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PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA PARAÍBA GABINETE DO DESEMBARGADOR JOÃO BENEDITO DA SILVA

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„.

PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA PARAÍBA

GABINETE DO DESEMBARGADOR JOÃO BENEDITO DA SILVA

ACÓRDÃO

APELAÇÃO CRIMINAL N°. 001.2011.025589-8/001 — Vara de Entorpecentes de Campina Grande

Relator : Des. João Benedito da Silva

Apelante: Ivan Olinto de Sousa (Adv. Tércio de Oliveira Ramos)

Apelado: Justiça Pública

APELAÇÃO CRIMINAL. Tráfico de entorpecentes. Acusação.

Apreensão de sementes de maconha na residência do denunciado. Imputação. Art. 33, §1” da Lei n." 11.343/2006.

Matéria-prima para a fabricação de entorpecentes.

Materialidade não demonstrada. Semente insuficiente para a fabricação de droga. Necessidade de submissão a procedimento de cultivo. Absolvição imposta. Art. 386, II do CPP. Provimento do recurso.

A semente de maconha não deve ser considerada matéria-prima apta a ensejar o reconhecimento do crime previsto no art. 33, §1 0 da Lei n.° 11.343/2006, já que não possui condições de, por si só, produzir entorpecente proibido, restando afastada, portanto, a materialidade delitiva, o que possibilita a absolvição.

VISTOS, RELATADOS E DISCUTIDOS os presentes autos acima identificados;

AC ORDAa Colenda Câmara Criminal do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba em dar provimento ao recurso, em harmonia com o parecer da douta Procuradoria de Justiça. Unânime.

RELATÓRIO

Trata-se de apelação criminal (fl. 122) manejada por Ivan Olinto de Sonsa em razão da sentença proferida pelo juízo da Vara de Entorpecente de Campina Grande (fls. 102/109), que o condenou à reprimenda de 03 (três) anos e 04 (quatro) meses de reclusão, a ser cumprida em regime inicial fechado. e 334 (trezentos e trinta e quatro) dias-multa, no valor unitário de 1/10 do salário mínimo, pela prática do delito capitulado no art. 33 da Lei n.° 11.343/2006 (tráfico de entorpecentes), e de 01 (um) anos de detenção e 10 (dez) dias-multa, no mesmo valor unitário, pelo crime previsto no art. 12 da Lei n.° 10.826/2003 (posse irregular de arma de fogo).

Na oportunidade tio decisum, reconheceu-se que o recorrente, no dia 1° de otitubro de 2011, p r vol a das 07:30 lis, praticou o delito de tráfico de

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entorpecentes, por ter em depósito (em sua residência), situada na Rua José Adelino de Melo, n.° 307, na cidade de Campina Grande, matéria-prima utilizada para a preparação de drogas (sementes de maconha). encontrada na laje da residência do acusado, além de manter, sob sua guarda, arma de fogo em desacordo com a determinação legal e regulamentar.

Nas razões recursais apresentadas (fls. 125/136). insurgiu-se apenas contra a condenação pela prática do crime de tráfico de entorpecentes (art. 33 da Lei n.°

11.343/2006), pretendendo a desclassificação para o de uso de entorpecentes (art. 28 da Lei n.° 11.343/2006).

De forma subsidiária, no caso de ser mantida a condenação, pugnou pela correta aplicação da causa de diminuição de pena prevista no art. 33, §4 0 da Lei n.°

11.343/2006, na fração máxima prevista no dispositivo invocado, com a consequente substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direito. diante da Resolução n.° 05/2012 do Senado Federal, inclusive com a modificação da pena pecuniária, já que não teria condições financeiras de arcar com o valor aplicado.

Nas contrarrazões (fls. 137/139), o Ministério Público pretendeu a manutenção da sentença.

A Procuradoria de Justiça, por meio do parecer de fls. 143/145, opinou pelo provimento do apelo, ao argumento de que o fato de terem sido encontradas 400 (quatrocentas) sementes de maconha não seria suficiente para demonstrar a materialidade delitiva, sem que fosse constatado o principio ativo da t etrahidro c annabin ol.

É o relatório.

V O T O: Exmo. Des. João Benedito da Silva

Narra a peça inicial acusatória que teria o apelante praticado o

• crime de tráfico de entorpecentes (art. 33, §10,1, da Lei n.° 11.343/2006), por ter sido encontrado, em sua residência, um pote de vidro contendo 400 (quatrocentas) sementes de cannabis sativa lineu, popularmente conhecida como maconha, matéria-prima para o fabrico de droga, bem como o de posse irregular de arma de fogo, já que apreendido um revólver calibre 38, marca Rossi.

"Narra o incluso inquérito policial que, no dia 01 de outubro do ano presente (2011), por volta das 07:30 horas, o denunciado ,fbra preso emllagrante por policiais militares, na Rua .José Adelino de

Melo, 307, nesta Urbe, em razão de ter em depósito matéria-prima utilizada para a preparação de drogas e manter sob sua guarda arma de figo em desacordo com determinação legal e regulamentar.

Segundo os relatos colhidos na instância inquisilorictl, os milicianos, juntamente com a policia civil, realizaram a 'Operação Baixinha', no intuito de cumprir mandados de busca e apreensão expedidos por este Juízo. Ato contínuo, os militares diligenciaram até a residência do ora denunciado, instante em que deram cumprimento ao citado andado.

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Logo em seguida, após a minudente inspeção, os policiais apreenderam um pote de vidro contendo aproximadamente 400 (quatrocentos) sementes de cannabis sativa lineu (tetrahidrocabinol), popularmente conhecida como maconha, conforme atesta laudo de constatação de fls. 14. Registre-se que o vidro com as sementes de maconha estava oculto na laje da residência do indigitado Ivan Olinto de Sousa."

Da leitura do trecho da denúncia retro transcrito, tem-se que foi atribuída ao acusado a prática de tráfico de entorpecentes, não por estar portando substância proibida, mas sim por guardar, em depósito, matéria-prima a ser utilizada na fabricação de drogas, tanto que foi atribuída a conduta capitulada no art. 33, §1 0.

inciso I da Lei n.° 11.343/2006.

Percebe-se, também, que, em momento algum, foi feita qualquer referência ao fato de ter sido encontrada outra parte da planta, sejam folhas ou caules.

nas dependências da residência da acusada. Ou seja, delimitou-se o fato típico tão- somente quanto às sementes encontradas.

Pois bem. A partir do documento de fi. 26 (exame de constatação), tem-se que foi encaminhado, para laudo, apenas um copo de vidro contendo sementes, que "aos primeiros exames se presume ser a semente de uma planta cientificamente conhecida como 'CANNABIS SATIVA LINEU', a popular MACONHA', apreendida em poder de Ivan Olinto de Sousa.".

Posteriormente, quando do laudo definitivo (fl. 67), fez-se alusão a sementes, folhas, caules e inflorescências, isto é, conteúdo que não corresponde, por completo, ao material encaminhado para perícia pela autoridade policial, muito menos ao descrito na peça inicial acusatória.

Tais considerações são necessárias porque, como bem se sabe, a defesa de denunciado é quanto aos fatos narrados, e não no que se reporta à eventual capitulação atribuída pelo autor da ação penal.

Ora, antes de discorrer a respeito de autoria delitiva.s, deverão ser tecidas considerações a materialidade dos fatos, o que, para a questão sul) judice, é de suma importância, pois, diante do relatado anteriormente, somente haverá crime se a semente de maconha for considerada matéria-prima.

Na verdade, há duas correntes que merecem ser mencionadas: a de que a semente de maconha deverá ser considerada como matéria-prima para o fabrico de substância entorpecente e a que defende o entendimento diverso (não haverá materialidade delitiva).

Para os que defendem ser a semente de maconha matéria-prima a configurar o delito do art. 33, §1 0 da Lei n.° 11.343/2006, utilizam o argumento de que,

"embora a semente de maconha não possua o princípio ativo, (...) sua germinação dará origem ao vegetal cannabis sativa L., conhecida por maconha, que apresenta referido princípio ativo nas folhas e inflorescências e a espécie perpetua-se através das sementes que são extremamente resistentes, germinando em vários tipos de solos

(TJPA; ACr 20103016192-5; Ac. 101702; Capanema; Primeira Câmara Criminal

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Isolada; Rer Desa Brigida Gonçalves dos Santos; Julg. 10/10/2011; DJPA 18/10/2011;

Pág. 71).

De forma contrária, não haveria crime porque a semente, por si só, não seria suficiente para o fabrico do cigarro de maconha, por exemplo, fazendo-se mister o cultivo, para, só assim, atingir a planta a ser utilizada posteriormente:

"APELAÇÃO CRIMLVAL. TRÁFICO INTERNACIONAL DE ENTORPECENTES. SEMENTES DE CANNABIS SATIVA (ART.

12„sç 1°, INCISO 1, DA LEI N° 6.368/76). AS SEMENTES DE MACONHA NÃO CONSTITUEM ll/L4TÉRM. PRIM ,I. OBJETO MITERIAL DO DELITO -. CONDUTA ATÍPICA. APELAÇÃO PROVIDA PARA ABSOLVER O RÉU I. A importação de semente de maconha não configura o delito do artigo 12. § 1". I, da Lei n"

6.368/76 que se refere à matéria prima destinada à preparação de substância entorpecente. II- A semente de maconha não é a matéria-prima, porquanto não possui nela própria as condições e qualidades químicas necessárias para, mediante tran,fs ormação, adição etc. , produzir o entorpecente proibido. Não se obtém a maconha da semente em si, mas só da planta que resultar da semente, se esta sofrer transformação por obra da natureza e produzir as folhas necessárias para tanto. III A semente é pressuposto lógico e antecedente para a configuração do tipo penal descrito no inciso II, do mesmo artigo 12, da Lei n.

6.368/76, em que o legislador tipilicou como sendo crime a conduta de semear, cultivar ou colher plantas de.slinadas à preparação da droga. No caso dos autos, o apelante não iniciou os atos executórios consistentes em semear, cultivar ou colher plantas destinadas à preparação de droga, pois sequer chegou. a ter as sementes apreendidas em sua posse. 1V Recurso provido para absolver o réu." (TRF 3' R.: ACr 0002938-20.2006.4.03.6181; SP;

Primeira Turma; Rel. Des. Fed. José Lunardelli; Julg. 05/06/2012;

DEJF 18/06/2012; Pág. 261) (grifo nosso)

Com efeito, entendo que a apreensão de sementes de maconha não constitui crime autônomo (mesmo diante do teor do art. 33, §1 0 da Lei n.° 11.343/2006), sem que esteja acompanhada de outras condutas que demonstrem ao menos o início de atos executórios, como, por exemplo, o cultivo. Em outras palavras, a semente, por si só, não é suficiente para a fabricação do cigarro de maconha, sendo necessária a submissão a um procedimento apto a gerar a matéria-prima eficaz.

Por tais considerações, observando que, na denúncia, consta apenas a descrição de apreensão de sementes, sem qualquer menção ao caule e às folhas mencionados no laudo de fl. 67 (o que, aí sim, configuraria o crime de tráfico de entorpecentes, desde que verificadas as demais condutas necessárias), deverá ser o apelante absolvido, por força do art. 386, II do CPP:

Art. 386. O .juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconheça:

- não haver prova a exi.s. êncib do fato;

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Os demais pleitos formulados no recurso restam prejudicados.

Ante o exposto, dou provimento ao presente recurso, para absolver o recorrente da imputação relativa ao crime de tráfico de entorpecentes. nos termos do art. 386, II do CPP, em harmonia com o parecer da douta Procuradoria, mantendo-se os demais termos da sentença (quanto à posse irregular de arma de fogo).

É como voto.

Presidiu o julgamento o Exmo. Des. Luiz Silvio Ramalho Junior, Presidente da Câmara Criminal. Participaram ainda do julgamento o Exmo. Des. João Benedito da Silva ( com jurisdição limitada), relator, o Exmo. Des. Luiz Silvio Ramalho Junior e o Exmo. Des. Carlos Martins Beltrão Filho.

Presente à Sessão do julgamento o(a) Exmo.(a) Dr.(a) Paulo Barbosa de Almeida, Procurador(a) de Justiça.

Sala de Sessões da Colenda Câmara Criminal do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, em João Pessoa, Capital, aos 27(vinte e sete) dias do mês de novembro do ano de 2012.

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da Silva /

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Diretoria Judiciária

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