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TENTATIVA DE DESENVOLVIMENTO DE ALGUNS NOVOS PRINCÍPIOS DE CIÊNCIA NATURAL PARA UMA PSICOLOGIA APLICÁVEL TANTO AO COMPORTAMENTO ANIMAL QUANTO AO COMPORTAMENTO E À EXPERIÊNCIA HUMANOS

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(1)

TENTATTVA DE

DESEIWOLVIMENTO

DE

AIJGT]NS NOVOS PRINCIPIOS DE

CIÊNCIA NATURAL PARA UMA

PSICOLOGIA APLIC,Á,VEL

TSNTO

AO^COM-PORTAMENTO

ANIMAL

QUANTO

AO

COMFORTAMENTO

E A

E)CERIENCIA HUMANOS

WAL'TER HUGO DE ANDRADE CUNHA Universidade de Sfu Paub

Pensei

demonstração do seguinte

conjun-to

de

com certa imprecisão e

redundân-cia,

e

claro de organização; na verdade,

foram

reram):

-

A

psicologia animal pode ser importante para a psicologia humana, ao menos pelo

fato

åe qn. -não se podìrá chegar a uma concepção do propriamente humano no

ho'

mem fora de uma perspectiva comparativa.

-

A

psicologia

tem

a ver essencialmente com

o

mecanismo ou com os mecanismos de um organismo individual que lhe permitem utilizar, em ações regulativas, sua

expe-existenciais e dos tènômenos de comportamento.

\-.

(2)

F

70

Walter Hugo de Anrlrade Cunha

-

Psicologicamente, os estímulos são necessários não para desencadear uma açâ'o, rnas

sim para colocar o comportamento sob controle do passado, e para apoiar, interromper ou mudar seqüências de açâo

em marcha.

-

Quando

a

natureza físico-química específica do estímulo, e sua forma de atuação

num organismo dotado de uma particular organização anátomo-fisiológica e de certos estados de seus mecanismos regulativos, são suficientes para determinar uma resposta ou padrão de respostas, estamos diante de reflexos ou de padrões fixos de ação.

-

Espfrito e matéria não são duas substâncias diferentes, mas duas maneiras diferentes em que nos são acessíveis as nossas interações presentes ou passadas com o ambiente.O

espírito

diz

respeito aos efeitos

do

ambiente que estão presentes

no

organismo na

forma

de

ajustamentos funcionais

a

ambientes mudados, e a matéria, aos efeitos do meio que estão presentes na atividade sensorial.

-

As coisas perceptuais são compostas de emblemas e significados. Os emblemas são

interações presentes entre

o

organismo

e o

meio. Os significados sâ'o interações de mesmo

tipo,

reintegradas a partir da forma como se acham registradas nos

ajustamen-tos

do

organismo. Emblemas

e

significados estão numa relaçâ'o semelhante àquela entre o significante e o sigrificado no signo saussuriano (cf. SAUSSURE 1916).

-

O

condicionamento clássico e

o

condicionamento operante são fenômenos devidos aos fenômenos mais primitivos

tanto do

ajustamento funcional do organismo a

am-bientes alterados

quanto da

reintegraçã'o

do

ajustamento,

e

constituem expressâ'o desses fenômenos.

-

A

emoção é uma relação que as coisas e acontecimentos

-

todas as coisas e todos os acontecimentos

-

têm

com a gente e com os ambientes mudados a que nos ajus-tamos, e que elas e eles'nos permitem ou não reintegrar.

-

A

totalidade dos nossos ajustamentos, capaz de

influir

em nossas reintegrações, é

um dos significados que se pode atribuir ao "inconsciente".

-

Uma

coisa

tem

sempre significados positivos, negativos

e/ou

associados. Esses

significados crescem em função de nossa exposição a outras coisas com as quais entra-mos em contato.

-

O

organismo está sempre exibindo um processo de regulação que afeta aquilo que

será reintegrado das situações

de

ajustamento

a partir de uma

situaçâ'o presente.

-

A

psicologia não

é

a ciência

do

comportamento, mas uma ciência que estuda o comportamento e outros fenômenos quando são afetados por uma experiéncia propria-mente individual, isto é, quando esses fenômenos expressam o fato de que o organismo

em questão possui, entre seus mecanismos pré-programados, um aparelho fisiológico especial para lidar adaptativamente com o ambiente a partir dos efeitos da experiência

ìndividual. Esse aparelho pode ser chamado

"mente",

e

seus produtos podem ser

chamados mentais,

da

mesma

forma que

a digestâo

é

estomacal

e a

visàìo, visual.

-

A

etologia fez morre¡ a antiga psicologia comparada

e a

sucedeu ao substituir a

comparação de mal concebidas mentes nas várias espécies animais pela busca de uni-dades de comportamento he¡dadas em espécies proximamente aparentadas. Mas, hoje, penso que uma nova psicologia comparativa pode ser vislumbrada, decorrente do reco-nhecimento de que uma psicologia constitui

um

recurso adaptativo, adicional aos até aqui estudados pelos etólogos, surgido na história evolucionária de algumas espécies. Essa psicologia comparada, um r¿uno da etologia, como que vindica a antiga psicologia comparada, e é um desenvolvimento necessário para que a etologia se aproxime de sua

(3)

Novos

hinclpios

para uma

Psicologia l1

ambição

de

tornar-se

uma

ciência completa

do

comportamento.

A

llova psicol<lgia comparada caberá uma tareia semelhante à que tem cabido â etologia quando estuda comparativamente

os

mecanismos

de

organização

estrutural

do

comportamento; estudar as mentes das espécies animais comparando-as erìtre si e com o lromem, enten-dendo a mente no sentido renovado acima.

- A

etologia necessita, para tornar-se

uma

ciência completa

do

comportamento, estudar a mente, da mesma forma que tem estudado

o

comportamelìto: a causação, a

filogênese, a ontogênese,

o

papel na evolução e o valor de sobrevivéncia desse fenôme-no.

-

Não há

um ponto único

em que

o

organismo deixa de ser fìsiológico para se tor-nar psicológico, mas deve haver um ponto, na escala evolucionária, em que a fisiologia é modificada para

lidar

adaptativamente com a experiência

(no

sentido de efeito de

estimulação) individual.

-

Um sistema orgânico pode

ter

comportamento e, no comportamento, variabilidade, reatividade, molaridade e até algo como propósito, sem ser psicológico, como é o caso

da cauda móvel de uma lagartixa, após autotornia'

-

A

psicologia não precisa, pata adquirir status de cientificidade, superar

o

behavio-rismo,

ou

abandoná-lo: basta ampliar o número de seus princípios explicativos atuais.

-

Os princípios de ajustamento funcional, de inércia do comportamento e de reinte-gração

de

ajustamento possivelmente

permitirão

à

psicologia reinterpretar

e

talvez superar os seus dilemas tradicionaís, ou dicotonlias, do

tipo

mente-corpo, objetivo-sub-jetivo, explicar-compreender, periferalismo-centralismo, holismo-elernentarismo'

-

A

diferença principal entre o homem e os animais, do ponto de vista psicológico, é

algo

que

se prende, em

última

análise, a diferenças quantitativas de ajustamento e

reintegação e, também, a uma motivação

-

mais forte no homem do que em qualquer outro animal

-

paft testar suas reintegrações.

-

A

dificuldade encontrada na unificação da psicologia não provém de ser o homem radicalmente diferente

do

animal não humano, nem de que a experiência ex{a, para ser compreendida, metodologia e princípios distintos dos requeridos pÍìra a compreen-são do comportamento. Na verdade, essa unificação será obtida quando for

desenvol-vido um conjunto de princípios

para dar conta

do

fenômen<¡ psicológico em suas

diversas formas de manifestação.

-

A

visão da individualidade fornecida pela etologia

e

pela psicologia experimental deixa a desejar, e falha no essencial, ao conceber

o

indivíduo com uma interseção de processos gerais, abstratos e impessoais.

-

O

organismo psicológico

é

o

que

tem

seu comportamento e experiência determi-nados

a partir da

cspecificação de uma situação, de

um

processo de regulação em marcha e de uma história individual de ajustamento.

-

O ajustamento e a reintegração não apenas permitem a um organismo ser histórico como também ser historíal,

no

sentido dado ao termo por Heiddegger (1952), de um ser que faz suas condições.

-

O

domfnio

das normas pertence

ao

social, mas

o

domínio do

comportamento sob normas é um domínio inteligível a partir dos fenômenos do ajustamento e da rein' tegraçÍio de ajustamento.

(4)

72

Walter

Hup

de Andrade

Anha

-

O cornportamento dirigido para um alvo

futuro

é, na verdade, um comportamento acionado pelo passado reintegado.

-

A

liberdade do homem consiste no fato de ele ser, por seus ajustamentos anteriores,

definidor do valor de estímulo de seu ambiente juntamente com as propriedades

obje-tivas desse mesmo ambiente. Mas não se trata de uma liberdade absoluta,

que esse

fato é decorrência de o homern ser alnoldável pelo meio.

-

Uma

grande parcela da reflexão contemporânea se concentra na psicologia. Isso

indica que essa ciência ainda não conseguiu uma clara conformação positiva, estanto

ainda presa

a

confusões conceituais. Mas, dada essa concentração,

é

provavelmente

iminente uma solução capaz de desembaraçála dessas confusões e, apresentando uma solução satisfatória para seus dilemas tradicionais, promover sua unificaçâo.

-

Aceita-se, desde os tempos de Aristóteles, que a ciência se refere ao geral e não ao individual. Mas

o

mais geral acerca das formas orgânicas que exibem determinantes psicológicos

em

seu comportamento

é

sua individualidacle. Logo, deve ser possível formar uma concepção geral desse fato.

-

"Expectativa"

se refere a reintegrações na iminência de serem verificadas ou

infir-madas, e cresce ou diminui na proporção em que a série de reintegrações a que perten-ce vai sendo confirmada ou infirmada.

-

Se a psicologia é, em

última

análise, expressão de um mecanismo fìlogeneticamente

determinado para

lidar

adaptativamente com a experiência individual, ela integra a

etologia, e the caberá, em seu ramo comparativo, estudar esse mecanismo da mesma

forma que os etólogos

têm

estudado outros mecanismos: as caus:ts

ou

condições de

seu funcionamento, sua filogênese, sua ontogênese, seus produtos e respectivo valor adaptativo, e seu papel em promover a evolução da espécie.

Depois que essas afirmações foram arroladas, dei-me conta de que eu não teria nem espaço,

nem tempo,

atualmente, para demonstrá-las todas neste escrito. Por out¡o lado,

muito

poucas foram æ que não exigiam, pÍìra serem justificadas, a utilização de

várias outras. Se tivesse que haver escolha, naturalmente, eu deveria fazê-la da forma que Parecesse mais apropriada a

um

trabalho de fundamentação.

A

escolha deveria recair sobre as afirmações que, num certo sentido, pudessem servir de fundamento às

demais.

E

tais afirmações, a meu ver, eram as corporificadas nos novos princfpios de ciência natural que julguei haver descoberto a partir de meus estudos com animais. Tais são os princípios que denominei "ajustamento funcional", (regulativo ou psicológico) do organismo face a alterações de seu ambiente especlfico, "inércia de

comportamen-to"

e

"reintegração de ajustamento". Isto é apenas um primeiro p¿ìsso para se tentar fundamentar

o

citado conjunto de aflumações, e outras mais que cheguei a formular noutros escritos. Reconheço que isso, miseravelmente, é pouco. No entanto, resta-me o consolo de saber, com Lao Tseu (rn CODELIER 1984,

p.

167), que "aviagem de mil

(5)

Novos Princlpbs

pøa

uma

Psicologia

73

I

DA

INSUFICIÊNCIA DOS PRINCIPIOS

DE

CIÊNCIA

NATURAL

EXISTENTES PARA EXPLICAR

O

COMPORTAMENTO, OS FENÔMENOS MENTAIS E OS EPI-SODIOS DA

VIDA

QUOTIDIANA

T¡ês conceitos, parece-me, têm-se revelado úteis no estudo experimental do

comporta-mento:

o

conceito

de

reflexo,

o

de condicionamento

e

o

de padrão

fixo

de açâ'o.

A

noção de reflexo

foi

uma descoberta de Descartes (1662 e s/ data), que teria sido

o

primeiro

a

conceber

o

comportamento

como

o

resultado

de um

mecanismo

(HERRNSTEIN e BORING, 1966) e, portanto, em termos de ciência natural. É verda-de que, no caso humano, Descartes admitia, certamente por influência de idéias

religio-sasr , também a operação, ao lado do reflexo, de um princípio racional capaz de

condu-zir o

comportamento pÍua metas antecipadas. Esse dualismo de interpretaçâ'o, que

se-diava os princípios da ação tanto no espírito como no corpo, vistos como duas espé-cies radicalmente distintas

tle

substâncias, ao mesmo tempo que pôs em marcha a

ciência

do

cornportamento, emaranhou-a em inúmeras confusões conceituais que se

prendem, em

última

análise, às relações entre a mente e

o

corpo. Em conseqüência, a

psicologia se apresenta desde sua origem cindida entre correntes mentalistas e materia-listas, com suas correspondentes opções metodológicas pelo holismo ou pelo

elemen-tarismo,

geralmente acompanhadas, cada

qual, de

aliados epistemológicos

caracte-rlsticos:

o

racionalismo e o apriorismo, no caso das primeiras, e o empirismo e o

positi-vismo, no caso das últimas. Nos dias de hoje essa divisão na psicologia se apresenta sob

a forma de uma disputa entre os chamados humanismos e os naturalismos, como a que se vê entre a psicanálise, a psicologia existencial e a fenomenológica, de um lado, e a

etologia e os behaviorismos, de outro. Não têm faltado a essa divisão nem mesmo as

correntes conciliatórias

e

ecléticas, representadas

por

estranhas combinações dessas

tendências doutrinárias e metodológicas, das quais me parecem um claro exetnplo a

psicologia daGestølt, no passado, e a de Jean Piaget, no presente.

A

noção de reflexo conduzia diretamente ao estudo das conexões inatas eutre exci-tantes do meio ambiente

-

"estímulos"

-

e a atividade clo organismo

-

"respostas".

A

noção de condicionamento

foi

elaborada po Pavlov (1927) explicitamente a partir da noção ca¡tesiana

do

reflexo. Ela

foi

utilizada, especialmente por Watson (1919) e

outros behavioristas

(por

exemplo,

HULL

1943),para explicar como certos aspectos

do

ambiente, inicialmente não conectados com reações naturais de

um

organismo, podiam, com o tempo, controlá-las ou provocáJas.

A

demonstração, por Thorndike, Konorski, Skinner e outros, de uma outra modali' dade

de

condicionamento (além

do

condicionamento clássico estudado

por

Pavlov

e

Bechterev) denominado condicionamento operante,

foi outro

passo importante no sentido de interpretar o comportamento inteiramente em termos de princípios da

ciên-lAlgunr, como La Mettric (1748),

chegaram a conside¡ar quc essa admissão naio passava de

"malícia dc estilo", espécie de álibi ou subterfúgio usado por Desca¡tes para protegcr-se da

perse-guição que os tóologos certamento lhe fa¡iam

-

como assim mcsmo lhe fizeram

-

por introduzir na cxplicação da açâo humana um princípio ti¡ado de uma analogia com

o

animal. Esse prin-clpio acabaria por ser o germe da destruição final do dogmatismo religioso.

(6)

74

llalter Ilugo de Andrade C'unlu

cia natural, com

exclusâ'o

da

açâ'o racional

de uma

substância espiritual. Skinner, sobretudo, partindo das noções de reflexo, de condicionamento clássico e de condicio-namento operante, elaborou uma concepçiio mais ampla e flexfvel das relações entre

o

comportamento

e

o

meio

ambiente.

Por

essa concepção, passou-se a

incluir,

ao

lado das funções eliciadora e reforçadora dos estímulos, admitidas no

condicionamen-to

clássico, também as funções discriminativa, reforçadora condicionada e emocional

(SKINNER

1938, 1953

e

1959;

KELLER

e SCHOENFELD 1950;

MILLER

1962 e

MTLLENSON 1967).

A

noção de padrão

fixo

de açâ'o, como constituindo

o

núcleo central das ações

que caracterizarn o animal como nrernbro de uma espécie ou agrupamento taxonômico mais elevado e não como indivícluo,

foi

uma contribuição de l-orenz (1950). Coube a

I-aretz

a importante demonstração da existência dos movimentos endógenos ou instin-tivos, diferenciando-os dos reflexos, particularmente no que respeita à conexão desses

rnovimentos com os estados de

utn

tnecanismo central,

dito

meca¡risrno de desenca-dealnento inato. Esse meca¡risrno seria caracterizado por um bloqueio ou inibição de uln sisterna de reaçâ'o que, ern conseqüôncia, acumularia de lnodo crescente e regular, corn a passagem do tempo, urn potencial específico de ação, até a verifìcação de uma das duas condições seguintes: a) ocorrência de uln estímulo-signo particular, ou b) acu-mulação desse potencial acima de um valor crítíco ou limiar. O estímulo-siguo corres-ponde, ern geral, a um estímulo altamente característico de uma dada situação bioló-gica

na

qual a apresentação das ações

do

sistelna de comportamento em causa teria

alto valor

adaptativo para

a

espécie. Por

outro

lado,

o

sistema em causa "sangra", ou seja, tem suas ações próprias liberadas no "vácuo" (na ausência de qualquer

estímu-lo

desencadeador externo) quando o potencial acumulado atinge o valor crítico

men-cionado em

(b),

acima. As condições (a) e

(b)

atuariarn removendo

o

bloqueio desse

mecanismo

de

acumulação,

dito

mecanismo

de

desencadeamento

inato (IORENZ

1950, 1955; THORPE 1956;

HINDE

e TINBERGEN 1958; HESS 1962; e CUNHA 1983).

Os três conceitos acima considerados são, sem dúvida, os principais conceitos que

têm servido ao estudioso para interpretar

o

comportamento inteiramente em termos de ciência natural. Dir-se-ia que, coln base nas noções de reflexo e padrão

fixo

de ação,

os estudiosos

do

cotnportamento procuram

cobrir

todos os cotnportamentos inatos, ao passo que, com os princfpios derivados do condicionamento clássico e do condicio-namento operante, procuram

dar conta de todos os

comportamentos adquiridos. Pode-se dizer que um esforço para circunscrever todas as interpretações do comporta-mento

no domínio

desses três princípios

e

de suas interrelações é o que caracleriza

gande

parte do movimento naturalista experirnental constitufdo pela etologia e pelo behaviorismo atuais.

No entanto, mantendo

tal limite,

existe a dificuldade de dar conta de toda a

varie-dade

de

fenômenos psicolôgicos conhecidos. Não

é

minha intenção examinar aqui, exaustivamente e de forma sistemática, os fenômenos que se têm, de tempos em tem-pos, invocado para apontar a insufìciência dos princípios mencionados, ou que tém tradicionalmente recebido interpretações diversas das preferidas pelos movimentos naturalistas. Trata-sc, em geral, de fenômenos estabelecidos na clínica psicológica, ou

(7)

7_

tYovos

hittct¡tios

pøra unru

psicologiu

7 5

introspectivantente,

ou

rnesrìro fenômenos cncontrados na vida ordi¡rária. Sua forma de observação não ate¡rde aos cânones usuais de objetividade e rigor que gelah¡e¡te são possibilitados pelos proccdimentos

de

observação

e

experimetrtação utilizados

pela

análise experirnelttal

do

comportarnento e pela etologia compalativa. Os fe¡rô-menos mencionados incluern desde cornportarnentos dotados de certa raridacle e, por vezes,.de carâter bizarro, até coisas couro a percepção estética, a cxecuçõo, quarido ern vigllia, de comandos ¡ccebidos eln estado hipnótico, fenôrnenos lingi.iísticos, atos inventivos

e

conversões. Irtcluen'r, tanrbérn, as associações, os sonhos, as alucinações, os atos falhos e os sintomas neuróticos ern geral, fenôrnenos esses quc, por longai dó-cadas, têm contitufdo um domínio ca¡acte¡ístico da llsicanálise. Serenr esses fenôme-nos reais e objeto de uma curiosidade científìca legítilna é urn irnportante l'ator, a meu ver, para que essa antiga escola psicológica contùrue ainda lroje a scr

discuti{a

eaBa-nhar adeptos, enquanto a nraior parte das escolas psicológicas <.le sua época são atual-nrentc pouco mais do que curiosidades do passa<Io.

Mesrno sern sair

do

campo de fatos ao qual a ntodcrna teoria

tlo

cornportamento ¡larece ttrais afeita, dir-se'ia possívcl cilcontrar unla outra razào bastallte geral

{e

i¡sa-tisfação quanto a perrnanecer estritamente de¡rtro tle seu quaclro conceitual. E, para-doxaltttente, essa C

a

nìesnìa razão que, suponho, originou a allítlisc experimentãl do

colnpottameltto

e

as ca¡acterísticas cla investigaçâo experinrental

do

cornportamento recelÌte. Trata-se do que considero ser

o

traço ilistintivo por excelôrrcia dos comporta-metrtos psicologicarnente detenninados, que, no. caso

ilo

ser hunrano, tìtas tanrbént rJe

rnuitos outros animais, coltstituern a grande lnaioria dos cornportauìeutos observajos:

o

seu cqrdter dc a¡tarerúe gratuùlaale e ørbitrarietlale,

lo

sentido de que ná'o podem ser

explicados neur pela constituição anátolno-fisiológica dos organisrnos nenr pela consti-tuição lÌsico-c1uínrica dos estímulos ou objetos l'ro nlomento em que são apresentados. Sâ'o atos psicológicos que nã'o são eliciados ao ¡nodo dos reflexos nem desencadeados ao

modo

dos ¡radrõcs

de

ação

fixa: por

exemplo,

o

deitarnro¡'ros enì uma cama, o

lavar as nrãos sob água corrente,

o

enxugá-las,

o

beber aígua,

o

ajoelhanno-nosao parafuso caído,

o pintar

urn quadro.

Não

o, o na constituição do ser humano, nel'n na

cle

1o

o

ato de falar a ele (em vez de

lnerarnente

ar golpeá-lo)

coÍllo utn ato

que devesse

ser

as

pessoas em geral.

No

que rcspcita ao animal, esse caráter é,talvez, menos óbvio. Mas, a quem se dedi-que a olhar u¡tt anilnal c¡rl sua i¡ldividualidade e ao longo <.lo tenrpo, este costuma ser,

tambén,

urr

làto

perf'eitarncnte caructerizâwel. Assim, por excnrplo, observo

o

com-Portamcnto <Ic fornrigas para corn unìa mestna f<llha de vegetal no interior de ulna

ban-dcja onde abrigo urna colônia de saúvas. É verdade que a nraior parte das formigas, ao

chegar perto do vegetal, tateia partes de seu limbo com as anteltas. No entanto, outras formigas reoricrttanr sua rnarcha, de modo que se desviam da folha. Quanto âs primei-ras,

o

que fazcm cln seguida é bastante variável e freqüenterrÌeltte iuìprevisível. Algu-mas, depois

dc

certos preliminares

(cf. MELO

1977 e

CAIìESIA

1977),começama cortar

o

vegetal; outras, a perarnbular sobre ele; e outras, ainda, a apreendé-lo coln as

n.randíbulas e a operar de modo que tende a erguê-lo; outras, lambem-no, enquanto

al-gutnas outras se postam sob ele, imóveis ou a friccionar as patas contra as alttenas ou as

(8)

76

Walter Hugo de AruJrade Ctutlw

Bem sei

que

loi

a dificuldade de entender esses comportamentos (cornuurente

di-tos

voluntários

ou

propositatlos) rruma concepção cle estímulo-e-resposta que levou

Skinne¡, Irá nrais de quatro décadas atrás

(cf.

SKINNER, Belwvior

of

oryanisnts),a conceber leis rnais flexíveis

c

dinâmicas sobre

o

relacionamento

do

corrportamento

corr

o

ambiente. Desrle cntâ'o, urn grande progresso

foi feito

no sentido de

demons-trar

conro esscs col.nportallreritos (aparenternente arbitrários e gratuitos na sua relação com deternrhados aspectos

do

rncio) podiam scr

adquiridos

ou, talvcz melhor, po-deriarn

ter

sido a<lc1uirìdos coul base cm princípios descobertos no laboratório a

par-ti¡

da

análise dos fetrôrnenos básicos citados mais acima.

No

entanto, acredito que

qualquer teórico

da

moderna teoria

do

comportamento conviria comigo que, neste caso

-'

assim como no caso clos fenômenos tipicamente considerados pela psicanálise, pelo humanisrno existencialista c pela

fenomenologia

ainda falta ulna grande distân-cia a ser percorrida para essa dernonstração. Muitos cstudiosos, rnestno dentro de um

movimento de cunho nitidamente experimental, procurarn contornar essa dificuldade apelando

para princípios de

ação não estritalnente observados nem claranrente de-rnonstrados.

Em

suas teorias, esses

princípios tomam

a

força

de variáveis de tipo

mental, como "intenção"

e

"compreensão", intervenientes

entre

o

es+,ímulo

e

a

resposta,

ou a

forma

de

"constructos" hipotéticos, como no sistema de Jean Piaget

(B io lo gie e t co t uwissatrce ; "Que stion s préalable s " ; Psic olog ía) .

Ern

rninha obra ante¡ior incorri, sobre vários aspcctos, nessa atitude que acabo de

nrerrciorrar.

No

entanto, corrsidero-a hoje, com Skinner

(1959,

1950, 1971) e outros autores

(por

exernplo, MILLENSON 1967 e

GALVÃO

1980), eLrônea, por não distin-guir claramente entre invenção e descoberta. Concordo que, por vezcs, essa distinção, tão

útil

para separil ficção e ciência, não é nada fácil. No entanto, creio talnbém

-

e,

nesse

ponto,

concordando em parte com os autores ditos cognitivistas, fenomenólo-gos, "construtivistas",

etc.

que os princípios até aclui desenvolvidos pela moderna

tcoria do

conrportamento para explicar

toda

a varie<lade

ile

fenôrnenos psicológicos existerrtes são provavelmente insuficientes. Sendo assim, também sou de

opinilo

que, ao lado de se prosseguir na tentativa de ampliar a compreensão dos fenôlnenos existen-tes ern termos dos princípios mencionados, será igualmente legítimo, corno fazem os citados autores, tentar obter essa ampliação através da descoberta de princípios novos.

Contudo,

diferindo

desses mesmos autores, haveremos de nos impor como condição

r¡ue tais princípios

se enquadrern

na

mesma categoria daqueles

outros

princlpios

(do

reflexo, do condicionamento e do padrão fixo de açâo), isto é, que se constituam, também, em princípios demonstrados da ciáncia natural.

Nas páginas subseqüentes

faço

uma tentativa de dernonstração cle novos princí-pios explicativos

do

comportamento inteiralnente em termos de ciáncia natural. Ela

é

seguida

por

uma especulação sobre como esses princípios permitiriam propor uma nova doutrina sobre a nzlvreza dos fenômenos, juntamente com uma reinterpretação do problema da relação entre a mente e o corpo.

(9)

Novos

hinctpios

pørauna

Psicologia

il

2 TENTATryA DE DEMO STAçÃO DE

NOVOS PRTNCIÞIOS DE CrÊNCrA NA-TURAL PARA LIDAR COM O COMPORTAMENTO PSICOLOGICAMENTE MEDI,A-DO

2.1

hinclpb

de

ajustamento

funcional,

regulattvo

ou

psicológico

tlo

organismo a alterações ocorridus no seu ambiente especlfico

Quando um psicólogo vai estudar um organismo, já o encontra, invariavelmente, en-gajado em alguma atividade2 .

Em geral, esse estudo consiste primeiramente em submeter o organismo àquilo que

o

psicólogo chama de "variável independente" ,

i.

e.uma condição, geralmente do am-biente, que se pode fazer variar. Em segundo lugar, observa o efeito dessa variação en.r

uma "variável dependente": algurn aspecto específico da atividade então exibida pelo organismo em questão. Evidentemente, esse efeito só pode consistir: a) em algurna

mo-dificação nessa atividade, surgida, quer juntamente conr a aplicaçâo da variável inde-pendente, quer posteriormente a essa aplicação; ou b) ern alguma atividade inteirame¡l-te nova nessa situação.

Não vem ao caso considerar aqui todos os tipos de variáveis independentes c dcpen-dentes que

o

psicólogo tem abrangido enì seus estudos, nem a variedadc de funções do organismo que ele, com esses estudos, procura focalizar. Basta, para a demonstração

que tenho em vista, considerar uma modalidade de estudo psicológico de que lancei mão em trabalho anterior (CLJNHA 1980) e que me encontro inclinado a reexaminar,

pois creio ser posslvel

ti¡ar

dele implicações pouco suspeitadas para a psicologia até este momento,

Trata-se de um estudo: (a) cuja variável independente consiste em efetuar uma alte-ração especificada

no

ambiente imediato do organismo, em deixar essa alteração pre-sente por algum tempo e, finalmente, em removê-la; e (b) cuja variável dependente são

as modificações eventualmente ocorridas

na

atividade preexistente

do

organismo ao

longo dessas in terven ções.

O seguinte cxperimento, esquematicamerlte representado na figura

l,

abaixo, pode ser tomado como ilust¡ativo. Trata-se de um experimento que realizei, há alguns anos,

a propósito tlo comportamento

ile

formigas Nylønderiø fulva (Mayr, 1862):

Havia-se formado pelo chão uma

trilha

dessas pequeninas formigas caseiras,

dese-nhando nele unla linha interrompida de ponto móveis,

junto

a uma parede. As

formi-gas caminhavam

a

passo regular ao longo da

trilha,

em ambas as direções, apenas se

detendo, por vezes, para tocar brevcmente com as antenas as companheiras passantes.

A

impressâo tlc ordeln e regularidadc, como usualmente acontece nas trilhas intocadas, era o f'cnômcno rnais marcante.

Resolvi, crrtão, verificar sc as formigas reagiriam à presença de certos objetos coloca-dos ao longo de seu percurso. Para isso, coloquei,junto à trilha, trés mechas de algodão com um ¡rroduto de limpeza doméstica à base de querosene, como explica a figura

l.

2li*ptego ac¡ui

o

tcrmo "atividadc" dc mancira propositalmente vaga para significar

(10)

78

llalter llugo

de Atdrade Cunha

As formigas reagiram a essa alteração de seu ambiente imediato corn várias mudan-ças em seu comportamento. Em geral, paravam nas proximidades das mechas, levanta-yam para essas mechas as antenas conjuntamente esticadas e dispostas,

por

seu eixo longitudinal, em

"V",

meneando a cabeça, antes de retomar a rnarcha, Outras formigas se desviavam aproximando-se da aresta formada pelo chão e a parede. Outras, ainda,

invertiam

o

sentido da marcha, pæsando a correr, em trajetória sinuosa, ondulante, às

vezes com um ou mais estremecimentos corporais enérgicos, etc. Com

o

tempo, essas

mudanças

de

comportarnento amainavam,

e

as formigas voltavam a exibir o mesmo caminhar lento e compassado do início, como se as mechas jamais tivessem sido ali co-locadas. parede I

t I

t

il

I I

II

I I I I I

I

I I

II

t I I I

II

I t

tI

t t t t I t

It It

I t

tt

I I

I

X v

Al'nento

Ninho Li nh a p o nt illzad a :

Írllha

xy '. arcsta formada por um piso com uma parede de alvenaria

A,

B,

C: rnechas

de

algodão

com

"removedor" (base de querosene) colocadas a

1,5 cm de distância da a¡esta e

a

1,3 cm da trilha(Distância de

A

a B e de

B a

C:32

cm).

Figura 1

-

Representação aproximada da

trilha

e de outros aspectos de um experi-mento realizado com lormigas Nylanrleria fulva (Mayr, 1862).

Nesse momento,

rettei

as mechas B e C, deixando apenas a mecha A. O que

ocor-reu

foi

deve¡as surpreendente. As formigas, em sua maioria, tornalam a apresentar no-táveis mudanças em seu comportamento, mas apenas nas proxirnidades dos locais de onde as mechas haviam sido reti¡adas. Muitas dessas modificações eram similares às

obtidas na primeira fase do experimento, mas destacavam-se agora excursões em mean-dros pelo piso e parede, agitação antenal com a formiga empinada à frente, o primeiro par de patas suspenso no ar, etc.

No

caso das formigas que estavam

indo

na direção no ninho, as modificações de

comportamento cessavam assim que as formigas chegavam à altura da mecha

A,

a úni-ca não removida. Já no caso das formigas em marcha na direção do alimento, as modi-ficações de comportamento apenas começavam a surgir a partir do ponto onde normal-mente encontrariam a primeira das duas mechas suprimidas. Mas todas essas mudanças de comportamento, como no caso das ve¡ificadas quando da. primeira alteraçâ'o do

am-biente,

também amainavam gradualmente com

o

tempo, e,

por fim,

desapareciam,

0 B 0

c

0

A

(11)

Novos

hincl¡tios

parø umø

psicobgio

79 dando lugar a um caminhar lento e regular, em tudo semelhante ao caminhar observa-do no início do estudo.

Esses feuômenos possuem paralelos com os de alguns estudos referidos na literatu-ra psicológica, envolvendo, porém, a manipulação de outras variáveis <Jo ambiente, ou, então, envolvendo outras espécies de organismos.

Em rneu

livro

sobre as formigas (CLJNHA 1980) expus muitos resultados

semellta¡r-tes aos

do

estudo aqui apiesentado, obtidos, porénr, coltì outras modalidades de al-teração

do

ambiente imediato das forrnigas

(por

exemplo, soplos, mudanças de

ilumi-nação, adulteração do substrato, do alimento ou do nitrho, nas companheiras, etc.)' Tolman

(1932)

também descreveu os desacertos passageiros, seguidos de novos reacertos, que

o

encurtamento dos caminhos

ou

a alteração de ouüos aspectos de um

labirinto habitual acauetavam para o comportamento de ratos brancos. Tolman acredi-tava que essas perturbações de um comportamento habitual constituíam unra demons-tração objetiva de rupturas de "expectativas cognitivas" inrplícitas no contportamettto rotineiro de seus animais. Adotei uma interpretaçâo sernelhartte em minl.ra tese de

dou-torado (CUNHA 1966); ela

foi

substituída logo mais

por

outra baseada ern conceitos da análise experimental do comportamento, readotada uo livro acirna referido, e nova-mente afastada como inadequada em lneus escritos porteriores, inclusive o atual.

Tinbergen (1932),

por

sua vez, telatou como a remoçâ'o de objetos salientes, e sua troca por outros, nas proximidades dos ninhos da vespa cavadoru Pltilarttus triangulum, provocavam mudanças nos padrões habituais dos vôos de aproximação e de

afastamen-to

da vespa com respeito ao ninho, seguidos de uma readoção gradual desses padrões habituais (Cf. também TINBERGEN 1958).

Fenômenos similares a esses são encontrados tarnbém em estudos corn várias

espé-cies de anitnais segundo

o

que se tem denominado "habituação do cornportamento".

Thorpe (1963) e

Hinde

(1970)

expuseram

o

conhecimento acerca desse fenômeno

obtido

para vários

filos

animais. De natureza semelhatrte foram, também, os fenôme-nos descritos por Hebb (1946) em chimpanzés. Hebb julgou certos fenômenos

dernons-trativos de medo nesses animais, e os relacionou ao me<lo de estranhos, encontrado

em

crianças. Entre esses fenômenos, os animais exibiam ereção de pelos, guinchos, recuos, micção e defecação quando, estando em suasjaulas, eram-lhes nrostrados

obje-tos que se assemelhavam a primatas, mas com alguma anormalidade frisante, tais como

o

corpo de unr chimpanzé adulto anestesiado, a pele destacada de unr chimpanzé, o corpo de um chimpanzé sem a cabeça, ou uma cabeça humana ern gesso.

Não é o nreu propósito rever, aqui, todos esses cÍtsos. Basta-me, nesta oportunidade,

indicar que se

caracteizam, quando vistos

eln toda a

sua complexidade,

por

três ordcns de resultados diferentes, que, assim, se revestem de certa generalidade.

A

prinreira dessas ordens

é

o

aparecimento de mudanças em um comportamento pré-existente diante de certas alterações do ambiente imediato do organismo.

A

segunda é

o

amainamento progressivo dessas reações, até sua completa extinção, quando

o

organismo

é

exposto prolongada

ou

repetidamente ao a:nbiente alterado.

A

terceira é

o

reaparecimento dessas reações ou de reações sirnilares quando as alte-rações

do

ambíente,

tornadas aparentemellte sem

efeito

sobre

o

organismo, sá-o

suprimidas ou modificadas.

O

primeiro dos resultados mencionados no experimento com as fonnigas pode ser,

e tem

sido, interpretado como devido à reatividade

do

organismo. Mudanças

no

(12)

am-80

llalter

Íhryo de Arulra<le

Anlu

biente, implicando em alterações nas condições energéticas atuatìtes sobre os recepto-res sensoriais, seriam as causas

-

ditas "estímulos"

-

das respostas do organismo. Um exame da natureza tlos estímulos, assim como dos mecani$nos de recepção sensorial, de conclução nervosa e de respnsta do organismo, é

a

terpre-tação, conhecida como a teoria S-R do

comportamel

4-14)' Uma dificuldade para essa interpretação é que

alte

¡llbien-te

-

como as constituídas por sopros, projeção de focos de luz, colocação de blocos

tle madeira, peclregulhos. peclras de mentol ou de cânfora

junto

à

t¡ilha,

passagem do

dedo sobre ela. etc.

(CUNIIA

1980)

-

são acompanhadas por respostas qualitativa-rnente simila¡es. Obviamente, essa similaridade não pode ser atribuída diretamente às

alterações

do

ambiente,

que estas são diferentes. Parece que ela deve ser procurada, antes, em alguma interferê¡rcia em colnum que essas alterações constituíaln ou introdu' ziam nos fatores cont¡oladores

ou

determinantes

do

comportamento antes da altera-ção

-

experimental.

O

segundo fenômeno pode ser, e tem sido, interpretado como devido a Inudanças

¡o

poder

de

eliciação

de um

estímulo devidas

a

condições surgidas

no

organismo,

quei

co.

a repetição das respostas, quer com a repetição ou presença continuada de

uma estimulação constante

ou

uniforme. Entre essas condições se têm considerado a

fadiga muscular, a adaptação sensorial e vários processos e mecanismos associativos no sistema nervoso central (GROVES e THOMPSON 1970). Por exemplo, para Clark

llull

(1943), a fadiga é uma condição aversiva cuja dissipação, ocorrendo com a

passa-gem <lo tempo

-

especialmente quando o

or

como

urna con<lição reforçadora

da

resposta

de

1963)

considera

a

habituação

tlo

comportamente

to

de

um

mccanismo associativo inverso

com

respeito

ao

mecanismo

do

fo¡talecimento operante:

um

ntecanismo que leva

o

organismo a enfraquecer e por

fim

suprimir sua reativi{acle a estimulos "biologicamente irrelevantes", isto é, unt mecanismo que leva

o

organismo a suprimir as respostas clue não são seguidas de estímulos reforçadores. Nessa interpretação a habituação é considerada como

um

deixar de responder a

certas alterações do rneio devido a modificações do sistema nervoso central decorrentes

ou

de transmissão sináptica repetida

ou

de efeitos associativos

inibitórios.

Uma

difi-culdade para essa interpretação é que a supressã'o das alterações do ambiente, depois que

o

organismo extingüe suas modificações de comportamento, ocasiona novas modi-fìcações de comportamento, como se vê no experimento com formigas acima relatado. Esse

fato

não mostra que, durante

o

suposto processo de habituaçâ'o

tlo

comporta' mento,

o

olganismo deixou de responder a celtos aspectos alterados

do

meio; mas

mostra que passou a responder-lhes de uma forma diferente da exibida nas primeiras ocasiões em que foi com elas confrontado.

O

terceiro fenômeno pode ser

e tem

sido interpretado como a exibição de

varia-bilidade

tlo

comportârnento,

ou

de

mudanças

na

topografia

e na

organizaçâ'o do

conportalnento,

como expressão

da ruptura de

uma cadeia de respostas estabele-cidas operanternente

(cl'., por

exernplo,

KELLER e

SCHOENFELD 1950' cap.

l0'

e

MILLENSON

1967,

pp. 90 e

seguintes).

No

caso específico do experimento com formigas considerado neste trabalho,

o

¡rirtho

e o

alimento, como objetos terminais

(13)

a

Novos Princípios para umo

Psicologia

gl

em

um trajeto

regularmente æguido pelas formigas, atuariam como estímulos refor-çadores das respostas de marchar ao longo da

trilha;

ao mesmo tempo, confeririam

aos estlmulos dos arredores que

os

precedessem, qualidades

de

reforçadores

con-dicionados e de estfmulos discriminativos,

por

condicionamento clássico.

A

coloca-ção,

junto

à trilha,

de objetos interferentes (mechas com removedor), atuaria, pri-meiro, eliciando respostas competitivas com a de marchar pela

trilha,

e, em segundo

lugar,

suprimindo estímulos discriminativos

e

reforçadores condicionados,

anterior-mente

estabelecidos

e

provocando respostas emocionais

ou

interruptivas, próprias

da

interferência

com (ou

interrupção

de) uma

cadeia

de

respostas operantemente fortalecida.

Essa interpretação pareceúz atê mesmo capaz

de

salvar as noções

de

eliciação

e

extinção que se achavam em dificuldade

dentro

de uma concepção S-R

do

com-portamento,

ao

abrangê-læ em uma concepção mais

flexível e

sofisticada das rela-ções

entre

o

organismo e

o

ambiente. Para

isto

basta-nos supor que

o

condiciona-mento

clássico

e

o

fortalecimento operante estavam também presentes

e

atuantes, não apenas na terceira fase do experimento, mas também nas precedentes e até antes. Nessas condições, a ocorrência de

um

amainamento progressivo e,

por fim, a

com-pleta

extinção das modificações de comportamento conseqüentes â introduçâ-o das

mechæ na situação

-

vale dizer,

o

fenômeno da habituação dessas mudanças de

com-portamento

-

poderia ser entendido como expressâ-o da extinção das respostas in-terferentes

e

de novos processos de condicionamento clássico e operante em

a¡rda-mento, na situação modificada. Por esses processos, seria possível que, para as

for-migas em marcha pela

trilha

entre

o

ninho e o alimento, as mechas passassem a

adqui-rir

com

o

tempo

um

caráter de estímulos discriminativos e reforçadores condicio-nados com respeito à ma¡cha em direção ao alimento e ao ninho.

O

reaparecimento

de

modifìcações

de

comportamento, mediante

a

supressão das mcq.has

deixadas longamente à beira da

trilha,

constituiria uma evidéncia adicional da realidade dessa

aquisição, mencionada acima.

Essa interpretação, conquanto engenhosa, choca-se,

a meu ver, com uma

difi'

culdade talvez insuperável nos termos em que

é

exposta (sem

a

adoção de hipóte'

æs

ad

hoc). Se os estímulos provenientes

do

rastro

olfativo

constituído pela trilha, ou provenientes do chão e da parede ao longo do percurso entre o ninho e o alimento,

funcionavam

como

estímulos discriminativos

e

reforçadores condicionados Para

a

marcha das formigas,

por

que então deixariam

de

fazê-lo mediante

a

supressão

ímulos

esses que serviam Para súbita perda dessas ProPrieda-s locaiProPrieda-s onde estavam antes as

(14)

82

llalter

Hugo de Andrade Cilnlta

Além

disso, para que essa interpretaçâ'o

em

termos

de

conceitos da análise

ex-perimental

do

compoitarnento pudesse ser considerada adequada, seria preciso que

um

evento sensorial apenas, e

o

compoltamento não

é

inteligível a não sel com a

suposição

de

que seu

iontrole

é

o

produto conjunto

de processos sensoriais

e

'au-tônomos' centrais".

(15)
(16)

84

Walter Hugo de Andrade Gtnlza

demonstração

do

fenômeno

do

ajustamento psicológico.

E isto é asim

polque esse

;"i,;;t",g,,ur*.niä'äiärìä'¡'i"ãiá",'ïn;î'ålîîi"råîü;::'ïf

.;"ft

l*

al das respostas parece dever-se ao

a1us-ao seu ambiente alterado' Esse ajusta-perda da eficácia dessas alterações no

to-tamento' No entanto'

esse resultado po-rogressivo entorPecim

tores

ou

dos efetores dos organismos,

ou

a uma redução åu,

..tf.^

devida à reduçãoãe emissão de partículas volá

;-;;;u;;.t

qualitativas

äo longo do tempo'

etc''

de

m não seria de todo certa.

Finalmente,

a

terceira ordem

de

resul

ajustamento que fez com que a supressao

desajustadas puru o näuo

uãtirnt.

surgido, até que ocorresse um

outro

ajustamento'

(17)

t-Novos

hincípios

paraumø

Psicologit

85 Portanto,

é

o

conjunto de

resultados

obtidos no

experimetrto, considerados na seqüéncia

em

que ocorreram, que parece estabelecer, sem dúvida, a existência do

fenômeno

do

ajustamento psicológico, regulativo

ou

funcional

do

organismo

a

as-pectos alterados de um seu ambiente específico.

2.2

A açlo

do mecanismo

do

øjustømento psicológico como essenciøl pøra a preserva-ç6o,le um intercômbb aloptativo do organismo em seu ambiente

O

fenômeno do ajustamento psicológico é, como se viu, um fenômeno que afeta o relacionamento posterior de

um

animal com

o

seu ambiente.

O

que é, exatamente, que ele îaz, e como o faz?

Retornando

ao

experimento relatado mais acima, pode-se dizer que as formigas apresentavam

uma forma

de

relacionamento

relativamente estabilizada

com

o ambiente

-

o

ninho,

o

piso, a parede,

o

rastro

olfativo

ao longo do caminho, as com-panheiras,

o

alimento, etc. Com esse rclacion¿unento elas realizavam

o

aprovisiona-mento

de sua colônia e, provavelmente,

o

aprovisionamento

próprio.

A

introduçâ'o

de

mechas

como

alteraçâ'o

do

ambiente

provocou

comportamentos discrepantes

dos até

então apresentados, suspendendo

e

desorganizando, temporariamente, esse

relacionamento3.

O

fenômeno

do

ajustamento a essas alterações fez que essas

roa-ções interferentes

com

o

processo

de

aprovisionamento gradualmente amainassem e por

fim

cessassem completamente.

No

entanto, isso

não

significa

que

essas alterações

do meio

perderam, para as

formigas,

todo e

qualquer

efeito.

Apenas perderam a propriedade que era exibida

em

grau máximo

ao

ser€m

introduzidas:

a de provocar modificações

no

compor-tamento previamente exibido pelas formigas em seu relacionamento com o ambiente.

De

outro

lado, porém, e pari pøsst, parecem

ter

adquirido outras propriedades que passaram a ser daí para a frente indispensáveis para a ocorrência desse relacionamento

em

sua

forma

anterior, aparentemente inafetada. Mostra-o

o

fato

de que, se essas

alterações

eram então

suprimidas, novas modificações

de

comportamento,

simila-res às primeiras, reapareciam, até completar-se

outro

ajustamento gradual

do

orga-nismo ao ambiente assim alterado.

Desa forma,

o

resultado

final

do ajustamento psicológico parece ter sido, no cæo considerado

(isto é,

no

caso das formigas

que

permariec€ram em trânsito entre o

ninho

e

o

alimento,

e

vice-versa)

contribuir

para

que

o

organismo restabelecesse,

diante de variações ocorridas em seu ambiente,

um

dado relacionamento que vinha mantendo com certos aspectos de seu ambiente. Teve como efeito, portanto,

o

de preservar

e

estabilizar esse relacionamento

em

face

de

mudanças

no

ambiente

ex-terno.

O

fenômeno

de

ajustamento

aqui

considerado

livra

de interferéncias

exter-3Na verdade, para vrírias das formþas, esse et-eito de

suspensâ'o e desorganização podia ser

mais du¡adou¡o, já que regressavam ao ninho, onde se recolhiam, a julgar pela redução do fluxo de formigas na trilha. Isso indica que

o

efeito de uma alteraçío do ambiente pode não ser

ape-nas o de provocar um reajuste funcional ao ambiente, mas também uma nova forma de relacio-namento com o ambiente, o quc implica uma outra modalidade de atividade regulativa.

(18)

\

86

lüølter Hugo de Andrade Cunha

nas

um

dado ¡elacionamento

do

organismo com seu meio, transformando essas in-terferências,

de

elemento perturbadores desse relacionamento

(que

eram,

a

prin-cfpio)

em elementos essenciais para a ocorrência inalterada, posterior, desse mesmo

rriucionatne.tto.

Por

essas características. esse fenômeno Parece apresentar marcada semelhança

De fato,

de

dade que o das

em

seu

subsistir

como

um

determinado sistema

de

normas, tendências

e

mecanismos de

açâ'o.

Certamente,

o

ajustamento psicológico que

a

formiga exibe

no

experimento que venho considetando,

é,

ccmo outras formas de ajustamento biológico, possibilitado

a meu

vel,

de uma forma de ajustamento que, se nâ'o permite direta e imediatamente

a

sobrevivência

de um

organismo diante

de

qualquer alteração em seu meio, pelo menos permite

a

esse organismo continuar a manifestar determinados

relacionamen-tos com seu ambiente,

a

despeito de variações ocorridas nesse ambiente. Na medida

em que contribuíssem para relacionamentos que se verificassem benéficos para a

so-brevivência biológicam esses ajustamentos constituiriam

uma

característica

adapta-tiva que

a

seleção

natural

certamente tenderia

a

preserval

e a

aprimorar nas

espé-cies em que fossem manifestadas.

2.3 O

modo

de

atuaçõo

do

mecanismo

do

øjustamento e os princlpitts arlicionais da inërcia do comportamento e da reintegraçõo de aiustømento

De que forma

o

ajustamento psicológico

faz

com que um aspecto alterado do

am-biente deixe de provocar modificações de comportamento e, ao mesmo tempo' passe

a ser indispensável para que

o

organismo continue

a

apresentar

um

relacionamento

anterior inãlterado para com esse ambiente? Ou, em outros termos,

o

que pode fazer

com que uma alteração

do

meio deixe de ser, no decorrer do tempo, uma alteração para um organismo individual, e passe a ser um elemento característico

ou

constante

(19)

Novos

hinclpbs

para uma

psiccbgia

g7 de uma situaçâ'o? Se as modificações de comportamento tendem a abrandar-se com

até

um ponto

em que uma alteraçâ'o,

na

série

de

alterações, deixe

de

alcançar um

valor crltico,

ou limiar, para acaretar uma modificação. Nesse momelìto, poder-se-ia

dizer que

o

organismo converteu uma alteração

do

ambiente em uma não alteraçâ-o

diferença que a alteraçâ'o guarda com a Situação prevalecente até então, ou seja, com

a

situação

de

ajustamento anterior.

Isto

significaria que

a

reatividade do organismo capaz

de

ajustamento psicológico a uma dada alteração

do

ambiente

(ou,

o que dá

na

mesma,

a

eficâcia modificadora

de

comportamcntos de uma dada alteração do ambiente)

não

poderia

ser

conhecida independentemente

do

ambiente

do

ajusta-mento para

o

organismo em questão. Em outraS palavras, tanto

o

ambiente,

enquan-to

fonte

de fatores que afetam

o

comportamento de um organismo, quanto

o

ofga-nismo,

em

sua ¡eatividade

ao

ambiente,

deixarío,

dado esse fenômeno

do

ajusta-mento

psicológico,

de

serem entidades independentes

uma da outra,

p¿ua

consti-tulrem

um

sistema

de

transformações solidárias. Dado esse sistema,

o

ambiente,

em termos flsicos, a que um organismo fosse exposto, geraria uma situação de

com-portamento que nâ-o poderia ser definida sem a participação do organismo, que' por sua vez, não poderia ser definido, quanto às suas possibilidades de comportamento, Sem

uma

consideração

do

que foram

para

ele,

previamente, seus ambientes. Essa

situação não seria, pois,

o

mesmo que

o

ambiente físico presente, mas também não seria

o

mesmo que

um meio

subjetivo.

Ela

seria dinâmica,

isto

é, mudaria com o

tempo, ainda que

o

ambiente material não sofresse nenhuma mudança, uma vez que

refletiria

sempre

os

ajustamentos

do

organismo.

Refletiria

também, suponho, as

tendências, os estados e as operações regulativas em cada instante.

No

entanto, ainda

não

foi

indicado de que

modo

o

ajustamento,

isto é,

a mu-dança orgânica produzida

por

aspectos alterados de um ambiente, faz com que esses

aspectos deixem de provocar modificações

de

comportamento

no

organismo, e pas-Sem,

ao

mesmo

tempo, a

Ser essengiais para

um

comportamento normal

do

orga' nismo com seu ambiente,

ou

seja, para

o

restabelecimento do relacionamento

ante-rior do organismo com seu meio, tal como era antes da alteração.

(20)

88

lüalter Hugo de Andrade

Autln

estar preparado e regulado para a ocorrência desse algo, e agir

(ou

reagir) para corn

esse algo antes mesmo

!e

liavê-lo encontrado (portanto, ainda em sua ausência) como

se sua presença, ainda não verificada, fosse

tida por

certa

e

verificável. Esse fato,

de

estar lançado, dada uma

parte

sensorialmente presente

de um

ambiente, para

outra

sua

parte

ainda nã'o verificada presente,

e

acompanhante

da

primeira parte mencionada

no

pæsado, quando

num

processo regulativo,

é

exatamente

o

que

en-tendo

por

inércia

do

comportamento.

E

esse fenômeno de trazer de novo à

exis-tência, dada uma parte sensorialmente verificada de um ambiente, outra parte desse antbiente

ainda

ausente (fenômeno possibilitado

pelo

ajustamento)

é

exatamente o que denominoreintegraçõo de øjustømento.

Como

é

possível ver que as formigas efetivamente exibem esses outros fenôme-nos? Para isso, parece-me mister considerar

o

que se passa em

um

ambiente

a

que esses insetos

se encontram ajustados, quando esse ambiente

é

subitamente

alte-rado.

Quando

a

mecha

de

querosene

em um

dado

ponto do

terreno

próximo

da

trilha é

removida, pode-se obse¡va¡ que as formigas se aproximam até as imediações desse

local

onde, na situação anterior, teriam encontrado a mecha. Nesse

ponto

as

fonnigas interrompem sua marcha

e

exibem

modificações

de

comportamento

-um tanto variáveis de indivíduo para indivíduo

-

na forma de alterações de sua

pos-tura

e movimento.

uma situaçlo

ausente,

ou um

aspecto

do

ambiente anterior au-sente, está, pois, nesse local, ligado à interrupção do comportamento.

No

entanto,

nÍio me

parece que seja

o

caso de

atribuir

essa interrupção

direta-mente

à

ausência

ou

supressâ'o

da

mecha, enquanto fisicamente considerada. De

fato,

as ernanações provenientes da mecha não eram necessárias para eliciar ou para

guiar a

marcha e para

inibir

as modificações de comportamento que foram encon-tradas,

que

a

marcha ocorria nessa situaçâ-o em pontos distantes das mechas, e, antes dessa situação,

anteriormente

à

colocação das mechas.

Além

disso, quando

da

colocação das mechas, ocorrerarn modificações

de

comportamento similares às

que

seriam agora atribuidas

à

sua supressão.

Na

verdade,

tanto

a presença como a

ausência da mecha apenas foram acompanhadas de modificações de comportamento quando discreparam de uma situaçâ'o anterior em relação à qual as formigas vinham habitualmente se comportando.

E

elas apenas deixaram

de

acompanha¡-se de tais

modificações depois

que

passaram

a

ser

uma

ca¡acterística marcante

da

situação

que as formigas encontravam com regularidade (somente depois que as formigas se

lhes ajustaram, como

se viu).

Portanto,

o

que provocou modificações

de

comportamento

não

foi

a presença

ou

a

ausência das mechas

em si

mesmas, enquanto fisicamente consideradas, mas

a

alteraçâ'o

de uma

situaçâ'o

anterior na

qual as formigas yinham se comportando com hábito ou regularidade, e a cujos aspectos

se haviam ajustado. Portanto, o que provocou a interrupçâo do comportamento, e exibição de modificações de comporta-mento com respeito ao comportamento que vinha sendo apresentado,

foi

um

aconte-cimento que tornou a situaçâ'o presente diferente de uma situação de ajustamento. Isso

mostra

que

o

comportamento nesses casos nâ'o

é

eliciado

ponto por ponto

pelos estlmulos

ou

energias

do

ambiente presente nesses exernplos, mas é um

comportamen-to

para com uma situação anterior que os estímulos da situação presente reintegravam,

(21)

Novos Princlpios pttø uma

Psicologia

g9

enquanto

a

reintegravam. Os estlmulos da situação presente são, sem dúvida, impor-tantes

para a

determinaçâ'o

do

compottamento; mæ eles

o

são na nredida em que servem às formigas para reintegrar uma situação de ajustamento, e na medida em que ajudam a reproduzir (ou a modificar) uma situação similar à situação de ajustamento.

Portanto,

o

papel da situação presente é

o

de formar a base a

partir

da qual uma situação de ajustamento

é (ou

deixa de ser) reintegrada.

Isto é

equivalente a dizer,

como

às vezes se

faz,

que

a

situação presente

é

interpretada à

luz

da experiência passada

do

indivíduo.

A

situação psicológica de

um indivíduo

surge da relação que se estabelece entre uma situação de estímulos preæntes

e

situações de ajustamento

prévias. Quando

os

estímulos

de uma

situação presente reintegram

uma

situação

de

ajustamento,

o

comportamento

do

organismo

exibirá

uma inércia,

no

sentido

de

se apresentar no caso atual como

o

fazia numa situação de ajustamento. Quando, diferentemente, os estímulos de uma situação presente introduzirem uma mudança

na

situação

de

ajustamento anterior,

o

comportamento apresentará uma mudança

que refletirá um

compromisso

entre

o

comportamento dete¡minado pela situação

de

ajustamento

anterior no controle

do

comportamento

e

o

determinado

por

al-guma

ou

algumas outras situações reintegradas pela nova situação.

Infirmar

uma situação de ajustamento é, assim, equivalente

a

reintegrar

outra.

Seja quando apóia

um

comportamento

em marcha

e

o

torna

possível, seja quando motiva sua inter-rupção,

o

que um

estímulo presente

faz

a

um

organismo, em termos psicológicos,

é,

basicamente, servir

a uma

reintegração de aspectos aÍnda não verificados

senso-rialmente na situação.

Portanto, quando um organismo se encontra ajustado a um determinado ambiente,

ele tem

eliciada

uma

sua ação, diante

de

um

aspecto sensorialmente presente do ambiente, para

um outro

aspecto, reintegrado

de

seu passado.

O

passado pode ser preditivo

do futuro,

na medida em que

a

situação presente

for

semelhante à

situa-ção de

ajustamento. Quando isso ocorrer, essa açâo

lhe permitirá,

embora sendo

eliciada

por

um

aspecto reintegrado

de

seu passado, encaminhar-se

para

aspectos distantes

do

meto, como

um

alimento

ou um ninho,

que são de valor adaptativo. Dessa forma,

o

fenômeno

do

ajustamento psicológico permite a um organismo fazer

uso

de

sua experiência individual para regular adaptativamente sua ação a novos am-bientes encontrados.

No

tocante à regulação, devo dizer que me parece ser uma característica essencial dos seres vivos, nascida a serviço da adaptaçâ'o biológica. Com efeito, o espaço, os ma-teriais e outras condições necessárias aos processos vitais, são limitados na natureza, e

isso leva as espécies orgânicas a disputá-los. Nessa competição, as espécies sobreviventes

tendem ser as que, no curso da evolução, foram capazes de adquirir mecanismos que

lhes aumentem

a

probabilidade

de

sobrevivência, disseminação

e/ou

reprodução de

seus indivítluos. Particularmente importantes entre esses mecanismos se¡iam os

mec¿-nismos regulativos:

os que,

desde

o

nascimento

do indivíduò,

se encarregariam de

produzir, manter ou restabelecer, para cada fase de desenvolvimento, estados orgânicos privilegiados (normas) que, ao longo da evolução, se revelaram convenientes para a

sobrevivência

em

condições variadas

do meio.

Quaisquer processos verificados no funcionamento desses mecanismos

-

por exemplo, no tocante a regularidade e

(22)

cons-90

Walter Hugo de Andrsde Cl.uthø

tância

-

tenderiam a ser selecionados, pelas vantagens adaptativas que confeririam a esses organismos. Ota, caminhando, em ordem de complexidade, dos fungos para as

plantas ã os animais

-

e dentre estes últimos, sobretudo para os mamíferos

-

pode'se

i.,

u*u

visão

da

variedade

de

mecanismos estruturais que evolveram a serviço da adaptação. Todavia, nenhum mecanismo

-

E.

8.,

a reatividade animal,

a

regulaçã'o

térmic;,

a capacidaáe de locomoçã'o

,

ehc.

-

pareceria tdo eficaz para esse fim quanto o

seria a áquisiçao de uma psicologia. De fato,

o

organismo psicológico parece-ter dado adquirir mecanismos crpazes de fazer com experiência individual. Esses mecanismos

;3,i,î'5:äåï:ä,iî11å.3;",'l;å'ix:Ì

e outras coisas ainda nÍio experimentadas sensorialmente, antes de reagir a suas propriedades sensoriais por si'

Essa possibiidade, confðrme

se indicou, é aquela representada pelo mecanismo

do

ajustämento funcional

ou

psicológico

a

alterações de um. ambiente específico, e

peloi

mecanismos auxiliares ligados a esse fenômeno

-

inércia do comportamento e

reintegraçâo de ajustamen to.

A

meu ver, um organismo é psicológico quando é dotado de tais mecanismos. As-sociados a

um

conjunto filogeneticamente determinado de mecanismos de respostas,

nonnas

ou

tendêntias, esses mecanismos liberam

o

comportamento de uma

depen-dência estrita

de

seu ambiente estimulatório imediato. Eles dotam

o

organismo de um valor pre¿itivo

no

tocante a outros aspectos do meio não imediatamente presentes

e que possuem significado adaptativo'

2.4

Umn palartm

nbre

umn posstvel obieçlo que se poderia fazer aos

princlpbs

ex¡ns-tos, objeçdo essø relfltiva à existência de atos oríginais ou criotivos

Se

o

passado é tão importante nos atos psicológicos, a ponto de o tentarmos incor-putut

.-

três princípios psicológicos novos, como se poderá explicar, com base nesses

þrincfpios, um ato criativo,

original, jamais apresentado? Essa questão deveria ser ènfrenìada no terreno experimental, com o mesmo rigor lógico que procurei manter no caso da demonstração dos princípios indicados. No entanto, eu me permitirei usar uma

reflexão feita sobrè um episódio recente de minha vida quotidiana pilra indicar a

dire-çâ-o geral na qual, ,uporrlio, a questão poderia

vir

a ser enfrentada. Essa reflexão, por

sua vez, serve pata

.x.mplihcai

a aplicação dos princípios expostos a um episódio da vida diária. Hós têm

qn. p.ourt

tal aplicação, caso seja realmente fundada a pretensão de utilizá-los pu.u umã psicologia unificada, capaz de lidar efetivamente com os vários

domfnios de

iatos

que

ora

parecem

justificar

æ diferentes correntes em que se tem dividido essa ciência.

Há no

filtro

de meu aquário uma esf'erazinha de cera amarela porosa por onde entra

o

tubo de

aeraCâ'o. Essa esfera

é

necessá¡ia para

pfover

um

ponto de

fìxação, um

amortecimento

äo

ru'fdo para a entrada de

ar,

além

de um

primeiro

filtro

mecâni-co para a água. O ar, movidb por uma bomba, leva a água a1é o

filtro

de carvão, por um sistãma

deìæos

comunicantõs.

A

bolinha se quebfou' e fiquei pensando como, sendo domingo e estando

o

comércio fechado, poderia substituf-la por alguma coisa que esti-vesse

imão.

A

providência era necessáriapara que minha fìlha, que,

no

dia seguinte,

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