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obra essencial de Fernando Pessoa POESIA INGLESA edição Richard Zenith tradução Luísa Freire ASSÍRIO & ALVIM

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obra essencial de

Fernando Pessoa

POESIA INGLESA

edição

Richard Zenith

tradução

Luísa Freire

A S S Í R I O & A L V I M

(2)
(3)

Í N D I C E

PREFÁCIO . . . 9

Sobre a Selecção, Apresentação e Tradução dos Poemas . . . 30

Sinais Usados na Fixação do Texto . . . 35

Alexander Search . . . 37

35 Sonnets / 35 Sonetos . . . 153

Antinous / Antínoo . . . 191

Inscriptions / Epitáfios . . . 217

Epithalamium / Epitalâmio . . . 227

The Mad Fiddler / O Rabequista Mágico . . . 257

Outros Poemas (1901-1935) . . . 407

Apêndice — Poemas Franceses . . . 477

Notas . . . 489

Bibliografia . . . 501

Índices de Títulos e Primeiros Versos . . . 505

Na língua original . . . 507

Em tradução para português . . . 509

Í n d i c e 7

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Para explicar por que é que Fernando Pessoa, definitivamente regressado a Lisboa em Setembro de 1905, esperou três anos inteiros para começar a es- crever poesia em português, salta-nos à vista uma razão evidente: toda a sua educação fora, até então, em inglês. Foi precisamente no período de 1905 a 1908 que o jovem poeta leu, finalmente, a literatura nacional a fundo — desde as cantigas medievais até Guerra Junqueiro, Gomes Leal, Teixeira de Pascoaes e outros autores vivos —, adquirindo, deste modo, modelos versifi- catórios adequados à língua portuguesa. Contudo, esta evidência atenua-se quando recordamos que o poeta, na sua adolescência, já se tinha afirmado em língua portuguesa, de forma modesta mas significativa. Os mais de quinze poemas que escreveu em Portugal em 1902, antes e depois do seu 14.º aniver- sário (ver secção Juvenília, em Poesia do Eu) denotam um domínio perfeito da tradicionalíssima redondilha maior e também um bom maneio do decassí- labo e do verso alexandrino. Os sete sonetos utilizaram vários esquemas rimá- ticos no sexteto (aabccb, ababab, abcabc) e as três glosas sobre motes provam que já tinha algum conhecimento da poesia portuguesa.

Era natural que Pessoa, no Outono de 1905 e no início de 1906, escre- vesse a sua poesia na língua que costumava usar em Durban — a inglesa.

O facto de não ter tentado escrever um único poema lírico em português até ao Outono de 1908* só pode dever-se a relutância sua. Esta conclusão torna- -se inevitável à luz das repetidas tentativas que fez nessa altura para escrever versos em francês, uma língua que só conhecia por a ter estudado na Durban High School e no Curso Superior de Letras em Lisboa. Porquê tanta resistên- cia a versejar na língua materna, em que já tinha composto e até publicado poemas juvenis dignos de nota e até de publicação, num jornal lisboeta, logo após ter completado 14 anos (ver «Glosa» em Poesia do Eu, p. 457, e respec- tiva nota)? No diário que manteve durante alguns meses em 1906 (ver Prosa

* Escreveu, no entanto, alguns poemas panfletários em português, para combater a Monarquia e a Igreja.

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Íntima e de Autoconhecimento), Pessoa queixava-se que os colegas eram todos

«convencionais». Sentindo-se estrangeirado, na entrada relativa a 24 de Março desabafou que já não esperava encontrar alguma amizade em Portugal e que, por isso, procuraria ir-se embora «o mais depressa possível». Quatro dias de- pois, registou a sua intenção de viajar para a Inglaterra.

Para além do seu sentimento de alheamento, de não pertencer ou não encaixar bem na sociedade portuguesa, detecta-se um certo snobismo em Pessoa. Embora muito patriota e, consequentemente, crítico severo do imperialismo britânico, como é visível nos poemas de Alexander Search intitulados «Joseph Chamberlain», «À Inglaterra» e «Liberdade» (pp. 52-59), todos escritos em 1905, Pessoa orgulhava-se da sua educação e cultura inglesas. Foram elas, segundo explica, que o vacinaram contra a «doença»

nacional do provincianismo (ver artigo «O Provincianismo Português», em Prosa Publicada em Vida, p. 374). Quando a sua mente se desanuviava dos sonhos sebastianistas, era na mundividência britânica que encontrava o seu modelo político: «conservador do estilo inglês, isto é, liberal dentro do conservantismo, e absolutamente anti-reaccionário» (em Prosa Íntima e de Autoconhecimento, p. 134). E conquanto o poeta admitisse que Ho- mero e Dante tinham uma grandeza igual a Shakespeare e Milton, estes dois eram os seus modelos literários permanentes.

Tanto as ideias políticas como os gostos literários de Pessoa foram lar- gamente moldados pelos modos de ser, fazer e pensar britânicos, querendo o poeta, a todo o custo, que a sua obra se inserisse nesse universo. Outro motivo da sua insistência em versejar em inglês era de ordem meramente prática: a língua inglesa já começava a tomar a dianteira sobre o francês a nível internacional. Quando começou, finalmente, a escrever em portu- guês, Pessoa não tardou em planear edições das suas obras nessas duas lín- guas estrangeiras, sobretudo em inglês, e para facilitar essa tarefa inventou um heterónimo anglófono, Thomas Crosse, como tradutor e dedicado apologista de Pessoa & C.ª. Sem exclusividade, porém. Mr. Crosse também estava incumbido de traduzir autores portugueses que iam desde os trova- dores medievais até Antero de Quental, Cesário Verde e os actualíssimos Mário de Sá-Carneiro e Almada Negreiros.* A autopromoção de Pessoa

R i c h a r d Z e n i t h

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* Citamos um projecto (doc. 143/5) publicado por Teresa Rita Lopes em Pessoa por Conhecer (Lis- boa, Estampa, 1990).

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esteve quase sempre ligada a uma mais vasta operação de propaganda em prol da cultura nacional.

O aluno do Curso Superior de Letras de Lisboa, que brilhara acima de todos os seus condiscípulos em Durban, sentia-se seguro quanto ao valor literário e até pecuniário das suas produções poéticas. Na entrada do refe- rido diário correspondente a 11 de Maio, regista a intenção «de obter di- nheiro de Inglaterra enviando as minhas composições». Já enviara, em 21 de Fevereiro do mesmo ano, um poema para apreciação à revista inglesa Punch (ver vol. VII, Cartas), sendo possível que tenha enviado outros. Na década seguinte, o poeta, paralelamente à sua vertiginosa produção em português (as grandes odes de Campos, a quase totalidade da obra caeiriana, metade das odes de Reis, centenas de poemas ortónimos), também escreve os seus melhores versos em inglês e vai propondo a publicação dos mesmos a edito- ras de Londres. Em 1915, envia a John Lane, uma das mais importantes editoras inglesas de poesia na altura, uma amostra de 16 poemas, 15 dos quais figurariam num livro que lhe propunha e que teria nada menos de 200 páginas. Quase todos os poemas enviados viriam a ser integrados no livro The Mad Fiddler [O Rabequista Mágico], cujo conteúdo ficou definido (sob reserva, porém, de alterações posteriores) em Abril ou Maio de 1917.

Pessoa envia, de imediato, um original dactilografado da colectânea à edi- tora Constable & Company Ltd., que lho devolve com igual rapidez, la- mentando a impossibilidade de o publicar.

O autor ficou, como é natural, decepcionado e também inseguro, pois aconteceu-lhe algo ainda pior. Uma editora inglesa recusou-se a pu- blicar um conjunto de poemas seus, mesmo na condição de ser ele a su- portar os custos da edição — como explica no rascunho de uma carta di- rigida a um crítico inglês (ou a uma outra editora?), a quem pede um parecer sobre os poemas cuja «sumária rejeição» o induzira a encará-los com «uma atitude de hesitação. Embora eu nunca os tenha considerado bons, nunca pensei que pudessem ser merecedores de um desprezo abso- luto». Não é impossível que o «desprezo» de que fala tivesse vindo da pró- pria Constable & Company, mas existem rascunhos de uma carta à editora Harold Monro, datável de 1915, em que Pessoa se propõe custear a publi- cação de uma plaquette dos seus poemas, que pertenceriam, quase certa- mente, a The Mad Fiddler. Quer o seu original tenha sido rejeitado por

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uma, duas ou mais editoras, Pessoa achou que deveria mexer-lhe. Introdu- ziu algumas emendas, encarou a possibilidade de mudar ou acrescentar estrofes, pensou em retirar alguns poemas que lhe pareciam eventual- mente mais fracos e, na página de rosto, rabiscou o seguinte comentário:

«Não se afirma que esta antologia seja a melhor; afirma-se que não é a pior.»* Num apontamento solto, o autor é muito mais severo: «The Mad Fiddler reúne a obra infantil e inferior da minha imaginação indiscipli- nada. Dei-o à estampa para ver publicada uma parte impublicável de mim mesmo. Tudo nele é inferior. As próprias canções espontâneas sofrem de uma doença de não-conseguimento.»** Severo e, também, astuto. Repa- re-se que esta crítica terá feito parte de uma estratégia de defesa, escrita como era para os seus futuros leitores, pois o livro ainda não fora editado e decerto não ia publicá-lo se o achasse, de antemão, tão imperfeito.

Dada a dificuldade de publicar a sua poesia inglesa além-fronteiras, mesmo pagando as despesas do seu bolso, Pessoa resolveu imprimi-la em Portugal, para depois a distribuir em Inglaterra e noutros lugares. Em 1918, lançou, em edições de autor efectuadas pela tipografia lisboeta Monteiro &

C.ª, Antinous e os 35 Sonnets, deixando para mais tarde The Mad Fiddler, que talvez pretendesse ainda publicar em Londres, depois de granjear algum reconhecimento graças aos dois folhetos. Enviou exemplares destes a vários jornais ingleses e escoceses, alguns dos quais publicaram recensões elogiosas, embora com reservas quanto ao «estilo emaranhado» dos sonetos (Glasgow Herald). No início de 1920, o pretendente a poeta inglês tinha outro mo- tivo para se congratular: o seu poema «Meantime» (p. 322) fora publicado pela revista londrina Athenaeum, uma das mais prestigiosas da altura.

Em fins de 1921, Pessoa voltou à carga, editando na sua própria editora, a Olisipo, os folhetos English Poems I-II, com uma versão remodelada de Antinous e Inscriptions, e English Poems III, unicamente composto por Epi- thalamium. A ficha técnica dos dois folhetos foi redigida em inglês e o preço impresso na contracapa era «One and six pence net», indicando claramente um intuito, ou a esperança, de vender os pequenos volumes no mercado

R i c h a r d Z e n i t h

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* It is not claimed for this anthology that it is the best; it is claimed for it that it is not the worst.

** The Mad Fiddler concentrates the inferior and childish work of my undisciplined imagination. I published it to have printed a part of myself not printable. All there is inferior. The very spontaneous songs suffer from a sickness of unattainment. (doc. 31/87)

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inglês. Tal não aconteceu e, desta vez, as recensões escassearam, motivos que talvez tenham contribuído para a nítida queda na produção poética de Pes- soa em inglês a partir de 1922. Desistindo da hipótese de entrar no clube dos poetas ingleses, passou a mostrar a sua versatilidade linguística aos seus con- terrâneos. Em Julho de 1923 publica, na Contemporânea (n.º 9, previsto para Março), o poema «Spell» (p. 266 da presente edição) e, uns meses antes na mesma revista lisboeta, três poemas franceses (pp. 482-483). Assumindo-se como um poeta de muitos rostos, mas fundamentalmente lusófono, manti- nha vivo o sonho de se destacar na literatura inglesa, mas agora pela via da prosa. Escrevia novelas (The Mouth of Hell), ensaios (Erostratus) e peças (The Duke of Parma, ou Prometheus Rebound), que talvez pudessem abrir-lhe mais facilmente uma porta para as letras anglo-saxónicas. Seguir-se-ia depois, se tudo corresse bem, a sua poesia em inglês.

Na sua vida póstuma, Pessoa acabou por conquistar a Grã-Bretanha e outros países anglófonos, mas com a poesia e prosa que escreveu em portu- guês. A sua poesia inglesa, salvo alguns exemplos isolados, incluídos em antologias a título de curiosidade, permanece inédita nas terras de Shakes- peare e de Edgar Allan Poe, e durante décadas não teve grande sorte entre os críticos portugueses e brasileiros — sobretudo quando encarada como poe- sia e não pelos seus conteúdos biográficos, ideológicos ou místico-filosófi- cos. Prevalece a noção de que a poesia em inglês é interessante pelas suas ideias e pela relação que tem com o resto da obra pessoana, e não como poesia em si mesma. Concordo com este parecer, por considerar que a poe- sia não está por detrás ou no fundo das palavras: é as próprias palavras, com o peso das camadas de uso e significado que adquiriram ao longo de várias gerações, se não de vários séculos. Não têm a sua origem no poeta, perten- cem ao mundo de todos, e por mais que se possam subverter e transformar, devem estar intimamente ligadas à sua história entre o povo que as foi di- zendo e enriquecendo. Caso contrário, perdem força; tornam-se, na ver- dade, meros recipientes de informações algo assépticos, incolores. Refiro- -me não tanto a palavras isoladas, mas, sobretudo, a palavras concatenadas em frases e períodos. Acontece que o inglês de Fernando Pessoa era perfeita- mente fluente, no sentido mais literal do termo, pois fluía sem obstáculos;

mas era o seu inglês. Pessoa era bilingue, sim, mas o português era a sua

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ON DEATH When I consider how each day’s career Doth with its footstep swift yet heavy tread Approach my soul to those great regions dread And bring my youth to timeless death more near, Though strange and sad to me it doth appear That I (who now am life) must soon be dead, Some vague, uncertain sorrow weighs my head And whelms my coward mind with lengthless fear, Nevertheless though sorrow rage and tear

My heart, yet I each moment’s boon shall seize.

And shape rude laughter from each heart-felt moan:

Not without hope is most extreme despair, I know not death and think it no release — The bad indeed is better than the unknown.

TO THE CRITIC

To its own father that child fair doth seem Which unbribed eyes may but indifferent deem;

Therefore this book, my child’s first son too dear, Do thou inspect with careful search austere.

If good, I better promise to indict;

If bad, I will not think thou sayest right.

’Tis not my pride, but human nature, friend, Owning no wrong doth covertly amend.

P o e s i a I n g l e s a

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SOBRE A MORTE Quando penso que os dias a passar Em passos breves, mas em peso sentidos, Minh’alma levam a espaços temidos E a juventude à morte vai dar, Por estranho e triste que me pareça Que em breve (ora vivo) eu vá morrer, Vaga, incerta dor que pesa em meu ser Faz com que a mente em pavor desfaleça.

Contudo mesmo em raiva, choro e pena Cada instante é consolo ao coração E com riso acolherei cada gemido:

Do fundo desespero a esp’rança acena.

Na morte não vejo a libertação — É melhor o mau que o desconhecido.

M a i o d e 1 9 0 4

AOS CRÍTICOS

Ao próprio pai o filho é lindo, sem defeitos, E só será julgado por olhos insuspeitos;

Por isso este livro, meu primeiro livro amado, Investigai austeros, com sentido apurado.

Se bom, eu vos prometo que melhor farei;

Se mau, no que disserdes não me fiarei.

Não orgulho, mas da humana condição Que ignora o erro e o corrige em solidão.

J u n h o d e 1 9 0 4

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SUB UMBRÂ

As when the moon which on a wide deep stream Makes every wavelet glint with silver light, By some black cloud, a shadow of the night Is but awhile obscurèd, yet still gleam The waves in darkness, to no falling beam, And please in shade with the obscure delight Of a profounder motion, stilly dight

With softened silver, like a thing of dream;

So may for e’er my song its force retain, And though a cloud o’ercast my weary mind Let that but fill the glitter of my strain With staider sweetness, showing to mankind That though beneath a cloud I can sustain My wonted song, to hope and bliss not blind.

WORK

Thou wast not put on earth to ask If there be God, or life, or death.

Seize then thy tools and to thy task And give to toil each panting breath.

Thy tools thou hast, nor needst to seek — Thy health or faith or useful art,

The strength to toil, the power to speak, A mighty mind or kindly heart.

P o e s i a I n g l e s a

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SUB UMBRÂ Tal como a lua sobre vastas torrentes Dá brilho de prata à água ondulante, Inda que uma nuvem a esconda um instante Ou sombra nocturna, contudo luzentes As ondas no escuro, mesmo sem luar E sem luz encantam no sombrio deleite Dum mover profundo que, de calma enfeite A prata suave, qual leve sonhar;

Possa assim meu canto a força suster, E se a sombra encobre a mente cansada Que a luz da expressão ela venha encher De grave doçura, vendo a humanidade Que, mesmo abatido, consigo manter Meu canto, atento à esp’rança e à felicidade.

A g o s t o d e 1 9 0 4

TRABALHO Não vieste à terra para perguntar Se Deus, vida ou morte existem ou não.

Pega a ferramenta para trabalhar Pondo na tarefa cada pulsação.

Ferramenta tens, não procures em vão — Saúde, fé em ti, arte eficiente,

Capacidade, poder de expressão, Coração sensível e força de mente.

S e t e m b r o d e 1 9 0 4

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PERSEVERANCE Say not that work is e’er ill-spent, Say not that effort fails or seems;

Say not that he o’er labour bent Is one in the world’s many dreams.

For not in vain with patient shocks, With timely rush and quick’ning roar, The ocean crashes on the rocks And bounds on to the sounding shore.

They check, ’tis true, his rolling rush, His sturdy beat they seem to scorn, His surging waves with force they crush And turn in spray his billows torn.

But days and weeks and months and years He strikes and strikes and strikes amain, And dent on dent in them appears That shows his weary, patient gain.

And years may pass or ages go, Those eaten rocks will smaller stand;

Still he, with measured aim and slow Shall bend his surging to the land.

Sure as the sun, and unperceived As is the growing of a tree,

He works and works, nor is deceived By sturdy form that men can see.

And when his object full he gains With last and sounding, rending crash, His mighty power he still sustains And onward still his waters dash.

P o e s i a I n g l e s a

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PERSEVERANÇA

Não digas que o trabalho é desperdiçado, Nem que o esforço falha ou parece, no fundo;

Não digas que aquele ao dever curvado É um entre os tantos sonhos do mundo.

Pois não é em vão que em golpes seguidos, Com pressa medida, em fragor crescente, O mar actua nos rochedos batidos E invade a praia, ruidosamente.

É certo que enfrentam suas investidas, Do seu bater forte parecem troçar, Esmagam com força as vagas erguidas E em espuma fazem as ondas rasgar.

Mas ele bate e bate com força Em dias, semanas, em meses e anos, Até que apareça mossa sobre mossa Que mostre seus gastos, pacientes ganhos.

E os anos passam, as gerações vão, E menores se quedam as rochas cavadas;

Mas ele, com lenta e firme precisão, Baterá na terra suas altas vagas.

Certo como o sol e despercebido Como duma árvore é o seu crescer, Trabalha, trabalha sem ser iludido P’la tenaz imagem que se pode ver.

E quando o seu fim de todo obtém, Em sonoro embate, p’ra fender, se lança, Seu poder imenso ainda mantém

E, inda mais além, nas águas avança.

S e t e m b r o d e 1 9 0 4

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PERFECTION

Perfection comes to me in fevered dreams, Beauty divine by earthly senses bound, And lulls mine ear with slow, forgetful sound, Her full heart’s voice, burst forth in mindful gleams, Such as I ne’er can grasp. Her soft hair streams On to her lustless breast, wherein confound The real and the ideal interwound,

And aught of earthly joy that heaven beseems.

Then day invades, and all is gone away;

I to myself return, and feel such woe

As when a ship-wrecked sailor waked from sleep — From the bright dreams of a sweet village day—1 Lifts up his throbbing head, to hear below The weighty, sunken rumble of the deep.

Sad lot of all on earth, Sad and lone!

We go to death from birth Cheerless in laugh or groan;

And the greatest of us that here must sigh Is but a meteor hurled on high

From the unknown to the unknown.

P o e s i a I n g l e s a

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PERFEIÇÃO

Vejo a Perfeição em sonhos ardentes, Beleza divina aos sentidos ligada, Cantando ao ouvido em voz olvidada Que do peito irrompe em raios candentes Que não posso prender. Seu cabelo vem P’lo peito inocente onde, confundidos, O ideal e o real são tecidos

E algo de alegre que ao céu fica bem.

Então chega o dia e tudo passou;

A mim regresso em dorido sentir,

Qual marinheiro que o naufrágio acordou Do sonho de um campo em dia luminoso:

Ergue a cabeça e estremece ao ouvir O rumor no fundo do abismo penoso.

O u t u b r o d e 1 9 0 4

De todos na terra triste é a sorte!

Triste isolamento!

Caminhamos do nascimento à morte Sombrios no riso e no tormento;

E o maior de nós que aqui tem sofrido, Meteoro apenas, na altura lançado Do desconhecido ao desconhecido.

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Referências

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