O objetivo geral da presente pesquisa consistiu em confrontar os fundamentos teóricos do humor discutidos pelos estudiosos da área em relação à narrativa jornalística do programa de televisão CQC.
No decorrer do trabalho, identifica-se que o programa promove a interação do jornalismo com humor, utilizando-se dos conceitos de riso, sátira, ironia, e carnavalização, mostrando-se assim, como uma forma alternativa de se passar a informação sem necessariamente seguir o sistema convencional.
Pôde ser visto que o programa tem essa característica de informar com humor, mas em certos momentos é de forma exagerada, desta maneira perde-se o limite e acaba mesmo usando o humor a qualquer custo. O “Custe o Que Custar”, como o próprio nome diz, às vezes vem às custas do povo, como visto em alguns momentos neste trabalho, no caso da senhora com o efeito da “perna de pau”, da família brasileira na moto, e em outros momentos.
Para alcançar o proposto pelo objetivo geral, foi necessário o desenvolvimento dos objetivos específicos. Primeiramente, foram levantadas junto à literatura especializada, as teorias que fundamentam as abordagens relacionadas ao humor. Além disso, foi realizada uma pesquisa sobre o programa CQC, bem como o que diz respeito a seus apresentadores, histórico, formato, conteúdo e apresentação.
Em um segundo momento, após análise de quatro programas completos, foram selecionados os quadros que continham as teorias de humor pesquisadas. Os quadros escolhidos forma descritos e analisados, o que permitiu caracterizar a relação de interação das teorias presentes em cada um deles, com a narrativa jornalística utilizada no programa.
As teorias de humor identificadas como mais presentes no programa, foram o riso, a sátira e a ironia, destacadas em todos os quadros analisados, a saber: Top Five, Diversos CQC, Proteste Já, Documento da Semana, Eleições 2010 e Quadro Extra. Por outro lado, a carnavalização está presente no programa de um forma geral, fazendo um pano de fundo para a narrativa. Ao usar o humor nas reportagens e quadros do programa, o jornalismo já estará de certa forma, sendo carnavalizado.
Em conclusão, pode-se constatar que o CQC consegue se posicionar proporcionado uma visão crítica dos fatos, por meio de uma atuação diferenciada de seus componentes, seguindo uma linha de conteúdo que mescla informação com entretenimento. O programa parece conseguir ir além do fato de transformar notícia em humor, alertando seus telespectadores para o que está acontecendo ao seu redor, investigando, denunciando e fiscalizando o poder público. E mesmo que, em alguns momentos tenha sido identificado que o humor é utilizado somente como forma de entretenimento, na maioria dos conteúdos analisados nos quadros, o CQC mostra que e possível informar e entreter grandes audiências, sem necessariamente anestesiar o telespectador.
Recomenda-se como sugestão de extensão desta pesquisa para estudos futuros, incluir outras teorias relacionadas ao humor para análise comparativa do programa, como por exemplo a paródia.
Outra possibilidade de pesquisa é estender este estudo à outros programas que demonstrem utilizar jornalismo e humor, podendo identificar diferenças e semelhanças com a realidade encontrada no CQC, e contribuindo com o entendimento sobre o tema.
5 REFERÊNCIAS
ACSELRAD, Marcio. Humor, esclarecimento e miditadura. In: Compós – Associação nacional do programa de pós-graduação em comunicação, 2004, Fortaleza. Anais
eletrônicos... Disponível em: <http://www.compos.org.br/data/biblioteca_564.pdf >. Acesso em: 12 set. 2010.
ACSELRAD, Marcio e FACÓ, Katiuska M. Quem ri por último ri melhor? Uma análise do humor na hipermodernidade a partir do programa Custe o Que Custar. Revista Famecos (Porto Alegra), v. 17, n. 1, p.54-64, janeiro/abril, 2010.
BAKHTIN, M.; VOLOCHINOV,V. N. Marxismo e Filosofia da Linguagem. 11o ed. HUCITEC. São Paulo, 2004.
BAKHTIN, M. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais. São Paulo: Hucitec/ UnB 1999.
BERGSON, Henri. O riso: ensaio sobre a significação da comicidade. Tradução de Ivone Castilho Benedetti. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
BRAIT, Beth. A ironia em perspectiva polifônica. 2. ed. Campinas: Unicamp, 2008.
BREMMER, Jan; ROODENBURG, Herman. Humor e história in BREMMER, Jan,
ROODENBURG, Herman (org.). Uma história cultural do humor. Rio de Janeiro: Record, 2000.
BURKE, Peter. Fronteiras do cômico nos primórdios da itália moderna in BREMMER, Jan, ROODENBURG, Herman (org.). Uma história cultural do humor. Rio de Janeiro: Record, 2000.
CARNEIRO, Juliana; NILO, Adriana. “Proteste já” com um estilo “Custe o Que Custar” de fazer jornalismo. In: XII Congresso de ciências da comunicação na região centro-oeste, 2010, Goiânia. Anais eletrônicos... Disponível em:
<http://www.intercom.org.br/papers/regionais/centrooeste2010/resumos/R21-0483-1.pdf>. Acesso em: 15 out. 2010.
CATZ, Rebecca. A sátira social de Fernão Mendes Pinto. São Paulo: Estudos e ensaios, 1978.
Custe o Que Custar. Disponível em: <http://cqc.band.com.br>. Acesso em: 25 out. 2010.
DRIESSEN, Henk. Humor, riso e o campo: reflexões da antropologia in BREMMER, Jan, ROODENBURG, Herman (org.). Uma história cultural do humor. Rio de Janeiro: Record, 2000.
ERBOLATO, M. L. Técnicas de codificação em jornalismo. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1984.
GUREVICH, Aaron. Bakhtin e sua teoria do carnaval in BREMMER, Jan,
ROODENBURG, Herman (org.). Uma história cultural do humor. Rio de Janeiro: Record, 2000.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 6. Ed. Rio de Janeiro: DP7A, 2001.
HUTCHEON, Linda. Teoria e política da ironia. Tradução de Julio Jeha. Belo Horizonte: UFMG, 2000.
JEUDY, Henri-Pierre. A ironia da comunicação. Tradução de Caroline Chang. Porto Alegre: Sulina, 2001.
KUCINSKI, Bernardo. Jornalistas e revolucionários: nos termos da imprensa alternativa. 2. Ed. São Paulo: Edisp, 2003.
LE GOFF, Jacques. O riso na idade média in BREMMER, Jan, ROODENBURG, Herman (org.). Uma história cultural do humor. Rio de Janeiro: Record, 2000.
LIPOVESTSKY, Gilles. A Era do Vazio: ensaios sobre o individualismo contemporâneo. Editora: Manoele, 2005.
LUIZ, Thiago C. Jornalismo e humor no CQC: estudo de caso do quadro proteste já. 2010 166 f. Tese (Pós – Graduação) – Universidade de Marília, São Paulo, 2010.
MATOS, Gregório de. Obra poética, de Gregório de Matos. 3. ed. Rio de Janeiro: Record, 1992.
MACHLINE, V. C. The conception of laughter in the XVIth century. Trans/Form/ Ação (São Paulo), v.21-22, p.11-19, 1998-1999.
MILLIET, Sérgio (org.). Obras-primas do conto humorístico. São Paulo: Martins, 1963.
MINOIS, Georges. História do riso e do escárnio. Tradução de Maria Elena O. Ortiz Assumpção. São Paulo: UNESP, 2003.
MUECKE, D. C. A ironia e o irônico. São Paulo: Perspectiva, 1995.
PIRANDELLO, Luigi. O Humorismo. São Paulo: Experimento, 1996.
POSSENTI, Sírio. O humor e a língua. In: Revista Ciência Hoje. Revista de artigos científicos nacionais e internacionais. São Paulo, Universidade de São Paulo, v. 30, nº 176, outubro de 2001.
SIMÕES, Álvaro S. A sátira do parnaso. São Paulo: UNESP, 2007.
SODRÉ, Nelson W. A história da imprensa no Brasil. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.