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A d e m a r Ferreira Maria Eunice Quilici Gonzalez Jonas Gonçalve s Coelho

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Autorização concedida ao Repositório Institucional da Universidade de Brasília (RIUnB) pelos

organizadores da obra, em 18 de novembro de 2014, e pelo autor do capítulo, em 06 de março de

2014, com as seguintes condições: disponível sob Licença Creative Commons 3.0, que permite

copiar, distribuir e transmitir o trabalho, desde que seja citado o autor e licenciante. Não

permite o uso para fins comerciais nem a adaptação desta.

Authorization granted to the Institucional Repository of the University of Brasília (RIUnB) by

organizers, at November, 18, 2014 and by the author of the chapter, at March, 06, 2014, with

the following conditions: available under Creative Commons License 3.0, that allows you to

copy, distribute and transmit the work, provided the author and the licensor is cited. Does not

allow the use for commercial purposes nor adaptation.

REFERÊNCIA

(2)

V o l u m e 4

A d e m a r Ferreira

Maria Eunice Quilici Gonzalez

Jonas Gonçalve s Coelho

O r ga n i za d or e s

Cole çã o E/ tudo/ Cognitivo/

(3)

P a u l o A b r a n t e s1

N a t u r a l i s m o : c o n s i d e r a ç õ e s p r e l i m i n a r e s

Um a das d if icu ld ad es em avaliar m o s o n at u ralism o — m esm o se nos rest rin g im o s às suas versões m ais recent es em ep ist em o lo g ía — é a var ied ad e de

teses f ilo só f icas en g lo bad as sob essa d en o m in ação . Não é ó b vio que haja um nú cleo com um de co m p r o m isso s aceit os p or t odas as var ied ad es de n at u ralism o em ep ist em o lo g ía. Ap esar disso, é corren t e o uso do t erm o 'n at u r alism o ' para d esig n ar um a o r ien t ação bastante robust a em ep ist em o lo g ía.

O n at u r alism o em ep ist em o lo g ía corresp on d e a um a co m b in ação de t odas, ou de parte, das seguint es t eses, co n fig u ran d o p ro g r am as m ais ou m enos

r ad icais:

a) Rej eição da p o ssib ilid ad e de um a j u st if i cação a p r i o r i para cren ças e,

de m o do p ar t icu lar , a con t est ação do pret enso s t a t u s a p r i o r i da

ep ist em o lo g ía;

b ) Rej ei ção do f u n d acio n alism o ;

c) Ex t er n alism o (em t eor ia da j u st i f i cação ); c) Psico l o g ism o ;

d ) Fi si cal i sm o ;

e) M o n ism o m et o d o ló g ico ;

f ) Ci en t i f i ci sm o .2

Co m o a t em át ica dest e art ig o não se sit ua p r im o r d ialm en t e no d o m ín io

da ep ist em o lo g ía, lim it o - m e aq ui a n o m ear essas t eses, sem enu nciá- las ou an alisá- las (vár ias delas serão, de t odo m o do, d iscu t id as em d iferen t es m o m en t o s nest e art igo, p ar t icu lar m en t e o f isicali sm o ).3

1 U n i v e r s i d a d e d e Br a s íl i a - U n B . En d e r e ç o e l e t r ô n i c o : a b r a n t e s @u n b . b r

: Há quem in clu a o 'd ar w in ism o ' nessa list a, em bor a isso não seja u su al. Ver , por ex em p lo , Ro sem b er g (1 9 9 6 ). Par a Pap in eau (1 9 9 3 ), o ’ n at u r alism o ’ é en t en d id o p elo s f il ó so f o s de vári as m an eiras, e pode est ar asso ciad o às segu in t es t eses: a) co n t in u id ad e ent re f ilo so f ia e ciên cia; b ) r ejeição do d u alism o ; c) rejeição do in t er n alism o em ep ist em o lo g ía; d ) f isicali sm o .

(4)

0 t erm o 'n at u r alism o ' não é em p r eg ad o, u su alm en t e, p ar a d ist in g u ir p ro g r am as em f ilo so f i a da m ent e, com o é o caso em ep ist em o lo g ía. Nest e art igo, p ro p o n h o um a classif icação de d iferent es p osições que p od er iam ser co n sid er ad as 'n at u r alist as' em f ilo so f i a da m ent e.

Co m esse f im , adot o est rat eg icam en t e o "g u ia" de Go ld m an (1 9 9 8 ) para o n at u r alism o em ep ist em o lo g ía. Vo u d ist in g u ir , com base nessa t en t at iva de

classif icação , m o d alid ad es an álogas de n at u ralism o em f ilo so f i a da m ent e, d ivid in d o - as em t rês grupo s: o n at u ralism o enquant o u m a p ost u ra o n t o ló g ica, co n ceit u al- lin g ü íst ica ou m et o d o ló g ica. Essa t ranspo sição da ep ist em o lo g ía para a f ilo so f i a da m en t e não d eve su rpr een der, na m ed id a em que os p ro b lem as fu n d am en t ais de am bas as áreas estão in t im am en t e con ect ad os.

Co m o as p ro p r ied ad es de 'in t en cio n alid ad e' e de 'co n sciên cia' são esp ecialm en t e cr ít icas para um p ro g r am a nat u ralist a em f ilo so f i a da m ent e, sirvo- m e, t am b ém , da classif icação que prop õe Ch alm er s (1 9 9 6 ) de dist int as

post u ras frent e ao s t a t u s o n t o ló g ico da co n sciên cia, bem com o da que discut em

St ich et al. (1 9 9 4 ), m ais vo lt ad a para as at it udes p r o p o sicio n ais (e, co n seq ü en t em en t e, par a os p ro b lem as co lo cad o s p ela in t en cio n alid ad e de algu ns t ipos de est ados m en t ais).

N a m ed id a do p o ssível, t ent o ilust r ar , com ref er ên cias a d iferent es

f iló so f o s co n t em p orân eos, cad a um a das m o d alid ad es id en t if icad as de n at u r alism o e as corresp on d en t es m o d alid ad es de an t in at u ralism o. D o u um a at enção esp ecial, mas não ex clu siva, às p osições de Ch alm er s, de Sear le e de Den n et t .

Em b o r a não seja este o o b j et ivo p r in cip al do art igo, acr ed it o que ele possa ser u t iliz ad o com o um a in t r od u ção ao p ro b lem a m en t e- co rpo, ex p lo ran d o as im p l icaçõ es de d iferent es soluçõ es propost as par a este que é o p r o b lem a cen t r al da f ilo so f i a da m ent e.

N a t u r a l i s m o o n t o ló g ico (N A T O )

H á co n t r o vér sias sobre em que m ed id a o n at u ralism o im p l ica um a o n t o lo g ia p ar t icu lar co m o , p or ex em p lo , o f isicalism o red u t ivo — p o sição que

(5)

D e m o do g er al, p od em os co n sid er ar nat u ralist as o n t o ló g icas aq uelas

or ien t açõ es que r ejeit am o d u alism o de su b st ân cia e que p ost u lam que os estados e p ro p r ied ad es m ent ais são id ên t ico s, reduzem - se ou sup er vêm a estados n eu r ais.4 Cad a um a dessas p ost u lações pode ser co n sid er ad a 'f isicalist a'.

N A T O tem d iver sas var ian t es, corr esp on d en d o a d iferen t es co n cep çõ es de ‘ r ed u ção ’ e de ‘ su p er ven i ên cia’ . Co m b in açõ es ent re os t ipos de r edu ção e os t ip os de su p er ven iên cia geram vár ias sub - m odalid ad es de n at u ralism o o n t o ló g ico . A l g u m as d elas serão ex em p lif icad as a seguir.

1. Fi s i c a l i s m o 5 r e d u t i v o

O r ed u cio n ism o é freq üent em en t e apresent ado com o um a p o sição que ad m it e a p o ssib ilid ad e de se red u z ir as ciên cias de n ível alt o, ou 'esp eciais' (co m o a p sico lo g ia, p or ex em p lo ) às ciên cias 'f u n d am en t ais', com o a b io lo g ia ou a f ísica.6 N o con t ex t o da present e seção, o red u cio n ism o r elevan t e é, p r o p r iam en t e, o o n t o ló g ico .

N u m a o n t o lo g ia f isicalist a r ed u t iva, não há nada além das pro p ried ad es e leis d escr it os p ela f ísica. N o n at u ralism o f isicalist a red u t ivo , post ula- se um a red u ção do m en t al (d o f en o m én ico , do in t en cio n al ou de est ados com co n t eú d o ) ao f ísico . Essa red u ção p od e t om ar a f or m a de u m a id en t id ad e ent re

p ro p r ied ad es m ent ais, de um lado , e p ro p r ied ad es f ísicas, de outro.

A t eo r ia da id ent id ade ( b r a i n s t a t e t h e o t y ) ex em p l if ica esta ú lt im a

p o sição , ao p o st u lar u m a id ent id ade ent re (t ip os d e) est ados m ent ais e (t ip o s d e) est ados f ísico s. Po r isso, essa solu ção para o p ro b lem a m ent e- corpo t am bém é co n h ecid a co m o um 'f i si calism o de t ipo', que d ef in ir ei de f or m a p r ecisa na p r ó x im a seção. N a avaliação de J. K i m , o grande legado da t eor ia da id ent id ade f o i de t o r n ar p rat icam en t e h eg em ô n ica, ent re os f iló so f o s da m en t e co n t em p o r ân eo s, u m a p er sp ect iva f isicalist a no t rat am en t o do p r o b lem a m ent

e-4 M o st r ar ei que po st ur as n ão- nat ur alist as cor respo n d em a n eg ar que estados m en t ais com co n t eú d o , p or ex em p lo , ou que possu em q u a l i a , possam ser id ên t ico s, r ed u t íveis ou m esm o que su p erven h am a est ad os f ísico s (e.g . n eu rais).

5 'Fi si cal ism o ' e 'm at er ialism o ' est ar ào sendo usados, no que se segue, com o sin ô n im o s, salvo o b ser vação em co n t r ár io . Po r vezes dist in gue- se, en t r et ant o , t ais t erm os V e r os verb et es cor resp o n d en t es em Gu t t en p lan (1 9 9 5 ); K i m e So sa (1 9 9 5 ).

(6)

corp o. K i m car act er iz a t al p er sp ect iva, b asicam en t e, p ela r ej eição do d u alism o de su b st ân cia prop ost o por Descar t es.

Pr o p o n h o que se in clu a t am bém p osições elim in at ivist as nessa cat eg or ia de f isicalism o red u t ivo , em bo ra não se d eva co n f u n d ir 'elim in ar ' (e.g . con ceit os ou t erm os asso ciad os ao m en t al) com 'reduzir'. O elim in at ivism o é a t ese de que

d et erm id ad o s est ados ou prop ried ad es m en t ais sim p lesm en t e não ex ist em , em b o ra t end am os a vê- los com o a r ef er ên cia de con ceit os u t iliz ad o s na lin g u ag em m en t alist a or d in ár ia. O eli m in at ivism o pode ser asso ciad o , port ant o, ao n ão- realism o com respeit o aos con ceit os ou t erm os m en t alist as, com o eles são co m p r een d id o s, p or ex em plo, no âm bit o da p sico lo g ia de senso co m u m . Se não ex ist em os est ados e pro p ried ad es a que se referem os co n ceit o s asso ciad os ao m en t al, não faz sent ido t ent ar reduzi- los. Po d em o s ser não- realist as com respeit o às ch am ad as at it udes p r o p o sicio n ais ('cren ças', 'desejos', et c. e, de m odo

g er al, com resp eit o a est ados m ent ais com co n t eú d o ), m as t am bém com respeit o às cham ad as p ro p r ied ad es f en o m én icas associadas à co n sciên cia.7 O ch am ad o 'n iilism o de q u a l i a ' , d ef en d id o p or Den n et t ent re outros, ex em p lif ica est a ú lt im a

p osição.

E p r o b lem át ico t ent ar en q uad rar na m o d alid ad e de n at u ralism o o n t o ló g ico o ch am ad o "m at er ialism o el i m in at ivo " de Pau l Ch u r ch lan d .8 Ap esar do n om e, essa cor ren t e não apresent a con t or nos o n t o ló g ico s claro s no que diz r esp eit o, p ro p r iam en t e, ao p r o b lem a m ente- corpo. A tese cen t r al d ef en d id a por Ch u r ch lan d é que a lin g u ag em m en t alist a (a lin g u ag em da p sico lo g ia de senso co m u m ) d eve ser elim in ad a e, não redu zida, p or ex em p lo , à lin g u ag em da

n eu r o f isio lo g ia. Co m o o que se pret ende elim in ar aq ui não são even t o s ou p r o p r ied ad es, m as sim elem en t os lin g ü íst ico s, essa or ien t ação t alvez localize- se

7 O t erm o "co n sciên cia" refere- se, o rd in ari am en t e, a dif eren t es cap acid ad es. M as há um cr escen t e con sen so , ent re f il ó so f o s da m ent e, em co n sid er ar a "ex p er iên cia q u al it at i va", em esp ecial as q u alid ad es (q u a l i a) associad as às nossas sensaçõ es, co m o o "p r o b lem a d i f íc i l " (C H A L M ER S, 1996, 1997) no d o m ín io do m ent al. Th o m as N ag el p o p u lariz o u a ex p ressão "w h at it is l ik e to be X"- que p o d eríam o s t r ad u z ir p or "co m o é ser X"- para referir- se à ex p er iên cia de um in d ivíd u o X , p o ssu id o r de um a est rut ura co g n it iva p ar t icu lar e, port ant o, de um a "co n sciên cia" p ar t icu lar do m u n d o. Nessa ex p ressão, a var i ável X pode ser su b st it u íd a por um ent e — um h o m em , um m o rceg o (co m o p refere N ag el ) ou um in d ivíd u o de outra esp écie b io ló g ica — cap az de t er estados m en t ais co n scien t es, e p o ssu id o r de um pont o de vist a p ar t icu lar d ian t e do m u n d o. V e r t am bém n ot a 40.

(7)

m elh o r na m o d alid ad e de n at u ralism o co n ceit u al- lin g ü ist ico . Vo l t ar ei, port ant o,

ao m at er ialism o eli m in at ivo m ais adiant e.

O f isicalism o , ent ret ant o, não im p lica necessariam ent e um red u cio n ism o ou um elim in at ivism o . Ko r n b lit h (1 9 9 8 ), um dest acado nat u ralist a, em bo ra con sid er e que o progr esso cien t íf ico f or n eça evid ên cias a f avo r do f isicalism o (ou seja, a f avo r da “ co n st it u ição f ísica” de t odas as coisas, com o ele d ef in e essa d o u t r in a), sustent a que o est ágio at ual das ciên cias não ap óia o red u cio n ism o e, m u it o m eno s, o elim in at ivism o . Ko r n b li t h é realist a com respeit o às espécies nat u rais post u ladas por ciên cias com o a p sico lo g ia (p .ex . em p sico lo g ia co g n it iva, t ipos de est ados m en t ais) e con sid er a que t ais espécies têm po d er cau sal g en u ín o. El e rejeit a, con seq üen t em en t e, o ep if en o m en alism o 9 em f ilo so f ia

da m ent e. H á, port an t o, co m p at ib ilid ad e ent re um a p osição n at u ralist a e a au t on om ia das ciên cias esp eciais.10

Pet t it (1 9 9 4 ) t am bém p er ceb e um a am b ig ü id ad e o n t o ló g ica no nat u ralism o : há aq ueles que defendem um r ed u cio n ism o , ou m esm o um eli m in at ivism o , rest rin g in d o port ant o a sua on t o lo g ia; e os que adot am um a o n t o lo g ia m ais rica, na qual t am bém t êm lugar, por ex em p lo , p ro p r ied ad es que

su p er vêm às p ro p r ied ad es f ísicas.

2 Fi si c al i sm o n ão - r ed u t ivo

A cr ed it o que, hoje em dia, seja este o âm bit o no qual a m aio r ia dos f iló so f o s da m en t e se d eslo cam . O f isicalism o não- red ut ivo é um a p er sp ect iva que r ejeit a o d u alism o de sub st ância — levan d o a sério as evid ên cias em p ír icas de que há co var iân cia ent re o m ent al e o f ísico — e pressupõe a d ep en d ên cia do m en t al em r elação ao f ísico sem , no ent ant o, ad m it ir um a redu ção do m ent al ao

f ísico .

2.1 A relação de su p er ven iên cia

A su p er ven iên cia é n o r m alm en t e em pr eg ad a em t en t at ivas de ar t icu lação de um f isicalism o n ão- red ut ivo, enquant o pano de fundo o n t o ló g ico no t rat am en t o do p r o b lem a m ent e- corpo. Pret ende- se, com base nessa relação, assegur ar a au t o n o m ia das ciên cias esp eciais, com o a p sico lo g ia, com respeit o às

" O ep if en o m en ali sm o é a d out rina que defen de que estados m ent ais são cau sad os por estados cereb r ais, m as que aq ueles não têm p oder cau sal, sendo m eros 'ep if en óm en o s'.

(8)

f u n d am en t ais, com o a fisica. A relação de su p er ven ien cia pode ser f o r m u lad a

nos seguin t es t erm os: “ In d iscer n ib ilid ad e f ísica im p l ica in d iscer n ib ilid ad e p sico ló g ica; ou, eq u ivalen t em en t e, nen hu m a d if er en ça m en t al sem d if er en ça f i si ca” ( K I M , 1996, p . 10).

A p ar t ir dessa d ef in ição b ásica, a r elação de su p er ven iên cia pode ser f o r m u lad a de f or m a m ais f r aca ou m ais f o r t e."

O p r in cíp io de su p er ven iên cia do m ent al ao f ísico é usado par a co m p ar ar as p osições co n h ecid as com o 'f isicalism o de p ar t icu lar es' ( t o k e n p h y s i c a l i s m ) e

'f i si calism o de t ip o' ( t y p e p h y s i c a l i s m ) . O 'f isicalism o de p ar t icu lar es' é d ef in id o

p or Ki m nos segu int es t erm os:

T o d o e v e n t o q u e é u m a o c o r r ê n c i a d e u m t i p o d e e v e n t o m e n t a l

t a m b é m é u m a o c o r r ê n c i a d e u m t i p o d e e v e n t o f í s i c o ( o u , e m o u t r a s

p a l a v r a s , t o d o e v e n t o q u e p o s s u i u m a p r o p r i e d a d e m e n t a l p o s s u i

t a m b é m a l g u m a p r o p r i e d a d e f í s i c a ) ” ( K I M , 1 9 9 6 , p . 5 9 ) .

Est e p r in cíp io , por si só, não im põe um a cor r elação ent re p ro p r ied ad es m ent ais e f ísicas e, port ant o, pode valer m esm o se não há su p er ven iên cia do

m en t al ao f ísico . D o is event os f ísico s p ar t icu lar es, am bos de um m esm o t ip o, podem est ar, cad a um d eles, co r r elacio n ad o a um even t o m en t al de um t ipo d if eren t e. Nesse sent ido, o f isicalism o de p ar t icu lar es não é p ro p r iam en t e um a

d o u t r in a f isicalist a (isso se aceit arm os que o p r in cíp io de su p er ven iên cia d ef in e um f isicalism o m ín im o , tese que an alisar ei na p r ó x im a seção )12.

11 A ssim , a i n d iscer n ib ilid ad e f ísica pode d iz er respeit o ex clu sivam en t e a i n d ivíd u o s t om ado s num m esm o m u n d o, ou ent ão en vo l ver co m p ar açõ es de i n d ivíd u o s t om ados em d if eren t es m u nd os p o ssíveis (su p er ven iên cia l o cal ): num out ro regist ro, a su p er ven ien cia pode u n icam en t e com p ar ar as d ist r ib u içõ es g lo b ais de pr op ried ades f ísicas, de um lad o, e m ent ais, de o u t r o, em d if eren t es m u n d os p o ssíveis, não se co m p ro m et en d o com co m p ar açõ es de co m o essas p r o p ried ad es são in st an ciad as e est ão relacio n ad as em in d ivíd u o s, com p ar ad os dois a dois, nesses m u nd os (su p er ven iên cia g l o b al ). A su p er ven iên cia lo cal im p li ca a g lo b al, m as não o con t rário . Po r outro lado , o m od o co m o esp ecif icam o s a noção de ’ p o ssib ilid ad e’ , se ló g ica ou n o m o ló g ica pode, por sua vez , ger ar var ian t es das relações ant erior es. Não cab eria, para os fins deste art ig o, d iscu t ir essas d iver sas no çõ es de su p er ven iên cia, um t ó p ico por si só bast ant e com p lex o .

(9)

A t eor ia da id ent id ade m ent e- corpo im p lica um f isicalism o de t ipo: “ Tip o s de even t o s m en t ais são t ipos de event os f ísico s; em outras p alavr as,

pro p ried ad es m ent ais são p ro p r ied ad es f ísicas” (K I M , 1996, p. 59).

O f isicalism o de t ipo é, port ant o, um a p osição r ed u cio n ist a: não há prop ried ad es m ent ais dist in t as de p ro p r ied ad es f ísicas, e além dest as ú lt im as. Pr o p r ied ad es m ent ais e f ísicas são, na verd ad e, id en t if icad as. A su p er ven iên cia do m en t al ao f ísico p er m it e d ef in ir , port ant o, um a p osição que é m ais for t e do que o f isicalism o de p ar t icu lar es, porém m ais f raca do que o f isicalism o de t ipo.

Filó so f o s com t en d ên cias n at u ralist as ou f isicali st as m ais r ad icais con sid er am , ent ret ant o, o co n ceit o de ‘ su p er ven iên cia’ bast ant e susp eit o, por

p ar ecer ressuscit ar, com um a n o va ro u p ag em , p osições con sid er ad as

p r o b lem át icas com o o ep if en o m en alism o , o em er g en t ism o , et c. Um a das crít icas à no ção de su p er ven iên cia é que ela con du z a aceit ar relações, p or ex em p lo , ent re o m ent al e o f ísico , enqu an t o fat os brut os, não p assíveis de serem , p or sua

vez, ex p licad o s.13 Ver em o s que esta cr ít ica pode t am bém ser f eit a ao d u alism o que prop õe Ch alm er s.

2.2 O f isicalism o m ín im o de J. Ki m

Par a K i m , o f isicalism o adot a, no m ín im o , as três t eses seguint es:

i) S u p e r v e n i ê n c i a m e n t e - c o r p o \

i i ) P r i n c í p i o a n t i c a r t e s i a n o : não podem ex ist ir puros seres m ent ais

(o u seja, p r op r ied ad es m en t ais sem con t r ap ar t id a f ísica); 14

i i i ) D e p e n d ê n c i a m e n t e - c o r p o : p ro p r ied ad es m en t ais são

det erm in ad as p or prop ried ad es f ísicas (K I M , 1996, p. 1 1 )1'.

Qu alq u er d ou t r in a m ais f raca é con sid er ad a, por K i m , n ão- fisicalist a. O r ed u cio n ism o , p or sua vez , cor resp on d e a um a espécie m ais fort e de f isicalism o .

K i m não acr ed it a que a relação de su p er ven iên cia co n f ig u r e um a solu ção para o p ro b lem a m ent e- corpo: d iferent es soluçõ es in co m p at íveis para

esse p ro b lem a im p licam a su p er ven iên cia (K I M , 1998, p. 12). A su p er ven iên cia

IJ Par a um a defesa da em erg ên cia na ex p licação das relações o n t o lóg icas ent re n iveis, em lu g ar da relação de su p er ven ien cia, que não p r o p o r cio n ar ia essa ex p licação , ver H u m p h r eys (1 9 9 7 a, 1997b).

(10)

não p ret en de, port ant o, o f er ecer um a ex p licação para as co r r elaçõ es ent re est ados m ent ais e est ados f ísico s; p ost u lar essa relação sim p lesm en t e ex clu i

for m as ex t r em as de d u alism o, com o o car t esian o (K I M , 1998, p. 1 5 ).16

K i m (1 9 9 8 , p. 101), de f or m a um t anto surpr een dent e, con sid er a o f u n cio n alism o com o um a co n cep ção r ed u cio n ist a (em b o r a, n o r m alm en t e, se t enha con sid er ad o o f u n cio n alism o com o um a alt er n at iva à t eor ia da id ent id ade m en t e- co r p o ).17 El e cr it ica a an álise da redu ção t eó r ica propost a p or E. N a g e l 18 e def en d e que a red u ção de um est ado ou p ro p r ied ad e (e.g. m en t al) pressu põ e a 'f u n cio n ali z ação ' desse estado ou p r o p r ied ad e.19 O p ro b lem a, con t u do , é que se

f iz erm os esse t ipo de red u ção , os est ados m en t ais perdem p od er cau sal au t ôn om o: t oda cau salid ad e dar- se- á no n ível dos realiz ad o res f ísico s dos est ados f u n cio n aliz ad o s.

Ch alm er s co n co r d a com Ki m : a m ú lt ip la r ealiz ab ilid ad e de um even t o (e.g. m en t al) não é um em p ecilh o para a sua ex p licação red u t iva. Desd e que a

o co r r ên cia do even t o possa ser ex p licad a em t erm os de um a o co r r ên cia (t o k e n )

de n ível m ais b aix o , há redu ção. Isso quer d iz er que o f u n cio n alism o t o u t c o u r t

em f ilo so f i a da m en t e é, no f in al das cont as, r ed u cio n ist a ( C H A L M ER S, 1996, p. 43).

Nu m b alan ço f in al das con seq ü ên cias desse t ipo de red u ção via f u n cio n aliz ação , K i m en fat iz a a (p r o vável) ir r ed u t ib ilid ad e da co n sciên cia:

[ . . . ] a n o t í c i a r e a l m e n t e r u i m é q u e a l g u m a s p r o p r i e d a d e s m e n t a i s ,

n o t a d a m e n t e a s p r o p r i e d a d e s f e n o m e n o l ó g i c a s d a s e x p e r i ê n c i a s

16 Kim sent en cia: "[...] A su p er ven iên cia não é, p or t an t o, um a relação m et af ísica 'p ro fu n d a' sobre padr ões de co var iân cia de p ro p ried ad es, padrões que p o ssivelm en t e são m an if est açõ es de r elações de d ep en d ên cia m ais pr ofu n d as. Se isso é cor ret o , a su p er ven iên cia m ent e- corp o [só] co lo ca o p ro b lem a m ent e- corp o, não sendo um a so lu ção para ele " (K I M , 1998, p. 14).

17 De m od o a p o ssib ilit ar a m ú lt ip la r ealiz ação de estados m ent ais — in co m p at ível com a t eo ria da id en t id ad e m ent e- cor po, um a p osição que, co m o vim o s, é r ed u cio n ist a — o f u n cio n alism o car act eri z a os estados m en t ais de f o rm a ab st rat a, em t erm os de sua fu n cão na p sico lo g ia de um sist em a co g n it ivo . T al fu n ção en vo lve as relações de um t ipo de estado m ent al com ou t ro s estados m en t ais, com as ent r ad as (est ím u lo s) e saídas (r esp o st as) do sist em a.

18 So b r e E. N ag el, ver not a 18.

(11)

conscientes, parecem resistir à funcionalização e isso significa que não existe maneira de responder por sua eficiência causal dentro de um esquema fisicalist a" (1998, p. 118- 119).

E co n cl u i com um t om p essim ist a: "[...] t odos os cam in h o s que se

b if u r cam a p ar t ir do f isicali sm o p ar ecem , ao f in al, co n ver g ir p o ssivelm en t e para o m esm o p on t o, a ir r ealid ad e do m en t al" (1 9 9 8 , p. 118- 119).

Ap r esen t ar ei, nu m a p r ó x im a seção, o ar g um en t o em q ue K i m , p ar t in d o

dos p ressup ost os b ásicos do f isicalism o , d em onst r a que est ados m en t ais t êm p od er cau sal som ent e na m ed id a em que os in d en t if iq u em o s a est ados f ísico s. Esse ar g u m en t o, se váli d o , co m p r o m et e a esp eran ça de se p o d er ar t icu lar um f isicalism o de t ipo n ão- red ut ivo, no q u al est ados m ent ais possam t er um p od er

cau sal au t ôn om o (co n d i ção s i n e q u a n o n de um realism o quant o ao m en t al).

2.3 O n at u ralism o n ão- m at er ialist a de Sear le

Os "m at er ialist as", com o os car act er iz a Sear le, p ret en dem "n at u r aliz ar " a in t en cio n alid ad e e a co n sciên cia, no sent ido de red u z ir os "f en ô m en o s m en t ais" aos "f en ô m en o s f ísico s” ( SEA R L E, 1992, p. 2).

Sear le t em o cu id ad o de d ist in g u ir , ent ret ant o, vár io s t ip os de red u ção :

a) red u ção o n t o ló g ica: objet os/ ent idades de cert os t ipos não são con sid er ad os nada m ais que objet os de out ros t ipos;

b ) red u ção o n t o ló g ica de p ro p r ied ad es: um caso esp ecial de (a), em que se reduz não um ob jet o/ ent id ad e, m as sim p rop ried ad es;

c) red u ção t eó r ica: est e é o t ipo de r edu ção u su alm en t e est ud ada p ela f ilo so f i a da ciên cia de cep a em p ir ist a- ló g ica20;

d) red u ção ló g ica ou d ef in icio n al;

e) r edu ção cau sal: os p od eres cau sais da coisa red u z id a são “ in t eir am en t e ex p licáveis” em t erm os dos p od eres cau sais dos f en ô m en o s redu t or es;

Sear le é p ar t id ár io de um n at u r alism o co m p r o m et id o com u m a red u ção do ú lt im o t ipo (1 9 9 2 , p. 115). Passo a caract er izá- la.

(12)

R e d u c i o n i s m o c a u s a l

Sear le só usa duas vez es a ex pressão “ n at u ralism o b io l ó g ico ” em seu l i vr o A R e d e s c o b e r t a d a M e n t e , e a faz co r resp on d er à tese segund o a q u al

even t o s e processos m en t ais são cau sados p or processos n eu r o f isio ló g ico s no cér eb ro e são eles p róp r ios car act er íst icas do cér eb r o [...] Even t o s e p rocesso s m ent ais são parte de nossa hist ór ia n at u ral b io ló g ica t anto quant o a d ig est ão, a m it o se, a m eiose ou a secreção de en z im as” ( SEA R L E, 1992, p. 1, 106 )21.

Em O M i s t é r i o d a C o n s c i ê n c i a , a ex pressão “ n at u ralism o b i o ló g ico ”

o co rr e duas vez es ( SEA R L E, 1997, p. x iv, 2 10 ), sem pre no con t ex t o de um a d iscu ssão sobre a co n sciên cia. El e refere- se à co n sciên cia do segu in t e m o do:

“ A co n sciên cia é um fen ô m en o b io ló g ico [...] El a é cau sada por

m icr o p r o cesso s no cérebr o, num n ível m ais b aix o [ l o w e r - l e v e l ] e ela é um a

car act er íst ica do cérebr o nos n íveis de ordem m ais alt a [ h i g h e r - o r d e r ] "

( SEA R L E, 1997, p. x iv).

Sear le en f at iz a que o seu n at u ralism o b io ló g ico não é u m a f or m a de "m at er ialism o ", j á que ele vin cu la o m at er ialism o ao r ed u cio n ism o . A o

co n t r ár io , para ele “ a co n sciên cia é u m a parte real do m u nd o r eal e não pode ser elim in ad a a f avo r de alg u m a outra co isa, ou redu zida a ela” ( SEA R L E, 1997, p.

210

).

Seg u n d o Sear le, t oda red u ção , in clu in d o a cau sal, o b j et iva, em p r in cíp io , u m a red u ção o n t o ló g ica. A co n sciên cia, con t u do , p ossu ir ia um car át er esp ecial, e sua r edu ção cau sal não im p l icar ia um a r edu ção o n t o ló g ica. Sear le apresen t a dois arg u m en t os para sust ent ar essa tese:

A ) A co n sciên cia é um a p ro p r ied ad e cau salm en t e em erg ent e do cér eb ro . Um a p ro p r ied ad e de um sist em a é cau salm en t e em er g en t e qu an do ela

não pode ser “ d ed uz id a, co n ceb id a [ f t g u r e d o u t ] ou cal cu lad a” a p ar t ir

sim p lesm en t e da co m p o sição e arranjo dos elem en t os do sist em a22. Um a p ro p r ied ad e em er g en t e, para ser “ ex p licad a” , tem que se l evar em co n sid er ação t am bém “ as in t eraçõ es cau sais ent re os elem en t o s” do sist em a ( SEA R L E, 1992, p. 112).

21 T o d a s as t r a d u ç õ e s d o l i v r o d e Se a r l e d e 1 9 9 2 s ã o m i n h a s , f e i t a s l i v r e m e n t e a p a r t i r d a e d i ç ã o o r i g i n a l , e m i n g l ê s . O m e s m o v a l e p a r a o s t e x t o s d e C h a l m e r s e d e D e n n e t t .

(13)

A co n sciên cia, em bo ra em erg ent e, é co n sid er ad a por Sear le um a p ro p r ied ad e f ísica: par a ele não ex ist ir iam p ro p r ied ad es f en o m én icas ao lado (o u

além ) de p ro p r ied ad es f ísicas. Aq u elas são causadas p or estas ú lt im as23.

B ) M esm o no caso de p ro p r ied ad es f ísicas (co m o calo r , cor, et c.) a

redu ção o n t o ló g ica só é con seg u id a fazendo- se abst ração das car act er íst icas

m ent ais (f en o m én icas) asso ciad as a t ais propr ied ad es.

N o caso da 'co r 1, do 'calor ', et c. a r edu ção não con st it u i u m a n o va desco bert a, m as result a de um a r ed ef in ição desses con ceit os de m odo a se ex clu ir a "p art e su b j et iva" dessas q u alid ad es24. Os aspect os su b jet ivo s ou "ep ist êm ico s" (sic.) que são d eix ado s de lado para se f az er a red u ção não d eix am , con t u do , de ex ist ir , de ter "r ealid ad e"; esse é o pad rão t anto na redu ção

de q u alid ad es p r im ár ias (e.g . solid ez , liq u id ez , et c.), quant o na de q u alid ad es secun d árias (e.g. calo r, cores, et c):

E m g e r a l , o p a d r ã o d e n o s s a s r e d u ç õ e s a p ó i a - s e n a r e j e i ç ã o d a b a s e

e p i s t ê m i c a s u b j e t i v a p a r a a p r e s e n ç a d e u m a p r o p r i e d a d e , c o m o u m a

p a r t e d a c o n s t i t u i ç ã o ú l t i m a d a q u e l a p r o p r i e d a d e . N ó s d e s c o b r i m o s

[ f a t o s , c o i s a s ] a r e s p e i t o d o c a l o r o u d a l u z p o r m e i o d a s e n s a ç ã o / t a t o

[ f e e l i n g ] e d a v i s ã o , m a s n ó s e m s e g u i d a d e f i n i m o s o f e n ô m e n o d e u m m o d o q u e é i n d e p e n d e n t e d a e p i s t e m o l o g í a ( S E A R L E , 1 9 9 2 , p . 1 2 2 ).

To m em o s com o ex em p lo a r edu ção o n t o ló g ica da q u alid ad e (ou p ro p r ied ad e) ‘ ver m el h o ’ . A p ar t ir do m om en t o que se sabe que a ex p er iên cia do

ver m elh o é cau sada p ela em issão de luz com um a cert a f r eq ü ên cia X, propõe- se a

seguinte r edu ção o n t o ló g ica: o ver m elh o é a luz de f r eq ü ên cia X. Par a fazer- se

essa red u ção, para afirm ar- se essa id en t id ad e, deix a- se de lado os aspect os

f en o m én ico s, su b jet ivo s, ligado s à ex p er iên cia do ver m elh o (o q u a l e do

ver m elh o ).

N o caso da co n sciên cia, Sear le defende que ela não é p assível desse t ipo de redu ção (o u seja, at r avés de um a r ed ef in ição ) pois seus aspect os essen ciais

23 Nesse sen t id o , Sear le t alvez pudesse ser con sid erad o um f isicalist a n ão - red u t ivo. No r m alm en t e, f isicali sm o e m at er iali sm o são con sid erad o s t erm os sin ô n im o s (ver nota 4 ), m as Sear le, co m o vim o s, não se con sid era m at eri ali st a, pois associa essa p o sição ao r ed u cio n ism o . V e r t am b ém , ab aix o, a t erceir a t ese d ef en d id a por Ch alm er s.

(14)

[m eu t erm o ] são su b jet ivo s (ex p er ien ciais/ ap ar en ciais). N o caso da co n sciên cia,

d iz Sear le, “ a ap ar ên cia é a r ealid ad e” (19 9 1, p. 122); o que nos int eressa é a p r ó p r ia ex p er iên cia su b j et iva25.

N a p er sp ect iva d ef en d id a p or Sear le, event os de alt o - n ível (o u num m acr o n ível ) t êm p od er es cau sais. Em p ar t icu lar , no caso de um even t o m en t al com o u m a dor, ele cau saria out ros even t o s m en t ais e, even t u alm en t e, de m odo

d escen d en t e, even t o s no n ível f ísico . Sear le r ejeit a, p ort ant o, o

ep if en o m en alism o e, com o verem o s, ao ad m it ir a cau sação descend en t e, co m p r o m et e a t ese, cen t r al p ar a o f isicalism o , do fech am en t o cau sal do m u n d o f ísi co 26.

Co m resp eit o à su p er ven iên cia, a p o sição de Sear le é bast ant e

h et er od ox a. El e d ef in e u m a "su p er ven iên cia cau sal" do m en t al ao

n eu r o f isio ló g ico nos segu int es t erm os: "cau sas n eu r o f isio ló g icas t ip o- id ên t icas

[ t y p e - i d e n t i c a l ] t eriam ef eit os m en t ais t ip o- id ên t icos" ( SEA R L E, 1992, p. 124).

Essa su p er ven iên cia cau sai im p l ica que estados n eu r o f isio ló g ico s são cau salm en t e su f icien t es, em bo ra não n ecessár io s, par a est ados m en t ais27.

D en n et t (1 9 9 3 ) in t er pret a o n at u ralism o b io ló g ico de Sear le com o a n eg ação da ex ist ên cia de um n ível in t er m ed iár io de p ro cessam en t o de

in f o r m ação , ent re o n ível n eu r o f isio ló g ico e o n ível dos p rocesso s m ent ais. Sear le é, de fat o, um cr ít ico do f u n cio n alism o em f ilo so f i a da m ent e e do recen t e f lert e desta ú lt im a ár ea com as ch am ad as ciên cias co g n it ivas, em esp ecial a in t elig ên cia ar t if icial. El e f ico u fam oso com a co n t r o ver t id a ex p er iên cia de

25 Pa r a Se a r l e , i s s o n ã o a f e t a r i a o n o s s o " q u a d r o c i e n t í f i c o d e m u n d o " , p o i s n ã o t e r i a i m p l i c a ç õ e s m e t a f ís i c a s “ p r o f u n d a s ” . Se r i a u n i c a m e n t e u m a d e c o r r ê n c i a “ t r i v i a l ” d e n o s s a s “ p r á t i c a s d e f i n i c í o n a i s ” o u p a d r õ e s d e r e d u ç ã o : “ O c o n s t r a s t e e n t r e a r e d u t i b i l i d a d e d o c a l o r , d a c o r , d a s o l i d e z , e t c . , d e u m l a d o , e a i r r e d u t i b i l i d a d e d o s e s t a d o s c o n s c i e n t e s , d e o u t r o , n ã o r e f l e t e n e n h u m a d i s t i n ç ã o n a e s t r u t u r a d a r e a l i d a d e , m a s u m a d i s t i n ç ã o n as n o s s a s p r á t i c a s d e f i n i c í o n a i s . N ó s p o d e m o s d i z e r o m e s m o , a d o t a n d o o p o n t o d e v i s t a d o d u a l i s t a d e p r o p r i e d a d e : o c o n t r a s t e a p a r e n t e e n t r e a i r r e d u t i b i l i d a d e d a c o n s c i ê n c i a e a r e d u t i b i l i d a d e d a c o r , d o c a l o r , d a s o l i d e z , e t c . , n a v e r d a d e é só a p a r e n t e . N ó s r e a l m e n t e n ã o e l i m i n a m o s a s u b j e t i v i d a d e d a c o r , p o r e x e m p l o , q u a n d o n ó s r e d u z i m o s o v e r m e l h o a r e f l e x o s d e l u z ; n ó s s i m p l e s m e n t e p a r a m o s d e c h a m a r d e ‘ v e r m e l h o ’ a e s s a p a r t e s u b j e t i v a . N ó s n ão e l i m i n a m o s q u a i s q u e r f e n ô m e n o s s u b j e t i v o s c o m es s as r e d u ç õ e s ; n ó s s i m p l e s m e n t e p a r a m o s d e c h a m á - l o s p e l o s n o m e s a n t i g o s . Se j a q u e t r a t e m o s a i r r e d u t i b i l i d a d e d e u m p o n t o d e v i s t a m a t e r i a l i s t a , s e j a d u a l i s t a , n ó s a i n d a f i c a m o s c o m u m u n i v e r s o q u e c o n t é m u m c o m p o n e n t e f í s i c o [ s i c ! ] s u b j e t i v o i r r e d u t í v e l , e n q u a n t o u m c o m p o n e n t e d a r e a l i d a d e f í s i c a ” (Se a r l e , 1 9 9 2 , p . 1 2 3 ).

(15)

pensam ent o ( G e d a n k e n e x p e r i m e n t ) do "qu ar t o ch in ês", que usou repet idas vezes

na t ent at iva de refu t ar um dos elem en t os do credo co g n it ivist a: o m odelo com p u t acio n al de m ent e.

2.4 J. K.im e o p ro b lem a da cau sação m ent al

O p ro b lem a da cau sação m ent al represent a, para Ki m , um d esaf io para o

f isicalisn io , co n st it u in d o , ir o n icam en t e, urna r evan ch e do car t esian ism o .

Para Ki m , o d esafio é d ef en d er um f isicalisn io robust o — que pressupõe o f echam ent o cau sal do d o m ín io f ísico — sem , no entanto, cair no r ed u cio n ism o . Há, p orém , vár io s p ro b lem as com a cau sação m ent al, sendo que o da ex clu são causal tem im p licaçõ es diretas para o f isicalisn io (e, port ant o, para o

n at u ralism o).

Ki m d iscu t e d iversos m o d elo s de cau sação m ent al, sendo um deles o de

causação su p erven ien t e. O m o delo su p er ven ient e ad m it e, por um lado , que haja cau sação num m acr o n ível, mas que essa cau sação seja su p erven ien t e à cau sação

no m i cr o n ível, isto é. no n ível f ísico. Ou seja. event os no m acr o n ível m ant êm , nesse m odelo, poder cau sal, não d esem b ocan do no ep if en o m en alism o .

0 m o d elo de cau sação su p erven ien t e m ant ém - se f isicalist a em sua p ersp ect iva por fazer, assim m esm o, d ep end er a cau sação no m acr o n ível da causação no m i cr o n ível. Ki m faz- nos ver que esse é um resu lt ad o que o

em ergen t ist a, por ex em p lo , d if icilm en t e aceit ar ia. Par a o em er g en t ist a. a part ir do m om ent o em que as prop ried ad es no m acr o n ível 'em er g em ', os est ados nesse n ível passam a ter um pod er causal au t ôn om o, não- der ivado dos poderes cau sais dos event os no m i cr o n ível. No m od elo de cau sação su p erven ien t e, o poder

causal no m acr o n ível é d er ivad o do poder causal no m icr o n ível.

Ki m m ost ra, ent ret ant o, que a cau sação su p erven ien t e é am eaçad a por um d ilem a:

a) se a su p er ven ién cia não vale. o m ent al torna- se um d o m ín io

o n t o lo g icam en t e au t ôno m o, não se an corand o no físico, haven d o a p o ssib ilid ad e do m ent al ter ef eit os no m undo f ísico sem um a cor resp on d en t e causa f ísica. Perd em o s, desse m o do, o fecham en t o cau sal do inund o f ísico , e o f isicalisn io

não se sust ent a.

(16)

est ado cer eb r al, port an t o, f ísico ). Par a se evit ar a sob r ed et er m in ação , o pap el cau sal do est ado m ent al t orna- se d isp en sável e/ ou t em os n o vam en t e um a

vio l ação do fech am en t o cau sal do m undo f ísico . As r elações de est ados m ent ais ent re si, ou ent re est ados m en t ais e est ados f ísico s, não são g en u in am en t e cau sais ( K I M , 1998, p. 45).

Co n clu são do d ilem a: se a su p er ven iên cia m ent e- corpo não vale, a cau saçâo m en t al é in in t eli g ível; se ela vale, a cau sação m ent al é, de n o vo , i n i n t eli g ível. Lo g o , a cau sação m ent al é in in t el i g ível.28

E claro que esse d ilem a não se co lo ca para posições r ed u cio n ist as, com o a t eor ia da id en t id ad e. Ki m assinala que Sear le, com a sua tese de que estados m en t ais são cau sados por estados cer eb r ais, não escapa a esse d ilem a, t am bém cain d o nu m a sob red et erm in ação cau sal (ver K I M , 1998, p. 4 8). A p o sição de Sear le (de que não há sob red et erm in ação, m as sim p lesm en t e d escr içõ es feit as

em d if eren t es n íveis, que seriam co m p at íveis) co lap sar ia nu m a r edu ção (do m en t al ao cer eb r al), o que é incon sist en t e com outras p osições d ef en d id as p or ele.

2.5 O m o n ism o não- red ut ivo de D avid so n

O "m o n ism o an ô m alo " de D avid so n pode ser con sid er ad o com o um f isicalism o de p ar t icu lar es (,l o k e n p h y s i c a l i s m ) . D avid so n é m onist a por d ef en d er

que se co n sid er ar m o s os nex os cau sais e adot arm o s a d escr ição ad eq uada, isto é, a f ísica, t odo even t o m ent al t orna- se id ên t ico a um even t o f í s i c o . E l e r ejeit a, nesse sent id o, q u alq u er t ipo de d u alism o .30

D avid so n nega, ent ret ant o, que se possa est ab elecer r elações

n o m o ló g icas ent re t ipos m ent ais, ou aind a ent re t ipos m en t ais e t ipos f ísicos. Nesse sent ido, o m en t al seria an ôm alo:

O m o n i s m o a n ô m a l o a s s e m e l h a - s e a o m a t e r i a l i s m o a o a f i r m a r q u e

t o d o s o s e v e n t o s s ã o f í s i c o s , m a s r e j e i t a a t e s e , u s u a l m e n t e c o n s i d e r a d a

e s s e n c i a l a o m a t e r i a l i s m o , d e q u e p o d e m s e r d a d a s e x p l i c a ç õ e s

:s Kim apr esent a esse im p act an t e arg u m ent o no seu livr o de 1998. Para um a discu ssão d et alh ad a do m esm o , no con t ex t o do f u n cio n ali sm o em f ilo so f ia da m ent e, ver Ab ran t es e A m ar al (2 0 0 2 ).

D avid so n d ef en d e um a o n t o lo g ia em que even t o s são in d ivíd u o s c. não, u n iver sais, co m o em Sm ar t e ou t ros.

(17)

p u r a m e n t e f í s i c a s d o s f e n ô m e n o s m e n t a i s " ( D A V I D S O N , 1 9 9 1 , p .

2 5 0 ).

O "m o n ism o n o m o ló g ico ” , ao con t r ár io do m o n ism o an ô m alo , é m at erialist a p or sup or a ex ist ên cia de leis p sico f ísicas. D avid so n neg a essa p ossib ilid ad e: "N ão há leis p sico f ísicas est ritas dado o car át er d ísp ar dos

co m p r om issos [ c o m m i t m e n t s ] dos esqu em as m ent al e f ísico " (1 9 9 1 , p. 253 ). As

at r ib uições de at it udes p r o p o sicio n ais a agentes não som ent e é h o list a — p ressupondo um a am p la t eor ia a respeit o dos est ados m en t ais do agent e — com o os ajust es a serem feit os nessa t eor ia com prom et em - se com um "id eal

con st it u t ivo de r acio n alid ad e". Necessar iam en t e, "co n ceb em o s o hom em com o um an im al r acio n al" (19 91 , p. 254 ) ao f az er ajust es nessa t eor ia a respeit o de in d ivíd u o s, que t om am os com o pessoas31.

O m o n ism o an ô m alo é co m p at ível com a su p er ven iên cia do m en t al ao f ísico. Par a D avid so n , essa relação de su p er ven iên cia asseg u raria o car át er não r edu cionist a da sua p o sição .’ ’

A t eor ia f ísica con st it u i um sist em a fech ad o , no sent ido de um f echam ent o cau sal. O m en t al, ao co n t r ár io , não co n st it u ir ia um sist em a f ech ad o j á que D aviso n ad m it e o p r in cíp io de que há d ep en d ên cia cau sal de (p elo m enos alg u ns) even t o s m ent ais com respeit o a event os f ísico s. Po rt an t o , há d ep en d ên cia cau sal, m as in d ep en d ên cia n o m o ló g ica, do m en t al com resp eit o ao f ísico :

[ . . . ] e v e n t o s m e n t a i s c o m o u m a c l a s s e [ t i p o ] n ã o p o d e m s e r e x p l i c a d o s

p e l a c i ê n c i a f í s i c a ; e v e n t o s m e n t a i s p a r t i c u l a r e s p o d e m [ s e r e x p l i c a d o s ]

q u a n d o c o n h e c e m o s a s i d e n t i d a d e s p a r t i c u l a r e s ( 1 9 9 1 ; p . 2 5 5 ).

M as não é esse o t ipo de ex p licação que bu scam os, p or ex em p lo , para a ação de um a pessoa, e sim um a que r elacio n e even t o s m en t ais com out ros

11 Po d e r - s e - i a e x p l o r a r as c o n e x õ e s e n t r e ess a n o ç ã o d a v i d s o n i a n a d e ' ' a n o m a l i a 1' d o m e n t a l e a " p o s t u r a i n t e n c i o n a l " d e D e n n e t t , q u e se r e c u s a a a d o t a r o r e a l i s m o c o m r e s p e i t o às n o s s a s a t r i b u i ç õ e s d e e s t a d o s i n t e n c i o n a i s a o u t r o s a g e n t e s . A p s i c o l o g i a d e s e n s o c o m u m (f o l k p s y c h o l o g y) n ã o t e r i a , p a r a D e n n e t t , o s t a t u s d e u m a t e o r i a à q u a l se p o s s a a t r i b u i r v a l o r e s v e r i t a t i v o s (o u s e j a . e l a n ã o s e r i a v e r d a d e i r a n e m t a m p o u c o f a l s a ), m a s e s t a r i a e n v o l v i d a n as n o s s as p r á t i c a s i n t e r p r e t a t i v a s c o t i d i a n a s , v i s a n d o a c o m p r e e n d e r c a p r e v e r o c o m p o r t a m e n t o d o s n o s s o s s e m e l h a n t e s . C o m o D e n n e t t é u m n a t u r a l i s t a , i s s o i n d i c a q u e o n a t u r a l i s m o n ã o se c o m p r o m e t e , n e c e s s a r i a m e n t e , c o m u m r e a l i s m o a r e s p e i t o d o m e n t a l (p e l o m e n o s c o m o e l e é e n t e n d i d o c o m b a s e n as c a t e g o r i a s d a p s i c o l o g i a d e s e n s o c o m u m ). C f . o " m a t e r i a l i s m o e l i m i n a t i v o " d e C h u r c h l a n d .

(18)

even t o s m en t ais (e a ação 33). Ad o t an d o um ex p lícit o viés k an t ian o, D avid so n ad m it e que "o an o m alism o do m ent al é, port ant o, um a co n d ição n ecessária para que se vej a a ação com o [n o m o lo g icam en t e] au t ô n o m a" (19 9 1, p. 255).

N ão t enho a pret en são de avaliar em que m ed id a a propost a de D avid so n é con sist ent e. O m eu o b j et ivo nest e art ig o é m ais m odest o: m o st r ar que o f isicalism o não- red u t ivo, além de não se apresen t ar com o um a p o sição u n ívo ca,

ain d a enf rent a p ro b lem as sérios para afirm ar- se com o um a p o sição n at u ralist a aceit ável e con sist ent e em f ilo so f ia da m en t e34.

3 Po siçõ es n at u r al i s t as n ão - f isicalist as

3.1 O d u alism o nat u ralist a de Ch alm er s

Ex ist e um a var ian t e ex ó t ica de n at u ralism o que é assu m id am en t e não- f isicalist a: o "d u alism o n at u r alist a" de Ch alm er s. Est a var ian t e do n at u r alism o , em b o ra rejeit e o d u alism o de su b st ân cia, com pr om et e- se, no ent ant o, com um d u alism o de p ro p r ied ad es j u n t am en t e com a ex ist ên cia de leis p sico f ísicas ir r ed u t íveis (o que, com o vim o s, D aviso n rejeit a).

Ch alm er s resum e a sua p osição em quat ro t eses:

Tese 1. “ A ex p er iên cia con scien t e ex ist e” ( C H A L M ER S, 1996, p. 161)

Tese 2. “ A ex p er iên cia con scien t e n ã o é lo g icam en t e su p er ven ien t e ao

f ísi co ” (Ib id . id .). Lo g o , com o vim o s acim a, essa ex p er iên cia não seria r ed u t ível

ao f ís i c o .'' Em p r in cíp io , z u m b is36 são co n ceb íveis.

11 O t erm o 'ação ' é u su alm en t e em p regad o, em lu g ar de 'co m p o rt am en t o ', q u and o há causas m ent ais en vo lvid as, com o no caso aqui con sid er ad o.

-4Go d f r ey- Sm it h (co m u n icação p esso al) p ropõe que se vej a o t r abalh o f ilo só f ico - n at u r alist a co m o o de co o r d en ar d o is t ipos de "f at o s" (sic.) t om ado s, em p r in cíp io , co m o ir r ed u t íveis: os r elat ivo s às nossas p rát icas in t er p r et at ivas, de um lad o, e os r elat ivo s à nossa co n st it u ição n eu r o f isio ló g ica e seus vín cu lo s com o m u nd o f ísico , de out ro lado. O p rim eir o t ipo de fato é p ar t i cu lar m en t e en f o cad o pela t rad ição d avid so n ian a, sell ar sian a e t am b ém , de cert a f orm a, pela d en n et t ian a. A p ropost a de Go d f r ey- Sm it h part e do r eco n h ecim en t o de que f alh aram , até ag ora, as ousadas t en t at ivas de r ed u z ir p ro p ried ades sem ân t icas a pr op ried ad es f ísicas, com o as de M i l l i k a n e de Dr et sk e.

33 So b r e a relação de su p er ven iên cia ló g ica, ver not as 9 e 10.

'' ’ 'Zu m b is' são personagens que po vo am os m u n d os im ag in ár io s dos f il ó so f o s da m ent e. Os z u m b is t êm , por d ef in ição , com p or t am en t o s id ên t i co s a pessoas co m o nós (o u seja, não podem ser d ist in g u id o s de nós com base no seu com p or t am en t o u n icam en t e, n aq u ilo a que se pode t er acesso de um pont o de vist a de t er ceir a p esso a), m as ao m esm o t em p o adm it e- se que não t en ham est ados de co n sciên cia, com o nós. Em out ras p alavras, os z um bis não têm ex p er iên cia f en o m én ica, em bor a possam t er estados int er no s, 'm ent ais', de cert o t ipo (sem q u a l i u ) , con t ro lan d o o seu

(19)

Tese 3. “ Se ex ist em f en ô m en o s que não são lo g icam en t e su p er ven ien t es

aos fatos f ísico s, ent ão o m at er ialism o é f also ” ( C H A L M ER S, 1996, p. 161) O ‘ d u alism o n at u r alist a’ de Ch alm er s pode ser r esu m id o ent ão nos

seguint es t erm os: a co n sciên cia sup ervém nat u ralm en t e (o u seja,

n o m o lo g icam en t e) ao f ísico , m as não sup ervém nem ló g ica nem

m et afísicam en t e ao f ísico ( C H A L M ER S, 1996, p. 71).

Um aspect o f u n d am en t al do n at u ralism o (n ão - m at er ialist a) de Ch alm er s é o pressupost o de que ex ist em leis que vin cu lam p ro p r ied ad es f ísicas a

propriedades f en o m én icas: “ a ex p er iên cia con scien t e surge do [ a r i s e s f r o m ]

físico de aco rd o com algu m as leis da nat ureza, m as não é, ela p ró p r ia, f ísica”

(C H A L M ER S, 1996, p. 161).

Essas leis p si co f ísicas37 assegu rariam , par a Ch alm er s, o carát er nat uralist a da sua p o sição , p or fazê- la co m p at ível, desse m odo , com o quad ro de mundo que nos t raça a ciên cia con t em p orânea:

N a v i s ã o q u e e u a d v o g o , a c o n s c i ê n c i a é g o v e r n a d a p e l a l e i n a t u r a l e ,

e v e n t u a l m e n t e , p o d e h a v e r u m a t e o r i a c i e n t í f i c a r a z o á v e l d e l a . N ã o h á

n e n h u m p r i n c í p i o a p r i o r i q u e a f i r m a q u e t o d a s a s l e i s n a t u r a i s s e r ã o l e i s f í s i c a s ; n e g a r o m a t e r i a l i s m o n ã o é n e g a r o n a t u r a l i s m o . U m

d u a l i s m o n a t u r a l i s t a e x p a n d e a n o s s a v i s ã o d e m u n d o , m a s e l e n ã o

i n v o c a a s f o r ç a s d o o b s c u r a n t i s m o ” ( C H A L M E R S , 1 9 9 6 , p . 1 7 0 , g r i f o

n o s s o ).

E im po rt an t e not ar com o se am p lia a con cep ção de ‘ n at u r ez a’ , com a dist inção ent re lei nat u ral e lei f ísica. Ch alm er s j o g a t am bém com a am b ig u id ad e

do t erm o ‘ n at u r alism o ’ : d ep end end o da co n cep ção de nat ureza que se t enha, t erem os d iferen t es 'n at u r alism os'.

Ch alm er s, em seu debat e com Sear le, cont est a o pont o de vist a dest e

últ im o que, com o vim o s, co n sid er a su f icien t e, para ex p licar o m en t al, o f er ecer um a d escr ição n eu r o f isio ló g ica com plet a: “ Par a ex p licar p or que e com o

cérebros dão suport e [ s u p p o r t ] à co n sciên cia, não seria su f icien t e con t ar um a

estória sobre o cér eb r o; para ven cer o fosso, p recisam os ad icio n ar leis- pont e in dependent es” ( SEA R L E, 1997, p. 165). [Ch alm er s classif ica a p osição de Searle com o a de um “ m at er ialism o não- red u t ivo” : “ ... em bo ra não possa h aver

(20)

u m a im p l icação [e n t a i l m e n t ] ló g ica dos fat os f ísico s par a os fat os acer ca da

co n sciên cia e, p ort ant o, n en h u m a ex p licação r ed u t iva da co n sciên cia, est a ú lt im a é som en t e [ j u s í ] f ísica...” (1 9 9 6 , p .162; cf. p. 164).

E im p o rt an t e ressalt ar que surge um a n o va am b ig ü id ad e no con t ex t o

desse co n f r o n t o ^ g o r a no sent ido do t erm o 'm at er ialism o '. Sear le, com o vim o s, não se co n sid er a m at er ialist a po rq ue asso cia o m at er ialism o ao r ed u cio n ism o . M as Sear le é, p ar a Ch alm er s, um m at er ialist a p or r ej eit ar t anto o d u alism o de su b st ân cia quant o o d u alism o de p ro p r ied ad es. Vim o s, de fat o, que p ar a Sear le não ex ist em p ro p r ied ad es f en o m én icas ao lado (o u além ) de p ro p r ied ad es f ísicas. A p o sição de Sear le ap resent a, par a Ch alm er s, p ro b lem as “ in t ern o s” e colap sa n u m a das ou t ras alt er n at ivas d isp o n íveis par a o p r o b lem a m ent e- co rpo, p r o vavelm en t e no d u alism o de p ro p r ied ad es. Vi m o s que K i m t am bém apon t a p ar a ou t ras in co n sist ên cias no n at u ralism o b io ló g ico de Sear le.

T ese 4. "O d o m ín io f ísico é fech ad o cau salm en t e" ( C H A L M ER S, 1996,

p. 161).

Ch alm er s vê com o um p r o b lem a da sua p osição que h aja um a

"ir r el evân cia das p ro p r ied ad es f en o m én icas par a a ex p licação do

co m p o r t am en t o ", o que, nesse asp ect o, o co n d u z ir ia a um cert o t ipo de

ep if en o m en alism o (Ib i d . p. 165). Ap esar dessa co n seq ü ên cia, sua p osição t eria a van t ag em de ser “ n at u r alist a” em seu car át er , r et ir and o q u alq u er "m ist ér i o " da co n sciên cia, enquant o fen ô m en o do m u ndo.

Sear le cer t am en t e r ejeit ar ia essa propost a de Ch alm er s, d ef en d en d o que p ro p r ied ad es de alt o n ível, com o a co n sciên cia, são ef icaz es cau salm en t e (ver SEA R L E, 1997, p. 161).

3.2 Sel lar s e as duas im ag en s de hom em

A p o sição de Sel lar s é, em vár io s aspect os, an álo g a à de D avid so n . Co n t u d o , em b o ra seja p o ssível ver em Sellar s um co m p r o m isso com um

n at u r alism o m et o d o ló g ico (ver A B R A N T ES e B EN SU SA N , 20 0 3 ), ele cer t am en t e não é um n at u ralist a o n t o ló g ico . Sellar s é cét ico quant o à p o ssib ilid ad e de se p od er in t eg r ar as im agens "m an if est a" e "ci en t íf i ca" de

(21)

mais m o d alid ad es de se d iz er o que é o caso, m as com a lin g u ag em da com u nidade e das in t enções in d ivid u ais..." ( SEL L A R S, 1963, p. 40).

Com essa prop ost a, Sellar s pret ende evit ar , de um lado , o d u alism o (de tipo car t esian o ), de outro u m a post u ra não- realist a com respeit o às ent idades postuladas pela im ag em cien t íf ica de hom em .

Nesse t rech o, Sellar s está se det endo, em p ar t icu lar , no t em a do livr e arbítrio, nas d im en sõ es ét ica, dos d ireit o s e d ever es, et c. El e , de fat o, acred it a

que "... a ir r ed u t ib ilid ad e do que é p essoal é a ir r ed u t ib ilid ad e do 'd ever ser' ao 'ser' " (19 63 , p. 39). Essa ob jeção à f am ig erad a f alácia n at u ralist a é bastant e com um , mas tem sido enf r en t ad a p elos nat uralist as. An t es disso, Sellar s t am bém apresent a ob jeções a t en t at ivas de se id en t if icar as sensações a processos n eu r o f isio ló g ico s, an t ecip an d o a discu ssão at u al em f ilo so f ia da m ent e em t orno da irred u t ib ilid ad e das p ro p r ied ad es f en o m én icas (q u a l i a).

N at u r al i sm o co n ceit u al - li n g ü íst ico (N A C O N )

Est a m o d alid ad e de nat u ralism o não tem com p r o m isso s on t o ló g icos, com o o an t erio r (N A T O ), m as en vo lve t eses a respeit o dos nossos con ceit os (m o rais, ep ist êm ico s, m ent ais, et c.) e dos t erm os da lin g u ag em que u t iliz am o s nesses vár io s d om ín io s.

Esp ecif icam en t e com respeit o à f ilo so f i a da m ent e, N A C O N

corresponde ao t rat am en t o que dam os à ling uag em m en t alist a ou in t en cio n al, e aos con ceit o s do m en t al referid os por essa ling uag em .

St ich et al. (1 9 9 4 ) propõem um a cat eg or iz ação de est rat égias nat ur alist as em f ilo so f ia da m ent e, esp ecif icam en t e com respeit o ao p r o b lem a da

in t en cio n alid ad e, que m e su g er iu algu m as idéias para d esen vo lver a m o d alid ad e N A C O N de n at u r alism o . El es dist in g uem duas est rat égias de n at u r aliz ação de conceit os ou p red icad o s in t en cio n ais.

A . N at u r aliz ar p red icad o s ou con ceit os in t en cio n ais (co m o ‘ rep r esen t a’ ,

‘ cr ê’ , ‘ q u er ’ , et c.) cor resp on d e a fazer um a an álise co n ceit u ai (o u an álise de sig n if icad o ). Ou seja, n at u raliz ar é m ost r ar que o p red icad o in t en cio n al é coex t en sivo , em t odos os m und os p o ssíveis, a um a con ju n ção de p red icado s não- int encion ais (o u seja, p red icad o s usados em t eorias nas ciên cias f ísicas)38.

(22)

Essa p r im eir a est rat ég ia de n at u r aliz ação — ex p licit ad a p or Fo d o r , ent re ou t ros, nas idas ép ocas em que grande part e do que se faz ia em f ilo so f ia era an álise co n ceit u ai — não at ende, con t u do , ao t ip o de or ien t ação m et o d o ló g ica ad ot ad a pelos f iló so f o s n at ur alist as, com o verem os na seção que d ed ico à

m o d alid ad e m et o d o ló g ica de n at u ralism o . E cer t o que aq u i não est á em f o co a m et o d o lo g ia, m as o n at u r alism o en t en dido com o um a est rat égia par a lid ar com os co n ceit o s e p red icad o s in t en cio n ais, que p er m it ir ia, caso t enha su cesso, subst it uí- los p o r co n ceit o s e p red icad o s f ísico s de boa est irpe. Isso co r resp on d e bast ant e bem ao que Sear le, ao elen car os vár io s t ipos de red u ção, ch am a de "r ed u ção ló g ica ou d ef in icio n al" ( SEA R L E, 1992, p. 115; ver seção II- 3 aci m a)39. El e sugere que há um a ex p ect at iva de que o sucesso de t ais redu ções ab r ir ia cam in h o para reduções p ro p r iam en t e on t o ló g icas, m as gran de part e dos

f iló so f o s dit os 'an alít ico s' p ret en d iam , ju st am en t e, evit ar co m p r o m et im en t o s o n t o ló g ico s, rest r in g in d o com seg u rança o t rabalh o f ilo só f i co à an álise da lin g u ag em , t endo com o r ef er en cial as nossas in t u ições. D e t oda f o r m a, in do de encont ro a St ich et al. (1 9 9 4 ), é d u vid o so que t al est rat égia possa ser con sid er ad a n at u ralist a, em sent ido próp rio.

B. N at u r aliz ar um p red icad o ou con ceit o in t en cio n al é d esco b r ir as

p ro p r ied ad es essen ciais a que ele se refere. O con ceit o in t en cio n al é en t en dido ,

neste caso , com o um t erm o de espécie nat u ral [ n a t u r a l k i n d t e r m ] . D o m esm o

m odo com o d esco b r im o s que ‘ água = H 20 ’ , n at u raliz ar um co n ceit o in t en cio n al

seria d esco b r ir a sua essên cia (o u as con d içõ es de sua ap licação a algo no m u n d o )40.

num vo cab u lár io n ão - in t en cio n al. N o t ar que o b ico n d icio n al é de verd ad e n ecessár io , j á que ver d ad eir o em t odo s os m u nd os p o ssíveis. St ich et al. (1 9 9 4 ) ap resent am a an álise co n ceit u ai (t am b ém co n h ecid a co m o an álise de si g n if icad o ) co m o sendo a p r i o r i . Trat a- se, p ort an t o , de um

b ico n d icio n al n ecessár io a p r i o r i . Esse carát er a p r i o r i da an álise f ilo só f ica con t rad iz a t ese (a), ex p licit ad a na p. 1 do present e art ig o, onde t ento car act eri z ar o n at u ralism o em ep ist em o lo g ía, um a in d icação de que essa est r at ég ia não seria, a rigo r, aceit a pelos n at u ralist as.

(23)

Nest a segund a est rat égia, a t arefa de n at u raliz ar um p r ed icad o não pode

ser realiz ad a a p r i o r i, com o no caso an t erio r, apelando- se para nossas in t u ições

de senso co m u m , m as seria um a d escobert a a p o s t e r i o r i, realiz ad a p ro p r iam en t e

no âm bit o da at ivid ad e cien t íf ica. Os aut ores levan t am d ú vid as a respeit o do sucesso de q u alq u er um a dessas est rat égias de n at u raliz ação, m as não é m in ha int enção neste art ig o f azer um a avaliação das t en t at ivas de levá- las a cabo.

St ich et al. (1 9 9 4 ) t am bém m en cio n am , após as duas est rat égias acim a

apresent adas, um a t erceir a segundo a q ual n at u raliz ar é m ost r ar que as p rop riedades in t en cio n ais são id ên t icas ou sup ervêm a p ro p r ied ad es não-

in t encion ais. Essa est rat ég ia n at u ralist a enquadra- se, p erf eit am en t e, na

m o dalid ad e de n at u ralism o o n t o ló g ico (N A T O ) que d iscu t i na ú lt im a seção 41. Port ant o, o que m e int eressa para car act er iz ar m o d alid ad es de N A C O N são

som ent e as duas p r im eir as estrat égias.

M at er i al i sm o el i m i n at i v o

Ref er i- m e, an t erio rm en t e, ao m at er ialism o elim in at ivo , um a p o sição em f ilo so f ia da p sico lo g ia (e não p ro p r iam en t e em f ilo so f ia da m en t e) pelo fat o de

d iscu t ir o s t a t u s da p sico lo g ia in t en cio n al, da p sico lo g ia de senso com um ( f o l k

p s y c l i o l o g y ) . Ch u r ch lan d . o p r in cip al ar t icu lad o r dessa p osição, defend e que essa

p sico lo g ia é um a t eor ia falsa e que, port ant o, não far ia sent ido t ent ar reduzi- la a uma t eoria n eu r o f isio ló g ica (u m a redu ção t eó r ica). A sit uação seria an álo g a a de certas t eorias da f ísica — com o a t eor ia do flo g ist o , a t eor ia do caló r ico , as t eorias do ét er, et c. — que são falsas e, por isso, seus t erm os t eó r icos não se referem a nada no m u ndo. Não far ia sent ido, port ant o, redu zir t ais t eo rias, mas sim elim in á- las. Co m resp eit o à p sico lo g ia de senso co m u m , Ch u r ch lan d

defende que d evem o s, do m esm o m odo, elim in á- la e. claro , com ela t odos os seus t erm os t eór icos, com o os de at it udes p r o p o sicio n ais que, num a p er sp ect iva realist a, são eq u ivo cad am en t e asso ciad as a estados nas m ent es (ou nos cér eb r os) dos agentes aos qu ais as im pu t am os.

en vo lver ia de f orm a cr u cial a pesq u isa cien t if ica, não se lim it an d o a um t r ab alh o filo só f ico - an alít ico , com o na est r at égia ant er ior .

(24)

Po d em o s en t ender o m at er ialism o elim in at ivo a p ar t ir das duas est rat ég ias d escr it as por St ich et al. (1 9 9 4 ). O fracasso de am bas as est rat égias,

ap licad as ao caso da lin g u ag em in t en cio n al (a lin g u ag em t eó r ica da p sico lo g ia de senso co m u m ), levar ia à sua eli m in ação . N ão cab er ia fazer um a an álise co n ceit u ai (est rat ég ia A ) de con ceit os asso ciad os às at it udes p r o p o sicio n ais, p ar t icu lar m en t e o de in t en cio n alid ad e. Ou t r a m an eir a de se en t en der o

m at er ialism o eli m in at ivo seria a de ver os t erm os e con ceit os da p sico lo g ia de senso com u m com o não se r eferin d o a espécies nat urais. Um a das im p licaçõ es disso é a ir r ealid ad e do m ent al. Ch u r ch lan d pressupõe, clar o , que os co n ceit o s e

p r ed icad o s da n eu r o f isio lo g ia referem - se a esp écies n at u rais e,

con seq ü en t em en t e, podem f ig u r ar em leis, suas o co r r ên cias t endo po d er cau sal.

N a t u r a l i s m o m et o d o ló g ico ( N A M E)

O n at u ralism o m et o d o ló g ico af ir m a a co n t in u id ad e ent re a in vest ig ação f i lo só f ica e a cien t íf ica; em p ar t icu lar , defen de que não há um a d ist in ção n ít id a entre os m ét o dos em pr eg ad os em cada um desses d o m ín io s de in vest ig ação .

Em ep ist em o lo g ía, N A M E é a ver são q uin eana do n at u ralism o . Seg u n d o essa var ian t e do n at u ralism o ep ist em o ló g ico , “ a ep ist em o lo g ía d eve ser um a

ciên cia em p ír ica ou d eve, pelo m enos, ser in fo rm ad a e d eved ora [ b e h o l d e n ] dos

resu lt ad os de d iscip lin as cien t íf icas” (G O L D M A N . 1998, p. 305). Para Qu in e (1 9 8 7 a, 1987b), essas d iscip lin as in clu em , pelo m enos, a p sico lo g ia e a b io lo g ia evo lu t iva.

D e m od o an álo g o , o nat u ralism o m et o d o ló g ico em f ilo so f ia da m ent e co n sid er ar ia est a área com o situando- se p ro p r iam en t e no d o m ín io das ciên cias (e.g. as ciên cias co g n i t ivas) adot an do, com o co n seq ü ên cia, os m ét odos cien t íf ico s em pr eg ad os nas m esm as, e apoiando- se no co n h ecim en t o p ro d uz id o por elas. Est a seria a m an eir a cor ret a de en fr en t ar p ro b lem as fu n d am en t ais com o o p r o b lem a m ent e- corpo, o p ro b lem a de outras m ent es, etc.

Referências

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