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Introdução. Gerar vida sem sexualidade e viver. sem perceber que se está a gerar. Apenas uma instituição. a união sexual à procriação.

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Academic year: 2021

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A amplitude do conhecimento actual acerca da transmissão da vida alcança limites extraordinários. Existem já inúmeros me-canismos para evitar que surja a vida humana em consequência do amor conjugal dos esposos e, além disso, é tecnicamente pos-sível conceber uma vida em laboratório prescindindo de qual-quer comunhão íntima entre o homem e a mulher. É possível gerar vida sem sexualidade e viver a sexualidade conjugal sem a percepção de que se está a gerar vida. Esta situação é algo que cada dia se torna mais próximo do «normal», que é aceite como uma realidade que já não se questiona e se vive como algo que não chama a atenção.

Neste contexto, para muitos resulta estranha a posição da Igreja Católica, talvez a única instituição no mundo ocidental que ainda continua a afirmar a existência de um profundo vín-culo entre amor de comunhão (cuja expressão máxima é a união sexual dos cônjuges) e procriação (gestação de um filho, fruto por excelência da fecundidade). Esta posição, que correspon-de a uma correspon-determinada visão correspon-de homem, possui uma quota correspon-de verdade e sabedoria extraordinárias, mas é pouco difundida e praticamente desconhecida.

Gerar vida sem sexualidade e vi-ver a sexualida-de sem perceber que se está a ge-rar vida

Apenas uma ins-tituição vincula a união sexual à procriação.

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No entanto, através da nossa experiência clínica em torno do vínculo entre sexualidade e procriação pudemos confirmar o seguinte:

• O convite para conhecer, valorizar e respeitar a íntima união destes dois significados implica uma profunda compreensão da natureza humana;

• Devido ao desconhecimento imperante, uma das tarefas mais urgentes do nosso tempo, e destinada a enaltecer o homem, consiste em ajudá-lo a personalizar em todo o momento o acto mais pleno do amor conjugal. A se-paração destes dois aspectos, própria da manipulação reinante, acaba por desvirtuar a natureza do homem, rebaixando a sua dignidade e desintegrando a sua ca-pacidade para amar.

Frente a posturas tão opostas, a sociedade tende a consi-derar que a Igreja Católica está profundamente errada e pres-siona-a para que se actualize. Em momento algum se procura compreender a sua posição, e menos ainda pô-la à prática. Isso seria «impopular» e «pouco científico». A minha experiência, pelo contrário, tem sido procurar conhecer e entender as afirmações da Igreja, e depois experimentar a sua aplicação tanto no plano pessoal como nos planos profissional e pedagógico-pastoral. Deste modo pude convencer-me da sua veracidade. Conhecer e respeitar a natureza é algo bom em si mesmo, e nem só por-que a Igreja o ensina.

A este propósito, é interessante verificar que à medida que se conhece melhor todo o processo da concepção, o mundo científico valoriza cada vez mais os métodos naturais de regula-ção da fecundidade, métodos que se baseiam no conhecimento e no respeito pela fertilidade feminina. Além disso, por outro lado, constata-se que, por caminhos muito diversos, se começa a conhecer e a valorizar a abstinência e a fidelidade conjugal. O conhecimento da fertilidade e a prática da abstinência perió-dica constituem os dois pilares dos métodos naturais. É com eles que se pode construir um estilo de vida conjugal baseado numa

Essa separação desvirtua a natu-reza do homem. Conhecer e res-peitar a nature-za é algo bom em si mesmo. Reconhece-se o valor da absti-nência periódica e da fidelidade conjugal.

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complementação mútua que é própria de um amor esponsal projectado na fecundidade.

A opinião geral desconhece isto. Dia a dia, continua a au-mentar o abismo existente entre esta concepção, baseada na pessoa, e as formas de vida geradas pelo desenvolvimento tec-nológico. Esta dissociação afecta especialmente o amor conju-gal nos seus dois significados, na sua dimensão de comunhão interpessoal e no seu objectivo de transmitir vida. É por esse motivo que sinto a urgência de propor esta visão da pessoa hu-mana, do amor, da sexualidade, do casal e da família, uma vi-são que conheci de forma vital através da prática clínica e que estudei tendo em conta os ensinamentos da Igreja. Para mim é indubitável que o que aqui está em jogo é a concepção que cada um tem do homem. Aceitamos que o homem é sempre pessoa, inclusive do ponto de vista sexual-genital? O homem pode responsabilizar-se por todos os seus actos, incluindo as consequências de cada uma das suas relações sexuais? Em am-bos os casos, a minha resposta é afirmativa. Não só creio que é possível como estou convencido de que esta postura de vida traz consigo um efeito positivo e enaltecedor para toda a pessoa. Com ela, alcança-se a alegria de viver e uma felicidade verdadeira e duradoura, tanto para os que assumem essa responsabilidade como para aqueles que os rodeiam.

Geralmente, toda esta problemática é ignorada e não se explorou muita coisa nessa direcção. Por consequência, adoptar esta proposta parece algo difícil de alcançar. Mas isso não deveria invalidar o convite para perseguir uma realização plena da pes-soa, a qual pode ser alcançada mediante uma integração cons-trutiva de dois elementos: os avanços do conhecimento científico no campo da transmissão da vida, por um lado, e um profundo respeito pela natureza biológica e psicológica do homem, por outro. Se com o coração conseguirmos conhecer este ideal do amor humano, então seremos capazes, apesar do ambiente que nos rodeia, de tentar vivê-lo como fruto da felicidade experimen-tada a nível pessoal, matrimonial e familiar. Conseguir-se-á gerar

Aceitamos que o homem é sempre pessoa, inclusi-ve no aspecto se- xual-genital? Conhecer o ideal do amor huma-no e procurar vi-vê-lo

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uma corrente que invada os diversos âmbitos da cultura com uma convicção inquebrantável. Mudando o coração das pessoas, conseguir-se-á estabelecer a base de uma nova cultura.

Mas estou convencido de que não é suficiente querer algo, e que a boa intenção de o realizar não basta. Também é necessário entender e conhecer de modo racional os diferentes elementos que estão em jogo, dado que a maioria deles não facilita as coi-sas. Em todas as questões relacionadas com o amor humano, a sexualidade, a transmissão da vida, a educação dos filhos, espe-cialmente dos jovens, existe actualmente uma enorme confusão que acaba por desorientar todos aqueles que só possuem a boa intenção de cooperar. Este é o motivo pelo qual procuro fazer uma revisão do conceito de paternidade responsável que possa servir de quadro de referência para tudo o mais. É uma tentativa de transmitir a experiência que adquiri no campo clínico junto de milhares de casais, casais que procuraram alcançar de manei-ra permanente uma integmanei-ração desse ideal com o conhecimento científico, tanto no plano da regulação da fecundidade como no da infertilidade conjugal. Procurarei mostrar as dificuldades e os benefícios que esses casais conheceram no plano natural, já que a nossa experiência tem fundamentalmente lugar num ambiente laico, o do Hospital Clínico da Universidade do Chile.

Em relação ao plano sobrenatural, quer dizer, à vivência religiosa destes valores, creio que a acção da Graça é necessária e complementar. Os casais que experimentaram a sua presença alcançaram uma plenitude de vida natural e sobrenatural extraor-dinária. Mas isso mereceria ser objecto de uma outra publicação. Ainda assim, gostaria de sublinhar que não é fácil conseguir viver esse ideal, tanto no plano natural como no sobrenatural. Para alguns, isso seria impossível sem a ajuda da Graça e sem uma adequada motivação religiosa que os levasse a praticar uma vida ascética, sacramental e de oração.

Até agora, quando um dos cônjuges tentou viver esse pla-no sobrenatural de modo consciente e responsável, pude sem-pre comprovar que o esforço conduz a um «benéfico influxo»,

A confusão é enorme. Difundir a ex-periência tida com milhares de casais

Existe uma com-ponente sobre-natural.

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tal como o descreve Paulo VI na sua encíclica Humanae Vitae. A medida das dificuldades é a medida das graças que se rece-bem. Tanto é assim que, ao encetar este caminho, se recomenda aos casais que, se não se sentirem mais felizes depois de alguns meses de prática, devem consultar alguém e pedir ajuda, porque seguramente alguma coisa não estará a correr bem.

Quanto à sexualidade conjugal, pude observar que ela se desenvolve harmoniosamente até à sua plenitude quando se assume de forma cabal a missão da paternidade responsável. A explicação reside em que os cônjuges precisam de ter um sentido, uma projecção em comum construída sobre uma base natural sã que permita integrar todos os aspectos da pessoa. Foi um privilégio poder observar a forma como um conhecimento sólido do aspecto biológico relacionado com a fertilidade (leis de transmissão da vida) vai exigindo, a pouco e pouco, um pro-fundo conhecimento do aspecto psicológico relacionado com o amor conjugal (impulso ou tendência sexual), e como tudo isto acaba por adquirir o seu sentido através de um constante cultivo do aspecto social. Este último refere-se a uma atitude generosa ao serviço da vida (projecto de vida matrimonial e familiar). Esta integração é uma tarefa para toda a vida e realiza-se diariamente no interior de cada pessoa, através da complementação mútua; quer dizer, requer um enriquecimento constante com a forma de ser do cônjuge e, ao mesmo tempo, exige o desenvolvimen-to permanente das próprias capacidades, para lhas oferecer. O que tem lugar através da doação pessoal, a atitude essencial da sexualidade humana.

Quando existe um verdadeiro amor pelo cônjuge, alcança--se uma plenitude que resulta do desenvolvimento das próprias capacidades, por um lado, mas também da incorporação das ri-quezas do outro, devido ao processo de assemelhação que carac-teriza o vínculo afectivo. Esta é a dinâmica da complementação que conduz à integração orgânica das modalidades masculina e feminina em cada um dos cônjuges. Pelos seus efeitos nas pes-soas, nos casais e nas famílias, parece-me evidente que é ela a

Quem vive neste plano conhece um «benéfico in-fluxo». O conceito de paternidade res-ponsável integra os aspectos bio-lógicos, psicológi-cos e sociais. A sexualidade humana é doa-ção pessoal. Com o asseme-lhamento, alcan-ça-se a plenitude do verdadeiro amor.

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ideia original sobre o homem, e não o que actualmente predo-mina, que só apresenta uma associação entre partes iguais que têm de competir para satisfazer os seus direitos. Para transformar em vida esta dinâmica de complementação, há que dispor-se a nadar contra a corrente e vencer a inércia, há que conquistá-la em cada atitude, actividade e momento, quer dizer, na totalida-de do dia-a-dia e em todos os dias da vida, para assim totalida-devolver ao amor esponsal e familiar o seu verdadeiro lugar de modelo de qualquer comunidade ou organização humana. Trata-se de restabelecer o sentido das coisas a partir do mais importante: a pessoa e os seus vínculos fundamentais.

O desafio a que nos propusemos foi o de conseguir educar casais que tenham a sua própria experiência acerca do modo como podem transmitir a vida a um novo filho. O que equivale a saber com rigor qual é o momento da concepção, graças ao conhecimento da fertilidade feminina. Por conseguinte, eles serão casais especialistas na aprendizagem do respeito por estas leis biológicas, fazendo-o com carinho e delicadeza mútua através do exercício da abstinência periódica. Casais que cultivem, além disso, o espírito de «administradores», dado que assim podem descobrir a forma de aceder a uma participação privilegiada na gestação e no serviço generoso a uma nova vida humana.

Destes três aspectos constitutivos da natureza do homem, o que coloca um maior desafio cultural é o relacionado com o respeito pela fertilidade. A abstinência periódica só é possível se as pessoas conseguirem descobrir as leis do impulso sexual e, educando-o, conduzi-lo permanentemente à perfeição mú-tua. Isto consegue-se através do cultivo permanente de diversas formas de expressão de um encontro amoroso pessoal. Desta maneira poderão experimentar ambos a comunhão plena, dado que os dois constituem uma só carne. É a culminação de se ser um só coração, um só espírito e uma só vontade. Assim, nós, os casais, poderemos mostrar ao mundo a profundidade, a ele-vação e a grandeza de um amor pessoal exclusivo, fiel, total e fecundo que é próprio do amor esponsal, o qual constitui uma

Integra-se o que há de masculi-no e feminimasculi-no masculi-no casal. Conhecer ple-namente como transmitir a vi-da a um novo filho Educar o impul-so sexual conduz à comunhão ple-na.

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escola de humanismo e é modelo de qualquer comunidade e organização. Em consequência deste trabalho, ir-se-á desenvol-vendo paulatinamente um estilo de vida que assegura e expressa o que de mais pessoal existe em cada cônjuge.

No entanto, a culminação acaba por ser alcançada quando se consegue a síntese de todos os aspectos mencionados em cima, incluindo o de administrar e servir generosamente a vida resultante da comunhão de amor, cujo fruto mais apreciado é o filho. Chegados a este ponto, creio ser necessário começar a destacar que o filho é o fruto mais extraordinário e melhor, porque a fecundidade não se esgota nele, sendo apenas a mais plena de muitas outras manifestações. Como exemplos de outras formas de fecundidade, podemos referir a qualidade de vida que se desenvolva no seio do lar, através da atmosfera que nele se respire, a realidade cultural e social que fomentemos na nossa sociedade, o estilo de trabalho que implementemos como pro-jecção da nossa vida matrimonial, etc.

Talvez a tarefa mais importante da missão da paternidade responsável seja procurar integrar vitalmente estes três aspectos mediante o uso dos métodos naturais de regulação da fecundi-dade. Por outras palavras, ela implica descobrir o estilo de vida matrimonial que estes métodos implicam. É um estilo que asse-gura o crescimento da solidariedade com as pessoas que mais amamos. Deste modo, os métodos naturais não serão concebi-dos como uma espécie de «contraceptivos naturais», dado que não interferem em nenhum processo natural, ao contrário do que acontece com os métodos contraceptivos artificiais. Sabe-mos, com efeito, que estes últimos mudam a natureza própria de um dos cônjuges – especialmente da mulher – e alteram o acto sexual. Os métodos naturais exigem o esforço de uma abstinên-cia periódica, devido ao conhecimento que se tem da própria fertilidade. Essa exigência conduz os esposos à descoberta dos «porquês», «para quês» e «para quem» dos nossos anseios e é uma maneira de termos sempre presente que vida estamos a servir e que projecto em comum estamos a desenvolver.

O seu fruto mais apreciado é o fi-lho, mas não se esgota nele a fe-cundidade.

A abstinência periódica obri-ga a descobrir a vida que se de-seja.

Referências

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