A C Ó R D ÃO TERCEIRA T U R M A
I- INOVAÇÃO À LIDE. As matérias discutidas em grau recursal devem estar restritas aos limites em que fixada a lide, sendo vedado às partes aduzirem novas questões não alegadas no juízo singular.
II- JUSTA CAUSA. DESÍDIA. CARACTERIZAÇÃO. Caracterizada a desídia aplicada ao empregado, se comprovada a negligência na realização de suas tarefas que revelem comportamento funcional incompatível com a manutenção do liame empregatício.
Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de Recurso Ordinário, em que são partes LEVY DA SILVA CORREIA, como recorrente, e
GUARDA MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO – GM-RIO e COMPANHIA MUNICIPAL DE LIMPEZA URBANA – COMLURB, como recorridas.
Irresignado com a r. sentença de fls. 246/250, proferida pela MM. Juíza ALBA VALÉRIA GUEDES FERNANDES DA SILVA, Titular da 57ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, que julgou improcedentes os pedidos formulados na inicial, recorre ordinariamente o autor, pelas razões expostas na peça de fls. 270/274.
Requer o autor seja declarada a nulidade de sua dispensa, tendo em vista que esta ocorreu em desacordo com o Termo de Ajuste de Conduta nº 262/2003 firmado pela ré perante o Ministério Público do Trabalho. Ademais, sustenta que a sua dispensa deveria ter sido providenciada pela 2ª recorrida (COMLURB), por ser esta a real empregadora do recorrente, visto que a transferência para os quadros da GUARDA MUNICIPAL ocorreu de forma unilateral, sem a anuência do empregado. Acusa, ainda, a ocorrência de desvio de função, tendo em vista que realizou concurso público para exercer a função de Vigilante Patrimonial da COMLURB, que é uma função privada, sendo, no entanto, transferido para laborar em função pública, diversa do contratado, nas dependências da GUARDA MUNICIPAL. Requer, pois, seja reconhecido o desvio de função, obrigando as empresas a promoverem o retorno do recorrente à função para a qual foi concursado. Sustenta que houve alteração unilateral do contrato de trabalho do autor, uma vez que a empresa modificou seu horário de trabalho, após laborar durante quinze anos no turno da noite, em escala de 12 x 36. Pretende, pois, lhe seja restituído o horário de trabalho antigo, qual seja, das 19h às 7h. Pugna, por fim, sejam as rés condenadas ao pagamento de indenização por assédio moral, ante a perseguição sofrida pelo empregado, que culminou na alteração de seu horário de turno, sem que ao menos fosse explicada a necessidade do serviço.
O autor foi dispensado do recolhimento de custas (fls. 250), por lhe terem sido concedidos os benefícios da gratuidade de justiça.
Contrarrazões da COMLURB às fls. 285/286 e da GUARDA MUNICIPAL às fls. 291/292.
Às fls. 308 determinei a remessa dos autos ao Ministério Público do Trabalho.
Parecer do Ministério Público do Trabalho, às fls. 310/313, da lavra do i. Procurador, DR. JOSÉ CLAUDIO CODEÇO MARQUES, opinando pelo conhecimento e não provimento do recurso.
É o relatório.
V O T O
CONHECIMENTO
Conheço do apelo, uma vez preenchidos os pressupostos de admissibilidade.
MÉRITO
Nulidade da dispensa
Sustenta o autor, na inicial, que deve ser reintegrado aos quadros da ré, na medida em que irregular a sua dispensa por justa causa, uma vez que foi demitido pela EMPRESA MUNICIPAL DE VIGILÂNCIA S/A., que nunca foi a sua real empregadora, tendo em vista que foi admitido pela COMLURB.
Pauta, ainda, a tese de irregularidade da dispensa no fato de que as advertências sofridas em razão de suas faltas decorreram da alteração de turno e não por vontade do autor de perturbar o bom andamento do serviço.
Indeferida a pretensão de ter declarada a nulidade de sua dispensa, alega o autor em grau recursal que a sua dispensa ocorreu em desacordo ao Termo de Ajuste de Conduta firmado entre a 1ª recorrida e o
Ministério Público do Trabalho, em que ficou estabelecido que a empresa não fica impedida de despedir sem justa causa, mas se obriga a motivar o ato da dispensa, em homenagem ao princípio de que todos os atos da Administração Pública precisam ser motivados.
Como se verifica deste breve relato, inova o recorrente à lide, na medida em que alega fato que não integrou os limites objetivos da
litiscontestatio, razão por que deixo de proceder ao exame do apelo por este
aspecto, ante a evidente subversão do feito.
Ademais, não se sustenta a alegação reiterada no apelo de que a dispensa deveria ter sido providenciada pela COMLURB, uma vez que a transferência do autor para os quadros da Empresa Municipal de Vigilância S/A, decorreu de expressa disposição contida na Lei nº 1.887, de 27 de julho de 1992, que previu, em seu artigo 3º, a cisão do empregador original do autor e a consequente criação da Empresa Municipal de Vigilância.
Ressalte-se que a sucessão de empregadores ocorreu nos idos de 1994, insurgindo-se o autor contra esse fato apenas quando dispensado no ano de 2008.
Por fim, o comportamento desidioso do autor, ensejador da justa causa que lhe foi aplicada, foi devidamente comprovado, segundo os documentos de fls. 88/118, que revelam conduta totalmente incompatível com a manutenção do vínculo de emprego, razão por que não merece reparos o r. julgado, no particular.
Desvio de função
Sustenta o recorrente que foi concursado para exercer a função de Vigilante Patrimonial, de modo que não poderia, de forma unilateral, ser transferido e ainda exercer função diversa do que foi pactuado, motivo pelo qual pugna seja reconhecida a ocorrência de desvio de função e seu consequente retorno à função para a qual realizou concurso público.
Considerando, no entanto, que a pretensão recursal é acessória da reintegração do autor, pedido ao qual foi negado provimento no item anterior, tenho por prejudicado o apelo nesse aspecto.
Alteração unilateral do contrato de trabalho
Acusa o recorrente a alteração ilícita de seu contrato de trabalho em razão de sua transferência para o turno diurno, uma vez que laborou no período noturno durante 15 (quinze) anos, tendo organizado toda a sua vida através das condições laborais que se apresentava, contratando, inclusive, trabalho extra para aumentar a sua renda.
Aduz que a alteração ocorrida não se baseou em necessidade do serviço, fazendo crer que a intenção da 1ª ré (Empresa Municipal de Vigilância S/A.) era demitir o recorrente.
Considerando que tais questões visavam à restituição do anterior horário de trabalho do autor e que, da mesma forma que o item recursal anterior, é dependente da manutenção do vínculo de emprego, resta tal item igualmente prejudicado.
Assédio moral
Não há qualquer prova nos autos que ratifique a tese autoral, no sentido de que a alteração do turno de trabalho do autor tenha sido fruto de perseguição de seus superiores, razão por que não há que se falar em indenização por dano moral, estando correto o r. julgado também no que pertine ao presente item.
Pelo exposto, conheço e nego provimento ao apelo.
A C O R D A M os componentes da E. Terceira Turma do
Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, por unanimidade, conhecer e, no mérito, negar provimento ao apelo.
CARLOS ALBERTO ARAUJO DRUMMOND
Relator