Maria Isabel Afonso de Amaral
eSousa
OCONSUMO
DOS
FILMES
E
OS FILMES
DE
CONSUMO
Dissertacão
deMestrado
Deparamenîo
deComunicacao Social
Faculdade
deCiências
Sociais
e HumanasUniversiaade Nova de Lisboa
1995
Agradecimentos
Ao
Rui, á
Élia,
6 Ana,
coRogério
Ancraae,
ooProfessor
Doutor
João
Pissarra
Esteves,
aoFrancisco
Machado, á
Guida
Garcia,
á
paciência
infinita
todos dos
meuscoiegas
eamigos,
csagências
de
publicicade
AB
eMKT,
ao serv:code
biblioteca
da
Cinemateca
e,naturalmente,
ao
apoio
da
Junía
Nacional de
Investigacáo
Cieníif.ca
edo
?rofesso;
Doutor João
Mário Grilo,
meuorientador,
NDICE
APRESENTACAO
Do
consumo 6Consumidos
egeradores
de consumo26
Designacôes,
procuram-se
29
TRAVESSIAS POR UMA Bl POLARIDADE DO CONSUMO
RESPEITANDO AORDEM
Consumindo
34
Fazendo
consumir
41TALENTOS IMPREVISTOS DOS CONSUMIDOS
A
morte
dasmercadorias
47A
Síar
e o seu"perfume
cepotíatcr<"
52
O
crepúsculo
dosDeuses
58
A aurora dos homens
imaginarios
63
A
marcaindelével
68
O
esratutoinalcansável
74
A
SUVERSÃO
DOS GERADORES DE CONSUMOS
(Da
eficácia
sedutora
e dafruicco
espectacu'ar)
Da
fruicão
80
Da eficacia
89
Da
racionalidade
argumentativa
aosapelos
daseducão
108
Por uma
persuasão
sedutora ou umaseducão
persuasiva
123
Do
espectáculo
131CONCLUSÁO
E
CONSIDERACÔES
FINAIS
APÊNDICE
CASOS
Dos
doisapêndices
Comeníários
Das
metodologias
Lista
dosspols
referenciados
CASSETE DE
VÍDEO
Apresentagão
DOCONSUMO
Consumo. Eis
umapalavra
que parece
ter
grangeado
c'guma
popularidade.
Nos
íáxis.
nasigre;as,
nosdiscursos
dos
poiíticos,
natelevisão,
nas conversasde
café,
numaimensa
profusão
deartigos
derevis*as
quepretendem
dar conta do actuclestado
dasociedade,
muitos
sáo
os que nco secoíbem
deemitir
juízos
sobreaquilo
que
julgam
ser um dosprincioais
problemas
dasociedade actual.
Sob estas atitudes
críticas
parece
jazer
umadistincão
moralizante que
distingue
os consumosúteis
dosinúteis,
os necessariosdos
supéríluos,
de
algum
modo
ndo
muitodistantes das "necessidades
verdadeiros"
e"necessidadesfalsas"
lancadas por
Marcuse.
!Os
especialistas
dosfait divers
falam-nos
dos actores eoutras
celebridades que
declaram
ter acerido afilosofias
ereligiôes
cueelegem
comoideal
odespojamento
e odesprendimento
da
marerialidade,
As
associacôes
dedefesa
doconsumidor
náo
se cansam denos alerrar acerca da
grande
discrepância
qje pcrece existirentre
aqualidade
dosprodutos
e opotencial
deatraccco
das suas marcas.J Heroer Mcrcuse
aistirgue
rJoĩs níveis de néce^so. icies: - os que sãocng.-ncrGS do
fiSidcgic
nurrono esuos nctjros re:ccôes ime'pessocs esociois
(ainaa
nôo ip""jenciacos oeío capi'alcno de consumomooe'.no)-
as necessidcdes verdaderas- os
produzidas ou mduzidas
pelo copiîc'smo
moaerro at'oves dcses"ategas
oemarke'ing
e ojblicidace e cue nc ve'dade ndo te'iom um íuncame""ogenJnc
rointerocQôo
sociai.Jm dos
proOierrics
que aacopcão
destapcrspectiva
aoresento. reside no :cc:odeser m.j:to afícii es'coelocor ciforiosrigdos
cue permitom demorcor umn'vedo o^rro. Ate porque oarece ciaro que se
Torno
impossivei
defin'.r necessicades ve-'dadeircs desco"ex*u:ji.zcdos de umo dcdo culru'a eepo:a.Consumo, consumír,
îornou-se umaexpressdo particularmente
cntipaíica,
acabandopor dcr
origem
aneo'ogismos, corregodos
detom
crítico. E
"oconsumismo
dasgrandes
cidades',
"a
fúria
consumista
das fes*as
, 'asmentes
materialistas
reg'das
pe:o
consumo',
enfim,
apanágios
de umasociedade que
seauto-referência
por
sociedade
de con.sumo.
Mas,
e sealguém
não
completamente
satisfeito
com asimples
repetigôo
deideias
feitas,
decide
tentarapurar
oque
significa
de
facto
consumo,consumir ?
A
suaprimeira
referência
será,
quicá
odicionario. Tomemos
por
exempio
oDicionário
da
Língua Portuguesa
dcPorto
Ecitora2:
Consumo,
... acîo ouefeito de consumir
;gasto; perda;
vendc;
ex'racqão
degéneros;
uso;emprego;
sectordo
ciência
economica que
seocupa da
aquisiqôo
debens
eservicos;
om.q. procura.
Consumir,...
fazer
desaparecer
pe!o
uso oupelo
gasto;
fazer
esquecer; destruir; gasrcir;
desfazer;
cespencer;
corroer;absorver;
(fig.)
morîificcr;
afligir; (refl.)
ralar-se.
Não
pode
deixar
de notar-seque
os sentidosfigurados
(mortificar, afligir)
sdo
bons indicadores de todo um manancial deassociocoes
negativas
que
parecemeclodir
em torno capalavra
consumir .
Quem
poderá,
todavia, negar
que"ir
ascompras"
é
hoje
umdos
grandes
divertimentos
demassas?
Está
na modacriticar
o consumo, faíar mal dele.Mas,
parece-nos,que
de um modogeral,
a suaprc*:ca
em nada íoidiminuíca.
Estamos
em crer que aactual crise
comercial,
que
tantos
sectores
dizem
experimenrcr,
dever-se-a
mcis
á
bc;xa
oerendimentcs
'amil.'ces
do
que
a uma massivaadopcdo
deideais
dedespojamento
material.
Vcitandc
osassocíccôes
negativas,
verifica-se
que ossen'idos
figurados
aparecem ainda mais
desenvolvicos
noGrande
Dicionário
daLíngua Portuguesa^:
Consumir,
..,Matar,
assassinar//
Desgostar,
importunar,
moníicar,
afligir,
domar
emsilêncio,
curtir//,.,
Consumir4
parece
carregar
uma severacondenacão
de
umamorcl de
algum
modoainda
vigente
-ques*ão
cue vamos voiĩO' oabordar
oesîecapítulo.
Mas,
para
ja,
continuemos
a nossaexploroqão
por fontes
maisacessíveis
eque
poderão
;razeralgum
esclarecimemo
sobre o consumo.Consultados
osdicionários,
umacuriosidade
maior
poderá
levar
a
procurar respos*cs
numaenciciooédía5.
Consumo, (...)
adistribuicão
dasdespesas pnvodas
por
alimeotacão,
bens
duráveis
enão
duráveis,
revela
umcnotôria
similaridade nospaíses
desenvolvidos compadrôes
economicos semelhantes. Umatendêncic
comum atodos
ospaíses
-á
medida que opadrão
devida
sobe,
aproporcão
dasdespesas
com aGrande Dicionôrio da
Lingua
Portuguesa.
coorc. de José Pedro Vccncdo, Vovume !||, 19S9;Euro-Formaqcc.
Vnlori/acão Pessoa e Prc'issonal. Lda..1
E e a polavo consurvr, e n;ĸ> a accco em si, que parece ser a granae condenaac. Será oorcue todcs dcobom po' persar oue os
"esocnjodcres
e cs vi:imas co sociedade de ccnsumo" sôo sem.p-e osoutros, nunoo se outo-'eve^co no cassricacdo 9 Sera antes pcraue o onf -consumose rscrevo noquo^es valcescue são por 'cdoscceiîes. ~csquenirguem
espera pueseja
cumprido
no dla u dio?Ou serc ocrque é mos fãcil acerar jmc muconca de volcres, eroucíc concei'o îeôrico. Cc q^e
passá-So
ã orática do dia a d.c?r'e New
Encyc'oooodio
3ri:c'inica. vcl 3; '5*h edition; MicoPaedio
Renay
Rrference, Encyclooaeaia E'itannica, ;nc.alimentacão
desce
e acorrespondente
aosbens
duráveis
ou deluxo
sobe/J
Is^o deve-se
oofacto
do consumo cealimentos
serrelctivcmente
não-elástico,
oque
s:gnrica
que,
uma vezatingido
omvel de
suficiéncia,
asdespesas
com aalimentaqão
rendem a aumenîarmais
devagar
doque
ooumento dos
rendimentos,
7Outro factor
de
contribuicão
importante
eque,
oasnaqôes
industrializadas,
devido
ã
procucão
de miassa e aoprogresso tecnico,
osbens duraveis
têm
precos
muito
mais
baixos,
tornando-se
acessíveis
a umamaior
proporcão
de consumidores.
A
teoria
econômico
clássica
que
explica
ocomporĩamento
doconsumidor, está construído
nanocdo
de
utiiidade
margiroi.
De
ocorco comesto
nocão,
oconsumidor
obtém
umnível
de
satisfacão
(utilidade)
com acompra
de umproduío,
mos osníveis
de
satisfacão
ganhos
comcompras
adicionais
do mesmoproduto decrescem,
á medida que
o seuabastecimento
aumenta.É
suposto
cue osconsumidores
ajam
racionalmente
edirigindo
as suasdespesas
porforma
amaximizar
asatisfa^ão
total
obtidapela
compra.De acordo
com es*emodelo
econômico
simples,
rendimentos
e precossão
osdois
maioresdeterminantes
do consumo.Contudo,
numasociedade
modernacomplexa
outrosfactores
como apressao
social,
tendências
demoda,
hábitos,
etc,
têm
o seupapel,
mias aindaé
verdade que
opreco
e orendimerto
são
asmais
importantes
consideracôes.
Excepcôes
para ocomportamenío
racional
coconsumidor
abundam. Uma
oem comumé
ofenomeno
do consumogritante,
verificada
quando
o precoextremamente alto de um
bem
cria um valor deprestígjo
levando
a uma procura muitosuperior
do que aaquela
que
se obteria com asimples
relccdo
preco/procura.
[.■esfacuesca nossc aurcia.
SoOre c hierorcuo dcs diversas necessiddces, Mcs^ow criou acu,io o cue
desigrou
porpirômide
das necessidcdes e que pressupoe que um indiv!d..o voi ac::dendograoualmente
cos n'veissuperiores
d mec da que os '-nferio'es vôc'esoviaos.
Na oose desîc
pirámide
encontram-secs chamadas necessidcdesfisiolôgicas
('one,
sede,repouso),
no o've! imediccnenîe superíor(cO'igc
ep'O'eoccc).
r.„m :erce'o mvel necessidades deperîenqa
e a'ecto, num qucrro necessidcces de es'ima(reconhecimeCo
eostoiu'o)
e pcr úll'm.o, necesô'oades ceaui;> rea'izocão(V'eja-se
Oe A. Mcslow, Volvcronon.d Personaliiy.'}A
ace:'ocão
inconcicic'io1 cestc ĩeo'.o nôo ocece se-r oacr'oc Aindo nes'^capiĩuloanalisaremos uursoeclivasque ceaoum rroco a voti
pôr
em ccusa.Deste
excerto
podem
aina
retirar-se
outrostôpicos
imporîames:
- o
crescimento
do orooo'coo
dos
renc'imentos
destmadcs aaqu
sicôo
de bens
duradouros
e bensde
luxo, á
medidaque
asnecessidades
alimentares
'iccm
satisfeitas,
- a
repetida
aquisicão
de umproduîo
tende
adiminuir
onível
cesans*acão obtido por
coda novaaquisicão
- o
pressuposto
da ^eoriabasica
da economia queprevê
que oconsumidor
deverasempre
procurar
amelhor
relacão
entreutilidoce
epreco,s.
- os
produtos
de luxoconseguem produzir
umarupTura
narocionalidade
doconsumidor
(melhor
relacão
precoutilidade).
íazerdo
com que um aumento
do preco
não
se traduza numoquebra
daprocura
masantes
no seuincremento.
Na
enciclopédia
e aperspectiva
economica
queprevalece.
Que
porto
devista
nospodero
dar umdicionorio
desociologia?"*:
Consumo:
(,..)0
crescimento não
torna necessariamente
o
consumidor
maissatisfeito.
Com
efeito,
asnecessidades
não serdo
menos bem enão
tôo
bem
satisfeitas
quando
ocons*rangimento
orcamental sealivia
esão
acess'veis
mais
produtos9
Esta
consequência
docrescimento
A micx.rrizacãoco uti.iacde roce oo p'eco pressupoe;
-que o.-divícuo :em
rigoroso
consciêncio cos suosnecessidaoese oeseoo
-cue o odividc' 'em um connecimento excuslvo de Todos os orocjtos suscecoves ce os cctisfazer
-queoindivíduooiccuro semore a máxima utilsdade
(e
nôo apencsasuficienre)
Estes pressuoccos evo"*am inúmercs cíticos porque. não so é miooss've:conceber
olguém
que tenna pieno conneomento de todos os produtos d venda no mercadc ccrr.o tcmfcém nco fcz muito Bent.dc pensc-se cue : emoenr :;rreOc "10 melhorrelagco
ulnddde/preco seja
o mesmo nc compra de uma casa, umcscciccs. umcomputocor
ou umc oosllna e'ãsrica. O pressupostc ce c ue o indvi'duo'em umorigorosc
consciênco ddssucs necess;Cccesecese;os nôo éigualmente
pac;',co.Pcc j'ĩiq exposicco sucirtc co *eoric economica co consumidc veo-se oor exempioce Y. Sirnon, ĩhéories Econcmigueset
Comoortement_Cu
Consomrnoreur.Dicionáno de Sociolocrc, so'c o
direcgão
CeRoymo
rc 3ouCc, Ph:ppe
3es!vjrd. MohomeJ Cherkcoui eSernaíC-PierreLécuyc,
1990, Dorn Quixoîe.consíitui
umparadoxo
para aabordagem
neoclássica
do
corsumo.Uma
perspectiva
que
vemcorrobora:
umdos
pontos
focados
naenciclopedia
e queconstcui
também
umdos mais
fortes
íundamenros
da
crítica
que
é
feita
aoconsumidor da
actualidade
-quanto
maisconsome, menos
satisfacão
obtém
com cada consumo emais
quer
consumir.
Ainda
do mesmodicionário
de
Sociologia:
O economista
T,
Scitovsky
(1976)
expiico
es*aobservacão
pelo
facto
de oconsumidor
consagrar
umaparte
cada vezmaior
dos seus recursos apreservacão
do seuconforto
e cada vez menos a renovor ou aalargar
as suasexperiências,
Pca A.O. Hirschman
(1
982),
o cansacodo
consumidor
é
umaconsequêncio
do
prôprio
êxito
do
consumo; ele
desmteressa-se
da
suavida
privada
evolta-se para
aacgáo
colectiva.
O movimento
pendular
dever-ic
ulteriormente levar
omilitante
a cansor-seda
acqão
colectiva
efazer
redescobrir
aocidadão
asdelícias
do consumo.Neste ultimo
excerto
faz-se
já
umaanálise
não
sodos
mecanismos
que orientam
o consumo, mos de como o consumooriemana
asrestantes
condutas
doindivíduo.
Este
é
aliás
umdos
pontos
que
pretendemos
desenvolver
umpouco mais
todavia,
se sebuscasse
umpleno
esclarecimento
destasouestôes,
defrontarmo-nos-íamos
com umainfindáve!
lista
depensadores,
e obrasque perpassam
pelas
esferas
daeconomia,
antropologia, sociologia, psicologia,
filosofia,
semioiogia.
Não
tendo comoobjectivo
adefiniqão
de consumo emsi,
sendoesta
unicamente
umponto
departida,
vemo-nosobngados
arestringi'
as
referências
eoptámos
porduas
perspectivas
-Baudrillard
eLipovetsky,
Se
escolhemos para linhas deconducão
as obras deBaudrillard
eLipovetsky,
e por sentirmos quehá
nelas pomos derefiexão,
quepoderôo
vir a serôncoras
preciosas
nodeambular de todo
oraciocínio
que
a^avessc oanálise
cque
nospropomos.
Reiomemos,
então,
umaassociacão
que
comunmenre eaplicada
aotermo
consumo - adestruiqão
debens
e odespe'dício.
Em,
A
Sociedade de
Consumo,
Baudrillard
faz
notarque
adesiruiqão
debens excedentes
é
umaconstante
nassociedades
humanas,
não
sendo
porisso
específica
dassociedades
industriaiizadas.
Aquilo
que define
asociedade
de consumo,ndo
serapois
odesperdício
emsi,
mas a£orma
como ooesperdício
se processo - o seucarácîer
deobrigacão
quotidiana.
Isto
e,já
não
"a
destruicão
competitiva
de bens
preciosos
que
seia aorganizacôo
socia'1,
cdefinicdo
que
Baudriilard dá
depotlatch10,
mas como "a
alternativa
fundamental
deproducão
(Baudrillard,
1970: 50
e58)
Deste modo,
temos odesperdício
individual
ecolectivo,
enquanto
ritual defesta,
claramente
distanciado
do
desperdício
"em
Marcel Mcuss dá-nos c
definigão
primei'C.
"Por!a*ch" quer dizeressenca:meníe "aíimemcr": 'consumi'',
É,
íoaavia, num sen+:do mcispreciso
cuepassará
o ut'iiza-ia. Pcra Mouss potlotch é o forma mais CesenvoiviOa do "sis'emo Oeorestogôes
tota's" - oqual
pressupôe
nôosô troca de ncue/as eOens materiais, ccmo îombém amabilidaces. festas, ritos,dcngas.
...Definindo
"presiccôes
torois': "estcs
presíagôes
ecomrcprestccôes
emcenhom-se sob uma lorma
preferenciclmente
volun+ana. crcvésde presenîes. de P'enccs. se bem cuesejam,
no funco.rigorosamente
obrga:orias
soo c oeno de guerrcprivada
oupublica" (Wau&í,
195C:56)
Derir.indo ogco a esoecificidace ce
pc-'ctch
enquc-îo forma evciuíao ceorestcgco
total; "Há
prestccão
total no senîiCo em que é realmente todo o clô quecontrota por ccccs, oco íjdo o aue ele possu: e oora Tudo o que ele 'oz, por intermédio do chefe, vios es-o o-esiccão reveste. da parre co cheíe. um
compcccmento
accnísiico muito morccdc. E!c e essenoiaimeme usucric esumptuária,
eassiste-se. an:es do mais. a uma luto de robres pcra assegurarem enĸesi uma
^iercrquia
ce c^e oosíenormer^e apiove^aia o seu 010"(Wouss.
195C:57)
E cehameníe estc dimensdũsumptuoria
que cc'Q'. Baucrilla.'d pcc c utilizacác ccexp;oicão por.'ctcr.
que o
esbanjamento
perdulário
setornou
obrigacão
quotidiana,
ins-ituicão
forqada
emuifos
vezesinconscieote
como um'mpcsto
indirecfo
eparticipacão
sementusiasmo
rosconstrangimentos
daordem
econômico"
- odesperdício
como umfruto
e umalimento
doprôprio
processode
produgão.
(Baudrillard,
1970:
57)
Mas o que
de mais
relevante
sai aesto
análise
é
que
Baudrillard
conclui que
ndo
vivemos
numosociedade
deabundância,
comoé
corrente pensar-se, mias numa
sociedade
regida pela
permanente
ameaca
da
escassez,pela
"obcecacão
dararidade".
Estamos,
assim,
sob aegide,
não
da
"penúria
primária",
quepor
natureza eprovisorio,
mas da
"penúria
estrutural,"
cefinitiva
eintegrada
naprôpria
ordem docrescimento.
"A
nossalôgica
socialé
que
noscondena
a penuria luxuosa eespectacular".
(Baudrillard,
1970:
97).
Penúria
que
nos leva aconsumir
mais,
e mais e,sempre mais,
' ! ,Se Baudrillard
defende
estecarácter ilimitado
do consumo eporque
elenão
crê
no consumo damaterialidade
mas,tão
somente,
noconsumo
de sentido.
Assim,
oque
nos leva a consumiralgo,
ndo são
assuas
características,
a suafungôo
mas,simplesmente,
oque
essealgo
pode
representar,
... nunca se consome um
objecto
emsi,
(no
seu valor deuso)
- osobjectos (no
sentido
lato) manipulam-se
semore como sinaisque
distinguem
oindivíduo,
quer filiando-o
noprôprio
grupo
tomado comoreferência
ideal
quer
demarcando-o
dorespectivo
grupo
por
referêncic
a umgrupode
estatu+osuperior.
(Baudrillard,
1970:83).
Com
estaafirmacdo Baudnilard
acaba por se distanciarradicalmer.te,
dasabordagens
economicas e darelacão
preco/utilidade.
Note-se porem queé
apropria
teona economica queprevê
aquebra
daraciona'.idade
do consumidorperante
aaquisicáo
Riesmcn. ',íd dos primelros onaíisfas da sociecace de consumo, fem uma
posigco
ciferente. tm ĩhe Lone y Oowo define duosg'onaes revougôes
- orevolucão
indus-icĩl com esîab&ecĩmento da ero deproducôo
e a oassogem dc .dcde ceprodugão
para a iOaCe ce consumo. Porc líesman a 'scorcitvosychology'
éainda umresquício,
umo remcnescência Ca iCaCedaorodugôo.
de
produtos
de
prestígio.
Mas Baudriliard
vai
afinal defender
que
hoje
oprimcco
doprestígio
ja
nao e omeconismo
daexcepcão
mas o doregra.
Aregência
de
:oco equaiquer
consumo,E
isto
porque,
para
Bcudrillard,
aquilo
que
osobjectos
conseguemi
sign:ficar
é,
unicamente,
o
estatuto12
- Q"graca
de
predestinagão
conferida
por
nascimento
sô
a uns
quontos
eque
omaior.a;
porceslnacão
inversa,jamais
alcanqará."
Consumir,
qualquer objecto
queseja, será
assim
adquirir
um
símbolo
datôo
desejada
distinqão.13
Ao identificar
a procura de estatuto como o motivoque
conduzao consumo,
Baudrillard
vai Situar a"lôgica
social do
consumo' naE iVax Weber quem míroduz o conceito de estatuío sociai demarcanco-o do de classe sociai.
Enqucnto
que adisîírgão
Ca c\asse socialerguc-se-ia
score ooseseco.nôm'cas,
o estotuto sobre g honra e a estima atribuído Delos ou*ros .V^jc-se
desteau:o r, The Protestant Ethic ana theS oirit cf ca oitcism
Umc
poSiQão
bem distante ca de Marcuse(ccm
odiscngão
entrenecessidcdes verdadeiras e
falsa)
einequivocameme
ma.s raciccl que a de Rocnctiarthes.
Barthes introduz rambém c
potencialidcde
significante
do consumo. Porém.não negc demodo
c^gum
afungco
pr meira(a
sctisfagôo
ma*eriai denecessicades'
do
objecto.
Deste modo ocaba por instuor um facetadupla
nosconsumos.(Vide
do mesmoou-or, Vlyfo'oaesjNote-se, por ouro lado. que Baudrillard esrc em pererc sintonic com
Guy
Deoord. que qfi'mo que o vaic fundamentci do nossa sociedcce, éjá,
ndo o 'sec-•emo'
ter", maso porecer".
"A
primeira
fase dadominagôo
da economia sobre a vida social levou, nodefinigâo
de îccc c rec:.zagco huma^a, c um.a evidemedec'accgão
dcserem'
te: A foseprcscnte
da ocuoocão totcl ac vida social pelos resultaaos acumuiados dc eocnomia conduz ao Ceslizargeneralizcdc
co :er em pc:ecer, de aue *oac o :ere-'ecivoceve îirar oseu
prestígio
imec;a:o e asuafungco
úirima."(Deoord,
1967:15)"
Partilhando também da referéncia c penurio ccmo umc oa'ocrensnco ccsociedade actual, Debord acenĩua o fccto de que a acfuol soc;eccCe aoos'a
jo
não no
simpes
va!c de jso dos ob:eces mas num valor acescemnao -no :econhec;mento soco! do seu uso enqucnro mercadoria.(Seria
exactcmen+e namercadoi.o cue resdiric a aoareme reconoliac«ão de
clcssesl
Isto pcque, cucndoooperdrio
acede aopapel
de consumidor receberá toCa aespécie
degennozas
que Ihe sãonegadas
quancodesempenno
o seuoopel
noorodugoC:.
Do mesmo modo. a nova oenúria vo; conter,
igualmente,
umc novonc--;ão
de P'ívccco 'Es^c cons'cr-e ca econcmic copi+a'.sta. que e o ccixc tendenc:oi a'c voiot de uso. desenvolve uma nova forma Ce
privagôo
no inlerior Ca sobrevivênciaaumentcdd. a
qual
ndo es:d, oor issc m.ais l.oerta do an'igapenũ'ia.
v.sío q..e exioe apcrficicccão
da grance maioria aos nomens, como trabalhadores assa.criacos,'no
prosseguim.ento
inf'nirc c'o seuesforgo.;
e que cadc a.ucl sobe cue é necessáriosubmeîer-selhe ou morrer. ..O ccnsumidor reai torna-se o consumiao' de ilusôes. A merccacic é esîc ilusôo e'ec vamente recl, e o esoecîácuio a suc moni-'p^c^ã^
gerai,"(Debord.
1967:34'iordem
da"logica
da
producôo
eda
manipuiagão
dossignificantes
sociois"
enão
na ordem dasaosícgão
oudo
apropriacão
individuol
do
valor
de
uso de oenseservigos.
Inscrevenc'o
os consumos na ordemdo
social, Bcudriliarc
vci moislonge
negando,
inclusive,
aexistência
real de prazerindividual
everdade:ra
fruigão
em cada acto de consumo.Na
verdade,
oautor
nemsequer reconhece
uma rea!liberdade
de escolha
aosconsumidcres.
Admitindo
que cada
consumidor sinto
essa
liberdade
comioreal,
essafruicão
comoauténtica,
elas
não
passam,
porém,
depura
ilusão,
O consumidor
vive
as suascondutas
distintivas
comoliberdade
e comoaspiraqôo,
comoescolha,
e noocondicionamento
dediferenciagão
e deobediência
a umcôdigo.(,..)
Ao
distinguir-se
naordem dos
diferencos,
oindivíduo
restabelece-a,
condenando-se,
portanto,
a mscrever-senela
sode modo
relativo."
(
Baudrillard,
1970:
Baudrillard
acaba por concluir que o consumo se vaiinstituir
napropria
recusado prazer:
Enquanto logico
social,
osistema
de consumoestabelece-se
nabase
da recusada
fruigão14
(...)
O
prazer definiria
o consumopa;a
si,
comoautonomo
efinal._Ora,
tcl
não
ocontece.
O
prazersente-se
emfungão
de
si mesmo, masquando
se consome nuncaé
isoladamente
que se consome(eis
ailusão
coconsumidor, cuidadosamente alimen:ada
portodo
odiscurso
ideolôgico
ocerca doassunto),
entra-se
num sistemageneralizado
de troca e deproducão
de valorescodificados
em que, pese aosproprlos,
îodos
osconsumidores
se encontramreciprocamente implicados
(Baudr:llard,
1970:
116)
É
ainda nesta"implicacão
recíprocc'
de todos osconsumidores,
que
Baudri:
ard vaiapoiar,
não
so ocarácter
coercĩvo
esocializante
do consumo, como ojá
citadocarácter
ilimitado
do consumo,Admitindo
Desîccues da r.osso auíca
que
asnecessidades
mdividuais
sejam
passíveis
de
sersatisferas
nc sua-c-olidace
Baudrillard
vai
inscrever
o ccnsumo,não
nalogico
dosatisfagdo
individual,
mas nalôgica
social dadiferenciagão,
oqual
seria,
por
naturezo, infinitc.
As necessidades
deque
nosfala
Baudrillard,
não
são
pois
produzidas
individualmente.
Igua.mente,
ooroduto
dosistema
oeprodugôo
não
são
asnecessidades,
massim
osistema
denecessidades.
' 5 Umsistemo
que é
por eledef nido da
seguinte
íorma:
Por sistema
denecessidades,
queremos dizerque
asnecessidades
nco seproduzem
uma a uma emre'ccão
aosrespectivos objectos,
mas se suscitam comoforca
consumptiva
e comodisponib'lidade
global,
noquadro
maisgeraldasfungôesprodutivas.
(Baudnllard,
1970:109)
Para meihor
ilustrar
adimensão
que
Boudrillard
ctribui coconsumo,
citemos agora
umexcerto de
O
Sistema
dos
Objectos:
O
consumonão
é
umaprática material16,
nem umafenomenologia
da
"abundância",
nôo
sedefine
nempelo
alimento que
sedigere,
nempelo
vesfuário
que
seves'e..
nempelo
carroque
se usa, nempela
substância
oral evisual das
imagens
emensagens,
maspela
orgonizocãc
de tudoisto
emsubstância
significante;
é
ele atotalidade
Pcra Debord, estas necessidcdes inscrevem-se, como vimcs a, ra ordem dds
nusces. Ainda que nôo oressjpcmo c existência ce um sis*emc de necess:dcCes, cc
justif'car
o corácter ilimiîado do consumo refere, oconjunto
Ce ■felicidade mercanil"como o ob.ectivoa
al.ngir
eque seria o môbii ce ooda ccnsumo paroci. O -'ccodo consumidor estar conaenaao a consumir apenas 'frccmemos desfa felicicodemerccc;l.
fragmemos
Cosquois
a quc dcde ctriou'dc oo con.untc es:c evidememente ausenre" éaiust.ficagão
ccinesgotaCiOaae
de iodo o processo deconsumo.
(
Debord. 1967: £6e49)
Debord nôo sô abre cs por'os parc uma visão das necess;dacescomo a>go
pertencente
a umconju^ĩo
uri-.cador, comopôe
cinca em cues*co cproo'rio
legitimidade
destas ncvas necessidades - as 'pseudo-necessidaaes'. "Sem duvidc a pseudo-necessdade moosta no oonsumo mocemo noc oode se; oocs*a c nennuma
necess.dade ou
desejo
autêntico, que nôoseja
eleprôprio,
modcadopela
sociedace e oela histcric. Vas a mercadono estô lá com.o ruptura obso.uta Ce um deservcvimentocgânico
das necessidades sociais. A suaacumulagão
mecônico liberta um orrificia!ihrrtitoclo. oercnteoqual
o dese;c vivc fica desarmcdo Apcé^.ca
cumula*iva Ce ^m arnificia^
independen-e
conduz, em toda a oa:fe, d falsit;cacc':o dc vido scciol."(Debord,
1967:50,51;
virtual de
todos
osobjectos
emensagens constituidos
deagora
num discurso mais ou menos coerente. O consumo,pelo
facto depossuir
umsentido,
é
umaactividade
demanipulagão
sistemática
designos
(Baudrillard,
1968:276)
Baudrillard
opera,
assim,
umcorte
fundamental
com ovulgar
sentido
dapalavra
consumo e doproprio
conceito de
sociedade
deconsumo.
Neles
o queestá
emjogo
não sôo
já
realioades
materiais
mastdo somente
ossentidos,
aarticulacão
dossignos.
Pelo
que
até
agora
foi
visto,
qa
perspectiva
deBaudrillarc
podemos
destacar
osseguintes
pontos
chave17;
- a
sociedade
deconsumo
é
umasociedade não
deabundôncia
masde
escassez, naqual
odesperdício
compulsivo
vaisubstituindo
odesperdício
ritual;
- o
que consumimos
não são
osobjectos
em si massentidos,
signos;
- o estatuto
é
o
sentido que
osobjectos
consumidos encerram;- o consumo
não
e movido
pelo
prazer
(embora
cado
consumidor
osinta
comotol)
mas por umacoacgão
social;
- as
necessidades
não
seproduzem
individualmente,
massurgem
antes como uma
forga
consumptiva geral
- um sistema cenecessidades.
Pelo
que ficouvisto,
se everdade que
emalguns
pontos
Baudrillara
sedistoncia
daperspectiva
dePierre Bourdieu
'ocavia,
houm
aspecto
importante
que
parece comum.Os
ponlob
cue sesuyuem iuo osque se cons'derarcm miC;.s 'e'evomes ocrc aondlise em.
queS'Oo
Es'cmcs ccnscienîes de cue é umaoppão
a..ie nom :>equei prerence resumir c perspecîiva ce 3audr;llord, Ccqual.
aliás. oontinuaremos a 4oca:novcs pcCcsnos
copítjlos
seguces.Desenvolvendo
umaanálise
dasociedade
francesa
dos anos70,
Bou'dieu faz
notarque
os consumos dosmais variadas
areas( vesîuário,
comida,
bebida,
musica,
mobíiia,
casa,auîomoveis,
quadros,
...)
sôo
usados
pelos
diferortes grupos
sociaispor
forma
ademarcarem
o seuestilo
de vida.Demaracgdo
quer,
simplesmente,
expressando
asdiferengas
que ogrupo
já
tem,
quer
estabelecendo
novasdistingôes
através
dessas escolhas.
O
autorintroduz ainda
um novo conceito aoreferir
doisdiferentes
tipos
decapital
aque
umgrupo
pode
equer
ter acesso:- o
capital
econômico
- o
capital
cultural
(intelectual
ear:ístico).
Bourdieu
levanta
já
aquestão
do
aspecto
simbolico do
consumo,mas
não
deixa
de aígar
arealidade
ma-erial doobjec^o
consumido,
Baudrillard,
comovimos,
nega
qualquer
consumode
materialidade.
Deigual
modo, não compramos
vestuário, mobílias,
automôveis,
revistaspara expressarmos
aquilo
que
apartida
somos ,mos, na
verdade,
torna-nos
naquilo
que
compramos.Isto
e, e osimbolico que tudo
domina.
Contrariamente
á análise
deBaudrillard,
quedefende
que aépoca
que
estamos
o viveré
umprolongamento
notural,
semsobressaltos,
dasepocas
anteriores,
dominada
ainaapela logica
daprodugão,
Lipovetsky
baseic toda a suaonálise
nacaracterizacão
deduas diferentes
épocas:
a era moderna e apôs-moderna.
] &'° A moderriccde e
um conceiro que es'ã
lorge
Ce se: eûnsecua .Logc
rcdetcmhccco dos suos opge.ns e accec;,mer?c vcmos encorí:ar dre-remo: correntes: para
c'gum
dcîa co sec XVi, com o rearc: dos valores coAmiguiocde,
pcra ourrcs, do sec XVII com o aparec memo aa cenoa e cc f- osc-o
poiiticc
connccíuciis;a. parc outros a;r,ca no sec XVIH e cé XIX com a
industrializagôo
e otnunfo Oa îécnica.
A
eromoderna,
marcadopor
umovigorosa crenga
eaqosta
nof'jturo,
naciênc:c,
natecnologia,
es:oimbuído
de
umaforte
vontace
de
ruptura
e deconquistas.
Por
oposigdo,
apos-modema pautar-se-ia pela
"indiferencc de
mossa",
pelo "domínio
dosenn'mento
desociecace
eestagnagdo",
pela
autonomizagão
dopnvado,
acolhimento
igual
do novo e doantigo,
banalizagão
da
movagão,
por
umavisão
defuturo
despida
acfulgurante imagem
do
"progresso
inelutável".
A
sociedode
pôs-moderna
aparece-nos
comoque dominada
por
umatotal
bonomia
eindiferenga
face
d
mudanga,
caracterizando-se
pela
'exaustão
doimpulso
modemista
dTigido
para
ofuturo,
desencanto
emonotonia do
queé
novo,esgotamento
de umasocieoade que
conseguiu
neutralizar
naapatia
aquilo
que
afundamenta:
amudanga.1
(Lipovetsky,
1983:1
1)
Acano Duarte
Roc.gues
de'erde, porseu .-odo, que•rcC'Cãc
emodern:-daae nco sôo cuas correntes ou Cuacoes que se sjcedem no 'empo, mos antes duas tendências que desdesempre coexístircm, poaenao é oose;vor-se em ccdc epoco marc ou mecorp'edomincncio
de uma e cu*ro-"
acuilo que dis:ngue a
vadi-;ôo
aa modern.daoe nôo éum recorte histôricomas as maneiras delegitimdr
asacgôes
e os Ciscursos, de dar sentdo cexpcéncia,
deinteg-ar
os ccontecimen'os num 'odo coerenîe"(Rodrigues.
1994:50).
E a ndc: "São
categorias
que cocbitam na mesmo éooco e emqualauer
sociedade. Definem maneircs Ofcentes ce emender cexperiênoa,
delegitimar
os discursos e osacgôes,
os modos de vida e oscomporomertos."
(Rodrigues,
1994:52)
Também
quando
Riesman def.ne os trés modelcs de soc;edcde - o "trodicî.on direcion', co an*e'evolugco
ncustnci. o 'inner direction da idode doorccugão
e o"otner crecTion" co idade do consumo. tem o cuidcco de fazer noTcr que estes três moce'osnão sô pcoom coexist.r no tempoe noespogc ccmo ainda re'ere Rorna e Atenas dc
Anriguidade
comioexemplos
de sociedades nas quais teria jO existdo o modeO 'otre' direcior".(."í'esmcn,
]850:22)
Pcra caracterizor a modernidade e os seus iragos disi.n-ivcs muitos autores
poccão
ser consu'taccs. Assincle-se Comte quepr.vilegia
c Cesenvolvmentccienîifico
(
C'oursOe Pnilosopnie Posiîive eSystnéme
Oe Philosopnie Positive ). Mcrx quedá
destaque
cocapitolismo
(le caCal,\. Toccuev'le e acua'izagco
dos ccrdicôes sociais (L'Ancien Regime er igRévoiution')
Vleoe: e oprimiaco
Cc racC'nciizagôo
(L'Ethique Protestgn^e et l'Esprit du Cap :alisme),Debora e a
emergéncia
docpcéncic,
emsuostiiu-cão doser e do rec ( La Soc'étécu SoecccieuPara uma visdo
globcl
dcs cferentes correntes consulte-se Understanaino Modern Sccieties; An introduction - edtadc soo ad-recgão
Ce Stucrĩ Ha:. 1992, ecThe
Open
UnversCy .Ainda sobre a modernidade e o seu discurso ciosolco
prôorio
consulto-seBctaii e, Fo-w.coLlt.
Lyctarc.
oocencoencontrar-seuma sumuia eci'ioc ce resoec'ivcs perspectivas em Der Philosop'-iscneD;sKursCer Voderne, ae r-abermcs(trcd. pcrt.O
Discu'so FiiosO'icoco fv'oce:""' dade . =c. D.
Quixote).
Apesar
de
fão
grande
diferenciagão,
Lipovetsky
acaba
rcmbem
por
aefender
aue,entre
a eramoderna
e opos-moderna,
não
se poaefalar
deverdadeira
ruptura,
masde
umprolongomen.to
de umprocesso
-nôo
já
ooprocesso de
producão
mas,do que
eiedesigna
por
processo
depersonalizagão, Personalizagáo
que
Baudrillard
nego
que
exista
defacto.
Para Baudríllard
aactual
sociedade
caracteriza-se, precisamente,
peia
homogeneizagão.
Ndo
negando
que,
a umcerto
nível,
apersonalizagôo
tenhade
facto
lugar,
esta porem,
sô
setorna
possível
namedida
emque
cadapessoa
já
terá
sido
previamente
esvaziada
da suaespecificidade
real.E,
deste
modo,
que
apersonalizagão
compreende,
não
asdiferengas
reais mas, uma vezmais,
signos, signos
previamente
inscritos
em
modelos.
... a
concentragdo monopolista
industrial,
aoabolir
asdiferengas
reais
entre
oshomens,
ao rornarhomogéneas
aspessoas
e osprodutos, é
que
maugura
simultaneamente
o reino dadiferenciaqão.
(...)
Também
agora é
sobre
aperda
das
diferengas
que
sefunda
ocultc
da
diferenga.
(Baudrillard,
1970:135)
Baudrillard
alerta-nos
para
umadiferenciagão,
umapersonoiizacão
dirigida
e controladapelo
proprio
sistemc eque,
naverdade,
consiste
num esvaziamento dasdiferengas
reais com cue cada umé
naturalmente munido,
É
c esreesvaziamenfo
dediíerencas
reais,
e suasubstituigão pelas
diferengas mcrginois,
que
Baudnl'ord
vaiatribuir
acoesão,
acapacidade
altamentesocializante
do sistema.Entre
asdiferengas
reaishá confliĩo,
entre
asmarginais
hapermuta,
ordenamento.
diferengas
qualitativos pelas quais
seindicam
oestilo
e oestctuîo".
Sendo exactamente através
da"reciclogem
permanente"
dessas
M.D.M. que
seopera
oprocesso
depersonalizagão.
(Baudrillard,
1970:
136;
Assim,
oprocesso
depersonalizagão
conduz a umaforte
homogeneizagão,
não
pelo
fac'o,
do
grupo
partiihar
das
mesm^ascaracterísticas,
mas sim das mesmasreferências
"de
ter
em comum omesmo
côdigo
ede
partilhar
idênticos
sin.ais
que
diferenciam
formalmente
de
qualquer
outrogrupo" (Baudrillard, 1970:142)
Lipovetsky,
por seulado, não
pôe quaisquer
limites
aoprocesso
de
personalizagão.
Em
nada nosfaz
crerque ela
não
seja
real,
uma vezque
e!eacredita
também
numiaefectiva
possibilidade
de
escolha, que
é facultada
eposta
emprática
através
do
consumode
objectos.
Consumo
de massa adespeito
da
suaincontestável
verdade,
afôrmula
não é isenta
de
ambiguidade.
Sem
dúvida,
o acesso detodos
aoautomovel
ou atelevisão,
aoblue-jean
eá
coca-cola,
asmigragôes
sincronizadas
do
week-end
ou domês
deAgosto
designam
umauniformizagão
doscomportamentos,
Mas
esquecemo-nos
demasiadas
vezes de considerar aface
complementar
einversa
do
fenomeno:
aacentuagão
das
singularidades,
apersonalizagão
semprecedentes
dos
indivíduos1^.
Ao'erta
emabismo
do consumo,desmultiplica
asreferências
emodelos, destrôi
asformulas
imperativas,
exacerba
odesejo
doindivíduo
deser
pienamente
ele
prôprio
e degozar
avida,
transforma cada um numoperador
permanente
deselecgão
e decombinagão
livre, é
um vector dediferenciagão
aosseres."
(Lipovetsky,
1983:101)
E,
se o consumoherdado
damodernidade
não
é
caractensticadistintiva
daépoca
em quevivemos,
Lipovetsky
crê
enconirar essaespecificidade
num outro factor - amudanga,
ou para utiiizarmos asuo
expressâo
- oimpério
doefémero.
Desrocuesda nossa responscbil'daae.
"Pode-se caracterizar
empiricamente
a"sociedade
de
consumo"por diferentes
aspectos:
elevagão
con'vel
dev!Gũ,
abundância
de mercadcnas
e deservigos,
culîodos
objectos
e doslazeres,
moralhedomsto
ematerialista,
etc.Mas, estruturalmente,
é
ageneralizagão
do processo demoda que
adefine
como coisaparticular20.
A sociedade
centrada
naexpansão
das
necessidcdes
é
antes
detudo
oque reordena
aprodugão
e o consumode
massasob
alei
daobsoíescência
,da
sedugão
eda
diversificacâo,
aque
faz
verter oeconômico
naôrbita
daforma moda."
(Lipovetsky,
1987:213)
Para
Lipovetsky, aquilo
que
vai
caracterizar
associedades
industrializadas
actuais
não
será
já
o consumo, mos overtiginoso
movimento
de
umaperpétua
mutagão21
Ta! não
impede
porem,
que
o consumoseja,
umadas meihores
referências
para caracterizar
oindivíduo
da
modernidade.
Hoje
asfronteiras
desse consumotendem
aalargar-se
continuamente
pela
acgdo
do
já
referido processo
de
personalizagão.
Deste modo,
se a suaexistência
emsi,
não caractenza
asociedade
pôs^moderna,
(uma
vezque ele
é herdado
da
modernidade),
anatureza dos consumidos
-que tende
a serndo
sô
objectos,
comotambém,
informagão,
desportos, vicqens,
cultura,
formacoo
eDestcques
aa nossaresponscbiiicade.
Zi Imcomos a
explanagdo
Coperspectivo
CeLipovetsky,
at'rmando o cesencanro e oindiferengc
em que coiu c mudancc na ercpôs-moce'nc,
Nce-se. conruCo, que não existeaqji
qualquer
parccoxo, porque e precisamenre nabanalizagôc
na mu.-io!icacão a todos os níveis do ncca^cc cue se perce o enîusiasmopelas granCes
ruoturas, pelasrevoiugôes
raOicais.De referir q^e Riesman îmhc
,å
cceníuado como caraceristico des:o ncvo modeio de socieddde(o
moaelo "other direclion"píedominc
na idade doconsumo)
cmutagco
e q rrodogenerolizada.
Aopretender
demons"c oue esfe modelc: sociedade teriajá
existido naAntiguidade,
Riesmcn refere a mcdc como uma caraceristicc ccmorovativc Soore as sociedcdes de Atencs, A.ex::ndric e Romocntigas
:"em
todos ester.grupos, a moda não sôgovemavacomo substiíuto ca moral e costumes , mos ec uma modc que mudavo m.uito ropidamente que dom ^avc''(Riesmon,
1950:22)
relagôes, espectáculos
ecuidados
médicos
-e,
por
outrolado,
verdadeiramente distintiva da
presente
sociedade.
Um outro
ponto
igualmente
fundamental
naperspeciiva
de
Lipovetsky,
é
o dafruigão.
Baudrillard,
comovimos,
afasta
o consumo da ordemdo
prazer
eda
fruigdo.
O
consumoenqucnto
lôgica
daprodugco
e demanipulagão
de
sinais,
acabaria
mesmopor
ser anegagão
dafruigão.22
Já
Lipovetsky
vê
oprazer
e oculto
dohedonismo
como umacaractenstica essencial
da sociedade
pos-moderna.
Hedoosmo,
que
apesar
de tersido herdado de
umaelite de artistas que
marcaram amodemidade,
vaiassumir,
comoadiante
se vera, umaface
diferente
na
pos-modernidade.
O
hedonismo,
para
Lipovetsky,
surge
como umacondigôo
essencial
docapitalismo
enôo
a suacontradigão
:...vivemos numa
sociedade
emque,
devido
aoconsumo,
6
publicidade,
aosiazeres,
se reabilitou para oconjunto
da sociedade
odireito
aoprazer.-3Desde
o sec.XVIII,
e mesmo do sec,XVII,
vários
filosoíos
procuraramreabilitar
o hedoosmo ; masfoi
so com asociedade
contemporônea,
que
afruigão,
oprazer,
setornaram
numa culturadominante.
(Lipovetsky,
1988
)
2i- A separocco entre as auas
persoecrvcs cla::fica-se se aienfcrmos d anáiise cue os cois cutores fczem dos
or.nopics
morais que regemhoie
as sooedadesindusniolizcdas.
BcudrJard defende que v.vemos ainda soDo ccrnr o co morc'. ou'l'CC
-rico houve revo jc-ão dos costum.es, a
iCeo'ogia
pu'^ano ccntin.ja a seroongcforia
Ma anc:ise do iczer veremos que elaimpregna
lodas cspráîicos
apcrememenîe
heacnistas. íĩ