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Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 29(4):633-635, abr, 2013
Pode parecer óbvio e absolutamente consensual. Muitos podem considerar não ser neces-sário discutir este tema em editorial de CSP, dada a sua clara tradição de independência. Entretanto, como estamos no início de nosso trabalho como Editoras, consideramos im-portante destacar esse princípio que fundamenta o trabalho editorial. Em particular, que-remos apresentar nossa posição no momento em que ocorre a primeira mudança de dire-ção institucional desde que assumimos a editoria de CSP.
Editores científicos são os responsáveis pela qualidade e integridade das publicações em suas revistas. Para que possam realizar a contento suas funções, têm fundamentalmente de desenvolver seu trabalho com competência e independência. Segundo a World Association
of Medical Editors(WAME; http://www.wame.org/resources/policies#independence), “
li-berdade ou independência editorial, implica em que os editores-chefe tenham completa au-toridade sobre o conteúdo editorial de seu revista e sobre o momento de sua publicação”. In-teresses ligados à organização mantenedora não podem influenciar as decisões editoriais. A responsabilidade é a contrapartida do trabalho editorial perante seus financiadores, cuja avaliação de desempenho deve ser orientada por completa transparência de critérios.
A sustentabilidade e a independência das revistas são tão decisivas que o International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE; http://www.icmje.org/ethical_2editor.html) recomenda que o editor tenha acesso direto à alta Direção da instituição mantenedora pa-ra gapa-rantir de forma efetiva a liberdade editorial.
Ameaças à independência editorial incluem o cerceamento à publicação de conteúdo contrário à política da associação científica mantenedora, ou a interesses comerciais, no caso das revistas de organizações privadas. Outra forma mais sutil de ameaça é a pressão para que se favoreça a publicação de manuscritos de determinados autores.
A Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP)/Fiocruz é a entidade man-tenedora de CSP. Cerca de 80% dos recursos financeiros de CSP provêm do orçamento da ENSP. O restante é oriundo de assinaturas e de recursos obtidos do CNPq e FAPERJ. CSP, projeto editorial concebido pela ENSP, ao longo de duas décadas tornou-se motivo de or-gulho para a instituição e para a Saúde Coletiva brasileira. Esse sucesso está calcado em um processo editorial livre e comprometido com o debate científico e a difusão do conhe-cimento, por meio de publicações selecionadas com base no mérito e na relevância social. A independência de CSP se reflete na composição de seu corpo editorial e na diversida-de diversida-de afiliação dos autores. Dentre as atuais Editoras, apontadas para o cargo pelo Diretor da ENSP, uma é professora do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da UFRJ e outra é pesquisadora do Icict/Fiocruz. Os editores associados são filiados a diversas instituições acadêmicas das regiões Nordeste, Sudeste e Sul. E, apenas cerca de um quarto dos autores é filiado a instituições do Estado do Rio de Janeiro, sendo 10% a Fiocruz.
É muito gratificante trabalhar neste ambiente. Mais ainda, é animador reconhecermos nos candidatos à Direção a permanência do comprometimento com a independência edi-torial e com a divulgação científica de qualidade. No momento desta publicação o novo Diretor já será conhecido. Desejamos a ele parabéns e sucesso. E, um próspero futuro ao CSP, publicação científica orientada pelos princípios da independência e do acesso livre.
Independência editorial
EDITORIAL
Marilia Sá Carvalho Claudia Travassos Cláudia Medina Coeli