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Acolher brincando, a brincadeira terapêutica no acolhimento de de enfermagem à criança hospitalizada.

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Academic year: 2021

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(1)Acolher Brincando. Universidade do Porto Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar Mestrado em Ciências de Enfermagem. “ACOLHER BRINCANDO” A BRINCADEIRA TERAPÊUTICA NO ACOLHIMENTO DE ENFERMAGEM À CRIANÇA HOSPITALIZADA. Patrícia Pombo Sousa Tavares. Dissertação de Mestrado em Ciências de Enfermagem Patrícia Pombo Sousa Tavares   .  . 2008. I .

(2) Acolher Brincando. Patrícia Pombo Sousa Tavares   .  . II .

(3) Acolher Brincando. Universidade do Porto Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar Mestrado em Ciências de Enfermagem. “ACOLHER BRINCANDO” A BRINCADEIRA TERAPÊUTICA NO ACOLHIMENTO DE ENFERMAGEM À CRIANÇA HOSPITALIZADA. Patrícia Pombo Sousa Tavares. Dissertação de candidatura ao grau de Mestre em Ciências de Enfermagem submetido ao Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar sob a orientação da Profª Doutora Maria do Céu Aguiar Barbieri Figueiredo. 2008 Patrícia Pombo Sousa Tavares   .  . III .

(4) Acolher Brincando. Patrícia Pombo Sousa Tavares   .  . IV .

(5) Acolher Brincando. Ao Di e ao Papi Pelo carinho, compreensão, apoio e força transmitida nesta longa e árdua caminhada… Só assim todo o esforço fez sentido…. Patrícia Pombo Sousa Tavares   .  . V .

(6) Acolher Brincando. Patrícia Pombo Sousa Tavares   .  . VI .

(7) Acolher Brincando. AGRADECIMENTOS. Em especial ao Di e ao Papi, por todas as horas que não passei convosco e que eram vossas por direito. Sem vocês nunca teria sido possível chegar ao fim… À Professora Doutora Maria do Céu Barbieri de Figueiredo, pela orientação partilhada, pela força e apoio transmitidos em todo o percurso e por me incentivar a seguir o desafio no decorrer do trabalho… À minha família, por todo o apoio…um beijinho especial à Nini e ao Nando por estarem pertinho…à bisa pela ajuda…e à mãe por vir brincar com o Di na recta final… Ao avô, que da Terra das Borboletas está certamente orgulhoso… À Sónia, por nos mostrar o quanto precisamos de lutar para tentarmos ser felizes… À Escola Superior de Enfermagem e Hospital Divino Espírito Santo - EPE, pela disponibilidade… Aos Doidos de Gabinete, por tudo o que passamos juntos neste percurso difícil, pelas horas de boa disposição e especialmente pelo ombro amigo…Obrigada… À Mena, pela mão de artista que envolveu a elaboração das nossas bonecas e da ilustração do livro de acolhimento, mas também pelo sorriso sincero e amigo em todas as horas. (www.artediversus.blogspot.com) À Enfermeira Chefe, às colegas e amigas da Pediatria, bem como à equipa médica da Pediatria, pelo apoio na recolha de dados e pela força transmitida, e especialmente, por me fazerem sentir sempre em casa… À Profª Doutora Circea Ribeiro, pela disponibilidade e pela sabedoria partilhada além mar… Ao Mark (Dr P.P.P. Pipoca), por me ajudar a descobrir o meu palhaço interior… À Drª Isabel Dias, pela colaboração na história do livro de colorir… À Ana, à Nini e à Fatinha pela leitura atenta….À Iracema e a Teci, pela ajuda … À Prof. Amélia e ao Helder pelas dicas… Ao Zé, por tornar a impressão gráfica do livro de colorir uma realidade…. A todos quantos directa ou indirectamente contribuíram para a realização deste estudo… Muito Obrigado! Em especial, às crianças e pais que deram vida a este trabalho, por me fazerem sentir que é por eles que sinto orgulho de ser Enfermeira…. Patrícia Pombo Sousa Tavares   .  . VII .

(8) Acolher Brincando. Patrícia Pombo Sousa Tavares   .  . VIII .

(9) Acolher Brincando. “Cada momento de alegria e de brincadeira ajuda a aliviar a alma e acelera as melhoras” Ivonny Lindquist. “Se queres a mudança sê a mudança que queres fazer” Ghandy. Patrícia Pombo Sousa Tavares   .  . IX .

(10) Acolher Brincando. Patrícia Pombo Sousa Tavares   .  . X .

(11) Acolher Brincando. RESUMO A hospitalização apresenta-se como uma das primeiras crises com que uma criança se depara. Nesta situação, a brincadeira terapêutica é uma excelente forma de as auxiliar a libertar o stress e medo inerentes, evitando os efeitos nefastos a curto e a longo prazo que esta poderá acarretar. A brincadeira terapêutica é adaptada ao desenvolvimento das crianças, constituindo uma forma de as preparar para a hospitalização, mostrando-lhe o que vai acontecer durante a sua estadia no hospital, desmistificando assim o desconhecido inerente à entrada do mesmo, pelo que deve ser contemplado como ferramenta essencial em enfermagem, fomentando uma relação terapêutica entre ambos, caminhando para a essência do cuidar em enfermagem. Com este estudo, pretendemos compreender o contributo da intervenção “Acolher Brincando” desenvolvida no acolhimento de enfermagem nas crianças em idade escolar hospitalizadas no serviço de Pediatria. Para o efeito, recorremos à investigação de intervenção, desenvolvendo, através dos oito passos descritos por Burns e Grove (2005), uma intervenção baseada na brincadeira terapêutica com o objectivo de acolher as crianças no referido serviço. Participaram no nosso estudo dez crianças em idade escolar e seis acompanhantes. Elegemos como métodos de colheita de dados, a composição e o desenho para as crianças, as entrevistas para os acompanhantes, bem como notas de campo da investigadora no momento da intervenção. Da análise dos dados emergiram quatro temas: Aguardando a hospitalização, Acolher Brincando, Facilitando a experiência de estar hospitalizado e Revivendo a experiência após a alta. Este estudo permite-nos afirmar que a Intervenção “Acolher Brincando” teve um papel essencial na forma como as crianças e seus acompanhantes. vivenciaram. a. hospitalização. a. curto. e. médio. prazo.. Desmistificou o hospital, preparando-as para o que as esperava, o que se traduziu em menor ansiedade e medo bem como maior segurança, tornando o hospital mais acessível, acolhedor e mais fácil de enfrentar, facilitando assim a experiência de estar hospitalizado. Assim, a hospitalização resultou numa experiência positiva para todos os intervenientes, inclusive na relação terapêutica entre binómio criança/ pais e enfermeira.. Patrícia Pombo Sousa Tavares   .  . XI .

(12) Acolher Brincando. Patrícia Pombo Sousa Tavares   .  . XII .

(13) Acolher Brincando. ABSTRACT A hospitalization is one of the first crisis a child has to face. Within this context, therapeutic play is an excellent way to help them cope with the inherent stress and fear, avoiding long and short term harmful effects caused by the situation. Therapeutic play is adapted to the children’s development and prepares them to hospitalization, showing them what is going to happen while they stay in the hospital and normalizing the unknown this event involves. Thus, it must be seen as an essential tool for nursing and used to develop a therapeutic process of interaction between child and nurse that provides a path to the essence of care in nursing. With this study it is intended to understand the contribution of the intervention “To welcome playing” developed in the childcare nursing service for school-age children admitted in the pediatric service. To achieve this purpose, intervention research was the chosen methodology and an intervention based in the eight steps described by Burns and Grove (2005) was developed to promote therapeutic play as a means to prepare the children admitted in the above referred service. Ten school-age children and six relatives participated in the study. As methods of data collection, writing compositions and drawing were used for children and interviewing for adults, as well as field notes of the researcher at the intervention moment. From the data analysis four themes emerged:. Waiting for hospitalization, To. Welcome Playing, Making the experience of a hospital stay easier and Recalling the experience after discharge. This study led to the conclusion that the intervention “To Welcome Playing” played an essential role in the way children and their families experienced short and mid term internship/hospitalization. The hospital became familiar and it prepared them for what they had to face, reducing the levels of anxiety and fear, as well as increasing the feeling of security. The hospital became more accessible, cozier and easier to face, making the experience of being in hospital less difficult. Thus, hospitalization became a more positive experience for those involved and a therapeutic interaction between the binomial child/parents and nurse.. Patrícia Pombo Sousa Tavares   .  . XIII .

(14) Acolher Brincando. Patrícia Pombo Sousa Tavares   .  . XIV .

(15) Acolher Brincando. ÍNDICE Resumo Abstract INTRODUÇÃO. 2. PARTE I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 1 - A CONSTRUÇÃO DE UMA PROBLEMÁTICA:. 7. CAPÍTULO 1 - CUIDAR EM ENFERMAGEM…ACOLHER…BRINCANDO. 8. 1.1. Cuidar a criança hospitalizada. 8. 1.2. Acolher em Pediatria. 17. 1.3. Preparar a criança para a hospitalização: desmistificar o desconhecido. 20. CAPÍTULO 2 – A CRIANÇA HOSPITALIZADA 2.1. Hospitalização em idade escolar. 28. 2.2. Binómio criança /família durante a hospitalização. 37. CAPÍTULO 3 – BRINCANDO EM PEDIATRIA. 46. 3.1. Importância do brincar na criança. 46. 3.2. A brincadeira terapêutica como ferramenta de enfermagem. 48. 2 – PERCURSO METODOLÓGICO: INVESTIGAÇÃO DE INTERVENÇÃO. 60. 1. Planear o projecto de intervenção. 62. 2. Reunir a informação necessária. 63. 3. Desenvolver a teoria de intervenção. 65. 4. Conceber a intervenção. 70. 5. Estabelecer um sistema de observação. 70. 6. Testar a intervenção. 71. 7. Recolher e analisar os dados. 73. Patrícia Pombo Sousa Tavares   . 25.  . XV .

(16) Acolher Brincando. 8. Disseminar os resultados. 73. PARTE II – ESTUDO EMPÍRICO 1 – “ACOLHER BRINCANDO”: PERCURSO EMPÍRICO PERCORRIDO. 76. 2 – PROCEDIMENTOS DE RECOLHA E ANÁLISE DE DADOS QUALITATIVOS. 97. PARTE III – APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DE DADOS. 104. 1 - COMPREENDENDO O CONTRIBUTO DE “ACOLHER BRINCANDO” NA CRIANÇA HOSPITALIZADA 1.1. Aguardando a hospitalização. 111. 1.2. Acolher Brincando. 118. 1.3. Facilitando a experiência de estar hospitalizado. 137. 1.4. Revivendo a experiência após a alta. 151. 4 – CONCLUSÕES. 159. 5 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. 164. ANEXOS ANEXO I – Autorização HDES-EPE. 181. ANEXO II – Livro de Colorir. 185. ANEXO III – Powerpoint de apresentação ao serviço de Pediatria. 193. ANEXO IV – Artigo Ordem dos Enfermeiros. 199. ANEXO V – Composição das crianças. 202. ANEXO VI – Guião entrevista acompanhantes. 205. Patrícia Pombo Sousa Tavares   .  . XVI .

(17) Acolher Brincando. INDICE DE TABELAS Tabela 1- Medos e preocupações das crianças em idade escolar ............................... 26  Tabela 2 - Estádios de desenvolvimento na criança em idade escolar ...................... 29  Tabela 3- Lista de fontes de informação acerca da intervenção .................................. 64  Tabela 4 - Características dos intervenientes que podem interferir na intervenção  .......................................................................................................................................................... 69  Tabela 5- Protocolo da intervenção "Acolher Brincando" ............................................... 88  Tabela 6 - Características das crianças alvos do teste de intervenção ...................... 95  Tabela 7 - Características participantes estudo .............................................................. 105  Tabela 8 - Características dos acompanhantes que participaram no estudo ........ 109 . ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1 - Características da enfermeira pediátrica ......................................................... 13  Figura 2 - Fases do Cuidar em Pediatria .............................................................................. 16  Figura 3 - Modelo de enfermagem "Parceiros nos cuidados" ........................................ 44  Figura 4 - Fases da Investigação de Intervenção ............................................................... 61  Figura 5 - Métodos de colheita de informação na investigação de intervenção ..... 64  Figura 6 - Bonecos utilizados na intervenção .................................................................... 86  Figura 7 - Bata de médico, estetoscópio e enfermeira .................................................... 87  Figura 8 - Temas que emergiram da análise de dados ................................................. 110  Figura 9 - Tema Aguardando a hospitalização ................................................................ 111  Figura 10 - Tema Acolher Brincando .................................................................................. 118  Figura 11 - Tema Facilitando a experiência de estar hospitalizado.......................... 138  Figura 12 - Tema Revivendo experiência após a alta .................................................... 152  Figura 13 - Matriz final dos temas analisados .................................................. 153. Patrícia Pombo Sousa Tavares   .  . XVII .

(18) Acolher Brincando. Patrícia Pombo Sousa Tavares   .  . XVIII .

(19) INTRODUÇÃO.

(20) Acolher Brincando. INTRODUÇÃO. A hospitalização da criança apresenta-se como uma das primeiras crises com que se depara. Esta envolve a saída do seu ambiente familiar para outro desconhecido e assustador, a separação dos familiares e amigos que lhe são queridos, enfrentar pessoas estranhas que lhe infligem procedimentos dolorosos e ameaçadores. Segundo Algren (2006), os principais factores de stress aquando da hospitalização infantil incluem “a separação, a perda de controle, as lesões corporais e a dor” (p.638). A forma como as crianças reagem a estes factores depende, em parte, do seu estadio de desenvolvimento e experiências anteriores. Outra das importantes perdas decorrentes da hospitalização é a separação do seu mundo mágico da brincadeira. Brincar é a actividade mais importante da vida da criança e é essencial para o seu desenvolvimento físico, emocional, mental e social. Todas as crianças têm direito a brincar! Brincando, a criança expressa de forma simbólica as suas fantasias, desejos e experiências vividas. Lebovici e Diatkine, citados por Martins Ribeiro, Borba e Silva (2001), salientam que “o modo como a criança brinca é um indicativo de como está, de como é”(p.77). Para Françan, Zilioni, Silva, Sant’ana e Lima “a arte é encontrada na criança quase como algo inato, verdadeiramente espontâneo, absolutamente criativo. Ela manifesta-se na maioria das vezes através das brincadeiras” (1998, p.27). Hughes (1999), sugere que, para reduzir o stress da hospitalização nas crianças, é importante “transportar” para o hospital os elementos que lhe são familiares no seu mundo: familiares mais próximos, roupa com a qual se identifica, brinquedos favoritos, e com estes, a oportunidade de brincar. Estes aspectos vêm salvaguardados na Carta da Criança Hospitalizada (IAC, 2000), nomeadamente o direito de ter a presença dos pais junto da mesma, beneficiarem de jogos e actividades educativas adaptadas à idade, favorecerem de um ambiente que corresponda às suas necessidades físicas, afectivas e educativas e ser cuidada por uma equipe de saúde com formação para responder às necessidades psicológicas e emocionais da criança. Deverão criar-se outras estratégias que proporcionem a transformação da visão do hospital de um local frio e silencioso embebido em dor e sofrimento, para um local mais colorido e divertido, mais adaptado às crianças e passível de contribuir para o desenvolvimento da criança, Patrícia Pombo Sousa Tavares   .  . 2 .

(21) Acolher Brincando. nomeadamente, através da brincadeira1. MacCarthy citado por Doverty (1994) salienta a importância da brincadeira durante a hospitalização, afirmando que “logo a seguir à presença constante da mãe ou de outra figura de apoio, a brincadeira pode ser um importante factor de diminuição dos efeitos nocivos do stress nas crianças hospitalizadas”(p.12). Enquanto a criança se encontra hospitalizada, a brincadeira tem um “importante valor terapêutico, influenciando no restabelecimento físico e emocional pois pode tornar o processo de hospitalização menos traumatizante e mais alegre, fornecendo melhores condições para a recuperação” (Françani et al, 1998, p.28). Aparentemente, parece indiscutível o valor do brincar para a criança enquanto ferramenta terapêutica: a) meio de expressão de sentimentos, b) favorecer a adaptação ao hospital), c) meio de comunicação entre criança e enfermeira2 e d)preparação para procedimentos. Um dos recursos para estabelecer esta brincadeira é por intermédio do brinquedo terapêutico, sendo este um “brinquedo estruturado para a criança aliviar a ansiedade gerada por experiências atípicas para a sua idade, que podem ser ameaçadoras” (Steele citada por Castro, Silva e Ribeiro, 2000, p.183) pois este proporciona “à criança hospitalizada a oportunidade de reorganizar a sua vida, seus sentimentos e diminuir a ansiedade” (Martins et al, 2001, p.78), podendo ser utilizado para que esta possa assimilar novas situações e compreender a sua hospitalização. Assim, poderá expressar os seus sentimentos, emoções e ansiedades que dificilmente teriam oportunidade de serem expressas de outra forma. Tendo o conhecimento que o medo do desconhecido (fantasia) excede o medo do conhecido, se pensarmos em reduzir os elementos desconhecidos, provavelmente diminuiremos o medo. Assim, as crianças serão capazes “de direccionar suas energias para lidar com outros estresses inevitáveis da hospitalização” (Algren, 2006, p.647). Tendo em conta que as necessidades emocionais possam ser tão emergentes, senão mais, que as necessidades físicas das crianças durante o acolhimento hospitalar, muitas são as estratégias que se                                                              Na presente dissertação, utiliza-se o termo brincadeira por esta denotar o “mergulhar na acção lúdica, ou seja, é o lúdico em acção” (Melo, 2003) 2 É utilizado o termo enfermeira, pelo facto de no contexto do estudo só existirem enfermeiras do sexo feminino. 1. Patrícia Pombo Sousa Tavares   .  . 3 .

(22) Acolher Brincando. tem desenvolvido nos hospitais para ajudar a criança e família a lidar com a mesma, com o objectivo de diminuir os efeitos psicológicos da hospitalização, entre elas, a brincadeira terapêutica. A equipa de enfermagem encontra-se em posição privilegiada para ajudar a criança a expressar os seus sentimentos e frustrações, favorecendo, assim uma melhor adaptação à hospitalização. Realçam esta ideia Martins et al ao referirem que a “enfermeira pediatra, pelos seus conhecimentos e sua sensibilidade para identificar os sentimentos e as causas de estresse é o profissional mais indicado para utilizar o brinquedo terapêutico” (2001, p.78), fazendo emergir todas as potencialidades que lhe são reconhecidas, como forma de melhorar e adaptar os cuidados que presta aos seus pequenos clientes. Ao cuidar a criança doente, o enfermeiro deverá, através dos seus cuidados, ambicionar atingir a excelência da arte do cuidar, com sentimento, emoção e brincadeira…como um artista!. É imprescindível que as enfermeiras brinquem. com as crianças…estas deverão perceber que são parceiras na jornada que vivenciam - a hospitalização – encontrando-se presentes não só para lhe imporem regras, infligirem dor e mal-estar (quando estritamente necessário), mas também para ajudá-las a sorrir, partilhar as suas alegrias e conquistas nesta fase crítica em que se encontram. Assim, estaremos a solidificar a relação de confiança desenvolvida entre as crianças e a enfermeira, apoiada pela acção terapêutica do brinquedo. Pensamos que estes aspectos concorrem para a excelência dos cuidados de enfermagem, assente num cuidado mais humanizado, tendo inerente uma nova postura, com recurso à arte e criatividade para o fazer acontecer. Conhecer e descrever este fenómeno em profundidade e contribuir para uma melhor compreensão das questões que enunciamos poderá facilitar o cuidar das enfermeiras a crianças hospitalizadas. Na realidade, não será esta a essência do conceito da prática baseada na evidência? Através da investigação as enfermeiras poderão progredir na qualidade dos seus cuidados ao transpor para a prática os resultados da pesquisa que desenvolvem. É neste sentido que assenta o presente estudo, em que, através da Investigação de Intervenção (descrita por Burns e Grove, 2005), propusemo-nos a desenvolver uma intervenção baseada na brincadeira terapêutica. Temos, a finalidade de. Patrícia Pombo Sousa Tavares   .  . 4 .

(23) Acolher Brincando. compreender o contributo da brincadeira terapêutica durante o acolhimento de enfermagem às crianças em idade escolar3 hospitalizadas no Serviço de Pediatria. Formalmente, o conteúdo da presente dissertação organizar-se-á em três partes distintas, que passaremos a descrever. Numa primeira parte proceder-se-á ao enquadramento teórico baseado na pesquisa bibliográfica, visando a construção da problemática, onde serão aprofundados os conceitos de cuidar e acolher em enfermagem, a criança hospitalizada e o brincar em pediatria. Ainda nesta parte, serão desenvolvidos os pressupostos teóricos da Investigação de Intervenção. A segunda parte ilustrará a aplicação empírica da opção metodológica escolhida, bem como os fundamentos que nortearam a colheita e análise de dados qualitativos. A apresentação e discussão dos dados constituirá a terceira parte, em que serão fundamentados os conceitos emergente da análise dos dados das diversas fontes, seguindo-se as conclusões mais pertinentes acerca dos mesmos. Gostaríamos de pensar que com este trabalho pudemos concorrer para a melhoria dos cuidados de enfermagem pediátricos, motivando as enfermeiras a recorrer à criatividade e humor para desenvolver a arte de enfermagem como verdadeiras artistas!.                                                              No presente projecto é utilizado o termo criança em idades escolar, sendo que esta engloba crianças entre os seis e os doze anos, como defendido por Hockenberry (2006) 3. Patrícia Pombo Sousa Tavares   .  . 5 .

(24) Acolher Brincando. Patrícia Pombo Sousa Tavares   .  . 6 .

(25) Acolher Brincando. A CONSTRUÇÃO DE UMA PROBLEMÁTICA. CAPÍTULO 1 - CUIDAR EM ENFERMAGEM…ACOLHER…BRINCANDO CAPÍTULO 2 – A CRIANÇA HOSPITALIZADA CAPÍTULO 3 – BRINCANDO EM PEDIATRIA. Patrícia Pombo Sousa Tavares   .  . 7 .

(26) Acolher Brincando. CAPÍTULO 1 - CUIDAR EM ENFERMAGEM…ACOLHER…BRINCANDO. Decorrente da evolução da profissão e da própria humanidade, a enfermagem tem modificado o seu foco de cuidados, de tecnicamente curativo para uma visão holística da pessoa, neste caso a criança e família, envolvendo todos os aspectos inerentes à mesma: físicos, emocionais, sociais, psicológicos e ambientais. Desta forma, prestam-se não só cuidados técnicos e físicos, como também psicológicos e emocionais, de extrema importância na criança se pensarmos nas suas limitações no que concerne às estratégias que a permitem ultrapassar uma situação de doença/hospitalização sem sequelas. Acolher convenientemente a criança e família em situação de doença, fazendo-as sentirem-se acolhidas e importantes na sua unicidade, é um dos cuidados atraumáticos que a enfermeira poderá prestar, com vista o bem-estar da criança e sua família. Ao pensarmos em crianças, qual será a melhor forma de acolher? Brincando!. 1.1. Cuidar a Criança Hospitalizada Para entendermos o processo de cuidar em enfermagem pediátrica, urge reflectir sobre o cuidado humano e de enfermagem, resgatando os seus princípios relevantes com o intuito de suportar teoricamente o nosso trabalho. Cuidar, sendo considerada por Collière como a primeira arte da vida, é um conceito subjacente à profissão de Enfermagem. O Ministério da Saúde define Enfermagem como a profissão que “na área da saúde, tem como objectivo prestar cuidados de enfermagem ao ser humano, são ou doente, ao longo do ciclo vital, e aos grupos sociais em que ele está integrado, de forma que mantenham, melhorem e recuperem a saúde, ajudando-os a atingir a sua máxima capacidade funcional tão rapidamente quanto possível” (Portugal, 1996). Podemos encarar o cuidar como sendo o ideal moral da profissão de enfermagem, com o objectivo de proteger, melhorar. e. assegurar. a. dignidade. humana,. compreendendo. valores,. conhecimento, gestos carinhosos e comprometimento com o acto de cuidar. Implica envolvimento pessoal, social e moral por parte da enfermeira com ela própria e com quem é cuidado. O cuidar transcende o acto, superando a acção. Patrícia Pombo Sousa Tavares   .  . 8 .

(27) Acolher Brincando. individual, mas produzindo acções colectivas da profissão com consequências para a pessoa cuidada. (Watson, 2002). Hesbeen (2000) refere-se ao cuidar como uma atenção especial que se pode facultar a outra pessoa, numa situação particular da sua vida, com o intuito de contribuir para a sua saúde e bem estar. Esta perspectiva de cuidar não se aplica apenas à profissão de enfermagem, mas a todos os profissionais de saúde, tendo em especial atenção, não só a finalidade que se pretende, mas a forma como se a atinge. Isto porque não é o diploma de enfermeira que nos confere as habilitações para cuidar, mas sim a intenção aliada às nossas acções. Acrescentamos que existem três intenções de acção de cuidar: a intenção de reparar, de aliviar; a intenção de satisfazer, de contentar e a intenção de formar, educar, de acompanhar um desenvolvimento, sendo que a primeira se encontra mais direccionada para o sofrimento, a segunda para o prazer e a terceira ao suporte e plenitude (Honoré, 2004). Outro aspecto importante a desenvolver, mencionado por Hesbeen (2000), referente a Watson: a diferença entre a essência e o acessório nos cuidados de enfermagem, sendo que a primeira é a acto interpessoal da enfermeira com o cliente com o objectivo de desenvolver com o último um resultado terapêutico, enquanto a segunda reporta-se às técnicas, aos protocolos, dos contextos dos cuidados, utilizadas pelas enfermeiras na prática diária. Reflecte o autor que não tomemos o acessório (técnicas e protocolos) como algo menos importante, pois este além ser necessário em muitas situações de doença, é marcante para quem por ele passa. Torna-se acessório no sentido em que é a forma como o acto ou o gesto “toca” a pessoa, contribuindo para o seu bem-estar. É neste aspecto, segundo a autora, que reside a verdadeira essência da enfermagem, ao dar sentido a uma pessoa em específico, a um conjunto de acessórios que, assim sendo, não dizem respeito senão aos indivíduos em geral. A essência de enfermagem reside, como já vimos, na acção que se estabelece com o cliente, tendo como meta um bem-estar terapêutico, e são variadas as formas de o atingir. Hesbeen (2000) salienta que uma das formas de se oferecer uma verdadeira ajuda a quem cuidamos é beneficiando-as de oportunidades particulares por parte dos enfermeiros. Estas têm como intenção “tornar mais confortável, mais suave e mais calorosa a situação vivida, bem como de ter uma atenção particular aos «mil e um pormenores» que a compõe” (p.70). Para o Patrícia Pombo Sousa Tavares   .  . 9 .

(28) Acolher Brincando. autor, a enfermeira deverá enquadrar esses quatro aspectos na sua conduta, de forma profissional, subtil, com o cuidado de não constranger o cliente, nem correndo o risco de tornar a relação reciprocamente dependente. O conforto alude aos elementos que concorrem para que o cliente e seus familiares se sintam suficientemente confortáveis e em segurança para usufruírem de uma experiência terapêutica. A doçura, apela a uma grande capacidade de atenção por parte do enfermeiro para com o cliente, é o tom de voz, um ouvido atento, o olhar, o toque, ir ao encontro de quem chora, com o intuito de o aliviar do seu sofrimento. No que se refere ao calor, é o que possibilita que o lugar de cuidados se torne caloroso, através de um sorriso autêntico para o outro, que se sente único, bem como a alegria de viver dos profissionais, que ao libertarem esse calor transportam-no para o cliente, a luz que o seu olhar reflecte ou as notas que consegue cantarolar. Os «mil e um pormenores», segundo o autor, são os que revelam um verdadeiro olhar ao outro, agindo de forma a fazer o cliente sentir-se único no mundo. Não defendemos que estes quatro aspectos sejam empregues de forma exagerada, pois dessa forma não seriam profissionais, muito menos terapêuticos, mas sim doseados e de acordo com a pessoa que se encontra à nossa frente, pois o profissionalismo está nesta delicadeza, nesta capacidade de ir ao encontro do outro dando sentido a esse encontro e depois, caminhar com ele (Hesbeen, 2000). Ressaltamos ainda que estes quatro aspectos formam um todo, não se podendo dissociar, sendo subtilmente integrados em todos os cuidados de enfermagem ao cliente, pois os cuidados de enfermagem são assim mesmo, “compostos de múltiplas acções que são sobretudo, apesar do lugar tomado pelos gestos técnicos, uma imensidão de «pequenas coisas» que dão a possibilidade de manifestar uma «grande atenção»” (p.69) ao cliente sujeito dos nossos cuidados, ao longo das vinte e quatro horas do dia. O conceito de Cuidar tem vindo a ser muito referenciado na literatura dos últimos vinte anos e, actualmente, parece-nos alvo de alguma controvérsia por parte de alguns enfermeiros, pelo risco de se banalizar um conceito tão importante para a profissão, fruto dos variados debates em torno do mesmo. Contudo, e face ao à imponência do conceito Cuidar, com base em todos os seus pressupostos conhecidos, defendemos a escola do Cuidar como fundamental na nossa prática como enfermeira.. Patrícia Pombo Sousa Tavares   .  . 10 .

(29) Acolher Brincando. Desta escola fazem parte, entre outras teóricas, Madeleine Leininger e Jean Watson (Lopes, 1999), sendo que iremos evidenciar a segunda, pela empatia com a teoria desenvolvida e pela natureza do presente trabalho. Para Tourville e Ingalls (2003) a teoria do cuidar humano de Watson foi “baseada na psicologia fenomenológica e filosofia de Carl Rogers, do trabalho existencial de Yalom e das filosofias de Chardin, Sartre e Kirkegaard” (p.28). Watson defende que os cuidados de enfermagem são considerados arte e ciência humana do cuidar (Lopes,. 1999).. Corroborando. desta. filosofia,. Alligood. e. Tomey. (2004). acrescentam que a distância entre a ciência e a arte de enfermagem começou a esvanecer, originando uma síntese criativa das duas… a ‘ciência-arte’ da enfermagem. Gameiro (2003) expõe duas visões contraditórias acerca deste assunto: Simeão, que sustenta que a ciência e a arte complementam-se, a arte na busca das singularidades nos problemas e comportamentos da pessoa e a ciência no reconhecimento dos padrões comuns, sendo que a arte norteia a acção de enfermagem dispondo à expressão de empatia, de cuidado, de sensibilidade e de compromisso ético e moral. Cordeiro por sua vez, diferencia ciência de arte, sendo que a primeira busca situar e sistematizar os aspectos constantes ou a descoberta de leis pela explicação das causas, enquanto a arte compreende a aptidão para fazer coisas, uma atitude de admiração face a certas exteriorizações e actividades humanas e o conhecimento intuitivo do mundo, dando voz ao sentimento e imaginação. No cuidar transpessoal teorizado por Watson (2002) a arte do cuidar tem o seu começo quando a enfermeira expressa sentimentos de cuidar e preocupação através de reacções externas com o intuito de juntar o outro a si próprio. Um dos aspectos essenciais da arte do cuidar é a transmissão de sentimentos a quem é cuidado através do toque, de sons, de cores e de formas - é tudo arte. A habilidade da enfermeira de se ligar com outro na relação transpessoal é traduzida através dos movimentos, gestos, expressões faciais, procedimentos, toque, sons e expressões. Assim, é arte quando o enfermeiro, ao experimentar ou compreender os sentimentos do outro, é capaz de os desvendar e de os sentir e, por sua vez, de os expressar de tal forma que a outra pessoa é capaz de os entender mais profundamente e de libertar os sentimentos que tem desejado expressar. O sentimento manifesta um estado interior, a experiência íntima de alguém. Não é possível observar um sentimento, podemos sim observar o Patrícia Pombo Sousa Tavares   .  . 11 .

(30) Acolher Brincando. resultado de um sentimento ou os sinais que indicam o sentimento de alguém (Diogo, 2006). Sendo o cuidar transpessoal uma arte, um meio de estimular a comunicação e a libertação de sentimentos humanos, é por conseguinte, um meio de o indivíduo progredir em direcção a um elevado sentido de ser e de harmonia com o seu corpo, alma e mente. No cuidar transpessoal defendido por Watson (2002), o enfermeiro pode entrar na experiência do outro, ocorrendo o mesmo no sentido inverso. Desta forma, a arte do cuidar transpessoal em enfermagem torna possível, para a pessoa, um sentido de humanismo e de intersubjectividade vivenciadas por indivíduos passados e contemporâneos em condições humanas semelhantes. Assim, não é tanto o quê dos actos de enfermagem, ou mesmo a transacção do cuidar em si, é o como (a relação entre o quê e o como) a natureza transpessoal e a presença da união da alma de duas pessoas, que permite que alguns desconhecimentos emerjam do próprio cuidar (p.125). Estreita, nesta fase, a necessidade de concordar com Watson (2002) no que respeita à essência do cuidar transpessoal, que pode colidir, para alguns, com a imagem tradicionalmente defendida do enfermeiro, relativamente à visão de que estes devem evitar interacções pessoais com o cliente, por ser considerado pouco profissional. Apoiamo-nos então nos que defendem, como nós, que a enfermeira poderá envolver-se com o cliente, desde que estabelecidas as metas e barreiras entre ambos, se com essa atitude não puserem em causa o relacionamento terapêutico. Consideramos que a arte e o sentimento devem ser essenciais no cuidar em pediatria, na relação que o enfermeiro estabelece com a criança e seus pais. É através destes que o enfermeiro torna cada cuidado único, pessoal, adequado a cada criança, transpondo, assim, a barreira do cuidar transpessoal preconizada por Watson.. Patrícia Pombo Sousa Tavares   .  . 12 .

(31) Acolher Brincando. Cuidar em Pediatria Ao cuidar a criança doente, o enfermeiro deverá, através dos seus cuidados, ambicionar atingir a excelência da arte do cuidar, com sentimento, emoção e brincadeira…como um artista! Este não é somente aquele que pinta, que compõe, que sobe aos palcos. Um artista pode ser caracterizado pela capacidade de, ao trabalhar, criar e realizar acções que evoquem o seu sentimento e o dos outros, munido da sensibilidade necessária para escolher o momento e instrumento adequado para satisfazer as necessidades dos outros (Françani et al, 1998). Esta é a nossa filosofia enquanto enfermeira…a enfermeira é um artista! Se esta premissa é verdadeira para adultos e idosos, assume uma importância extrema quando nos referimos a crianças. Consideramos importante salientar que, na nossa opinião, trabalhar em pediatria acarreta uma motivação pessoal e características de personalidade específicas, que permitam à enfermeira cuidar a criança e família, aliando a “profissional adulta” à “amiga criança”, de forma a conquistar assim a confiança da criança, como enfermeira e como pessoa. Partilhamos a opinião de Diogo (2001), quando expressa a importância de trabalhar num serviço que sustente uma orientação análoga aquela em que se acredita, para que exista assim, naturalmente, um estímulo e empenho muito forte por parte de quem cuida. Neste sentido, achamos que será necessário que a enfermeira que trabalha em pediatria disponha de determinadas características que a possibilitem alcançar os objectivos do cuidado à criança, que apresentamos na figura que segue:. Gostar de crianças. Capacidade de relação com criança. Enfermeira. Conhecimentos de. Pediatria. Personalidade estável. Figura 1 - Características da enfermeira pediátrica. Fonte: adaptado de Whaley & Wong, 1999) Patrícia Pombo Sousa Tavares   .  . 13 .

(32) Acolher Brincando. O cuidado em enfermagem pediátrica tem como objectivo a promoção do bemestar da criança e sua família. Para que isso aconteça é necessário que as enfermeiras desenvolvam acções com o intuito de prevenir doenças, prestar cuidados. no. sentido. de. manter. um. nível. óptimo. de. crescimento. e. desenvolvimento, bem como reabilitar crianças com modificações do seu estado de saúde, tendo também como alvo de cuidados a família (Guareschi & Pinto, 2007). Mas como conseguir atingir este objectivo? Umas das filosofias dos cuidados de enfermagem pediátrica, em conjunto com os cuidados em parceria e centrados na família, são os cuidados atraumáticos (Winkelstein, 2006a). Apesar de actualmente se valorizar uma prestação de cuidados de enfermagem à criança e família o menos traumática possível, o que é certo é que muitos dos cuidados que se prestam são traumáticos, dolorosos, desagradáveis e ameaçadores, pelo que as enfermeiras deverão dirigir a sua atenção para intervenções que sejam seguras, eficazes e úteis, o mais atraumáticas possíveis. Descrevamos cuidado atraumático como o provimento de “cuidado terapêutico em ambientes, por um conjunto de funcionários e por meio de intervenções que eliminem ou mitiguem o sofrimento psicológico ou físico vivenciado pelas crianças ou seus familiares no sistema de cuidados à saúde” (Ping, 2005; Winkelstein, 2006a, p. 11). Importa descodificar os termos constituintes da definição para um melhor entendimento do conceito. Cuidados terapêuticos envolvem tudo o que diz respeito à prevenção, diagnóstico, tratamento de doenças agudas ou crónicas que afectem a criança, sendo prestados em qualquer local,. e. por. qualquer. pessoa. responsável. pela. prestação. de. cuidados.. Relativamente às intervenções, compreendem as abordagens psicológicas, como por exemplo a preparação das crianças para os procedimentos, ou intervenções de ordem física. É conhecido que a hospitalização de uma criança pode gerar angústia psicológica, que pode ser percebida pela ansiedade, medo, raiva, decepção, tristeza, vergonha ou culpa, enquanto o desconforto físico pode passar por manifestações como sonolência, imobilização ou até mesmo experiências de natureza sensorial, como dor, lesão corporal, alterações de temperatura, ruído alto, luz intensa ou escuridão. Grande parte dos cuidados de enfermagem que Patrícia Pombo Sousa Tavares   .  . 14 .

(33) Acolher Brincando. têm como objectivo uma prestação atraumática prendem-se precisamente com intervenções que visam reduzir ao máximo os agentes stressores da criança e família. O cuidado atraumático diz então respeito “a quem, qual, quando, onde, o por que e como é realizado qualquer procedimento em uma criança”(Winkelstein, 2006a, p.11) com o intuito de evitar ou minorar e stress psicológico e físico característico da situação de doença/hospitalização, com o objectivo prioritário de não causar nenhum mal. Como forma de atingir o objectivo pretendido, três princípios norteiam a conduta do enfermeiro (Winkelstein, 2006a): a. Prevenir ou atenuar a separação da criança e família b. Estimular o sentido de controlo c. Prevenir ou atenuar a lesão e dor corporal. Podemos considerar como cuidados atraumáticos, entre outros, a preparação da criança para procedimentos desconhecidos, atenuar a dor, bem como promover brincadeiras e jogos, dando oportunidade à mesma para escolher, com o objectivo de expressar os medos e receios (Winkelstein, 2006a). Com o propósito de alcançar o bem-estar da criança, à semelhança dos cuidados atraumáticos, achamos pertinente expor os aspectos fundamentais da Estrutura do Cuidar preconizada por Kristen Swanson (Swanson, 1993) no cuidado que prestamos à criança. Assim a autora preconiza cinco momentos que serão necessário integrar na nossa prática: Manter a crença, como base do cuidar em enfermagem, acreditando que a criança ultrapassará a situação de hospitalização da forma mais construtiva possível e com uma percepção positiva da enfermeira; Conhecer os aspectos que poderão influenciar a situação de doença e hospitalização: estrutura familiar, cultura, crenças, representações sociais de saúde, doença, do enfermeiro, experiências anteriores…; Estar com, mostrar empatia, sentimentos pela criança, mostrar que se preocupa com ela, que percebe o seu sofrimento, que ela é importante para a enfermeira; Fazer por, confortar a criança, antecipar as suas necessidades, utilizar o brinquedo terapêutico como ferramenta diária de trabalho de forma a minorar os procedimentos mais dolorosos para ela; Possibilitar, dando o tempo necessário para se “adaptar” à sua nova situação, informar e explicar procedimentos Patrícia Pombo Sousa Tavares   .  . 15 .

(34) Acolher Brincando. adequados à sua idade, possibilitar alternativas quando possível, nomeadamente a brincadeira, como forma de ultrapassar o momento difícil que está a passar. Também na procura de contribuir para a melhoria dos cuidados pediátricos, Crole e Smith (2002), teorizaram as “Fases do Cuidado” subjacentes aos cuidados de enfermagem pediátrica. Nesta, as enfermeiras deverão interiorizar quatro fases do cuidar aquando da hospitalização da criança. Cada fase é essencial e não deve ser negligenciada, com o risco de afectar negativamente as restantes. As fases são cíclicas e pode haver necessidade de interromper uma fase e recomeçar noutra. As fases referidas são: “Fase Introdutória”, “Fase da construção da relação de confiança”, “Fase da tomada de decisão”, “Fase do conforto e contra os riscos”4 (p. 30). Na primeira fase, inicia-se a relação de confiança entre a criança/família e a enfermeira, através do contacto inicial, do acolhimento. Na fase da construção da relação de confiança, a enfermeira deverá utilizar a linguagem adequada e estratégias como jogos e brincar, para explicar e preparar a criança para os procedimentos. Com estas, as crianças poderão distrair-se dos elementos stressantes da hospitalização e propiciar mais rapidamente esta relação de confiança, ao aperceberem-se que a enfermeira está disposta a ficar “ao seu nível” e a brincar com elas. Esta experiência pode ser extremamente benéfica para ambas. Quanto à fase da tomada de decisão, é suportada pela relação de confiança anteriormente consolidada, e consiste em determinar, junto da criança, o nível de participação desta no cuidado, tendo em conta o seu desenvolvimento e capacidade para compreender. Relativamente à fase do conforto e contra os riscos, a enfermeira pode ser vista como responsável pelo sofrimento causado à criança, através dos procedimento, pelo que durante e após, deverá confortar e “mimar” a criança, de forma a reconquistar a sua confiança. Fase Introdutória. Fase da Construção da Relação de Confiança. Fase da Tomada de Decisão. Fase do Conforto e Contra os riscos. Figura 2 - Fases do Cuidar em Pediatria. Fonte: adaptado de Crole e Smith, 2002                                                              4 Tradução pela autora: “Introduction phase”, “building trusting relationships phase”, “the decision-making phase, “the comfort and reassurance phase”. Patrícia Pombo Sousa Tavares   .  . 16 .

(35) Acolher Brincando. É notória a importância do acolhimento da criança e família em situação de doença/hospitalização e o impacto que esta causa na forma de viver e superar essa experiência. Pode ser considerado um cuidado atraumático a ter em atenção pelos enfermeiros ao cuidarem de crianças/família, como forma de promover o bem-estar físico e emocional das mesmas numa situação tão difícil como é a hospitalização. Será importante reflectirmos a forma como acolhemos as crianças em situação de doença. Porque não acolher brincando?. 1.2. Acolher em Pediatria A doença e consequente hospitalização da criança é considerada uma das primeiras crises com que se depara, difícil de ser vivenciada devido, entre outros factores, aos limitados mecanismos de defesa que apresenta (Algren, 2006; Barros, 2003; Batista, 2003; Festas, 1994; Jorge, 2004; Marçal, 2006). Os pais, que chegam ao hospital com um filho doente a necessitar de ser hospitalizado, apresentam um elevado grau de ansiedade e desenvolvem uma série de sentimentos face à situação. Com o intuito de atender às necessidades físicas e psicológicas da criança e família, é essencial que a enfermeira os acolha para que se sintam integrados na equipa e de forma a prepará-los para os actos terapêuticos necessários, com a certeza porém que este acolhimento irá influenciar a atitude dos clientes face à equipa de saúde e ao desenrolar da hospitalização e doença (Venâncio & Pereira, 2002). Pensemos em acolher como a acção de receber alguém, dar protecção, ajuda, levando para junto de si (Academia das Ciências de Lisboa, 2001), sendo mais importante do que receber, o levar junto a si pela forma como acolhemos e nos relacionamos com a criança/família numa situação que se conhece tão complicada. Idealizemos o acolhimento não apenas como o acto inicial de admissão da criança no serviço de Pediatria, não é um acto pontual, começa no momento da admissão mas prossegue e consolida-se no dia-a-dia, aquando dos cuidados de enfermagem, visando ir ao encontro do outro para passar do seu estado de estranho ao de companheiro (Vitória, 2001). Decorrente das transformações da carreira de enfermagem e da privatização dos hospitais que actualmente se observa, muitas das vezes os enfermeiros são forçados a trabalhar mais em torno dos protocolos e da quantidade dos cuidados, Patrícia Pombo Sousa Tavares   .  . 17 .

(36) Acolher Brincando. em detrimento da qualidade dos mesmos. Esta situação leva a muitas vezes não terem tempo para cuidar, no verdadeiro sentido da palavra, mas sim prestar cuidados, tratar. Com esta desvalorização, na nossa opinião, da verdadeira essência de ser enfermeira por parte das hierarquias superiores, acabamos por menosprezar também os alvos dos nossos cuidados: os clientes. No que concerne ao acolhimento da criança e família, para Honoré (2004), muitas vezes o acolhimento é vivenciado entre o enclausuramento e a abertura. O outro é muitas vezes recebido com as normas de quem o acolhe, que o absorve com as suas palavras, os seus gestos, as suas atitudes. As suas representações, as suas concepções, esquecendo que ele próprio é acolhido. O acolhido assume a formalidade conveniente à norma, prevista por quem acolhe, para aquilo que há para fazer (p.215). Para o evitar, as enfermeiras devem proporcionar um acolhimento baseado na reciprocidade, acolhendo a criança e família e deixando-se acolher, passando do acolhimento ao envolvimento, progredindo assim para uma relação terapêutica. Para que isso aconteça, as enfermeiras ao acolherem as crianças e suas famílias devem, num primeiro momento, apresentar-se, dizendo o seu nome, quais as suas funções e devolver ao cliente, permitindo que se apresente também. Desta forma, estarão a partilhar informações, criando uma dinâmica de respeito e confiança entre ambos (Curado, 2006). Também Ferreira e Valério (2003) focam a importância da enfermeira manter o sorriso nos lábios aquando do acolhimento, bem como tratar a criança pelo nome, tendo o cuidado de se apresentar, criando deste modo um clima de confiança ao longo do internamento. Neste caminho, serão valorizados pelas crianças e pais o tom de voz, o que é dito, bem como toda a linguagem não verbal, como a postura, o vestuário, a expressão facial. (Jorge 2004). Façamos aos outros o que gostaríamos que nos fizessem a nós! Torna-se fundamental salientar a essência do cuidado transpessoal de Watson, que deverá estar inerente a todas as etapas do cuidar em pediatria, especialmente no acolhimento, pela importância que este assume na vivência da restante hospitalização.. Patrícia Pombo Sousa Tavares   .  . 18 .

(37) Acolher Brincando. Para Hesbeen (2000), ser acolhido envolve entre outros aspectos, ser recebido com um sorriso que ajude a conquistar calor humano, beneficiar de um cuidado personalizado, em que o cliente seja chamado pelo nome, de forma a que se sinta à vontade para exprimir as suas expectativas, receios e dificuldades. Outro aspecto a ter em conta é a disponibilidade que é demonstrada por quem acolhe em relação ao lugar, ao momento e às pessoas, de forma a propiciar o conhecimento do meio em que se é acolhido, nas suas várias vertentes. Se as crianças e pais se sentirem realmente acolhidos, irão sentir-se mais à vontade para colocar as suas dúvidas relativamente à doença, ao serviço, aos procedimentos e assim, sentir-se-ão mais calmos e colaborantes em relação aos cuidados prestados, às restrições impingidas, entre outros aspectos. (Brito, 2006) O acolhimento é também o momento ideal para se conhecer, além da evolução da doença, os hábitos e comportamentos da criança, especificando alguns aspectos essenciais do seu dia-a-dia, para que se possam assemelhar os cuidados aos prestados em casa, tornando-os o mais terapêutico possível. Desta forma, no primeiro contacto, a enfermeira deverá centrar-se na experiência do cliente que tem à sua frente, “abre-se e observa: escuta, olha, toma conhecimento, recolhe dados, toma consciência das expectativas e necessidades” (Maia, Pacheco, Costa & Leal, 2001, p.17). Podemos assim dizer que o acolhimento tem como finalidades apoiar a criança e família a diminuir quaisquer sentimentos negativos que possam surgir, bem como dar oportunidade à enfermeira de desmistificar as questões que assolem a criança/família e sobre aspectos do funcionamento do serviço e da própria hospitalização, com vista a transmitir segurança a quem é acolhido. A acompanhar a informação transmitida pela enfermeira, deverá estar disponível um guia de acolhimento com as informações necessárias para facultar à criança e pais, que não só ajudará a enfermeira a expôr as informações, mas também para que as crianças e família possam relembrar o que lhes foi transmitido, porque muitas das vezes não conseguem apreender todas as informações devido à ansiedade da entrada. É também essencial acompanhar os recém-chegados à sua unidade, envolvendo-os e apresentando-os às restantes crianças e famílias, para que se possam todos apoiar nesta situação tão delicada por que passam. Cabe também à enfermeira procurar ultrapassar obstáculos que possam interferir no bom acolhimento, para que este decorra da melhor forma possível (Ferreira e Valério, 2003). Patrícia Pombo Sousa Tavares   .  . 19 .

(38) Acolher Brincando. Efectivamente, e tendo por base Santos (2000) não é possível pensar em hospitalização sem ansiedade, pois só o pensamento de ser hospitalizado causa medo e stress a quem por ele passa. Imagine-se uma criança, com a sua fértil imaginação, com a capacidade de fantasiar acerca do que poderá vir a acontecer…Será então primordial que a enfermeira prepare o mais possível a criança para a hospitalização, com a preocupação de integrar a família, nomeadamente a mãe e o pai, para que possam apoiar a criança nesta experiência bem como para que se sintam mais calmos. É então necessário um duplo acolhimento! Sendo a enfermeira um elemento fundamental na equipa multi-disciplinar, é o profissional que tem a possibilidade de criar laços com a criança e seus pais, desenvolvendo uma relação mais empática com os mesmos, propiciada pelo acompanhamento que proporciona nas 24 horas do dia. Corroboram desta opinião alguns autores (Salgueiro e Martinet citados por Santos, 2000), ao salientar que o acolhimento é considerado um cuidado de enfermagem por excelência, resultado de algumas particularidades e uma grande carga de relação/comunicação, sendo que será esta a responsável pela satisfação do recém-chegado e, consequentemente, pela desdramatização da situação.. 1.3. Preparar a criança para a hospitalização: desmistificar o desconhecido Independentemente da idade da criança e das suas experiências, uma série de condições intrínsecas à própria hospitalização irão influenciar a presença de sequelas, sejam elas mais ou menos importantes (Poster citado por Barros, 2003). Uma dessas condições é, sem dúvida, a certeza que o medo do desconhecido transcende o medo do conhecido, pelo que se reduzirmos os elementos desconhecidos, iremos também diminuir o medo. Consequentemente, as crianças conseguirão direccionar as suas forças para os inevitáveis elementos stressantes inerentes à hospitalização, crescendo com a situação experienciada. (Algren, 2006). Isto acontece porque o provimento de informação objectiva e concreta acerca de situações consideradas stressantes facilita o confronto com as mesmas, “devido à formação de esquemas cognitivos que permitem aumentar o grau de previsibilidade, diminuir o grau de discrepância entre o esperado e o vivido e aumentar a capacidade do indivíduo para compreender e interpretar a experiência” (Leventhal & Johnson citados por Barros, 2003). Patrícia Pombo Sousa Tavares   .  . 20 .

(39) Acolher Brincando. Tendo em conta que as necessidades emocionais possam ser tão emergentes, senão mais, que as necessidades físicas das crianças durante o acolhimento hospitalar, muitas são as estratégias que se tem desenvolvido nos hospitais para ajudar a criança e família a lidar com a mesma. Estas são pensadas pela sua importância na redução dos efeitos psicológicos da hospitalização. Neste sentido, a filosofia emergente do serviço de pediatria deverá enfatizar a criança e família como um todo e atender às suas necessidades sociais, emocionais, espirituais, bem como as físicas (Glasper e Haggarty, 2006). Uma das estratégias defendidas para desmistificar a hospitalização aos olhos das crianças e seus pais, é a preparação para a mesma por parte dos profissionais de saúde. Alguns autores descritos em Mountain, Fallon e Wood (2006) salientam a importância. e. os. benefícios. que. uma. preparação. e. suporte. antes. da. hospitalização podem trazer para a criança, demonstrando que estas lidam melhor com a hospitalização, têm menos problemas comportamentais após a alta e regressam mais rapidamente à escola. É também certo que a idade, o desenvolvimento da criança, experiências anteriores de saúde e doença, bem como o estado emocional dos pais, vão determinar a eficácia da preparação (Dowle & Siddall, 2006). É necessário que se tenha o conhecimento de que, para muitas idades, apenas a informação transmitida verbalmente não é suficiente, tendo em conta as reais capacidades de compreensão e de verbalização das crianças. Para debelar esta situação, será necessário utilizar a brincadeira, livros de histórias, jogos, dramatizações ou fantoches para melhor transmitir a informação desejada e ter a certeza que a criança a apreendeu (Glasper & Haggarty, 2006). Sendo considerada como um direito da criança doente, e ser sobejamente utilizada. pelos. hospitais. pediátricos. americanos,. a. preparação. para. a. hospitalização ainda é uma realidade distante na maioria das Pediatrias do nosso país. (Barros, 2003). É necessário enveredar esforços para esta prática seja comum nos nossos hospitais, demonstrando a eficácia que a preparação tem nas crianças a quem se destina, como forma de apoiar a criança e seus pais aquando da sua passagem pelo hospital. Realço o papel da enfermeira como fundamental neste processo, por ser esta que recebe e acolhe as crianças à chegada ao serviço de Pediatria, pelo que deverá ter conhecimentos que sustentem uma adequada preparação, seja esta anterior à hospitalização, ou no momento do acolhimento. Patrícia Pombo Sousa Tavares   .  . 21 .

(40) Acolher Brincando. Embora muito divulgada na bibliografia pediátrica, não há uma “norma” definida para a preparação para a hospitalização, podendo esta ser pensada e estruturada de. diversas. formas,. seguindo,. é. certo,. alguns. princípios. considerados. importantes, que vamos tentar desenvolver (Algren, 2006). Podemos pensar na preparação de duas formas: aquela que integra o acolhimento de uma hospitalização não planeada (ex: doença aguda) ou aquela que precede uma hospitalização planeada (ex: cirurgia), que evidenciarão diferenças essencialmente em termos de timing e de informação a transmitir. Independentemente do tipo de hospitalização (planeada ou não planeada), as crianças respondem melhor quando estão devidamente informadas acerca do que lhes vai acontecer. Ambas seguirão princípios semelhantes que deverão ser tidos em conta pelas enfermeiras (Montain, Fallon & Wood, 2006): ƒ. Explicar à criança onde irá, o que lhe irá acontecer e o porquê;. ƒ. Ser sempre honesta com as crianças, preferindo transmitir apenas as informações essenciais, pois informação a mais poderá ser prejudicial.. ƒ. A preparação não deve ser feita com muita antecedência; não há unanimidade acerca do momento ideal para esta preparação, mas Algren (2006) sugere uma semana antes para crianças dos 4 a 7 anos, podendo ser mais alargado nas crianças maiores, sendo suficiente um ou dois dias nas crianças mais pequenas;. ƒ. Empregar linguagem simples e facultar explicações claras, adequadas à idade e desenvolvimento da criança;. ƒ. Encorajar a criança a fazer perguntas;. ƒ. Fazer entender à criança que é normal ter medo e encorajá-las a falar acerca dos seus sentimentos.. Hospitalização planeada Este tipo de admissão pode surgir decorrente de alguns diagnósticos médicos, mas essencialmente face a diagnósticos cirúrgicos, normalmente decorrentes da lista de espera dos hospitais. Nestas, a enfermeira encontrará uma criança saudável que evoluirá para uma situação de doença (ou pelo menos de dependência), tendo a possibilidade de, durante a admissão, colocar as questões Patrícia Pombo Sousa Tavares   .  . 22 .

(41) Acolher Brincando. que achar necessário de forma a esclarecer todas as suas dúvidas acerca do que ainda virá (Dowle & Siddall, 2006). São várias as estratégias que podem ser utilizadas no desenvolvimento da preparação para a hospitalização. A maioria das acções traduzem-se em livros, folhetos, filmes, visitas guiadas e demonstrações, individualmente a crianças e seus pais ou em grupo, com o intuito de transmitir informação, preparar e tentar antever os procedimentos e situações pelas quais as crianças irão passar. Estes livros e folhetos escritos e ilustrados podem ser direccionados às crianças, adequados à idade das mesmas, podendo conter histórias de quem já passou pela experiência da hospitalização (Felder-Piug et al, 2003; Mountain, Fallon & Wood, 2006). Com a evolução das novas tecnologias, outra das formas de transmitir informação acerca da hospitalização é através de material audiovisual preparado para o efeito. Alguns dos programas desenvolvidos consistem na apresentação de um vídeo ou powerpoint seguida de uma visita ao serviço onde irão ser admitidas Este percurso faz sentido num serviço de pediatria, contudo assume extrema importância numa hospitalização de cariz cirúrgico, pela necessidade de desmistificar aspectos como a “sala de operações”, a anestesia, etc, como acontece, por exemplo, no “Hospital for Sick Childrens of Toronto” (Glasper e Haggarthy, 2006). Talvez a maneira mais eficaz de preparar as crianças para a hospitalização seja através da brincadeira, pelos conhecidos benefícios que transporta para a criança hospitalizada (discutiremos mais a pormenor no capitulo 3) através de bonecos anatómicos em que a criança tem a possibilidade de perceber alguns aspectos acerca da condição que a assola, como por exemplo, através da explicação do local anatómico do problema, seja ele médico ou cirúrgico. É também importante que a criança experimente alguns dos procedimentos pelos quais vai passar, nomeadamente administrar uma intramuscular, avaliar a temperatura, canalizar uma veia, etc, com o objectivo de fornecer informação e criar estratégias que as auxiliem na diminuição do medo e no confronto com a realidade. É também muito popular entre as crianças representar o papel de médico ou enfermeiro, através de roupas para o efeito, com a utilização do estetoscópio e seringas. Com a apoio da dramatização, com um boneco (que pode ser o seu favorito), a criança tem a possibilidade de expressar os seus medos, ansiedades e agressividade. Patrícia Pombo Sousa Tavares   .  . 23 .

Imagem

Figura 1 - Características da enfermeira pediátrica
Figura 2 - Fases do Cuidar em Pediatria
Tabela 1- Medos e preocupações das crianças em idade escolar
Tabela 2 - Estádios de desenvolvimento na criança em idade escolar  Estágio/  Idade  Estágio  cognitivo  Piaget  Estágio de  julgamento moral (Kohlberg)  Estágio  psicossocial (Erickson)  Estágio  psicossexual (Freud)  IV Fase  da  infância  6-12  anos  Op
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