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Custe o humor que custar

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA SARAH FENIX DE LIZ

CUSTE O HUMOR QUE CUSTAR: CUSTE O QUE CUSTAR, O HUMOR

Palhoça 2010

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SARAH FENIX DE LIZ

CUSTE O HUMOR QUE CUSTAR: CUSTE O QUE CUSTAR, O HUMOR

Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para a obtenção do titulo de bacharel em Comunicação Social – Habilitação Jornalismo.

Orientador: Prof. Dra. Alessandra Soares Brandão.

Palhoça 2010

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Dedico este trabalho com todo carinho a minha mãe e ao meu noivo, em forma de agradecimento pelo imenso incentivo, amor e por sempre estarem ao meu lado. Amo vocês.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por sempre ter enviado muita luz e proteção. Agradeço a minha mãe, que sempre lutou pela minha felicidade, sucesso e por sem minha fonte de carinho. Mãe não existe palavras suficientes para te agradecer… Eu te amo!

Agradeço ao meu noivo Felipe, minha fonte de amor. Meu amor, obrigada por toda a paciência, amor e incentivo. Eu te amo!

Agradeço ao meu padrasto Stuart, pelo apoio nesta etapa da minha vida. Thank you so much.

Agradeço a minha sogra Naemi, por ter sido uma leitora sensacional. Na, muito obrigada pela sua ajuda.

Agradeço a minha família, por todo o carinho sempre.

Agradeço aos meus professores por terem me guiado durante esses quatro anos de faculdade, em especial, a minha orientadora Alessandra Brandão, por todos os seus ensinamentos. Ale, muito obrigada!

Agradeço aos meus amigos, alguns longe e outros perto, pela força e por sempre acreditarem em mim, em especial, minha amiga Taianá, pela nossa amizade verdadeira e por sempre me apoiar. Naná, muito obrigada, amiga!

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Se o humor não fosse tão importante, os olhos dos homens grandes (não confundam com grandes homens) não estariam tão voltados à sua vigilância; os lápis vermelhos da censura seriam engavetados ou desapontados, o que talvez ainda fosse melhor; os dedos já não apontariam cortes e proibições e muitas bocas deixariam de ser fechadas. Chico Anysio (1979).

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RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo confrontar os fundamentos teóricos do humor, discutidos pelos estudiosos da área, em relação à narrativa jornalística do programa de televisão CQC, veiculado na emissora Bandeirantes. Para isso, um estudo foi realizado visando verificar a interação de abordagens como o humor, o riso, a sátira, a ironia e a carnavalização com os principais quadros do programa, a saber: Top Five, Proteste Já, Diversos CQC, Documento da Semana e Eleições 2010. Após análise das reportagens, foi possível fundamentar a narrativa do programa com as teorias relacionadas ao humor, demonstrando a predominância da ironia nos quadros estudados.

Palavras Chave: CQC, Narrativa Jornalística, Jornalismo e Humor, Riso, Sátira, Ironia, Carnavalização.

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ABSTRACT

This thesis aims to confront the theoretical foundations of humor, discussed by scholars in the field, in relation to the journalistic narrative of the television program CQC, broadcasted by the station Bandeirantes. For this, a case study was conducted to verify the interaction of approaches such as humour, laughter, satire, irony and carnivalization with the main frames of the program, as following: Top Five, Proteste Já, Diversos CQC, Documento da Semana e Eleições 2010. After analysis, it was possible to compare the narrative of the program with the humor theories, demonstrating the predominance of irony in the frames studied.

Keywords: CQC, Journalism Narratives, Journalism and Humor, Laughter, Satire, Irony, Carnivalization.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Charge publicada no jornal O Pasquim...16

Figura 2 - Equipe do CQC 2010...33

Figura 3 - Personagens do filme “Homens de Preto”...33

Figura 3 - Evo Morales chutando colega no jogo...36

Figura 4 - Família inteira andando de moto...37

Figura 5 - Criança chorando no Raul Gil...38

Figura 6 - Jogador encosta no peito de juíza sem querer...39

Figura 7 - Monique Evans fala da lei “Maria da Graça”...40

Figura 8 - Cena mostra efeito do diabo saindo do buraco...43

Figura 9 - Cena mostra efeito de Horácio com armas na mão...44

Figura 10 - Cena mostra van escolar com Michael Jackson...44

Figura 11 - Cena mostra efeito de moradora com “perna de pau”...45

Figura 12 - Cenas de Danilo pulando no buraco e caindo na frente da Sub Prefeitura...46

Figura 13 - Danilo deixando uma sugestão para a Sub Prefeita...46

Figura 14 - Danilo conversa com recepcionista...47

Figura 15 - Danilo entrevista funcionária na Sub Prefeitura...47

Figura 16 - Cena mostra efeito de personagem de filme...48

Figura 17 - Cenas mostram o efeito de “nariz de palhaço”, e “rosto vermelho”...49

Figura 18 - Cenas que mostram o riso e o “soco” em José Queija...49

Figura 19 - Cenas que mostram Danilo “atirando” com o dedo e José Queija “suando”...50

Figura 20 - Cenas que mostram Bruno com uma peruca...52

Figura 21 - Efeito do “pau de amassar macarrão”...52

Figura 22 - Cenas mostram efeito de “Toninho do Diabo”...53

Figura 23 - Cena mostra efeito de “mão” em Babenco...54

Figura 24 - Cena mostra efeito de Babendo em Oscar...55

Figura 25 - Cena mostra efeitos de imagem em Babenco e Oscar...56

Figura 26 - Cena mostra efeito de “cavalos correndo” e “martelo”...57

Figura 27 - Cena de Oscar entrevistado Ana Paula Arósio e efeito de “Vanuza”...59

Figura 28 - Cena mostra efeito da senhora envergonhada...61

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Figura 30 - Cena de Rafael com Preta Gil e efeito de coração...63

Figura 31 - Cena mostra efeito no braço de Regina...64

Figura 32 - Cena da passagem de Felipe e Rafael...66

Figura 33 - Cena mostra efeito na tela da TV...66

Figura 34 - Cena do efeito de mão no seio da jornalista...67

Figura 35 - Cena mostra efeito de vergonha...68

Figura 36 - Felipe entrevista eleitores do Rio de Janeiro...68

Figura 37 - Cena mostra efeito no rosto do jornalista...69

Figura 38 - Cena mostra efeito na boca de Sergio Cabral...70

Figura 39 - Cenas mostram apresentadores dançando a música de Tiririca... 71

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ... .10 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ... 14 O HUMOR ... 14 O HUMOR CRÍTICO ... 17 O HUMOR VAZIO ... 19 O RISO ... 21 A SÁTIRA ... 24 A IRONIA ... 27 A CARNAVALIZAÇÃO ... 29

3 CUSTE O HUMOR QUE CUSTAR ... 32

TOP FIVE ... 34 PROTESTE JÁ ... 41 DIVERSOS CQC ... 51 DOCUMENTO DA SEMANA ... 59 ELEIÇÕES 2010 ... 65 QUADRO EXTRA ... 70 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 73 5 REFERÊNCIAS ... 75

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1 INTRODUÇÃO

O jornalismo televisivo utiliza-se da massificação de suas informações como uma forma de passar mensagens ao telespectador. Este formato padrão de jornalismo, pode ser constatado em telejornais tais quais os da Rede Globo, Rede Bandeirantes e Record, onde o foco é generalizar a informação, de modo que poucos programas se arriscam a tentar algo inovador, criativo e que apresente uma proposta de formato diferenciada.

Neste processo de massificação, a televisão tem um poder de impacto maior que os demais veículos, sejam eles a mídia impressa ou o rádio. Ela atinge em sua veiculação, uma proporção maior da população brasileira e tem como característica o fácil acesso, pois não tem custo de utilização e seu conteúdo baseado em imagens permite um rápido entendimento utilizando-se de expressões faciais, sons diferenciados e efeitos especiais. No entanto, as imagens também contribuem para uma interpretação que pode manipular, seja num contexto geral ou num telejornal específico. Neste sentido, o autor Pierre Jeudy explica o uso do artifício da imagem, que é extremamente marcante:

A imagem se impõe como o modo essencial da relação entre os seres e o mundo(...) Agora a imagem é imediata, ela não oferece mais a possibilidade do tempo de se representar o que se passa. Ela também é imperativa, pois, sem ela, nada parece poder existir. Uma regra dos meios de comunicação de massa então se impôs: a realidade do acontecimento coincide com a imagem do acontecimento. O telespectador não tem ponto de apoio sobre o que se passa no mundo, é captado por imagens que desfilam num continuum. Ele pode se insurgir invocando a charlatanice eterna nas mídias; sua cólera é destinada ao silêncio, ele nada pode contra o poder das imagens mesmo se considera que os sistemas de informações constituem uma arapuca universal. A fusão entre a imagem e o real é tão absoluta que o acontecimento não pode sequer aparecer como a imagem de uma realidade escondida (JEUDY, 2001, p. 24-25).

Os avanços no meio de comunicação proporcionaram novas formas de passar informação. Desta maneira, mais oportunidades surgem para serem utilizadas como estratégias de comunicação aproximando o jornalismo ao entretenimento. O programa “Custe o Que Custar”, objeto dessa pesquisa, promove a interação do jornalismo com humor, dando

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espaço a uma forma alternativa de aproximar o público da informação e não necessariamente seguindo o sistema padrão.

Este trabalho irá investigar as relações entre o jornalismo e o humor, utilizando-se dos conceitos de riso, sátira, humor, ironia, e carnavalização, para o entendimento da atuação do programa CQC, ou “Custe o Que Custar”, que parece seguir a estratégia comentada. O programa utiliza-se do humor não somente como forma de entretenimento, mas agregando uma visão crítica dos fatos por meio de uma atuação diferenciada de seus componentes. Além disso, seus quadros e conteúdo também seguem a linha da informação com entretenimento. O foco do programa não é apenas transformar notícia em humor, mas sim, alertar os telespectadores para o que está acontecendo ao seu redor por meio de denúncias, investigações e a fiscalização do poder público.

Nesta pesquisa, será feito um estudo sobre influência das abordagens relacionadas ao humor, enquanto instrumento crítico na narrativa jornalística, do programa de televisão Custe o Que Custar, que neste trabalho também será identificado como “CQC”. Esta análise será realizada para obter uma resposta para a seguinte pergunta: de que forma o humor influencia a narrativa jornalística do programa de televisão Custe o Que Custar?

Como objetivo geral, este trabalho irá confrontar os fundamentos teóricos do humor discutidos pelos estudiosos da área em relação à narrativa jornalística do programa de televisão CQC.

Como objetivo específico, esta pesquisa pretende levantar junto à literatura especializada, as teorias que fundamentam as abordagens relacionadas ao humor, como por exemplo, a sátira, a ironia e a carnavalização. Além disso, será feita uma pesquisa sobre o programa CQC, bem como no que diz respeito a seus apresentadores, histórico, formato, conteúdo e apresentação.

Esta pesquisa irá identificar, por meio de estudo específico, referente ao CQC, em quais momentos ocorre interação entre o jornalismo e o humor. Para esta análise, serão coletados os programas do dia 04 de outubro de 2010 à 25 de outubro de 2010. Como o CQC é veiculado semanalmente, todas as segundas-feiras, serão analisados quatro programas no total. Foram selecionados os quadros que continham as teorias estudadas nesta pesquisa, como por exemplo, o riso, o humor, a ironia, a sátira e a carnavalização; os demais foram descartados. Nos casos onde foram selecionados o mesmo quadro mais de uma vez, optou-se

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por inserir no TCC aquele no qual as teorias estavam mais explicitas e os demais foram descartados.

A escolha do tema se deu em virtude da sua relevância nos estudos do jornalismo. As novas estratégias utilizadas para se veicular informações surgem como alternativas dentro do processo de massificação utilizado pela maioria dos programas para se comunicar com o público.

Além disso, o estudo das teorias relacionadas ao assunto poderá contribuir com o avanço do entendimento das abordagens jornalísticas que interagem com o humor. Neste sentido, a pesquisa de caso do programa Custe o Que Custar (CQC), que mescla jornalismo e humor, pode ajudar a compreender os pontos negativos e positivos da utilização deste tipo de abordagem para o jornalismo.

Outro ponto que influenciou na escolha deste tema para estudo foi a afinidade da aluna com a problemática, que é uma área de grande interesse e fonte de curiosidade. Além disto, a estudante é colaboradora de um veículo de comunicação que se utiliza do jornalismo tradicional e, a partir de observações, constatou a necessidade de se estudar formas alternativas para a narrativa jornalística.

Ao longo deste trabalho foi pesquisado e desenvolvido o tema proposto e sua aplicação prática por meio de um estudo de caso. Deste modo, o trabalho está estruturado de uma forma que proporcione o entendimento das teorias relacionadas ao tema, bem como sua aplicabilidade no programa de televisão CQC.

No primeiro capítulo, além da exposição e a delimitação do tema, pode-se encontrar a problemática de pesquisa estudada. Em seguida, apresentam-se os objetivos gerais juntamente com os objetivos específicos, descrevendo passo a passo as fases de pesquisa deste trabalho.

Para concluir o capítulo, é demonstrada a justificativa do tema, que explica a relevância desta pesquisa nos estudos do jornalismo, pois está profundamente relacionada às formas alternativas de se passar as informações.

No segundo capítulo, é descrita toda a fundamentação teórica dos estudos sobre o humor. São apresentadas as teorias como o riso, a sátira, a ironia e a carnavalização, que serão utilizadas para a análise de caso. Na bibliografia sobre o assunto levou-se em conta autores como, Bergson (2007), Lipovetsky (2005), Le Goff (2000), Minois (2003), dentre outros.

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A partir desta etapa, deu-se início ao estudo de caso, desenvolvido no terceiro capítulo. Primeiramente, é apresentado o CQC da Argentina, onde o programa surgiu originalmente, e na sequência o histórico do CQC do Brasil, objeto de estudo desta pesquisa.

Em seguida, apresenta-se uma descrição geral e específica do programa, onde é possível constatar momentos em que o jornalismo e o humor interagem, em seu formato, conteúdo e apresentação. Mediante a descrição, um resumo dos quadros é descrito.

Por fim, é realizada a análise dos quadros do programa CQC em relação à fundamentação teórica de humor apresentada.

No capítulo quatro, apresentam-se as considerações finais e as recomendações. E finalmente, no último capítulo, observam-se as referências bibliográficas utilizadas para o desenvolvimento da presente pesquisa.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Neste capítulo serão apresentados os fundamentos teóricos e os conhecimentos já construídos sobre o humor, riso, sátira, ironia e carnavalização.

O HUMOR

O humor foi estudado pela primeira vez na Antiguidade. Porém, a perda do livro Poética de Aristóteles, dedicado à comédia, comprometeu uma das bases de informação de registro histórico do humor (BREMMER E ROODENBURG, 2000, p.17). Na obra “Uma história cultural do humor, Bremmer e Roodenburg esclarecem alguns conceitos sobre o tema:

O que é humor? (...) Entendemos o humor como qualquer mensagem – expressa por atos, palavras, escritos, imagens ou músicas – cuja intenção é a de provocar o riso ou um sorriso. (...) No sentido escrito, a noção de humor é relativamente nova. Em seu significado moderno, foi pela primeira vez registrada na Inglaterra em 1682, já que, antes disso, significava a disposição mental ou temperamento (BREMMER E ROODENBURG, 2000, p. 13).

O autor Milliet também escreve em seu livro, “Obras primas do conto humorístico”, sobre a origem do humor e analisa a fundo os significados desta palavra e seu fortalecimento. Para o autor, o humor surgiu de uma composição inglesa:

Nada mais difícil que definir o „humour‟. (...) Na verdade o „humour‟ é uma maneira de ser tipicamente inglesa, que não encontra paralelo nos latinos. E que talvez consista apenas em rir à custa dos outros. Entretanto, o adjetivo humorístico já adquiriu em português outro sentido menos restrito, o de cômico, engraçado, espirituoso, e é nesse sentido que o aceitamos aqui (MILLIET, 1963, p. 9).

O humor, em seu significado moderno, “foi registrado pela primeira vez na Inglaterra em 1682. Antes disso, significava disposição mental ou temperamento”.

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(BREMMER E ROODENBURG, 2000, p. 13). Bremmer e Roodenburg explicam que “o inglês “humour” originou-se do francês no sentido de um dos quatro fluidos principais do corpo (sangue, flegma, bílis e bílis negra)” (id., 2000, p. 14).

Para Luigi Pirandello, o humor que surge do cômico também tem a capacidade de “descompor, desordenar e discordar”, tendo o poder de desviar do seu objetivo (PIRANDELLO, 1996, p. 51). No caso do programa CQC, o humor é usado para informar. Esse riso que surge de uma forma que ofende e ridiculariza, é o que contribuiu para o surgimento da crítica sátira, este provoca o protesto da população. O autor explica que a sátira tem o poder de desdenhar a crítica, “através do ridículo desta descoberta verá o lado sério e doloroso, desmontará esta construção, mas não apenas para rir dela” (PIRANDELLO, 1996, p. 156).

Para Thiago Luiz (2010), a junção do humor com o jornalismo no Brasil não é novidade. Ela aconteceu com maior força na década de 60, durante o Regime Militar, tendo como objetivo explicar para a população o que estava acontecendo com o país. Nesta época, surgiram pequenos jornais, e estes jornais faziam oposições ao governo. Porém, como era um período repressivo, as informações eram inseridas nas entrelinhas dos textos ou alguma outra forma de disfarce. Esta era a única maneira de a mídia conseguir fazer jornalismo sem o bloqueio da censura.

O historiador Nelson Werneck Sodré (1999), no livro “A história da Imprensa no Brasil”, comenta sobre a realidade durante o Regime Militar e a atuação do jornal Pasquim, um dos principais veículos que informavam em tempos de censura por meio do humor. O jornal foi idealizado por três pessoas: Jaguar (cartunista), Sérgio Cabral e Tarso Castro (jornalistas). Mais adiante, Millor, Claudius, Próperi e Fortuna se uniram ao trio. O jornal usufruía de um humor cheio de contexto jornalístico. Segundo Thiago Luiz (2010), ao mesmo tempo em que o jornal utilizava charges, esse material tinha um conteúdo inteligente e complexo, pois qualquer suspeita de crítica, se tornaria um pretexto para a censura. Esta era a única forma de passar informação à sociedade: nas entrelinhas do jornal, disfarçadamente, para que a informação chegasse aos seus leitores.

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Figura 1- Charge publicada no jornal O Pasquim.

O humor propõe uma adaptação ao jornalismo, mesclando ideias e informações. No caso do CQC, não se trata de uma cópia, pois os humoristas/repórteres extraem informações da sociedade e a reformulam para o público. Assim, o que antes era uma situação banal, tomará novos formatos. Deve-se levar em conta que o que já era conhecido de uma forma normal, se aperfeiçoará e resultará em algo mais notável.

A comédia pinta caracteres que já conhecemos, ou com que ainda toparemos em nosso caminho. Ela anota semelhanças. Seu objetivo é apresentar-nos tipos. Se houver necessidade, chegará a criar tipos novos. Nisso, se distingue das outras artes (BERGSON, 2007, p.122).

A ideia de usar o humor como uma forma de informação no CQC é com o intuito de apontar maneiras mais próximas para criticar. É como se o humor fosse uma ferramenta que se utiliza do riso para realçar as deficiências mostradas na notícia. O autor Milliet explica que o humor pode ser usado também como um meio de transformar os problemas em prazer:

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O humor não somente possui algo libertador... algo sublime e elevado... O sublime participa evidentemente do êxito do narcisismo, da invulnerabilidade do eu que se afirma vitoriosamente. Recusa-se o eu a se deixar vencer, a lhe deixar que lhe imponham o sofrimento através das realidade exteriores, recusa-se a admitir que os traumatismos do mundo exterior possam atingi-lo. Mais ainda: mostra que tais traumatismos podem tornar-se oportunidade de prazer (MILLIET, 1963, p. 12).

Ao mesmo tempo em que o humor é algo necessário na cultura humana, ele também é bastante específico, no sentido de que as pessoas interpretam o humor de forma diferente. Exemplos de situações como esta podem ser vistos numa simples piada contada, que para alguns é interpretada como sendo engraçada e para outros não.

O autor Stuart Hall diz que essa preocupação atinge os produtores de TV também. Ele explica que cada pessoa tem uma noção de “capacidade subjetiva”, ou seja, cada um tem uma forma individual de pensar. Entretanto, na televisão é usada uma forma “objetiva”, isto é, “sistêmica” (HALL, 2001, p. 398).

Se não houvesse limites, as audiências poderiam simplesmente ler qualquer coisa que quisessem dentro das mensagens. Sem dúvida, alguns mal-entendidos desse tipo existem. Mas a vasta gama deve conter algum grau de reciprocidade entre os momentos da codificação e decodificação; do contrário não poderíamos falar de uma efetiva troca comunicativa (Id., 2001, p. 399).

Existem distinções em relação ao entendimento do humor por parte dos estudiosos da área. O humor pode ser visto como uma crítica, ou somente como um riso no sentido de uma forma de saída de uma situação constrangedora. Falaremos agora sobre as diferenças do humor crítico e do humor vazio.

O HUMOR CRÍTICO

O humor na sociedade pode ser crítico e ao mesmo tempo engraçado. O humor pode ser também uma consequência de um diálogo, no qual uma pessoa provoca e a outra é

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provocada. Para Aristóteles, um dos maiores estudiosos do humor, se o humor não tiver crítica, ele não cumprirá sua função social (MILLIET 1963, p.12).

Observa-se que o riso é resultado de um ato coletivo, pois quando algo engraçado é visto na TV, no rádio, ou no jornal, isso provoca o riso. Considera-se que existe algo neste objeto que provocou o riso. O autor Jacques Le Goff procurava entender qual era a opinião da sociedade sobre o riso na Idade Média. Le Goff afirma que “o riso é um fenômeno social. Ele exige pelo menos duas ou três pessoas, reais ou imaginárias (...). É uma prática social com seus próprios códigos, seus rituais, seus atores e seu palco” (LE GOFF, 2000, p. 65).

O uso do cômico em algo crítico tem a função de transformar a seriedade de uma notícia em algo mais compreensível e leve. No artigo de Sírio Possenti, ele explica que “as piadas fornecem simultaneamente um dos melhores retratos dos valores e problemas de uma sociedade” (POSSENTI, 2001, p. 72).

Segundo Carneiro e Nilo (2000), o termo “crítica” teve origem do grego “Krinein”, que se entende por separar, quebrar, julgar, que também teve influência na palavra crise. “A ideia da crítica é quebrar uma obra em pedaços para se pôr em crise a ideia que antes se fazia daquele objeto, através de uma análise” (NESTROVSKI apud SILVA, p.?). Para Carneiro e Nilo, no jornalismo:

A crítica pode ser entendida e vista como um instrumento cuja função é comentar de forma criteriosa e analítica sobre determinado tema, geralmente da esfera artística ou cultural, com o propósito de informar o receptor sob uma perspectiva não só descritiva, mas principalmente reflexiva e avaliativa (CARNEIRO e NILO, 2010, p.4).

O humor tem sua particularidade, o uso dele em algo crítico é como misturar arte e ciência. O conhecimento sobre o objeto a ser criticado é essencial, pois no momento em que se critica algo, é necessário também ter a habilidade de refletir sobre a informação que a crítica passa. Milliet explica que desde que o cômico e a arte cumpram seu dever, os mesmos estarão fazendo humor com qualidade. No programa CQC, o humor é usado para mostrar os erros e revelar os defeitos em nossa sociedade, como por exemplo, na política, educação, etc.

Além, dessas teorias, o humor teria mais um sentido. Enquanto o ser humano tenta fugir do caos do dia a dia, o cômico ajuda a esquecer-se de si, a se ver livre do stress cotidiano

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e seus sofrimentos. Ou seja, quando o cômico chega ao fim, o homem retorna rapidamente para suas tensões.

Ao compreender que riso é utilizado também para contornar os sofrimentos, entende-se que a sociedade não aceita ser humilhada. Algumas das principais histórias que sempre têm uma grande repercussão na mídia mundial são as crises econômicas e são nestes momentos que o humor político surge, justamente para refletir sobre o caos. Segundo Bremmer e Roodenburg (2000), em um determinado período na Grécia Antiga, foi extremamente proibido o humor e ridicularizações aos políticos, pois isso poderia enfraquecer e expor o Estado.

As piadas políticas são elaboradas a partir da realidade em que a sociedade está inserida, neste caso o humor é usado para aproximar a realidade. O Custe o Que Custar fala sobre esse contexto, mas não é responsável pelo problema, e sim pela mensagem que está sendo transmitida para seus telespectadores. Desta forma, o programa expõe realidade com ironia. Neste caso cabe citar que para o autor Marcio Acselrad, o riso não é somente uma forma de diversão, “não é subproduto de espetáculos, não é entretenimento fácil. O riso é uma forma especial de expressão da condição humana, por vezes a única capaz de capturar aspectos inusitados do mundo, como sua total falta de sentido” (ACSELRAD, 2004, p.8).

As apresentações de humor e crítica eram bem limitadas na Antiguidade. Para Bremmer “o humor podia ser perigoso, e seu lugar na cultura tinha de ser limitado a ocasiões estritamente definidas. Os gregos sabiam muito bem que o riso podia conter um lado muito desagradável” (BREMMER, 2000. p.30).

O HUMOR VAZIO

Acselrad e Facó explicam que para autores como Minois, o humor serve somente para rir de uma situação sem se aprofundar no conteúdo que está sendo dito. “O riso se tornou produto de consumo amplamente difundido pelos meios de comunicação na “sociedade humorística”” (MINOIS, 2003 apud ACSELRAD e FACÓ, 2010, p. 55-56). Para Lipovetsky, o humor atual é próprio do consumismo.

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A sociedade, cujo valor cardeal passou a ser a felicidade da massa, é inexoravelmente arrastada a produzir e a consumir em grande escala os signos adaptados a esse novo éthos, ou seja, mensagens alegres, felizes, aptas a proporcionar a todo momento, em sua maioria, um prêmio de satisfação direta (LIPOVETSKY, 2005, p. 130).

Para Minois (2003) o humor moderno, utilizado pelos veículos de comunicação de massa, pela publicidade, pela moda e pelo consumismo, apresenta-se como um vazio de significado, sem criticar, limitando apenas a criar uma situação de felicidade.

Lipovetsky (2005) acrescenta que, o humor vem mudando a cada época, e hoje, estaria tão generalizado que teria perdido sua essência de crítica social e de ferramenta utilizada para esclarecimentos, transformando-as em entretenimento. Ao se transformar em entretenimento, o mesmo não se interessa em se aprofundar no que está sendo dito, situação caracterizada por uma sociedade que assiste a uma movimentação de domínio que surge ao seu redor passivamente.

Da mesma forma que o humor sofre críticas, o riso também sofre. Acselrad e Facó afirmam que para Lipovetsky, o riso em algumas situações, “se baseia apenas em criar um ambiente saudável de felicidade, sem pretensões” (LIPOVETSKY, 2005, apud ACSELRAD e FACÓ, 2010, p. 56). Acselrad e Facó explicam que o riso perante os problemas da sociedade, se torna uma saída. Em algumas situações, o ser humano acaba procurando esta saída através do humor, deixando a seriedade de lado e escapando da situação real. Para Bremmer e Roodenburg, o humor como é como “qualquer mensagem – expressa por atos, palavras, escritos, imagens ou música – cuja a intenção é provocar o riso ou um sorriso” (BREMMER, ROODENBURG, 2000, p.13).

Nota-se, a partir das afirmações dos estudiosos acima que, o riso é apresentado como um riso que era esclarecedor, que levava a reflexão e à crítica. O riso atual apresenta-se como sem significado, levando somente ao entretenimento.

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O RISO

O autor Henri Bergson (2004) utiliza a palavra “cômica” para apontar aquilo de que se ri. Sua definição sobre o cômico enquanto “mecânico aplicado sobre o vivo” se tornou bastante conhecida entre os estudiosos sobre o riso. A autora Verena Alberti explica que para Bergson, esta definição ganha sentido quando o riso adquire uma função social: “aquilo de que se ri é aquilo de que é preciso rir para restabelecer o vivo na sociedade” (ALBERTI, 1999, p. 185).

Alberti (1999) explica que o “significado social do riso é um argumento que Bergson utiliza contra as definições do cômico pela via do contraste” (ALBERTI, 1999, p. 185). O mesmo autor explica que “para que o riso seja compreendido, é necessário colocá-lo em seu meio natural, que é a sociedade; é preciso principalmente determinar sua função útil, que é má função social” (BERGSON, 1970 apud ALBERTI, 1999, p. 185).

Os autores Bremmer e Roodenburg (2000) explicam em seu livro que o humor é constituído por vários níveis, e o riso é uma delas. Se o telespectador chega até o riso, significa que o resultado foi atingido com sucesso. Se o a informação que foi passada não resultou no riso, então não existe humor.

O riso também pode ser visto como um fenômeno cultural, o autor Jean Le Goff explica que “de acordo com a sociedade e a época, as atitudes em relação ao riso, a maneira como é praticado, seus alvos e suas formas não são constantes, mas mutáveis” (LE GOFF, 2000; p. 65). O autor complementa que o riso também é um fenômeno social, pois exige pelo duas pessoa, que pode ser real ou imaginária, que uma provoca e a outra ri. Bergson ilustra esta situação:

Rimos de um animal, mas por termos surpreendido nele uma atitude humana ou uma expressão humana. (...) Vários definiram o homem como „um animal que sabe rir‟. Poderiam também tê-lo definido como um animal que faz rir, pois, se algum outro animal ou um objeto inanimado consegue fazer rir, é devido a uma semelhança com o homem, à marca que o homem lhe imprime ou ao uso que o homem lhe dá (BERGSON, 2007; p.2-3).

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Outro ponto de opinião sobre o riso é que, nem sempre o riso é uma consequência do humor. O mesmo pode estar ligado a outro tipo de situação que não seja necessariamente risível. Em algumas das situações em que o riso não é um resultado do humorismo, ele pode ser visto como um instrumento “ameaçador e, realmente, os etologistas afirmavam que o riso começava numa exibição agressiva dos dentes” (BREMMER e ROODENBURG, 2000, p. 15).

Seguindo a mesma opinião, o autor Henk Driessen fala sobre a utilidade do riso e do humor, juntos. Ele explica que o riso não tem uma única função, e sim, várias. Por exemplo, em um contexto perturbado, nós podemos rir de uma situação mesmo que não seja espontâneo. Desta forma o riso terá outra função:

O humor é divertido e sério ao mesmo tempo; é uma qualidade vital da condição humana. O que torna fascinante e relevante para antropólogos e historiadores é o fato de fornecer pistas para o que é realmente importante na sociedade e na cultura, incluindo a subcultura acadêmica. O humor quase sempre reflete as percepções culturais mais profundas e nos oferece um instrumento poderoso para a compreensão dos modos de pensar e sentir moldado pela cultura (DRIESSEN, 2000; p. 251).

O autor Vladímir Propp corrobora com Driessen. Ele explica que o riso não se limita a uma só função, o mesmo poderia ter diferentes aspectos. Em seu livro, ele cita uma lista feita pelo teórico e historiador soviético da comédia cinematográfica R. Iurêniev, que explicou que:

O riso pode ser alegre ou triste, bom ou indignado, inteligente e tolo, soberbo e cordial, indulgente e insinuante, depreciativo e tímido, amigável e hostil, irônico e sincero, sarcástico e ingênuo, terno e grosseiro, significativo e gratuito, triunfantes e justificativo, despudorado e embaraçado. Pode-se ainda aumentar esta lista: divertido, melancólico, nervoso, histérico, gozador, fisiológico, animalesco (IURÊNIEV, 1964 apud PROPP, 1992, p. 27-28).

Entretanto, Propp explica que para a lista estar completa, é necessário acrescentar, segundo uma pesquisa realizada, outro aspecto importantíssimo do riso, que seria o riso de

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zombaria. O autor explica que estes diferentes aspectos do riso são ligados aos diferentes tipos de relação humana, ele explica que “as relações recíprocas entre as pessoas que surgem durante o riso, ligadas ao riso, são diferentes: as pessoas zombam, ridicularizam, desfazem (...)” (PROPP, 1992, p. 28).

Embora o riso tenha sido estudado por filósofos e estudiosos na antiguidade, ele sempre constituiu uma incógnita para saber o que faz o homem rir. Além de poder diferenciar os homens dos animais ele também distinguia o homem de Deus (BREMMER, 2000, p.42). Houve épocas em que o riso foi reprimido. O primeiro grupo que se opôs ao riso foram os Pitagóricos (530 a.C.). A figura de Pitágoras foi sempre cercada de mitos e lendas, e uma delas era sobre o próprio mestre que nunca teria rido. “Os seguidores de Pitágoras foram ridicularizados pela comédia ateniense por suas tristes expressões facial” (BREMMER, 2000, p. 42).

Deleitar-se com o humor e o riso abundante é eminentemente contrário a se esforçar para manter toda a vida sob controle, o que pode ser observado entre os pitagóricos, os espartanos e, em um grau ainda mais alto, os cristãos ascéticos (BREMMER 2000, p. 43).

Os mais religiosos também se opuseram à ideia do riso por acharem que este ato seria um pecado. O motivo seria de que não consta na Bíblia que Jesus Cristo tenha rido. Mas um outro motivo por não existir esse registro na Bíblia seria que o riso fosse um ato tão natural, que não teria porque deixar esse ato registrado. Até porque nem todas essas atitudes naturais foram registradas no livro sagrado. Le Goff explica que se Jesus Cristo, ele que é o maior modelo a ser seguido, nunca riu, então o riso se tornou um ato estranho para a humanidade. Por outro lado, “se considerarmos o riso um traço distintivo do homem, o homem que ri certamente se sentirá mais capaz de expressar a sua própria natureza” (LE GOFF, 2000, p. 69-70).

Entretanto, o mesmo autor explica que existe um registro sobre o riso na Bíblia. A citação ocorreu quando Isaac, que significa “riso”, foi apresentado no Novo Testamento. Não sabemos claramente se Jesus Cristo riu, mas o que podemos ver é que o riso foi citado de uma forma tranquila, o que de certa forma compõe um registro de que o riso não seria um pecado.

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Um dia Jeová aparece a Abraão, como fazia com frequência, e lhe diz: „Serás pai‟. Abraão: „será que um centenário vai ter um filho e que, aos 90 anos, Sara vai dar à luz?‟. Abraão mantém-se em silêncio, mas tem suas considerações. Algum tempo depois Jeová aparece a Sara e lhe diz: „Será mãe‟. Sara abertamente põe-se a rir. No ano seguinte o evento acontece. Uma criança nasce para Sara e Abraão, que é então chamada „riso‟, Isaac. A confusa Sara diz a Jeová que ela, na verdade, não rira durante a predição. Jeová finge acreditar, mas finalmente diz: „Sim, tu riste‟ (LE GOFF, 2000, p. 76).

Ainda no contexto da história do riso, no século XVI, segundo Machline (1999) a obra intitulada “Traité du ris”, escrito pelo autor francês Laurent Joubert (1973), foram encontradas algumas respostas para decifrar o enigma do riso. Em sua obra, Joubert relata que o riso é uma das principais coisas da vida. Se não fosse algo tão comum, o autor revela que o ato de rir poderia ser um milagre. Nas palavras do autor, o riso quando é “dissoluto ou de longa duração, a garganta se abre ao máximo, enquanto os lábios são puxados para trás em extremo” (JOUBERT, 1973 apud MACHLINE, 1999, p.16). Assim, Machline explica que para Joubert, “o riso seria provocado por tudo que fosse feio ou impróprio, mas desmerecesse pena ou compaixão” (Id., 1999, p.16). Já o riso moderado pode cansar “os músculos, que ficam então incapacitados de fechar a boca e repô-la na posição certa, motivo pelo qual ela permanece indecentemente aberta” (ibid., 1999, p.16).

Analisando os diferentes pontos de vista sobre o riso, talvez nunca haja uma resposta única do que nos leva a rir, mas através de alguns estudos sobre a história do riso, desde a antiguidade até os dias de hoje, é que seria possível compreender um pouco sobre os conceitos e críticas que contextualizam o riso.

A SÁTIRA

A sátira é uma técnica utilizada para ridicularizar um determinado indivíduo, partido, organização, etc., e serve também como um artifício usado pelo jornalismo na transmissão de uma notícia. Utiliza-se da sátira para dar um ar mais polêmico, justamente para apontar os questionamentos a serem feitos. De acordo com Minois, “a sátira atinge uma

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dimensão nacional. Seus alvos são, ao mesmo tempo, morais, sociais, e políticos, e seu espírito, essencialmente conservador” (MINOIS, 2003, p. 87).

Diante disso, é importante explicar que para o autor Álvaro Santos Simões Junior, a sátira “caracteriza-se por ser uma forma peculiar de contemplar o mundo e seus problemas com uma mescla de riso e indignação, manifestando predileção por determinados temas, como a hipocrisia, o egoísmo, a desonestidade, etc” (SIMÕES, 2007, p. 31).

Uma das principais funções da sátira no jornalismo é denunciar com humor, ou seja, a informação com o riso, um complementando o outro. Utiliza-se normalmente este artifício nas matérias relacionadas a política, pois desta forma é possível informar pelas entrelinhas, sem censura. Desta maneira o jornalista consegue colocar o político em uma situação delicada, sem falar uma só palavra.

No consenso geral dos críticos literários, o conteúdo e espírito orientador da sátira é a critica, sendo o seu propósito reformar, os seus objetivos são retóricos. O que quer que de indefinível o satirista for – um retórico, um filósofo ou, ainda, um mágico – ele é, com efeito, um homem que não consegue deixar de denunciar a idiotice, o vício, o absurdo. (...) Para denunciar, ridicularizando na maioria dos casos as imperfeições do homem, o autor satírico tem necessidade de ter consciência do que é – para si, pelo menos – desejável porque „perfeito‟ (CATZ, 1978, p. 108).

A função da sátira, por exemplo, na política, é de apontar o que não está correto. Com isso, ela tem a oportunidade de mostrar para a sociedade os erros que as vezes não conseguimos ver sozinhos, ou as vezes achamos que está tudo bem e não conseguimos ver o que está acontecendo de errado. A partir do momento em que a sátira aponta a falha, o telespectador/indivíduo decide qual vai ser a sua opinião sobre o assunto, e ela ajudará na formulação da opinião própria. Sutherland comenta que, “much of the world‟s satire is undoubtedly the result of an spontaneous, or self-induces, overflow of powerful indignation, and acts as a catharsis for such emotions” 1(SUTHERLAND, 1967, p. 4).

Nas poesias de Gregório de Matos, é possível notar as críticas sociais feitas através da sátira durante a era barroca (XVII). Esta época foi marcada pelos conflitos

1

“Grande parte da sátira do mundo é sem dúvida o resultado de um transbordamento espontâneo, ou auto-induzido, de indignação, e age como uma catarse de emoções”.

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religiosos, contradições, erotismo, sensualismo, etc. Matos utilizou esses elementos como inspirações para suas poesias satíricas.

A sátira de Matos é crítica e debocha dos maus costumes sociais da época. O poeta tinha a sátira como um dos seus principais elementos de ataque, desta forma ele apresentava sua opinião e fazia com que seus leitores refletissem sobre o que foi escrito por ele. Na poesia de Matos chamada, “Aos Vícios”, é possível perceber algumas de suas críticas à sociedade:

De que pode servir calar quem cala? Nunca se há de falar o que se sente Sempre se há de sentir o que se fa1a. ...

A ignorância dos homens destas eras Sisudos faz ser uns, outros prudentes, Que a mudez canoniza bestas feras.

Há bons, por não poder ser insolentes, Outros há comedidos de medrosos,

Não mordem outros não --por não ter dentes.

Quantos há que os telhados têm vidrosos, E deixam de atirar sua pedrada,

De sua mesma telha receosos? (MATOS, 1992, p.186).

O humor surge de uma forma mais imparcial comparando-se com a sátira, já ela surge sempre em forma de crítica. Como já mencionado acima, a sátira caminha ao lado do humor, mas sempre informando o que necessita ser exposto para a sociedade. “A estrutura da sátira é essencialmente uma montagem, ou uma moldura, para mostrar, realçando uma determinada coisa. É tudo o que sirva para pôr a descoberto” (PAULSON apud CATZ, 1978, p. 183).

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A IRONIA

A ironia é uma ferramenta utilizada para expressar o contrário do que se pensa, ou seja, para mostrar algo diferente do seu real significado. Pode-se utilizar a ironia com o objetivo de denunciar ou criticar algo. Através dessas gozações, os telespectadores poderão mostrar suas reações e opiniões. Hutcheon afirma que “a ironia não apenas trabalha para apontar as complexidades da realidade histórica e social, mas também tem o poder de mudar essa realidade (HUTCHEON, 2000, p. 52).

Cordeiro e Nilo explicam que para Brait, “a ironia pode ser vista como um elemento da literatura, da retórica e do humor que consiste em proferir o contrário daquilo que se pensa, mas de maneira embutida e afiada” (CORDEIRO e NILO, 2010, p.7). Assim, os mesmos autores afirmam que, desta maneira, existe uma distância criada intencionalmente para separar o que se fala do que se pensa. “Na Literatura, a ironia é vista como arte de gozar com alguém ou de alguma coisa, com vista a obter uma reação do receptor” (Id. 2010, p. 7).

Assim como o humor, a ironia também nasceu na Grécia Antiga. Mueke explica que “a ironia originou-se mais precisamente na República de Platão. Aplicada a Sócrates por uma de suas vítimas, parece ter significado algo como „uma forma lisonjeira, abjeta de tapear as pessoas‟”(MUEKE, 1995, p. 22). O autor Jeudy (2001) afirma que:

A ironia advém de uma catástrofe de crenças; não é amarga, é o sinal de inteligência comunitária. Ela aparece como uma mecanismo de defesa na vida cotidiana, como um meio de contornar as normas, de brincar com as instituições, de dar razões ao que se impõe como uma necessidade e de aceitar uma racionalidade na qual se tem bastante dificuldade de acreditar.(...) Zomba-se do que acontece ou do que é decidido porque nada se pode fazer (JEUDY, 2001, p. 9).

O humor tem a missão de aflorar o riso, mas para isso depende de quem irá vigorar. É necessário que a pessoa que estiver em controle da entrevista, utilize algumas formas para cumprir esse objetivo. Se a meta é usar o humor e a crítica ao mesmo tempo, a ironia pode ser usada para esta função. Agir de uma forma irônica no CQC, por exemplo, é deixar o entrevistado vulnerável aos questionamentos e à opinião da sociedade. Segundo

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Jeudy (2001), “a ironia parece ser mais maldosa, mais perfila; ela é antes de tudo uma arma voltada contra os outros (JEUDY, 2001, p. 75).

Segundo a autora Linda Hutcheon, a ironia e a interpretação andam juntas. Ela afirma que “a ironia não é ironia até que seja interpretada como tal – pelo menos por quem teve a intenção de fazer ironia, se não pelo destinatário em mira. Alguém atribui a ironia; alguém faz a ironia “acontecer”” (HUTCHEON, 2000, p. 22 e 23).

No programa “Custe o Que Custar”, quando a política se torna um alvo da ironia, os entrevistadores “desarmam” os entrevistados inserindo o irônico e extraindo deles os problemas da sociedade. Com o uso de uma linguagem mais “flexível” no CQC, o jornalista pode utilizar o humor como um aliado, para fazer com que o entrevistado se sinta em uma situação delicada.

Hutcheon explica que a ironia pode tornar algo arriscado, pois nem sempre o entrevistado pode entender a ironia da forma que foi intencionada (Id., 2000, p. 28). Desta forma, o entrevistador pode se tornar a vítima. Segundo a autora:

A pessoa geralmente chama de “ironista”, no entanto, é aquela que pretende estabelecer uma relação irônica ente o dito e o não dito, mas pode nem sempre ter sucesso em comunicar aquela intenção. (...) Do ponto de vista do interpretador, a ironia é uma jogada interpretativa e intencional: é a criação ou inferência de significado em acréscimo ao que se afirma e diferentemente do que se afirma – com uma atitude para com o dito e o não dito. (...) A ironia é a transmissão intencional tanto da informação quanto da atitude avaliadora além do que é apresentado explicitamente (HUTCHEON, 2000, p. 28).

A relação entre o dito e o não dito, conforme Hutcheon, coexistem para quem está interpretando. Um complementa o outro pois eles literalmente se interagem para criar a ironia (Ibid., 2000, p. 30). A autora completa, “o sentido irônico não é, assim, simplesmente o sentido não dito e o não dito nem sempre é uma simples inversão ou o oposto do dito, ele é sempre diferente (Ibid., 2000, p. 30).

O irônico tem várias maneiras de aparecer. Uma delas é o modo de o humorista se manifestar. Segundo Brait, “a ironia, seu efeito humorado, tanto pode revelar-se via um

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chiste, uma anedota, uma página literária, um desenho caricatural, uma conversa descontraída (...) quanto em outros, como a primeira página de um jornal sério (BRAIT, 2008, p.14).

A ironia não é tão simples como parece ser. No caso do jornalismo, é necessário ser um bom observador e buscar informações através de uma boa pesquisa, pois só assim terá controle da situação e poderá atingir o seu objetivo, que é fazer com que seu entrevistado se perca em suas respostas, dando oportunidade para a ironia interagir. Segundo Mueke (1995), “a ironia exige, além de uma larga experiência de vida e um grau de sabedoria mundana, uma habilidade, aliada a engenho, que implica ver semelhanças em coisas diferentes, distinguir entre coisas que parecem as mesmas, eliminar irrelevâncias (...) e estar atendo a conotações e ecos verbais” (MUEKE, 1995, p.61).

A CARNAVALIZAÇÃO

A carnavalização é um dos conceitos utilizados pelo pesquisador Mikhail Bakhtin. Segundo ele, ela tem o poder de acabar com hierarquias de classes sociais, e eliminando isso, poderá ser criada uma nova vida, sem restrições e regras. Para o autor, o riso carnavalesco é uma forma de expressar sentimentos de libertação das regras impostas pela Igreja e pela sociedade. O autor Gurevich explica que Bakhtin dividiu a cultura medieval em dois pólos:

Um era bem sombrio, era a cultura oficial, a cultura da Igreja, a cultura dos homens cultos. Esta cultura foi caracterizada por Bakhtin como uma cultura do agelastoi, ou seja, das pessoas que nunca riam e que até odiavam o riso. (...) No outro pólo da cultura medieval, Bakhtin encontrou a tradição popular, dominada pelo riso. Na visão dele, o carnaval era a destilaria dessa cultura popularesca (GUREVICH, 2000, p. 84).

Segundo Gurevich, Bakhtin tratou da cultura popular da Idade Média e do Renascimento “como uma cultura de carnaval ou do riso” (GUREVICH, 2000, p. 84). Para ele, o riso era a principal característica da cultura popular. Bakhtin explica que a carnavalização era uma celebração do riso, desta forma ela estará relacionada ao “aspecto

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festivo do mundo inteiro, em todos os seus níveis, uma espécie de segunda revelação do mundo através do jogo do riso (BAKHTIN, 1999, p. 73).

Para Bakhtin, a carnavalização surgiu de elementos dos ritos carnavalescos da Idade Média e do Renascimento, em que se comemoravam a liberdade de expressão. Nestas comemorações, o riso era um dos elementos principais, o que na época era expressamente proibido pela Igreja. O autor explica que:

O carnaval é um espetáculo sem ribalta e sem divisão entre atores e espectadores. No carnaval todos são participantes ativos, todos participam da ação carnavalesca. Não se contempla e, em termos rigorosos, nem se representa o carnaval, mas vive-se nele, e vive-se confirmando as suas leis enquanto estas vigoram, ou seja, vive-se uma vida carnavalesca (BAKHTIN, 1997, p. 122).

A expressão “carvalização” pode ser explicada como a quebra de regras, liberação de desejos que normalmente são censurados pela sociedade. Para Bakhtin, o sentido de carnavalização é uma categoria literária que afirma que toda a carnavalização é carnaval, mas que nem todo carnaval é carnavalizado.

O conceito de carnavalização exposto por Bremmer e Roodenburg (2000), explica que o humor e o riso também podem ser libertadores, pois uma pitada inesperada de humor é capaz de desfazer uma situação tensa. No contexto mais abrangente de carnavalização, os autores comentam que “as festividades análogas podem corromper temporariamente as regras sociais rígidas que são obedecidas por todos” (BREMMER E ROODENBURG, 2000, p.13).

Segundo o autor Aaron Gurevich, para Bakhtin o riso foi considerado como uma manifestação popular e o carnaval a destilaria desta cultura popularesca:

Bakhtin tratou a cultura popular da Idade Média e do Renascimento como uma cultura de carnaval ou do riso. Sua proposição era que o riso representava a característica principal da cultura popular. O conceito de cultura popular não era muito difundido entre os historiadores antes do aparecimento do livro de Bakhtin (GUREVICH, 2000; p.83-84).

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O carnaval no Brasil é umas das principais festas anuais do país. Apesar de seu estilo ter mudado muito, suas características ainda podem ser encontradas nessa festa popular, por exemplo, o trio elétrico, as festas a fantasia, e os famosos carros alegóricos com temas culturais e históricos, etc. Essas características trazem o principal significado desta festa popular que libera sentimentos reprimidos em exagero.

Em seu artigo sobre Bakhtin e a teoria do carnaval, Gurevich explica que “Bakhtin via no carnaval apenas festividade, um momento no qual os sentimentos populares estão livres de qualquer obstáculo” (GUREVICH, 2000, p. 85). Bakhtin explica que o carnaval mescla uma variedade de estilos, por exemplo, vozes, extravagância, simplicidade, erotismo, e essas características formam a carnavalização.

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3 CUSTE O HUMOR QUE CUSTAR

Lançado há dois anos pela TV Bandeirantes, o programa CQC é veiculado às segundas-feiras, ao vivo, a partir das 22h15min. O material veiculado durante a programação do CQC mescla matérias jornalísticas com humor.

Ao contrário de outros programas de notícias como o Jornal Nacional e Jornal de Noticias da Bandeirantes, o CQC expõe sentidos que muitas vezes são deixados implícitos, intencionalmente ou não, nos intervalos das notícias. O CQC faz perguntas diretas sobre temas sérios, como por exemplo, em uma pergunta de política a um governador em que o entrevistador consegue a resposta desejada por meio do bom humor.

A bancada é formada pelos apresentadores: Marcelo Tas, Marco Luque e Rafinha Bastos. É importante destacar que o âncora2 do programa é Marcelo Tas. Ele tem o principal papel no programa chamando o conteúdo e as matérias, assim como liderando a condução das informações que serão divididas com os demais participantes da bancada. Os quadros veiculados no programa são responsabilidades de outros cinco participantes: Monica Iozzi, Oscar Filho, Felipe Andreoli, Daniel Gentili e Rafael Cortez.

O “Custe o Que Custar” é um programa criado originalmente na Argentina, onde é chamado de “Caiga Quien Caiga”. Produzido pela “Eyeworks – Cuatro Cabezas”, o programa já foi expandido para países como Chile, Espanha, Portugal, EUA e Itália. Cada país possui sua cultura própria, e por isso existem suas semelhanças e diferenças no padrão de cada programa. Para isso, é necessário que as adaptações sejam feitas de acordo com cada público para que o telespectador se aproxime mais do conteúdo. Apesar dessas diferenças, o programa CQC do Brasil e da Argentina segue o mesmo perfil editorial.

No Brasil e na Argentina, os apresentadores e repórteres se vestem de preto, usam óculos escuros e questionam temas sociais e de entretenimento como: político, esportivo, cultural e variedades, entre outros. Além dessas semelhanças, os dois programas se utilizam de efeitos visuais (gráficos), sonoros e exploram os elementos da própria linguagem audiovisual, através do enquadramento e movimento de câmera, de maneira distinta do jornalismo convencional. Pode-se dizer também que a maneira com que os apresentadores do CQC se vestem, pode ser uma paródia do filme “Man in Black” (Homens de Preto). No longa,

2

O âncora é o apresentador de um telejornal. Cabe a ele narrar, anunciar ou comentar as notícias que serão exibidas, ou chamar repórteres que entram ao vivo na programação.

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os personagens lutam para salvar o planeta, e no CQC parece haver uma tentativa de salvar o jornalismo do mesmo, da falta de ética, ou seja, os apresentadores e repórteres se projetam como heróis da informação.

Figura 2: Equipe do CQC 2010.

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TOP FIVE

O quadro Top Five mostra, semanalmente, os cinco melhores vídeos da televisão brasileira. Estes vídeos são de acontecimentos engraçados ou, até mesmo, constrangedores, os quais foram veiculados em programas como por exemplo: Jornal Nacional, Jornal da Record, Jornal da Rede Bandeirantes, Raul Gil, Ana Maria Braga, entre outros.

Da forma que os vídeos foram veiculados em alguns programas jornalísticos, percebe-se que há uma voz em OFF do jornalista, narrando a reportagem. Antes de iniciar o vídeo seguinte, a câmera volta para a bancada onde Marcelo Tas, Rafinha Bastos e Marco Luque fazem comentários sobre o que acabou de ser veiculado. Estes comentários podem ser sérios ou até mesmo irônicos.

Marcelo Tas é o principal integrante da bancada. É também conhecido pelo seu trabalho na TV brasileira nos anos 80, quando encarnava o personagem Ernesto Varela, um repórter conhecido por fazer perguntas que incomodavam as autoridades. Alguns destes questionamentos eram bastante indiscretos, ninguém antes havia perguntado.

Já nos anos 90, ele era o professor do programa “Castelo Rá-tim-bum”. Tas, no CQC, reúne humor, ousadia e uma pitada de sarcasmo, sempre equilibrando a relevância de cada tema discutido durante o programa.

Tas também desempenha o papel de “pai” dos repórteres do CQC. Nota-se, durante o programa, que o seu papel pretende ser o mais “normal”, comparando aos demais integrantes. Quando uma brincadeira passa do limite, Tas imediatamente volta para a idéia inicial, retomando a “seriedade”.

Rafinha Bastos é formado em jornalismo e senta-se à direita de Marcelo Tas, na bancada do CQC. Marco Luque senta-se à esquerda de Tas. Bastos e Luque dividem a função de fazer comentários engraçados e sarcásticos durante o programa. Ambos possuem estilos diferenciados. Enquanto Rafinha Bastos é mais sério, Luque faz comentários mais engraçados. Durante um tempo, Bastos apresentou o quadro “Proteste Já”, que atualmente é apresentado por Danilo Gentili. Rafinha transforma suas falas em comentários críticos e sarcásticos por também desempenhar um papel de responsável no programa. Marco Luque desempenha um personagem “infantil” - o mais brincalhão dos três. O apresentador brinca o tempo todo e faz piadas, usa movimento de mãos e expressões faciais que “quebram” os

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momentos sérios de Rafinha Bastos e Marcelo Tas. Luque atua mais na área humorística do que jornalística, no CQC.

O quadro Top Five é um programa que repassa informações e utiliza-se muito de humor, nas palavras de Lipovetsky (2005), o autor explica que o humor está mudando cada vez mais e que hoje já estaria muito generalizado e por isso, perdeu sua crítica social, ou seja, de primeiramente criticar e depois divertir.

O episódio escolhido mostra os melhores vídeos veiculados na televisão no período do dia 04 a 11 de outubro.

O quadro se inicia com os apresentadores da bancada falando:

Sequência 1

Tas: É a hora que a gente dar as mãos, é a hora que a gente faz uma concentração, é a hora que a gente faz uma oração a Santa Clara, é hora do Top Five!

Logo no início do bloco, o apresentador demonstra ironia com a maneira com quem introduz o quadro. Os apresentadores da bancada riem alto e Tas logo chama a atenção de todos gritando: “silêncio!” Ao mesmo tempo, não para de rir, mostrando seriedade e, ao mesmo tempo, humor. Uma dubiedade que provoca reflexão no espectador.

Sequência 2

Tas: Mais um presidente aqui no quadro do Top Five. Preste atenção na democracia da Bolívia.

Tas informa que mais um presidente esta aparecendo no quadro. Enquanto ele passa essa informação, Marcelo Tas utiliza-se do riso para demonstrar ironia por ter um presidente no vídeo do Top Five. A ironia não somente surge por Evo Morales ser um Presidente, mas também seria a pretensão democrática do país.

Pode-se dizer que este modelo de criticar com o uso do humor, conforme Thiago Luiz (2010), é um jeito de “criticar nas entrelinhas” do jornalismo. Durante o Regime Militar, os jornalistas se utilizavam do humor para passar informações críticas à sociedade. Neste caso, Tas utilizou o humor para criticar um Presidente. Ao fazer isto, Tas demonstra ser irônico e humorado, e diz:

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Sequência 3

Tas: Vamos ver o que o Presidente da Bolívia, Evo Morales, fez no campo de futebol. Preste atenção!

Figura 3: Evo Morales chutando colega no jogo.

Na quinta posição do quadro, mostra o Presidente da Bolívia jogando futebol. No jogo, ele se irrita com um colega que cometeu uma falta por ter atingido o Presidente na perna, Evo Morales. Mesmo mancando, não se conformou e chutou o jogador.

Este vídeo foi veiculado no Top Five, por mostrar um Presidente da República chutando um colega em um simples jogo de futebol. Esta notícia acaba sendo irônica por apresentar um representante de um País, responsável por passar uma imagem correta de cidadania, chutando um colega em um jogo. Esta reportagem foi divulgada em alguns programas jornalísticos, e o CQC veiculou de uma forma cômica, utilizando-se do humor.

Durante o vídeo, uma voz em OFF diz:

Sequência 4

OFF: É claro que o juiz não pode fazer nada. Evo ficará de repouso por três dias, por causa da lesão na perna.

Quando o vídeo acaba de ser exibido, a câmera volta para bancada e o apresentador Tas diz que:

Sequência 5

Tas: Se ele é capaz de chutar alguém no jogo, imagina o que ele é capaz de fazer com o país.

Tas demonstra ser irônico por comparar Evo no jogo e na Presidência de um país, julgado que por ele ser capaz de chutar um jogador em um time de futebol, ele também seria capaz de agredir o país em que lidera. A sátira aparece nesta imagem, segundo Simões (2007),

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como uma forma do riso interagir com a indignação da sociedade.

Em quarto lugar no Top Five, Marcelo Tas explica de forma irônica, que a família brasileira é muito criativa.

Sequência 6

Tas: Se tem problema com transporte, os caras inventam um transporte coletivo.

Tas narra o início do vídeo com humor e utiliza-se do riso para mostrar ironia. É uma notícia séria por ser uma situação de alto risco, mas no CQC, eles informam sem perder o bom humor.

A notícia foi veiculada pela Rede Record e mostra uma família inteira (pai, mãe e três filhos), andando na mesma moto. A voz em OFF, mostra o repórter descrevendo como a família esta andando na moto e a indignação por não terem consciência do perigo que estão correndo. No final na reportagem, o repórter diz com ironia:

Figura 4: Família inteira andando de moto. Sequência 7

OFF: A criança de trás esta sendo carregada pela cabeça. Ainda bem que o menino tem a cabeça grande, pois assim fica mais fácil de a mãe dele segurar.

A ironia aparece no comentário do repórter por descrever uma situação perigosa utilizando palavras que debocham da família, principalmente por falar do tamanho da cabeça de um dos meninos. O preconceito também pode ser identificado neste momento pois Tas ao falar do tamanho da cabeça do menino, demonstra que o humor também é usado “Custe o Que Custar”.

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o país e afirma que esta é amaneira com que o país vem crescendo. A ironia que Tas utiliza vem em forma de crítica, segundo Catz (1978), ela é usada como uma ferramenta para mostrar os problemas que o país enfrenta.

Em terceiro lugar no ranking do Top Five, é mostrado o vídeo que foi veiculado no programa Raul Gil. Tas explica que o vídeo é sobre um momento religioso e diz:

Sequência 8

Tas: Estamos vivendo um momento religioso por causa da eleições, e em todo lugar. Vejam vocês uma criança descrevendo um momento de Jesus. Jesus descendo no programa de Raul Gil.

Figura 5: Criança chorando no Raul Gil.

O vídeo veiculado mostra uma criança falando sobre Jesus, e no final de sua apresentação, Raul Gil percebe que outra criança está chorando e pergunta o porquê dela estar triste. A criança que falou sobre Jesus pergunta para a criança chorando se ela tem Jesus no coração, e a menina responde que não.

Esta parte do vídeo mostra a ironia de receber uma resposta negativa, justamente sobre algo que a criança havia falado e emocionado naquele momento no programa. Os apresentadores na bancada brincam com a resposta que a criança recebeu e com a expectativa social de receber um “sim”.

Sequência 9

Rafinha Bastos: Ela tem o demônio

Tas: Falando nisso, vocês sabem quem foi criado no programa Raul Gil?

Rafinha Bastos: A Maísa! Só tem demônio no programa Raul Gil. Solta esse corpo que não te pertence!

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Através do uso de sátira, Rafinha ridiculariza o momento em que a criança diz que não tem Jesus no coração e imita um pastor. Tas e Luque assistem Rafinha e riem da situação. Segundo Minois (2003), a sátira tem o poder de ridicularizar um indivíduo, que neste caso é a criança.

Em segundo lugar no quadro do Top Five, os apresentadores falam sobre um momento esportivo. Tas diz que é um vídeo sobre um jogo de futebol. O apresentador explica que na Europa muitas mulheres trabalham apitando o jogo.

Sequência 10

Tas: Vocês vão ver o que um jogador faz com sua mão ao se aproximar de uma juíza linda na Alemanha.

No momento em que Tas introduz o vídeo, pode-se dizer que ele já consegue tornar a notícia humorística pois ele enfatiza quando fala “faz com sua mão ao se aproximar de uma juíza” e o humor surge em sua informalidade. O CQC usa o humor em algumas reportagens pois o ser humano necessita fugir do caos do dia a dia, e desta forma, o humor trabalha também com forma de entretenimento, ao mesmo tempo informa seus telespectadores.

Figura 6: Jogador encosta no peito de juíza sem querer.

Sequência 11

OFF: O jogador estava passando a mão e, opa, a intenção era passar a mão no ombro mas passou no seio da árbitra. E a reação dela? Um sorriso...

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Quando a câmera volta para a bancada, os apresentadores utilizam-se do humor para falar sobre a situação. Como efeito sonoro, uma música romântica toca enquanto os apresentadores estão comentando sobre o jogador. Rafinha Bastos aproveita a situação e fala:

Sequência 12

Rafinha: Isso só pode ser coisa do capeta.

Tas chama o último vídeo do quadro e diz para Rafinha:

Sequência 13

Tas: Monique Evans, você falou nele e ele apareceu! Rafinha: O capeta!

Os apresentadores riem do momento em que Rafinha relaciona Monique Evans ao capeta. Tas explica que o vídeo é sobre uma discussão que aconteceu no programa “A Fazendo”, e ao falar sobre o reality show, o apresentador utiliza-se da ironia para sarcasticamente dizer que “A Fazenda” é um programa muito complexo. Este momento relata a relação do “dito e o não dito” de Linda Hutcheon, pois ela comenta que o não dito pode ser entendido de várias outras maneiras.

Sequência 14

Monique: Se ela me batesse, ela poderia ser presa por causa daquela lei lá que o homem não pode bater na mulher. A lei Maria da Graça!

Figura 7: Monique Evans fala da lei “Maria da Graça”.

Monique Evans, ao falar sobre a “Lei Maria da Penha”, troca as palavras e fala “Maria da Graça”. O próprio erro de Monique cria o humor naquele momento, ou seja, ela

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mesma se torna a piada. Neste caso, seguindo as explicações do autor Minois (2003), o humor serve somente para rir de uma situação, sem ter que se aprofundar sobre o assunto abordado naquele momento. Marco Luque explica que Monique Evans trocou as palavras e Tas, de maneira irônica e sarcástica, diz que Marco Luque sabe tudo, ou seja, o “sabe tudo” que Tas falou, é na verdade “sabe nada”, justamente por Marco Luque ser apontado como o mais “criança”.

PROTESTE JÁ

A proposta do quadro Proteste Já é a de apontar problemas sociais nas comunidades brasileiras, no intuito de resolvê-los junto aos órgãos públicos através da denúncia e da oportunidade de ouvir ambos os lados. Por meio de inscrição no site do programa as pessoas têm oportunidade de falar sobre seus problemas, na esperança de serem selecionadas para fazer parte da reportagem, expondo ao Brasil sua situação.

Sem perder a forma peculiar já relatada de abordagem jornalística com humor, o Proteste Já denunciou problemas como: o transporte público sem segurança, ônibus que transitam sem documentação, com extintores de incêndio vencidos, sem cintos de segurança, com veículos antigos e pneus carecas. Relatou também os problemas relacionados a obras públicas inacabadas, mostrando postos de saúde não finalizados em bairros necessitados, e sistemas de esgoto a céu aberto entre outros.

O quadro é apresentado por Danilo Gentili, que é um dos repórteres de rua do programa CQC. Suas pautas3, além de passar informações jornalísticas, também são acompanhadas de muito humor. Para reproduzir algumas imagens de forma mais humorística, Gentili conta com apoio de desenhos gráficos na hora da edição, o que permite modificar a imagem na tela fazendo caricaturas de humor das situações e pessoas.

Gentili iniciou sua carreira no CQC com o quadro “Repórter Inexperiente”. Neste quadro, ele incorporava um repórter, como o próprio nome já diz, totalmente sem experiência profissional, o que deixava os entrevistados em situações muito constrangedoras. Exemplos

3

A pauta é a previsão dos assuntos de interesse jornalístico. É o roteiro dos temas que vão ser cobertos pela reportagem.

Referências

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