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Políticas públicas para a garantia dos direitos da mulher: uma análise a partir do município de Ijuí – RS

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Academic year: 2021

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CAMILA RODRIGUES DA ROCHA

POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A GARANTIA DOS DIREITOS DA MULHER: UMA ANÁLISE A PARTIR DO MUNICÍPIO DE IJUÍ – RS

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2018

CAMILA RODRIGUES DA ROCHA

POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A GARANTIA DOS DIREITOS DA MULHER: UMA ANÁLISE A PARTIR DO MUNICÍPIO DE IJUÍ – RS

Monografia final do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Monografia.

UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS – Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientador (a): Dra. Joice Graciele Nielsson

Ijuí (RS) 2018

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Dedico este trabalho à minha família, pelo incentivo, apoio e confiança em mim depositados durante toda a minha trajetória acadêmica.

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AGRADECIMENTOS

À minha família, grande incentivadora, que sempre me apoiou em todas as decisões da minha vida, com quem aprendi os valores atribuídos a minha trajetória e auxiliaram na compreensão de que não existem limitações para a concretização dos objetivos, não importando a classe social a qual o indivíduo está inserido, bastando que a persistência persista sobre os obstáculos.

À minha orientadora, Dra. Joice Graciele Nielsson, com quem tive o privilégio de conviver, feminista batalhadora que me inspirou a lutar pelas causas feministas e proporcionou toda a sua dedicação e disponibilidade, me guiando pelos caminhos do conhecimento, sendo suas orientações essenciais para a concretização deste trabalho.

Ao meu amado noivo Nícolas Bagetti, por todo o apoio prestado no decorrer da elaboração deste trabalho, pelo companheirismo, pelo amor, por abdicar de muitos momentos para estar ao meu lado e por sempre apoiar minha luta diária.

Aos meus colegas do Ministério Público de Ijuí, grandes amigos e incentivadores, sempre muito prestativos, que enriqueceram meu aprendizado.

A todas as pessoas que direta ou indiretamente contribuíram para a minha formação acadêmica, meu sincero agradecimento.

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"Não acredito que existam qualidades, valores, modos de vida especificamente femininos: seria admitir a existência de uma natureza feminina, quer dizer, aderir a um mito inventado pelos homens para prender as mulheres na sua condição de oprimidas. Não se trata para a mulher de se afirmar como mulher, mas de tornarem-se seres humanos na sua integridade".

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RESUMO

O presente trabalho de pesquisa monográfica visa analisar as reivindicações feministas como mecanismos essenciais para a efetividade dos direitos da mulher, nesse viés o movimento feminista garantiu que as pautas das mulheres passassem a fazer parte das ações das nações através de políticas públicas com viés de fazer cessar qualquer forma de discriminação. Para tanto, o primeiro capítulo abordará através de um resgate histórico os avanços do movimento feminista e as políticas públicas voltadas a mulher no país, de modo que se compreenda as evoluções dos direitos da mulher, em especial no Brasil através da criação de órgãos de política para mulheres nos municípios. Já o segundo capítulo analisa o cenário atual brasileiro em relação as políticas públicas para mulheres nos municípios, especificamente o município de Ijuí/RS. Para atingir os objetivos propostos, a pesquisa seguirá um modelo de estudo do tipo exploratório, tendo como base a coleta de dados em fontes bibliográficas e disponíveis na internet de forma pública, e para a análise dos dados coletados, será aplicado o método hipotético-dedutivo.

Palavras-Chave: Feminismo. Políticas Públicas. Igualdade. Justiça.

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ABSTRACT

The present work of monographic research work had as a feminist mission, as the main actions for the realization of the rights of women, with regard to the feminist movement, ensured that women became part of the actions through public policies with a view to cease any form of discrimination. To do so, the film addresses through a new history of progress of the women's movement and how the public policies turn to women in the country, in order to understand the evolution of women's rights, especially in Brazil through the creation of an organ policy in the municipalities. The second chapter was analyzed with regard to women as public women, specifically in the municipality of Ijuí/RS. To achieve the proposed objectives, a research will be carried out based on an exploratory type study model, based on a collection of data in bibliographical sources and available on the internet in a public way, and for an analysis of the data collected, the hypothetical-deductive method.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...9 1 O MOVIMENTO FEMINISTA E A EVOLUÇÃO DOS DIREITOS DAS MULHERES ...11 1.1 A construção histórica da exclusão e discriminação das mulheres...11 1.2 O movimento feminista e a superação das desigualdades no mundo...17 1.3 A Constituição de 1988 e as políticas públicas para mulheres no Brasil: implementando órgãos de política para Mulheres nos municípios...26 2 OS MUNICÍPIOS BRASILEIROS E A IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA MULHERES: OPMS E PLANOS MUNICIPAIS...35 2.1 A evolução das políticas municipais para mulheres e a relevância dos Organismos Municipais – OPMs, e dos Planos Municipais...35 2.2 Políticas Públicas para Mulheres nos municípios: o cenário atual...40 2.3 Uma análise acerca das políticas públicas para mulheres implementadas no município de Ijuí/RS...48 CONCLUSÃO...54 REFERÊNCIAS...57

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INTRODUÇÃO

A presente monografia tem como finalidade o estudo sob um olhar crítico acerca das políticas públicas para mulheres, a partir da análise dos movimentos sociais que buscam alcançar o protagonismo feminino, consubstanciado nas lutas das mulheres em um período histórico e na contemporaneidade para fazer valer a concretização de seus direitos. É importante a compreensão de como são prestados os serviços de proteção aos direitos das mulheres, dimensionando um melhor e eficaz atendimento por parte desses serviços públicos.

Por conseguinte, na contemporaneidade, embora as acepções de justiça estejam dia a dia mais presentes na sociedade, o direito ainda precisa acompanhar as demandas sociais de uma forma mais célere. Embora o espaço em que as mulheres ocupam na sociedade esteja em movimento crescente, ainda existem entraves quanto a efetivação dos direitos da mulher. Impõe-se a humanidade deveres que às vezes parecem ilusórios de serem cumpridos em sua totalidade. Em comparação ao século XVIII, os avanços voltados a figura feminina ainda suscitam melhorias evidentes para uma real proteção da dignidade feminina. É preciso haver um afastamento da objetificação da mulher, pois as mulheres precisam lutar por um espaço que já lhes pertence por direito. O clamor por igualdade justifica a verificação de como estão sendo efetivadas as políticas públicas para mulheres e o papel desempenhado por estas políticas em prol dos direitos da mulher.

Introduzindo-se ao objeto do estudo, o primeiro capítulo abordará através de um resgate histórico os avanços do movimento feminista e as políticas públicas voltadas a mulher no país, de modo que se compreenda as evoluções dos direitos da mulher. Para tanto será caracterizada a construção histórica da exclusão e discriminação das mulheres pelas influências do patriarcado, com a finalidade de descaracterizá-la, buscando mecanismos de

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superação das desigualdades no mundo, em especial no Brasil através da criação de órgãos de política para mulheres nos municípios.

O segundo capítulo é desenvolvido através de um estudo detalhado das ações desenvolvidas pelo Estado em favor dos direitos da mulher. A partir dessa abordagem inicial será analisado o cenário atual brasileiro em relação as políticas públicas para mulheres nos municípios. Para tanto, serão analisados dados de 2014 coletados pelo Instituto brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, que traçou o perfil dos municípios e estados brasileiros a partir da Pesquisa de Informações Básicas Estaduais - ESTADIC e da Pesquisa de Informações Básicas Municipais, nas 27 Unidades da Federação e nas 5.570 municipalidades brasileiras, respectivamente. Por conseguinte, serão analisadas a gestão e estrutura dos entes federativos considerados, contemplando entre os eixos temáticos os direitos humanos. As análises são ilustradas por meio de gráficos e cartograma. Por fim, será analisado, de um modo especial, a situação do município de Ijuí/RS no que tange à temática.

Para atingir os objetivos propostos, a pesquisa seguirá um modelo de estudo do tipo exploratório, tendo como base a coleta de dados em fontes bibliográficas e disponíveis na internet de forma pública. Para a análise dos dados coletados, será aplicado o método hipotético-dedutivo para, a partir de uma hipótese acerca de um caso específico, sejam construídas hipóteses gerais acerca do avanço das políticas públicas para mulheres nos municípios brasileiros.

A luta por igualdade, embora nem sempre eficiente, é pauta da humanidade. Reivindicar os direitos da mulher já foi objeto de temor da sociedade. Contudo, em meio a ambientes que são construídos em virtude de uma sociedade livre, justa e solidária não há mais espaço para a desigualdade de gênero, não obstante a classe dominante masculina ainda exerce influências anti-igualitárias e que por vezes que violam os direitos humanos.

Partindo de um pressuposto de que as mulheres são taxadas a permanecer em uma vida doméstica e se optarem por não constituir família ainda são indignas de respeito na atualidade, é evidente a afirmação de que o caminho para a igualdade ainda não foi alcançado. Considerando todas as formas de violência e repressão enfrentadas dia a dia pelas mulheres, as reivindicações do movimento feminista não podem ser superadas.

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1 O MOVIMENTO FEMINISTA E A EVOLUÇÃO DOS DIREITOS DAS MULHERES

A razão e o desenvolvimento do intelecto são fatores que devem ter influência sobre o desenvolvimento da figura feminina. Lutar por espaço, seja no mercado de trabalho, relações sociais ou vida doméstica parece um propósito inalcançável.

O processo emancipatório feminino é um processo lento, ao qual muitas reivindicações em favor dos direitos da mulher foram surgindo ao longo do tempo, na luta pelo ideal de igualdade, nesse sentido Joice Graciele Nielsson (2016, p. 113) enfatiza:

Quais são as reivindicações das mulheres? Fundamentalmente se articulam em torno do direito à educação, o direito ao trabalho, os direitos matrimoniais e respeito aos filhos, e por último, o direito ao voto. Essas reivindicações mostram as aspirações mais prementes das mulheres, iluminadas a partir de suas experiências cotidianas. A reivindicação desses direitos será uma constante ao longo do século XIX e boa parte do século XX, permitindo a percepção de que, o que as revolucionárias francesas percebiam como os aspectos opressores de suas vidas continuaram o sendo também para as gerações vindouras de mulheres. Será apenas em meados do século XX que será incorporada, ao menos formalmente, a sua condição de cidadãs de pleno direito, permitindo-se, por exemplo, o exercício do voto e dos direitos políticos

Outro fator marcante no tocante às conquistas femininas diz respeito a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, conforme destaca Nielsson (2016, p. 112) “Representa, nesse sentido, a culminação da crítica à concepção de cidadania sexuada que se afirmava na Declaração dos Direitos dos Homens e do Cidadão de 1789.”

Embora em uma perspectiva de gênero as mulheres tenham obtido um avanço crescente, ainda existem entraves no tocante a efetivação de seus direitos. As concepções de igualdade, quando enquadradas na sociedade, permitem que os mais vulneráveis exerçam a plena cidadania. Isto porque ainda estamos vinculados há um longo percurso histórico de exclusão das mulheres a partir da construção de argumentos que justificassem a sua hierarquização. É este longo percurso patriarcal que será abordado neste capítulo.

1.1 A construção histórica da exclusão e discriminação das mulheres

Pode-se afirmar que os argumentos para a contínua sociedade desigual são infundados e partem do pressuposto de que ao homem cabe prover o lar, enquanto à mulher cabe a responsabilidade pelo seu cuidado, e esse fator gera uma excessiva dependência

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feminina. A vulnerabilidade construída faz com que a mulher necessite de proteção estatal, uma vez que é inegável a superioridade da força masculina sobre a feminina. As características opressoras do homem são consequências de um Estado não humanista e anti-igualitário. Ao homem ao longo da história se atribui características de liderança, à exemplo do sujeito provedor do lar, autônomo independente. Já em relação as mulheres, de acordo com Mary Wollstonecraft (2016, p. 28):

Reconhece-se que elas passam grande parte dos primeiros anos de vida adquirindo habilidades superficiais; enquanto isso, a força do corpo e da mente é sacrificada em nome de noções libertinas de beleza e do desejo de se estabelecer mediante o matrimônio – o único modo de as mulheres ascenderem no mundo.

Historicamente, as violações aos direitos da mulher são constantes, reflexos de culturas extremamente patriarcais e opressoras. Na contemporaneidade constata-se que a violência de gênero tem se tornado banal. A impunidade da violência de gênero mancha e revolta as mulheres que clamam por um olhar mais humano. Nesse viés, o movimento feminista enaltece a importância da causa, viabilizando mecanismos para fazer cessar qualquer forma de violência. A esse respeito, suscitam Luiz Felipe Miguel e Flávia Biroli (2014, p. 08):

As lutas feministas tiveram diferentes expressões, heterogêneas como o próprio feminismo. A relação entre essas lutas e o feminismo teórico é fundamental, produzindo debates em que as fronteiras entre a luta política e a atividade intelectual e acadêmica são, em geral, mais porosas do que nas correntes predominantes da teoria política. Nas lutas pelo voto feminino e pelo acesso das mulheres à educação, assim como na exigência de direitos iguais no casamento e do direito ao divórcio, do direito das mulheres à integridade física e a controlar sua capacidade reprodutiva, o feminismo pressionou os limites da ordem estabelecida, é claro, mas também das formas de pensar o mundo que a legitimavam.

Desde a antiguidade a constituição da família já vem com os papéis pré-definidos, conforme destacam Mendes, Vaz e Carvalho (2015, p. 90)

Desde a Grécia antiga, grandes filósofos como Aristóteles já sustentavam essa ideia de submissão da mulher e superioridade do homem e a partir da institucionalização da família, propriedade privada e acúmulo de bens a sociedade vai ser caracterizada pelo modelo patriarcal e o papel “doméstico” da mulher vai ser cada vez mais afirmado.

Para a construção da liberdade feminina, é essencial a caracterização da construção da violência arraigada na sociedade, com a finalidade de descaracterizá-la e por fim destruí-la. Nessa perspectiva é fundamental compreender a relação entre o liberalismo e as teorias da

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justiça, o que resulta no crescimento do feminismo. Conforme aduz Joice Graciele Nielsson (2016, p. 84):

Na nova sociedade que nascia com a modernidade, as formas tradicionais de justificação da sociedade política já não bastavam para satisfazer o sujeito emancipado, autônomo, tanto no campo racional quanto no terreno político. No que se refere ao conhecimento, o sujeito liberal ilustrado é aquele que se libera de sua própria incapacidade e da tutela alheia e faz uso público de sua razão.

A emancipação feminina se caracteriza principalmente pela libertação, ato ao qual através de suas faculdades a mulher irá conduzir a sua própria história, beneficiando-se assim da cidadania e dos direitos naturais por ela adquiridos, exercendo a liberdade de satisfação dos próprios interesses, conforme ilustra Nielsson (2016, p. 82)

Embora o liberalismo se caracterize pela prioridade à liberdade, valor primário e meio que permite ao indivíduo racional satisfazer seus próprios interesses, seus pressupostos compreendem também a igualdade, o que fica evidenciado nos diversos textos constitucionais dele originados.

Não obstante, é importante frisar que o exercício pleno da cidadania nem sempre foi pautado para as mulheres, conforme leciona Nielsson (2016, p. 96), retomando a construção de Jean Jacques Rousseau em seu clássico livro Emílio: “Portanto, dessas diferenças físicas Rousseau (1995) prescreve distintos modelos de comportamento moral nos quais a mulher fica sujeita ao homem, constituindo-se assim em um meio para um fim: tornar mais agradável a vida àqueles que serão os cidadãos”. Deste modo, para o contratualista, o rompimento com os “princípios igualitários no que diz respeito às mulheres, refletidas em Sofia, se torna evidente com relação à educação, na imposição da domesticidade e na importância da opinião pública para o coletivo de mulheres”. Portanto, para Rousseau, “Se a educação de Emilio deve ser orientada para cultivar sua independência quanto aos preconceitos, a de Sofia é meramente instrumental, e seu destino será marcado pela dependência e sujeição” (NIELSSON, 2016, p. 96).

Essas construções impostas pelo coletivo masculino infelizmente ainda fazem parte do cotidiano das mulheres. Os hábitos, valores e construção moral das mulheres já vem impostos em seu nascimento. Elas são taxadas à uma vida doméstica, ser recatada e não possuir liberdade nem ao modo de se vestir. Eles nascem para ocupar grandes cargos, serem líderes e obter sempre uma educação de qualidade para comandar o país. Conforme aduz Simone de Beauvoir (1970, p. 09):

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O homem representa a um tempo o positivo e o neutro, a ponto de dizermos “os homens” para designar os seres humanos, tendo-se assimilado ao sentido singular do vocabulário vir o sentido geral da palavra homo. A mulher aparece como o negativo, de modo que toda determinação lhe é imputada como limitação, sem reciprocidade.

De acordo com Nielsson (2016, p. 104) “é no ideário iluminista, no momento histórico em que se reivindica a individualidade, a autonomia dos sujeitos e dos direitos que pode também ser encontrado o berço do feminismo.”

A subordinação feminina não se justifica simplesmente pela desigualdade numérica, conforme destaca Simone de Beauvoir (1970, p. 12), “foi um acontecimento histórico que subordinou o mais fraco ao mais forte: a diáspora judaica, a introdução da escravidão na América, as conquistas coloniais são fatos precisos”. Nesses casos específicos listados pela autora, “para os oprimidos, houve um passo à frente: têm em comum um passado, uma tradição, por vezes uma religião, uma cultura”.

Constata-se que, para além da desigualdade de gênero, a vulnerabilidade feminina perpassa a outro fator, o da violência doméstica, e não raro foi aceita e naturalizada , durante muito tempo sob o argumento do Estado de que existe limites para a interferência na vida privada dos indivíduos, mesmo que isso resultasse no aumento dos índices de violência doméstica, conforme salientam Luiz Felipe Miguel e Flávia Biroli (2014, p. 34):

A garantia de liberdade e autonomia para as mulheres depende da politização de aspectos relevantes da esfera privada – podemos pensar, nesse sentido, que a restrição ao exercício de poder de alguns na esfera doméstica é necessária para garantir a liberdade e a autonomia de outras. A tipificação da violência doméstica e do estupro no casamento como crimes são exemplos claros de que a “interferência” na vida privada é incontornável para garantir a cidadania e mesmo a integridade física das mulheres e das crianças.

Diante deste contexto, o movimento feminista foi essencial para as pautas das mulheres, pois partindo-se de um pressuposto histórico as mulheres não eram encorajadas a falar e muito menos a reivindicar direitos que pudessem ameaçar o poder do sujeito masculino. Embora os direitos que as mulheres reivindicam, em sua maioria estejam previstos na legislação, a problemática diz respeito a efetivação destes. Destarte salienta Beauvoir (1970, p. 14):

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Economicamente, homens e mulheres constituem como que duas castas; em igualdade de condições, os primeiros têm situações mais vantajosas, salários mais altos, maiores possibilidades de êxito do que suas concorrentes recém-chegadas. Ocupam na indústria, na política etc, maior número de lugares e postos mais importantes.

A história foi feita pelos homens, do mesmo modo que as leis em sua maioria são criadas por homens e nem sempre são efetivadas para mulheres. Os princípios basilares da sociedade nem sempre são justos para o público feminino, e quando as mulheres fogem dos padrões estabelecidos, sofrem represálias. Desde os tempos remotos, a violência se justifica para as mulheres que não seguem o padrão social estabelecidos para a classe feminina. Nessa acepção, cabe destacar o momento da caça as bruxas, vivenciado na Inquisição medieval, como um dos marcos deste processo de violência pública e legitimada contra as mulheres.

Segundo Michelle Perrot (2006, p. 88):

Depois da publicação do Malleus maleficarum, dos dominicanos Kraemer e Sprenger em 1486, que teve um sucesso enorme, aproximadamente vinte edições em trinta anos. Essa enquete, encomendada pela Inquisição, pretendia, ao mesmo tempo, descrever as feiticeiras e suas práticas e dizer o que convinha pensar sobre elas. E devia-se pensar o pior, o que justificava sua condenação ao fogo purificador. Elas foram maciçamente presas e queimadas, principalmente na Alemanha, na Suíça e no leste da França atual (Lorena, Franche-Comté), mas também na Itália e na Espanha.

Não obstante, cumpre salientar que na Idade Média, a Igreja Católica desempenha papel importante para os preceitos arraigados na sociedade contemporânea, através de uma doutrina repressiva. Através dela, implantou-se a prática de “satanizar” os hereges, que eram os sujeitos dispostos a sustentar opiniões contrárias a doutrina pregada pela Igreja, como salienta Jeffrey Richards (1993, p. 60):

Diante da ameaça constante de dissenção e heresia, como reagiu a Igreja? Ela desenvolveu três estratégias principais: persuasão, repressão e satanização. A persuasão envolvia um processo de pregações e a conversão através da atividade missionária. A repressão estendia-se desde a imposição de penitências até a morte e o exílio. A satanização envolvia promover propaganda que estigmatizasse os hereges como desviantes sexuais e orgiásticos.

Do mesmo modo, na Idade Média visualiza-se e valoriza-se como socialmente legitima a figura da mulher como submissa, estando sempre sujeita ao homem dominante. A exemplo disso, era oferecido a estas o “perdão divino” quando as mulheres resolvessem sair da prostituição, como bem orienta Jeffrey Richards (1993, p. 142) “O papa Inocêncio III incentivou todos os verdadeiros cristãos a ajudarem a recuperar as prostitutas e ofereceu

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remissão dos pecados aos que se casassem com tais mulheres. Foram criadas casas religiosas para prostitutas regeneradas.”

Esta característica destacada na Idade Média se verifica ao longo do tempo, já se perpetuando em muitas sociedades da Antiguidade e, posteriormente, da Modernidade, a partir da perpetuação de um modelo de estruturação da sociedade denominado de patriarcado. Em relação a autonomia sobre o próprio corpo, a objetificação da mulher é vista no patriarcado, onde a mulher priva-se de sentir os prazeres sexuais para a satisfação plena do seu marido.

Nesse sentido, Simone de Beauvoir (1970, p. 193) ressalta:

É como esposa que a mulher inicialmente se descobre no patriarcado, porquanto o criador supremo é masculino. Antes de ser a mãe do gênero humano, Eva é a companheira de Adão; foi dada ao homem para que êle a possua e fecunde como possui e fecunda a solo; e, através dela, êle faz da Natureza inteira seu reino. Não é apenas um prazer subjetivo e efêmero que o homem busca no ato sexual; quer conquistar, pegar, possuir; ter uma mulher é vencê-la; penetra nela como o arado nos sulcos da terra; êle a faz sua como faz seu o chão que trabalha: ara, planta, semeia; estas imagens são velhas como a escrita; da Antigüidade aos nossos dias poderíamos citar mil exemplos: "A mulher é como o campo e o homem como a semente", dizem as leis de Manu.

É diante desta constituição do patriarcado que o movimento feminista passa a se constituir. Assim, a igualdade que se busca alcançar através do movimento feminista abrange diversos fatores, dentre eles destacam-se a igualdade na política, igualdade perante a lei, igualdade no mercado de trabalho e igualdade nas relações sociais. Nota-se muitos avanços relacionados aos direitos da mulher, partindo-se de uma evolução histórica, a partir do jusnaturalismo contratualista, onde através de um contrato social o povo passa a ser titular da soberania, como bem orienta Rousseau (1980). É notório que a partir desse lapso temporal o Estado passa a exercer o papel de defensor dos direitos naturais, o que consequentemente impacta na garantia plena de cidadania que todos os indivíduos possuem a partir do nascimento.

Em uma linha do tempo histórica não há que se referir a mulher como sujeito digno de direitos, onde esta era vista como pertencente ao seu cônjuge, obtendo irrisórias liberdades. As conquistas ao longo do tempo são garantidoras do afastamento dessas privações de

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direitos, corroborando para a garantia do princípio da dignidade da pessoa humana, sendo este princípio inerente a todos, sem distinções.

1.2 O movimento feminista e a superação das desigualdades no mundo

As pautas feministas são amplas e vão sendo construídas de acordo com o período vivido e as necessidades das mulheres ao longo do tempo. Assim, o direito ao voto foi um dos principais marcos em termos de superação das desigualdades geradas pelo patriarcado, contudo, essa pauta se perdurou por muitos anos até que o direito fosse efetivamente concretizado.

Por conseguinte, de acordo com Lourdes Bandeira e Hildete Pereira de Melo (2010, p. 10):

No desenrolar do século XIX as lutas libertárias pela conquista da cidadania ganharam vulto no mundo ocidental, a Inglaterra e a França foram sacudidas pelo movimento pelo direito a cidadania e o sufrágio universal. Estas lutas ganharam força com o movimento ludista (1811-1812) e depois com o movimento cartista que sacudiu a Inglaterra de 1837 a 1848 e chegou à França no final desta década, mas esta luta acabou na ascensão de Luiz Napoleão Bonaparte ao poder e como resultado da explosão desta revolta, só os homens obtiveram o direito de voto neste primeiro momento.

Algumas construções históricas apontam a necessidade de se ter um dia para homenagear as lutas das mulheres pela igualdade de gênero, uma contribuição importante para a escolha do dia 8 de março diz respeito ao incêndio da fábrica têxtil Tringle Shirtwaist Company em 1911, em Nova York, resultando na morte de 125 operárias.

As reivindicações em favor da cidadania passam a discretamente fazer parte da vida de algumas mulheres. Contudo, a representatividade feminina ainda era restrita as mulheres brancas e com grande poder de influência, o que obviamente não se preocupava em oportunizar que as mulheres negras fizessem parte dessas primeiras reivindicações. As reivindicações das mulheres não se referiam a alterar a estrutura familiar, mas eram pautadas em relação as mulheres brancas, heterossexuais, religiosas e do lar que buscavam a participação mais ampla na sociedade. Assim sendo, não restava a mulher negra reivindicar os seus direitos senão através de si mesmas, representando também os demais vulneráveis excluídos das primeiras reivindicações das mulheres. Em razão do regime escravocrata que reflete diretamente no racismo, muitas vezes as mulheres negras foram esquecidas pela

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história, pois as escravas não faziam parte do coletivo ao qual as sufragistas falavam, como bem orienta Sojourner Truth (c. 1797-1883) (apud Luiz Felipe Miguel e Flávia Biroli, 2014, p. 22) em seu discurso “Ain’t I a woman? ”:

Aquele homem diz que as mulheres precisam ser ajudadas a entrar em carruagens, erguidas para passar sobre valas e receber os melhores lugares em todas as partes. Ninguém nunca me ajudou a entrar em carruagens, a passar por cima de poças de lama nem me deu qualquer bom lugar! E eu não sou uma mulher? Olhem pra mim! Olhem pro meu braço! Tenho arado e plantado e recolhido em celeiros, e nenhum homem poderia me liderar! E eu não sou uma mulher? Posso trabalhar tanto quanto e comer tanto quanto um homem – quando consigo o que comer – e aguentar o chicote também! E eu não sou uma mulher? Dei à luz treze filhos e vi a grande maioria ser vendida para a escravidão, e quando eu chorei com minha dor de mãe, ninguém, exceto Jesus, me ouviu! E eu não sou uma mulher?

As tendências do movimento feminista iniciaram-se no século XIX, conforme salientam Ana Clara Farias Alves e Ana Karina da Silva Alves (2013, p. 114), e se “estenderam pelas três primeiras décadas do século XX. O movimento sufragista, que teve à frente Bertha Lutz, foi o foco da primeira tendência. Essa fase era a do feminismo "bem comportado" e sinalizava o caráter conservador desse movimento”. Nesse momento, afirmam as autoras, ainda não era questionada a opressão da mulher, ficando nos pedidos pelo direito ao sufrágio ou seja, pela extensão às mulheres do direito de votar. Em sua segunda tendência, “o feminismo era "malcomportado", e reunia mulheres intelectuais, anarquistas e líderes operárias, sendo que defendia o direito à educação, abordando temas como a dominação masculina, a sexualidade e o divórcio”. Por sua vez, a terceira vertente “era "o menos comportado dos feminismos", que se expressava através do movimento anarquista e do Partido Comunista”.

No Brasil, com a forte influência dos movimentos internacionais, as mulheres sentiram-se com visibilidade para iniciar as lutas pela busca de direitos. Assim, essas mulheres participaram de várias revoltas, como destacam Lourdes Bandeira e Hildete Pereira de Melo (2010, p. 12):

Estas revoltas e lutas pela igualdade contaminaram as mulheres dos Estados Unidos e da Europa e este rastro de rebeldia espalhou-se mundialmente. Também no Brasil esta inquietação se acendeu na segunda metade do século XIX. As mulheres brasileiras que tiveram participações pontuais nas diversas revoltas que permearam a construção do Brasil da Insurreição Pernambucana (1645), a expulsão dos Holandeses (1654), a revolta dos Bárbaros do Nordeste (1650-1720), a Inconfidência Mineira (1789), a Inconfidência Baiana (1798), a Balaiada (1838/41), a Revolução Pernambucana de 1817, a Confederação do Equador (1824), a Revolta dos Malês (1835), a Sabinada (1837/38), a Farroupilha (1835/45), todas tiveram

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inúmeras mulheres anônimas que marcaram com seu sangue estas lutas. Mas a marca feminina vai ficar registrada a semelhança dos Estados Unidos na luta abolicionista.

Cumpre destacar que uma reivindicação social de grande relevância no Brasil refere-se a luta contra o regime escravocrata, país manchado até nos dias atuais pelas violações resultantes da escravidão que ainda reflete as consequências tão drásticas do cerceamento da liberdade e da vida de muitos indivíduos, gerando consequências devastadoras.

A exemplo do racismo desvairado que acomete o Brasil, desde os primórdios tenta-se barrar os direitos daqueles que não pertencem – ou que por questões de discriminação não podem pertencer – à “elite” da sociedade. O preconceito racial deu início a esse problema a partir do século XIX, quando, por exemplo, surgem os imigrantes colonizadores no Brasil para fins de branqueamento da população como uma política nacional, mais especificamente no Sul do país. Ou seja, o fato de ser vulnerável perante os demais resulta no repúdio por parte daqueles que detém do poder e nas violações de direitos, dando poder ao Estado de limitar através de um caráter repressivo e excludente os mínimos direitos que deveriam ser atribuídos a todos os cidadãos.

Igualmente como ocorreu em âmbito internacional, no Brasil, o movimento feminista enfraquece por volta de 1930 e só reaparecerá na década de sessenta. Neste período surge um importante nome para o movimento feminista: Simone de Beauvoir, com sua obra intitulada O segundo sexo, atribuindo crescimento a causa na chamada segunda onda do movimento feminista. Lourdes Bandeira e Hildete Pereira de Melo (2010, p. 13) apontam que a partir da primeira década do século XX a mobilização feminina criou força com a influência da professora Leolinda de Figueiredo Daltro na luta pelo direito ao voto, pois esta professora requereu seu alistamento, o que obviamente foi indeferido. Contudo, o parecer negativo em relação a inscrição da professora como eleitora resultou na mobilização em 1910 para fundar o Partido Republicano Feminino.

Posteriormente, diversos partidos foram sendo criados gradativamente na luta pela representatividade feminina. Bertha Lutz é um nome de grande relevância nesse período, pois realizou várias tratativas em prol de garantir apoio para as mulheres pela conquista do direito ao voto. De acordo com Lourdes Bandeira e Hildete Pereira de Melo (2010, p. 16):

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Assim, na confirmação de uma promessa feita pelo então senador do Rio Grande do Norte Juvenal Lamartine a Bertha Lutz e as mulheres da FBPF, em 1927, este incluiu o direito do voto feminino em sua campanha política a Presidente do Estado, e encaminha à redação final da Constituição do estado do Rio Grande do Norte, em seu art. 77 das Disposições Gerais: “No Rio Grande do Norte poderão votar e ser votados, sem distinção de sexos, todos os cidadãos que reunirem as condições exigidas por lei” (Alves, 1980:117). Neste caminhar foi que em 1927, o Rio Grande do Norte se tornou o primeiro Estado brasileiro a permitir que as mulheres votassem nas eleições.

Sobre o direito ao voto, as construções históricas apontam que em 1919 o movimento ganhou maior ênfase, isso graças a influência internacional do movimento sufragista. Um nome potencialmente importante para o movimento é Bertha Lutz, que iniciou a luta pelo direito ao voto. Nesse viés, Mendes, Vaz e Carvalho (2015, p. 93) relatam:

Bertha Lutz, volta da Inglaterra e verifica que no Brasil a mulher também é alvo de fortes opressões, o fator mais agravante estava na grande parcela de mulheres ainda analfabetas, pois eram impedidas de estudar, mas, obrigadas a se profissionalizar em tarefas voltadas para o lar. A partir disto, trava-se uma incessante luta, que além do sufrágio, buscava-se também o direito da mulher a instrução educacional, divórcio e trabalho assalariado.

Sob um aspecto das conquistas geradas pela inclusão das mulheres na esfera política, algumas conquistas discretas e ínfimas foram surgindo, pois, a inferioridade da mulher ainda era realidade de todas. Assim, aos poucos as mulheres foram ingressando no mercado de trabalho. Contudo, apesar de pequenos avanços, a lei impunha algumas barreiras em relação a mulher, à exemplo do Decreto 3199/45 que limitava a liberdade da mulher em praticar esportes que eram considerados incompatíveis com a figura feminina, uma discriminação extrema no que tange ao exercício da cidadania (Bandeira; Melo, 2010, p. 20).

Somente em 1932 foi instituído o primeiro Código Eleitoral Brasileiro, através da presidência de Getúlio Vargas, sendo de acordo com o art. 2º do mencionado código estabelecido quem poderá ser eleitor: “Art. 2º É eleitor o cidadão maior de 21 anos, sem distinção de sexo, alistado na forma deste Código”.

Importante frisar que os avanços se referem unicamente ao direito ao voto, a submissão da mulher em relação ao homem ainda não é fator superável conforme menciona o Código Eleitoral de 1932 que assim estabelece em relação a admissão das mulheres:

Leia-se o projeto nesta parte relativa aos direitos eleitorais da mulher. Leia-se, porém, sem deixar de considerar a realidade legal e consuetudinária, da sociedade

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brasileira, ver-se-á: 1º , que as restrições ali contidas são mínimas e somente as indispensáveis à boa ordem das relações privadas na família brasileira da hora presente; 2º , que melhor, muito melhor para nós, será começar deste modo, reconhecendo à mulher um direito (facultas agendi) em matéria política, sem arrebentar de vez os laços ainda mantidos pelo Direito Civil, do que lhe impor, como dever cívico, o alistamento eleitoral, sem consideração à sua situação econômica e aos deveres da esposa. E não precisam os membros da subcomissão entrar, como têm feito outros, no exame de peculiaridades endocrínicas ou fisiológicas, nem de educação sentimental, para justificar este asserto.

Além das conquistas políticas, a mulher passa a fazer parte dos processos de alfabetização de forma crescente, também ingressam na luta contra o Código Civil que tornava as mulheres casadas incapazes, fato este gerador de uma dependência extrema da mulher em relação ao cônjuge, limitando o exercício da cidadania pela mulher. Ainda, em relação as mulheres que não eram heterossexuais, estas aos poucos foram sendo inseridas nas pautas feministas, como referem Bandeira e Melo (2010, p. 25).

No Brasil até a efetivação dos direitos individuais muitas lutas foram travadas contra o cerceamento de diversas liberdades. Vale destacar que a submissão da mulher em relação ao seu cônjuge diz respeito também ao fato da mulher não ter a possibilidade de se divorciar até pouco tempo atrás, em razão das raízes religiosas que pregam o casamento indissolúvel, fato este que demonstra a influência total da Igreja nas relações privadas.

Um exemplo é a inserção, no Código Civil de 1916 do instituto do desquite, gerando diversas discussões e preconceitos por parte da população em relação a mulher que era desquitada, mas evoluindo no tocante à consideração do adultério como motivo para o desquite, pois inicialmente existia a previsão de que as mulheres adúlteras deveriam ser assassinadas, enquanto ao homem nenhuma penalidade lhe era atribuída. O Código supramencionado em seu artigo 315 dispõe que: “A sociedade conjugal termina I. Pela morte de um dos cônjuges. II. Pela nulidade ou anulação do casamento. III. Pelo desquite, amigável ou judicial”.

Contudo, as possibilidades de se desquitar eram ínfimas, sendo elas estabelecidas no artigo 317 do Código Civil de 1916 que assim preconizava: “Art. 317. A ação de desquite só se pode fundar em algum dos seguintes motivos: I. Adultério. II. Tentativa de morte. III. Sevicia, ou injuria grave. IV. Abandono voluntário do lar conjugal, durante dois anos contínuos”. Somente em 1975, através da Emenda Constitucional nº 9 de 1977 que o divórcio

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é instituído no Brasil, ocasião que tornou o casamento solúvel. Esta emenda foi então regulamentada pela Lei 6.515/1977 (Lei do Divórcio).

A luta por uma sociedade igualitária, ganhou forças no Brasil, especialmente a partir da década de sessenta, influenciada pelo movimento feminista que tinha origem nos Estados Unidos, posteriormente alastrando-se nos países do ocidente. Este movimento, para além de garantir a emancipação da mulher, buscava analisar a subordinação masculina em vários aspectos e, portanto, buscava também a sua libertação (ALVES, 2013).

No Brasil, um marco histórico de promoção das lutas feministas foi desencadeado pela luta contra a ditadura militar. O primeiro grupo de mulheres feministas, depois de Simone Beauvoir, surgiu em São Paulo, no ano de 1972. Os temas abordados no movimento feminista passaram a fazer parte dos eventos e fóruns nacionais, como ocorreu no encontro da Associação Brasileira de Imprensa, no Rio de Janeiro, o qual deu origem ao Centro da Mulher Brasileira. (ALVES, 2013, p. 115).

Ainda, sobre o período repressivo ditatorial em que o Brasil viveu, Mendes, Vaz e Carvalho (2015, p. 92) orientam que:

Foram anos difíceis para a esquerda e para os movimentos sociais e até mesmo para a sociedade civil, não dando alternativa para os ativistas senão à clandestinidade e/ou se juntar a grupos guerrilheiros. A inserção das mulheres na guerrilha caracterizou uma importante quebra de tabu em detrimento do estereótipo feminino (rainha do lar), pois ver uma mulher portando uma arma e partindo para o enfrentamento direto com os militares era algo surpreendente

O Estado não se calou diante das reivindicações feministas, contudo “como forma de repressão exilou ou tirou a vida de muitas mulheres em razão da resistência aos governos militares que participaram ativamente de organizações de esquerda frente à opressão e perseguição sofrida” (BANDEIRA; MELO, 2010, p. 25). Contudo, o exílio só fortaleceu a causa e possibilitou um maior engajamento das militantes feministas, que passaram a ter contato com os movimentos de mulheres do restante do mundo.

Muitos percalços surgiram no caminho da construção de uma sociedade igualitária entre homens e mulheres. Algumas liberdades foram significativas para as conquistas do movimento feminista, dentre elas o direito ao uso da pílula anticoncepcional, uma política garantidora da liberdade sexual feminina. Conforme destacam Ana Clara Farias Alves e Ana

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Karina da Silva Alves (2013, p. 116): “Na década de 1970, o movimento ganha expressividade através dos debates públicos sobre o papel da mulher na sociedade. Além disso, o feminismo aproxima-se da esquerda e dos conceitos marxistas, esforçando-se para ganhar legitimidade”.

O movimento feminista na década de 80 se fortalece com a retomada da democracia, e a eminência de uma nova Constituição. Do mesmo modo as temáticas e reivindicações se expandem, passando-se então a oportunizar que as mulheres com baixo poder aquisitivo adentrassem as causas feministas, sendo a classe popular de grande valia para o crescimento do movimento.

Ana Clara Farias Alves e Ana Karina da Silva Alves (2013, p. 116) suscitam que:

Em 1984, cria-se o Conselho Nacional da Condição da Mulher, que promove uma campanha vitoriosa para inclusão dos direitos da mulher na Carta Constitucional. Na década de 1990, a principal luta do movimento feminista foi contra a violência doméstica, que encontrou forte apoio, em 2006, com a criação da Lei Maria da Penha.

Em 1985 foi instituído o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, sua ampla atuação visa a promoção de políticas públicas com viés de fazer cessar qualquer tipo de discriminação. Além disso com a criação do Conselho há de se falar em uma garantia da participação feminina em questões envolvendo a política, economia e a cultura do país. Além disso, cumpre destacar que foram criadas diversas Delegacias Especializadas da Mulher, buscando a efetiva proteção dos direitos das mulheres.

De acordo com Ana Clara Farias Alves e Ana Karina da Silva Alves (2013, p. 118):

A força do feminismo promove uma nova definição do poder político, questionando o que está posto e como esse poder é exercido, assim se constroem novas práticas e novos conceitos, ampliando o direito político das mulheres. Após a conquista de postos de trabalho antes ocupados exclusivamente por homens, as mulheres assumiram posições políticas. Atualmente, vários países são liderados por mulheres.

O movimento feminista protagonizou muitos debates voltados ao combate da violência doméstica, sendo a Constituição Federal de 1988 um elemento fundamental para a inclusão de direitos das mulheres no país, inclusive tratando também do combate a qualquer tipo de discriminação.

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Denota-se que em tempos remotos uma grande conquista para o público feminino foi a conquista do direito ao uso de anticoncepcionais para controle da natalidade. Atualmente, o Brasil vive um período de luta pelo direito ao aborto legalizado, para além de casos excepcionais previstos na legislação pátria. Sabe-se que embora a prática seja considerada como delituosa, como prevê o Código Penal brasileiro, as mulheres procuram clínicas clandestinas como forma alternativa para a realização do aborto, expondo sua saúde íntima, o que muitas vezes resulta no óbito de mulheres de baixa renda. Em contrapartida, as mulheres de classe média buscam auxílio de clínicas particulares com toda a estrutura possível para a realização do aborto.

Diante de todo este cenário, pode-se afirmar que, na sociedade contemporânea, ainda não há a completa igualdade, e a mulher ainda não está em patamar de igualdade em relação aos homens, pois conforme evidenciam Luiz Felipe Miguel e Flávia Biroli (2014, p. 58):

Há uma série de desvantagens sociais associadas ao fato de as mulheres assumirem as responsabilidades na esfera familiar e doméstica, nos arranjos convencionais. A interrupção da carreira, a opção por empregos remunerado.de menor carga horária, porém mal remunerados e a mobilidade social negativa associada às duas primeiras podem derivar da responsabilização das mulheres pelo cuidado com os filhos pequenos, mesmo em sociedades nas quais não há impedimentos formais para que desempenhem trabalho.

Outro grande problema enfrentado no cotidiano de todas as mulheres na sociedade contemporânea é o assédio sexual. No contexto do assédio sexual, Raiana Siqueira Mendes, Bruna Josefa de Oliveira Vaz e Amasa Ferreira Carvalho (2015, p. 97) destacam:

Também nesse contexto de assédio sexual e culpabilização da vítima surgiu em 2011 no Canadá, mais precisamente em Toronto, as Slutwalks (aqui no Brasil conhecida como Marcha das Vadias), trata-se de um movimento que começou depois que um policial afirmou que os estupros acontecem porque as mulheres se vestem como sluts ou vadias e enquanto vestirem-se dessa forma, os estupros ocorrerão. Em resposta a afirmação deste policial, vários protestos aconteceram pelo país e a grande repercussão que teve contribuiu para a internacionalização do movimento.

Esse tipo de reação desencadeada pelo policial é o que a sociedade denomina como “cultura do estupro”, atribuindo-se a mulher a culpa pela violência sofrida. Infelizmente, tal cultura está enraizada em grande parcela da população mundial, principalmente os grupos

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mais conservadores, tendo a vítima que lidar com os danos da violência sofrida e o cruel julgamento da sociedade influenciada pelo patriarcado.

Nas relações de trabalho, igualmente nota-se o quão desigual é a sociedade, tendo em vista que as mulheres se submetem a vagas com remuneração mais baixa, cargos menos expressivos pelo fato de serem mulheres e pela sociedade dominante masculina enfatizar que a produtividade da mulher é reduzida em comparação aos homens, pelo fato de ser mãe e ser responsável pela vida doméstica, o que geraria uma prejudicialidade nas relações laborais. Destarte, nesse sentido Simone de Beauvoir aduz que (1970, p. 450):

Não se deve, entretanto, acreditar que a simples justaposição do direito de voto a um ofício constitua uma perfeita libertação: hoje o trabalho não é a liberdade. Somente em um mundo socialista a mulher, atingindo o trabalho, conseguiria a liberdade. Em sua maioria, os trabalhadores são hoje explorados. Por outro lado, a estrutura social não foi profundamente modificada pela evolução da condição feminina; este mundo, que sempre pertenceu aos homens, conserva ainda a forma que eles lhe imprimiram.

Para uma efetiva promoção de uma sociedade justa, é imprescindível que ocorra a regulação das leis voltando-se para as pessoas conjuntamente, sem exceções, admitindo-se a proteção dos indivíduos mais vulneráveis. Assim leciona Mary Wollstonecraft (2016, p. 228), em sua obra clássica,

Estados, em sua maioria, têm sido governados por meio de estratagemas que desonram o caráter do homem, é verdade; e a falta de uma constituição justa e de leis igualitárias confunde as teorias da sabedoria universal, que fazem mais do que questionar se é razoável lutar pelos direitos da humanidade. Desse modo, a moralidade, contaminada no reservatório nacional, envia correntes de vício para corromper as partes que constituem o corpo político; mas, se princípios mais nobres, ou melhor, mais justos, regulassem as leis, que devem ser a orientação da sociedade, e não daqueles que as executam, o dever poderia se tornar a regra da conduta privada.

A mulher não tem autonomia, pressuposto que está voltado exclusivamente aos homens. Em razão disso, o Estado necessita implementar políticas públicas contundentes relativas as mulheres, buscando a efetivação de seus direitos previstos constitucionalmente, pois a desigualdade está enraizada no país, com consequências arrasadoras pois fomenta a discriminação em relação a população vulnerável. Conforme Lourdes Bandeira e Hildete Pereira de Melo (2010, p. 36):

Estas diferenças na forma de inserção no mercado de trabalho, aliadas às desigualdades educacionais, à segregação de mulheres e negros em postos de

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trabalho de menor qualidade, e à existência de mecanismos discriminatórios e preconceitos baseados em estereótipos tais como o de incapacidade feminina para a liderança, fazem com que a remuneração mensal de mulheres e negros seja sempre inferior à verificada para homens e brancos.

Embora seja evidente que os recursos públicos sejam limitados, as políticas voltadas à mulher são norteadas pela Constituição Federal de 1988 que apresenta como objetivos da República a construção de uma “sociedade livre, justa e solidária” bem como “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”, conforme disposto nos incisos I e IV do art. 3º.

1.3 A Constituição de 1988 e as políticas públicas para mulheres no Brasil: implementando órgãos de política para Mulheres nos municípios

A partir de um contexto histórico evidencia-se que as lutas feministas não são recentes, contudo nas últimas décadas houve uma significativa alteração quanto a visibilidade das pautas das mulheres. Contudo, a partir da situação em que se busca modificar uma forma de pensar e agir que está culturalmente imposta, há uma certa resistência por parte da população em modificar essas estruturas. Ver a mulher como sujeito de autonomia e protagonismo causa estranheza, portanto, surge a necessidade de auxílio estatal através das políticas públicas garantidoras da equidade de direitos.

Como se verificará posteriormente, existem muitas estruturas governamentais criadas essencialmente para promover os direitos da mulher, servindo como modelo para muitos países no tocante a proteção da mulher. Porém, cumpre frisar que, embora existam efetivamente mecanismos de proteção a mulher, na prática para que efetivamente esses direitos sejam concretizados existem muitas barreiras impostas, barreiras estas que por vezes resultam na violação dos direitos da mulher, seja em relação aos recursos públicos escassos destinados para este fim, seja na falta de qualificação dos servidores que irão atender as mulheres que necessitarem de atendimento por parte dessas estruturas, ou até em relação a falta de informação por parte das mulheres a respeito desses serviços.

As ondas feministas implicaram diretamente no comprometimento do Estado com os movimentos sociais. Merece destaque as ações estatais que formularam o Conselho Nacional de Direitos da Mulher (1985), a primeira Delegacia Especial de Atendimento à Mulher em São Paulo (1980), e a formação da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (2003).

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As reivindicações em favor dos direitos da mulher refletem um período de lutas feministas, geradoras de documentos importantes em favor das mulheres. A exemplo disso, em 1967 foi emitido pela ONU a Declaração para a Eliminação da Discriminação Contra as Mulheres.

O Brasil é um país signatário de diversos tratados internacionais em favor das mulheres, garantindo o desenvolvimento dos direitos humanos. O país tem como marco legislativo a Constituição Federal de 1988, evoluindo muito no tocante a superação das desigualdades enfrentadas pelas mulheres, que em seu art. 5º prevê que todos os homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações.

A partir da implementação de uma Carta Magna igualitária que serve como espelho em âmbito internacional, promovendo a igualdade entre todos, sem qualquer tipo de discriminação, houve a necessidade de readequação da legislação brasileira, como orienta Rafael de Tilio (2012, p. 78):

Em 2003 houve nova redação do Código Civil Brasileiro que, em seu texto, eliminou todas as discriminações legais contra as mulheres que ainda vigoravam (tais como dependência legal da mulher diante do homem); em 2005 uma revisão do Código Penal Brasileiro eliminou a possibilidade de impunidade do agressor sexual que casasse com sua vítima, descriminalizou o adultério (que, na prática, punia apenas o adultério feminino) e eliminou a expressão mulher honesta presente na definição de vítima de alguns crimes sexuais; em 2009 também foi dada nova redação ao capítulo dos crimes contra a dignidade e liberdade sexual do Código Penal, cujas principais alterações foram o aumento dos tempos de apenação (principalmente quando da violência sexual contra vulneráveis, os menores de 14 anos), a nova redação do crime de estupro (não mais restrito às mulheres, passando a englobar qualquer indivíduo independente do seu gênero), além de legislar sobre o crime de tráfico de pessoas e exploração sexual de qualquer ordem e tipologia.

A Constituição Federal, em seu art. 226, § 8º prevê “A obrigatoriedade do Estado de criar mecanismos para coibir a violência no âmbito da família. Assim, surge a obrigatoriedade de os entes governamentais agirem em proteção dos interesses das mulheres, seja na fiscalização do cumprimento dos direitos da mulher na prática ou na criação de mecanismos que visem combater qualquer tipo de discriminação e violência contra a mulher. Assim, as leis são essenciais para um efetivo apoio estatal as políticas públicas de proteção a mulher. Merecem destaque as leis orçamentárias (Plano Plurianual, Lei de Diretrizes Orçamentárias e a Lei Orçamentária Anual, pois através dessas leis poderão ser observadas oportunidades de

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implementação de ações e medidas que promovam os direitos das mulheres, pois não basta que o Estado crie mecanismos que promovam os direitos da mulher, através de órgãos ou estruturas assemelhadas, se não irá destinar verba adequada e razoável ao devido funcionamento dessas estruturas.

Nesse viés, os municípios que já possuam organismos de políticas para a mulher conseguem ter acesso a recursos financeiros destinados a estes serviços pelo Governo Federal. Os conselhos de promoção dos direitos da mulher são classificados como temáticos. Mello (2015) aponta que em relação as políticas para as mulheres esses conselhos tiveram papel fundamental para a institucionalização das ações do Poder Executivo, através da criação dos organismos governamentais de políticas para as mulheres.

As Conferências Nacionais são estratégias que oportunizam a participação da população em temas de promoção dos direitos humanos, dentre eles os de políticas para mulheres. Através dessas Conferências serão pautados os temas de grande relevância populacional, resultando em debates acerca das políticas públicas. Essas Conferências Nacionais em grande parte são transformadas em normas legais que inserem as políticas públicas de vários segmentos sociais.

Através da implementação de políticas públicas para mulheres, em 2003 o governo federal criou a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, que de acordo com Rafael de Tilio (2017, p. 78):

Ainda em 2003, o governo federal por meio da medida provisória 103, de 1º de janeiro de 2003, convertida na lei 10.683/2003, criou a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM), que assumia dentre suas principais competências: assessoramento na formulação, coordenação e articulação de políticas para as mulheres, a elaboração e implementação de campanhas educativas e não-discriminatórias sobre gênero de abrangência nacional, a promoção da igualdade de gênero de maneira interssetorial e interministerial no âmbito nacional e em cooperação com entidades internacionais, públicos e privados, a promoção, acompanhamento e implementação de legislação de ação afirmativa e de ações públicas que visem ao cumprimento dos acordos, convenções e planos de ação assinados pelo Brasil relativos à igualdade entre mulheres e homens e de combate à discriminação.

Em consequência das Conferências Nacionais e através das articulações da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres Plano Nacional de Políticas para Mulheres, buscando a

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igualdade de gênero. De acordo com Tamiris Alessandra Gervasoni e Marli Marlene Moraes da Costa (2017, p. 119):

No contexto brasileiro, a transversalidade de gênero tem sido observada nas políticas públicas, exemplo disso evidencia-se no processo complexo de laboração do Plano Nacional de Políticas para Mulheres, do ano de 2004, conforme elucidou-se anteriormente. Tal lógica vem repetindo-se, periodicamente, na formulação dos demais Planos, sempre precedidos pelas Conferências em diversos níveis regionais até nacionais, propondo-se “o desencadeamento de uma processo amplo e complexo de participação social, parecerias e atuações intersetoriais que otimize os recursos disponíveis e garanta sua aplicação em políticas que respondam mais efetivamente às necessidades” e demandas sociais. A articulação das políticas públicas direcionadas às questões de gênero no Brasil, enfrentando problemas como desigualdade, violência, discriminação e promoção da diversidade, tem-se estruturado a partir da elaboração dos Planos Nacionais, periodicamente, a cada três anos. Em cada período, durante as Conferências que a precedem, são estabelecidos os objetivos e a diretrizes que deverão ser observadas pelo novo período que se coloca.

Em relação a importância da Câmara Municipal, Mello (2015) refere acerca das principais atribuições da Câmara Municipal, quais sejam: legislar e fiscalizar, portanto, essas atribuições fortalecem a democracia além de intervir na implementação de políticas que gerem novas oportunidades para a mulher.

É notório que a mulher carece de um olhar sensível do Estado, considerando as muitas desigualdades sociais arraigadas a ela, em consequência de todo um período histórico de discriminação e entraves. Até então, exercer a plena cidadania é dificultosa, em consequência do rompimento de preceitos atribuídos a mulher geradores da submissão feminina. As políticas públicas para mulheres no Brasil são resultado de um período emancipatório feminino. Nesse viés, a mulher passa a descobrir seu papel social no mundo, sendo pauta importante para os direitos humanos.

É o entendimento de Costa, Hermany e Soder (2011, p 12), para quem,

Analisando de outra forma, a efetivação da cultura restabelecedora da cidadania das mulheres na modernidade depende da vontade política de cada sujeito que se propõe a contribuir com o processo de desvelamento da racionalização como projeto social que se sustente no agir comunicativo, e sempre que necessário, as tradições assentadas na cultura patriarcal passem pelo estado permanente de revisão.

Em 2007 foi publicado no Brasil o I Pacto Nacional pelo Enfrentamento à Violência Contra a Mulher. Tilio (2017, p. 80) refere que o pacto foi um mecanismo de prevenir e combater qualquer forma de violência contra a mulher, sendo os seus principais objetivos

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reduzir os índices de violência contra as mulheres; promover uma mudança cultural a partir da disseminação de atitudes igualitárias e valores éticos de irrestrito respeito às diversidades de gênero e de valorização da paz; e garantir e proteger os direitos das mulheres em situação de violência, considerando as questões raciais, étnicas, geracionais, de orientação sexual, de deficiência e de inserção social, econômica e regional.

As desigualdades entre homens e mulheres serão cessadas através da implementação de políticas que visem mudar o aspecto atual cultural da população. Mello (2015) salienta que:

As desigualdades entre mulheres e homens vêm sendo construídas, em nossa sociedade, ao longo da história e devem ser transformadas por meio de políticas públicas. Vale destacar que as políticas públicas abrangem o conjunto das ações desenvolvidas no âmbito da administração pública e direcionadas para a população. São elas as políticas sociais, ambientais econômicas, de desenvolvimento, entre outras. Para que isso aconteça, é fundamental saber identificá-las, rompendo com sua aparência “natural”, isto é, deixando de encará-las como algo que faz parte do funcionamento da sociedade e da vida privada, construindo, portanto, estratégias de ação para sua transformação.

A violência de gênero consiste em oprimir o outro, fazendo com que este perca sua identidade e sua liberdade, isso irá acarretar com que o indivíduo oprimido cesse qualquer tipo de protagonismo. Conforme destacam Costa, Hermany e Soder (2011, p. 15):

A humanidade sempre foi dividida pelo sistema de classificação dos sexos e orientada a agir de acordo com os atributos de feminilidade e masculinidade impostos pela sociedade. A partir desta divisão, se criou conceitos e tabus que ligavam o masculino ao forte, poderoso, dominante, enquanto que ao feminino sobrou o papel de fraco, insignificante, dominado. Historicamente, gênero e sexo foram usados como sinônimos destinados a constituir a identidade de um indivíduo.

No que tange ao combate da violência contra a mulher, outra política pública relevante que vem sendo incentivada por parte de órgãos federais, estaduais e municipais, em parceria com a sociedade civil é a implantação de Redes de Enfrentamento à Violência Contra as Mulheres:

diz respeito à atuação articulada entre as instituições/serviços governamentais, não-governamentais e a comunidade visando ao desenvolvimento de estratégias efetivas de prevenção e de políticas que garantam o empoderamento das mulheres e seus direitos humanos, a responsabilização dos agressores e a assistência qualificada às mulheres em situação de violência [e] faz referência ao conjunto de ações e serviços de diferentes setores (em especial, da assistência social, da justiça, da segurança pública e da saúde), que visam à ampliação e à melhoria da qualidade do atendimento; à identificação e ao encaminhamento adequado das mulheres em

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situação de violência e à integralidade e humanização do atendimento. (BRASIL, 2011, p. 7-8).

No entanto, apesar de já existir tais definições no campo simbólico, Tilio (2017, p. 88) aponta que muitos estados e municípios brasileiros restam inadimplentes inviabilizando repasse de recursos, barreiras estas que refletem diretamente na realização de políticas em prol das mulheres. Aponta também no empecilho de se considerar a violência contra a mulher fato a ser resolvido na esfera privada.

Diante disso, cabe lembrar que o Brasil é um país regido sob o sistema democrático de direitos, assim preconiza o artigo 5º da Constituição Federal de 1988:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição;

É evidente, que através da Constituição Federal de 1988, homens e mulheres passaram a adquirir a igualdade de direitos, dentre esses encontra-se pautado o pleno exercício da cidadania por todos e a dignidade da pessoa humana. Assim, o sistema adotado no país que é o Democrático de Direitos começa a atender a coletividade em geral, não existindo mais espaço para desigualdades de gênero.

Além disso, conforme orientam Costa, Hermany e Sodar (2011, p. 76):

Como objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, traz a Constituição Federal de 1988, no inciso III, do artigo 3º, “erradicar a pobreza e a marginalização

e reduzir as desigualdades sociais e regionais”, bem como no incivo IV estabelece

“promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e

quaisquer outras formas de discriminação”. Portanto, veda, expressamente,

qualquer tipo de discriminação. Esta norma possibilita a implementação de ações afirmativas, a partir de seus objetivos, que permite a promoção de ações concretas para a efetivação dos fundamentos ali expressos, a fim de minimizar as desigualdades. Tais dispositivos “constituem em reais promessas de busca da igualdade material”, a fim de realizar, efetivamente, a dignidade da pessoa humana. Considerando que não mais cabe ao Estado se omitir acerca das desigualdades no país, atrelando-se a suas funções a promoção de políticas para mulheres, sendo essenciais para a concretização da igualdade. Assim, a criação de mecanismos de defesa das mulheres, com a busca de um amplo atendimento dedicado a prestação de serviços básicos de promoção de

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