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Arilene Lucena de Medeiros

A forja e a pena

Técnica e humanismo na trajetória da Escola de Aprendizes Artífices de Natal à Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte

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A forja e a pena - Técnica e humanismo na trajetória da Escola de Aprendizes Artífices de Natal à Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte © Copyright 2011 da Editora do IFRN

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Telefone: 84 4005-0763

A488f Medeiros, Arilene Lucena de.

A forja e a pena : técnica e humanismo na trajetória da Escola de Aprendizes Artífices de Natal à Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte / Arilene Lucena de Medeiros. – Natal : IFRN, 2011. 156 p. : il. color. ISBN 978-85-8161-011-5 1. ETFRN - História. 2. CEFET - História. 3. IFRN - História. Título. CDU 377(813.2)(091)

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Presidenta da República

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Aloizio Mercadante Oliva

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Diretor de Gestão e Tecnologia da Informação

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Diretor de Gestão Pessoas

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Sumário

Prefácio 7 Apresentação 9 Pioneiros do progresso 12 Um novo começo 18 Operário ou artesão 20 Ensino industrial 26 Artefatos em vitrine 30 Vigilância e exemplo 34 Centro lítero-recreativo 42 Práticas educativas 50 Escola e trabalho 54 Herança de guerra 64 Muito além da sala de aula 70 Artes industriais e ensino técnico 76 A tradição do novo 86 Doutrinação e vigilância 102

A arte na escola 110

No campo de ataque 122

A última lição 130

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Prefácio

Insuperável. É assim que podemos definir este livro de Arilene Medeiros.

Aparentemente tímida, a autora inteligente e obstinada vai lá nos idos do início do século passado e pesquisa meticulosamente a vida de uma Instituição (Escola de Aprendizes Artífices de Natal), com os personagens dessa história, no seu dia a dia.

Com admirável perspicácia, vai aos detalhes já esquecidos por muitos e pelos que não viveram naquele tempo, levando-os a sentir cada passagem como se lá estivessem.

No sequencial das décadas, evoca as mudanças de prédios ocupados pela Instituição, os nomes que recebeu até chegar ao IFRN atual, os dirigentes e os muitos instrumentos legais que alteraram sua estrutura administrativa e pedagógica.

O hoje da Escola é o resultado da luta de muitos homens que se empenharam para construir uma Escola que melhorasse a vida daqueles meninos que vinham de famílias pobres à época, fundamentada na filosofia do decreto do presidente Nilo Peçanha.

“Uma escola para os filhos dos desamparados”. Esse era o mister da Escola. Inseri-los na vida com uma formação cívica e profissional. A Escola sempre foi cidadã, mantendo-se, até hoje, nesse rumo.

Arilene Medeiros foi buscar, no tempo, depoimentos de alunos, professores e servidores que atestam a vida como eles viveram na Escola e seu orgulho em ter passado por ela. Cada depoimento revive um tempo com suas conotações políticas e filosóficas. Além deste aspecto, desmistifica ideias e lança luzes sobre esse passado glorioso.

Essa é a história da Escola escrita com os relatos dos fatos cotidianos que se encontram em documentos e no dizer dos muitos que a vivenciaram. Como um dos ex-alunos e hoje ex-professor, muito me orgulho de ser um dos passageiros desta histórica caminhada.

Parabenizo Arilene Medeiros e creio que outras vertentes da vida da Escola voltarão a ser pesquisadas, trazendo, assim, para o hoje e o amanhã, as nuances de uma instituição que começou pequena e que agora é reconhecida como uma Escola na vanguarda da era high tec.

Severino do Ramo de Brito

Ex-aluno da antiga Escola Industrial, com formação em Economia, foi professor da Instituição no período de 1965 a 1995 e exerceu diversos cargos de assessoria e direção,dentre os quais o de Vice-Diretor da ETFRN no período de 1991 a 1995.

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Apresentação

Esta obra que só agora chega às mãos do leitor começou a ser escrita há cerca de dois anos, embora sua concepção remonte ao ano de 2003, quando, o então CEFET-RN, por meio da equipe de Comunicação Social da qual fazemos parte, iniciou a preparação para o centenário do atual IFRN – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte.

Digo só agora porque a intenção, na época, era lançar uma publicação comemorativa ao centenário, celebrado em setembro de 2009, o que não foi possível por razões profissionais e, também, pessoais. Dentre essas razões, está o fato de esta autora ter decidido, após 15 anos de carreira no jornalismo, ingressar no curso de Licenciatura em História, abraçando uma nova profissão, motivada pelo interesse despertado pela pesquisa sobre o percurso histórico desta instituição.

Decisão providencial, porém, conflitante. Contrariando as atuais regras da metodologia da pesquisa em história, em vez de focar nossa investigação num determinado problema historiográfico, nos dedicamos à elaboração de uma narrativa longa e linear. Não nos sentimos constrangidos, portanto, em admitir a dificuldade da tarefa a que nos propusemos, dada a amplitude do recorte histórico trabalhado.

De igual modo, no curso de História estamos aprendendo que essa ciência que estuda os eventos passados (embora já se pratique uma História do Tempo Presente) não constitui o somatório dos fatos tal qual eles aconteceram, com sua objetividade e verdade universal. Enquanto área do conhecimento, a história é construída por nós historiadores, com base nas fontes que adotamos, nos nossos interesses pessoais e intelectuais, nas perguntas que fazemos ao nosso objeto de pesquisa e nas ideias que elegemos para conferir sentido à mudança do homem no tempo.

Refletindo, pois, sobre o presente trabalho de investigação e produção do conhecimento histórico, nos demos conta da motivação inicial que nos lançara no estudo acerca do estabelecimento escolar centenário representado pelo IFRN. Trata-se da existência de duas comunidades identitárias muito marcantes nesse percurso de 100 anos: uma formada por ex-alunos e servidores que ainda hoje mantém uma forte relação afetiva com a Escola Industrial de Natal e outra que guarda uma

identificação ainda maior com a Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte.

Nossa questão, portanto, está centrada na investigação dos fatores que propiciaram a coexistência dessas duas identidades, mesmo tratando-se de uma mesma instituição. O que fez com que cada um desses grupos sociais se identificasse com essas sucessivas fases históricas do estabelecimento escolar? Quais foram as principais experiências escolares vivenciadas por eles que marcaram sua trajetória de vida pessoal e profissional? Como se dera a transição entre uma fase e outra desta Escola? E, por último, que aspectos nessa trajetória representaram momentos de ruptura ou de continuidade?

Devemos dizer, ainda, que a memória dos atores sociais envolvidos no percurso histórico citado constitui o fio condutor da narrativa deste ensaio, uma vez que foram os depoimentos colhidos junto a ex-alunos, servidores que se encontram em exercício ou aposentados e membros da comunidade externa que nos possibilitaram captar os lugares, pessoas e acontecimentos mais marcantes na trajetória institucional dos depoentes, e a partir desses elementos, aprofundar a investigação em outras fontes de pesquisa histórica.

Não ignoramos, no entanto, que a memória, como componente da identidade de um grupo, não apenas é seletiva, como é construída na interação entre os seus integrantes. Portanto, não temos a pretensão de apresentar uma versão oficial, tampouco uma versão integral, que contemple a diversidade de pensamento dos sujeitos sociais que integram e integraram esse percurso escolar.

Acreditamos, porém, que ouvimos uma parte significativa e representativa dessa comunidade, cujos relatos agora compartilhamos com todos os que, de algum modo, se sentem parte dessa história. Certamente, muitos dos sentimentos, argumentos, percepções, ideias, explicações e representações desses sujeitos acerca da instituição a qual eles se reportam como marcantes na sua trajetória escolar e profissional encontrarão eco junto ao restante do grupo.

A despeito do recorte histórico adotado nesse livro, que atende à necessidade de abordagem dos principais marcos apontados pelas fontes orais, ao longo da pesquisa, em relação à Escola Industrial de

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Natal (1942-1967) e Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte (1968-1998), decidimos remontar ao período que antecede a primeira fase citada, correspondente à sua instalação como Escola de Aprendizes Artífices de Natal, em 1909.

Essa opção por uma ordem cronológica linear, mais do que servir à reconstituição de cada uma das fases educacionais por que passou a Instituição, atende ao propósito de revelar os esforços empreendidos no âmbito institucional e governamental no sentido de consolidar uma Escola que nasceu voltada para a assistência social e escolar primária de menores desvalidos e se transformou em centro de referência no ensino profissionalizante de nível técnico.

Nesse sentido, a presente obra está organizada em três blocos de capítulos. Nos cinco primeiros, colocamos o leitor a par do contexto inicial de fundação da Escola de Aprendizes Artífices, sua instalação em edifício próprio, no centro da capital, a acolhida desse projeto político e educacional de ensino profissional primário pela população do Rio Grande do Norte e os desafios enfrentados pela administração do estabelecimento escolar, como a deficiência de professores e mestres devidamente qualificados, a escassez de recursos e o mau aparelhamento das oficinas escolares, problemas que foram objeto de intervenção do Serviço de Remodelação do Ensino Técnico Profissional, entre as décadas de 20 e 30.

Num segundo momento, apresentamos um retrato do cotidiano da Escola Industrial de Natal, a partir do início da década de 40 até meados dos anos 60. Trata-se de um primeiro momento de ruptura na trajetória escolar do estabelecimento no tocante à oferta de ensino e público-alvo, dada a elevação do ensino profissional primário ao nível do 1º ciclo do ensino industrial secundário e a consequente exigência do grau de escolaridade primária para os alunos matriculados.

Ao longo de sete capítulos, exploramos diferentes aspectos característicos da cultura escolar dessa fase do estabelecimento de ensino, desde as estratégias de disciplinamento nele instauradas, o incentivo às práticas de sociabilidade no âmbito interno e externo da comunidade estudantil, a relação escola e trabalho, a formação geral e profissional, até as iniciativas de aperfeiçoamento pedagógico e docente, introdução de novos métodos didáticos e mudanças curriculares no contexto da cooperação Brasil-Estados Unidos, representada pela Comissão Brasileiro-Americana de Educação Industrial.

A terceira e última parte da obra, constituída de seis capítulos, aborda um segundo momento de

grandes rupturas no percurso escolar da Instituição, tanto no âmbito pedagógico, quanto administrativo. Marcada pela implantação do ensino profissional de nível técnico, em princípios da década de 60, essa nova fase representa uma primeira expansão institucional, com a mudança para nova sede e o aumento considerável das matrículas.

Nas três décadas que compõem o período analisado, investigamos o processo de implantação dos cursos técnicos e sua relação com as demandas do setor produtivo, a mudança do perfil do alunado e do corpo docente, o ingresso das mulheres nos cursos regulares, a inserção do técnico-estagiário no mercado de trabalho e os esforços de implementação de um currículo voltado à preparação do técnico-cidadão.

Por último, contemplamos, também, nessa fase, o processo de democratização escolar propiciado pelo fim da ditadura, com as primeiras eleições diretas para diretor e a fundação do grêmio estudantil, bem como as políticas internas de qualificação dos servidores, diversificação da oferta educacional e interiorização do ensino profissional, culminando com a transformação da Escola Técnica em Centro Federal de Educação Profissional e Tecnológica.

Para concluir essa explanação, resta-nos agradecer a todas as pessoas que nos auxiliaram na tarefa de elaboração deste livro. Em primeiro lugar, aos inúmeros entrevistados que, por meio de ricos depoimentos, transformaram esta obra num projeto coletivo. Mencionamos, em especial, o professor Brito, ícone da memória dessa Instituição, pelo assessoramento e apoio prestados ao longo da pesquisa.

À Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação, na pessoa do professor José Yvan Pereira Leite, que sempre acreditou na nossa capacidade de produção desse trabalho e soube aguardar o resultado, sem maiores pressões, em nome do qual agradecemos aos demais gestores e colegas do IFRN que nos acompanharam nesse percurso.

Queremos manifestar, também, nossa gratidão, às companheiras da Comunicação Social, Tânia, Cláudia e Romana, pelo apoio e compreensão manifestados ao longo dos últimos anos, em função do tempo dedicado ao projeto de resgate da memória institucional, em detrimento das atividades próprias do Setor.

À equipe de Produções Multimídia do Campus EaD: Edson, Glácio, Isoleda e Rufino e aos ex-estagiários Bruno Gomes e Bruno Marques, parceiros na gravação e edição da maioria dos depoimentos colhidos.

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À professora Érika Pegado e às bolsistas Celise, Eneida e Sâmela, que nos cederam vários depoimentos e arquivos de notícias colhidos para o livro publicado pelo grupo em 2006: “A trajetória do CEFET-RN - do início do século 20 ao alvorecer do século 21”.

Às pesquisadoras Rita Diana e Nina Sousa, pelo compartilhamento de informações e parceria no trabalho de constituição do acervo oral e documental da história do IFRN.

Às amigas e ex-estagiárias da área de História, Daiane Luz e Ana Larissa Cardoso, braço direito durante grande parte da trajetória dessa pesquisa. E, ainda, aos bolsistas e demais estagiários que nos auxiliaram no levantamento de dados, higienização de documentos, digitalização, transcrição de entrevistas e registro fotográfico: Juliana Araújo, Orquineiva, Liziane, Débora Kallynne, Sérgio Henrique, Cleidiane Vila Nova, Elaine Macedo, Josiene Santos, Pedro Lacerda, Felipe Araújo e Celso Filho.

Aos colegas servidores Assis Lourenço e Antônio Carlos, do Arquivo Permanente do Campus Natal-Central, e André, do Registro Escolar.

E, por fim, à professora Leonor Araújo, que, mesmo às voltas com sua tese de doutorado, conseguiu dedicar-se à tarefa de revisão deste livro.

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Pioneiros do progresso

Aprendizes do trabalho, artífices da Nação

Tinha 12 anos incompletos, mas

lembrava-se bem. Era fevereiro de 1910 e estava prelembrava-sente na primeira chamada dos alunos matriculados, procedida pelo encarregado de manter a disciplina no estabelecimento, que começara a funcionar naquele dia. Cumprida a formalidade, os alunos foram divididos em turmas, conforme a oficina escolhida.

Seu primeiro contato com os segredos de um ofício se dera na oficina de Serralheria, na qual tinha se matriculado. Essa oficinaera dirigida pelo mestre Silvino Domingos da Silva, o serralheiro mecânico mais conhecido em Natal naquela época.

Lembro-me que a minha primeira tarefa exe-cutada como aprendiz de serralheiro foi a de um marisco, conhecido mais pelo nome de “raspador de coco”. Ocorre-me à memória que mestre Silvino [...] era um homem de quase sessenta anos, magro, de estatura regular, alvo, de olhos castanhos, um pouco áspero e enérgico. Na minha humildade de aluno pobre, que o era nesse tempo, certa vez, não me conformando com uma repreen-são feita pelo mestre, a qual julguei injusta, resolvi mudar de oficina, o que consegui depois de haver ponderado o ocorrido e as minhas razões ao Dr. Sebastião Fernandes. Este, por sua vez, com a sua proverbial edu-cação, manda chamar o mestre Silvino e diz-lhe que o aluno Evaristo Martins de Souza desejava transferir-se para outra oficina, no que o mestre Silvino concordou. Assim, no dia seguinte, fui transferido para a oficina de Marcenaria, cujo mestre era o professor Joaquim de Paula Barbosa.1

Egresso da Escola de Aprendizes Artífices de Natal, Evaristo Martins de Souza testemunhara, junto com outros 12 menores da oficina de Sapataria, 32 de Marcenaria, 33 de Alfaiataria, 23 de Serralheria e 7 de Funilaria2, os primeiros anos de fundação do

1 SOUZA, Evaristo Martins de. Evocando o passado de nossa Escola. Natal, [1959?]. p.1-2.

2 RIO GRANDE DO NORTE (Estado). Presidente Alberto Maranhão. Mensagem apresentada ao Congresso Legislativo na

ensino profissional federal no Rio Grande do Norte, um dos 19 Estados contemplados pelo Decreto presidencial de Nilo Procópio Peçanha, datado de 23 de setembro de 1909.3

A iniciativa da União encontrara na cessão do antigo edifício do Hospital da Caridade Juvino Barreto4, construído em 1856, pelo presidente da

Província Antônio Bernardo de Passos, e ocioso desde 1906 com sua transferência para o Monte Petrópolis5, a contrapartida necessária à instalação

da Escola de Aprendizes Artífices de Natal. Situado à rua Presidente Passos, no bairro deCidade Alta, o edifício sede da nova escola havia sido restaurado no final do século XIX.6

Como função inicial, caberia às escolas de aprendizes artífices a oferta de oficinas de trabalho manual ou mecânico e dois cursos noturnos obrigatórios: primário, para os alunos que não soubessem ler, escrever e contar; e de desenho, necessário ao exercício satisfatório do ofício.7 No final

de 1911, a recém-criada Rede de Ensino Profissional Federal já contava com 2.309 matriculados em 19 Estados da Federação.8

Em Natal, coube ao bacharel em Direito, Sebastião Fernandes de Oliveira, 32 anos, pertencente à geração dos poetas que sucederam Segundo Wanderley, dentre os quais Jorge Fernandes, seu

abertura da Primeira Sessão da Sétima Legislatura em 1º de novembro de 1910. Natal: Typografia d’A República, 1910, p.7-8.

3 BRASIL. Decreto nº. 7.566 de 23 de setembro de 1909. Cria nas Capitais dos Estados da República Escolas de Aprendizes Artífices para o ensino profissional primário e gratuito. Coleções de Leis do Brasil. Imprensa Nacional: Rio de Janeiro, 31 dez. 1909. Disponível em: <http:// www6.senado.gov.br>. Acesso em: 04 dez. 2007.

4 RIO GRANDE DO NORTE (Estado). Presidente Alberto Maranhão. Mensagem apresentada ao Congresso Legislativo na abertura da Terceira Sessão da Sexta Legislatura em 1º de novembro de 1909. Natal: Typografia d’A República, 1909, p.9.

5 SOUZA, [1959?].

6 NESI, Jeanne Fonseca Leite. Caminhos de Natal. Natal: IHGRN, 1997.

7 BRASIL. Decreto nº. 7.566 de 23 de setembro de 1909. 8 BRASIL. Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio. Relatório apresentado ao presidente da República dos Estados Unidos do Brasil pelo Ministro de Estado dos Negócios da Agricultura, Indústria e Comércio Dr. Pedro de Toledo, no ano de 1911. Rio de Janeiro: Oficinas da Diretoria Geral de Estatística 1911. p.311-312.

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irmão, introdutor da poética modernista natalense, a tarefa de primeiro conduzir a gestão da Escola de Aprendizes Artífices, incumbência que perduraria até maio de 1915.9

Atuando numa vertente oposta, porém semelhante à do poeta Henrique Castriciano, dedicado à profissionalização feminina e à instalação da Escola Doméstica de Natal, Sebastião Fernandes

teve seu trabalho reconhecido por sua atuação no ensino profissional masculino, primário e gratuito.

Para esse bacharel de talento [...] não foi humilhante aceitar um cargo de dirigir uma Escola de Artífices, quando esse instituto nasceu para não viver, conforme o raciocínio de então. [...] num país afetado pelo vírus da burocracia e da bacharelice petulante [...] o apelo feito aos pais para mandarem seus fi-lhos a uma escola que não fosse o Atheneu 9 ESCOLA DE APRENDIZES ARTÍFICES DO RIO GRANDE DO NORTE. Termos de Compromisso dos Empregados - 1909-1945. Natal, 23 dez. 1909.

ou a Escola Normal, chegava a ser ridículo, insensato. [...] É doloroso verificar que numa terra como a nossa, terra na sua maioria habitada, sobretudo nas cidades litorâneas, por uma população menos que remediada, o desprezo pelos ofícios e pelas artes seja tão acentuado.10

A despeito da visão preconceituosa de alguns conterrâneos, denunciada pelo cronista do jornal A República, em 1912 a diretoria da Escola de Aprendizes Artífices de Natal já reclamava da falta de acomodações suficientes no seu prédio escolar, deixando de prorrogar o período das matrículas, apesar do grande número de pretendentes.11

Graças a um aumento da demanda registrada naquele ano, a escola pudera contratar dois professores adjuntos para os cursos primário e

10 ESCOLA de Aprendizes Artífices. A República, Natal, p.1, 5 mar. 1914.

11 O ENSINO – Escola de Aprendizes Artífices. A República, Natal, 13 jan. 1912.

Os primeiros funcionários: Maria do Carmo Torres Navarro, Sebastião Fernandes de Oliveira (sentado, ao seu lado), escriturário, porteiro e mestres das oficinas (1913).

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de desenho, como o previa um decreto12 do ano

anterior nos casos em que a frequência média no estabelecimento excedesse o número de 50 alunos. Assim, no primeiro semestre de 1912, o escriturário Ezequias Pegado Cortez redigia os termos de posse de Maria Abigail Furtado de Mendonça e Raimundo Hostílio Dantas, contratados para dar suporte a Maria do Carmo Torres Navarro e Abel Juvino Paes Barreto. 13

12 BRASIL. Decreto nº. 9.070 de 25 de outubro de 1911. Dá novo regulamento às escolas de aprendizes artífices. Coleções de Leis do Brasil. Imprensa Nacional: Rio de Janeiro, 31 dez. 1911. Disponível em: <http://www6.senado.gov.br>. Acesso em: 04 dez. 2007.

13 ESCOLA DE APRENDIZES ARTÍFICES DO RIO GRANDE DO NORTE. Termos de Compromisso dos Empregados - 1909-1945. Natal,

Na época, a Escola fazia das suas vantagens a melhor e mais eficaz propaganda, demonstrada pelo aproveitamento dos que a frequentavam -adolescentes admitidos dentre aqueles que não sofressem moléstias infecto-contagiosas, nem tivessem defeitos que os impossibilitassem ao aprendizado do ofício.14

A festa de premiação realizada no salão nobre do Natal Clube, no dia 11 de abril de 191215, diante

de um numeroso e seleto auditório, inaugurava um

23 dez. 1909.

14 BRASIL. Decreto n.º 7.566 de 23 de setembro de 1909. 15 ESCOLA de Aprendizes Artífices. A República, Natal, 22 abr. 1912.

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dos momentos mais esperados pelos aprendizes: a distribuição de prêmios, conforme o grau de adiantamento e aptidão dos estudantes, com recursos obtidos na venda dos artefatos produzidos nas oficinas.

Naquela noite, distribuíram-se três grandes prêmios: Rio Branco, no valor de 150 réis, concedido ao aprendiz de marceneiro Inocêncio Manoel do Nascimento; Pedro de Toledo, alcançado por Salvador Carneiro, aprendiz de alfaiate, no valor de 125 réis; e Alberto Maranhão, equivalente a 112 réis, obtido pelo aprendiz de sapateiro Elói Marques do Nascimento.

Sob a presidência do Coronel Pedro Soares de Araújo, representando o presidente da Província, e na presença do reverendo Alfredo Pegado e do chefe da Inspetoria Agrícola, Manoel Dantas, representante do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, ao qual as escolas de aprendizes estavam vinculadas, a solenidade de premiação contara com a entoação do Hino Nacional, pelos aprendizes, e do Hino do Trabalho, de autoria do diretor Sebastião Fernandes, musicado por José Borrajo, ambos acompanhados ao piano pela senhorita Chiquita Barros.

Cabe a nós o futuro e a grandeza Desta terra imortal e sem par Tudo é riso, bondade e beleza Neste nosso país modelar.

Sois forte em expressão da harmonia Sob a terra feliz, sobre o mar Este grito de paz, de alegria Trabalhar, trabalhar, trabalhar. Grande, sim, belo e grande temido Sempre foi e pra sempre será Mais feliz, respeitado e querido O trabalho somente o fará. Vence a inércia o labor soberano Sejam todos um só lutador Só assim o país sobre-humano Há de ser um país vencedor.16

Finda a solenidade, sob um céu iluminado pelos postes de energia elétrica recém-instalados na cidade pela Empresa de Melhoramentos de Natal17,

16 HINO do Trabalho para a Escola de Aprendizes Artífices de Natal. A República, Natal, 23 abr. 1912.

17 ARRAIS, Raimundo; ANDRADE, Alenuska; MARINHO, Márcia. O corpo e a alma da cidade: Natal entre 1900 e 1930. Natal: EDUFRN, 2008.

os aprendizes saíram em desfile atéo edifício sede da Escola, tendo, à frente, a banda de música do Batalhão de Segurança.

Envolvidos numa rotina diária de atividades que incluía aulas de primeiras letras, desenho e aritmética, os pequenos aprendizes, com idade entre 12 e 16 anos, atuavam entre 4 e 6 horas por dia na produção de artefatos nas oficinas da Escola.18 O produto da comercialização desses

artigos constituía parte da renda usada na aquisição de matéria prima e na distribuição de prêmios aos aprendizes artífices.

No final de 1912, o montante dos artefatos vendidos equivalia a 4 contos e 105 mil-réis (4:105$), obtidos com a fabricação de sapatos, botinas, mesinhas, bancos, armários, cantoneiras, regadores, pés para bancos, parafusos, bicas de folha de flandres, máquinas para gás acetileno, suportes para escarradeiras, ternos de brim e casimira e uniformes, entre outros produtos.19

Quando as oficinas da Escola de Aprendizes Artífices de Natal foram instaladas, em 1910, o valor total do patrimônio referente aos equipamentos, às ferramentas e aos utensílios20 necessários ao seu

funcionamento somava cerca de 7 mil contos de réis.

A oficina de Marcenaria, a cargo do mestre Joaquim de Paula Barbosa, 57 anos, tinha um custo mais elevado – cerca de 2 contos e 500 mil réis, em função da maior quantidade de maquinário, com a vantagem de ser aproveitado para os trabalhos da oficina de Serralheria, administrada por Francisco Severo da Silva, 35 anos. Dentre os bens existentes,

constavam uma máquina de serrar, outra para furar combinados, um torno de ferro para serrotes, um fogão especial para ferro de soldar, além de formões, martelos, esquadros, maçaricos de bronze, glosas para madeira e plaina de ferro.

A oficina de Funilaria, por sua vez, conduzida pelo mestre João Viterbino de Leiros, de 30 anos, tinha um torno de bancada, um fogareiro, uma mesa com resfriadeira, compassos, esquadros, escalas de aço e tesouras de cortar zinco.

Já o patrimônio da oficina de Sapataria,

adminis-18 BRASIL. Decreto n.º 9.070, de 25 de outubro de. 1911. 19 BRASIL. Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio. Relatório apresentado ao presidente da República dos Estados Unidos do Brasil pelo Ministro de Estado dos Negócios da Agricultura, Indústria e Comércio Dr. Pedro de Toledo, dos anos de 1911 e 1912, 1 v., p.272.

20 ESCOLA DE APRENDIZES ARTÍFICES DO RIO GRANDE DO NORTE. Livros de Bens Móveis – Oficinas de Marcenaria, Funilaria, Sapataria, Alfaiataria e Serralheria - 1911. Natal, 07 fev. 1911.

(18)

trada por Paschoal Romano Sobrinho, de 44 anos, incluía uma máquina de braço Singer, duas máqui-nas de colocar botões e ilhoses, 96 pares de formas de números 19 a 44, facas, martelos, carretilhas e calçadeiras de aço.

Do mesmo modo, a de Alfaiataria, a cargo do mestre José Barbosa da Silva, 38 anos, possuía três máquinas de costura, manequins números 40

a 48, tesouras, ferros de passar, jogos de réguas e medidas para alfaiate.

Até 1915, poucos maquinários foram adicionados ao então existente, registrando-se, ao contrário, uma certa depreciação dos bens móveis disponíveis.

Oficina de Marcenaria da Escola Industrial de Natal, 1953.

Acima, inventário de bens da Oficina de Sapataria, conduzida pelo mestre Paschoal Romano Sobrinho (1916).

(19)

A aquisição de imóvel próprio, no centro da capital, que passaria por

reformas na década de 20, garantiu a instalação definitiva da Escola de

Aprendizes Artífices, espaço no qual permanecera ao longo de 53 anos.

(1914?)

(20)

Um novo começo

Da periferia ao centro

Aquele fora um dia festivo para a Escola de Aprendizes Artífices de Natal. O diretor, Sebastião Fernandes, mandara uniformizar todos os alunos, dando-lhes instrução militar, a fim de constituir um batalhão escolar. Para isso, foram construídos, na oficina de Marcenaria, espingardas e sabres de madeira, espadas e outros apetrechos bélicos.

A data coincidia com o término das sessões legislativas estaduais, razão pela qual compareceu à festa de encerramento do ano letivo de 1913 o presidente da Província do Rio Grande do Norte, Alberto Maranhão, acompanhado de congressistas e representantes de sua Casa Civil e Militar.

Concluída a solenidade, o batalhão escolar e sua banda marcial estrearam em passeata pelas ruas da cidade, segundo relato do então aprendiz de marceneiro, Evaristo Martins de Souza:

Coube-me, nesse dia, o posto de Primeiro sargento, tomando parte na Guarda de Hon-ra da BandeiHon-ra, um pouco contHon-ramão é ver-dade, mas tudo era dispensado, porque era um batalhão de alunos. Nesse mesmo dia, 30 de novembro, fôra inaugurada a exposição escolar, uma das mais brilhantes constatada por todos os presentes naquela época, como também a distribuição dos prêmios aos alu-nos mais aproveitados naquele ano letivo. [...] Coube a mim um prêmio na importân-cia de 21 contos e 500 reis (21$500), que era muito dinheiro para mim, além de um estojo de desenho e uma Aritmética Progressiva do Curso Superior de Antônio Trajano.1

A festa de encerramento do ano escolar também marcava a despedida dos alunos e funcionários do edifício no qual estavam instalados desde janeiro de 1910. Sua desocupação fora motivada pela cessão, ao Governo Federal, da escritura pública de um prédio situado à Avenida Rio Branco, n.º 743, no centro da capital, para instalação definitiva da Escola de Aprendizes Artífices de Natal.2

1 SOUZA, Evaristo Martins de. Evocando o passado de nossa Escola. Natal, [1959?]. p.3.

2 RIO GRANDE DO NORTE (Estado). Presidente Alberto

O Batalhão de Segurança vinha ocupando o referido casarão desde 19093, quando o Colégio

Imaculada Conceição, que nele mantinha sua sede, fora transferido para a Avenida Deodoro da Fonseca, onde até hoje se mantém.

Entre as férias escolares de 1913 e o reinício das aulas, em 1914, a Escola de Aprendizes Artífices se instalara no antigo Natal Clube, tendo-se transportado, posteriormente, para a edificação cedida pelo governo estadual.4

As instalações da nova sede, entretanto, necessitavam adequar-se aos fins a que agora se destinava. Em razão disso, em agosto de 1914, a diretoria da Escola, havendo obtido uma verba no valor de 14 contos e 367 mil-réis (14:367$240), do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, abriria concorrência para as primeiras obras de adaptação do edifício.5

Maranhão. Mensagem apresentada ao Congresso Legislativo na abertura da Primeira Sessão da Oitava Legislatura em 1º de novembro de 1913. Natal: Typografia d’A República, 1913. p.14-15.

3 SOUZA, [1959?]. 4 Idem.

5 EDITAIS - Concorrência para as obras de adaptação do prédio destinado à Escola de Aprendizes Artífices neste Estado. A República, Natal, p.2, 03 ago. 1914.

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A produção do trabalho final nas oficinas constituía a última etapa para

a diplomação dos artífices, garantindo-lhes receber as ferramentas

necessárias ao exercício do seu ofício. (Década de 40)

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Operário ou artesão?

Do domínio da produção à especialização

Por pouco, eles não receberiam as ferramentas as quais tinham direito com a conclusão do curso. Naquele ano, a ameaça provinha do Congresso Nacional, que tardara a restabelecer as diárias a que os alunos faziam jus como membros da Associação de Cooperativa e Mutualidade da Escola de Aprendizes Artífices de Natal.

Organizadas em todas as escolas profissionais da Rede Federal, as Caixas de Mutualidade1 visavam,

além de conter a evasão escolar, facilitar a produção das oficinas e aumentar-lhes a renda, garantindo aos alunos as ferramentas necessárias ao seu ofício, tão logo terminado o curso. 2

Graças a uma consignação de 40 contos de réis (40:000$000) obtida pelo Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio3 em auxílio às referidas

Associações, o aprendiz de serralheiro, Joaquim Francisco Carneiro, e os aprendizes de alfaiate, Francisco Leite de Carvalho, Salvador Carneiro e Antônio Gomes da Rocha Fagundes Netto puderam assistir à Sessão Solene de Assembleia Geral da Sociedade Cooperativa, às 12h do dia 7 de julho de 1916, na qual lhes foram entregues os diplomas e as devidas ferramentas. 4

À ocasião, presidida pelo diretor da Escola, o juiz de Direito, Silvino Bezerra Neto, 30 anos, estiveram presentes todos os professores, mestres e alunos. Os formandos de Alfaiataria receberam como prêmio uma máquina de costura, uma tesoura, um jogo de ferro de cinco quilos, um fogareiro e uma medida. Ao aluno egresso da oficina de Serralheria, lhe foi entregue uma forja portátil, uma safra, uma marreta, um martelo, uma escala de aço e dois compassos.

1 BRASIL. Decreto nº. 9.070 de 25 de outubro de 1911. 2 BRASIL. Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio. Relatório apresentado ao presidente da República dos Estados Unidos do Brasil pelo Ministro de Estado dos Negócios da Agricultura, Indústria e Comércio Dr. Pedro de Toledo, dos anos de 1911 e 1912. Rio de Janeiro: Oficinas da Diretoria Geral de Estatística, 1912. 1 v., p.268-270.

3 ______.______. Relatório apresentado ao presidente da República dos Estados Unidos do Brasil pelo Ministro de Estado dos Negócios da Agricultura, Indústria e Comércio Dr. José Rufino Beserra Cavalcanti no ano de 1916. Rio de Janeiro: Oficinas da Diretoria Geral de Estatística, 1916. 1 v., p.XXVII-XXVIII.

4 ESCOLA de Aprendizes Artífices. A República, Natal, 07 jul. 1916.

Desde que assumira a direção do estabelecimento, em abril de 19155, o seridoense Silvino Bezerra

Neto6, enfrentava, no ano letivo de 1917, os maiores

desafios de sua gestão. O atraso no repasse da verba destinada à execução das obras de reparação no prédio da Escola de Aprendizes Artífices adiara o início das aulas para 2 de julho daquele ano.

Em relatório7 apresentado ao Ministério da

Agricultura, Indústria e Comércio, o dirigente informava que, mediante concorrência pública que resultara na contratação do arquiteto Francisco Cardoso de Figueiredo, foram demolidas e reconstruídas, desde as bases, duas paredes do prédio que ameaçavam desabar.

Em função dos transtornos causados pelo retardamento das aulas, a frequência reduzira-se a

5 ESCOLA DE APRENDIZES ARTÍFICES DO RIO GRANDE DO NORTE. Termos de Compromisso dos Empregados - 1909-1945. Natal, 23 dez. 1909.

6 BEZERRA, Luiz G. M. Silvino Bezerra Neto. Mossoró: Fundação Guimarães Duque; Fundação Vingt-un Rosado, 2001. (Coleção Mossoroense, série C, v. 1251).

7 ESCOLA DE APRENDIZES ARTÍFICES DO RIO GRANDE DO NORTE. Relatório referente ao ano de 1917 apresentado ao Exmo. Sr., Dr. J. G. Pereira Lima, M.D. Ministro da Agricultura, Indústria e Comércio, pelo diretor Bacharel Silvino Bezerra Neto. Natal: Atelier Typográfico M. Victorino, 16 jan. 1918.

Certificado de aprendiz de Alfaiataria do aluno Francisco Leite de Carvalho (1916)

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55 alunos, dentre os 107 matriculados inicialmente. A despeito desses prejuízos, o diretor da Escola esforçava-se em oferecer aos alunos, para além da instrução profissional e literária cabível, constantes lições de educação moral e cívica:

As professoras, conforme recommendação desta directoria, preleccionaram sempre, nas respectivas classes, sobre as datas na-cionaes, tendo, a 6 de Setembro, me pare-cido opportuno baixar a seguinte portaria: “O Bacharel Silvino Bezerra Neto, Director da Escola de Aprendizes Artífices do Estado do Rio Grande do Norte: recommenda aos pro-fessores dos cursos primario e de desenho da mesma Escola, a bem da educação civica dos aprendizes, que iniciem as aulas de hoje, ministrando aos seus alumnos uma licção de historia pátria a respeito do feito da Inde-pendência do Brasil, devendo, por occasião da mencionada licção, explicar o justo mo-tivo das festas com que os brazileiros home-nageam a passagem da gloriosa data de 7 de Setembro”. 8

Ao lado do tabagismo e do alcoolismo, sobre cujos malefícios lançava incessante propaganda junto aos aprendizes, o problema do analfabetismo constituía outra grande preocupação do diretor do estabelecimento escolar. Por isso, considerava merecedora de elogio a iniciativa do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio de criar cursos noturnos de aperfeiçoamento nas Escolas de Aprendizes Artífices, destinados aos maiores de 16 anos.9

O tema da formação do operariado brasileiro, que se tornara imperioso naquele final da década de 10 - especialmente com o estancamento do fluxo imigratório e a substituição do modelo de economia baseada na importação - já reclamava a cooperação de uma mão de obra em potencial nas Escolas de Aprendizes Artífices do país, conforme manifestação do então diretor da Escola de Natal, Silvino Neto.

Com a presença dos corpos administrativo e docente, dei, no dia 10 de novembro, uma ligeira explicação aos alumnos sobre a situação do Brazil em face do conflicto 8 Idem. p.5.

9 BRASIL. Decreto nº. 13.064 de 12 de junho de 1918. Dá novo regulamento às Escolas de Aprendizes Artífices. Coleção de Leis do Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 21 dez. 1928. Disponível em: <http://www6.senado.gov.br>. Acesso em: 04 dez. 2007.

europeu, demonstrando a importância da contribuição que poderão dar, si preciso, os próprios aprendizes artífices na defesa da pátria, com o seu trabalho, que será valioso, na confecção de artefactos, como fardamentos, calçados e vários outros utensílios que a effectivação do estado de guerra reclamará com abundância. Expliquei igualmente a necessidade e relevância da instrucção militar que aos mesmos alumnos estava sendo ministrada [...]. A idéia alvitrada do aproveitamento, em caso de guerra, do trabalho dos aprendizes, é perfeitamente viável e impõe-se a sua adopção, por um lado, pela economia que se fará sobre o custo da mão de obra dos mesmos artefactos e utensílios, que, até em tempo de paz, muito pesa aos cofres da união, por outro lado pela margem que offerece a se poder deslocar das officinas particulares para as linhas de combate cerca de 1.600 adultos, que, assim, ficarão substituídos pelos alumnos das 20 escolas de Aprendizes Artífices do paiz, calculada para cada uma destas uma média de 80 aprendizes que possam trabalhar.10 Para poderem atuar como partícipes desse projeto de industrialização nacional e preparar os operários requisitados pela Nação, as Escolas de Aprendizes Artífices necessitavam, entretanto, uniformizar procedimentos, sistematizar programas de ensino, unificar a metodologia pedagógica, industrializar as oficinas e aumentar-lhes a produtividade.

Nesse contexto de entusiasmo reformista, o Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio cria, em 1920, a Comissão ou Serviço de Remodelação do Ensino Técnico Profissional11, cuja chefia fora

atribuída ao engenheiro gaúcho João Lüderitz, à época, diretor do Instituto Parobé, vinculado à Escola de Engenharia de Porto Alegre, apontado como instituição modelo para o ensino técnico no país.

Para concretizar dita reforma, a comissão considerava que uma série de obstáculos teriam que ser transpostos no âmbito interno das Escolas de

10 ESCOLA DE APRENDIZES ARTÍFICES DO RIO GRANDE DO NORTE. Relatório referente ao ano de 1917 apresentado ao Exmo. Sr., Dr. J. G. Pereira Lima, M.D. Ministro da Agricultura, Indústria e Comércio, pelo diretor Bacharel Silvino Bezerra Neto. Natal: Atelier Typográfico M. Victorino, 16 jan. 1918. p.7-8.

11 QUELUZ, Gilson Leandro. Método intuitivo e o Serviço de Remodelação do Ensino Técnico Profissional. Revista Educação e Tecnologia, v. 3, n.2, São Paulo, 1998. Disponível em: < http://revistas. utfpr.edu.br/pb/index.php/revedutec-ct/article/view/1036>. Acesso em: 04 dez. 2007.

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Aprendizes Artífices, tais como a falta de professores e mestres qualificados, o mal aparelhamento das oficinas, a inadequação dos seus edifícios para a instalação de uma produção fabril e a oposição de alguns diretores em relação a aspectos autoritários das mudanças.

No tocante a este último ponto, a solução criada pelo Serviço de Remodelação resultara na nomeação de um corpo de inspetores, em boa parte, oriundo da Escola de Engenharia de Porto Alegre ou do Instituto Parobé, que ao longo da década de 20, revezara-se na direção das várias Escolas de Aprendizes Artífices do país.

A partir dos primeiros estudos da Comissão, resultantes das várias inspeções feitas nas escolas, tivera início a tarefa de tradução e elaboração de livros e manuais técnicos, dentre os quais constavam, na lista de material de consumo recebido pela Escola de Aprendizes Artífices de Natal, as obras: Desenho figurativo, Curso de Desenho, Trabalhos Manuais em Cestaria, Modelagem e Modelação, Empalhação e Estofaria e Cartonagens, Manuais de Artefatos de Madeira, Manual de Desenho de Máquinas e Curso de exercícios profissionais e de iniciação aos trabalhos manuais e de desenho.12

A estruturação do ensino industrial no Brasil dali em diante estaria fundamentada no conjunto de ideias e princípios apresentados no Relatório Lüderitz13, quatro anos após a instalação do referido

Serviço de Remodelação.

Nesse documento, a Comissão orientava para a “necessidade de se cuidar do preparo das elites técnicas” e da educação industrial do povo:

Primeiro, porque, nos países cultos, a capaci-dade produtiva do operário é atribuída à sua cultura técnica; segundo, porque a “edu-cação do proletariado nacional é um meio de defesa da administração superior do país, contra a invasão incondicional do capital in-dustrial estrangeiro e contra os pruridos de radicalismo, que felizmente mal se esboçam entre nós, mas tendem a avolumar-se para culminar em sedições e revoltas”; terceiro, porque pregar a simples disseminação do ensino primário, como tem sido feito, de pou-co vale, pois “o que interessa, indubitavel-mente ao indivíduo, como elemento social, 12 ESCOLA DE APRENDIZES ARTÍFICES DE NATAL. Livro de Material de Consumo. Natal, 1931-1936.

13 NAGLE, Jorge. Educação e sociedade na Primeira República. São Paulo: EPU, 1974.

componente de uma nacionalidade, é poder produzir, não lhe bastando os conhecimentos das primeiras letras.” 14

Lüderitz defendia a aplicação de um plano racional de ensino nas escolas de aprendizes artífices, de modo a permitir aos educandos transpor as limitações da tradição artesanal pelo domínio da máquina e do trabalho industrial. Inscrevendo-se numa tendência reformadora da educação apontada como Taylorismo na escola, o engenheiro pretendia promover um maior rendimento escolar na produção das oficinas, imprimindo aos aprendizes um ritmo de trabalho industrial.15

Suas ideias inspiraram a Consolidação dos Dispositivos Concernentes às Escolas de Aprendizes Artífices16, aprovada em 1926 pelo Ministério da

Agricultura, Indústria e Comércio. O documento trazia, como principais mudanças, a elevação de quatro para seis anos na duração dos cursos e o desdobramento de cada oficina em seções de ofícios correlatos.

O currículo proposto reservava, para as duas primeiras séries, em paralelo aos cursos primário e de desenho, a aprendizagem de trabalhos manuais como etapa pré-vocacional à prática do ofício propriamente dito, adquirida nos dois anos seguintes, podendo o aluno permanecer na instituição por mais dois anos complementares.

Com tais modificações, as oficinas de Marcenaria, Serralheria, Funilaria, Sapataria e Alfaiataria da Escola de Aprendizes Artífices de Natal seriam transformadas nas seguintes seções de ofícios, com suas respectivas especializações:

Seção de Trabalhos de Madeira

3º ano - Trabalhos de vime, empalhação, carpintaria e marcenaria

4º ano - Beneficiamento mecânico de madeira e tornearia

Seção de Trabalhos de Metal

3º ano - Latoaria, forja e serralheria

14 Idem, p.166. 15 QUELUZ, 1998.

16 CUNHA, Luís Antônio. O ensino de ofícios nos primórdios da industrialização. São Paulo: UNESP, Brasília, DF: Flacso, 2000. p.73-75.

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4º ano - Fundição e mecânica geral e de precisão

Seção de Fabrico de Calçados

3º ano - Sapataria comum

4º ano - Manipulação de máquinas

Seção de Feitura do Vestuário

3º ano - Costura a mão 4º ano - Feitura e acabamento

Anos depois, também se podia verificar, na Instituição, a existência de duas novas seções.

Seção de Artes Decorativas

3º ano - Modelagem e pintura decorativa

4º ano - Estucagem, entalhação e formação de ornatos em gesso e cimento

Seção de Artes do Couro

3º ano - Obras de correeiro

4º ano - Trabalhos de curtume e selaria

Quanto à composição curricular dos cursos primário e de desenho, a Consolidação prescrevia os seguintes conteúdos:

1º ano: leitura e escrita, caligrafia, contas, lição de coisas17, desenho e trabalhos manuais, ginástica

e canto.

2º ano: leitura e escrita, caligrafia, contas, lição de coisas, desenho e trabalhos manuais, ginástica e canto, elementos de geometria, geografia e história pátria, instrução moral e cívica.

3º ano: português, aritmética, geometria, geografia e história pátria, instrução moral e cívica, lição de coisas, caligrafia, desenho ornamental e de escala, aprendizagem nas oficinas.

4º ano: português, aritmética, geometria, rudimentos de física, instrução moral e cívica, desenho ornamental e de escala, desenho industrial e tecnologia, aprendizagem nas oficinas.

17 Entendido tanto como disciplina, quanto como método intuitivo de ensino, adotado na educação primária, como forma de desenvolver a inteligência da criança por meio dos sentidos.

Com relação ao tema da formação de professores para as escolas de aprendizes artífices, a solução que se impusera ao Serviço de Remodelação fora adotar a Escola Normal de Artes e Ofícios Wenceslau Brás, situada na capital da República, como local de estágio para os egressos das instituições da Rede e sede da realização de cursos de aperfeiçoamento.18

Apesar de considerar excelente o nível do corpo docente da Escola Wenceslau Brás, para João Lüderitz, impunha-se a criação de, pelo menos, mais duas escolas normais, sugestão que acabara recaindo sobre os Institutos Parobé, do Rio Grande do Sul, e Lauro Sodré, do Pará.

Nesse aspecto da qualificação docente, o Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio já havia decretado, em 1918, a exigência de habilitação em concurso de provas práticas para o provimento dos cargos de professores e mestres, adjuntos e contramestres. 19

Na Escola de Aprendizes Artífices de Natal, o jovem Evaristo Martins de Souza, 23 anos, assumiria, em 17 de julho de 1920, a função de contramestre da oficina de Marcenaria, tornando-se um dos primeiros egressos da instituição a retornar como funcionário à escola que o havia acolhido como aluno. 20

18 CUNHA, 2000.

19 BRASIL. Decreto nº.13.064 de 12 de junho de 1918. 20 REGISTRO Funcional do Servidor. Evaristo Martins de Souza. Nomeado em 26 de junho de 1920 para o cargo de contramestre da Oficina de Marcenaria.

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A reforma do prédio escolar atendia aos ideais de cidade

moderna, originários da Belle Époque, e adotados na capital da

República. (Década de 30)

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Ensino Industrial

Uma obra de sólida e lenta construção

Dia seis de março do ano de 1924. O jornal A República anunciava o edital de concorrência1

para conclusão das obras do prédio da Escola de Aprendizes Artífices de Natal. Iniciada em 1922, na gestão do engenheiro civil Lycerio Alfredo Schreiner, diplomado pela Escola de Engenharia de Porto Alegre2, a reforma projetada pelo Serviço de

Remodelação do Ensino Técnico Profissional sofrera interrupção no ano seguinte, após a implantação do novo Código de Contabilidade, que dificultara a apresentação de proponentes devidamente habilitados à concorrência pública.3

Agora, sob a administração interina do escriturário Luiz Gonzaga de Carvalho, as obras, contabilizadas no valor de 126 contos de réis4, foram confiadas ao

construtor Omar O’Grady5, engenheiro formado nos

Estados Unidos e que, quatro anos depois, viria a ter atuação decisiva no projeto de desenvolvimento urbanístico de Natal, durante o governo de Juvenal Lamartine (1928-1930).

Conforme especificava o edital, o construtor encontraria, entre outros serviços já executados, os alicerces em granito, as paredes do andar térreo do edifício principal e, em parte, as paredes do andar superior até a altura de 1,53m, 14 janelões com esquadrias de ferro para o pavimento térreo, bem como diversas esquadrias de madeira, entre as quais a porta principal, medindo 2,00 x 4,20m, construída em quatro folhas de louro, com bandeira em semicírculo.6

1 CONCORRÊNCIA pública para a conclusão de obras da Escola de Aprendizes Artífices do Rio Grande do Norte, em Natal. A República, Natal, p.2, 06 mar. 1924.

2 BRASIL. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, INDÚSTRIA E COMÉRCIO. Relatório apresentado ao presidente da República dos Estados Unidos do Brasil pelo ministro Miguel Calmon Du Pin e Almeida, no ano de 1922. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1925. p.140-141.

3 ______.______. Relatório apresentado ao presidente da República dos Estados Unidos do Brasil pelo ministro Miguel Calmon Du Pin e Almeida, no ano de 1923. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1926. p.241.

4 ______.______. Relatório apresentado ao presidente da República dos Estados Unidos do Brasil pelo ministro Miguel Calmon Du Pin e Almeida, no ano de 1924. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1928. p.369.

5 CARDOSO, Rejane (Coord.). 400 nomes de Natal. Natal: Prefeitura Municipal, 2000.

6 ESCOLA DE APRENDIZES ARTÍFICES DE NATAL. Inventário de

A contratação dos serviços visava à conclusão do edifício principal, com a construção de ambientes de administração, aulas e oficinas de artes gráficas e decorativas, uma oficina de alfaiataria em continuação às existentes, reformas das instalações sanitárias, muros, aterros, nivelamento no terreno e reparos gerais nos ambientes. Para isso, fora depositado no local da obra, a fim de ser aproveitado pelo empreiteiro, todo o madeiramento para o forro, o telhado e o assoalho do prédio principal.

Em consonância com o ideal de cidade moderna originária da Belle Époque francesa, cujo modelo urbanístico influenciara os projetos de intervenção na capital da República, no início do século XX, também a fachada frontal do edifício da Escola de Aprendizes Artífices de Natal viria a apresentar elementos característicos dos estilos neocolonial, eclético e neorrenascentista.7

Destacava-se, em estilo neocolonial, o frontão que coroava a entrada principal do prédio. Os elementos ecléticos, adotados em maior quantidade, estavam presentes nos adornos colocados acima das janelas, nos detalhes em baixo relevo no reboco, na entrada principal em arco pleno, como também no interior da edificação, em especial, no guarda-corpo da escadaria principal e nas bandeiras que enfeitam algumas portas. O tratamento imprimido à superfície da parede externa do pavimento térreo, imitando alvenaria de pedra, caracterizava o estilo neorrenascentista.

Pouco mais de um ano após terem sido retomadas, as obras sofreriam nova paralisação em face da rescisão do contrato do empreiteiro com o Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio. 8

Durante a administração dos dois últimos gestores comissionados pelo Serviço de Remodelação, Waldomiro Fetterman9 - técnico em construções

Bens Móveis e Imóveis – 1923-1924.

7 GADELHA, Dinara Regina Azevedo. Centro de Cultura e Criatividade Liceu das Artes. 2007. 62f. Monografia (Graduação em Arquitetura e Urbanismo) – Departamento de Arquitetura, Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal: 2007.

8 ESCOLA DE APRENDIZES ARTÍFICES DE NATAL. Inventário de Bens Móveis e Imóveis - 1923-1924.

9 BRASIL. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, INDÚSTRIA E COMÉRCIO. Relatório apresentado ao presidente da República dos

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mecânicas pelo Instituto Parobé, e Alcides Raupp Feijó10 - contramestre de trabalhos em metal,

procedente do mesmo Instituto, outros serviços foram executados na sede da Escola de Aprendizes Artífices de Natal.

Em mensagem dirigida à Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte, no início de 1930, o presidente da Província, Juvenal Lamartine, prestava a seguinte informação sobre o andamento das reformas no Órgão Federal.

Conta atualmente com um edifício de mo-derna construção para os serviços de ad-ministração e officinas e um conjunto de pavilhões internos em forma de L, onde se acham installadas a uzina de electricidade, as officinas de Carpintaria, Marcenaria, Forja, Serralheria, Fundição e Mecânica. [...] Em virtude da dificuldade que se encon-tra entre nós de se obter concorrentes para a execução de obras da natureza da que ali se estão levando a effeito, todos os serviços de conclusão das suas installações têm sido feitos administrativamente pela própria di-recção da Escola. No período a que se refere esta mensagem foram empregados noventa contos de reis (90:000$000) na construção de uma nova ala ao lado esquerdo do edifício principal, revestimentos internos e externos, colocação de fôrros além de outros traba-lhos menores, todos executados no mesmo edifício. [...] Para o próximo exercício está projectada a construcção de um moderno pavilhão para installações sanitárias, assim como a acquisição e montagem de machi-narias modernas em todas as suas officinas e a execução de um mobiliário completo e adequado às aulas e officinas. Ficará assim completamente remodelada esta Escola, cujo papel no progresso e desenvolvimento das industrias locaes, e conseguintemente, na economia do Estado, é dos mais impor-tantes.11

A continuidade das ações propostas pelo Serviço

Estados Unidos do Brasil pelo ministro Miguel Calmon Du Pin e Almeida, no ano de 1925. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1929. p.507.

10 ______.______. Relatório apresentado ao presidente da República dos Estados Unidos do Brasil pelo ministro Miguel Calmon Du Pin e Almeida, no ano de 1922. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1925. p.141.

11 RIO GRANDE DO NORTE (Estado). Mensagem apresentada pelo presidente Juvenal Lamartine de Faria à Assembleia Legislativa por ocasião da abertura da 1ª Sessão da 14ª Legislatura em 1º de outubro de 1930. Natal: Imprensa Oficial, 1930. p.63-64.

de Remodelação fora afetada, no entanto, pela instalação do Governo Provisório de Getúlio Vargas, em 1930, que extinguira a referida Comissão substituindo-a, no ano seguinte, pela Inspetoria do Ensino Profissional Técnico12, vinculada ao

recém-criado Ministério da Educação e Saúde Pública13, para

o qual foram transferidas as escolas de aprendizes artífices do país.

A situação de incerteza vivenciada pela Escola de Aprendizes Artífices de Natal, em meados de novembro de 1930, pode ser deduzida a partirdo discurso dirigido pelo jurista Floriano Cavalcanti de Albuquerque, por ocasião da transmissão do cargo de diretor ao escriturário Luiz Gonzaga de Carvalho. De acordo com o art. 36º da Consolidação dos Dispositivos Concernentes às Escolas de Aprendizes Artífices, passo-vos a Direcção desta Escola, em virtude de ter sido exone-rado da Comissão que na mesma vinha ex-ercendo, por ato de hontem, do sr. Presidente do Estado. [...] Entrando na direcção da Esco-la numa phase anormal e critica, nada pude fazer que possa deixar como registro dos vinte e sete dias de minha curta direcção. [...] Em virtude da falta de escripta da Escola, es-cusei-me sempre de requisitar na Delegacia Fiscal a mais insignificante verba, não tendo, portanto, lançado mão de nenhum dinheiro público. Não recebi, igualmente, do ex-direc-tor, o Sr. Alcides Raupp, nenhuma importân-cia, nem caderneta de Banco. Suspendi todas as despezas, excepto duas ou três por indis-pensáveis, como: fornecimento da merenda, de exigência regulamentar e cuja suspensão importaria na baixa absoluta da frequencia, se não mesmo no seu desapparecimento. [...] e a remoção dos acervos de areia, caliça e detritos de construcção, que entulhavam, na sua altura de um metro, o pateo interno da Escola, constituindo além da desagradável impressão, serio e iminente perigo para a Escola, que a menor invernia seria inundada pelas águas [...].14

12 BRASIL. Decreto n.º 19.560 de 05 de janeiro de 1931. Aprova o regulamento que organiza a Secretaria de Estado do Ministério da Educação e da Saúde Pública. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 31 dez. 1931. Coleção de Leis do Brasil. Disponível em: <http://www6.senado. gov.br>. Acesso em: 04 dez. 2007.

13 ______. Decreto n.º 19.402 de 14 de novembro de 1930. Cria uma Secretaria de Estado com a denominação de Ministério dos Negócios da Educação e Saúde Pública. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 31 dez. 1930. Coleção de Leis do Brasil. Disponível em: <http:// www6.senado.gov.br>. Acesso em: 04 dez. 2007.

14 ALBUQUERQUE, Floriano Cavalcanti. Portaria n.º 264-Dr/ EAA. Natal, 12 nov. 1930.

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No decurso dos primeiros anos da década de 30, a Inspetoria do Ensino Profissional Técnico pudera constatar os mesmos empecilhos relatados pelo Serviço de Remodelação, cujas reformas efetuadas nas escolas da Rede haviam sido objeto de medidas parciais, limitadas às possibilidades oferecidas pelas parcas dotações orçamentárias.

Em função do já elevado número de matrículas verificado nas 19 escolas de aprendizes artífices, em 1932, que atingira a cifra de 5.584 alunos, além do aumento da renda recolhida ao Tesouro Nacional procedente da produção nas suas oficinas, o titular da nova pasta apelava para a necessidade urgente de se prosseguir com o Programa de Aperfeiçoamento da Rede Federal de Ensino Profissional:

Penso, Sr. Ministro, que na hora presente, de reconstrução nacional, a solução de tão importante objeto não poderá mais ser procrastinada, antes, pelo contrário, urge ser encarada com energia e sabedoria. Hoje, que cada cidadão vale o que produz, não é possível que a educação industrial continue a marchar a passos tardos. Não é possível que o Brasil, possuindo tão grande número de matérias primas, como ferro, ouro, manganês, algodão e madeiras de lei, continue a importar os artigos mais necessários ao seu consumo. Faz-se mister tratar o mais depressa possível da educação industrial do povo. Só teremos um país forte e respeitado quando a nossa indústria se mostrar, de fato, em franca prosperidade.15

15 BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E SAÚDE PÚBLICA. Relatório apresentado ao Exmo. Senhor Chefe do Governo Provisório Dr. Getúlio Dornelles Vargas pelo Ministro de Estado da Educação e Saúde Pública Washington Ferreira Pires, no ano de 1932. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1934, p.69. Disponível em: <http://brazil.crl.edu/ bsd/bsd/u2302/>. Acesso em: 18 jan. 2011.

Artigo publicado no jornal católico A Ordem, em 1937, que atribui uma função assistencialista à Escola de Aprendizes Artífices

(31)

A exposição anual dos produtos

fabricados nas oficinas visava

mostrar o resultado prático do ensino

ministrado, como o atesta o aprendiz de

marceneiro, na carta ao lado. (1937)

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