA DE DEMO STAçÃO DE
NOVOS PRTNCIÞIOS DE CrÊNCrA NA-TURAL PARA LIDAR COM O COMPORTAMENTO PSICOLOGICAMENTE MEDI,A-DO2.1
hinclpb
de
ajustamentofuncional,
regulattvoou
psicológicotlo
organismo a alterações ocorridus no seu ambiente especlficoQuando um psicólogo vai estudar um organismo, já o encontra, invariavelmente, en-gajado em alguma atividade2 .
Em geral, esse estudo consiste primeiramente em submeter o organismo àquilo que
o
psicólogo chama de "variável independente" ,i.
e.uma condição, geralmente do am-biente, que se pode fazer variar. Em segundo lugar, observa o efeito dessa variação en.ruma "variável dependente": algurn aspecto específico da atividade então exibida pelo organismo em questão. Evidentemente, esse efeito só pode consistir: a) em algurna
mo-dificação nessa atividade, surgida, quer juntamente conr a aplicaçâo da variável inde-pendente, quer posteriormente a essa aplicação; ou b) ern alguma atividade inteirame¡l-te nova nessa situação.
Não vem ao caso considerar aqui todos os tipos de variáveis independentes c dcpen-dentes que
o
psicólogo tem abrangido enì seus estudos, nem a variedadc de funções do organismo que ele, com esses estudos, procura focalizar. Basta, para a demonstraçãoque tenho em vista, considerar uma modalidade de estudo psicológico de que lancei mão em trabalho anterior (CLJNHA 1980) e que me encontro inclinado a reexaminar,
pois creio ser posslvel
ti¡ar
dele implicações pouco suspeitadas para a psicologia até este momento,Trata-se de um estudo: (a) cuja variável independente consiste em efetuar uma alte-ração especificada
no
ambiente imediato do organismo, em deixar essa alteração pre-sente por algum tempo e, finalmente, em removê-la; e (b) cuja variável dependente sãoas modificações eventualmente ocorridas
na
atividade preexistentedo
organismo aolongo dessas in terven ções.
O seguinte cxperimento, esquematicamerlte representado na figura
l,
abaixo, pode ser tomado como ilust¡ativo. Trata-se de um experimento que realizei, há alguns anos,a propósito tlo comportamento
ile
formigas Nylønderiø fulva (Mayr, 1862):Havia-se formado pelo chão uma
trilha
dessas pequeninas formigas caseiras,dese-nhando nele unla linha interrompida de ponto móveis,
junto
a uma parede. Asformi-gas caminhavam
a
passo regular ao longo datrilha,
em ambas as direções, apenas sedetendo, por vezes, para tocar brevcmente com as antenas as companheiras passantes.
A
impressâo tlc ordeln e regularidadc, como usualmente acontece nas trilhas intocadas, era o f'cnômcno rnais marcante.Resolvi, crrtão, verificar sc as formigas reagiriam à presença de certos objetos coloca-dos ao longo de seu percurso. Para isso, coloquei,junto à trilha, trés mechas de algodão com um ¡rroduto de limpeza doméstica à base de querosene, como explica a figura
l.
2li*ptego ac¡ui
o
tcrmo "atividadc" dc mancira propositalmente vaga para significar78
llalter llugo
de Atdrade CunhaAs formigas reagiram a essa alteração de seu ambiente imediato corn várias mudan-ças em seu comportamento. Em geral, paravam nas proximidades das mechas, levanta-yam para essas mechas as antenas conjuntamente esticadas e dispostas,
por
seu eixo longitudinal, em"V",
meneando a cabeça, antes de retomar a rnarcha, Outras formigas se desviavam aproximando-se da aresta formada pelo chão e a parede. Outras, ainda,invertiam
o
sentido da marcha, pæsando a correr, em trajetória sinuosa, ondulante, àsvezes com um ou mais estremecimentos corporais enérgicos, etc. Com
o
tempo, essasmudanças
de
comportarnento amainavam,e
as formigas voltavam a exibir o mesmo caminhar lento e compassado do início, como se as mechas jamais tivessem sido ali co-locadas. parede It I
til
I I
II
I I I I I
II I
II
t I I I
II
I t
tI
t t t t I t
It It
I t
tt
I I
I
X vAl'nento
Ninho Li nh a p o nt illzad a :Írllha
xy '. arcsta formada por um piso com uma parede de alvenaria
A,
B,
C: rnechasde
algodãocom
"removedor" (base de querosene) colocadas a1,5 cm de distância da a¡esta e
a
1,3 cm da trilha(Distância deA
a B e deB a
C:32
cm).Figura 1
-
Representação aproximada datrilha
e de outros aspectos de um experi-mento realizado com lormigas Nylanrleria fulva (Mayr, 1862).Nesse momento,
rettei
as mechas B e C, deixando apenas a mecha A. O queocor-reu
foi
deve¡as surpreendente. As formigas, em sua maioria, tornalam a apresentar no-táveis mudanças em seu comportamento, mas apenas nas proxirnidades dos locais de onde as mechas haviam sido reti¡adas. Muitas dessas modificações eram similares àsobtidas na primeira fase do experimento, mas destacavam-se agora excursões em mean-dros pelo piso e parede, agitação antenal com a formiga empinada à frente, o primeiro par de patas suspenso no ar, etc.
No
caso das formigas que estavamindo
na direção no ninho, as modificações decomportamento cessavam assim que as formigas chegavam à altura da mecha
A,
a úni-ca não removida. Já no caso das formigas em marcha na direção do alimento, as modi-ficações de comportamento apenas começavam a surgir a partir do ponto onde normal-mente encontrariam a primeira das duas mechas suprimidas. Mas todas essas mudanças de comportamento, como no caso das ve¡ificadas quando da. primeira alteraçâ'o doam-biente,
também amainavam gradualmente como
tempo, e,por fim,
desapareciam,0 B 0
c
0A
Novos
hincl¡tios
parø umøpsicobgio
79 dando lugar a um caminhar lento e regular, em tudo semelhante ao caminhar observa-do no início do estudo.Esses feuômenos possuem paralelos com os de alguns estudos referidos na literatu-ra psicológica, envolvendo, porém, a manipulação de outras variáveis <Jo ambiente, ou, então, envolvendo outras espécies de organismos.
Em rneu
livro
sobre as formigas (CLJNHA 1980) expus muitos resultadossemellta¡r-tes aos
do
estudo aqui apiesentado, obtidos, porénr, coltì outras modalidades de al-teraçãodo
ambiente imediato das forrnigas(por
exemplo, soplos, mudanças deilumi-nação, adulteração do substrato, do alimento ou do nitrho, nas companheiras, etc.)' Tolman
(1932)
também descreveu os desacertos passageiros, seguidos de novos reacertos, queo
encurtamento dos caminhosou
a alteração de ouüos aspectos de umlabirinto habitual acauetavam para o comportamento de ratos brancos. Tolman acredi-tava que essas perturbações de um comportamento habitual constituíam unra demons-tração objetiva de rupturas de "expectativas cognitivas" inrplícitas no contportamettto rotineiro de seus animais. Adotei uma interpretaçâo sernelhartte em minl.ra tese de
dou-torado (CUNHA 1966); ela
foi
substituída logo maispor
outra baseada ern conceitos da análise experimental do comportamento, readotada uo livro acirna referido, e nova-mente afastada como inadequada em lneus escritos porteriores, inclusive o atual.Tinbergen (1932),
por
sua vez, telatou como a remoçâ'o de objetos salientes, e sua troca por outros, nas proximidades dos ninhos da vespa cavadoru Pltilarttus triangulum, provocavam mudanças nos padrões habituais dos vôos de aproximação e deafastamen-to
da vespa com respeito ao ninho, seguidos de uma readoção gradual desses padrões habituais (Cf. também TINBERGEN 1958).Fenômenos similares a esses são encontrados tarnbém em estudos corn várias
espé-cies de anitnais segundo
o
que se tem denominado "habituação do cornportamento".Thorpe (1963) e
Hinde(1970)
expuseramo
conhecimento acerca desse fenômenoobtido
para váriosfilos
animais. De natureza semelhatrte foram, também, os fenôme-nos descritos por Hebb (1946) em chimpanzés. Hebb julgou certos fenômenosdernons-trativos de medo nesses animais, e os relacionou ao me<lo de estranhos, encontrado
em
crianças. Entre esses fenômenos, os animais exibiam ereção de pelos, guinchos, recuos, micção e defecação quando, estando em suasjaulas, eram-lhes nrostradosobje-tos que se assemelhavam a primatas, mas com alguma anormalidade frisante, tais como
o
corpo de unr chimpanzé adulto anestesiado, a pele destacada de unr chimpanzé, o corpo de um chimpanzé sem a cabeça, ou uma cabeça humana ern gesso.Não é o nreu propósito rever, aqui, todos esses cÍtsos. Basta-me, nesta oportunidade,
indicar que se
caracteizam, quando vistoseln toda a
sua complexidade,por
três ordcns de resultados diferentes, que, assim, se revestem de certa generalidade.A
prinreira dessas ordensé
o
aparecimento de mudanças em um comportamento pré-existente diante de certas alterações do ambiente imediato do organismo.A
segunda éo
amainamento progressivo dessas reações, até sua completa extinção, quandoo
organismoé
exposto prolongadaou
repetidamente ao a:nbiente alterado.A
terceira éo
reaparecimento dessas reações ou de reações sirnilares quando as alte-raçõesdo
ambíente,já
tornadas aparentemellte semefeito
sobreo
organismo, sá-osuprimidas ou modificadas.
O
primeiro dos resultados mencionados no experimento com as fonnigas pode ser,e tem
sido, interpretado como devido à reatividadedo
organismo. Mudançasno
am-80
llalter
Íhryo de Arulra<leAnlu
biente, implicando em alterações nas condições energéticas atuatìtes sobre os recepto-res sensoriais, seriam as causas
-
ditas "estímulos"-
das respostas do organismo. Um exame da natureza tlos estímulos, assim como dos mecani$nos de recepção sensorial, de conclução nervosa e de respnsta do organismo, éa
terpre-tação, conhecida como a teoria S-R docomportamel
4-14)' Uma dificuldade para essa interpretação é quealte
¡llbien-te
-
como as constituídas por sopros, projeção de focos de luz, colocação de blocostle madeira, peclregulhos. peclras de mentol ou de cânfora
junto
àt¡ilha,
passagem dodedo sobre ela. etc.
(CUNIIA
1980)-
são acompanhadas por respostas qualitativa-rnente simila¡es. Obviamente, essa similaridade não pode ser atribuída diretamente àsalterações
do
ambiente,já
que estas são diferentes. Parece que ela deve ser procurada, antes, em alguma interferê¡rcia em colnum que essas alterações constituíaln ou introdu' ziam nos fatores cont¡oladoresou
determinantesdo
comportamento antes da altera-ção-
experimental.O
segundo fenômeno pode ser, e tem sido, interpretado como devido a Inudanças¡o
poderde
eliciaçãode um
estímulo devidasa
condições surgidasno
organismo,quei
co.
a repetição das respostas, quer com a repetição ou presença continuada deuma estimulação constante
ou
uniforme. Entre essas condições se têm considerado afadiga muscular, a adaptação sensorial e vários processos e mecanismos associativos no sistema nervoso central (GROVES e THOMPSON 1970). Por exemplo, para Clark
llull
(1943), a fadiga é uma condição aversiva cuja dissipação, ocorrendo com apassa-gem <lo tempo
-
especialmente quando oor
comourna con<lição reforçadora
da
respostade
1963)considera
a
habituaçãotlo
comportamente
to
deum
mccanismo associativo inversocom
respeitoao
mecanismodo
fo¡talecimento operante:um
ntecanismo que levao
organismo a enfraquecer e porfim
suprimir sua reativi{acle a estimulos "biologicamente irrelevantes", isto é, unt mecanismo que levao
organismo a suprimir as respostas clue não são seguidas de estímulos reforçadores. Nessa interpretação a habituação é considerada comoum
deixar de responder acertas alterações do rneio devido a modificações do sistema nervoso central decorrentes
ou
de transmissão sináptica repetidaou
de efeitos associativosinibitórios.
Uma difi-culdade para essa interpretação é que a supressã'o das alterações do ambiente, depois queo
organismo extingüe suas modificações de comportamento, ocasiona novas modi-fìcações de comportamento, como se vê no experimento com formigas acima relatado. Essefato
não mostra que, duranteo
suposto processo de habituaçâ'otlo
comporta' mento,o
olganismo deixou de responder a celtos aspectos alteradosdo
meio; masmostra que passou a responder-lhes de uma forma diferente da exibida nas primeiras ocasiões em que foi com elas confrontado.
O
terceiro fenômeno pode sere tem
sido interpretado como a exibição devaria-bilidade
tlo
comportârnento,ou
de
mudançasna
topografiae na
organizaçâ'o doconportalnento,
como expressãoda ruptura de
uma cadeia de respostas estabele-cidas operanternente(cl'., por
exernplo,KELLER e
SCHOENFELD 1950' cap.l0'
eMILLENSON
1967,pp. 90 e
seguintes).No
caso específico do experimento com formigas considerado neste trabalho,o
¡rirthoe o
alimento, como objetos terminaisa
Novos Princípios para umo
Psicologia
gl
emum trajeto
regularmente æguido pelas formigas, atuariam como estímulos refor-çadores das respostas de marchar ao longo datrilha;
ao mesmo tempo, confeririamaos estlmulos dos arredores que
os
precedessem, qualidadesde
reforçadorescon-dicionados e de estfmulos discriminativos,
por
condicionamento clássico.A
coloca-ção,junto
à trilha,
de objetos interferentes (mechas com removedor), atuaria, pri-meiro, eliciando respostas competitivas com a de marchar pelatrilha,
e, em segundolugar,
suprimindo estímulos discriminativose
reforçadores condicionados,anterior-mente
estabelecidose
provocando respostas emocionaisou
interruptivas, própriasda
interferênciacom (ou
interrupçãode) uma
cadeiade
respostas operantemente fortalecida.Essa interpretação pareceúz atê mesmo capaz
de
salvar as noçõesde
eliciaçãoe
extinção que se achavam em dificuldadedentro
de uma concepção S-Rdo
com-portamento,
ao
abrangê-læ em uma concepção maisflexível e
sofisticada das rela-çõesentre
o
organismo eo
ambiente. Paraisto
basta-nos supor queo
condiciona-mento
clássicoe
o
fortalecimento operante estavam também presentese
atuantes, não apenas na terceira fase do experimento, mas também nas precedentes e até antes. Nessas condições, a ocorrência deum
amainamento progressivo e,por fim, a
com-pleta
extinção das modificações de comportamento conseqüentes â introduçâ-o dasmechæ na situação
-
vale dizer,o
fenômeno da habituação dessas mudanças decom-portamento
-
poderia ser entendido como expressâ-o da extinção das respostas in-terferentese
de novos processos de condicionamento clássico e operante ema¡rda-mento, na situação modificada. Por esses processos, seria possível que, para as
for-migas em marcha pela
trilha
entreo
ninho e o alimento, as mechas passassem aadqui-rir
com
o
tempoum
caráter de estímulos discriminativos e reforçadores condicio-nados com respeito à ma¡cha em direção ao alimento e ao ninho.O
reaparecimentode
modifìcaçõesde
comportamento, mediantea
supressão das mcq.hasjá
deixadas longamente à beira datrilha,
constituiria uma evidéncia adicional da realidade dessaaquisição, mencionada acima.
Essa interpretação, conquanto engenhosa, choca-se,
a meu ver, com uma
difi'
culdade talvez insuperável nos termos em que
é
exposta (sema
adoção de hipóte'æs
ad
hoc). Se os estímulos provenientesdo
rastroolfativo
constituído pela trilha, ou provenientes do chão e da parede ao longo do percurso entre o ninho e o alimento,já
funcionavamcomo
estímulos discriminativose
reforçadores condicionados Paraa
marcha das formigas,por
que então deixariamde
fazê-lo mediantea
supressãoímulos
esses que serviam Para súbita perda dessas ProPrieda-s locaiProPrieda-s onde estavam antes as82
llalter
Hugo de Andrade CilnltaAlém
disso, para que essa interpretaçâ'oem
termosde
conceitos da análiseex-perimental
do
compoitarnento pudesse ser considerada adequada, seria preciso queum
evento sensorial apenas, eo
compoltamento nãoé
inteligível a não sel com asuposição
de
que seuiontrole
é
o
produto conjunto
de processos sensoriaise
'au-tônomos' centrais".
84
Walter Hugo de Andrade Gtnlzademonstração
do
fenômenodo
ajustamento psicológico.E isto é asim
polque esse
;"i,;;t",g,,ur*.niä'äiärìä'¡'i"ãiá",'ïn;î'ålîîi"råîü;::'ïf
.;"ft
l*
al das respostas parece dever-se ao
a1us-ao seu ambiente alterado' Esse ajusta-perda da eficácia dessas alterações no
to-tamento' No entanto'
esse resultado po-rogressivo entorPecimtores
ou
dos efetores dos organismos,ou
a uma redução åu,..tf.^
devida à reduçãoãe emissão de partículas volá;-;;;u;;.t
qualitativasäo longo do tempo'
etc''
de
m não seria de todo certa.Finalmente,
a
terceira ordemde
resulajustamento que fez com que a supressao
desajustadas puru o näuo
uãtirnt.
surgido, até que ocorresse umoutro
ajustamento't-Novos
hincípios
paraumøPsicologit
85 Portanto,é
o
conjunto de
resultadosobtidos no
experimetrto, considerados na seqüénciaem
que ocorreram, que parece estabelecer, sem dúvida, a existência dofenômeno
do
ajustamento psicológico, regulativoou
funcionaldo
organismoa
as-pectos alterados de um seu ambiente específico.
2.2
A açlo
do mecanismodo
øjustømento psicológico como essenciøl pøra a preserva-ç6o,le um intercômbb aloptativo do organismo em seu ambienteO
fenômeno do ajustamento psicológico é, como se viu, um fenômeno que afeta o relacionamento posterior deum
animal como
seu ambiente.O
que é, exatamente, que ele îaz, e como o faz?Retornando
ao
experimento relatado mais acima, pode-se dizer que as formigas apresentavamuma forma
de
relacionamentojá
relativamente estabilizadacom
o ambiente-
o
ninho,o
piso, a parede,o
rastroolfativo
ao longo do caminho, as com-panheiras,o
alimento, etc. Com esse rclacion¿unento elas realizavamo
aprovisiona-mento
de sua colônia e, provavelmente,o
aprovisionamentopróprio.
A
introduçâ'ode
mechascomo
alteraçâ'odo
ambienteprovocou
comportamentos discrepantesdos até
então apresentados, suspendendoe
desorganizando, temporariamente, esserelacionamento3.
O
fenômenodo
ajustamento a essas alterações fez que essasroa-ções interferentes
com
o
processode
aprovisionamento gradualmente amainassem e porfim
cessassem completamente.No
entanto, issonão
significaque
essas alteraçõesdo meio
perderam, para asformigas,
todo e
qualquerefeito.
Apenas perderam a propriedade que era exibidaem
grau máximoao
ser€mintroduzidas:
a de provocar modificaçõesno
compor-tamento previamente exibido pelas formigas em seu relacionamento com o ambiente.De
outro
lado, porém, e pari pøsst, parecemter
adquirido outras propriedades que passaram a ser daí para a frente indispensáveis para a ocorrência desse relacionamentoem
suaforma
anterior, aparentemente inafetada. Mostra-oo
fato
de que, se essasalterações
eram então
suprimidas, novas modificaçõesde
comportamento,simila-res às primeiras, reapareciam, até completar-se
outro
ajustamento gradualdo
orga-nismo ao ambiente assim alterado.Desa forma,
o
resultadofinal
do ajustamento psicológico parece ter sido, no cæo considerado(isto é,
no
caso das formigasque
permariec€ram em trânsito entre oninho
e
o
alimento,e
vice-versa)contribuir
paraque
o
organismo restabelecesse,diante de variações ocorridas em seu ambiente,
um
dado relacionamento que vinha mantendo com certos aspectos de seu ambiente. Teve como efeito, portanto,o
de preservare
estabilizar esse relacionamentoem
facede
mudançasno
ambienteex-terno.
O
fenômenode
ajustamentoaqui
consideradolivra
de interferénciasexter-3Na verdade, para vrírias das formþas, esse et-eito de
suspensâ'o e desorganização podia ser
mais du¡adou¡o, já que regressavam ao ninho, onde se recolhiam, a julgar pela redução do fluxo de formigas na trilha. Isso indica que
o
efeito de uma alteraçío do ambiente pode não serape-nas o de provocar um reajuste funcional ao ambiente, mas também uma nova forma de relacio-namento com o ambiente, o quc implica uma outra modalidade de atividade regulativa.
\
86
lüølter Hugo de Andrade Cunhanas
um
dado ¡elacionamentodo
organismo com seu meio, transformando essas in-terferências,de
elemento perturbadores desse relacionamento(que
eram,a
prin-cfpio)
em elementos essenciais para a ocorrência inalterada, posterior, desse mesmorriucionatne.tto.
Por
essas características. esse fenômeno Parece apresentar marcada semelhançaDe fato,
dedade que o das
em
seusubsistir
como
um
determinado sistemade
normas, tendênciase
mecanismos deaçâ'o.
Certamente,
o
ajustamento psicológico quea
formiga exibeno
experimento que venho considetando,é,
ccmo outras formas de ajustamento biológico, possibilitadoa meu
vel,
de uma forma de ajustamento que, se nâ'o permite direta e imediatamentea
sobrevivênciade um
organismo diantede
qualquer alteração em seu meio, pelo menos permitea
esse organismo continuar a manifestar determinadosrelacionamen-tos com seu ambiente,
a
despeito de variações ocorridas nesse ambiente. Na medidaem que contribuíssem para relacionamentos que se verificassem benéficos para a
so-brevivência biológicam esses ajustamentos constituiriam
uma
característicaadapta-tiva que
a
seleçãonatural
certamente tenderiaa
preservale a
aprimorar nasespé-cies em que fossem manifestadas.
2.3 O
modode
atuaçõodo
mecanismodo
øjustamento e os princlpitts arlicionais da inërcia do comportamento e da reintegraçõo de aiustømentoDe que forma
o
ajustamento psicológicofaz
com que um aspecto alterado doam-biente deixe de provocar modificações de comportamento e, ao mesmo tempo' passe
a ser indispensável para que
o
organismo continuea
apresentarum
relacionamentoanterior inãlterado para com esse ambiente? Ou, em outros termos,
o
que pode fazercom que uma alteração
do
meio deixe de ser, no decorrer do tempo, uma alteração para um organismo individual, e passe a ser um elemento característicoou
constanteNovos
hinclpbs
para umapsiccbgia
g7 de uma situaçâ'o? Se as modificações de comportamento tendem a abrandar-se comaté
um ponto
em que uma alteraçâ'o,na
sériede
alterações, deixede
alcançar umvalor crltico,
ou limiar, para acaretar uma modificação. Nesse momelìto, poder-se-iadizer que
o
organismo converteu uma alteraçãodo
ambiente em uma não alteraçâ-odiferença que a alteraçâ'o guarda com a Situação prevalecente até então, ou seja, com
a
situaçãode
ajustamento anterior.Isto
significaria quea
reatividade do organismo capazde
ajustamento psicológico a uma dada alteraçãodo
ambiente(ou,
o que dána
mesma,a
eficâcia modificadorade
comportamcntos de uma dada alteração do ambiente)não
poderiaser
conhecida independentementedo
ambientedo
ajusta-mento para
o
organismo em questão. Em outraS palavras, tantoo
ambiente,enquan-to
fonte
de fatores que afetamo
comportamento de um organismo, quantoo
ofga-nismo,
em
sua ¡eatividadeao
ambiente,deixarío,
dado esse fenômenodo
ajusta-mento
psicológico,de
serem entidades independentesuma da outra,
p¿uaconsti-tulrem
um
sistemade
transformações solidárias. Dado esse sistema,o
ambiente,em termos flsicos, a que um organismo fosse exposto, geraria uma situação de
com-portamento que nâ-o poderia ser definida sem a participação do organismo, que' por sua vez, não poderia ser definido, quanto às suas possibilidades de comportamento, Sem
uma
consideraçãodo
que foram
paraele,
previamente, seus ambientes. Essasituação não seria, pois,
o
mesmo queo
ambiente físico presente, mas também não seriao
mesmo queum meio
subjetivo.Ela
seria dinâmica,isto
é, mudaria com otempo, ainda que
o
ambiente material não sofresse nenhuma mudança, uma vez querefletiria
sempreos
ajustamentosdo
organismo.Refletiria
também, suponho, astendências, os estados e as operações regulativas em cada instante.
No
entanto, aindanão
foi
indicado de quemodo
o
ajustamento,isto é,
a mu-dança orgânica produzidapor
aspectos alterados de um ambiente, faz com que essesaspectos deixem de provocar modificações
de
comportamentono
organismo, e pas-Sem,ao
mesmotempo, a
Ser essengiais paraum
comportamento normaldo
orga' nismo com seu ambiente,ou
seja, parao
restabelecimento do relacionamentoante-rior do organismo com seu meio, tal como era antes da alteração.
88
lüalter Hugo de AndradeAutln
estar preparado e regulado para a ocorrência desse algo, e agir
(ou
reagir) para cornesse algo antes mesmo
!e
liavê-lo encontrado (portanto, ainda em sua ausência) comose sua presença, ainda não verificada, fosse
tida por
certae
verificável. Esse fato,de
estar lançado, dada umaparte
sensorialmente presentede um
ambiente, paraoutra
suaparte
ainda nã'o verificada presente,e
acompanhanteda
primeira parte mencionadano
pæsado, quandonum
processo regulativo,é
exatamenteo
queen-tendo
por
inérciado
comportamento.E
esse fenômeno de trazer de novo àexis-tência, dada uma parte sensorialmente verificada de um ambiente, outra parte desse antbiente
ainda
ausente (fenômeno possibilitadopelo
ajustamento)é
exatamente o que denominoreintegraçõo de øjustømento.Como
é
possível ver que as formigas efetivamente exibem esses outros fenôme-nos? Para isso, parece-me mister consideraro
que se passa emum
ambientea
que esses insetosjá
se encontram ajustados, quando esse ambienteé
subitamentealte-rado.
Quandoa
mechade
queroseneem um
dadoponto do
terrenopróximo
datrilha é
removida, pode-se obse¡va¡ que as formigas se aproximam até as imediações desselocal
onde, na situação anterior, teriam encontrado a mecha. Nesseponto
asfonnigas interrompem sua marcha
e
exibem
modificaçõesde
comportamento-um tanto variáveis de indivíduo para indivíduo
-
na forma de alterações de suapos-tura
e movimento.uma situaçlo
ausente,ou um
aspectodo
ambiente anterior au-sente, está, pois, nesse local, ligado à interrupção do comportamento.No
entanto,nÍio me
parece que sejao
caso deatribuir
essa interrupçãodireta-mente
à
ausênciaou
supressâ'oda
mecha, enquanto fisicamente considerada. Defato,
as ernanações provenientes da mecha não eram necessárias para eliciar ou paraguiar a
marcha e parainibir
as modificações de comportamento que foram encon-tradas,já
que
a
marcha ocorria nessa situaçâ-o em pontos distantes das mechas, e, antes dessa situação,já
anteriormenteà
colocação das mechas.Além
disso, quandoda
colocação das mechas, ocorrerarn modificaçõesde
comportamento similares àsque
seriam agora atribuidasà
sua supressão.Na
verdade,tanto
a presença como aausência da mecha apenas foram acompanhadas de modificações de comportamento quando discreparam de uma situaçâ'o anterior em relação à qual as formigas vinham habitualmente se comportando.
E
elas apenas deixaramde
acompanha¡-se de taismodificações depois
que
passarama
seruma
ca¡acterística marcanteda
situaçãoque as formigas encontravam com regularidade (somente depois que as formigas se
lhes ajustaram, como
já
se viu).Portanto,
o
que provocou modificaçõesde
comportamentonão
foi
a presençaou
a
ausência das mechasem si
mesmas, enquanto fisicamente consideradas, masa
alteraçâ'ode uma
situaçâ'oanterior na
qual as formigas yinham se comportando com hábito ou regularidade, e a cujos aspectosjá
se haviam ajustado. Portanto, o que provocou a interrupçâo do comportamento, e exibição de modificações de comporta-mento com respeito ao comportamento que vinha sendo apresentado,foi
umaconte-cimento que tornou a situaçâ'o presente diferente de uma situação de ajustamento. Isso
mostra
que
o
comportamento nesses casos nâ'oé
eliciadoponto por ponto
pelos estlmulosou
energiasdo
ambiente presente nesses exernplos, mas é umcomportamen-to
para com uma situação anterior que os estímulos da situação presente reintegravam,Novos Princlpios pttø uma
Psicologia
g9enquanto
a
reintegravam. Os estlmulos da situação presente são, sem dúvida, impor-tantespara a
determinaçâ'odo
compottamento; mæ eleso
são na nredida em que servem às formigas para reintegrar uma situação de ajustamento, e na medida em que ajudam a reproduzir (ou a modificar) uma situação similar à situação de ajustamento.Portanto,
o
papel da situação presente éo
de formar a base apartir
da qual uma situação de ajustamentoé (ou
deixa de ser) reintegrada.Isto é
equivalente a dizer,como
às vezes sefaz,
quea
situação presenteé
interpretada àluz
da experiência passadado
indivíduo.A
situação psicológica deum indivíduo
surge da relação que se estabelece entre uma situação de estímulos preæntese
situações de ajustamentoprévias. Quando
os
estímulosde uma
situação presente reintegramuma
situaçãode
ajustamento,o
comportamentodo
organismoexibirá
uma inércia,no
sentidode
se apresentar no caso atual comoo
fazia numa situação de ajustamento. Quando, diferentemente, os estímulos de uma situação presente introduzirem uma mudançana
situaçãode
ajustamento anterior,o
comportamento apresentará uma mudançaque refletirá um
compromissoentre
o
comportamento dete¡minado pela situaçãode
ajustamentoanterior no controle
do
comportamentoe
o
determinadopor
al-guma
ou
algumas outras situações reintegradas pela nova situação.Infirmar
uma situação de ajustamento é, assim, equivalentea
reintegraroutra.
Seja quando apóiaum
comportamentojá
em marchae
o
torna
possível, seja quando motiva sua inter-rupção,o
que um
estímulo presentefaz
aum
organismo, em termos psicológicos,é,
basicamente, servira uma
reintegração de aspectos aÍnda não verificadossenso-rialmente na situação.
Portanto, quando um organismo se encontra ajustado a um determinado ambiente,
ele tem
eliciadauma
sua ação, diantede
um
aspecto sensorialmente presente do ambiente, paraum outro
aspecto, reintegradode
seu passado.O
passado pode ser preditivodo futuro,
na medida em quea
situação presentefor
semelhante àsitua-ção de
ajustamento. Quando isso ocorrer, essa açâolhe permitirá,
embora sendoeliciada
por
um
aspecto reintegradode
seu passado, encaminhar-separa
aspectos distantesdo
meto, comoum
alimentoou um ninho,
que são de valor adaptativo. Dessa forma,o
fenômenodo
ajustamento psicológico permite a um organismo fazeruso
de
sua experiência individual para regular adaptativamente sua ação a novos am-bientes encontrados.No
tocante à regulação, devo dizer que me parece ser uma característica essencial dos seres vivos, nascida a serviço da adaptaçâ'o biológica. Com efeito, o espaço, os ma-teriais e outras condições necessárias aos processos vitais, são limitados na natureza, eisso leva as espécies orgânicas a disputá-los. Nessa competição, as espécies sobreviventes
tendem ser as que, no curso da evolução, foram capazes de adquirir mecanismos que
lhes aumentem
a
probabilidadede
sobrevivência, disseminaçãoe/ou
reprodução deseus indivítluos. Particularmente importantes entre esses mecanismos se¡iam os
mec¿-nismos regulativos:
os que,
desdeo
nascimentodo indivíduò,
se encarregariam deproduzir, manter ou restabelecer, para cada fase de desenvolvimento, estados orgânicos privilegiados (normas) que, ao longo da evolução, se revelaram convenientes para a
sobrevivência
em
condições variadasdo meio.
Quaisquer processos verificados no funcionamento desses mecanismos-
por exemplo, no tocante a regularidade econs-90
Walter Hugo de Andrsde Cl.uthøtância
-
tenderiam a ser selecionados, pelas vantagens adaptativas que confeririam a esses organismos. Ota, caminhando, em ordem de complexidade, dos fungos para asplantas ã os animais
-
e dentre estes últimos, sobretudo para os mamíferos-
pode'sei.,
u*u
visãoda
variedadede
mecanismos estruturais que evolveram a serviço da adaptação. Todavia, nenhum mecanismo-
E.8.,
a reatividade animal,a
regulaçã'otérmic;,
a capacidaáe de locomoçã'o,
ehc.-
pareceria tdo eficaz para esse fim quanto oseria a áquisiçao de uma psicologia. De fato,
o
organismo psicológico parece-ter dado adquirir mecanismos crpazes de fazer com experiência individual. Esses mecanismos;3,i,î'5:äåï:ä,iî11å.3;",'l;å'ix:Ì
e outras coisas ainda nÍio experimentadas sensorialmente, antes de reagir a suas propriedades sensoriais por si'
Essa possibiidade, confðrme
já
se indicou, é aquela representada pelo mecanismodo
ajustämento funcionalou
psicológicoa
alterações de um. ambiente específico, epeloi
mecanismos auxiliares ligados a esse fenômeno-
inércia do comportamento ereintegraçâo de ajustamen to.
A
meu ver, um organismo é psicológico quando é dotado de tais mecanismos. As-sociados aum
conjunto filogeneticamente determinado de mecanismos de respostas,nonnas
ou
tendêntias, esses mecanismos liberamo
comportamento de umadepen-dência estrita
de
seu ambiente estimulatório imediato. Eles dotamo
organismo de um valor pre¿itivono
tocante a outros aspectos do meio não imediatamente presentese que possuem significado adaptativo'
2.4
Umn palartmnbre
umn posstvel obieçlo que se poderia fazer aosprinclpbs
ex¡ns-tos, objeçdo essø relfltiva à existência de atos oríginais ou criotivosSe
o
passado é tão importante nos atos psicológicos, a ponto de o tentarmos incor-putut.-
três princípios psicológicos novos, como se poderá explicar, com base nessesþrincfpios, um ato criativo,
original, jamais apresentado? Essa questão deveria ser ènfrenìada no terreno experimental, com o mesmo rigor lógico que procurei manter no caso da demonstração dos princípios indicados. No entanto, eu me permitirei usar umareflexão feita sobrè um episódio recente de minha vida quotidiana pilra indicar a
dire-çâ-o geral na qual, ,uporrlio, a questão poderia
vir
a ser enfrentada. Essa reflexão, porsua vez, serve pata
.x.mplihcai
a aplicação dos princípios expostos a um episódio da vida diária. Hós têmqn. p.ourt
tal aplicação, caso seja realmente fundada a pretensão de utilizá-los pu.u umã psicologia unificada, capaz de lidar efetivamente com os váriosdomfnios de
iatos
queora
parecemjustificar
æ diferentes correntes em que se tem dividido essa ciência.Há no
filtro
de meu aquário uma esf'erazinha de cera amarela porosa por onde entrao
tubo de
aeraCâ'o. Essa esferaé
necessá¡ia parapfover
umponto de
fìxação, umamortecimento