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Movimento sociais e os direitos humanos

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Academic year: 2021

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EZEQUIEL FERNANDO NOSTER PERINE

MOVIMENTOS SOCIAIS E OS DIREITOS HUMANOS

Ijuí (RS) 2014

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EZEQUIEL FERNANDO NOSTER PERINE

MOVIMENTOS SOCIAIS E OS DIREITOS HUMANOS

Monografia final do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Monografia.

UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS – Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais

Orientadora: MSc. Anna Paula Bagetti Zeifert

Ijuí (RS) 2014

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Dedico este trabalho a todos que de uma forma ou outra me auxiliaram e ampararam-me durante estes anos da minha caminhada acadêmica.

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AGRADECIMENTOS

A Deus por ter me dado saúde e força para superar as dificuldades.

A esta universidade, seu corpo docente, direção e administração que oportunizaram a janela que hoje vislumbro um horizonte superior, eivado pela acendrada confiança no mérito e ética aqui presentes.

A minha orientadora MSc. Anna Paula Bagetti Zeifert, pelo suporte no tempo que lhe coube, pelas suas correções e incentivos.

A minha família, pelo amor, incentivo e apoio incondicional.

E a todos que direta ou indiretamente fizeram parte da minha formação, o meu muito obrigado.

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"Os direitos humanos são a baliza, a referência e os suportes, que dão humanidade ao mundo. Sem eles, nossas sociedades iriam para a barbárie" (Cristovam Buarque).

“O conflito não está mais associado a um setor considerado fundamental da atividade social, à infraestrutura da sociedade, ao trabalho em particular; ele está em toda a parte.” (Touraine).

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RESUMO

O presente trabalho de pesquisa monográfica faz uma análise dos movimentos sociais e as conquistas, consolidações e ampliações dos Direitos Humanos através desses movimentos. Para isso foi realizada uma retrospectiva histórica dos direitos humanos verificando de que forma se deu seu desenvolvimento no decorrer dos anos, desde a conquista de sua primeira geração de direitos com a Revolução Francesa, até os dias atuais. Ainda, analisou-se também, como perspectiva central, os movimentos e conquistas voltados para a América do sul, concernentes aos ocorridos no Brasil após o período da ditadura. Não pretende-se esgotar as possíveis análises sobre a questão, no entanto, delimitou-se o estudo no período que compreende o fim da Ditadura militar, visto que esse foi o momento histórico no qual todas as manifestações foram fortemente reprimidas. Nessa perspectiva compreende-se e demonstra-se através de resultados obtidos por diversos movimentos, em diferentes épocas, em prol dos direitos humanos, que a participação popular torna-se elemento preponderante na luta pela conquista e ampliação dos direitos.

Palavras-Chave: Direitos humanos. Gerações de direitos. Movimentos sociais.

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ABSTRACT

This monographic research is an analysis of social movements, conquests, consolidations and extensions of the Human Rights through these movements. For this, a historical retrospective of human rights verifying how its development occurred over the years, since the conquest of his first generation of rights in the French Revolution to the present day was held. It is also analyzed as a central perspective the movements and achievements focused on South America, related to the facts occurred in Brazil after the dictatorship period. It is not intended to exhaust all possible analyzes for the question, however, the study delimited itself around the period which comprises the end of military dictatorship, since this was the historical moment where all manifestations were strongly repressed. In this perspective, it is understandable and it is demonstrated through results from different movements at different times, in favor of the human rights, that popular participation becomes a prominent element in the fight for rights conquest and expansion.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...08

1 DIREITOS HUMANOS...10

1.1 Aspectos históricos dos Direitos Humanos...10

1.2 As Gerações de Direitos Humanos nascidas pós Revolução Francesa...16

1.3 Sistema internacional de proteção dos direitos humanos: a inserção do Brasil...21

2 MOVIMENTOS POR DIREITOS HUMANOS NO BRASÍL: UMA ANÁLISE A PARTIR DA ABERTURA DEMOCRÁTICA...29

2.1 Os movimentos sociais no Brasil: aspectos históricos...29

2.2 Direitos Humanos e a sua conquista por meio dos movimentos sociais...34

2.3 Os Direitos Humanos no Brasil pós abertura democrática e a incorporação das normas internacionais de proteção no direito brasileiro...39

CONCLUSÃO ... ...44

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho analisa os Movimentos sociais e a forma como esses movimentos contribuíram para a conquista e ampliação dos direitos humanos. Assim como, descrever a trajetória histórica dos Direitos Humanos; estudar as gerações de direitos humanos nascidas pós Revolução Francesa, mais especificamente, com a formação do Estado Moderno; verificar quais os movimentos sociais que contribuíram para a implantação dos direitos humanos no Brasil após a abertura democrática; compreender o funcionamento do sistema internacional de Direitos Humanos; ainda, investigar os movimentos sociais que colaboraram para o movimento de Direitos Humanos no Brasil no período compreendido entre 1964 a 1988, bem como a incorporação das normas de proteção no direito brasileiro.

Como os movimentos sociais colaboraram efetivamente para o movimento de direitos humanos no Brasil? Este é o problema a ser abordado no presente trabalho, com o intuito de verificar a forma com que esses movimentos se organizaram para chegar a resultados positivos em relação a conquista e ampliação dos direitos humanos.

Inicialmente, no primeiro capítulo, abordaram-se os aspectos históricos dos direitos humanos, levando em conta a discussão levantada pelos doutrinadores até os dias de hoje, ou seja, para alguns os direitos humanos existem desde há antiguidade enquanto que, para outros doutrinadores e, é com esses que nós concordamos, os direitos humanos surgem para a humanidade a partir do momento em que se rompe com o pensamento de que o Estado é anterior e superior às partes, o modelo de Estado denominado Organicista.

Ainda, a questão da nomenclatura utilizada para uma melhor compreensão do texto, as “gerações de direitos” ou, “dimensões de direitos”, como preferem alguns doutrinadores, nascidas a partir da Revolução Francesa de 1789, elas refletem as conquistas de direitos pelo

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homem e, vêm evoluindo com o passar dos anos e hoje encontra-se em sua 4° geração de direitos.

Verificou-se, também, como funciona o sistema internacional de proteção desses direitos, de que forma estão estruturados e organizados e, a partir de que momento o Brasil começou a fazer parte desse sistema.

Em relação ao segundo capítulo, por estar voltado mais para a questão dos movimentos sociais, no primeiro item abordam-se os aspectos históricos dos movimentos sociais ocorridos no Brasil, tendo como paradigma os movimentos ocorridos na Europa e Estados Unidos. A contribuição dos movimentos sociais para a conquista dos direitos humanos, analisando de forma mais detalhada e específica alguns movimentos ocorridos após a abertura democrática com a queda da Ditadura Militar em 1985.

Para finalizar, no terceiro e último capítulo, analisou-se a questão da incorporação das normas de direito internacional no ordenamento jurídico brasileiro e a questão da hierarquia dessas normas, assim como, a própria soberania nacional frente aos acordos e tratados firmados pelo País em âmbito internacional.

Para a realização deste trabalho foi utilizado o método hipotético-dedutivo, e no seu delineamento a coleta de dados em fontes bibliográficas disponíveis em meios físicos e na rede de computadores.

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1 DIREITOS HUMANOS

No presente capítulo serão abordados os aspectos históricos dos Direitos Humanos, analisando a dicotomia existente, ainda hoje, quanto ao momento histórico em que podemos reconhecer a consagração dos valores que representam os direitos humanos. Assim como, o surgimento da primeira geração de direitos nascida após a Revolução Francesa e, a sua consequente evolução que se convencionou chamar de gerações de direito.

Ainda, compreender o funcionamento do Sistema Internacional de Direitos Humanos, seu surgimento, órgãos e instâncias voltadas à proteção dos Direitos Humanos e, verificar os Tratados e convenções do qual o Brasil faz parte.

1.1 Aspectos históricos dos direitos humanos

Destacamos, preliminarmente, que não serão abordados todos os fatores históricos que influenciaram para a construção de uma visão moderna de direitos humanos devido a limitação do presente trabalho. No entanto, serão elencados os principais fatos históricos concernentes para uma boa compreensão do tema.

Compreendemos que os Direitos Humanos são o resultado de um processo histórico revolucionário que envolveu, não somente aspectos éticos, mas, também, questões políticas e jurídicas. Em um determinado momento da história ou, contexto histórico, houve a positivação de direitos geralmente na forma de uma Carta Magna visando conter o poder do Estado, representado pelo Rei ou Ditador, dependendo do caso, para que esse, então, não pudesse intervir de forma arbitrária na vida e nos bens do indivíduo.

Destacamos, ainda, que os Direitos Humanos é uma verdadeira conquista da sociedade moderna, quanto ao seu reconhecimento e efetivação. É dever de toda sociedade evoluída reconhecê-los pois, carregam uma carga moral muito grande, determinando o caráter de toda uma nação, independente do sistema social ou econômico que adota, envolvendo ainda, conceitos como justiça, liberdade e igualdade.

Quanto a questão terminológica que adotaremos para nos referir aos Direitos humanos, pois há várias, conforme André Ramos Tavares (2002, p. 352), podemos encontrar, no que

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tange aos Direitos Humanos, as seguintes expressões: “direitos naturais, direitos humanos, direitos do homem, direitos individuais, direitos públicos subjetivos, liberdades fundamentais, liberdades públicas e direitos fundamentais do homem”, entre outras. Todas relativas e relacionadas aos direitos individuais, sociais, econômicos e políticos.

Portanto, destacaremos duas dessas nomenclaturas que são as mais facilmente encontradas na doutrina, direcionadas para os direitos humanos. A primeira delas denominada de Direitos do Homem foi a primeira forma que se utilizou para referir-se a um rol de direitos que remonta ao jusnaturalismo, onde pregava que bastava ser homem para possuir direitos e poder usufruí-los, ou seja, concernente da própria qualidade de pessoa humana enquanto pertencente a mesma espécie.

Para Maria Victoria Benevides, citada por Herkenhoff (2011, p.13), Direitos do Homem “são aqueles direitos considerados fundamentais a todos os seres humanos, sem distinção de sexo, nacionalidade, etnia, cor da pele, classe social, profissão, condição de saúde física e mental, opinião política, religião, nível de instrução e julgamento moral.”

No entanto, a expressão “homem” sofreu diversas críticas por se achar que o sexo feminino estaria excluído de usufruir desses direitos. (HERKENHOFF, 2011, p.14). Nesse sentido, Ingo Wolfgang Sarlet (2009, p. 31), expressa o seguinte comentário:

[...] o termo "direitos humanos" se revelou conceito de contornos mais amplos e imprecisos que a noção de direitos fundamentais, de tal sorte que estes possuem sentido mais preciso e restrito, na medida em que constituem o conjunto de direitos e liberdades institucionalmente reconhecidos e garantidos pelo direito positivo de determinado Estado, tratando-se, portanto, de direitos delimitados espacial e temporalmente, cuja denominação se deve ao seu caráter básico e fundamentador do sistema jurídico do Estado de Direito.

Dessa forma, o autor refere-se àqueles direitos reconhecidos e que estão positivados constitucionalmente, assegurando, assim, os direitos de cada ser humano a ter uma vida mais digna, como nos explica José Afonso da Silva (2009, p. 178): “trata-se de situações jurídicas sem as quais a pessoa humana não se realiza, não convive e, às vezes, nem mesmo sobrevive.”

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Convém ressaltar que a expressão direitos humanos é mais utilizada pelos doutrinadores do Direito Internacional, estão positivados no âmbito externo dos países participantes, ou seja, diferem dos direitos fundamentais pela abrangência geográfica, enquanto esses dizem respeito a leis internas, aqueles figuram no plano internacional.

Para José Joaquim Gomes Canotilho apesar dos termos serem usados como sinônimos, há algumas distinções que precisam ser feitas:

Segundo a sua origem e significado poderíamos distinguí-las da seguinte maneira: direitos do homem são direitos válidos para todos os povos e em todos os tempos (dimensão jusnaturalista-universalista); direitos fundamentais são os direitos do homem, jurídico-institucionalmente garantidos e limitados espacio-temporalmente. Os direitos do homem arrancariam da própria natureza humana e daí o seu caráter inviolável, intemporal e universal; os direitos fundamentais seriam os direitos objectivamente vigentes numa ordem jurídica concreta. (CANOTILHO, 2002, p. 391)

A respeito da segunda terminologia a ser abordada “direitos fundamentais”, podemos compreender do enunciado supra surgir para a humanidade quando positivados em um ordenamento jurídico e, limitados pela geografia e cultura de um povo. Ainda, encontramos o mesmo entendimento por Sarlet (2009, p. 29):

[...] o termo direitos fundamentais se aplica para aqueles direitos do ser humano reconhecidos e positivados na esfera do direito constitucional positivo de determinado Estado, ao passo que a expressão direitos humanos guardaria relação com os documentos de direito internacional, por referir-se àquelas posições jurídicas que se reconhecem ao ser humano como tal, independentemente de sua vinculação com determinada ordem constitucional, e que, portanto aspiram à validade universal, para todos os povos e tempos, de tal sorte que revelam um inequívoca caráter supranacional.

Verificamos não ser tarefa das mais fáceis conceituar os direitos humanos, pelo fato de serem várias as ideias terminológicas que cercam o tema. A doutrina tem tentado construir alguns conceitos não sem algum receio de trazer algo insatisfatório para o leitor. Até porque, como pontua José Afonso da Silva (2005, p. 175).

A ampliação e transformação dos direitos fundamentais do homem no envolver histórico dificultam definir-lhes um conceito sintético e preciso. Aumenta essa dificuldade a circunstância de se empregarem várias

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expressões para designá-los, tais como: direitos naturais, direitos humanos, direitos do homem, direitos individuais, direitos públicos subjetivos, liberdades fundamentais, liberdades públicas e direitos fundamentais do homem.

Nesse sentido, a terminologia que adotaremos para a realização do presente trabalho será a de Direitos Humanos, vinculando-os ao âmbito externo, com abrangência internacional, compatibilizando-se, assim, bem mais com os objetivos aqui almejados, além do que, deixar claro, que os destinatários dos direitos são os seres humanos em geral.

Atualmente, aindaexiste um grande embate doutrinário quanto ao momento, a origem exata em que os direitos humanos começaram a fazer parte da história humana. Para alguns doutrinadores essas liberdades começaram a aparecer já na antiguidade e, para outros, o nascimento desses direitos se dariam somente com o surgimento do Estado Moderno.

É o caso, por exemplo, de Herkenhoff (2011, p. 39) quando nos diz que a sociedade antiga não conheceu o fenômeno da Limitação do Poder do Estado, e que nem por isso deixaram de privilegiar a pessoa humana na criação da ideia de direitos humanos, pois, segundo o mesmo autor, a simples técnica de estabelecer limites através de constituições e leis não garantem que elas sejam respeitadas. Assim, destaca o autor que os direitos humanos podem ser reconhecidos na Antiguidade pelos seguintes códigos:

Código de Hamurabi (Babilônia. século XVIII antes de Cristo), no pensamento de Amenófis IV (Egito. século XIV a. C). na filosofia de Mêncio (China. século IV a. C), na República. de Platão (Grécia. século IV a. C.), no Direito Romano e em inúmeras civilizações e culturas ancestrais, [...] (HERKENHOFF, 2011, p. 39).

No entanto, não compartilhamos com o mesmo pensamento desses doutrinadores pelo fato de, na época, não terem existido nenhum tipo de mecanismo que limitasse o poder estatal pela lei, que é uma das formas de garantir o respeito pelos direitos humanos. Pois, na antiguidade isso dependia muito da caridade, virtude e sabedoria dos governantes.

Conforme Herkenhoff (2011, p.42), a técnica de limitar o poder pela lei teve suas raízes históricas implantadas no século XIII, por volta do ano 1215, quando os barões e bispos impuseram ao Rei João Sem Terra a Carta Magna. Esse ficou sendo, também, o marco do

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Constitucionalismo que nada mais é que um conjunto de regras visando limitar o poder político e estabelecer direitos e garantias em prol da sociedade.

Assim, concordamos com Gilmar Antônio Bedin (2002, p. 19), quando diz que, os direitos humanos surgiram em meados do século XVII e XVIII. Ainda, nos esclarece o referido autor:

[...] a idéia de que os homens possuem direitos é, ao contrário do que normalmente se pensa, uma invenção moderna, tendo surgido e se institucionalizado no decorrer do século XVIII. Além disto, é imprescindível que realcemos, imediatamente, o fato de que o seu surgimento constitui-se, no que se refere à história, em verdadeira ruptura com o passado. (BEDIN, 2002, p. 19).

A Sociedade antiga estava organizada em um modelo organicista, ou seja, a tese central era a crença de que o todo (Estado) era anterior e superior as partes (indivíduo), como podemos perceber na afirmação de Aristóteles (1997), em sua obra Política, que:

[...] na ordem natural a cidade tem precedência sobre a família e sobre cada um de nós individualmente, pois o todo deve necessariamente ter precedência sobra as partes [...] De fato, cada indivíduo isoladamente não é auto-suficiente, consequentemente em relação à cidade ele é como as outras partes em relação a seu todo [...] (BEDIN, 2002, p. 21).

Por isso não podermos falar ainda, em proteção aos direitos humanos no mundo antigo, pois, deveria ocorrer primeiro essa ruptura com o passado, com a figura deôntica do dever e não do direito.

A história costuma dividir a sociedade medieval em três classes: o Clero com a função de oração, ensino, cuidar dos enfermos; os Nobres imbuídos de administrar, vigiar e proteger; e o povo, o único que trabalhava para manter os demais. A respeito comenta Miaille (1979), citado por Darcisio Corrêa (2010, p. 381):

O que é preciso notar é que cada uma dessas categorias políticas é regida por regras de direito específicas. O Clero tem as suas próprias jurisdições, tal como a nobreza; o imposto não é devido nem pelo clero nem pela nobreza, enquanto é pesadamente cobrado sobre os rendimentos do terceiro estado, etc.

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Podemos perceber que há uma tremenda injustiça e desigualdade nessa forma de organização do Estado, porém, já no século XVII, começam a acorrer algumas modificações nessa estrutura organizacional. Estas mudanças dizem respeito principalmente ao modo de pensar em relação ao panorama econômico e político da época e, com o surgimento de uma nova classe social, a burguesia, um segmento urbano essencialmente mercantil em busca de novos valores.

Conforme José Damião de Lima Trindade (2002, p. 24), burgueses era uma denominação genérica dos habitantes dos “burgos”, pequenas cidades que surgiam nos cruzamentos de rotas comerciais. Formadas na grande maioria por pessoas livres que, aos poucos foram acumulando algum capital nas práticas do comércio.

Ainda, segundo o mesmo autor, nos séculos XV e XVI, essa classe estava bem diversificada em vários ramos de atividades e muito influente na maioria das cidades da Europa Ocidental. A sociedade Feudal já havia se tornado um empecilho para esses empreendedores, dificultando seu progresso e maior enriquecimento, assim, ansiavam maior liberdade para os seus negócios. Portanto, viam com bons olhos e interesse as reivindicações dos camponeses, porque a seu modo, também sentiam as amarras do feudalismo.

É num clima de extrema insatisfação popular que o povo foi às ruas protestar contra os privilégios da Nobreza, aos tributos e, principalmente à servidão imposta. A intenção era derrubar o governo absolutista do Rei Luis XVI, alicerçada, ainda, na teoria do direito divino dos Reis. A Revolução utilizou como tema: “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”.

Foi, portanto, segundo Corrêa (2010, p. 384):

[...] o politicamente delegado Terceiro Estado que realizou a Revolução Francesa de 1789, comandado pela burguesia que detinha o poder econômico e se constituía na nova classe economicamente emergente da época. Para a derrubada dessa estrutura feudal em decadência e da crise institucional do absolutismo a burguesia necessitava do apoio das massas populares para êxito do processo revolucionário.

Ainda, de acordo com o mesmo autor, o exposto anteriormente fortalece e evidencia a teoria de que, a doutrina do contratualismo jusnaturalista serviu como instrumento de luta utilizada pela nobreza liberal e pela grande burguesia, em favor de suas reivindicações

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revolucionárias. Uma vez que, essa doutrina reconhece o fundamento do Estado, não como uma ordem divina, mas, como uma convenção estipulada entre seus membros.

Compreendemos, portanto, do enunciado acima que a sociedade buscava direitos que a protegesse e que a libertasse do absolutismo do monarca, já que a ideologia liberal da revolução considerava o Estado como o principal inimigo da liberdade individual. Sendo assim, nasce a partir daí a primeira geração de direitos que veremos no item seguinte, encampada pelo Terceiro Estado contra a exploração sofrida pela nobreza e pelo Clero.

1.2 As Gerações de direitos humanos nascidas pós Revolução Francesa

Como podemos acompanhar no item anterior, vencida a Revolução de 1789, que ficou conhecida como Revolução Francesa, tem inicio a uma evolução histórica dos Direitos Humanos surgida da luta contra a opressão e da tirania imposta aos povos pelos governos absolutistas. Pode não ter sido um fenômeno isolado, como veremos mais adiante, mas, foi extremamente importante para o acontecimento de alguns fenômenos contemporâneos relativos a conquista de direitos.

Destacamos primeiramente, existir certa divergência entre os doutrinadores quanto a terminologia a ser utilizada para fazer referência a essa evolução histórica de direitos ocorrida após a revolução Francesa. Alguns doutrinadores preferem fazer uso da expressão “gerações de direitos”, enquanto outros preferem a terminologia “dimensões de direitos”.

Portanto, para aqueles que defendem o uso do vocábulo “dimensão”, a alegação é de que o termo “geração” passa a ideia de substituição ou de sucessão da geração passada por uma mais nova, o que não aconteceria com o termo “dimensão” já que traria a ideia de acumular, acrescentar novas tutelas e não sua sucessão.

Contrario senso, a nosso ver, o vocábulo “dimensão” dá a ideia de superioridade entre uma dimensão e outra, parecendo haver uma hierarquia entre as dimensões, o que, não é essa a ideia que queremos passar. Portanto, utilizaremos assim, o termo “geração”, para a realização do presente trabalho.

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Salientamos que, as gerações de direito não são estáticas, ou seja, elas evoluem no tempo de acordo com as necessidades da sociedade, as mudanças históricas e outros fatores que de alguma forma contribuem para que a sociedade se modifique e atendam aos anseios do homem. Portanto, podemos dizer que, as gerações de direito elencadas aqui não serão as mesmas para sempre, elas sofrerão modificações com o passar do tempo. Como bem sublinha Norberto Bobbio (2002, p. 18).

Direitos que foram declarados absolutos no final do século XVIII, como a propriedade sacre inviolable foram submetidos a radicais limitações nas declarações contemporâneas, direitos que as declarações do século XVIII nem sequer mencionavam, como os direitos sociais, são agora proclamados com grande ostentação nas recentes declarações. Não é difícil prever que, no futuro, poderão emergir novas pretensões que no momento nem sequer podemos imaginar, como o direito a não portar armas contra a própria vontade, ou o direito de respeitar a vida também dos animais e não só dos homens.

Entendemos que a primeira geração de direitos tenha surgido das lutas do povo pela opressão causada pelos governos tiranos de orientação absolutista. Assim, em 26 de agosto de 1789, pressionado pelo povo e pelos deputados o Rei Luis XVI é obrigado a sancionar a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, considerada, também, a mais importante declaração dos direitos fundamentais, pois, foi a que teve maior repercussão e relevância para a história dos direitos humanos.

Lembra-nos Flávio de Campos Pinheiro (2008, p. 06), citado por Flávio Rodrigo Masson Carvalho (2008) que:

Foi na idade Média que surgiu os antecedentes mais diretos das declarações de direitos, com a contribuição da teoria do direito natural. Podemos citar como exemplo a magna Carta (1225), a Petition of Rights (1628), o Hábeas Corpus Amendment Act (1679) e o Bill of Rights (1689), a Declaração de Independência dos Estados unidos da América (1776), a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789), a Convenção de Genebra (1864), a Constituição Mexicana (1917), a Constituição de Welmar (1919), Carta das Nações Unidas (1945), e finalmente a mais aceita entre todas as nações a Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948).

Ainda, segundo Corrêa (2010, p. 386) precedendo a Declaração Francesa “aconteceu a Declaração de Direitos do Estado da Virgínia, menos expressiva, publicada em 16 de junho de 1776, e em nome da qual foi proclamada a independência dos Estados Unidos de América.” Como nos esclarece Mondaini, citado pelo mesmo autor:

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[...] a declaração de direitos da Virgínia assinala um momento histórico em que as treze colônias já haviam dado início a guerra de Independência, lutando não apenas pelo rompimento dos seus laços com a Inglaterra, mas também pela transformação do status do indivíduo nascido no Novo Mundo – de Súdito a cidadão.(MONDAINI, 2006, p. 48)

Segundo Bedin (2002, p. 41), podemos compreender o desenvolvimento dos Direitos Humanos através de pelo menos duas classificações, uma proposta por T. H. Marshall, em sua obra Cidadania, Classe social e Status, publicada em 1967 onde, nessa obra o autor sugere a seguinte classificação, em três fases distintas: direitos civis; direitos políticos e direitos sociais.

E numa segunda proposta, pontua Bedin (2002, p. 42), temos a classificação proposta por: Germán Bidart de Campos (1991), Celso Lafer (1991) e Paulo Bonavides (1993). Para estes autores, os direitos do homem podem ser classificados da seguinte maneira:

a) direitos de primeira geração (direitos civís e políticos) b) direitos de segunda geração (direitos econômicos e sociais)

c)direitos de terceira geração (direitos de solidariedade ou direitos do homem no âmbito internacional).

No entanto, para o professor Bedin (2002, p. 42) essa divisão apresenta uma grande lacuna em não abranger e, não poderia mesmo, pois foi proposta somente em 1950, um fenômeno novo que é a questão dos direitos do homem no âmbito internacional. Portanto, como referência, utilizaremos a proposta de classificação feita pelo referido professor. Qual seja:

a) direitos civis ou direitos de primeira geração; b) direitos políticos ou direitos de segunda geração;

c) direitos econômicos e sociais ou direitos de terceira geração; d) direitos de solidariedade ou direito de quarta geração.

Os direitos civis ou de primeira geração, marcam a passagem de um Estado autoritário para um Estado de Direito, são aqueles relativos essencialmente as liberdades individuais, próprios da declaração de Virgínia (1776) e da Declaração Francesa (1789), portanto, nascidos no bojo das revoluções do século XVIII, também conhecidos como direitos negativos pois, estabelecidos contra o Estado. Conforme Zulmar Fachin (2006, p. 203): “esses

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direitos não foram concebidos pelo Estado, mas conquistados em face do poder exercido arbitrariamente”.

Segundo Bedin (2002, p. 43), esses direitos estabelecem um marco divisório entre a esfera pública e a esfera privada, característica fundamental da sociedade moderna. Na especificação feita por Bedin citado por Darcísio Corrêa (2006, p. 173) os principais direitos civis podem ser assim elencados:

a) liberdades físicas (direito à vida, direito de ir e vir, direito à segurança individual, direito à inviolabilidade de domicílio e direitos de reunião e de associação, sendo este introduzido apenas no século XIX); b) liberdades de expressão (liberdade de imprensa, direito à livre manifestação do pensamento e direito ao sigilo de correspondência); c) liberdade de consciência – filosófica política e religiosa (de crença, de culto e de organização); d) direito de propriedade privada; e) direitos da pessoa acusada (direito ao princípio da reserva legal, direito à presunção de inocência e direito ao devido processo legal); f) garantias dos direitos (direito de petição, direito ao mandado de segurança, além dos direitos ao habeas data e ao mandado de injunção).

O direito à vida é o mais elementar de todos, é através dele que o ser humano é capaz de realizar seus sonhos, suas vontades, como afirma José Afonso da Silva, citado por Bedin (2002, pag. 44), que ele “constitui a fonte primária de todos os outros bens jurídicos.” Faz parte de nosso cotidiano de tal maneira que, qualquer ameaça em restringí-lo, torna-se uma questão polêmica, como é o caso, hoje, do aborto e da eutanásia.

Quanto aos direitos de segunda geração, por outro lado, se caracterizam pelo fato de os direitos por ela compreendidos serem considerados direitos positivos, isto é, direitos de participar do Estado, e, são denominados, também, de direitos políticos. (BEDIN, 2002, p. 56).

Nesse sentido trazemos as considerações de André Ramos Tavares (2009, p. 470), acerca das liberdades políticas:

Já as liberdades políticas referem-se à participação do indivíduo no processo do poder político. As mais importantes são as liberdades de associação, de reunião, de formação de partidos, de opinar, o direito de acesso aos cargos públicos em igualdade de condições.

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Englobam ainda, o direito ao sufrágio universal, ou seja, “um direito público subjetivo de natureza política, que tem o cidadão de eleger, ser eleito e de participar da organização e das atividades do poder estatal.”, Carlos Fayt citado por Bedin (2002, p. 57). Foram direitos conquistados no decorrer do século XIX consolidando-se no início do século XX.

Compreendemos também, a importância do plebiscito, do referendo e da iniciativa popular que são mecanismos de participação direta do cidadão na formação do poder político. A Constituição Brasileira de 1988, os reconhece em seu art. 14, incisos I,II,III, in litteris:

Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:

I - plebiscito; II - referendo;

III - iniciativa popular.

Os Direitos de Terceira Geração também denominados Direitos Econômicos e Sociais surgiram no início do século XX, por influência da Revolução Russa, da Constituição Mexicana de 1917 e da Constituição de Weimar de 1923. (BEDIN, 2002, p. 63):

Ainda, segundo o mesmo autor:

Esta terceira geração de direitos compreende os chamados direitos de créditos, ou seja, os direitos que tornam o estado devedor dos indivíduos, particularmente dos indivíduos trabalhadores e dos indivíduos marginalizados, no que se refere à obrigação de se realizar ações concretas, visando a garantir-lhes um mínimo de igualdade e de bem-estar social. Estes direitos, portanto, não são direitos estabelecidos “contra o estado” ou direitos de “participar do Estado”, mas sim direitos garantidos “através ou por meio do Estado”. (BEDIN, 2002, p. 62).

Entendemos que essa geração engloba dois tipos de direitos, segundo José Afonso da Silva (1993) citado por Bedin (2002, p. 63), que seriam: “os direitos relativos ao homem trabalhador; e os direitos relativos ao homem consumidor”. Quanto aquele se refere ao homem enquanto produtor de bens e partícipe de uma relação de emprego, e quanto a esses ao homem como sujeito que consome bens e serviços públicos.

Os direitos de Solidariedade ou Direitos de quarta geração têm como marco o ano de 1948, data da Declaração Universal dos Direitos do Homem. Compreendem os direitos do

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homem no âmbito internacional, entre esses direitos podemos citar o direito ao desenvolvimento; ao meio ambiente sadio; à paz; e à autodeterminação dos povos. Como diz Bonavides (1993) citado por Bedin (2002, p. 73):

[...] não se destinam especificamente à proteção dos interesses de um indivíduo, de um grupo ou de um determinado Estado. Têm primeiro por destinatário o gênero humano mesmo num momento expressivo de sua afirmação como valor supremo em termos de existencialidade concreta.

Referida geração de direito provoca um deslocamento do lugar do direito diante do Estado, ou seja, é um direito sobre o Estado e não por meio, ou, contra o Estado. Além dessas quatro gerações já se fala em uma quinta geração, proveniente dos avanços tecnológicos, direcionados à proteção dos direitos de imagem, honra, enfim, “direitos virtuais”, decorrentes dos avanços da internet.

1.3 Sistema internacional de proteção dos direitos humanos: a inserção do Brasil

Compreendemos que a construção dos Direitos Humanos vem ocorrendo de forma gradual, sistemática, já, há muito tempo, como podemos acompanhar no item anterior. No entanto, a proteção desse direito de forma universal, por meio do Direito Internacional é mais recente, para ser mais preciso, somente depois da Segunda Guerra Mundial, devido as atrocidades cometidas pelo nazismo durante esse nefasto e horrível período da história humana.

Dessa forma, a consolidação do Direito Internacional dos Direitos Humanos só veio a ocorrer em meados do século XX, em decorrência da segunda guerra mundial. Nas palavras de Thomas Buergenthal citado por Piovesan (2013, p.189):

O moderno direito internacional dos Direitos Humanos é um fenômeno do pós guerra. Seu desenvolvimento pode ser atribuído às monstruosas violações de direitos humanos da era Hitler e à crença de que parte destas violações poderiam ser prevenidas se um efetivo sistema de proteção internacional de direitos humanos existisse.

Assim, destaca Piovesan (2013, p. 190) que, se a “Segunda Grande Guerra significou a ruptura, o pós-guerra tomou ares de reconstrução dos direitos humanos.” Ainda, a certeza de

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que essa reconstrução e efetiva proteção não fiquem no âmbito de um único Estado mas, estenda-se a todos, pois, trata-se de tema a orientar a ordem internacional contemporânea.

Como precedentes históricos desse processo de Internacionalização dos direitos humanos podemos destacar e, assevera Flávia Piovesan (2013, p. 181): “O Direito Humanitário, a Liga das Nações e a Organização Internacional do Trabalho como os primeiros marcos desse processo.”

O Direito Humanitário, foi a primeira expressão utilizada para destacar que há limites no plano internacional à liberdade e à autonomia dos povos, ainda que em caso de conflito armado. É o direito que se aplica na hipótese de guerra proteger militares postos fora de combate (feridos, doentes, náufragos, prisioneiros), e população civil, ainda, assegurar a observância de direitos fundamentais, como assevera Piovesan (2013, p. 183).

Para Celso Lafer, citado pela mesma autora:

Este Direito (direito humanitário) trata de um tema clássico de Direito Internacional Público - a paz e a guerra. Baseia-se na ampliação do jus in

bello, voltada para o tratamento na guerra de combatentes e de sua

diferenciação em relação a não combatentes, e faz parte da regulamentação jurídica do emprego da violência no plano internacional, suscitado pelos horrores da batalha de Solferino, que levou à criação da Cruz Vermelha. (PIOVESAN, 2013, p. 183).

Destacamos que o Direito Humanitário faz parte do Direito Internacional, por isso, rege as relações entre dois ou mais Estados através de tratados ou convenções, uma boa parte dos acordos encontram-se firmados nas convenções de Genebra de 1949. Esses acordos restringem o uso de certas armas e a utilização de alguns métodos de combate, para, evitar assim, entre outras coisas, o sofrimento desnecessário.

A Convenção de Viena de 1969 define tratado internacional em seu art. 2, “a”, como sendo “um acordo internacional concluído por escrito entre Estados e regido pelo Direito internacional, quer conste de um instrumento único, quer de dois ou mais instrumentos conexos, qualquer que seja sua denominação específica.”

Quanto a Liga das Nações, criada pelo Tratado de Versalhes, sua Sede era em Genebra na Suíça, e sua forma de organização é bem parecida com a da atual ONU, sendo composta de

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um Secretariado, Assembleia geral e um Conselho executivo. Surgiu após a Primeira Guerra Mundial, em 1919 e autodissolvida em 1946, “tinha como finalidade promover a cooperação, paz e segurança internacional, condenando agressões externas contra a integridade territorial e independência política dos seus membros.” (PIOVESAN, 2013, p. 183).

Seu objetivo principal era reunir todas as nações e, dessa forma, arbitrar e mediar os conflitos entre as mesmas, no entanto, o que pareceu ser uma ótima alternativa para a manutenção da paz mundial, com o tempo mostrou-se frágil e, os primeiros sinais de fracasso começaram a aparecer. Assim, em não ter obtido êxito na prevenção da Segunda Guerra Mundial acabou por ser dissolvida em sua 21ª sessão, em 18 de abril de 1946.

Ao lado da Liga das Nações e do Direito Humanitário, temos a Organização Internacional do Trabalho (International Labour Office, agora denominada International Labour Organization) criada após a Primeira Guerra Mundial que tinha por objetivo promover padrões internacionais de condições de trabalho e bem estar (PIOVESAN, 2013, p. 185).

Na visão de Luis Henkin, citado por Piovesan (2013, p. 185);

A Organização Internacional do Trabalho foi um dos antecedentes que mais contribuiu à formação do Direito Internacional dos Direitos Humanos. A Organização Internacional do Trabalho foi criada após a Primeira Guerra Mundial para promover parâmetros básicos de trabalho e de bem-estar social. Nos setenta anos que se passaram, a Organização Internacional do trabalho promulgou mais de uma centena de Convenções Internacionais, que receberam ampla adesão e razoável observância.

Destacamos ainda, que, o advento da Organização Internacional do Trabalho, da Liga das Nações e do Direito Humanitário, marcaram o fim de uma época em que as relações de direito internacional ocorriam no âmbito estritamente governamental, ou seja, regulando relações entre os Estados. Agora busca-se a salvaguarda dos Direitos do ser humano e não das prerrogativas dos Estados (PIOVESAN, 2013, p. 187).

Assim, de acordo com a mesma autora, para que os direitos humanos se internacionalizassem deveriam ser rediscutidos os conceitos da própria soberania estatal e o status do indivíduo:

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[...] foi necessário redefinir o âmbito e o alcance do tradicional conceito de soberania estatal, a fim de permitir o advento dos direitos humanos como questão de legítimo interesse internacional. Foi ainda necessário redefinir o status do indivíduo no cenário internacional, para que se tornasse verdadeiro sujeito de Direito Internacional. [...] essas noções contemporâneas encontram seu precedente histórico no desenvolvimento do Direito Humanitário, da Liga das Nações e da Organização Internacional do Trabalho. (PIOVESAN, 2013, p. 190).

Portanto, o Estado deixa de ser o único sujeito de Direito internacional e , na medida em que admite intervenções em seu território, abre mão da chamada soberania nacional absoluta, em prol da proteção dos direitos humanos.

Vale ressaltar, também, que o Tribunal de Nuremberg, em 1945-1946, contribuiu de forma significativa com o processo de internacionalização dos direitos humanos. Após a Segunda Guerra Mundial, os aliados debateram sobre o modo que poderiam responsabilizar os Alemães pelas atrocidades e pelos abusos cometidos, chegando a um consenso, qual seja, convocar um Tribunal Militar Internacional para julgar os criminosos de guerra.

Segundo o entendimento de Flávia Piovesan (2013, p. 196), sobre o significado do Tribunal de Nuremberg:

O significado do Tribunal de Nuremberg para o processo de internacionalização dos direitos humanos é duplo: não apenas consolida a idéia da necessária limitação da soberania nacional, como também reconhece que os indivíduos têm direitos protegidos pelo Direito Internacional.

Assim, explica Henkin, citado por Piovesan (2013, p. 193);

Em 8 de agosto de 1945, os governos do Reino Unido, dos estados Unidos, Provisório da República Francesa e da união da repúblicas socialistas soviéticas, celebraram um acordo estabelecendo este Tribunal para os julgamentos dos crimes de Guerra, cujas ofensas não tivessem uma particular localização geográfica. De acordo com o art. 5º, os seguintes Estados das Nações Unidas expressamente aderiram ao acordo: Grécia, Dinamarca, Iuguslávia, Paises Baixos, Checoslováquia, Polônia, Bélgica, Etiópia, Austrália, Honduras, Noruega, Panamá, Luxemburgo, Haití, Nova Zelândia, Índia, Venezuela, Uruguai e Paraguai. O Tribunal foi investido do Poder de processar e punir as pessoas responsáveis pela prática de crime contra a paz, crimes de guerra e crimes contra a humanidade, como definido pela Carta.

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Ressaltamos que o Tribunal utilizou fundamentalmente o costume internacional, ainda que tenha surgida alguma polêmica com base na alegação da afronta ao princípio da legalidade penal, para poder condenar os criminosos envolvidos na prática dos crimes contra a paz, crime de guerra, e dos crimes contra a humanidade previstos pelo acordo de Londres (PIOVESAN, 2013, p. 196).

O processo de Internacionalização dos direitos humanos, e proteção, veio a ocorrer de forma universal com o advento da Carta das Nações Unidas em 1945. Como podemos acompanhar no art. 55 da Carta: “[...] as Nações Unidas favorecerão: c) o respeito universal e efetivo dos direitos humanos e das liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião.”

Com a preocupação em relação à paz mundial aumentando, em 1948 é adotada a Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada por 48 países, como um código a ser respeitado pelos Estados, tendo como base a dignidade da pessoa humana, objetivando delinear uma ordem pública mundial.

Destacamos, ainda, que a Declaração Universal dos Direitos Humanos assinada solenemente em Paris, no ano de 1948, não apresenta força jurídica obrigatória e vinculante, sua juridicização veio a ocorrer somente em 1949 com a elaboração de dois tratados. Versam eles sobre a transformação dos dispositivos da declaração em força juridicamente vinculante e obrigatória. São eles: “Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais.” (PIOVESAN, 2013, p. 232).

Nesse sentido, destaca Piovesan (2013, p.464), que o sistema internacional de proteção aos direitos humanos é constituído de um modelo global, e outro regional, ambos formados por tratados, convenções, recomendações, etc.

O Sistema Global de proteção dos direitos humanos tem como fonte normativa imediata a Carta das Nações Unidas de 1945, ao estabelecer que os Estados- partes devem promover a proteção dos direitos humanos e das liberdades fundamentais. A referida Carta é formada por tratados internacionais que refletem a consciência ética contemporânea, na medida em que invoca o consenso internacional acerca de temas centrais dos Direitos Humanos (PIOVESAN, 2013, p. 233).

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Ao lado dos Sistemas Globais de proteção foram constituídos no Ocidente Sistemas Regionais de proteção, sendo o europeu e o interamericano os que mais evoluíram desde então.

Nessa visão explana Fernando G. Jayme (2005, p. 64):

O sistema interamericano de promoção e proteção dos direitos fundamentais do homem teve seu início formal em 1948, com a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem, aprovada pela IX Conferência Internacional Americana, em Bogotá. Nesta Conferência, também foi criada a Organização dos Estados Americanos, cuja Carta proclama os “direitos fundamentais da pessoa humana” como um dos princípios fundamentais da Organização. A forma de concretização deste princípio encontra-se definida no documento constituinte, mediante o reconhecimento de que “as finalidades do Estado não se cumprem apenas com o reconhecimento dos direitos do cidadão”, mais também “com a preocupação pelo destino dos homens e das mulheres, considerados como não cidadãos, mas como pessoas”; conseqüentemente, deve-se garantir “simultaneamente tanto o respeito às liberdades políticas e do espírito, como a realização dos postulados da justiça social”.

A política nacional de direitos humanos começou a ser desenvolvida no Brasil a partir de 1985, com o fim do regime militar autoritário, onde reinava a violência arbitrária e o desrespeito às garantias individuais. Impulsionado, ainda, pela Constituição Federal de 1988, onde consagra os princípios da prevalência dos Direitos Humanos e da dignidade da pessoa humana, dessa forma, o Brasil é inserido no cenário de proteção internacional dos Direitos do Homem (PIOVESAN, 2013, p. 369).

De acordo com Piovesan (2013, p. 371), o fim da Guerra Fria possibilitou a criação de um novo cenário para a efetivação e, afirmação dos Direitos Humanos. Como avalia Louis Henkin, citado pela mesma autora:

O fim da Guerra Fria abriu oportunidades para preencher lacunas e suprir deficiências, no que tange à concepção e conteúdo dos direitos humanos, desenvolvidos no século passado, quando profundas diferenças ideológicas impossibilitavam, por vezes, o alcance do consenso. O fim da Guerra Fria trouxe esperança ao persuadir os governos a fortalecer seu comprometimento para com os parâmetros da Declaração Universal dos direitos humanos, aderindo a pactos ou convenções até então recusados, e a abandonar reservas que esvaziavam o conteúdo dos instrumentos ratificados.

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A partir de então o Brasil vem aos poucos ratificando vários tratados internacionais de proteção aos direitos humanos. Com isso, o País já é signatário de importantes tratados de direitos humanos, como destaca Piovesan (2013, p. 375), sendo que, iniciou-se com a validação em 1° de fevereiro de 1984, da Convenção sobre a eliminação de todas as formas de Discriminação contra a mulher.

Assim, a partir da Carta Constitucional de 1988, importantes tratados internacionais de direitos humanos foram ratificados pelo Brasil. Dentre eles destaca-se as seguintes ratificações:

a) da Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura, em 20 de julho de 1989; b) da Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes, em 28 de setembro de 1989; c) da Convenção sobre os Direitos da Criança, em 24 de setembro de 1990; d) do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, em 24 de janeiro de 1992; e) do Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, em 24 de janeiro de 1992; f) da Convenção Americana de Direitos Humanos, em 25 de setembro de 1992; g) da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, em 27 de novembro de 1995; h) do Protocolo à Convenção Americana referente à Abolição da Pena de Morte, em 13 de agosto de 1996; i) do Protocolo à Convenção Americana referente aos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (Protocolo de San Salvador), em 21 de agosto de 1996; j) da Convenção Interamericana para Eliminação de todas as formas de Discriminação contra Pessoas Portadoras de Deficiência, em 15 de agosto de 2001; k) do Estatuto de Roma, que cria o Tribunal Penal Internacional, em 20 de junho de 2002; l) do Protocolo Facultativo à Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação contra a Mulher, em 28 de junho de 2002; m) do Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos da Criança sobre o Envolvimento de Crianças em Conflitos Armados, em 27 de janeiro de 2004; n) do ProtocoloFacultativo à Convenção sobre os Direitos da Criança sobre Venda, Prostituição e PornografiaInfantis, também em 27 de janeiro de 2004; e o) do Protocolo Facultativo à Convenção contra a Tortura, em 11 de janeiro de 2007; p) da Convenção sobre os Direitod das pessoas com Deficiências e seu Protocolo facultativo, em 1° de agosto de 2008; q) do Protocolo Facultativo ao Pacto Internacional dos Direitos Civís e Políticos, bem como do segundo Protocolo ao mesmo Pacto visando à abolição da Pena de Morte, em 25 de Setembro de 2009; e r) da Convenção internacional para a proteção de todas as pessoas contra o desaparecimento forçado, em 29 de novembro de 2010.

Entendemos ser de extrema inteligência e, demonstra preocupação para com seus cidadãos, a posição adotada pelo Brasil ao aderir aos mecanismos e instrumentos internacionais de direitos humanos. Esse esforço reflete uma imagem mais positiva do país no

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contexto internacional, simbolizando, dessa maneira, o seu aceite para com a ideia contemporânea de globalização dos direitos humanos (PIOVESAN, 2013, p. 377).

No decorrer do capítulo podemos acompanhar o momento histórico em que os Direitos Humanos começaram a fazer parte da história do homem enquanto ser social, assim como, o nascimento das gerações de direitos surgidas após a Revolução Francesa. Ainda, compreender o Sistema Internacional de Direitos humanos, sua organização e, de que forma se dá a participação do Brasil neste sistema.

No próximo capítulo analisaremos de que forma os movimentos sociais auxiliaram para a conquista e ampliação dos direitos humanos, em particular os ocorridos no Brasil no conturbado período de Ditadura.

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2 MOVIMENTOS POR DIREITOS HUMANOS NO BRASÍL: UMA ANÁLISE A PARTIR DA ABERTURA DEMOCRÁTICA

O presente capítulo, primeiramente, é uma retomada Histórica dos Movimentos Sociais de um modo geral, tendo como paradigma os chamados Movimentos Clássicos, o modo como se organizavam e suas teorias. Ainda, o conceito utilizado por alguns doutrinadores para definir esses movimentos.

Em seguida, então, far-se-a uma reflexão dos Movimentos Sociais ocorridos na América Latina, tendo como paradigma os Movimentos verificados na Europa e Estados Unidos. Desta forma, analisaremos, portanto, os Movimentos ocorridos no Brasil e de que forma eles se organizaram. Tendo em vista, sempre, a contribuição efetiva para o desenvolvimento dos Direitos Humanos.

Ainda, investigar de que forma os Movimentos Sociais ocorridos nas décadas de 70 e 80 contribuíram para a retomada do processo democrático no Brasil depois de um duro golpe Militar ocorrido no País em 1964.

Verificam-se, também, os avanços dos Direitos Humanos após o período de Ditadura que foram verdadeiras conquistas dos Movimentos Sociais.

2.1 Os movimentos sociais no Brasil: aspectos históricos

Antes de analisar os Movimentos Sociais ocorridos no Brasil faz-se necessário uma retomada histórica mais globalizada, verificando suas raízes, conceitos, teorias, correntes doutrinárias, para que, então, com essa bagagem de conhecimento possamos partir para uma investigação interna.

Assim sendo, segundo Maria da Glória Gohn (2012, p. 20), um dos pioneiros a utilizar o termo “movimentos sociais” foi Lorenz Von Stein em 1842, atribuindo ao termo o sentido de uma luta contra determinada situação. Pois, os primeiros estudos realizados tendo como objeto as ações sociais coletivas similares aos movimentos sociais da atualidade eram tidos como distúrbios populares.

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Destacamos que não há uma definição única e universalizante para representar os Movimentos Sociais, pois, a tarefa envolve vários fatores sociais, culturais e a época em que o conceito estaria inserido, ou seja, o conceito se modifica se adapta a cada sociedade.

Compreendemos, no entanto, que os Movimentos Sociais carregam um forte desejo de transformação que pode ser, ou ocorrer, de forma parcial voltada para apenas um grupo específico de manifestantes e a satisfação de seus anseios ou, podem também, transformar todo um sistema vigente, ganhando assim, caráter revolucionário.

Importante contribuição nesse sentido é feita por Gohn (1995, p. 44), para teorizar os movimentos sociais de forma que mais se aproxime do nosso objetivo:

Ações coletivas de caráter sociopolítico, construídas por atores sociais pertencentes a diferentes classes e camadas sociais. Eles politizam suas demandas e criam um campo político de força social na sociedade civil. Suas ações estruturam-se a partir de repertórios criados sobre temas e problemas em situações de: conflitos, litígios e disputas. As ações desenvolvem um processo social e político-cultural que cria uma identidade coletiva ao movimento, a partir de interesses em comum. Esta identidade decorre da força do princípio da solidariedade e é construída a partir da base referencial de valores culturais e políticos compartilhados pelo grupo.

Destaca Gohn (2012, p. 27), existir três correntes teóricas a respeito dos movimentos sociais: “a histórico-estrutural, a culturalista-identitária e a institucional/organizacional-comportamental.”

A primeira, tido como “clássica” tem suas fontes teóricas a partir de autores como Marx, Gramsci, Lenin e outros. Sua abordagem até os anos de 1950 retratam o movimento social inserido em lutas de classes e subordinados, ligados aos meios de produção, conhecidos também, como movimentos operários, em suas lutas contra o sistema capitalista de produção.

A segunda corrente teórica, a “culturalista-identitária”, sofreu várias influências, como destaca Gohn (2012, p, 29):

[...] influencias que abarcam o idealismo kantiano, o romantismo rousseauniano, as teorias utópicas e libertárias do século XIX, o individualismo nietzschiano, a abordagem da fenomenologia e as teorias da sociologia weberiana, a escola de Frankfurt e teoria crítica de forma geral. Hegel é também fonte de inspiração [...] Outros autores que também

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influenciaram a produção teórica culturalista-identitária foram Foucault nos anos 60-70, Habermas, Bobbio, Arendt e Giddens nos anos 1980, e Bourdieu com suas análises sobre os processos de dominação e a interiorização de estruturas objetivas nas práticas dos indivíduos por meio do Habitus.

Destaca-se que essa corrente introduzirá em cena os chamados “Novos Movimentos Sociais”, ao descrever que as novas ações abrem espaços sociais e culturais para sujeitos e temáticas que antes não apareciam no cenário clássico, e que, não tinham visibilidade, como é o caso dos índios, negros, mulheres, jovens, etc.

A terceira corrente doutrinária denominada de “institucional/organizacional-comportamentalista”, tem raízes nas teorias liberais dos séculos XVII e XVIII, de Adam Smith, John Locke e J. S. Mill, entre outros. Essa teoria se desenvolveu basicamente nos Estados Unidos, porém, possui muitos adeptos na Europa.

Como elementos que constituem os movimentos sociais tomamos como base os ensinamentos de Touraine, citado por Annes Viola (2008, p. 31), que destaca serem:

[...] a identidade, ou seja, a defesa aos direitos adquiridos contra as diferentes formas de dominação; os oponentes ou adversários, que podem estar representados tanto pelo Estado quanto pelo Mercado ; e a dimensão metassocietal, ligada ao apelo em defesa da liberdade e da cultura.

Percebe-se, portanto, que os Movimentos Sociais “clássicos”, centrados nos conflitos de base econômica, giravam em torno da luta pelo poder político, associados à idéia de revolução, como movimentos ligados aos sindicatos, ou seja, ligados ao mundo do trabalho faziam uso da greve para obter benefícios em suas negociações.

Quanto aos Movimentos Sociais no Brasil, podemos dizer que eles remontam a história da escravidão como marco inicial, reconhecido por todos os historiadores brasileiros. Os quilombos foram, justamente, a expressão marcante da luta por direito e por justiça, uma vez que sofreram uma das fases mais terríveis da nossa história, que foi a existência da escravidão humana.

Os Quilombos eram formados, e organizavam-se para receber escravos que fugiam dos engenhos onde viviam e trabalhavam, além de atraírem brancos pobres, indígenas e caboclos, motivados pela perspectiva de uma vida melhor (BRITO, 2005).

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Outro movimento social inspirado nos valores liberais foram os abolicionistas, formados por uma elite minoritária, de cunho político e social, lutou pelo fim da escravidão no Brasil, e que contou com a participação de políticos, advogados, médicos, jornalistas, artistas, estudantes, etc. Sua grande conquista foi a Lei do ventre Livre (1871), Lei dos Sexagenários (1885) e a Lei Áurea (1888).

No final do período imperial e primeiros anos da República, temos os chamados “Movimentos Messiânicos”, geralmente conduzidos por líderes religiosos, com forte apelo político e formado fundamentalmente por camponeses pobres. Podemos destacar, entre esses, a revolta do Contestado no Paraná, de Canudos na Bahia, de Caldeirão no Ceará. Lutavam contra a opressão e a miséria que assolava o povo, todos foram fortemente reprimidos com sangrentas lutas e muitas mortes por parte dos revoltosos.

Praticamente durante todo o século XX os movimentos sociais ainda estavam organizados em torno dos Sindicatos. A classe operária oprimida pelas contradições do Capitalismo buscava constantemente melhorias nos setores e nas condições de trabalho além, do forte apelo político do movimento, existia a intenção de derrubar o sistema de governo capitalista.

Notamos que os movimentos sociais ligados aos direitos humanos tiveram um papel importantíssimo na redemocratização política do país. Segundo Solon Eduardo Annes Viola (2008).

Desde a Ditadura Militar, os movimentos sociais trazem conquistas para a sociedade, mesmo que estas ainda não sejam suficientes. “Os direitos civis e políticos foram conquistas do movimento social em luta contra o autoritarismo militar. A redemocratização insere-se como uma conquista dos movimentos. [...] desde as primeiras resistências ao estado autoritário no combate às violações da privacidade e da cidadania. Posteriormente, lutaram pela anistia de exilados e perseguidos políticos, em defesa da livre manifestação de pensamento, pelas eleições diretas e pela constituinte soberana. Ao longo do período de abertura política, produziram um universo intenso de lutas contra a carestia, em defesa da reforma agrária e de moradia digna. Estas últimas são questões não resolvidas e se fazem presentes na atual estrutura, mesmo que esta não favoreça a participação mais efetiva dos movimentos sociais.

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Uma novidade nos movimentos sociais na atualidade, segundo Maria da Glória Gohn (2010, p. 12), é a sua organização em “redes” sociais e temáticas compostas por associações comunitárias, fóruns, conselhos, câmaras, assembleias e, que podem ser agrupadas em três grandes blocos:

1) Os movimentos e ações de grupos identitários que lutam por direitos: sociais, econômicos, políticos, e, mais recentemente, culturais.

2) Movimentos e organizações de luta por melhores condições de vida e de trabalho, no urbano e no rural, que demandam acesso e condições para – terra, moradia, alimentação, saúde, transportes, lazer, emprego, salário etc. 3) Os movimentos globais ou globalizantes como o Fórum Social Mundial. São lutas que atuam em redes sociopolíticas e culturais, via fóruns, plenárias, colegiados, conselhos etc. (GOHN, 2010, p. 13).

A intenção dessa articulação em redes temáticas como nos esclarece Ilse Scherer-Warren (2004), é aproximar atores sociais diversificados que tenham uma mesma identidade social, tanto a nível local quanto global, a fim de ganhar visibilidade, ou seja, impressionar, causar maior impacto frente as reivindicações na esfera pública. Como exemplo na luta pelos direitos humanos em face da exclusão social, podemos destacar além de outras redes de organização o Fórum Social Mundial.

Destacamos, também, que no cenário da América Latina ocorreram mudanças significativas, com alguns países vizinhos, uma delas é a retomada das lutas dos indígenas no que se refere as ações coletivas de lutas e movimentos sociais frente a colonização Europeia. Vários desses movimentos inclusive elegeram como representantes de suas nações lideres provenientes dos movimentos populares, que agora lutam pela ampliação de seus direitos, reconhecimento de suas culturas, alfabetização da língua primitiva, assim como, a distribuição de terras em território de seus ancestrais.

Segundo Negri e Cocco, citado por Gohn (2008, p. 59);

Os novos movimentos, dos quais Evo [Morales] é a expressão, não só renovaram as lutas a favor do controle público do fogo, da água e da terra, dando nova força aos tradicionais projetos de “independência” nacional e desenvolvimento, mas foram eles mesmos fato inovador, que mostrou sujeitos de tipo novo, em particular a multiplicidade das comunidades indígenas.

(35)

Portanto, depois dessa retomada histórica dos Movimentos sociais passaremos para o próximo item, com o intuito de verificarmos na prática os resultados dos movimentos sociais quanto aos avanços na conquista e ampliação dos direitos humanos no Brasil.

2.2 Direitos Humanos e a sua conquista por meio dos movimentos sociais

Compreendemos que os direitos humanos é uma construção que vem ocorrendo ao longo dos anos através dos movimentos sociais, como um produto das lutas contra as diversas formas de governos autoritários. Sempre que a sociedade se depara com algum tipo de injustiça ou, oprimida de alguma forma, ela se acha no direito de rebelar-se contra seus opressores; contra formas arbitrárias de governos.

Nesse sentido podemos acompanhar o comentário de Annes Viola (2008, p.19):

O direito da sociedade de reagir às diferentes formas de opressão recolocou a questão dos direitos humanos no centro dos debates políticos da modernidade, a cada período mais intenso de tirania, absolutismo, fascismo e ditadura, a humanidade construiu movimentos de rebelião que propunham a recuperação das lutas em defesa dos direitos humanos. Sempre que vitoriosos, esses movimentos proclamaram seus compromissos com os princípios clássicos da liberdade, da igualdade e dos valores comprometidos com as múltiplas formas de fraternidades.

O que ocorre é que as promessas feitas à população quando não cumpridas, não efetivadas, ou ainda, quando reivindicadas e não acolhidas, tornam-se aspirações para manifestações seja de cunho político ou social. Ou seja, a sociedade civil é o palco de origem para os clamores e anseios por justiça social, portanto, a organização em defesa dos direitos humanos foi a resposta encontrada para enfrentar esses abusos, demonstrando assim, caráter coletivo e universal, uma vez que muitos se beneficiam com os resultados.

A perversa situação que se instalou no país no período de 1964-1985 corresponde à fase de grande repressão na sociedade brasileira, imposta pelo regime militar. A Ditadura sufocou e desmobilizou os movimentos sociais a ponto de quase instaurar a total descrença pela política, assim mesmo as lutas persistiam e ocorriam vários movimentos de protestos pelo país, o povo se sentia acuado e desamparado, ansiando por mudanças.

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Os anos 1970 foram de pouca atuação já que a maioria dos movimentos sociais agia na clandestinidade, os poucos que ocorreram procuravam satisfazer as necessidades mínimas de sobrevivência da população pobre. Ainda assim, a década ficou marcada pelo ressurgimento dos movimentos sociais na conjuntura política brasileira. Através dos setores populares, os movimentos que surgiram reivindicavam creches, habitação, transporte, postos de saúde e melhorias em favelas, reflexo da péssima situação econômica sofrida pelo Brasil durante o período do Regime Militar. (GOHN, 1995, p. 104).

A década de 1980 ficou marcada pelo movimento pelas “Diretas Já”, como ficou conhecido, as pessoas queriam de volta o direito de participar da vida política do pais, ou seja, direitos referentes a segunda geração, vistos anteriormente e que foram tolhidos pela Ditadura. O povo queria de volta o direito de poder escolher o Presidente do País pelo voto direto, com isso, o movimento ficou conhecido como um dos maiores movimentos de massa do país. E, em 1985 ocorre o retorno do Poder Civil, culminando com uma nova Constituição em 1988 e as eleições diretas para presidente em 1989.

Notamos que os Movimentos Sociais depois do período de Ditadura, ou seja, a partir de 1985, também conhecido como período de redemocratização do país, sofreram algumas mudanças significativas quanto a sua organização. Os sindicatos e os partidos políticos já não eram mais os elementos de transformação que foram no século XIX e XX, representando os operários nas lutas por melhores condições de trabalho, o foco do movimento agora é outro, como veremos adiante, com isso, entra em cena as ONGs um sujeito novo em meio as reivindicações.

A Organização das Nações Unidas as definem como “entidades civis sem fins lucrativos, de direito privado, que realizam trabalhos em benefício de uma coletividade”. Porém, na década de 1960, elas eram utilizadas como uma espécie de “assessoria” aos movimentos sociais realizados na clandestinidade. As ONGs proporcionavam um ambiente de discussão sobre temas relativos às “etnias, gêneros, crianças e adolescentes; ao meio ambiente, às questões urbanas e rurais; à comunicação, à educação, aos direitos humanos” mas, não se comprometiam com a direção política dos movimentos sociais (ADILSON CABRAL, 2014).

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