• Nenhum resultado encontrado

PERFILDOALUNODOPROEJANAESCOLATÉCNICADAUFRGS

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "PERFILDOALUNODOPROEJANAESCOLATÉCNICADAUFRGS"

Copied!
16
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO PROFISSIONAL INTEGRADA À EDUCAÇÃO BÁSICA NA MODALIDADE EDUCAÇÃO DE JOVENS E

ADULTOS

PERFIL DO ALUNO DO PROEJA NA ESCOLA

TÉCNICA DA UFRGS

Rosângela de Souza Reschke

Orientadora: Profª. Dra. Tania Beatriz Iwaszko Marques

Porto Alegre 2009

(2)

FICHA CATALOGRÁFICA

___________________________________________________________________________ R431p Reschke, Rosângela de Souza

Perfil do aluno do PROEJA na Escola Técnica da UFRGS / Rosângela de Souza Reschke ; orientadora Tânia Beatriz Iwaszko Marques . – Porto Alegre, 2009. 17 f. : il.

Trabalho de conclusão (Especialização) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Faculdade de Educação. Programa de Pós-Graduação em Educação. Curso de Especialização em Educação Profissional integrada à Educação Básica na Modalidade Educação de Jovens e Adultos, 2009, Porto Alegre, BR-RS.

1. Educação. 2. Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos. 3. PROEJA. 4. Perfil – Alunos – PROEJA – Escola Técnica da UFRGS.5. Escola Técnica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Porto Alegre, RS I. Marques, Tânia Beatriz Iwaszko. II. Título

CDU 374.7 _____________________________________________________________________________ CIP-Brasil. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação.

(3)

Resumo: O presente trabalho busca traçar um perfil do aluno do Programa Nacional de Integração da Educação Profissional à Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos (PROEJA) da Escola Técnica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Apresentamos nossas afirmações de acordo com pesquisa, por nós elaborada, discutindo-as basicamente pelo aporte teórico de Paulo Freire. Objetivamos identificar diferenças entre o discente da Escola Técnica e o de outras escolas que igualmente acolhem o projeto em questão.

Palavras-chave: Perfil do aluno, PROEJA, Escola Técnica

Introdução

O Programa Nacional de Integração da Educação Profissional à Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos (PROEJA) tem como princípio educativo o trabalho, a partir da união de formação básica e formação profissional. O Ministério da Educação e Cultura (MEC) oferece como modalidades no PROEJA, conforme o Decreto n° 5.154 de 23 de julho de 2004, a formação inicial e continuada de trabalhadores, a educação profissional de nível médio e a educação profissional tecnológica de graduação e de pós-graduação.

Um dos principais objetivos do PROEJA, além de oferecer formação profissional qualificada, é o de suprir as demandas locais e regionais, contribuindo para o desenvolvimento socioeconômico de cada região. Para tal, conforme informações do MEC, em 2008 foram matriculados, no País, 9.141 alunos e o investimento foi da ordem de vinte milhões e novecentos mil reais.

A Escola Técnica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), fundada em 1909, instituiu a modalidade PROEJA no segundo semestre de 2007, em parceira com o Colégio de Aplicação da mesma universidade. No ano de 2008, ela passou a ter autonomia total sobre esse programa, ficando o Colégio de Aplicação com a modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA).

Nossa experiência em PROEJA se ampliou nas discussões dentro do Curso de Especialização em PROEJA, oferecido pelo Programa de Pós-Graduação da

(4)

Faculdade de Educação, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Os docentes desse programa trouxeram para a discussão acadêmica um perfil de aluno diferenciado da idéia convencionada, oficialmente, dentro da Escola Técnica. Os relatos de professores do programa, cujo contato com os discentes de outras escolas era direto, retratavam, na modalidade Jovens e Adultos, um aluno de condições sociais muito baixas e totalmente desinteressado. Em contraste, ao participarmos de reuniões do Conselho de Coordenadores da Escola Técnica da UFRGS, ouvíamos relatos diferentes dos professores que ali atuavam no PROEJA. Era possível visualizar outro perfil de aluno, a partir das discussões trazidas para essas reuniões, que retratava um discente interessado e dedicado, cujos resultados, muitas vezes, eram qualitativamente superiores aos participantes do sistema regular de ensino.

O foco de nosso interesse é pesquisar as condições de estrutura familiar, sob o aspecto sócio-econômico, do aluno inserido no PROEJA da Escola Técnica, na tentativa de identificar elementos que justifiquem a sua diferenciação dos participantes do mesmo projeto em outras instituições. A coleta dos dados por questionário foi a opção por nós escolhida.

Os questionários possibilitaram a entrada na casa de cada aluno e a descoberta de elementos diferenciais entre o aluno da Escola Técnica e o de outras instituições. Sabemos, por experiência didática, que a estrutura familiar e material influencia, e muito, a vida acadêmica dos alunos. Para o aluno do PROEJA, que a princípio sabemos ser alguém que trabalha durante o dia, ter um microondas em casa, por exemplo, é um desgaste a menos ao final do dia para auxiliar no preparo de sua alimentação. Igualmente, contar com uma renda de apoio ajuda muito a suprir necessidades básicas, bem como residir em um local que conte com saneamento básico lhe proporciona uma melhor qualidade de vida. São dados como esses que nos permitem observar semelhanças e/ou diferenças entre os variados alunos.

(5)

Nesta pesquisa encontramos dificuldades ao buscar uma bibliografia específica, que relacionasse o aluno do PROEJA, sua estrutura familiar e material. Através de autores como Paulo Freire, percebemos ser possível descrever os alunos da Modalidade Jovens e Adultos, e entender um pouco o contexto social que lhes dificulta o acesso à escola na “idade certa”.

Dentro do contexto freiriano, na sua proposta de “pedagogia do oprimido”, definimos os alunos do PROEJA como “oprimidos”, isto é os desumanizados, os excluídos, explorados e injustiçados (FREIRE, 1978). O PROEJA seria a oportunidade que esse indivíduo tem de recuperar sua humanidade roubada, de ter, além de um diploma, uma qualificação para o mercado de trabalho.

A pedagogia do oprimido, que busca restauração da intersubjetividade, se apresenta como pedagogia do Homem. Somente ela, que se anima de generosidade autêntica, humanista e não “humanitarista”, pode alcançar êste objetivo. Pelo contrário, a pedagogia que partindo de interesses egoístas dos opressores, egoísmo camuflado de falsa generosidade, faz dos oprimidos objetos de seu humanitarismo, mantém e encarna a própria opressão (FREIRE, 1978, p. 43). 1

O “opressor” é a representação do sistema econômico-social no qual vivemos. Freire consegue, em 1978, descrever esse sistema que continua atual, e que impossibilita que os oprimidos tenham acesso à educação dentro do “período normal”. Dentro do que foi discutido nas aulas do Curso de Especialização PROEJA, observou-se, através da vivência de outros professores, que os alunos da modalidade Jovens e Adultos representam exatamente o segmento referido por esse autor.

Para Martins (1997), o processo exclusão é conseqüência do sistema capitalista, onde tudo gira em torno do mercado de consumo. Entendemos que os alunos são as principais vítimas desse sistema, os excluídos; o desafio é passagem da exclusão para a inclusão. Já Coelho (2008) destaca que as desigualdades educacionais constituem formas de exclusão social. Utilizando o conceito de Martins e Coelho, propomos que o sistema capitalista, do modo como

1

(6)

é executado pelos detentores de poder decisório, é o responsável pela exclusão social, que, por sua vez, gera desigualdades educacionais.

O PROEJA se propõe a tentar diminuir esse déficit do sistema educativo buscando incluir os excluídos, focando as necessidades do mercado de trabalho. Os cursos devem “proporcionar educação básica sólida, em vínculo estreito com a formação profissional, ou seja, a formação integral do educando” (BRASIL, MEC, 2007b). De acordo com a Lei 9.394, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), artigo 37, § 2º, “A educação de jovens e adultos deverá articular-se, preferencialmente, com a educação profissional, na forma do regulamento”.

O que alguns educadores vêem em sala de aula, na modalidade Jovens e Adultos, é uma realidade triste, que vai da falta de recursos financeiros das instituições à falta de estrutura básica dos alunos. Nem todo professor está preparado para lidar com essa realidade, e é preciso ir um pouco além da sala de aula para entender as dificuldades dos alunos e tentar, figurativamente, entrar na casa de cada um deles.

Embora uma pessoa não seja um educador até a medula, tem de conhecer não apenas as matérias, mas também a própria criança ou adolescente ao qual se dirige: em síntese, o aluno como ser vivo que reage, transforma-se e desenvolve-se mentalmente (PIAGET Apud SILVA, 2007, p. 63).

O docente do PROEJA educa um aluno já desenvolvido mentalmente, que já tem opinião própria formada, que tem uma experiência de vida mais ampla do que a de um adolescente de escola regular. A sua realidade é, muitas vezes, difícil e precária. Eles são, em sua maioria, trabalhadores em busca de uma melhor colocação no mercado de trabalho ou apenas em busca de um direito básico garantido por lei: educação.

Frigotto (1998, p. 27) defende que, quando o trabalho assume um princípio educativo, inicia-se uma quebra da “visão utilitarista e reducionista de trabalho” que nos leva a “um processo coletivo, organizado, de busca prática de transformação das relações sociais desumanizadoras”. O educador pode, nessa

(7)

proposta, focar-se na transformação das relações sociais, quebrando o paradigma dos excluídos, isto é, fazer do aluno do PROEJA um ser pensante, que acredita em si mesmo, que consegue se libertar do estigma da exclusão.

Para que o educador consiga iniciar esse trabalho de “libertação” com seus alunos, é necessário que pensemos como Freire que sempre defendeu a troca de conhecimento entre o aluno e o professor. Isso estabelece um ponto de partida importante para que um professor de PROEJA inicie uma relação de confiança com o aluno.

Por isso mesmo pensar certo coloca ao professor ou, mais amplamente, à escola, o dever de não só respeitar os saberes com que os educandos, sobretudo os das classes populares [...] discutir com os alunos a razão de ser de alguns desses saberes em relação com o ensino dos conteúdos (FREIRE, 1996, p. 30).

O docente é, desse modo, fundamental na formação do aluno, ele é o elemento que vai alem do que a instituição e o governo representam para esse aluno. Sabemos que o educador hoje enfrenta problemas como excesso de trabalho e de carga horária, ausência de materiais adequados para trabalho em sala de aula e pesquisa, deficiência de qualificação complementar, mas acreditamos, assim como Freire, que o amor pelo ato de ensinar está acima de todos os problemas.

No documento base do PROEJA, os educandos são “sujeitos marginais ao sistema, com atributos sempre acentuados em conseqüência de alguns fatores como raça/etnia, cor, gênero, entre outros” (BRASIL, 2007a). Não podemos deixar o aluno pensar que o ensino técnico lhe é fornecido porque ele tem menos capacidade para enfrentar uma graduação após o término do EJA. É necessário que o aluno pense no PROEJA como um novo desafio, uma oportunidade de inserção mais justa dentro do mercado de trabalho e capaz de organizar seu processo de formação intelectual.

Para Ireland (2004, p. 69), é necessário que “a experiência complexa da vida seja o ponto de partida para o processo de aprendizagem...”, ou seja, a experiência de vida quando acrescida do conhecimento teórico adquirido em sala

(8)

de aula, constrói um pensamento crítico e reflexivo nos alunos. E a troca de experiências em sala de aula, seja entre alunos ou professor – aluno, constrói uma “rede” de respeito, reflexão crítica, interação, e tantas outros fatores benéficos. “Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender” (FREIRE, 1996, p. 23).

Metodologia da pesquisa

Nossa pesquisa surgiu a partir da necessidade de conhecer o aluno do PROEJA da Escola Técnica da UFRGS, para que pudéssemos entender o contraste entre duas visões sobre o discente desse projeto. Como dissemos anteriormente, dentro do Curso de Especialização em PROEJA, falava-se de alunos da Modalidade Jovens e Adultos extremamente carentes, sem uma estrutura básica, caracterizado-os como desinteressados, com dificuldade de acompanhamento nas matérias, sem perspectiva profissional e acadêmica.

Por outro lado, dentro das reuniões do Conselho de Coordenadores da Escola Técnica da UFRGS, falava-se de um aluno do PROEJA muito esforçado, que muitas vezes tinha um ótimo desempenho escolar. Eram duas maneiras contrárias de descrever o discente do PROEJA, surgindo assim a necessidade de obtermos mais dados sobre ele, para entendermos as possíveis razões dessa contradição. Nossa pesquisa visa a entender qual o diferencial entre ambos os alunos descritos, partindo de características do aluno da Escola Técnica.

A primeira etapa da pesquisa consistiu na elaboração do questionário, com perguntas fechadas, de linguagem simples e fácil entendimento. A segunda etapa foi o preenchimento do mesmo em sala de aula.

(9)

Questionário – PROEJA – Escola Técnica Nome:

Idade:

1. Com quem você reside?

( ) Sozinho ( ) Irmãos – Quantos: ____ ( ) Pai ( ) Mãe

( ) Avô ( ) Avó

( ) Esposa(o) ( ) Filhos – Quantos: ____ 1.1) Qual a escolaridade do “chefe” da casa?

( ) Ensino Fundamental ( ) Ensino Médio ( ) Ensino Superior ( ) Outros

2. Qual o bairro em que você reside?

3. Esse bairro possui saneamento básico (Saneamento básico se restringe ao abastecimento de água e disposição de esgotos, mas há quem inclua o lixo nesta categoria.)?

4. Na sua residência existem quais eletrodomésticos.

( ) TV – Quantos:___ ( ) Geladeira ( ) Fogão

( ) Microondas ( ) DVD ( ) Máquina de lavar roupa ( ) Som – Quantos:___ ( ) Ventilador – Quantos:___

5. Você já trabalhou? ( ) Sim ( ) Não

6. Caso a resposta seja sim, com carteira assinada? ( ) Sim ( ) Não

7. No momento você está trabalhando? ( ) Sim ( ) Não

8. Quantas pessoas trabalham na sua residência? 9. Qual a média de renda familiar?

( ) Menos de 1 salário mínimo ( ) 1 a 3 salários mínimos ( ) 4 a 6 salários mínimos ( ) Acima de 7 salários mínimos

10. Sua atividade profissional está relacionada com o curso técnico escolhido? ( ) Sim ( ) Não

11. Qual a importância da bolsa para sua permanência no curso? ( ) Nenhuma ( ) Pouca ( ) Muita

12. Você utiliza o RU (Restaurante Universitário) para suas refeições? ( ) Sim ( ) Não

(10)

A terceira etapa foi a transcrição das respostas para o Software Estatístico Le Sphinx Plus. A quarta etapa foi direcionada para análise dos dados obtidos e a comparação com uma pesquisa realizada sobre o perfil do aluno regular da Escola Técnica. Na quinta etapa procuramos traçar um perfil do aluno do PROEJA da Escola, para o qual nosso questionamento está voltado.

Resultados da Pesquisa

Nesta pesquisa, a distribuição de gênero entre os alunos pesquisados foi de 50% entre homens e mulheres. Quanto à idade dos mesmos, 38,5% tem menos de 24 anos, 23,1% tem entre 24 e 31 anos, 15,4% tem entre 32 e 39, 15,4% tem mais de 40 anos e 7,7% não responderam essa pergunta.

No aspecto de moradia, 53,8% residem com o esposo (a), 15,4% com a mãe, 11,5% sozinhos, 7,7% com filhos, 3,85% com o avô e 7,7% com outras pessoas. Quando questionados se possuem filhos e se moram com os mesmos, 38,5% não responderam, 30,8% possuem um filho morando consigo, 23,1% possuem dois filhos e 7,7% possuem quatro filhos.

Um aspecto importante na pesquisa é a escolaridade do “chefe” da família. Temos conhecimento de que é comum que pessoas que não tiveram a educação básica se esforçam ao máximo para manter seus filhos estudando, buscando oportunizar aos mesmos um nível melhor de sobrevivência. Na pesquisa, constatamos que 50% dos chefes de famílias estudaram até o Ensino Fundamental, 38,5% tem o Ensino Médico e apenas 3,8% tem Ensino Superior. Vemos, no caso desses alunos, que existe uma perspectiva de mudança para as novas gerações, mesmo que seja dentro da modalidade jovens e adultos, procurando-se, desse modo, efetivar a postura de perceber o estudo como chance

13. Você possui a carteira de passagem escolar (cartão Tri)? ( ) Sim ( ) Não

(11)

de melhoria, crescimento, progresso social. Há uma relação evolutiva nesse quesito.

A maioria dos entrevistados mora em bairros de classe média e 96,2% tem saneamento básico na residência e 3,8% não respondeu a pergunta. Interessante observarmos, aqui, um contraste com a visão que tínhamos nesse aspecto, através da experiência de outros docentes que trabalhavam com a EJA. Nos relatos que ouvimos muitas vezes, o aluno descrito não tinha acesso a esse serviço, básico, em nossa opinião, para a qualidade de vida de qualquer pessoa.

Em nossa opinião, uma pessoa que vive em péssimas condições, como as descritas por colegas, não tem a menor estrutura para manter um bom rendimento escolar. Questionamos como um aluno pode viver em ambientes sem saneamento, sem condições mínimas de uma sobrevivência digna. Ressaltamos que, no recorte da pesquisa, a maioria dos entrevistados tem acesso, mas é preocupante pensar que ainda existam muitos que vivem na ausência dessa condição, que nos atrevemos a chamar de vivência “sub-humana”.

Quando o enfoque foi “utilidades domésticas”, todos responderam que têm televisão em casa. Interessante perceber que 96,2% possuem fogão e 92,3% geladeira, levando-nos a considerar que os dois itens mais básicos da lista não são prioridade para as todas as famílias. Nossa observação é de que o ideal seria que todos tivessem esses dois itens e a televisão não passasse de um item supérfluo. Não é o que pudemos verificar em nossa pesquisa.

Outros itens que auxiliam na vida cotidiana, e às vezes não são muito valorizados, são o microondas e a máquina de lavar roupa. Para um estudante, cujo cotidiano se divide em trabalho, transporte e estudo, a lavagem de roupas amplia o tempo usado em atividades de sobrevivência, o que, com uma máquina de lavar seria um ganho utilizável para descanso ou estudo. O microondas também auxiliaria nas questões práticas desse cotidiano, como a economia de tempo noturno, após a aula, para a elaboração de refeições.

Dos alunos pesquisados, 46,2% tem microondas e 80,8% tem máquina de lavar roupas. Um número significativo, deste último, provando que o aluno da Escola tem acesso a um número importante de utensílios domésticos que auxiliam

(12)

na vida diária e que podem se refletir num melhor desempenho na vida acadêmica.

Outros dados apresentados, quando o assunto é utensílios para melhor conforto ou lazer, foram de que 88,5% tem ventilador em casa, 76,9% possuem som e 76,9% possuem DVD. Dados que não correspondem ao aluno padrão dos EJAs, de acordo com os relatos de colegas docentes. Não consideramos tais itens como fundamentais, pela ótica da sobrevivência, mas importantes para a melhor qualidade de vida e que podem gerar uma satisfação que acreditamos se reflita numa melhor aprendizagem.

Todos os alunos que preencheram o questionário já trabalharam, sendo que, destes, 84,6% estavam trabalhando quando responderam o questionário, 69,2% tiveram ou tem Carteira de Trabalho assinada. Constatamos que 30,8% trabalham ou já trabalharam sem nenhum direito trabalhista, ou seja, no chamado “mercado informal” o que também é um elemento importante, pois é passível de dificultar a aprendizagem, ao gerar instabilidade de renda e insegurança na administração da sobrevivência familiar.

Na residência desses alunos, 53,8% contam apenas com a renda de uma pessoa para o sustento da casa. Um percentual muito baixo, que poderia explicar as condições de vida sem estruturas importantes que constatamos até agora, mas o que percebemos é que essas famílias conseguem suprir necessidades básicas. Apenas 34,6% contam com a renda de duas pessoas para ajudar em casa, 7,7% com a renda de três pessoas e 3,8% com a renda de quatro pessoas.

Sobre a renda familiar total: 84,6% possuem renda familiar de um a três salários mínimos, 11,5% menos de um salário mínimo e 3,8% de quatro a seis salários mínimos. A renda familiar da maioria é baixa, o que faz com que para muitos o único auxílio para transporte às aulas e alimentação seja a Bolsa de Auxílio, que todos os estudantes do PROEJA na Escola Técnica recebem. A bolsa tem o valor R$ 100,00 (cem reais), e 96,2% dos alunos responderam que a bolsa é essencial para sua permanência no curso. Sabemos que o valor da bolsa não cobre o total de gastos com deslocamento e alimentação, mas sem o mesmo, provavelmente, eles não conseguiriam manter a freqüência no curso.

(13)

Quanto à utilização do Restaurante Universitário da UFRGS (RU), 65,4% usam o mesmo para suas refeições, e um dos motivos para o uso não ser de todos é que muitos possuem um tempo escasso para sair do trabalho e chegar dentro do horário de aula. Sobre a passagem escolar de estudante, metade utiliza este benefício que os faz pagar metade da tarifa de ônibus dentro de Porto Alegre. Sobre a área de trabalho em que atuam, 61,5% não exercem atividades relacionadas ao curso do Ensino Profissional que cursam. Esse número é alto porque a maioria dos alunos já estava empregada antes de ingressar no PROEJA. A probabilidade é de que, depois de formados, muitos alunos consigam empregos nas respectivas áreas escolhidas.

Através desses resultados, percebemos que o aluno do PROEJA da Escola Técnica é um aluno que não se conformou com a situação de “oprimido”, ele consegue recuperar sua humanidade, na concepção de Freire. Ele passa para um nível intermediário, entre o oprimido e o opressor, passando a ser sujeito de sua autonomia. Posiciona-se como um aluno que consegue vencer as dificuldades encontradas, aproveitando as oportunidades que estão ao seu alcance para buscar uma melhor condição de vida.

Considerações Finais

Após análise dos dados obtidos através do questionário, podemos ver que o aluno do PROEJA pesquisado difere dos demais descritos por muitos professores que trabalham na modalidade Jovens e Adultos.

Um dos diferenciais positivos encontrados na Escola Técnica é que esta possui uma localização centralizada, ao contrário de muitas escolas que estão nas periferias. A escola oferece toda uma estrutura física como salas de aulas com multimídias, laboratórios equipados, biblioteca, auditório, entre outros.

O setor de ensino da Escola, através de reuniões semanais, discute cada problema que ocorre em sala de aula e trabalha individualmente com cada professor as dificuldades encontradas.

(14)

A bolsa-auxílio, como foi possível constatar pelas respostas ao questionário, é essencial para a permanência do aluno no curso, sendo a sua existência efetiva na Escola Técnica um diferencial extremamente positivo nessa instituição. Essa bolsa está disponível a todas as instituições que oferecem o PROEJA, mas devido a fatores burocráticos como prestação de contas e criação de projeto, muitas acabam não oferecendo a mesma.

A preocupação da escola e dos professores com a realidade do aluno e a carência do mercado de trabalho são pontos chaves para o aproveitamento dos alunos. Em conversa com os professores que lecionam no PROEJA na Escola Técnica, foi enfatizado que os alunos oriundos do PROEJA nos cursos técnicos têm obtido melhores notas nas turmas e se destacado quanto aos trabalhos realizados nas disciplinas. Esses alunos são conhecidos pela sua pontualidade em sala de aula e pela intensa demonstração de interesse pelo conteúdo dado em sala de aula.

Os professores também têm mérito no destaque desses alunos, pois eles se empenham em ir além da sala de aula. Muitas vezes compram material didático com recursos próprios para melhorarem a qualidade do desempenho em aula. Eles sabem que lecionar vai muito além dos recursos que a escola oferece, e conhecendo as dificuldades da relação ensino-aprendizagem para alunos que trabalham o dia todo, e têm um tempo escasso para estudar, buscam contribuir em escala muito maior do que a mera execução de obrigações profissionais.

Os resultados que obtivemos, através da pesquisa e das conversas com professores, foram surpreendentes. Imaginávamos encontrar alunos como aqueles descritos pelos colegas de Pós-Graduação. Já sabíamos que o aluno da Escola Técnica era um pouco diferente, baseados no convívio que tínhamos com eles em nosso ambiente de trabalho, mas encontramos alunos exemplares, esforçados e com reais possibilidades de um futuro promissor.

Encontramos dois interessantes exemplos de superação, entre os alunos do PROEJA que cursam Biblioteconomia. Um deles já trabalha como Técnico em Biblioteconomia numa universidade particular, e foi aprovado em concurso público para o mesmo cargo, aguardando a chamada e outro, também oriundo desse

(15)

curso, foi igualmente aprovado em concurso público. Lembramos aqui da enorme concorrência nesse tipo de seleção, o que exige um preparo de excelente nível dos concorrentes.

Esses dois exemplos mostram que a qualidade do projeto é o diferencial para a sua efetivação, pois os objetivos só podem ser alcançados se as condições materiais estão de acordo com as necessidades. A simples existência do PROEJA numa instituição não garante o sucesso da proposta, é necessário que o contexto do aluno seja percebido e haja esforço conjunto para a sua melhoria.

A Escola Técnica da UFRGS parece estar atingindo plenamente o verdadeiro sentido do PROEJA, numa duplicidade de razões, que pressupõe a melhor condição sócio-econômica do discente e a posição de comprometimento do seu corpo docente e administrativo.

Referências

BRASIL. Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação.

BRASIL. MEC, SENTEC. Proeja – Programa Nacional de Integração da Educação Profissional à Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos – Ensino Fundamental – Documento Base. 2.ed., Brasília: MEC, Agosto de 2007a. BRASIL. MEC, SENTEC. Proeja – Programa Nacional de Integração da Educação Profissional à Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos – Educação Profissional Técnica de Nível Médio / Ensino Médio. Documento Base. 2. ed. Brasília: MEC, Agosto de 2007b.

COELHO, Maria Inês de Matos. Identidades e formação nos percursos de vida de jovens e adultos trabalhadores: desafios ao Proeja. In: MEC (org.). Revista Brasileira da Educação Profissional e Tecnológica. Brasília: MEC, SETEC, 2008. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

(16)

FRIGOTTO, Gaudêncio. “Trabalho, educação e teoria pedagógica”. In: FRIGOTTO, Gaudêncio (org.). Educação e crise no trabalho: perspectivas de final de século. Petrópolis: Vozes, 1998.

IRELAND, T. “Escolarização de trabalhadores: aprendendo as ferramentas básicas para a luta cotidiana”. In: OLIVEIRA, Inês B. e PAIVA, Jane (orgs.). Educação de jovens e adultos. Rio de Janeiro: DP&A, 2004.

MARTINS, José de Souza. Exclusão social e a nova desigualdade. São Paulo: Paulus, 1997.

SILVA, João Alberto. “O professor pesquisador e a liberdade do pensamento”. In: BECKER, Fernando e MARQUES, Tania Beatriz Iwaszko. Ser professor é ser pesquisador. Porto Alegre: Mediação, 2007.

Referências

Documentos relacionados

Política específica para Agricultura Familiar Politicas temáticas Desenvolvimento Sustentável ou Territorial Rural Segurança Alimentar e luta conta a pobreza. Argentina*

O capitulo 4 mostrou o potencial do compressor de velocidade variável para adequar a capacidade de refrigeração à carga térmica imposta ao sistema, e o potencial

Pelos resultados, a pedalada praticada por ciclistas recreacionais em cadências elevadas ou com selins ajustados “para baixo” em relação a uma posição de

Nro Lote Nro Guia Dt Emissão Nome do Paciente Cód... Nome: ALEXANDRE OLIVEIRA ARAUJO

Filmes com altos valores de espessura e ´ındice de refra¸c˜ ao ter˜ ao maior sensibilidade ´ otica por ter o campo eva- nescente do modo ´ optico interrogado mais exposto ao

Ricoeur encontra lastro para alçar seu próprio pensar autônomo e inovador no tocante ao problema do mal em três movimentos: a O sentido existencial da filosofia comprometido com

Methods: Descriptive study with a sample of 131 individuals (including 47 cancer patients, 40 diabetic patients and 44 caregivers/ family / caregivers) responding to Hertha’s Scale of

Assim, a partir das pesquisas realizadas nas bibliografias existentes sobre o tema, o modelo de decisão encontrado para esse estudo, que permite uma análise