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ETFRN DEPARTAMENTO DE PEDAGOGIA E APOIO DIDÁTICO Sistema de Avaliação de Educação Física Natal, 1977.

No documento A Forja e a Pena - Ebook.pdf (11.70Mb) (páginas 127-131)

Na vitória ou na derrota, tudo pelo esporte

16 ETFRN DEPARTAMENTO DE PEDAGOGIA E APOIO DIDÁTICO Sistema de Avaliação de Educação Física Natal, 1977.

17 ETFRN. Diários de Classe de Educação Física – 1974-1989. 18 CUNHA, 2008.

Consoante com a observação de Tião, o chargista Ivan Cabral relata que, quando cursava Geologia, entre 1978 e 1981, fora incentivado por um professor de educação física a dedicar-se ao atletismo, sugestão que aceitara e que lhe fizera despertar para uma área que ainda não havia descoberto.

Como todo aluno, a gente praticava a Educação Física, assim, de forma automática, sem maiores preocupações. Mas eu lembro que um dia eu dei uma carreira um pouco mais rápida do que o normal, e, de repente, o professor disse: ‘Olha, você vai procurar o professor Tião e vá praticar atletismo, você tem potencial. Vá lá!’. Puxa! Você se sente, assim, orgulhoso, eu corri mais do que meus colegas. Consegui fazer sei lá, uns cem metros em quantos segundos a menos do que a maioria. E, para ele, já seria algo que me encaminharia, e me encaminhou para esse treinamento mais específico. Foi lá que conheci o professor Tião, que era de Educação Física e também de Atletismo. E lá a gente passou por um treinamento intensivo, muito diferenciado. Foi um momento em que eu me empolguei muito. Cheguei a participar de pentatlo. Embora não tenha sido medalhista, mas, assim, [...] com essa fase aí, eu pude me motivar, me descobrir, cuidando mais dessa área. 19

Se para muitos estudantes, a ETFRN possibilitava o primeiro contato com o esporte, para outros, a motivação para ingresso na Escola Técnica residia justamente na chance de prosseguir na vivência de uma prática esportiva iniciada anteriormente.

Membro da equipe infantil de futebol de campo do Instituto Padre Monte, no bairro das Rocas, em Natal, coordenada pelo professor Ferdinando Teixeira, ao concluir o ginásio em Artes Industriais, em 1970, Getúlio Marques Ferreira não pensara duas vezes antes de decidir cursar Eletrotécnica (1971-73) na ETFRN.

Eu era atleta também do Padre Monte, e o treinador que era do infantil lá, era do juvenil daqui da Escola [...]. Eu vim porque sabia que a Escola era uma das melhores; segundo porque eu já fazia Eletricidade lá e vim fazer Eletrotécnica aqui; e terceiro porque dava 19 CABRAL, Ivan. Sobre a trajetória do ex-aluno da ETFRN. Entrevistador: Ana Larissa Araújo de Menezes Cardoso. Natal, 18 nov. 2008. 1 gravação digital audiovisual em minidv. (22min).

continuidade ao time de futebol que nós tínhamos. Viemos quase quatro ou cinco pracá, e fomos campões sete vezes aqui! 20 Durante o tempo em que treinara as equipes de futebol de campo e salão da Escola Técnica, Ferdinando Teixeira afirma ter conquistado 10 títulos nos 11 campeonatos estaduais escolares de que participara (JERNS). Mais do que as disputas, a dificuldade maior residia na escolha dos atletas, dada a imensa procura pela modalidade.

Nós deixávamos os avisos nos corredores: tal dia haverá o primeiro treino de futebol. O problema é que tinha gente demais. Cinco horas da manhã, imagine como era, dava muito trabalho da gente selecionar esse povo todo. E eu sempre fui muito disciplinador, muito exigente. Muito mesmo! Não era pouco. Porque eu me autodisciplinava demais, eu me cobrava demais também. E a disciplina interna da escola era muito forte, muito rígida. A gente tava acostumado a ver aqui, por exemplo, no começo, 50 alunos recebendo transferência por indisciplina, no final do semestre. E na educação física, que ele não podia faltar. [...]. Eu acho isso importante, porque dá uma formação diferente ao aluno, ocupa o aluno. Os professores eram orientados, nós tínhamos treinamento em relação a isso, pra gente começar a participar da formação do jovem. Ele não era só um atleta, ele também era um homem, e isso também foi sendo trabalhado. 21

No início dos anos 70, constituía prática comum nas escolas de Natal recrutar bons atletas para suas seleções entre alunos matriculados em outras instituições de ensino. O professor Jorge Moura utilizara-se dessa estratégia para atrair o aluno do CPU, Nilson Cavalcanti Pinto, que matriculado em Mecânica, pudera, completar e reforçar a equipe de voleibol da instituição com vistas aos Jogos Estudantis Brasileiros do Ensino Médio, em 72.

Dez anos depois, o atleta e treinador, tricampeão brasileiro de futsal, voltaria à ETFRN como professor substituto de Ferdinando Teixeira, que se afastaria

20 FERREIRA, Getúlio Marques. Sobre a trajetória do ex-aluno e servidor da ETFRN ao CEFET-RN. Entrevistador: Celise Marinho. Natal, 29 ago. 2005.

21 TEIXEIRA, 2009.

por seis meses para disputar o cargo de deputado estadual. Ciente do caráter provisório da vaga ocupada, e do compromisso da escola para com os Jogos Brasileiros que se avizinhavam, Nilson Pinto fizera da preparação do time de futsal da ETFRN o passaporte definitivo para sua contratação. 22

Foram quatro meses de trabalho intensivo: treinos táticos, condicionamento físico e jogos amistosos contra os times do América Futebol Clube, da Alpargatas Confecções do Nordeste e da Associação dos Funcionários da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (AFURN). 23

Era um sonho meu ficar na escola. Passei a treinar de segunda a sábado. Três horas de treinamento, praticamente, por dia, isso para o time ser campeão, para ver se aparecia uma vaga aqui para eu continuar na escola. Ganhamos todos os jogos da fase classificatória. Na final, perdemos pra Bahia, de 2 a 1. [...] Voltando para cá, meu compromisso estava cumprido [...] E Marcondes renovou o meu contrato por mais um ano [...]. Para vocês terem uma ideia de como era o investimento em esporte na escola, nós viajamos daqui para Goiás em um avião levando em torno de 80 a 90 atletas. Um avião fretado só para a escola! Cada aluno recebeu, na época, um paletó completo, inclusive o calçado. E ainda tinha uma diária. 24

O resultado maior desse investimento se fizera sentir na construção do parque poliesportivo composto por piscina semiolímpica, campo de futebol e ginásio de esportes, os dois últimos inaugurados em setembro de 1975 com um jogo amistoso dos servidores solteiros contra os casados e uma partida de basquetebol.

No ano seguinte à entrega dos equipamentos citados, a ETFRN lançava o evento que marcaria a vivência esportiva do aluno na instituição - os Jogos Internos, cujas cerimônias de abertura reuniam cerca de quatro mil pessoas e constituíam o ponto culminante da festa para todos que participavam de sua organização.

22 PINTO, Nilson Cavalcanti. Sobre o esporte e as aulas de educação física na ETFRN. Entrevistador: Bruna Lobato. Natal, 11 nov. 2008. 1 gravação digital. Sonoro. (38min)

23 ETFRN. Diário de Classe de Educação Física – Turma Futebol de Salão 1982.2. Natal, 1982.

Contratado pela ETFRN em julho de 67, o funcionário José Borges da Silva, o popular Borjão, dedicara metade dos seus 30 anos de serviço na instituição ao setor de educação física. Desempenhara as funções de roupeiro, massagista, treinador, chefe de delegação e tudo o mais o que estivesse ao seu alcance.

Todo mundo se envolvia com o esporte, nos jogos internos, nos Jerns. Eu trabalhei 15 Jerns [...]. Os jogos internos, naquele tempo, era fervoroso mesmo! O pessoal brigava, no bom sentido, pra organizar os jogos. Os cur- sos, os professores, todo mundo se envolvia, era uma festa muito grande! Jogos internos, você lotava isso aqui. O ginásio da escola era pequeno! 25

25 SILVA, José Borges da. Programa CEFET em Foco. Quadro A caminho do centenário. Natal, 2009.

Palco de acirradas disputas, rico em alegorias, performances teatrais, shows de dança e ginástica, o desfile das delegações dos cursos técnicos da ETFRN representava o momento mais esperado do acontecimento, servindo tanto à consagração do esforço desprendido por alunos, professores e funcionários, quanto à integração da comunidade estudantil.

Conquistar o Troféu Desfile significava atender aos critérios de melhor alegoria técnica, harmonia, criatividade, mensagem cultural, uniformidade, disciplina e cronometragem. Entre as principais temáticas que forneciam o enredo para a composição das solenidades de abertura destacavam-se a realidade social brasileira, os desastres naturais e os avanços da ciência e tecnologia. 26

A propósito deste último tema, em 84, o desfile de Eletrotécnica chamara a atenção do público ao apresentar Ranjoc, um robô construído por um aluno do curso para simbolizar o avanço da eletrônica. Em 86, a representação da ameaça nuclear apareceria no desfile de Mecânica e, em 88, um ano após o acidente radioativo com a cápsula de Césio 137, em Goiânia, os cursos de Mineração e Eletrotécnica encenariam os riscos da energia nuclear e defenderiam o uso das fontes energéticas renováveis.

Na disputa das modalidades individuais e coletivas, nenhum curso era páreo para os meninos de Eletrotécnica, campeão geral na categoria masculina por sete vezes consecutivas. 27 Formado

por turmas majoritariamente masculinas, Mecânica também não deixava por menos, segundo Aguinaldo Pires, aluno do curso no período de 87 a 91.

Nos três anos e seis meses que eu passei na escola me envolvi em alguns eventos que a escola oferecia, tanto culturais, quanto es- portivos. Por exemplo, eu desenvolvi o xadrez, inclusive chegando a competir, joguei vôlei [...]. Mecânica tinha uma grande tradição no futebol, no basquete e no handebol, então pra mim era o melhor curso e era quem se dava melhor nesse período dos jogos. A tor- cida era muito vibrante. O curso fazia real- mente a diferença, apesar de ser composto em sua maioria por homens, infelizmente. 28

26 ETFRN. Agenda, 1983-1988. (Boletim informativo da ETFRN) 27 ______. ETFRN abre com sucesso X Jogos Internos. Informativo Interno, Natal, 09 jul. 1985, ano VI, n.97.

28 PIRES, Aguinaldo. Sobre a importância da ETFRN na vida do ex-aluno. Entrevistador: Arilene Lucena de Medeiros. Natal, 08 jun. 2008. 1 gravação digital em minidv. (06min).

Na categoria feminina, sobressaíam-se Edificações, Saneamento e Estradas, cursos marcadamente caracterizados pela presença das meninas. Técnica em Edificações, Ana Márcia Melo Teixeira vivenciara os jogos internos da ETFRN de 1981 a 1983:

Foi uma época da minha vida muito boa. [...] A primeira vez que eu joguei basquete foi aqui, e no primeiro ano que eu fiz basquete fui convocada pra seleção do Rio Grande do Norte. [...] E nos jogos internos, teve ano de eu ganhar três medalhas de ouro, quer dizer, muito gratificante. [...] Hoje eu mostro pros meus filhos e digo: olha aqui o que é garra! (risos) 29

Já nos cursos de Mecânica e Eletrotécnica, dada a condição numericamente inferior das meninas, não lhes restava alternativa senão competir, simultaneamente, em três ou quatro modalidades. Estudante de Mecânica, entre 84 e 87, Kátia Correia Torres disputara basquete, handebol, vôlei, atletismo e xadrez.

De todas as atividades que a escola oferecia pra gente, a que mais me marcou foram os jogos internos [...] porque era um momento realmente de confraternização. [...] E o mais marcante nesse processo é que, até então, nos desfiles, que eram as aberturas onde todos os cursos realmente brigavam pela pontuação, pela vitória, por sair realmente vitoriosos, Mecânica sempre saía por último. Saía por último porque era um curso que ti- nha o maior número de meninos. Então, as meninas dificilmente conseguiam ter uma participação mais efetiva, e ficava aquela coisa muito pesada. Até que chegou um co- lega nosso e resolveu inovar por completo essas aberturas [...], e aí começamos a fazer desses desfiles verdadeiros palcos teatrais [...]. Agora, o jogar é o que era o mais inte- ressante. [...] Para mim foi realmente sempre um desafio e foi a parte que eu mais gostei de tudo. 30

A partir de 1986, mudaram-se as regras do

29 TEIXEIRA, Ana Márcia Melo. Sobre a trajetória da ex- aluna e servidora na Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte. Entrevistador: Arilene Lucena de Medeiros. Natal, 02 set. 2008. 1 gravação digital audiovisual em minidv (15min).

30 MARQUES, Kátia Correia Torres. Sobre a trajetória da ex- aluna e servidora da Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte. Entrevistador: Arilene Lucena de Medeiros. Natal, 09 set. 2008. 1 gravação digital audiovisual em minidv. (17min).

jogo. Os cursos deixaram de competir entre si para disputar os títulos das diferentes modalidades. Com isso, quebrava-se a hegemonia dos tradicionais vencedores e equilibrava-se o resultado geral das competições.31 Nesse ano, Geologia apontara como o

grande vencedor no basquete feminino; Edificações obtivera o 1º lugar na natação masculina e feminina e Mecânica conquistara a primeira colocação no basquete, voleibol, handebol, atletismo e futebol masculino.

31 ETFRN. Agenda, Natal, n.19, 13 maio 1986. Vibração da torcida dos Jogos Internos da ETFRN, 1984.

Numa política de incentivo à absorção dos concluintes

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