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Matriciamento em saúde mental: relato de experiência

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

JOHN CHRISTOPHE KAWLYN ANDRADE DA SILVA

MATRICIAMENTO EM SAÚDE MENTAL: RELATO DE EXPERIÊNCIA

FLORIANÓPOLIS (SC) 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

JOHN CHRISTOPHE KAWLYN ANDRADE DA SILVA

MATRICIAMENTO EM SAÚDE MENTAL: RELATO DE EXPERIÊNCIA

Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Linhas de Cuidado em Enfermagem – Área de Atenção Psicossocial do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista.

Profa. Orientadora: Jussara Gue Martini

FLORIANÓPOLIS (SC) 2014

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FOLHA DE APROVAÇÃO

O trabalho intitulado MATRICIAMENTO EM SAÚDE MENTAL: RELATO DE EXPERIÊNCIA de autoria do aluno JOHN CHRISTOPHE KAWLYN ANDRADE DA SILVA foi examinado e avaliado pela banca avaliadora, sendo considerado ___________no Curso de Especialização em Linhas de Cuidado em Enfermagem – Área de Atenção Psicossocial.

_____________________________________ Profa. Dra. Jussara Gue Martini

Orientadora da Monografia

_____________________________________ Profa. Dra. Vânia Marli Schubert Backes

Coordenadora do Curso

_____________________________________ Profa. Dra. Flávia Regina Souza Ramos

Coordenadora de Monografia

FLORIANÓPOLIS (SC) 2014

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Dedico este trabalho a minha mãe querida grande

incentivadora do meu sucesso, á minha família e amigos

que tanto me apoiaram.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que me deram a oportunidade de realizar este curso, especialmente a Deus, minha mãe, meus irmãos e familiares, pois sempre estiveram ao meu lado neste processo. Também agradeço aos meus amigos do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), que me deram todo apoio, em especial a Selene e Caroline.

Um agradecimento muito especial à professora Jussara Gue Martini por toda paciência e tempo dispensados para auxiliar na conclusão deste trabalho

Não posso deixar de agradecer a minha amiga Ecilda, pois em nenhum momento deixou que eu desistisse desta caminhada e a minha querida amiga Elisama por ter feito minha inscrição no processo seletivo.

Por fim agradeço, também, aos professores pelo incentivo para concluir esta formação, a qual será de grande importância na minha vida profissional, permitindo um novo percurso em minha trajetória nesta vida, que poderá ser muito prazerosa a todos que me cercam.

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RESUMO

Com o intuito de fornecer apoio às Unidades Básicas de Saúde e tendo em vista sua corresponsabilidade no atendimento ao portador de transtorno mental, o Ministério da Saúde desenvolveu o Projeto de Matriciamento. Ele propicia aos profissionais de saúde a possibilidade de discussões e intervenções junto às famílias e comunidades, em atendimentos conjuntos e também na forma de supervisão e capacitação compartilhada entre as equipes dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), visando o melhor atendimento ao indivíduo portador de transtorno mental nos serviços de saúde. Neste artigo apresenta-se um relato de intervenção realizado pelo CAPS. Trata-se de uma atividade realizada em duas etapas, a primeira, uma pesquisa bibliográfica e a segunda uma pesquisa de campo, de caráter qualitativo. Relata a experiência da equipe multiprofissional do CAPS do município de Recife-PE, no desenvolvimento da ação de matriciamento com as equipes da ESF de Alto dos Coqueiros, no Córrego da Jaqueira, Linha do Tiro, Recife-PE, no acompanhamento de um usuário com história de internações psiquiátricas.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...07

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA...09

2.1 SUS – os caminhos percorridos e os desafios atuais...09

2.2 Matriciamento...09

2.3 Matriciamento na Atenção Básica...11

2.4 Centro Atenção Psicossocial (CAPS)...11

2.5 O papel do Enfermeiro na Saúde Mental...12

3 MÉTODO...13

4 RESULTADO E ANÁLISE...14

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...16

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1 INTRODUÇÃO

O acesso aos serviços de saúde deve ser universal e gratuito em todos os níveis de assistência e complexidade: todos possuem o direito de utilizar os serviços de prevenção, proteção e promoção de saúde de baixa, media e alta complexidades. Os recursos necessários ao paciente em seu tratamento devem estar disponíveis em todos os tipos de complexidade. Isto caracteriza o princípio de integralidade e diz respeito ao conjunto articulado e contínuo de ações e serviços individuais e coletivos, demandados caso a caso nos três níveis de atenção: primário secundário e terciário (BRASIL, 2003).

No contexto da atual Reforma Psiquiátrica brasileira, é de fundamental importância a implementação e a consolidação do apoio matricial como também de eixos norteadores para esse arranjo institucional, que separem as funções das equipes dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e das equipes matriciadoras, compartilhando a responsabilidade pelos casos. Ambas as equipes são importantes no atual contexto da reforma, possibilitando a inclusão do usuário do serviço em saúde mental na família e na comunidade, permitindo a desinstitucionalização, à medida que impossibilitam internações arbitrárias (AMARANTE, 1998).

Segundo Chiaverini (2011), o matriciamento deve proporcionar a retaguarda especializada da assistência, assim como um suporte técnico-pedagógico, um vínculo interpessoal e o apoio institucional no processo de construção coletiva de projetos terapêuticos junto à população. Assim, também se diferencia da supervisão, pois o matriciador pode participar ativamente do projeto terapêutico. O matriciamento constitui-se numa ferramenta de transformação, não só do processo de saúde e doença, mas de toda a realidade das equipes e comunidades.

Além da articulação da rede de atenção à saúde mental são também funções do CAPS dar suporte; discutir e intervir conjuntamente; supervisionar e capacitar as unidades de atenção básica e a Estratégia de Saúde da Família (ESF), no atendimento às necessidades em saúde mental; propiciando a corresponsabilização dos casos existentes e aumentando a capacidade resolutiva de problemas de saúde mental pelas equipes locais. Também é função do CAPS apoiar ESF/NASF/SAMU com relação às questões de acompanhamento dos casos de transtorno mental da área; acompanhamento e monitorização dos casos de transtorno mental que estão estabilizados ou tiveram alta dos CAPS; bem como realizar reuniões com a comunidade para discussão dos casos de transtorno e capacitações das equipes de ESF

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principalmente os Agtentes comunitários de Saúde (ACS) que estão em contato mais direto com as famílias.

Esse trabalho tem como objetivo relatar a experiência da equipe multiprofissional do CAPS do município de Recife-PE, no desenvolvimento da ação de matriciamento com as equipes da ESF de Alto dos Coqueiros, no Córrego da Jaqueira, Linha do Tiro, Recife-PE. Inicialmente, trata-se de uma revisão bibliográfica sobre pontos importantes no eixo do tema escolhido. Logo após, a metodologia escolhida para realização deste trabalho. Em seguida, o resultado e as considerações sobre o acompanhamento desta ação.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 SUS – os caminhos percorridos e os desafios atuais

O Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado pela Constituição Federal de 1988 e regulamentado pelas Leis Orgânicas da Saúde, Leis nº 8080/90 e 8142/90, tendo como finalidade alterar a situação de desigualdade na assistência à Saúde da população brasileira, tornando obrigatório o atendimento público de qualquer cidadão. O SUS é destinado a todos os cidadãos e é financiado com recursos arrecadados através de impostos e contribuições sociais pagos pela população e compõem os recursos do governo federal, estadual e municipal (BRASIL, 2003).

Através do Sistema Único de Saúde, todos os cidadãos têm direito a consultas, exames, internações e tratamentos nas esferas municipal, estadual e federal, sejam públicas ou privadas (neste último caso são contratadas pelo gestor público de saúde). É composto pelas unidades básicas de saúde, hospitais (incluindo os universitários), laboratórios, hemocentros e bancos de sangue, além de fundações e institutos de pesquisa (BRASIL, 1990).

O SUS envolve direitos e deveres, de todos: usuários, gestores, profissionais da saúde, funcionários da rede de saúde, bem como do próprio Ministério da Saúde. Vale destacar ainda os direitos do usuário, que Silva e Serralvo (2009) tão bem resumiram:

É direito dos cidadãos atendimento acolhedor na rede de serviços de saúde, de forma humanizada, livre de qualquer discriminação, restrição ou negação em função de idade, raça, cor, etnia, orientação sexual, identidade de gênero, características genéticas, condições econômicas ou sociais, estado de saúde, ser portador de patologia ou pessoa vivendo com deficiência. (p.23).

Atualmente, o maior desafio do SUS é a abrangência do sistema e suas vertentes. Pois até o momento, não há uma cobertura total no país. Nem todos os brasileiros conseguem ser atendidos, fazendo com que sempre precise melhorar, e desta forma surgem os programas que complementam o SUS.

2.2 Matriciamento

Matriciamento ou apoio matricial é um novo modo de produzir saúde em que duas ou mais equipes, num processo de construção compartilhada, criam uma proposta de intervenção pedagógico-terapêutica. No processo de integração da saúde mental à atenção primária na

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realidade brasileira, esse novo modelo tem sido o norteador das experiências implementadas em diversos municípios, ao longo dos últimos anos.

Para Campos e Domitti (2007), matriciamento refere-se a uma metodologia de trabalho que tem por objetivo a retaguarda de uma equipe especializada, capaz de oferecer tanto suporte técnico-pedagógico, quanto assistencial. Tal apoio depende da "construção compartilhada de diretrizes clínicas e sanitárias" (Campos e Domitti, 2007. p.400) entre os componentes da equipe de apoio e a equipe de referência.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), as perturbações mentais, juntamente com as perturbações comportamentais acometem mais de 25% da população mundial em algum momento da vida. Dos transtornos mentais mais frequentes no mundo, seis encontram-se dentre as vinte principais causas de internamento: transtornos depressivos, os relacionados ao uso de álcool, esquizofrenia, transtorno bipolar, doença de Alzheimer e outras demências. Estes transtornos exercem impactos econômicos sobre a sociedade e sobre o padrão de vida das pessoas (BRASIL, 2005).

Tradicionalmente, os sistemas de saúde se organizam de uma forma vertical, com uma diferença de autoridade entre quem encaminha um caso e quem o recebe, havendo uma transferência de responsabilidade ao encaminhar. A nova proposta integradora visa transformar a lógica tradicional dos sistemas de saúde: encaminhamentos, referências, protocolos e centros de regulação. Os efeitos burocráticos e pouco dinâmicos dessa lógica tradicional podem vir a ser atenuados por ações horizontais que integrem os componentes e seus saberes nos diferentes níveis assistenciais (FIGUEIREDO 2006).

Assim ocorre o processo de matriciamento, o sistema de saúde se modificou e hoje é dividido em dois tipos de equipes: equipe de referência e equipe de apoio matricial. Na situação específica do Sistema Único de Saúde, as equipes da Estratégia de Saúde da Família (ESF) funcionam como equipes de referência, interdisciplinares. E a equipe de apoio matricial, no caso específico do guia prático organizado por Chiaverini (2011), é a equipe de saúde mental.

Segundo Campos e Domitti (2007, p. 400), a relação entre essas duas equipes constitui um novo arranjo do sistema de saúde: apoio matricial e equipe de referência são, ao mesmo tempo, arranjos organizacionais e uma metodologia para gestão do trabalho em saúde, objetivando ampliar as possibilidades de realizar-se clínica ampliada e integração dialógica entre distintas especialidades e profissões.

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2.3 Matriciamento na Atenção Básica

O matriciamento constitui-se numa ferramenta de transformação, não só do processo de saúde e doença, mas de toda a realidade dessas equipes e comunidades. O trabalho na atenção básica é realizado em equipes e está voltado para a resolução dos problemas de saúde mais frequentes e relevantes no território, onde o indivíduo é tomado em sua singularidade e complexidade.

De acordo com os princípios do SUS, a Saúde da Família é a estratégia prioritária para a organização da atenção primária. Ao eleger o núcleo familiar como foco principal das ações, este se tornou o modelo mais adequado, no momento, às necessidades do sistema de saúde brasileiro.

“Neste sentido, a Política de Saúde Mental (2003) e a Política Nacional de Humanização do Ministério da Saúde (2004) preconizam o Apoio Matricial como dispositivo de intervenção junto à Atenção Básica, pautado pela noção de território, intersetorialidade, integralidade, considerando o trabalho organizado pelo princípio de responsabilidade compartilhada entre a equipe de referência e serviços especializados, e o estabelecimento da continuidade na atenção em saúde. A experiência do Apoio Matricial reorganiza o atendimento em saúde mental a partir da rede básica, modificando a maneira de trabalhar o sofrimento psíquico na atenção básica, bem como estimulando a integração da rede.” (SILVA et al, 2010, p. 1)

2.4 Centro de Atenção Psicossocial (CAPS)

O primeiro CAPS do Brasil surge em 1987 no município de São Paulo. Oficialmente criados a partir da Portaria GM 224/92, os CAPS integram a rede do Sistema Único de Saúde - SUS e são regulamentados pela Portaria nº 336/GM de 19 de fevereiro de 2002. Atualmente, o país tem direcionado suas políticas de saúde mental para serviços como o CAPS, de natureza comunitária e territorializada, totalizando 1541 unidades por todo o território nacional, em 2010 (MOURA, 2011).

Os CAPS são dispositivos de promoção integral da saúde dos portadores de transtorno mental severo e persistente. Devem articular-se permanentemente à rede de serviços de saúde do território, assim como às demais redes sociais de setores afins, frente à complexidade das demandas de inclusão social de sua clientela. Seu objetivo é prestar atendimento às pessoas com transtornos mentais em sua área de abrangência, através de acompanhamento clínico e reinserção social pelo lazer, trabalho e fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários. Diferentes atividades terapêuticas podem ser desenvolvidas, além do uso de medicamentos e consultas (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004).

Além da importância da equipe técnica do CAPS, o Ministério da Saúde aponta o trabalho de criação de projetos terapêuticos e comunitários pela equipe como uma das

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variáveis fundamentais para a duração do tratamento e a permanência dos usuários nos atendimentos dos CAPS. Este novo modelo de atenção busca a integralidade da assistência e fundamenta-se nos princípios do SUS.

2.5 O papel do Enfermeiro na Saúde Mental

A Inglaterra é o palco principal do surgimento da enfermagem profissional moderna. O trabalho de enfermagem ou das “criadas de enfermaria” era comparável ao trabalho doméstico e, consequentemente, com baixa remuneração. Ao passar dos anos, o objeto do trabalho de enfermagem transformou-se, foi fragmentado e ficou um pouco mais complexo e por fim, mudou. Atualmente, o trabalho de enfermagem é integrante do trabalho coletivo em saúde, é especializado, dividido e hierarquizado entre auxiliares, técnicos e enfermeiros de acordo com a complexidade de concepção e execução.

“Sobre a especificidade do trabalho da enfermagem psiquiátrica, algumas autores apontam o fato de que a enfermagem desenvolvida nos hospícios não era do modelo Nightingale, mesmo após a disseminação deste modelo em vários países. Essa

clientela [os loucos] não foi objeto de interesse explícito para a enfermagem

moderna, nem na chamada Revolução Nightingale da Inglaterra vitoriana, abarrotada de hospícios, nem na implantação desse modelo no Brasil do século XX” (OLIVEIRA; ALESSI, 2003, p.335)

O momento atual do trabalho de enfermagem em saúde mental pode ser caracterizado pela transição entre uma prática de cuidado hospitalar que visava apenas à contenção do comportamento dos pacientes para a incorporação de princípios novos e desconhecidos, que tem como finalidade a prática interdisciplinar. É, portanto, um período crítico para a profissão, porem muito favorável para o conhecimento e análise do processo de trabalho nessa área. Quanto mais consciente de sua condição pessoal e social, de seu papel de trabalhador inserido num contexto social e de cidadão num sistema político, mais apto estará o enfermeiro para eleger instrumentos de trabalho que visem o resgate dessa mesma condição de sujeito-cidadão às pessoas com transtornos mentais (OLIVEIRA; ALESSI, 2003).

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3 MÉTODO

A pesquisa foi feita em duas fases. A primeira foi de cunho bibliográfico e a segunda uma pesquisa qualitativa. Para o referencial teórico, a abordagem se caracteriza por visar os aspectos práticos para o embasamento das assertivas e conclusões, onde é tomado como base o levantamento de informações encontradas na literatura especializada, tais como: trabalhos científicos, trabalhos monográficos (TCC, dissertações e teses), livros e revistas. As informações coletadas através da literatura foram articuladas a fim de estabelecer respostas às indagações vividas na prática profissional.

A pesquisa bibliográfica constitui uma parte da pesquisa descritiva ou experimental, quando tem por objetivo recolher informações e conhecimentos prévios acerca de um problema para o qual se procura resposta ou acerca de uma hipótese que se quer experimentar. Ela é parte obrigatória de qualquer trabalho científico, pois é por meio dela que se tem conhecimento da produção científica. Gil (1999) explica que a pesquisa bibliográfica é desenvolvida mediante material já elaborado, mas isso não deixa de ser um tipo de trabalho importante para o meio acadêmico. A pesquisa bibliográfica mostra a visão de vários autores sobre um mesmo tema, evidenciando os pontos positivos e os negativos e também onde concordam ou divergem.

Como técnica, a pesquisa bibliográfica compreende a leitura, seleção, fichamento e arquivo dos tópicos de interesse para a pesquisa em pauta, com vistas a conhecer as contribuições científicas que se efetuaram sobre determinado assunto (FERRARI, 1982).

Trata-se de uma pesquisa-ação, na qual o problema estudado é descrito e fundamentado em suas bases teórico-científicas, visando o relato de uma intervenção (THIOLLENT, 1986). Tem como finalidade interferir na realidade estudada, buscando modificá-la. Caracteriza-se pela estreita associação existente entre a pesquisa e a resolução de um problema coletivo com envolvimento ativo e cooperativo por parte do pesquisador e dos participantes da realidade estudada. O próprio pesquisador faz parte do ambiente investigado, participando da investigação, implantação, acompanhamento e avaliação dos resultados. A experiência relatada enfoca o desenvolvimento de uma ação de matriciamento realizada pela equipe multiprofissional do CAPS com as equipes da Unidade de Saúde da Família de Alto dos Coqueiros, no Córrego da Jaqueira, Linha do tiro, Recife- PE, no acompanhamento de um usuário, de 63 anos, masculino, com histórico de internações psiquiátricas prévias.

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4 RESULTADO E ANÁLISE

Diante de muitos casos que chegam ao CAPS, foi escolhido um que resultou de uma demanda do Ministério Público de Pernambuco, pois a sobrinha do paciente solicitou que o mesmo fosse internado para tratamento psiquiátrico, o que já tinha acontecido anteriormente. A seguir relato das intervenções desenvolvidas neste procedimento de matriciamento.

Paciente de nome VMDS, 63 anos, diabético. Há cerca de seis meses sem fazer uso da medicação para diabetes. Já passou por tratamento de tuberculose, chegando a concluí-lo. O paciente possui dependência química e distúrbios psiquiátricos. O usuário nunca foi acompanhado em CAPS, porem conta com diversos internamentos em hospital psiquiátrico. Após verificação dos sinais vitais, o paciente encontrava-se com pico hipertensivo, hiperglicêmico, desnutrido, desidratado, com edemas nos membros inferiores. O paciente falava palavras sem nexo e apresentava leve delírio. Não estava fazendo uso de medicação, pois parou por conta própria o uso da medicação psicotrópica e insulina.

A moradia esta localizada numa região pobre do subúrbio, onde as casas foram dadas pela prefeitura. Casas estas de alvenaria composta de 3 comodos sem ser rebocadas, piso grosso, com aspecto sujo com odor e higiene precária. O paciente escarra no chão, ele mesmo preparava sua alimentação. Na primeira visita domiciliar a equipe foi composta por uma psicóloga, uma terapeuta ocupacional, um enfermeiro e um técnico de enfermagem. O paciente recebeu a equipe sem resistência ao diálogo, entretanto relatou que não confia na família e em profissionais de saúde, pois da última vez foi internado contra a sua vontade, em abordagem policial. Nesta visita, a sobrinha estava presente, a mesma ajuda o paciente quando possível.

Após longa conversa explicativa de sua situação e o que a equipe de matriciamento poderia fazer para auxiliá-lo na melhoria de sua qualidade de vida. O paciente foi avaliado pelo médico do CAPS e a equipe terapeuta e enfermeiro resolveu volta para o CAPS e traçar um nova estratégia. Foi acordada uma nova visita uma semana após.

Na segunda visita domiciliar, a equipe foi composta apenas pela assistente social, o enfermeiro e o técnico de enfermagem. O paciente recebe-os bem, porem continuou se recusando a fazer uma visita ao CAPS. Ao voltar para o CAPS a equipe decidiu fazer uma terceira visita, no entanto com o auxílio da equipe da ESF.

Antes de iniciar a terceira visita domiciliar ao paciente foi realizada reunião no CAPS com os profissionais da equipe de ESF para discutir e definir o melhor projeto terapêutico

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para o acompanhamento do paciente. Nesta visita a equipe foi formada por médico, terapeuta ocupacional, enfermeiro e agente comunitário de saúde. Foi constatada a necessidade de ações clínicas. Neste momento, o médico relatou a incapacidade do paciente para iniciar o tratamento com psicotrópicos. Novamente o paciente foi avaliado pelo médico, a equipe terapeuta e enfermeiro do CAPS e resolveram traçar novas estratégias.

Já na quarta visita domiciliar, a equipe foi formada pelo terapeuta ocupacional, pelo enfermeiro e pelo médico. O paciente ainda se encontrava debilitado, desnutrido e desidratado, com hipertensão e foi encaminhado para o Hospital Evangelista para tratamento.

Depois de uma semana, o SAMU foi acionado pela equipe do CAPS e o paciente, mesmo com resistência, foi levado para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Nova Descoberta. Lá ele foi medicado e colocado em isolamento, pois havia a suspeita de tuberculose. Logo após constatar que o paciente não tinha tuberculose, ele recebeu as orientações necessárias para tratamento da hiperglicemia e hipertensão.

O paciente ficou sendo acompanhado pelos profissionais do CAPS e equipe da ESF. Na ESF foi orientado a fazer o exame do escarro seriado e a usar a medicação para hipertensão e diabetes. Iniciou tratamento com os medicamentos psicotrópicos, sob supervisão da equipe da ESF e familiares. O paciente não foi internado por falta de vaga em hospital especializado para tratamento de pacientes com transtornos mentais.

Depois de duas reuniões das equipes envolvidas foi realizada uma ultima visita domiciliar. As equipes presentes foram as do NASF 2 e 3, alem do médico, enfermeiro e terapeuta ocupacional. Esta visita teve como resultado reuniões marcadas com a família para futuro internamento, quando surgisse a vaga necessária. A sobrinha do paciente foi orientada para que tentasse fortalecer o vínculo afetivo com o paciente. Com relação às mudanças ficou mais abrangente a responsabilidade da equipe ESF com relação ao paciente e com a família, pois foi necessário buscar um maior vinculo social e afetivo entre partes. Com isso, mostra-se a importância do cuidado pessoal, valorizando o projeto terapêutico singular, com orientação sobre a importância do uso de medicações para que possamos fortalecer a atenção básica através de orientações e acompanhamento da família, fortalecendo as ações terapêuticas.

Ao final deste caso, observa-se que muitas são as dificuldades que uma equipe multiprofissional tem para a conclusão de um caso. Em relação ao processo de trabalho a alta demanda, especialmente, por atendimentos individualizados, de forma que os espaços de discussão coletiva vão sendo “engolidos” pela rotina do trabalho se coloca como um desafio para as equipes da ESF e do CAPS. Outra grande dificuldade para a organização e

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implementação da proposta do matriciamento é a falta de vagas em serviços de média e alta complexidade no momento necessário.

Contudo, existem pontos positivos que devem ser relatados, o principal deles no exercício do matriciamento é a motivação pessoal e institucional tanto de matriciar como de ser matriciado. Para isso, faz-se necessário uma postura humilde e aberta ao diálogo e às relações horizontais onde todos, independentemente da categoria profissional, são peças-chave para o sucesso da atividade. A vivência de experiências matriciais pode trazer à tona a importância de se utilizar de todos os momentos de encontro como espaços potenciais de criação de vínculos dos residentes com a equipe, de forma a se conhecer e se fazer conhecida.

Também é válida a mudança produzida em todos os envolvidos, mas principalmente do paciente. O mesmo melhorou o vínculo com a família e profissionais da área de saúde, pois ele compreendeu a importância da medicação.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente artigo buscou levantar elementos que devem ser considerados na tentativa de contribuir com o desafio de encontrar caminhos que possibilitem o auxilio nos estudos sobre o comportamento do profissional enfermeiro no momento do matriciamento. O profissional desta área, que realiza uma leitura e uma reflexão sobre tal tema, vivenciando e compartilhando suas vivencias, propiciará resultados, os quais podem ser amplamente aplicados nas possíveis áreas de atuação, oportunizando o pensamento reflexivo.

O enfermeiro, normalmente, assume com responsabilidade as ações delegadas, por vezes até mesmo não sendo obrigação sua realizá-las, acreditando que pode, individualmente, dar conta da problemática dos serviços de saúde. E necessário que o enfermeiro reflita sobre tais ações, buscando um trabalho mais multidisciplinar, no qual possa compartilhar as tomadas de decisões e suas consequências, compartilhando responsabilidades. Essa mudança provocaria o estabelecimento de relações mais horizontais entre os profissionais de saúde, dado que as relações estariam baseadas no respeito, interação e reconhecimento do trabalho do outro.

Com base nos resultados e nas discussões apresentadas pelo estudo, se pode concluir que o cuidado em saúde mental ultrapassa o saber científico e estruturado ofertado pelos profissionais de saúde que compõem a rede formal de cuidados, a qual é constituída pelos serviços nos três níveis de atenção. Sendo esse cuidado estruturado por uma trama de ações que acontecem nos serviços assistenciais de saúde e fora destes, no âmbito social e familiar. Concluísse, também, que diante do contexto da atual Reforma Psiquiátrica brasileira, é de fundamental importância a implementação e a consolidação do apoio matricial como também de eixos norteadores para esse arranjo institucional, que separem as funções das equipes dos CAPS e das equipes matriciadoras, almejando uma responsabilidade compartilhada pelos casos.

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REFERÊNCIAS

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FERRARI, A.T. Metodologia da pesquisa científica. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1982.

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Referências

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