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MUSEOLOGIA SOCIAL E A POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA EM GOIÂNIA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS

CURSO DE MUSEOLOGIA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS CURSO DE MUSEOLOGIA – BACHARELADO

MUSEOLOGIA SOCIAL E A POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA EM GOIÂNIA

ERIKA BARROS FRANCO

Goiânia 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS

CURSO DE MUSEOLOGIA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS CURSO DE MUSEOLOGIA – BACHARELADO

MUSEOLOGIA SOCIAL E A POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA EM GOIÂNIA

ERIKA BARROS FRANCO

Monografia apresentada como pré- requisito para a aprovação na disciplina Trabalho de Conclusão de Curso, do Curso de Museologia - Bacharelado, da Faculdade de Ciências Sociais.

Orientador: Jean Baptista

Goiânia 2018

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Agradecimentos

Primeiramente agradeço a Deus por sua infinita bondade, por ter me dado saúde para poder ter chegado até aqui;

Ao meu esposo Arthur que esteve comigo em todos os momentos, me apoiou e não me deixou desistir, tirando minhas incertezas e desfazendo minhas angústias. Sem ele eu não teria conseguido;

Aos meus pais Samoel e Alcilene, que sempre me incentivaram e fizeram de tudo para que eu pudesse manter meus estudos mesmo diante das dificuldades. Mãe, pai, essa conquista é nossa!

Ao meu orientador Jean Baptista, que abriu meus horizontes, permitiu que eu enxergasse meu potencial e confiou em mim;

Ao curso de Museologia que me recebeu tão prontamente;

À Universidade Federal de Goiás, que me possibilitou essa alcançar meus objetivos;

Aos membros da banca, que engrandecem a minha passagem acadêmica;

Aos professores do curso, que tiveram paciência mesmo diante de minhas dificuldades acadêmicas e pessoais;

Aos meus colegas, com quem compartilhei muitas alegrias, medos e incertezas.

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Lista de Imagens

Figura 1 - Folha de rosto do livro Museum Wormianum, catálogo do gabinete de curiosidades

do médico e colecionador dinamarquês Olw Worm (1588-1655). ...10

Figura 2 - Museu da Maré resiste e fica...17

Figura 3 - Luta da população em situação de rua por seus direitos ...20

Figura 4 - Localização da Casa de Acolhida Cidadã em Goiânia...22

Figura 5 - Exemplificando as formas de arte da população em situação de rua de Goiânia...27

Figura 6 - Ser visto, mas não enxergado...30

Figura 7 - Intersetorialidade da Política Nacional para População em Situação de Rua...33

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Lista de Gráficos e Tabelas

Tabela 1: População em situação de rua por categoria de idade...23 Gráfico 1: População em situação de rua por região...24 Tabela 2: Tipo de Substância por Frequência de Uso...26

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 6

CAPÍTULO 1: O museu de antes, de hoje e a Museologia Social ... 9

1.1 Das origens do museu...9

1.2 Para se pensar a Museologia Social...11

CAPÍTULO 2: Caracterizando a população em situação de rua ...19

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 32

REFERÊNCIAS ... .35

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INTRODUÇÃO

Esse estudo busca apresentar e discutir possíveis relações entre o campo da Museologia, Museologia Social e a população considerada em situação de rua na capital de Goiás. Goiânia é uma capital relativamente nova, com pouco mais de oitenta anos o que não nos impede de encontrar pessoas morando nas ruas, debaixo das pontes, abandonadas nas calçadas, enfim, completamente desamparadas.

Apresento aqui algumas iniciativas realizadas em outras capitais que se utilizam da Museologia Social para compreender, auxiliar e até mesmo modificar a vida de pessoas em extrema vulnerabilidade e negligenciadas pela sociedade, tendo como ferramenta principal o museu, suas ações educativas e programas que atendem as necessidades dessa parcela da população.

Essa pesquisa traz consigo uma reflexão sobre as relações constituídas entre instituições museológicas e a população que sobrevive da rua e na rua. E tal iniciativa se deu por observar a ausência de atividades e programas desse porte na cidade de Goiânia, que poderia agregar inúmeras oportunidades e reconhecimento a uma parcela da sociedade tão julgada, marginalizada e sobrecarregada de estereótipos.

A proposta surgiu por observar o anseio da população em situação de rua em busca de reconhecimento, valorização pessoal e artística após participar de um evento, o II Seminário Povos da Rua: Políticas Públicas e Emancipação, ocorrido no auditório do edifício-sede do Ministério Público do Estado de Goiás em fevereiro de 2015. Onde o Ministério Público do Estado teve como parceiro o Movimento População de Rua.

Após esse encontro estive em visita à casa de acolhida no setor Campinas, e pude perceber inúmeras fragilidades e deficiências sociais e culturais, surgindo assim questionamentos sobre uma possível relação entre a Museologia e os moradores em situação de rua na cidade de Goiânia.

Boa parte das queixas concentravam-se no âmbito de moradias, segurança e emprego.

Porém, esse grupo sinalizou interesse em sua reinserção na sociedade e sua identificação como parte de um todo, tendo como ferramenta as artes que produziam, sendo elas, a pintura, o artesanato, a música e outras. Com isso podemos sugerir o museu como um mecanismo de inclusão social, utilizando suas ações como um vetor para quebrar paradigmas e vencer obstáculos.

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Desde então, não pude deixar de associar a Museologia com as pessoas vivendo em situação de rua. Pois, não seria o museu, uma casa? Casa de memórias, de esperanças, de perspectivas, de reflexões relacionadas à cidadania, à justiça social e a transformação das realidades vis em novas possibilidades. Tal interrogação e tal resposta constituem a problemática e a hipótese inicial, respectivamente, deste estudo. Desse modo, objetivo geral busca demonstrar um conjunto de possibilidades que se abrem ao campo da Museologia Social quando se associa a questão das pessoas em situação de rua, problematizando, em dois capítulos, sobre o seu papel na sociedade, suas lutas por reconhecimento pessoal e artístico. A pesquisa foi realizada por meio de uma metodologia pautada na revisão bibliográfica, aspectos teóricos, históricos e práticos desta relação.

Ao longo do texto é possível observar as mudanças sofridas pela instituição museu ao longo da história. O texto descreve sobre suas origens, como era visto, “usado” e quais eram as preocupações e o foco dos museus no decorrer dos tempos. Da Grécia Antiga, casa das filhas de Zeus, passando pelas exuberantes coleções da Igreja Católica e também as coleções principescas, alimentadas pelo poder e proibidas ao público em geral, sendo permitidas somente a pessoas de classes abastadas. Todo esse conglomerado de material adquirido com as conquistas, deu origem aos incríveis e abarrotados gabinetes de curiosidades até chegar aos museus como conhecemos hoje em dia.

No primeiro capítulo desse trabalho teremos uma parte mais teórica, concentrada em apresentar o conceito de museus, delinear sobre a Museologia Social e salientar algumas experiências que são desenvolvidas em nosso país com o intuito de tentar diminuir a distância entre as populações em vulnerabilidade social e a educação.

Um exemplo dessas atividades é o programa de inclusão sociocultural – PISC – da Pinacoteca do Estado de São Paulo que busca “promover o acesso qualificado aos bens

culturais presentes no museu a grupos em situação de vulnerabilidade social, com pouco ou nenhum contato com instituições oficiais de cultura.” 1.

Outra ação de suma importância apresentada aqui são as iniciativas do Museu da Maré e o Museu da Favela (MUF). Ambos inteiramente ligados e coordenados pela comunidade em que estão inseridos, realizando trabalhos de valorização da cultura e da identidade.

Trago no texto algumas passagens importantes para entender o que é a museologia social, para o que é voltada e como surgiu, será apresentado aqui os três principais documentos quem amparam esse conceito de Museologia Social, sendo a Declaração de

1 Informação retirada do site da Pinacoteca de São Paulo.

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Santiago do Chile, escrita em 1972; a Declaração de Quebec em 1984 e vinte anos após a Declaração de Santiago do Chile, em 1992 foi escrita a Declaração de Caracas.

Já o segundo capítulo tem características mais pessoais, descritivas e dados de pesquisa. Para desenhar esse capítulo me ampararei no Censo e perfil da população em situação de rua na cidade de Goiânia realizado pelo NECRIVI – Núcleo de Estudos sobre Criminalidade e Violência da Universidade Federal de Goiás, realizado no ano de 2015 e com parceria da SEMAS – Secretaria Municipal de Assistência Social. Neste relatório constam características sobre a população em situação de rua em Goiânia, são dados coletados a partir de uma pesquisa tanto quantitativa quanto qualitativa. Aqui também apresento o MNPR – Movimento Nacional da População de Rua, e toda a sua importância em relação a visibilidade e luta diária dessa parcela da nossa sociedade tão criminalizada, prejulgada e extremamente em estado de vulnerabilidade. Descrevo aqui percepções pessoais observadas durante minha rotinha diária e por fim lanço algumas hipóteses sobre como pode haver um relacionamento e parceria entre os museus da capital e a população em situação de rua de Goiânia.

Após apresentar esses dados coletados tanto através de textos e pesquisas, como também da minha vivência rotineira, faço sugestões de boas práticas que os museus podem passar a adotar em relação a essa população, ajudando-os com o difícil processo de construção de uma identidade e valorização de suas memórias, histórias e suas artes.

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CAPÍTULO 1

O museu de antes, de hoje e a Museologia Social

1.1 Das origens do museu

O desejo de lembrar, de ser lembrado e de construir uma memória é um sentimento intrínseco do ser humano. Essa composição de uma memória rodeia os homens desde os primórdios dos tempos, seja ela passada através da fala, dos desenhos ou da escrita. O museu teve sua origem na Grécia Antiga. Mouseion era considerado a casa das musas, um templo onde viviam as filhas de Zeus. Segundo a mitologia grega, Zeus teve suas nove filhas com Mnemosine a deusa da memória. Cada uma de suas filhas possuíam e representavam um conhecimento e/ou uma arte.

Calíope, a mais velha, possuía a mais bela voz, sendo considerada como a musa da poesia heroica e persuasiva com suas palavras. Clio, era a musa da história e conhecida por sua criatividade. Érato, era a musa do desejo, da poesia erótica e romântica. Euterpe trazia consigo o dom da música – era a musa da alegria. Melpômene, é a musa das tragédias, sempre representada com sua máscara triste. Polímnia, ao contrário de Érato, é a musa da poesia lírica, sagrada e da dança. Terpsícore, bem como Polímnia, também fora agraciada com o poder da dança. Talia, por fim, representava a comédia e era quem despertava as festividades e celebrações, sendo sempre encenada com a máscara que lembra a alegria, em oposição à Melpômene.

Portanto, o templo Mouseion era destinado ao saber, ao conhecimento filosófico, artístico e científico. Conforme Suano (1986, p. 10), “Mouseion era então esse local privilegiado, onde a mente repousava e onde o pensamento profundo e criativo, liberto dos problemas e aflições cotidianos, poderia se dedicar às artes e a ciência”. Esse espaço veio se transformando consideravelmente com o decorrer dos anos, mas sempre foi pensado e descrito como um local de conhecimento, sabedoria, memória e ciência. À medida que os modos de vida, os planejamentos e costumes foram se modificando, o museu se adaptou a esses novos pensamentos, passando por um período sem grande representatividade. Porém, com o passar do tempo, o museu foi agregando características diversas, capazes de implementar suas funções.

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Contudo, a ideia de colecionismo só começou a ganhar espaço por volta do século XV.

Esse período foi marcado por inúmeros progressos. Um dos mais importantes foi a expansão marítima europeia, que surgiu com um grande interesse em conquistar “novos mundos”. Essa época é considerada como um ponto de transição da idade média para a idade moderna. Até então as coleções da Igreja Católica e as coleções principescas, que por sua vez eram vetadas ao público geral, eram o auge do colecionismo europeu. Mas as grandes conquistas do Novo Mundo precisavam ser apresentadas e exibidas como troféus para a sociedade europeia, nascendo assim os gabinetes de curiosidades. Pode-se dizer que esses gabinetes de curiosidades são os antecessores dos museus tal o qual conhecemos hoje.

Figura 1 - Folha de rosto do livro Museum Wormianum, catálogo do gabinete de curiosidades do médico e colecionador dinamarquês Olw Worm (1588-1655)2.

Na atualidade, esse mesmo ambiente hoje especificamente definido como museu possui noções bem argumentadas e fundamentadas. O International Council of Museums - ICOM (em português Conselho Internacional de Museus) define o museu como:

[...] instituição permanente sem fins lucrativos, ao serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público, que adquire, conserva, investiga, comunica e expõe o património material e imaterial da humanidade e do seu meio envolvente com fins de educação, estudo e deleite (ICOM, 2013, p.

64).

2 GOLDSTEIN, Ilana. Reflexões sobre a arte "primitiva": o caso do Musée Branly. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 14, n. 29, p. 279-314, jan./jun. 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ha/

v14n29/a12v14n29.pdf>. Acesso em: 24 de junho de 2018.

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O Museu passou então de um ambiente voltado para sanar as curiosidades a respeito do mundo em descoberta, e apresentar objetos diferente oriundo de locais distantes, para um espaço de busca do saber e produção de conhecimento.

O museu é detentor de um poder de transformação que muitas vezes a sociedade não consegue enxergar

...é através da musealização de objetos, cenários e paisagens que constituam sinais, imagens e símbolos, que o Museu permite ao Homem a leitura do Mundo. A grande tarefa do museu contemporâneo é, pois, a de permitir esta clara leitura de modo a aguçar e possibilitar a emergência (onde ela não existir) de uma consciência crítica, de tal sorte que a informação passada pelo museu facilite a ação transformadora do Homem. (MENESES, 1992, p.08).

Para se lembrar, é também preciso esquecer. Essa controvérsia somente faz sentido partindo do pressuposto de que não é viável e muito menos possível salvaguardar todo e qualquer tipo de memória. O processo de criação da memória é algo extremamente seletivo.

Ele é permeado por inúmeros recortes e escolhas que fazemos constantemente, conscientemente ou não. Quando levamos essa discussão para o campo da Museologia, devemos levar em consideração os mais variados critérios para avaliar o que deve ou não ser preservado e musealizado. Questionamentos sobre quais “histórias” devem ser lembradas, em detrimento de outras, fazem parte do cotidiano do museu, de seus profissionais e frequentadores diários; ou pelo menos era assim que deveria ser. Na prática, os registros e os espaços do museu ainda são destinados em sua maior parte – para não dizer em totalidade – a classes mais privilegiadas.

1.2 Para se pensar a Museologia Social

Nessa altura de nossa discussão, apresento o conceito de “Museologia Social”, que pode ser definido de algumas maneiras, mas que aqui será representado como uma Museologia mais igualitária e democrática. Moutinho (1993, p. 7) define que “o conceito de Museologia Social, traduz uma parte considerável do esforço de adequação das estruturas museológicas aos condicionalismos da sociedade contemporânea”. Pode-se dizer que a Museologia Social deu seus primeiros passos após os anos 1960 e ganhou visibilidade com o surgimento da Declaração de Santiago do Chile, em 1972. Esse documento foi de suma importância para o desenvolvimento da função do museu. Nele encontramos o alicerce de

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uma museologia mais “humanizada” e acessível. Dentre várias citações possíveis de se fazer a respeito desse documento ressalto as três primeiras resoluções abordadas na Declaração:

[...] 1º. Que os museus considerem a possibilidade de incorporar outras disciplinas, além daquelas nas quais se especializam, com vistas a promover uma maior conscientização do desenvolvimento antropológico, socioeconômico e tecnológico dos países latino-americanas, recorrendo aos serviços de consultores para esse fim.

2º. Que os museus intensifiquem seu trabalho de recuperação do patrimônio cultural, conferindo-lhe uma função social para evitar sua dispersão fora da região da América Latina.

3º. Que os museus tornem suas coleções amplamente acessíveis a pesquisadores qualificados e, na medida do possível, a instituições públicas, religiosas e privadas3.

Já nesse período – digo por que estamos falando do ano de 1972 – buscava-se programar na rotina dos museus ações que os deixariam mais próximos da comunidade onde estivessem inseridos. O próprio documento é na verdade um conjunto de recomendações objetivando uma ponte entre museu e sociedade, como observamos, “O museu é uma instituição a serviço da sociedade, da qual é parte integrante, e que traz consigo os elementos que lhe permitem participar da formação da consciência das comunidades que atende”

(DECLARAÇÃO DE SANTIAGO, 1972).

Posteriormente a essa reunião, outro documento se juntou para reforçar os propósitos em 1984, que foi a Declaração de Quebec. Sua finalidade era reafirmar os acordos da Declaração de Santiago e também consolidar as ações dos museus comunitários, ecomuseus e outras “instituições” que ganharam espaço nesse período de tempo. Assim apresenta-se na Declaração:

[...] Este novo movimento põe-se decididamente ao serviço da imaginação criativa, do realismo construtivo e dos princípios humanitários defendidos pela comunidade internacional. Toma-se de certa forma um dos meios possíveis de aproximação entre os povos, do seu conhecimento próprio e mútuo, do seu desenvolvimento cíclico e do seu desejo de criação fraterna de um mundo respeitador da sua riqueza intrínseca.4.

3 DO CHILE, 1972, Declaração. DECLARAÇÃO DE SANTIAGO DO CHILE, 1972, p.118. Disponível em:

<http://www.ibermuseus.org/wp-content/ uploads/2014/09/Publicacion_Mesa_Redonda_VOL_I.pdf >. Acesso em: 26 de junho de 2018.

4 DE QUEBEC, 1984, Declaração. DECLARAÇÃO DE QUEBEC, PRINCÍPIOS DE BASE DE UMA NOVA MUSEOLOGIA, 1984. Cadernos de Sociomuseologia, [S.l.], v. 15, n. 15, june 2009. ISSN 1646-3714.

Disponível em: <http://revistas.ulusofona.pt/index.php/cadernosociomuseologia/article/view/342>. Acesso em:

26 de junho de 2018.

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Tanto um como outro enfatizam as ideias de um museu mais inserido na comunidade onde ele se encontra. Um museu sendo observado e usado como ferramenta disponível e a serviço da sociedade em geral. A Museologia Social entra no museu quebrando paradigmas e o desmistificando-o como um local elitizado e segregador. O museu passa então a ser meu, seu, nosso museu.

Vinte anos após a Declaração de Santiago do Chile, aconteceu um encontro na cidade de Caracas, na Venezuela onde também foi produzido um documento com o intuito de fazer uma releitura Declaração de 1972 adequando-o a realidade atual.

A inserção de políticas museológicas nos planos do sector de cultura.

Tomada de consciência do poder decisivo que esta tem para o desenvolvimento dos povos.

Reflexão sobre a acção social do museu. Análise das proposições teóricas em torno dos museus do futuro.

Estratégias efectivas para captação o controle dos recursos financeiros.

Suportes legais e inovações de organização dos museus.

O perfil dos profissionais para as instituições musco1ógicas.

O museu como inicio de comunicação5.

Essa visão amplificada das potencialidades e funcionalidades do museu não pode ficar somente em documentos oficias, em registros idealizadores de como esse espaço deve ser. Ela tem que ganhar vida, voz, cor e diversidade. Se o museu é um espaço para todos, isso engloba também uma parcela da sociedade muito marginalizada, criminalizada e praticamente invisível da nossa sociedade. Esses adjetivos – se é que podemos considerar dessa forma – relatam um não-público dos museus: a população em situação de rua. Infelizmente, é possível afirmar que o mais perto que essas pessoas chegaram de um museu são as marquises e calçadas dos prédios, quando não são impedidas de permanecer ali de forma truculenta e humilhante. Se perguntarmos a essas pessoas em situação de rua se o museu as representa, indiscutivelmente elas irão dizer que não. Pois suas histórias e memórias não estão contadas ali e todos os conhecimentos aglomerados nesses locais não estão acessíveis. Mas quem disse que o museu não é lugar dessas minorias?

Antes de expandir nossa conversa, é preciso delinear um pouco mais a respeito das concepções de um público e um “não-público” de museus. Houve uma extensão completamente considerável ao que nomeávamos como público. Podemos dizer que

5 ICOM, 1992, ICOM. DECLARAÇÃO DE CARACAS - ICOM, 1992. Cadernos de Sociomuseologia, [S.l.], v.

15, n. 15, june 2009. ISSN 1646-3714. Disponível em: <http://revistas.ulusofona.pt/index.php/

cadernosociomuseologia/article/view/345>. Acesso em: 26 de junho de 2018.

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anteriormente o público seria somente aquele visitante, interessado em determinada exposição ou atividade do espaço museal.

O público de museus hoje pode ser definido como aquele frequentador do espaço, das rotinas, e que participa ativamente das atividades propostas pelo museu, ou seja, possui um relacionamento com o espaço. Esse público específico já é considerado como parte integrante do museu. Existe então um público em potencial, que são aqueles que as instituições possuem capacidade para atingir, sendo por meio de ações educativas com alunos da rede formal, capacitando professores ou agregando mais a comunidade em sua volta.

Em relação à população em situação de rua, eles se enquadram no que é chamado de não-público. Isso porque o morador em situação de rua não possui o hábito de estar nessas instituições, participar de oficinas, palestras ou até mesmo visitar uma exposição. Não podemos culpa-los ou simplesmente afirmar que é falta de interesse. Podemos infelizmente afirmar que o preconceito social os impede de realizar atividades assim. A não representação cria uma barreira e gera um sentimento não pertencimento a esses locais. O medo de não ser aceito, e também de não entender a proposta das exposições e atividades é um impeditivo para dar o passo adiante.

Trago-lhes nesse momento um trecho de um dos documentos mais importantes produzidos, o Artigo 1º da Declaração Universal dos Direitos Humanos, para fazermos uma reflexão sobre a igualdade e respeito ao próximo:

Artigo 1º. Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade 6.

Infelizmente não é isso que observamos quando o assunto são pessoas em vulnerabilidade social, as pessoas em situação de rua desconhecem o que é ter direitos e muito menos o que é viver com dignidade.

Quando fazemos um em abordar somente essa parte da população em situação de rua, encontramos diversos artistas. É muito comum nos depararmos nas esquinas das ruas e grandes avenidas com pintores, escultores, malabaristas, artesãos, músicos e tantos outros.

Muitas vezes a saída encontrada por eles para ganhar algum ganho monetário e desenvolver obras de arte, muitas delas de material reciclado. Tiram dali diariamente o pouquinho para se alimentar. Daí surge uma questão: por que artistas assim não possuem espaço dentro de

6 Declaração Universal dos Direitos Humanos. Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0013/

001394/139423por.pdf >. Acesso em: 17 de novembro de 2015.

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nossos museus? Suas artes e suas técnicas têm menos valor do que a de artistas famosos? O museu é pensado para servir a sua comunidade como um todo, sendo assim é preciso reformular as atividades dos museus e readequá-las para receber esse não-público e reconhecendo-o como produtor de arte, memória e conhecimento.

Acredito que a primeira atitude a ser tomada é quebrar os estereótipos de que o museu é um espaço fechado a novas ideias e novos desafios. Em contextos históricos o museu já pode ter sido um local de acesso mais restrito, mas felizmente essa condição vem mudando ao longo dos anos. Atividades bem elaboradas, com um diálogo mais informal e inclusivo, pode ser um pontapé para desmitificar essa característica de um museu frio e inacessível. A partir do momento que houver iniciativas para apresentar o museu e suas potencialidades à população que hoje vive nas ruas, poderemos garantir que esse local também serão deles e que eles poderão e deverão ocupar esses ambientes. Haverá assim uma maior facilidade para aceitar que o museu também é o seu lugar de memória e conhecimento.

Abrir as portas do museu para esses artistas sobreviventes das ruas exporem suas obras seria mais uma forma de demonstrar que os espaços museais estão procurando se democratizar cada vez mais e que são combatentes de todas as formas de preconceito, inclusive o de classe. Em alguns locais esse movimento que pensa em ações educativas para um não-público (e nesse contexto entra certamente a população em situação de rua) já pode ser observado, como por exemplo a Pinacoteca do Estado de São Paulo, fundada em 1905 e voltada para a arte brasileira, é o museu mais antigo do Estado e um dos mais influentes também.

A Pinacoteca do Estado de São está localizada no Parque da Luz, no centro antigo da cidade. Possui diversas atividades voltadas para ganhar os olhares e percepções de pessoas que talvez jamais fossem ao museu, seja por falta de informação ou por achar que eles não se enquadrariam nesses ambientes. Para que isso acontecesse foi necessário pensar em toda uma estrutura e realizar um planejamento voltado para atender as necessidades desse público em potencial.

Dentre as várias ações e programas implementados pela Pinacoteca do Estado de São Paulo, ressalto:

[sic] O Museu para Todos é este espaço virtual alocado no site da Pinacoteca, com jogos, textos e materiais de apoio à prática pedagógica Programas Educativos Inclusivos (PEI) abrangem os programas inclusivos, dedicados ao chamado “não público” do museu, aqueles que não costumam frequentar espontaneamente a instituição

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Programa de Inclusão Sociocultural (PISC) [..]desenvolve a Ação Educativa Extramuros com grupos de adultos em situação de rua, por meio de oficinas de gravura e criação de texto, combinadas com visitas continuadas ao museu.7

As atividades da Pinacoteca do Estado de São Paulo chama atenção com suas interações extramuros:

Com o intuito de aproximar a Pinacoteca daqueles que transitam diariamente em seu entorno, sem, contudo, apropriar-se do museu como espaço público de lazer e conhecimento, em 2008 foram estabelecidas parcerias com a Casa de Oração do Povo da Rua e a Casa Porto Seguro, para a realização de uma ação educativa junto a seus freqüentadores interessados. (AIDAR, CHOVIAT. 2011)

Outro museu que trago para discutir sobre essas mudanças ocorridas é o Museu da Favela (MUF), criado em 2008 por integrantes das comunidades Pavão, Pavãozinho e Cantagalo no bairro de Ipanema na cidade do Rio de Janeiro. Nesse museu [...] “o acervo são cerca de 20 mil moradores e seus modos de vida, narrativos de parte importante e desconhecida da própria história da Cidade do Rio de Janeiro”8. Uma das grandes apostas do MUF foi a produção das “Casas Telas”, onde o exterior das casas dos moradores são utilizadas como grandes telas de pintura, que por sua vez representam o dia a dia daqueles que vivem na comunidade.

Podemos observar claramente qual o objeto e o objetivo do MUF, são as pessoas e a valorização de suas identidades. O MUF vem modificando a largos passos o cotidiano daqueles que vivem nessas comunidades. A vontade de ser representado e valorizado é o que norteia as atividades desse espaço grandioso.

Por fim e não menos importante, eu apresento o Museu da Maré, no Estado do Rio de Janeiro:

[...] fundado no dia oito de maio de 2006, surgiu a partir do desejo dos moradores de terem o seu lugar de memória, um lugar de imersão no passado e de olhar para o futuro, na reflexão sobre as referências dessa comunidade, das suas condições e identidades, de sua diversidade cultural e territorial.9

7 Informações disponíveis em: <http://museu.pinacoteca.org.br/programas-desenvolvidos/>. Acesso em: 26 de junho de 2018.

8 Informações disponíveis em: < https://www.museudefavela.org/> Acesso em: 27 de junho de 2018.

9 Informações disponíveis em: <http://www.museudamare.org.br/index.php?option=com_content&view=

article&id=48&Itemid=54>. Acesso em: 27 de junho de 2018.

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O museu hoje é voltado para o incentivo à educação da comunidade da Maré, dentre as inúmeras atividades, pode-se encontrar oficinas de ballet, artesanato, música e outras. O acervo do Museu da Maré é totalmente variado e tem a finalidade de apresentar a história do Rio de Janeiro na perspectiva dos moradores dessa comunidade. Mario Chagas e Regina Abreu (2007, p. 133-134) definem o Museu da Maré como:

[...] um museu universal, sem perder de vista a sua dimensão nacional e regional e sem deixar de tratar das diferentes localidades da favela, da vida social de mais de 130 mil pessoas e, especialmente, do cotidiano delas, mergulhado em histórias, tradições, festas, esperanças, projetos, sonhos e reflexões diversas.

O Museu da Maré começou como um centro de documentação da comunidade da Maré, e ao longo de sua história passou a ser a representação viva de uma comunidade que batalha por sua representatividade, memória e valorização.

Figura 2 - Museu da Maré resiste e fica.10

São exemplos de museus assim, inseridos na comunidade onde se encontram e com responsabilidade em defender a igualdade, conhecimento e principalmente a valorização das identidades, que a sociedade vem buscando cada vez mais.

Ressalto nessa altura do texto que não necessariamente a população em situação de rua precisa ir ao museu, frequentar esse espaço institucionalizado. O museu pode e deve ir ao encontro dessa população in loco. Estamos falando de uma modernização do conceito de museu e isso engloba afirmar que o museu pode ser em qualquer lugar. O museu pode manter

10 Brasil de Fato. Disponível em: < https://www.brasildefato.com.br/2018/01/25/museu-da-mare- resgata-memoria-da-favela-ha-quase-12-anos-no-rio-de-janeiro/> Acesso em: 18 de julho de 2018

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viva a cultura e o conhecimento seja dentro de um espaço pensado para ser museu ou ali na esquina. O museu tem poder de transformar e alimentar narrativas seja dentro de um espaço histórico, ou no meio da praça no centro da cidade. Porque o museu já não precisa mais ser pensado como apenas um local físico. O museu está dentro de nós, nas nossas percepções, no nosso olhar, em nossas atividades do cotidiano, pois somos os agentes de nossa história e podemos também influenciar a história de terceiros.

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CAPÍTULO 2

Caracterizando a população em situação de rua

Realizando uma observação sobre as situações adversas, extremamente precárias e de vulnerabilidade social em que vivem a população em situação de rua, é impossível não assumir que existe um déficit de atividades e políticas públicas pensadas para essa parcela da nossa sociedade, o que nos faz constatar os quão invisíveis e desrespeitados eles são.

Levando em consideração todas as deficiências no âmbito cultural e também no âmbito social que a população nessa situação está sujeita, seria possível através da Museologia Social, pensar algumas propostas e formas para que o moradores em situação de rua se transformem em agentes da sua própria história, se vejam como protagonistas e participantes da produção histórica, comunitária e social do “ambiente” onde está inserido.

A partir desse momento iremos tentar apresentar e descrever um pouco mais sobre essa população em situação de rua. Trarei algumas pesquisas e percentuais para avaliarmos quantitativamente quem são e como vivem essa população no âmbito nacional.

No ano de 2017 o IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – publicou uma pesquisa que foi realizada em 2015, na qual fazia um levantamento sobre a quantidade de pessoas que viviam em situação de rua no País. O resultado dessa pesquisa foi alarmante, consta que no ano de 2015 cerca de mais de 100 mil pessoas viviam em situação de rua no Brasil.

Marco Antonio C. Natalino (2016, p. 5) afirma de antemão que:

[...] O Brasil não conta com dados oficiais sobre a população em situação de rua. Nem o censo demográfico decenal, nem as contagens populacionais periódicas incluem entre seus objetivos sequer a averiguação do número total da população não domiciliada.

Logo podemos observar que o descaso e a falta de interesse com essa fração da sociedade é algo extremamente visível. Alega-se que essa falta de informação a respeito desses dados é por conta da dificuldade em aplicar ferramentas de gestão e controle operacional para manter pesquisas constantes em campo, sabendo o quão grande é nosso país – o que afirmo que não é justificativa - e que consequentemente impede a inserção de políticas públicas voltadas para essa situação.

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Em “Estimativa da população em situação de rua no Brasil. Texto para discussão”

apresenta um percentual triste e que deve ser levado em discussão com mais ênfase.

Atualmente em nosso país:

Estima-se que existam 101.854 pessoas em situação de rua no Brasil. Deste total, estima-se que dois quintos (40,1%) habitem municípios com mais de 900 mil habitantes e mais de três quartos (77,02%) habitem municípios de grande porte, com mais de 100 mil habitantes. Por sua vez, estima-se que nos 3.919 municípios com até 10 mil habitantes habitem 6.757 pessoas em situação de rua, (6,63% do total). Ou seja, a população em situação de rua se concentra fortemente em municípios maiores (NATALINO, 2016, p. 27).

Existe no âmbito nacional o MNPR – Movimento Nacional da População de Rua.

Acredita-se que toda a articulação até chegar à criação desse movimento, ocorreu desde meados da década de 1990.

O movimento tem como objetivo trazer visibilidade para aqueles que hoje vivem em situação de rua em nosso país.

Figura 3 - Luta da população em situação de rua por seus direitos Fonte: Imagens extraídas da cartilha do MNPR11.

Em fevereiro de 2015 ocorreu em Goiânia o II Seminário de Povos de Rua nas dependências do Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO). O Estado de Goiás foi o 12º Estado a aderir oficialmente ao movimento. Na ocasião estava presente, representantes do

11 Disponível em: <http://www.direito.mppr.mp.br/arquivos/File/MNPR_Cartilha_Direitos_Conhecer_para_

lutar.pdf>. Acesso em: 01 de julho de 2018.

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Movimento População de Rua e de integrantes do Ministério Público como, o Procurador Geral de Justiça Lauro Machado Nogueira.

O evento contou com diversas apresentações culturais, dentre elas o cantor de Rap Rafael Teixeira. Sua ligação com as pessoas em situação de rua é inteiramente profunda.

Durante sua apresentação, as emoções tomaram conta de todo o auditório, pois ali se encontrava diante das pessoas, um ex-integrante das ruas. O músico viveu boa parte de sua infância e adolescência sem moradia. Quando não estava literalmente dormindo nas calçadas e becos, vivia em abrigos temporários. Foi através da música e de suas letras sobre a sua luta e a luta de seus companheiros, que o cantor conseguiu sair das ruas e hoje participa ativamente dos movimentos por direito à moradia e a visibilidade das pessoas que ainda se encontram nessas condições de vulnerabilidade social.

O presidente que assumiu o Movimento População de Rua em Goiás também é ex- morador de rua, e hoje atua lado a lado com aqueles que ainda sonham em sair dessa situação crítica e desumana.

Durante esse evento, foi entregue ao Ministério Público do Estado de Goiás uma lista com algumas reivindicações a serem atendidas no intuito de melhorar a vida de quem está na rua. Dentre várias, encontrava-se um pedido para melhoria da Casa de Acolhida Cidadã.

Instituição mantida pela Prefeitura de Goiânia e que se encontra em estado de periculosidade para quem depende dela.

Localizada na região do setor Campinas, a Casa de Acolhida é um espaço destinado a abrigar temporariamente pessoas em situação de rua. No ano de 2015 tive a oportunidade de visitar a instituição na companhia de pesquisadores do NECRIVI12 e presenciei a falta de segurança e de comodidade das instalações da instituição. Minhas impressões como investigadora é que haja mais investimento e cuidado com os moradores que se encontra lá, para que seja possível manter o mínimo da dignidade desses que já são tão esquecidos pela sociedade. Esse local é procurado por aqueles que buscam um teto para dormir. Durante minha visita constatei que a casa é dividida por andares e que cada andar correspondente era composto por homens, mulheres e até famílias inteiras vivendo ali.

12 Núcleo de Estudos Sobre Criminalidade e Violência. Universidade Federal de Goiás.

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Figura 4 - Localização da Casa de Acolhida Cidadã em Goiânia Fonte: Google Maps, 2018

Muitos dos que vivem na Casa de Acolhida passam o dia nas ruas, procurando emprego, catando material reciclado ou então pedindo dinheiro pelas ruas da capital e no final do dia voltam para garantir ao menos um teto sob suas cabeças durante o período da noite.

Além da Casa de Acolhida, Goiânia também conta com o “Complexo 24 Horas” - destinado a crianças e adolescentes em situação de risco social. Além de 16 CRAS (Centros de Referência de Assistência Social) e 5 CREAS (Centros de Referência Especializados de Assistência Social).13

Para nos auxiliar nessa descrição sobre os perfis dos moradores em situação de rua na cidade de Goiânia, nos apoiaremos bastante na pesquisa realizada em 2015 pelo Núcleo de Estudos Sobre Criminalidade e Violência. Universidade Federal de Goiás. Essa pesquisa é uma parceria com a SEMAS (Secretaria Municipal de Assistência Social) e nos ajudará entender melhor sobre a população em situação de rua de Goiânia, quais os números, o perfil, idade e outros.

Segundo esse relatório, foram mensuradas 351 pessoas vivendo em situação de rua em Goiânia. Vale ressaltar que existe certa dificuldade em definir quem são os que estão em situação de rua, pois infelizmente encontramos pessoas em vulnerabilidade social catando recicláveis, ou fazendo o uso de entorpecentes que não necessariamente estão vivendo nas ruas.

Para começar a caracterizar essa população, trago uma informação a respeito da faixa etária desses que foram contabilizados em nossa capital:

13 NECRIVI – Censo e perfil da população em situação de rua na cidade de Goiânia, 2015.

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Fonte: Necrivi, 2015.

É possível observar que a maioria é composta por adultos e o relatório nos afirma que desses, 59,5% se encontram nas ruas e 40,5% estão temporariamente vivendo em abrigos.

Ainda caracterizando quantitativamente, essa população é composta em 80,6% por homens, 17,9% por mulheres e 1,4% não quiseram se definir.

Durante a pesquisa foi perguntado aos entrevistados se eles tinham profissões e a grande maioria (cerca de 81%) disseram que sim. “As principais respostas entre os homens foram pedreiro ou ajudante de pedreiro, serviços gerais, pintor e mecânico; entre as mulheres foram cabeleireira, doméstica, vendedora e manicure” (p. 25).

Esse estudo nos aponta inúmeros dados, porém um dos que mais me chamou atenção é o percentual apurado de quanto tempo essas pessoas estão vivendo nas ruas em Goiânia. Mais da metade delas alegou estar vivendo nas ruas da capital ha menos de um ano nessas situações. O relatório então nos faz deduzir que o aumento de pessoas em situação de rua em Goiânia, é algo relativamente recente.

Um outro dado extremamente relevante – para não dizer o principal - para nossa discussão é a localização dessa população em situação de rua. Analisaremos o gráfico a seguir:

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Gráfico 1 – População em Situação de Rua por Região

Dos dados tabulados nessa pesquisa do NECRIVI, é possível observar que a grande maioria, quase a metade da população em situação de rua se encontra vivendo na região central de Goiânia. Afirmo que essa pode ser a informação mais importante para nossa discussão porque é exatamente nessa região da cidade que se encontram a maior aglomeração de museus de Goiânia, sendo eles:

 Museu da Imagem e do Som-MIS|GO

 Museu Goiano Professor Zoroastro Artiaga

 Casa Museu Pedro Ludovico Teixeira

 Museu de Arte de Goiânia-MAG

 Centro Cultural Cora Coralina

 Museu da PUC

 Museu Antropológico-UFG

 Museu Aberto de Esculturas

Observando esse ponto específico, aproveito já nessa altura do texto para fazer começar a levantar questionamentos sobre a falta de iniciativas dos museus para com essa

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população. No setor Universitário, por exemplo, onde se localiza o “Museu Aberto de Esculturas” na Praça Universitária, é um espaço utilizado por eles como um ponto para dormir, passar o dia, fabricar artesanato ou até mesmo fazer uso de entorpecentes. Não observei ou obtive relatos de ações educativas para incentivar o conhecimento ou instigar a curiosidade sobre esse local, sua história e a história dos artistas que ali confiaram suas obras.

Infelizmente essas pessoas “vivem” em um local de memória e história, porém, o conhecimento não é de fácil acesso para eles.

Todos os dias indo para o trabalho, passo pela Praça Cívica, região central de Goiânia.

E todos esses dias me deparo com a cena que mencionei no início do texto. O mais perto que essa população consegue chegar dos museus, são as marquises e calçadas dos mesmos, se escondendo do frio, da chuva e sempre com a esperança de não sofrer violência naquela noite.

Respaldando-me no documento mais importante de nosso País a Constituição Federal de 198814, diz que um dos fundamentos do Estado Brasileiro é a garantia da dignidade da pessoa humana (art. 1º, inc. III), no artigo 3º, incisos de I ao IV, o documento alega que tem como dever construir uma sociedade livre, justa e solidária; que possa garantir o desenvolvimento nacional, e que objetiva erradicar a pobreza e a marginalização social;

reduzindo assim as desigualdades sociais e regionais e promovendo o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

No ano de 1993, mais precisamente em 7 de dezembro de 1993 foi promulgada a Lei 8.742, a LEI ORGÂNICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL (LOAS)15, que destaca que os municípios necessitam executar os projetos de enfrentamento da pobreza, atender às ações assistenciais de caráter de emergência dentre outros.

Então, observando e analisando esses dados, questiono de que forma a sociedade pode auxiliar na garantia desses direitos? Quando tratamos dessa parcela da nossa sociedade tão subjugada e esquecida, tendo como uma das ferramentas disponíveis de mudança todo o potencial do museu e de suas ações? Mas até o presente momento falamos de estatísticas, de dados e levantamentos, leis, mas quem são e o que fazem esses moradores em situação de rua? Quais são questionamentos e suas reivindicações?

Quando afirmo que a população em situação de rua é invisível aos nossos olhos me refiro a uma “cegueira” seletiva. Ao sairmos de casa para realizar alguma atividade na cidade,

14 Constituição Federal do Brasil, 1988. Disponível em: <http://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/2>. Acesso em: 03 de julho de 2018.

15 Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/

L8742compilado.htm> Acesso em: 03 de julho de 2018.

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sempre nos deparamos com pessoas vivendo nessas condições precárias e desumanas, mas, infelizmente estamos nos acostumando com cenas dessa magnitude. Nosso olhar automaticamente se blinda ou então reproduzimos algo que está no inconsciente coletivo, achamos que todo “morador de rua” é só um drogado, um bêbado, um possível bandido e que está vivendo dessa forma porque quer.

Lamentavelmente vivendo dessa maneira, essas pessoas estão suscetíveis em maior nível ao consumo de drogas lícitas e ilícitas, e sem um acompanhamento social e de saúde eficaz e contínuo, eles são dominados pelo vício que se transforma em refúgio para evitar o seus problemas e a triste vida que levam. Abaixo se encontra parte do estudo mais recente em Goiânia em relação a esse consumo, como aponta o NECRIVI:

Tabela 2: Tipo de Substância por Frequência de Uso

Mas é preciso educar nossos pensamentos e tentar ir além desses dados e de nosso preconceito. Não podemos generalizar e afirmar que todos são da mesma forma. Durante o primeiro Seminário de Povos de Rua de Goiânia que aconteceu nas dependências do Ministério Público do Estado de Goiás, me chamou atenção a quantidade de arte espalhadas pelo auditório. Os palestrantes dividiam o palco com lindas pinturas representando a vida, os desejos, sonhos e as dificuldades cotidianas dessa população. Chamavam também atenção as esculturas feitas de material reciclado e o artesanato compondo brincos, colares, pulseiras e demais acessórios. Também foi possível assistir uma apresentação musical de um jovem rapper, vindo das ruas e que hoje usa sua voz para narrar as dificuldades e a luta diária de quem sobrevive na rua.

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Ali ficava visível para mim o talento investido nessas artes, talento esse, que nasceu com esses indivíduos ou que foi adquirido seja por força de vontade ou por obrigação para garantir o que comer no dia seguinte.

Partindo dessa observação e aglomeração de informações foi que o questionamento sobre a falta de relação dos museus com a população em situação de rua ganhou espaço. Os museus são espaços de construção de memória, história, artes, educação e afirmação de identidade. Então é correto afirmar que os museus deveriam estar preparados, ou ao menos deveriam pensar em como contribuir para a valorização da cultura e disseminação do conhecimento com os “moradores de rua”. Se os museus são meus, seus, nossos; os museus também são deles.

Figura 5 - Exemplificando as formas de arte da população em situação de rua de Goiânia.

Fonte: Imagens públicas retiras da rede social Facebook.

Durante todo o Seminário que ocorreu nas dependências do Ministério Público houve inúmeras reivindicações. As principais eram de se esperar sobre melhoria de vida, moradia, trabalho e por fim - não menos importante - eles reivindicavam reconhecimento e visibilidade.

Desse ponto em diante que me surgiram esses questionamentos sobre possíveis relações dos museus e a população em situação de rua de Goiânia.

Após as imensas transformações que o museu sofreu em relação a sua função social, ele vem gradativamente se estruturando para conhecer melhor o seu público e “cativar” aquele

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que poderia se transformar um público em potencial, assim dizia Studart (2007 apud RANGEL, 2013, p. 63): “Os trabalhadores dos museus no século XXI terão como desafio potencializar o papel educativo dessas instituições no desenvolvimento da sociedade e enfatizar seu papel social num mundo cada vez mais globalizado e desigual”.

Apoiando-me em todos esses levantamentos, a partir desse momento começo uma reflexão e permito-me tentar sugerir boas práticas que os espaços museais podem adotar para integrar suas atividades a essa população que sobrevive nas ruas da capital.

Como mencionei no final do capítulo anterior, não acredito que os museus ou espaços semelhantes necessitam serem espaços fechados, com sede fixa, paredes e portas. Pensando exclusivamente nessas pessoas quem moram nas ruas, abordá-los querendo levá-los para dentro do museu, talvez não seria a melhor performance para conquistá-los e convencê-los de que o museu é um espaço destinado a todos e inclusive eles. Antes de qualquer coisa é preciso que a sociedade entenda que não pode haver discriminação por aspecto nenhum e que tudo deve estar ao alcance de todos.

Para não gerar um impacto e possivelmente uma rejeição é necessário pensar o museu como um ambiente neutro e disposto a se adaptar as mais diversas condições. É possível planejar ações educativas moldáveis à realidade das ruas, mas porque não pensar essas atividades nas ruas? Muito se fala em um museu de portas abertas para atender a sociedade e a comunidade em que estão inseridos, mas e se não houvesse portas e paredes? Primeiramente, ao invés de levar a população em situação de rua aos museus, é preciso apresentar a eles esses espaços e suas atividades em sua realidade, ou seja, é de suma importância migrar as ações educativas e atividade dos museus para as ruas.

São nas ruas, nas esquinas e debaixo das marquises que essas pessoas sobrevivem, então são nesses ambientes que elas precisam passar a ser enxergadas. Só assim deixaremos essa “cegueira seletiva” de lado e vamos começar a observar o quão difícil é a realidade e a potencialidade desses moradores.

O museu de hoje é bem mais que local de história, de exposição ou como é pejorativamente “local de coisa velha”, os espaços museais são hoje ferramentas de construção social e visibilidade.

É possível ver hoje o museu não como o resultado de ações anteriores, e sim como propagador e desenvolvedor.

[...] o museu e seu patrimônio representativo podem participar e atuar como um importante instrumento de inclusão social, através da inclusão cultural, tendo a cultura como forma de encantamento e de reforço não só dos valores

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bem como da própria identidade do indivíduo e o museu, como vetor deste processo inclusivo (GOMES; CUNHA, 2013, p. 62).

Sendo assim, minha primeira sugestão a o que tange essas boas práticas dos museus para com essa parcela de nossa sociedade, seriam ações educativas in loco. O museu ganhando espaço na vivência e cotidiano dessas pessoas, o museu saindo de suas dependências, se libertando das comodidades, o museu sendo a rua.

Os museus precisam se desvincular mais e se desprender dos ambientes, expandindo suas potencialidades para alcançar mais “expectadores” transformando-os em agentes sociais.

Não basta somente abrir as portas dos museus, se todo o conhecimento, a educação, as atividades não passem muros a fora. Antes de tudo é preciso ir para as ruas, se apresentar, mostrar que os museus podem ser vivos, com ideias contemporâneas, abertos ao diálogo, às sugestões e principalmente aberto às mudanças. Mas para que isso seja possível é imprescindível o apoio e políticas públicas que consolidem essas práticas.

Voltando ao foco desse trabalho, que é a população em situação de rua, os primeiros passos a serem dados é levar as ideias dos museus, como a valorização da identidade e construção cultural ao seu cotidiano. É planejar e pensar em educação in loco e em uma linguagem acessível. Desmistificar conceitos de exposições e práticas expositivas e adaptá-las a essa realidade.

Porque não realizar “exposições” utilizando a arte que eles mesmos produzem?

Grande parte desses moradores que se encontram nas ruas, produz algum tipo de arte. Muitos realizam pinturas diversas, outros colhem material reciclável e fabricam esculturas para decorarem seus “lares”, muitos deles aprenderam o ofício do artesanato e conseguem o pouco dinheiro para se alimentarem fazendo pulseiras, brincos, colares, anéis e afins. Porque não expor esses objetos ali mesmo onde são pensados e fabricados?

Em Goiânia, no ano de 2012, o Museu Antropológico da Universidade Federal de Goiás realizou uma exposição denominada “Ocupe o Museu memórias de Goiânia”, onde o principal objetivo era trazer para o Museu Antropológico as memórias e as histórias de Goiânia sobre a perspectiva dos moradores que viviam e ainda vivem nos arredores do museu.

A concepção dessa exposição chama atenção desde a forma da “pesquisa” para a sua elaboração. “Na ocasião foram levantadas diversas possibilidades, sobressaindo a proposta de aproximação/ interlocução com o chamado não-público, isto é, aqueles que não frequentam o MA16”(CÂNDIDO,LIMA.2014,p.4).

16 MA leia-se Museu Antropológico.

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Essa iniciativa pode ser repetida, mas com o objetivo de atingir a população que hoje vive nas ruas de Goiânia, nas praças da cidade e debaixo das marquises. Usar o Museu Antropológico, por exemplo, como um mecanismo de visibilidade no sentido de mostrar para os habituais frequentadores desse espaço e bem como a cidade de Goiânia, que existe no âmbito desses moradores, inúmeros artistas que se escondem atrás de suas dores, do preconceito e da falta de oportunidade para apresentar suas obras, técnicas e talento.

O museu também teria potencial para se tornar em mais um palco em prol das lutas por reconhecimento, políticas públicas e respeito.

Infelizmente vivemos em uma sociedade onde a presença de moradores em situação de rua nos locais privilegiados da cidade causa repulsa e por isso são alvos de políticas higienistas violentas e desumanas, seja por parte do governo ou do comércio local. Essa população é tratada de forma bárbara e agressiva, sendo exposta a mais diversa falta de respeito e compaixão. Nessas horas é que o uso do museu como ferramenta pode diminuir esses impactos, pois o morador de rua não se enxerga como um cidadão. Um trabalho bem elaborado de valorização da identidade e compartilhamento de ideias podem talvez ajudar a reduzir os danos e o sentimento de não pertencimento a sociedade.

Figura 6 - Ser visto, mas não enxergado.

Fonte: Charge retirada do Blog da Vanessa Fontana – Ciência Política &Política & Direito

Acredito que com determinadas práticas e uma abordagem pacífica e respeitosa, essa população aceitaria de bom grado essas intervenções e as enxergariam como um auxílio na luta por seus direitos. Ressalto que essas intervenções não podem, de jeito algum, aparecer de modo intrusivo e com vistas de superioridade por parte dos agentes dos museus. Essas

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atividades precisam ser bem pensadas e elaboradas juntamente com a população em situação de rua. Pois é ela que vai determinar qual faceta de suas vidas, quais questionamentos, quais lutas e reivindicações ela quer que seja apresentada. Só assim será possível discutir sobre a visão de mundo que essas pessoas possuem e o que podemos fazer como sociedade para mudar essa situação.

A participação ativa dos museus como agente de mudança em relação a luta da população em situação de rua, pode ser dividida até então em duas partes.

A primeira como mencionada acima, é a migração das atividades dos museus para as ruas. Se o museu é um órgão, uma ferramenta à sociedade então ele deve estar presente onde a população necessita.

Em um segundo momento, já é possível pensar em atividades e ações educativas com a população em situação de rua, nos museus e centros culturais. Realizar visitas guiadas para que eles possam conhecer os espaços musealizados, as propostas e as infinitas possibilidades que esses locais podem proporcionar.

Após um período de adaptação com os profissionais dos museus, e entendendo que o museu também é seu lugar, as pessoas em situação de rua podem se apropriar desses espaços e usá-los como apoio na luta diária por uma vida melhor.

Perez de Cuellar(1996 p.35) afirma que:

Los museos devem ampliar sus funciones. Especialmente em nuestrs ciudades, deben representar el saber, la experiência y las prácticas de todos los que contribuyen a la dar a las ciudades uma dimensión humana. También deben promover la participación de toda la comunidade em su política y actuación.

Os museus necessitam estar abertos e preparados para expor obras de arte, relatos de vidas, lutas e conquistas de um grupo extremamente necessitado de ser ouvido, compreendido e aceito.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo tenta realizar uma abordagem sobre os campos da Museologia e como essa ciência e todas as suas ações podem se interligar com movimentos em prol da população em situação de rua.

À priori possa parecer uma ligação um tanto improvável ou até mesmo impossível, porém é possível ver através desse texto que o museu é muito mais do que lugar de história, de objetos antigos, de coisa velha.

Os museus, espaços musealizados, centros culturais e instituições afins são ambientes que não só podem, mas devem produzir conhecimento, levantar discussões, debater sobre igualdade, respeito, mudanças e ser acima de tudo um espaço democrático.

Mensurar o quão abrangente é os significados dos museus seria complicado fazer em tão poucas páginas, pois são vastas as aplicações do papel social e funcional que ele possui.

Mas há um motivo de delimitar meu escopo a uma fração praticamente invisível de nossa sociedade.

Apenas quando paramos para escutá-los, compreender seus anseios, dúvidas e reivindicações, é que passa a ser possível entender que eles são muito mais que apenas pessoas vagando pelas ruas, pedindo esmolas ou que se acostumou a estar ali.

Muitos deles são pais de família que não tiveram outra opção a não ser viver – sobreviver – nessas circunstâncias.

O artigo 6 da Declaração Universal dos Direitos Humanos17 garante que todo ser humano tem o direito de ser reconhecido como pessoa, sem nenhuma discriminação. Mas infelizmente as pessoas que hoje vivem em situações deploráveis nas ruas não reconhecem a si mesma, muitas delas não sabem ao menos o potencial que possui.

Por isso o comprometimento dos museus para com essas pessoas pode ser um grande auxílio no resgate desse potencial e do auto reconhecimento como ser humano, detentor de direitos, valore e voz.

No texto a ideia principal foi entender, ou melhor, sugerir o museu como um agente direto na mudança de vida e de pensamento da população em situação de rua em Goiânia.

Mas é de valioso e imprescindível ressaltar que o museu sozinho não consegue mudar a realidade dessas pessoas.

17Documento disponível na íntegra em: https://www.unicef.org/brazil/pt/resources_10133.htm.

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Para que haja uma mudança profunda, incisiva e duradoura é preciso um engajamento coletivo. Nenhuma instituição consegue sozinha transformar a vida ou o cotidiano de ninguém. Em relação aos moradores de rua é vital e indispensável políticas públicas e de assistência social que sejam bem elaboradas, consolidadas e efetivas no combate a discriminação, criminalização e desvalorização das pessoas que não estão em certo padrão social dito como normal.

É necessário estabelecer uma integralização de várias áreas com um único objetivo, a melhoria das condições de vida dessas pessoas.

A imagem abaixo descreve a proposta da Intersetorialidade da Política Nacional para População em Situação de Rua:

Figura 7 - Intersetorialidade da Política Nacional para População em Situação de Rua18 Fonte: Cadernos de Orientações do Centro POP

Nessa relação é possível afirmar que o setor que se refere aos museus é o setor voltado para educação, mesmo que ela seja uma educação não formal, ou seja, fora daquela educação padronizada da escola, ela não deixa de ser educação, produção e absorção de conhecimento.

Sabemos que mesmo diante das inúmeras dificuldades muito já foi conquistado por meio de lutas e sabemos que muito mais coisas ainda precisam ser obtidas, o que o

18 Disponível em: <http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/orientacoes_

centro_pop.pdf>. Acesso em: 11 de julho de 2018.

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movimento em prol da população em situação de rua atingiu até hoje é apenas uma ponta do iceberg que precisa ser conquistado.

Mas com uma rede de instituições, movimentos interligados e pessoas dispostas a assumir essas responsabilidades, combater as injustiças e levantar essa bandeira do respeito e amor ao próximo, é possível melhorar consideravelmente as condições de vida dessas pessoas e a maneira como elas irão encarar o mundo e as dificuldades ao longo da sua trajetória.

Afinal:

O respeito ao próximo vai além do, por favor, e obrigada, ele está diretamente ligado á educação. Respeitar é importar-se com o próximo, ter apresso e querer bem. É zelar pela relação que se tem, seja ela qual for. Não precisamos ter parentesco com a pessoa para respeitá-la, basta ter em mente que se trata de um ser humano como nós (Nadia Helena Uller).

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