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ML05: - Veio para Lisboa aos 23 anos - Na resposta à P3 volta atrás à P1

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Academic year: 2021

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Identificação ML05 Duração da entrevista 26:07 Data da entrevista 20-09-2012 Ano de nascimento (Idade) 1942 (70) Local de

nascimento/residência Portimão/ Lisboa Grau de escolaridade mais

elevado Bacharelato

Estado civil Casada

Filhos 2

Local da entrevista Local público

Comentários - Veio para Lisboa aos 23 anos - Na resposta à P3 volta atrás à P1 1

P1 (1:07) 2

E: e podemos começar com a primeira pergunta. ã: acho que existe consenso em 3

relação ao facto de[:] a vida, no mundo, em geral, mas se calhar em particular aqui em 4

portugal ter mudado bastante nos ultimos trinta anos. digamos. ã: na maneira como as 5

pessoas vivem, como se relacionam, onde vivem, não é? ã: em termos de tecnologia, 6

há muita coisa que mudou. acha que a vida das mulheres mudou também? 7

ML05: (.) mudou, sem duvida. (hum) mudou bastante. mudou bastante embora ainda 8

esteja longe daquilo que é desejável, eu acho. (E: é?) mudou bastante, por exemplo, 9

posso-lhe falar de várias visões que eu tenho dessa mudança. eu era professora, 10

antes do vinte cinco de abril, com algum[:] desagrado em muitas coisas que[:] 11

aconteciam em muitas organizações de escolas em muitas matérias que eu tinha que 12

dar forçosamente seguindo aquele livro que às vezes eu odiava, [riso] (hum) depois do 13

vinte cinco de abril foi assim uma porta que se abriu que também mudei de escola, 14

não é? (hum) e[:] fui para escolas, nomeadamente dos olivais onde sempre vivi, e: que 15

percebi que as pessoas que estavam noutra, que eu era mais livre, que eu podia 16

aderir a projetos, que eu podia fazer coisas diferentes. (hum) isso aí modificou-me 17

muito como professora. (hum) posso dizer que até me modificou como mulher, como 18

mãe, como toda a minha vida. (hum) a minha vida teve uma transformação a parti daí. 19

E: hum, e disse que há muita coisa que ainda está longe do[:] //desejável\ 20

ML05: /acho\\ porque sim,

21

porque no fundo[2:] as mulheres por mais que amem os maridos e que amem-- 22

adorem os filhos e que estejam muito ligadas à vida familiar, às vezes há coisas que 23

gostavam de fazer e que é impossível. (hum) quer dizer não-- sentem como[:] que 24

uma-- não[:] é uma pressão, é uma obrigação. de não saltar de certas (hum) barreiras 25

para fazer coisas, que gostava. (hum) eu digo isto porque eu tenho muita necessidade 26

de escrever e de pintar e às vezes isso é quase impossível de realizar. (hum) pela 27

(2)

força do-- dos ã: dos trabalhos do dia-a-dia das minhas obrigações, mesmo agora 28

depois de reformada. (hum) em cons-- consigo encontrar poucos espaços para essas 29

coisas. (hum) às vezes também penso que gostava de frequentar um ou outro curso 30

pequeno, (hum) para aperfeiçoar essas minhas-- e sei de muita gente que tem o 31

mesmo problema. (hum) sim. (hum) e depois sei de outras que[:] eu acho que são 32

infelizes toda a vida. (hum) falando das mulheres que eu conheço em geral, 33

professoras principalmente, com quem contactei, (hum) as pessoas foram bastante 34

infelizes. (E: ok) foram. foram bastante infelizes. mal compreendidas, casamentos 35

frustrados, (E: hum, sim) filhos mal sucedidos, filhos com graves problemas, (hum) 36

pronto. quer dizer, a mudança houve, mas também houve uma mudança para estas 37

coisas que foi pior do que acontecia antes. (hum) antes era tudo muito fechado, muito 38

apertado, mas depois abriu-se este leque de coisas e de experiências para os jovens 39

(hum) que fez com que a vida das mulheres também se tornasse mais complicada 40

apesar de mais-- 41

E: hum //mais livre mas mais[2:] complicada ao mesmo tempo, sim.\ 42

ML05: /mais aberta mais livre mas também mais sofrida.\\ mas de qualquer maneira 43

liberdade é sempre bom. (hum) e a evolução é sempre boa. 44

E: sim. e quando olhar, por exemplo para a vida da sua filha. ã: acha que a vida da 45

sua filha é mui-- enquanto mulher, é muito diferente da sua? 46

ML05: é. é diferente. (hum) é diferente, porque para já é diferente porque ela não teve 47

filhos. (hum) e[:] é uma coisa que me penaliza muito, (hum) e portanto ela teve uma 48

gravi-- uma gravidez mal sucedida, que nos deu a todos um grande sofrimento, e eu 49

acho que a partir daí eu fiquei diferente, fiquei (hum) uma pessoa mais-- um bocadinho 50

mais triste. embora faça por superar, mas (hum) cá no fundo de mim está aquela dor 51

sempre. (hum) e a vida dela eu[:] tenho muita pena porque eu acho que uma pessoa 52

só se realiza inteiramente tendo os filhos. (hum) na minha opinião. (hum) no criar dos 53

fi-- para já eles nascem, e é um-- uma sensação de que alguma coisa espantosa nos 54

aconteceu, a vida muda toda radicalmente, (hum) a gente passa a formar assim um[:] 55

conjunto de pessoas que é uma só. não é? (hum) nós o marido e a filha que nasceu e 56

o filho que nasceu porque eu tenho dois, (hum) é assim uma coisa maravilhosa. e que 57

a minha filha não[:] vai experimentar. (hum) com certeza. (hum) para além disso acho 58

a vida dela ótima. (hum) sabe que eu ã: quando ela era professora, por aí, antes dela 59

ser professora de história, eu tive formações aqui no museu. (hum) depois do vinte 60

cinco de abril lá está, (hum) com a minha escola, viémos ao longo dos anos a várias 61

formações aqui. eu dizia assim “ai que sítio maravilhoso para a minha filha trabalhar.” 62

(E: [riso]) [riso] que ela já andava em história. (hum) “ai que sítio tão bom pa-- oh 63

[FL05] que sítio para tu trabalhares.” então não é que por coincidência aconteceu ao 64

(3)

fim de alguns anos ela ter oportunidade de vir para aqui (hum) e veio. (hum) eu acho 65

que ela está muito bem enquadrada neste[:] trabalho, acho que ela se deve sentir 66

bem, eu acho ótimo, já tenho vindo a muitas visitas dela, (hum) e gosto muito de-- vejo 67

um bocadinho nesta maneira de ela explicar as coisas às pessoas ou aos jovens aos 68

miúdos, (hum) fez-me o retrato de mim na escola. (hum) portanto ela tem tendência 69

para explicar. eu acho que ela (hum) tem. aquela tem-- (E: tem jeito) eu encontro 70

dentro de mim aquilo que ela tem eu vejo um bocadinho o reflexo daquilo que eu 71

tenho. (hum) que eu tinha. [riso] 72

E: que bom. isso é bom. 73

ML05: é (E: ok) eu gosto muito. 74

75

P2 (7:27) 76

E: ã: acha que existe-- hoje em dia existe igualdade entre homens e mulheres? 77

ML05: penso que nunca existirá. (E: não?) não. 78

E: porquê? 79

ML05: não, a cabeça de um homem é[:] muito diferente de uma mulher. (E: é?) a 80

mulher é só sensibilidade à flor da pele é só afeto é só emoção, (hum) um homem é 81

mais hum como é que eu hei-de dizer. mais um bocadinho mais egoísta, mais prático, 82

mais ã: (hum) mais prático. divide as coisas em compartimen-- pelo menos eu, não é? 83

(E: [riso]) divido as coisas em compartimentos “isto é assim porque tem que ser assim 84

assim ali é ali, ” e uma mulher é um bocado diferente. (hum) é. 85

E: isso faz com que em alguns aspetos nunca haverá igualdade por 86

//exemplo em que[2:] aspetos\ 87

ML05: /não nunca haverá nem no trabalho\\ nem familiarmente nunca haverá 88

igualdade, porque são dois seres diferentes! (hum) mas não quer dizer que o convívio 89

não seja perfeito, nos trabalhos não sei, (hum) no-- quando eu era professora as 90

mulheres é que imperavam, porque havia um ou dois professores e o resto era tudo 91

mulheres (hum) num trabalho em que há muitos homens e muitas mulheres não faço 92

ideia. mas penso que seja relativamente pacífico e semelhante. (hum) mas eu-- a 93

igualdade nunca existirá. (hum) quer dizer, agora o que-- uma coisa é a igualdade dos 94

seres. outra coisa é o tratamento que se dá. e sabe-se que em muitas empresas em 95

muitos sítios as mulheres são ainda discriminadas com salários mais baixos, (hum) e 96

não sei quê, (hum) porque os homens merecem mais. continua esta mentalidade. 97

(hum) sabe que sim. (E: sim[:] hum) [riso] (E: ok) que eu discordo completamente. 98

E: sim, claro, como mulher só se pode (ML05: pois) discordar. (ML05: discordar). não 99

é? 100

(4)

P3 (9:10) 102 […] 103 104 (volta atrás à P1) 105

ML05: ah mas aí atrás (E: diga) se calhar houve qualquer coisa que me falhou. por 106

exemplo, se eu pensar como disse que as mulheres hoje são muito diferentes de há 107

trinta anos atrás, (hum) eu agora lembrei-me que não tinha falado nas outras pessoas 108

que eu conhecia mais velhas que eu. (hum) portanto a minha mãe, por exemplo. (hum) 109

a minha mãe e eu quer dizer temos um abismo de diferença. (hum) em 110

comportamentos, em maneira de vida ã: a minha mãe achou sempre que eu fui uma 111

rebelde, uma revolucionária, (E: [riso]) porque não queria estar aqui, queria estar ali, 112

porque queria ir para a escola tal, porque não me[2:] submetia. (hum) eu não me 113

submetia à vontade dela. (hum) a minha filha nunca precisou de não se submeter à 114

minha vontade. (hum) pronto. eu podia aconselhar, ou dizer que achava mal, mas não 115

se submetia à minha vontade. (hum) agora eu teria que me submeter à vontade da 116

minha mãe. e submeti-me a muita coisa. (hum) e noutras não! pronto, quando foi para 117

a minha vida ir para a frente eu-- e ela nunca me perdoa isso. (hum) nunca me perdoa. 118

porque as mentalidades daquela época era a obediência, total. (E: hum, sim) eu 119

lembro-me quando os meus filhos-- ia-mos para lá no verão e os meus filhos saíam ou 120

a [FL05] saía mais assim para dar uma voltinha, ou tomar um café ao jardim mais 121

tarde, ai jesus! “tu! dás uma liberdade a essa--” [riso] está a ver como é. (hum) se 122

calhar tem essa experiência também, se pensar numa avó e na sua mãe, 123

E: ã: um bocadinho, talvez sim[:] //mas se calhar não[:] tanto\ 124

ML05: /mas aqui era muito[2:]\\ era, (E: hum, sim) no 125

tempo em que eu namorava era uma cena dar a mão, (E: [riso]) ao namorado, era[:2] 126

(E: escândalo! ah, ok) pronto, quer dizer, essa é a evolução realmente das mulheres, 127

não é. (E: hum sim. ok ã:) hoje a vida é muito diferente. 128

129

P4 (12:47) 130

E: outra pergunta, e na verdade já me[2:] respondeu um bocadinho a esta pergunta. 131

que seria ã: se[:] a vida da mulher muda com a maternidade. 132

ML05: muda. (E: muda?) muda. completamente. 133

E: hum, muda em que aspetos muda em-- 134

ML05: ã: a mãe-- a partir de que se é mãe, ã: é tudo mais ã: mais bonito, mais-- vê-se 135

com outros olhos a vida. quem tem crianças como eu tinha, que era professora eu 136

passei a ser uma pessoa muito mais paciente, muito mais compreensiva, muito mais 137

(5)

doce com os meus alunos desde que fui mãe. (hum) ã: noutros aspetos, não sei 138

pergunte-me outros aspetos-- 139

E: outros aspetos do-- de (ML05: de mudança) emocional, se calhar (ML05: sim[:2]) da 140

organização da vida da[:] responsabilidade-- 141

ML05: sim[:] eu às vezes digo à minha filha “pois é tu não fazes--” diz “ah não tenho 142

jeito para fazer isto ou aquilo,” porque não houve a necessidade de fazeres (hum) na 143

altura certa-- [interrupção 13:50 – 13:57] 144

não houve a necessidade! (hum) não é que não tenha jeito. não houve a necessidade. 145

portanto uma mãe tem necessidade de fazer coisas que nunca fez antes. (hum) 146

porque é preciso. (hum) ou porque lhe apetece, ou porque é bonito, não é? 147

E: hum, sim[:] (ML05: por exemplo-- fazer--) e esta[:] experiência será igual para o pai 148

também? 149

ML05: não. (E: não?) não. não. 150

E: porquê? 151

ML05: não! porque o pai ã: vive muito mais ã: ocupado com o seu emprego, com o 152

seu trabalho, do que a vida de casa. (hum) ou talvez eu esteja a dizer isto porque que 153

eu sendo professora eu saia mais cedo, vinha cedo-- vinha mais cedo para casa, e 154

portanto eu é que me ocupava de tudo, eu lembro-me que os-- a minha sogra, que 155

ficava com eles, foi sempre uma grande ajuda até eles irem para o jardim de infância, 156

eu a nunca deixava ela dar-lhes banho. eu chegava a casa às três e meia quatro 157

horas, eu é que é que tratava deles, eu é que lhes dava banho, ela dava a comida só 158

enquanto não estava ou mudava a fralda. eu fazia questão de fazer tudo, fazer o 159

máximo. (hum) pois. (E: ok) o pai não tem essas ocupações. (hum) não vai fazer uma 160

roupinha, não vai bordar, não vai-- quando muito ajuda noutras coisas, a dar um 161

biberon, por acaso o meu marido ajudou muito quando a minha filha era pequena, 162

porque ele quando veio do ultramar ainda não tinha acabado o curso, e depois tinha 163

um ano para fazer. (hum) e esse ano estudou em casa e ficava com ela, e ela ali 164

deitadinha no berço, e ele muitas vezes fazia o que era preciso. não é? dar-lhe os 165

biberons, (hum) mudar-lhe as fraldas, (hum) nessa[:] época ele ficou muito próximo 166

dela. (hum) está a ver, mas é assim, ã: se o pai estiver em casa pois terá que fazer 167

algumas coisas, mas a mãe é diferente. a mãe faz um-- vai-se apurando a fazer 168

coisas, os aniversários, eu faço tudo. sempre fiz. (E: [riso]) ainda ontem o meu filho fez 169

quarenta anos. (hum) e eu fiz-lhe o bolo de sempre, com as quarenta velas. (E: ok, 170

está bem) foi assim um bocadinho a correr, que nós fomos jantar fora e depois viemos 171

comer o bolo, e ele estava desejante de se vir embora que tinha trabalho, e-- mas 172

pronto. é sempre assim. (hum) portanto a ligação com a mãe é uma coisa muito 173

particular. pelo menos da mãe com os filhos. (E: sim[:]) ao contrário eu penso que 174

(6)

também é. (hum) mas é diferente. (hum) quer dizer eles gostam muito do pai, mas o 175

pai não faz as coisas que eu faço. não é? [riso] 176 177 P5 (16:20) 178 […] 179 180 P6 (21:20) 181 […] 182

Referências

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