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GESTÃO DO TEMPO ESCOLAR: A QUESTÃO DAS INTERRUPÇÕES DE AULAS

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Academic year: 2021

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*Maristela Zamoner Organização Não Governamental Ação Consciência Resumo

O aproveitamento do tempo é um dos fatores definitivos para a qualidade do processo escolar. É através do tempo que se transmite, amplia e apropria o saber. A "perda" de tempo tem caracterizado a escola pública brasileira. Prescrições legais como cumprimento de calendário e horário escolares não são respeitadas nestas instituições de ensino. As práticas de substituição do tempo pedagógico vem sendo criticadas. Para a construção intensa do tempo é necessário verificar como ocorrem reduções de tempo provocadas por interrupções no trabalho docente. O objetivo deste trabalho foi analisar o tempo escolar perdido com interrupções durante as aulas. As aulas analisadas foram de terceiro ano do ensino médio no período da manhã. Em 37 aulas observadas foram registradas 65 interrupções. A quinta aula do período é a mais interrompida. 91,9% das aulas sofreram uma ou mais interrupções. As aulas foram interrompidas por: equipe pedagógica e/ou direção, 36,8%; alunos de outras aulas, 34,2%; professores de outra aula, 18,4%; vendedores, 10,5%. A equipe pedagógica poderia evitar 67,7% dos casos. Interrupções curtas foram as mais freqüentes, 64,6%. Para interrupções curtas foi estimado um tempo de 3 minutos, para médias 5 minutos e para longas 10 minutos. Os valores foram atribuídos para cálculo estimado do tempo total de interrupções, que correspondeu a 22,3% do tempo de cada aula em média. Fazendo uso do mesmo referencial, o tempo de interrupções foi estimado em dias letivos, correspondendo a 44,6 dias em um ano. Conclui-se que o tempo escolar ocupado em interrupções é exacerbado e afeta a intensidade do processo ensino-aprendizagem. A responsabilidade pela gestão da maioria das interrupções é da equipe pedagógica, que deveria orientar os diversos setores da escola no sentido de proteger as aulas das constantes interrupções.

Palavras-chave: gestão, tempo, interrupções, pedagogo, escola.

Introdução

Conforme Almeida (2000) é preciso criar um ambiente que favoreça a aprendizagem significativa ao aluno, um ambiente facilitador da disposição para aprender.

___________________________________________________ *Coordenadora de Capacitação. maristela@cc.org.br

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O aproveitamento do tempo é um dos fatores definitivos para a qualidade global do processo escolar. O tempo escolar deve ser visto, simultaneamente, do ponto de vista institucional e pessoal, cultural e individual. O tempo institucional deveria ser prescrito e uniforme. Verifica-se uma variedade de tempos escolares, abrangendo por exemplo: o do professor, o do aluno, o da administração, o da inspeção, o tempo regrado. Um tempo que é organizado e construído social e culturalmente como tal tempo específico, mas que, simultaneamente, é vivido também pelas famílias e pela comunidade, mediante sua inserção e relações com os demais ritmos e tempos sociais (Viñao, 1998).

Para Santiago (1990), é através do tempo que se transmite, amplia e apropria o saber, perpassando todo o trabalho escolar. A "perda" de tempo tem caracterizado a escola pública brasileira.

Segundo Domingues (1985), prescrições legais como cumprimento de calendário e horário escolares não são respeitadas nestas instituições de ensino: há reduções e o tempo diário dedicado ao ensino é ocupado por atividades como reuniões docentes, de pais e mestres e até semanas comemorativas que se tornam "irrelevantes" ou "fantasmas". Estas práticas de substituição do tempo pedagógico vem sendo criticadas (Brandão,1987; Kramer,1991). Cavaliéri (1996) sustenta que aumentar o horário escolar implica em mudança curricular na direção de uma educação integral. Para Rodrigues (2002), o tempo de permanência na escola, ainda é organizado para manter alunos e professores na sala de aula.

A discussão sobre horário integral é questionável enquanto não for consolidado um tempo intensamente construído (Coelho,1995). Para a construção intensa do tempo, seja em sala de aula ou não, é preciso ir além da redução de tempo provocada por atividades extra, e necessário que nos apropriemos também do `como` ocorrem as reduções de tempo provocadas por interrupções no trabalho docente. Antes de discutir o período integral é preciso discutir como se dá hoje a ocupação global do tempo escolar. Sem uma gestão do tempo docente e escolar, poderemos multiplicar a `perda de tempo` que já existe. O objetivo deste trabalho foi verificar e estimar o tempo escolar perdido em decorrência das interrupções ocorridas durante as aulas.

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Foram observadas 37 aulas. Em cada uma das aulas foram registradas as interrupções, uma a uma, considerando: tempo de interrupção (curto – até 3 min; média – até 10 min; longa – mais de 10 min); quem interrompeu; motivo da interrupção. As aulas analisadas foram de terceiro ano do ensino médio da manhã. Os dados foram tabulados e preparados graficamente. Para estimativas de percentual de tempo perdido e dias perdidos, foi considerada interrupção curta de 3 min, média de 5 min e longa de 10 min. Os resultados foram analisados considerando inclusive as normatizações das instituições de ensino.

Resultados e discussão

Nas 37 aulas observadas foram registradas 65 interrupções. A quinta aula do período é a que sofre maior número de interrupções, 30,8%, seguida pela primeira aula, 27,6%. A aula menos interrompida é a segunda, com 6,2% das interrupções (Figura 01).

Figura 01 – Distribuição das interrupções ao longo das cinco aulas. 30,8% 23,1% 12,3% 6,2% 27,6% 1ª 2ª 3ª 4ª 5ª

Fonte: pesquisa de campo.

Nota: amostra referente à 37 aulas abrangendo todas as disciplinas, em 3º ano do ensino médio.

Analisando aulas que sofreram interrupções e aulas que não sofreram, observou-se que 91,9% das aulas observadas sofreram uma ou mais interrupções e apenas 8,1% das aulas não sofreram nenhum tipo de interrupção (Figura 02).

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Figura 02 – Percentuais de aulas interrompidas e aulas não interrompidas.

8,1% 91,9%

Aulas interrompidas Aulas não interrompidas Fonte: pesquisa de campo.

Nota: amostra referente à 37 aulas abrangendo todas as disciplinas, em 3º ano do ensino médio.

Com relação à quem interrompe as aulas, foi verificado que a maior parte das interrupções foi realizada pela equipe pedagógica é responsável pela maioria das interrupções, 29,5%, seguida por alunos de outras aulas, 28,0%. Professores de fora da aula foram responsáveis por 18,4% das interrupções e 10,5% das interrupções foram feitas por vendedores (Figura 03).

Figura 03 – Percentuais de quem interrompe as aulas: professores de fora; alunos de fora; equipe pedagógica ou direção; vendedor.

18,40% 28% 29,50% 7,40% 6,20% 10,50% Prof esso r de fora Alun o de fora Equip e pe dagó gica Dire ção Func ionár ios Vend edor

Fonte: pesquisa de campo.

Nota: amostra referente à 37 aulas abrangendo todas as disciplinas, em 3º ano do ensino médio.

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A responsabilidade pelas interrupções das aulas pode ser verificada pela análise do regimento escolar. Segundo o art. 20º do regimento interno do Colégio analisado, compete à Supervisão de Ensino e a Orientação Educacional:

“VI - Acompanhar o processo de ensino atuando junto aos alunos e pais no sentindo de analisar os resultados da aprendizagem com vistas a sua melhoria.

VII - Subsidiar o diretor e o Órgão Colegiado de Diretor, com dados e informações relativas aos serviços prestados pelo estabelecimento e o rendimento do trabalho escolar.”

Deve então, a equipe pedagógica, analisar os resultados da aprendizagem com vistas a sua melhoria, para perceber o problema das interrupções, estudá-lo e agir de forma a minimizá-lo, orientando todos os responsáveis pelas interrupções no sentido de respeitar o momento de aprendizado que ocorre na aula, compreendendo o dano causado ao processo de ensino-aprendizagem e as implicações das interrupções sobre o rendimento do trabalho escolar. Assim, 67,7% das interrupções é responsabilidade da equipe pedagógica (Figura 04).

Figura 04 – Percentuais referentes ao responsável por evitar as interrupções.

7,7% 3,1%

21,5% 67,7%

Pedagógico Professor Inevitável Aluno sai para trabalhar Fonte: pesquisa de campo.

Nota: amostra referente à 37 aulas abrangendo todas as disciplinas, em 3º ano do ensino médio.

Quanto à duração das interrupções, as curtas foram as mais freqüentes, ocorrendo em 64,6% do total de interrupções (Figura 05).

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Figura 05 – Percentuais referentes à duração das interrupções.

13,8% 21,5%

64,6%

Curta Média Longa

Fonte: pesquisa de campo.

Nota: amostra referente à 37 aulas abrangendo todas as disciplinas, em 3º ano do ensino médio.

Foi delineada uma estimativa em relação aos tempos das interrupções para estimar o tempo total médio de aula perdido com interrupção. Não foi considerado o tempo que o professor despende atraindo novamente a atenção dos alunos para retomada do trabalho com qualidade depois da interrupção.

Para interrupções curtas foi estimado um tempo de 3 minutos, para interrupções médias um tempo de 5 minutos e para interrupções longas um tempo de 10 minutos. Sabe-se que interrupções longas freqüentemente ocupam até mais da metade da aula e interrupções curtas, as vezes ocupam menos de 3 minutos. Os valores foram atribuídos para cálculo estimado do tempo total despendido em interrupções, que chegou a 22,3% do tempo em média para cada aula (Figura 06).

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Figura 06 – Percentuais estimados, referentes ao tempo despendido em interrupções por aula.

77,7% Tempo de aula restante 22,3% Tempo de aula perdido por interrupção

Fonte: pesquisa de campo.

Nota: amostra referente à 37 aulas abrangendo todas as disciplinas, em 3º ano do ensino médio.

Fazendo uso do mesmo referencial, o tempo de interrupções foi estimado em dias letivos, correspondendo a 44,6 dias do total dos 200 dias letivos que devem ser cumpridos (Figura 07).

Figura 07 – Tempo de interrupção de aulas estimado em dias letivos por ano.

44,6 200

Dias letivos Estimativa de interrupções em

dias Fonte: pesquisa de campo.

Nota: amostra referente à 37 aulas abrangendo todas as disciplinas, em 3º ano do ensino médio.

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Conclusão

Conclui-se a gestão do tempo escolar vem sendo inobservada no que tange às interrupções de aulas. O tempo escolar ocupado em decorrência de interrupções é exacerbado, afetando a qualidade do processo ensino-aprendizagem. A responsabilidade pela gestão da maioria das interrupções pode ser atribuída à equipe pedagógica, que deveria estar atenta à questão, subsidiando os diversos setores da escola com orientações no sentido de proteger as aulas das constantes interrupções. Pode-se considerar a possibilidade de realizar levantamentos de dados em cada escola para verificar a situação local e, com base nos dados coletados, adotar procedimentos para reduzir e prevenir as interrupções.

Referências bibliográficas

ALMEIDA, M. E. B. O computador na escola: contextualizando a formação de professores. 2000. Tese (Doutorado em Educação) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2000.

BRANDÃO, Zaia. A escola de 1º grau em tempo integral: as lições da prática. In: Educação e Sociedade, fev.1987.

CAVALIÉRI, Ana M.V. Escola de Educação integral: em direção a uma educação escolar multidimensional. Rio, UFRJ, 1996 (tese de doutorado).

COELHO, Lígia M.C.C. Estudo Dirigido: da compensação à emancipação? Rio, UFRJ, 1994 (tese de doutorado).

DOMINGUES, J.L. O cotidiano da escola pública de primeiro grau, o gosto e a realidade. São Paulo: PUC, 1985 (Tese de doutorado).

KRAMER, Sonia. Ciacs: falácias,equívocos e tentações. In: Educação e sociedade. São Paulo, n.40, dezembro de 1991.

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RODRIGUES, Rogério. The moral education and the "lost pedagogical time". In: COLÓQUIO DO LEPSI IP/FE-USP, 4., 2002, São Paulo. Proceedings online...

Available from:

<http://www.proceedings.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=MSC000000003 2002000400022&lng=en&nrm=abn>. Acess on: 02 July. 2005.

SANTIAGO, M. Eliete. Escola pública de primeiro grau. Da competência à intenção. Rio, Paz e Terra, 1990.

VIÑAO, A. Tiempos escolares, tiempos sociales: la distribución del tiempo e del trabajo en la enseñanza primaria en España (1838-1936). Barcelona: Ariel, 1998.

Referências

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