AGRAVODE INSTRUMENTO 624.951 SÃO PAULO
RELATORA : MIN. CÁRMEN LÚCIA
AGTE.(S) :MARBOR MÁQUINAS DE COSTURA LTDA
ADV.(A/S) :JOSÉ ROBERTO CAMASMIE ASSAD E OUTRO(A/S) AGDO.(A/S) :VALMOR RODRIGUESDOS SANTOS - ME
ADV.(A/S) :DENISE DAL MOLIN PELLIZZONI DECISÃO
AGRAVO DE INSTRUMENTO.
PROCESSUAL CIVIL. AUSÊNCIA DE CONTRARIEDADE AO ART. 93, INC. IX, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA E DE
PREQUESTIONAMENTO. OFENSA
CONSTITUCIONAL INDIRETA. AGRAVO AO QUAL SE NEGA SEGUIMENTO.
Relatório
1. Agravo de instrumento contra decisão que não admitiu recurso
extraordinário, interposto com base na alínea a do inc. III do art. 102 da Constituição da República.
O recurso extraordinário foi interposto contra o seguinte julgado do Tribunal de Justiça de São Paulo:
“CONTRATO – COMPRA E VENDA – INDEXAÇÃO CAMBIAL MOEDA ESTRANGEIRA – PAGAMENTO DO EQUIVALENTE EM MOEDA NACIONAL – POSSIBILIDADE – LEGITIMIDADE.
A pretensão do credor em receber as diferenças havidas em decorrência de não haver sido considerada a variação cambial do Yen Japonês quando do pagamento das parcelas nas datas dos vencimentos dos títulos, é perfeitamente legítima e não há qualquer empecilho legal,
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a dívida com indexação em moeda estrangeira, mas com pagamento do equivalente em moeda nacional, mormente, quando o bem objeto da compra e venda foi adquirido no estrangeiro naquela moeda” (fl. 201). 2. A Agravante alega que o Tribunal de origem teria contrariado os
arts. 5°, inc. XXXV, XXXVI, LIV e LV, e 93, inc. IX, da Constituição da República.
Argumenta que, “ao desconsiderar o preço estipulado pelos litigantes, e
aplicar outro, não convencionado – sem atentar aos princípios da hermenêutica contratual -, subverteu-se a estrutura da avença e submeteu-se a ora Recorrente a graves e injustos prejuízos, contrariando-se, assim, o ato jurídico perfeito, protegido pelo inciso XXXVI do art. 5° da Constituição Federal” (fl. 215).
3. O recurso extraordinário foi inadmitido sob o fundamento de
incidência da Súmula 282 do Supremo Tribunal Federal (fls. 222-223). Examinado os elementos havidos no processo, DECIDO.
4. Razão jurídica não assiste à Agravante.
5. A alegação de nulidade do acórdão por contrariedade ao art. 93, inc. IX, da Constituição da República não pode prosperar. Embora em sentido contrário à pretensão da Agravante, o acórdão recorrido apresentou suficiente fundamentação.
Conforme a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, “o que a
Constituição exige, no art. 93, IX, é que a decisão judicial seja fundamentada; não, que a fundamentação seja correta, na solução das questões de fato ou de direito da lide: declinadas no julgado as premissas, corretamente assentadas ou não, mas coerentes com o dispositivo do acórdão, está satisfeita a exigência constitucional” (RE 140.370, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, RTJ 150/269).
6. A pretensa afronta ao art. 5°, inc. XXXV, LIV e LV, da Constituição
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da República, foi suscitada apenas nos embargos de declaração opostos (fls. 177-180).
Entretanto, tem-se atendido o requisito do prequestionamento quando oportunamente suscitada a matéria, o que se dá em momento processual adequado, nos termos da legislação vigente. Quando, suscitada a matéria constitucional pelo interessado, não há o debate ou o pronunciamento do órgão judicial competente, é que pode e deve, então, haver a oposição de embargos declaratórios para que se supra a omissão, como é próprio desse recurso. Apenas, pois, nos casos de omissão do órgão julgador sobre a matéria constitucional que tenha sido arguida na causa, é que os embargos declaratórios cumprem o papel de demonstrar a ocorrência do prequestionamento.
A inovação da matéria em embargos é juridicamente inaceitável para os fins de comprovação de prequestionamento. Primeiramente, porque, se não se questionou antes (prequestionou), não se há cogitar da situação a ser provida por meio dos embargos. Em segundo lugar, se não houve prequestionamento da matéria, não houve omissão do órgão julgador, pelo que não prosperam os embargos pela ausência de sua condição processual. Assim, os embargos declaratórios não servem para suprir a omissão da parte que não tenha cuidado de providenciar o necessário questionamento em momento processual próprio.
Confiram-se:
“A jurisprudência deste Supremo Tribunal firmou-se no sentido
de que ‘Os embargos declaratórios só suprem a falta de prequestionamento quando a decisão embargada tenha sido efetivamente omissa a respeito da questão antes suscitada’. Precedentes” (AI 580.465-AgR, de minha relatoria, Primeira
Turma, DJ 19.9.2008).
Incide na espécie a Súmula n. 282 do Supremo Tribunal Federal, uma
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vez que a questão constitucional somente foi suscitada nos embargos opostos nos termos da decisão recorrida.
7. Também a pretensa contrariedade ao art. 5°, inc. XXXVI, da
Constituição da República, suscitada no recurso extraordinário, não foi objeto de debate e decisão prévios no Tribunal de origem, tampouco os embargos de declaração opostos o foram com a finalidade de comprovar ter havido, no momento processual próprio, o prequestionamento. Incidem na espécie vertente as Súmulas n. 282 e 356 do Supremo Tribunal Federal. Nesse sentido:
“A jurisprudência deste Supremo Tribunal firmou-se no sentido
de que os embargos declaratórios só suprem a falta de prequestionamento quando a decisão embargada tenha sido efetivamente omissa a respeito da questão antes suscitada. Precedentes” (AI 580.465-AgR, de minha relatoria, Primeira
Turma, DJ 19.9.2008).
8. Ademais, o Supremo Tribunal assentou que as alegações de
contrariedade aos princípios do devido processo legal, da ampla defesa e do contraditório, dos limites da coisa julgada e da prestação jurisdicional, quando dependentes de exame de legislação infraconstitucional (Decreto-Lei n. 857/1969), podem configurar ofensa constitucional indireta. Nesse sentido:
“A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal firmou-se no
sentido de que as alegações de afronta aos princípios do devido processo legal, da motivação dos atos decisórios, do contraditório, dos limites da coisa julgada e da prestação jurisdicional, se dependentes de reexame de normas infraconstitucionais, configurariam ofensa constitucional indireta. 3. Imposição de multa de 5% do valor corrigido da causa. Aplicação do art. 557, § 2º, c/c arts. 14, inc. II e III, e 17, inc. VII, do Código de Processo Civil” (AI 643.746-AgR, de
minha relatoria, Primeira Turma, DJe 8.5.2009).
Supremo Tribunal Federal
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“Embargos de declaração em agravo de instrumento. 2. Decisão
monocrática. Embargos de declaração recebidos como agravo regimental. 3. Decisão em conformidade com a jurisprudência da Corte. 4. Alegação de violação aos princípios do contraditório, da ampla defesa e do devido processo legal, se dependentes do reexame prévio de normas infraconstitucionais, configura ofensa reflexa à Constituição Federal. 5. Incidência das súmulas 279 e 636. 6. Agravo regimental a que se nega provimento” (AI 652.116-ED, Rel. Min.
Gilmar Mendes, Segunda Turma, DJe
Nada há, pois, a prover quanto às alegações da Agravante.
9. Pelo exposto, nego seguimento a este agravo (art. 557, caput, do
Código de Processo Civil e art. 21, § 1º, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal).
Publique-se.
Brasília, 1° de agosto de 2012.
Ministra CÁRMEN LÚCIA Relatora