PUBLICAÇÕES DO MUSEU MINERALÓGICO E GEOLÓGICO
D A
UNIVERSIDADE DE COIMBRA
N.° 14
Memórias
e Notícias
COIMBRA
TIPOGRAFIA DA ATLÂNTIDA
1944
Versão integral disponível em digitalis.uc.pt
Algumas considerações sôbre os aspectos petrográficos da região de Oliveira de Azemeis
Era ainda aluno do curso de Geologia da Universidade de Coimbra, quando, por sugestão do meu Ilustre Mestre Ex.mo Senhor Doutor Anselmo Ferraz de Carvalho, iniciei na região de Oliveira de Azemeis as observações, que reuni neste trabalho, às quais acres
centei algumas considerações sôbre os aspectos petrográficos da mesma região.
No decorrer das minhas observações no campo tenho colhido diversas amostras das variedades litológicas, que constituem o sub
solo daquela região, a maior parte das quais se encontram deposi
tadas no Museu de Mineralogia e Geologia da Universidade de Coimbra.
Este trabalho constitue um sumário, ainda incompleto, sôbre a petrologia de uma região cujo subsolo encerra um recheio metalí- fero de grande importância. O seu estudo que apresentarei num futuro mais ou menos próximo, virá, por certo, trazer algumas conclusões úteis ao fomento mineiro do nosso País.
Referências bibliográficas
A bibliografia, que de um modo mais especial se refere à região cujos aspectos petrográficos são aqui descritos, reune quatro traba
lhos.
Em 1861 foi publicada uma «Memória sôbre o grande filão metalífero, que passa ao nascente de Albergaria-a-Yelha e Oliveira de Azemeis» (1), da autoria de Carlos Ribeiro.
(1) V. Memórias da Academia Real das Ciências de Lisboa — nova série, tomo ii, parte ii.
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Em 1904, Nery Delgado, nas «Contribuições para o estudo dos terrenos paleozoicos», refere-se repetidas vezes à região de Oliveira de Azemeis (1).
Em 1914, Sousa Brandão faz especiais referências àquela região, no «esboço geológico da parte setentrional do precâmbrico do dis
trito de Aveiro» (2).
Mais recentemente, em 1940, Carlos Ereire de Andrade ao fazer o estudo da «geologia dos arredores de Espinho e das Caídas de S. Jorge» (3) estende as suas considerações àquela mesma região.
(1) V. Com. Serv. Geológicos de Portugal, tômo vi.
(2) V. Com. Serv. Geológicos de Portugal, tômo x.
(3) V. Boletim do Museu e Laboratório Mineralógico e Geológico da Univer
sidade de Lisboa, n lS 7-8, 3.a série.
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VISÃO GERAL GEOGRÁFICO-GEOLÓGICA
1 — Uma parte da região de Oliveira de Azemeis encontra-se na zona ocidental da Meseta Ibérica e outra parte na orla ocidental de formações recentes.
Ao observador é fácil verificar que quanto mais nos aproxi
marmos do oceano, que a ocidente banha a região em estudo, mais a altitude vai diminuindo progressivamente até atingir a zona de areias da «Ria» de Aveiro e praias portuguesas.
A zona de maior altitude (elevações que fazem parte da Serra da Freita e da Serra do Arestal) corresponde às formações que a carta geológica de 1899 aponta como pertencentes ao complexo arcaico-precâmbrico; a zona ocidental, de menor altitude, abrange parte de uma formação xistosa daquele complexo e parte da man
cha, que termina em ponta ao norte de Ovar, designada naquela carta pelas letras Cb; aquela mancha está recoberta em certos pon
tos por depósitos pliocénicos e areias de deposição relativamente recente, distribuídas à volta dos braços da «Ria» de Aveiro.
2 — A rede hidrográfica desta região é constituída por um afluente do rio Vouga — o rio Caima—, pelo rio Insua, que lança as suas águas no rio Antuã ou rio Ul, e pelos respectivos sub- -afluentes.
O rio Caima tem a sua nascente nas vizinhanças da serrana aldeia da Mizarela (Arouca), era solo granítico.
Pouco depois do início do seu curso, um salto do seu leito de mais de 60 metros leva as águas do rio a constituir uma magestosa queda de água a que no local dão o nome de «Feixa da Mizarela».
Este salto do rio está situado na zona de contacto do granito com xistos. A água lança-se sobre uma massa de granito, que, tendo irrompido através de xistos, deixou neles bem impressa a sua acção metamórfica, como atestam os numerosos cristais de estauro- lito disseminados na massa xistosa das proximidades da «Feixa».
Afastando-nos para ocidente da «Feixa», os cristais de estaurolito