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Autoconceito do idoso e biodança: uma relação possível

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Academic year: 2017

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NOEME CRISTINA ALVARES DE CARVALHO

AUTOCONCEITO DO IDOSO E BIODANÇA: UMA RELAÇÃO POSSÍVEL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação “Stricto Sensu” em Gerontologia da Universidade Católica de Brasília, como requesito para a obtenção do Título de Mestre em Gerontologia.

Orientadora: Profª Dra. Carmen Jansen de Cárdenas

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ERRATA

Folha Linha Onde se lê Leia-se

2 2 Mudança no autoconceito do idoso e Biodança: uma relação possível

Autoconceito do idoso e Biodança: uma relação possível

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Ficha elaborada pela Coordenação de Processamento do Acervo do SIBI – UCB.

C266a Carvalho, Noeme Cristina Alvares de.

Autoconceito do idoso e biodança: uma relação possível / Noeme Cristina Alvares de Carvalho – 2006.

237 f.; 30 cm

Dissertação (mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2006. Orientação: Carmen Jansen de Cárdenas

1. Idosos – aspectos psicológicos. 2. Dança. 3. Música. 4. Auto-estima em idosos. I. Cárdenas, Carmen Jansen de. II. Título

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DEDICATÓRIA

A uma pessoa muito especial, que desconhecendo Rogers, James e Erikson, reacendeu em meu coração a certeza que o caminho do humano é o crescimento, independente da idade e de condições adversas.

A sua vida, que acompanho de perto, exemplifica uma realidade possível e da qual posso participar: a de bem-estar e felicidade na velhice.

Eu a conheci em uma roda de apresentação de Biodança, quando alegremente declarou:

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AGRADECIMENTOS

Aos idosos de diferentes grupos que facilitei, e, em especial, aos idosos do meu grupo de pesquisa, autodenominado Grupo da Paz, do SESC, Taguatinga Norte, Distrito Federal, o meu carinho pelo aprendizado, pela sabedoria e pelo amor recebido.

Ao amigo, professor de Biodança e também Profº Dr Niuvenius Paoli, que me orientou no difícil e prazeroso caminho de elaboração do Capítulo da Biodança.

A Rolando Toro, um octogenário admirável, que ao criar a Biodança há 40 anos, ofereceu ao mundo mais uma alternativa de integração humana.

À Profª Dra. Carmen Jánsen, que sempre me deu mais asas do que eu poderia imaginar ter.

À Profª Irene Lage, amiga e alfabetizadora em metodologia científica.

À Regina Caetano, Coordenadora de Ação Social e Terceira Idade do SESC, Distrito Federal, pela receptividade e apoio ao projeto de pesquisa apresentado à Instituição.

À Maria Conceição Santos, pelo seu exemplo de dedicação, alegria e vitalidade como coordenadora do Grupo dos Mais Vividos do SESC, Taguatinga Norte, Distrito Federal.

Às amigas Regina Celi Fragoso e Vitória Franco, colaboradoras da pesquisa de campo, que me ofertaram presença, dedicação e gratuidade amorosa em muitas horas de trabalho.

À minha turminha da UCB, Antônio Itamar, Marina Kumon, Mônica Rebouças e Valcilene Pinheiro, pelos momentos compartilhados de conforto, apreensão, alegria e prazer.

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RESUMO

Este trabalho teve como objetivo investigar de que forma a prática da Biodança pode influenciar o autoconceito do idoso. A pesquisa foi elaborada em três etapas: revisão da literatura, abordando aspectos relativos ao tema, tais como: envelhecimento, corpo, autoconceito, Biodança, música, dança e vivência; pesquisa de campo, na qual foram feitas entrevistas semi-estruturadas centradas em questões relacionadas com o envelhecimento e o autoconceito; análise e discussão dos dados coletados. O método de pesquisa foi o fenomenológico, e a metodologia teve uma abordagem qualitativa. Foi feita a análise de conteúdo dos dados coletados e, nos resultados, procurou-se correlacionar os relatos aos dados de observação. Dado o caráter pioneiro do tema da pesquisa, considera-se que seus resultados podem contribuir tanto para a área acadêmica, servindo de base para a elaboração de novas investigações relacionadas ao tema autoconceito/Biodança, como para o trabalho com idosos, haja vista ter estendido a esses nova perspectiva de recuperação de perdas.

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ABSTRACT

This paper had the objective of investigating how the practive of Biodance influence the elderly person self-concept. The research was elaborated in three stages: revision of literature related to the theme’s, such aging body, self-concept, Biodance, music, dance and life experience, field research with semi structured interviews centered in questions related to aging and self-concept, analyses and discussion of colleted data. The research method was the phenomenologic and qualitative approach. An analysis of the data collected was made and an attempt was made to relate the results to the observation data. Were to the pioneer character to the academic area, as a basis for new investigations related to the theme Biodance/self-concept, as well as for studies with elderly people, considering its extension to these new perspectives for recuperation of losses.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES LISTA DE FIGURAS FIGURA 1.1 – População com 60 anos ou mais, por sexo... 15

FIGURA 1.2 – Percentual da população com 60 anos ou mais, em países selecionados.. 15

FIGURA 1.3 – Aumento da população de 60 anos ou mais, por sexo, no Distrito Federal... 16

FIGURA 3.1 – Primeira configuração do modelo teórico da Biodança... 52

FIGURA 3.2 – Relação entre os pólos da “identidade” e “regressão” do eixo horizontal do modelo teórico de Biodança, exercícios euforizantes e exercícios em câmara lente... 52

FIGURA 3.3 – Modelo teórico de Biodança... 55

LISTA DE QUADROS QUADRO 1.1 – Dimensões analíticas do autoconceito... 32

QUADRO 1.2 – Os pilares da auto-estima... 36

QUADRO 5.1 – Primeira entrevista... 119

QUADRO 5.2 – Segunda entrevista... 120

QUADRO 5.3 – Segunda entrevista... 120

QUADRO 5.4 – Comparação entre o número de categorias da primeira e da segunda entrevista... 137

QUADRO 5.5 – Palavras-chaves dos exercícios gerais, palavras-chave das consignas, exercícios-cumbre e objetivos dos exercícios-cumbre... 142

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LISTA DE TABELAS TABELA 5. 1 – Características dos participantes... 111

TABELA 5. 2 – Características dos participantes... 112

TABELA 5. 3 – Outras informações... 113

TABELA 5. 4 – Outras informações... 114

TABELA 5. 5 – Outras informações... 115

TABELA 5. 6 – Outras informações... 116

TABELA A.1 – Permanência dos participantes... 169

TABELA A.2 – Presença de participantes do sexo masculino e do sexo feminino em 11 aulas de Biodança... 169

TABELA A.3 – Média e percentual de presença de participantes por aula de Biodança... 170

TABELA A.4 – Número e média de exercícios, músicas, apresentações e descrições em 11 aulas de Biodança... 170

TABELA A.5 – Classificação dos exercícios por linha de vivência e média de linhas de vivência por aula de Biodança... 171

TABELA A.6 – Freqüência nominal de exercícios das 11 aulas de Biodança... 171

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO ... 10

CAPÍTULO 1 ENVELHECIMENTO 1.1. O processo... 1.2. Corpo: as Mudanças no Idoso... 13 22 CAPÍTULO 2 AUTOCONCEITO 2.1. Self... 2.2. Autoconceito... 2.2.1. Auto-estima... 2.2.2. Auto-imagem... 2.3. Autoconceito no Idoso... 27 29 35 37 40 CAPÍTULO 3 BIODANÇA 3.1. Teoria da Biodança... 3.1.1. Origem, denominações, questionamentos e relações... 3.1.2. Metodologia e Modelo Teórico da Biodança... 3.2. Elementos da Biodança... 3.2.1. Música... 3.2.2. Dança... 3.2.3. Vivência... 3.3. A Prática da Biodança... 44 44 49 60 60 70 78 84 CAPÍTULO 4 METODOLOGIA 4.1. Área de Pesquisa... 4.2. Participantes... 4.3. Coleta de Dados... 4.4. Instrumento de Coleta... 4.5. Tratamento dos Dados... 100 100 101 102 106 CAPÍTULO 5 RESULTADOS: ANÁLISE E DISCUSSÃO 5.1. Perfil dos Participantes... 5.2. Roteiro das Aulas de Biodança... 5.3 Análise e e Discussão das Questões de Pesquisa... 109 117 118 CONCLUSÃO ... 146

REFERÊNCIAS... 148

APÊNDICE A – Descrição das 11 Aulas de Biodança... 169

ANEXO A – Autorização do Comitê de Ética em Pesquisa – Universidade Católica de Brasília... 229

ANEXO B – Questionário de Informações Gerais... ... 230

ANEXO C – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido... 233

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INTRODUÇÃO

O envelhecimento da população mundial, motivado pelo aumento da expectativa de vida, revela, por um lado, uma grande conquista da humanidade em toda a sua história e, por outro, representa um de seus grandes desafios, haja vista a necessidade de se envidarem esforços sociais e econômicos no sentido de possibilitar, a essa população, uma longevidade saudável, do ponto de vista fisiológico, psicológico e social.

Além disso, as transformações atuais resultantes da quebra de paradigmas pelo avento da evolução tecnológica, pela economia de integração de mercados e pelo poder do capitalismo tornam esse esforço um desafio maior, ante as características que se impuseram a toda a sociedade: a necessidade de atualização, de fazer parte do processo e de se manter produtivo, respectivamente.

Em termos gerais, no idoso, essas transformações e conseqüentes necessidades são mais acentuadas não só pelas lacunas geradas pelas citadas transformações que abrangeram todas as áreas, inclusive a estrutura familiar na qual ele se insere, como também pelo inerente processo de perdas. Esse, por si só, já requer um olhar e um cuidado diferenciados que possibilitem uma velhice com dignidade.

Nesse sentido, observa-se que muitos esforços vêm sendo despendidos, principalmente na área de saúde pública e social. Porém, os resultados globais ainda estão longe de ser alcançados, uma vez que o crescimento da população idosa foi rápido, como também o foram as transformações trazidas pelos novos sistemas econômicos.

Isso equivale a dizer que o esforço para se manter a população idosa em um patamar mínimo de condições de sobrevivência saudável exige um enfoque do envelhecimento em todas as direções (fisiológicas, psicológicas e sociais) e com todos os recursos, e a Biodança é um deles.

Pelas qualidades promovedoras de bem-estar, através de sua proposta de vivência plena, a Biodança, sem pretender representar uma terapia e, sim, utilizando-se de recursos pedagógicos, vem conseguindo produzir resultados satisfatórios com grupos de faixas etárias distintas, com as várias formas de integração que sugere.

Com idosos, os resultados não se mostram diferentes, independentemente dos níveis que se consegue alcançar, pois uma maior ou menor eficácia vai depender das condições fisiológicas e psicológicas individuais.

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direção, uma vez que a partir do olhar sobre si mesmo e do reconhecimento de suas potencialidades, numa época em que a cultura vigente inclui um consumo exacerbado e um culto às qualidades físicas, o idoso pode encontrar em si mesmo a forma de inserir-se neste contexto, combatendo possíveis exclusões.

A pergunta/problema que este trabalho procura responder é: de que forma a prática da Biodança pode contribuir para mudanças no autoconceito do idoso?

Objetivos

Geral

Investigar como a prática da Biodança pode influenciar positivamente na mudança do autoconceito no idoso.

Específicos

- Caracterizar o processo de envelhecimento na perspectiva biológica, psicológica e social;

- Analisar o construto autoconceito no idoso;

- Descrever a teoria da Biodança, destacando os elementos que constituem a estrutura operacional da Biodança: a música, a dança e a vivência;

- Relacionar, por meio de pesquisa empírica, a prática da Biodança à configuração do autoconceito em idosos.

Justificativa

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são muitas, e as frentes de trabalho para o alcance de uma sobrevivência com dignidade devem necessariamente ser ampliadas, como forma de estender possibilidades a um maior número de pessoas possível.

Outro ponto relevante do trabalho é o embasamento histórico, teórico e metodológico com que o assunto foi tratado em suas três vertentes – envelhecimento, autoconceito e Biodança -, na tentativa de deixá-las em condições de uma equiparação, única forma de se discuti-las nas mesmas bases.

Assim, por exemplo, se quanto ao envelhecimento, não restam dúvidas em relação às perdas, havendo um consenso no que se refere a esse processo, não se pode dizer o mesmo dos outros dois temas: o autoconceito é um construto cuja preocupação é relativamente recente. Por isso, procurou-se compreender seu processo na perspectiva de conceitos como o do self e concepções filosóficas do corpo; a Biodança, igualmente recente, ainda não se encontra devidamente realçada como um recurso pedagógico. Assim, procurou-se revestir seus elementos das características históricas que qualificam sua importância.

A pesquisa encontra-se estruturada em cinco capítulos: os três primeiros abordam cada um dos temas, com os respectivos conceitos, princípios e processos; no quarto, apresenta-se a metodologia da pesquisa de campo e, no quinto, são analisados e discutidos os resultados.

O tema foi trabalhado do ponto de vista dedutivo, de modo a abordar premissas básicas de cada uma das vertentes temáticas enfocadas, para subsidiar sua compreensão isolada e em conjunto, bem como a compreensão das condições psico-sociais em que se encontra a população idosa em termos gerais e o grupo de estudo, em particular.

Foi nesse sentido, por exemplo, que a descrição do processo de envelhecimento procurou abranger detalhadamente seus pressupostos, visando a demonstrar a complexidade prática que representa o conjunto dos efeitos de seus aspectos determinantes; que no enfoque do autoconceito, procurou-se envolver desde a confusão de nomenclatura até a relação entre os termos a ela associados, na tentativa de se visualizar o caminho percorrido pelos elementos que vão influir na imagem que o idoso (como qualquer pessoa) tem de si; que na abordagem da Biodança, pouco conhecida nos meios acadêmicos, foram apresentados desde seus fundamentos até seu método de trabalho, procurando apresentá-la numa visão ampla.

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Capítulo 1

ENVELHECIMENTO

No Brasil, em 2000, existia em torno de 15 milhões de idosos (IBGE, 2000) e em 2050, um quarto da população será formada por idosos, segundo projeção da OMS (2001). Em razão, principalmente, do aumento populacional dessa faixa etária, a atenção ao idoso tem impulsionado a realização de pesquisas em um amplo campo de análise, discussão e ação, que requer um olhar multi, trans e interdisciplinar de todos os profissionais envolvidos na busca de uma melhor qualidade de vida para os que ingressaram na velhice (BOTH, 2000).

Essa perspectiva mais ampla da velhice, do envelhecimento e do idoso, abraçada pela Gerontologia (PAPALÉO NETTO, 2002), reconhece a subjetividade do indivíduo que envelhece, suas necessidades afetivas (FREIRE, 2002), sociais (MORAGAS, 1997; BOTH, 2000), físicas (FREITAS et al, 2002) e espirituais (ERIKSON, 1998).

O envelhecimento pressupõe um conjunto de mudanças físicas, psicológicas, afetivas e sociais sujeitas ao tempo vivido (MORAGAS, 1997) e singular para cada pessoa (MOÑIVAS, 1998). Essas modificações podem acarretar crises e necessidades de adaptação a situações novas (ERIKSON, 1998), muitas vezes traduzidas em limitações físicas, cognitivas, financeiras e sociais (FOX, 1997).

Essa nova realidade, muitas vezes somada a perdas acumuladas em sua história de vida, pode se refletir na maneira de o idoso perceber a si mesmo, inclusive revestindo essa percepção de aspectos negativos (STEGLICH, 1978). E a autopercepção ou autoconceito negativo pode dificultar a capacidade de adaptação do idoso às transformações advindas do processo pessoal.

1.1 O Processo

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A velhice, como estado do indivíduo, pressupõe a última etapa de sua vida. Em tese, deveria ser um período em que o homem é valorizado pela sua experiência e pela contribuição prestada à família e à sociedade, gozando da assistência de familiares e do Estado, de forma que suas necessidades básicas de afeto, saúde e lazer pudessem ser atendidas (FERNÁNDES-BALLESTEROS, 2000).

O idoso possuía um considerável papel social na estrutura familiar e na sociedade como um todo. A velhice significava valores tais como autoridade, respeito, experiência e sabedoria. Ao ancião, em muitos povos, era concedida a tarefa de transmitir a cultura e as crenças de sua família e comunidade às gerações futuras. Beauvoir (1990) cita exemplos de várias sociedades, como a chinesa antiga, na qual a velhice nunca foi considerada um flagelo, e a sociedade judaica, conhecida pelo tradicional respeito que dedica aos idosos. Cita ainda referências bíblicas, nas quais a vida longa constitui uma recompensa pela virtude.

A instauração e progressiva expansão da Revolução Industrial no mundo ocidental, a partir do século XVIII, influenciou a gradual perda de status dos idosos, já que a produção passou a assumir uma prioridade maior, sobrepondo-se aos valores humanos individuais. “Dessa concepção resulta a tendência de que os homens velhos e economicamente inativos sejam considerados socialmente mortos, banidos das esferas de poder” (SALGADO apud

FRAIMAN, 1995, p. 11).

Desde as últimas décadas do século anterior até hoje, as transformações nas relações sociais, advindas da evolução tecnológica e da integração mundial de mercados, atingiram todas as áreas da vida, contribuindo para acentuar, de forma mais significativa, aspectos sociais negativos da velhice. Hoje, “a negação do ser idoso, a rejeição da sociedade por uma camada da população que não consegue mais produzir e por isso, torna-se descartável” (FALEIROS, 2004, p. 6).

Contudo, apesar de toda estigmatização da velhice, é impossível deixar de constatar que o mundo está embranquecendo os seus cabelos numa medida nunca antes registrada, em decorrência do fenômeno denominado “envelhecimento sócio-demográfico da população”, ou seja, o aumento da proporção de indivíduos considerados velhos em relação à população geral (ÂNGULO; JIMÉNEZ , 2000).

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Em 1995, a população mundial contava com 542 milhões de idosos e, em 2025, segundo um estudo projetivo da Organização Mundial de Saúde (OMS) (apud LOZANO, 2003), será de um bilhão e 200 milhões de idosos. Desse total, 12% da população dos países em desenvolvimento, ou seja, 850 milhões de pessoas contarão com 60 anos ou mais, faixa etária que caracteriza o início da velhice. No cômputo geral, serão aproximadamente 550 milhões de homens e 650 milhões de mulheres. A OMS afirma também que, a cada mês, um milhão de pessoas ingressa no segmento da população idosa, ao completar 60 anos.

No Brasil, dados do Censo de 2000 demonstraram que a população idosa chega a quase 15 milhões de pessoas, com 60 anos ou mais, representando 8,6% da população brasileira. Do total, 55% são mulheres e 45%, homens (Figura 1.1.), segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2002).

A expectativa é que, em 2005, o Brasil tenha se tornado o sexto país do mundo com o maior número de pessoas idosas, conforme dados da OMS (apud IBGE, 2002). Para 2050, a previsão é de que 23% da população brasileira seja constituída de idosos (Figura 1.2.).

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45

2000 2050

Itália

Alemanha Japão

Espanha

Rep. Checa EUA

China

Tailândia Brasil

No Distrito Federal, em 2005, a população de idosos atingiu o número de 130.216, sendo 57.415 homens e 72.801 mulheres, segundo projeções do IBGE (2002) (Figura 1.3.) A

Figura 1.2: Percentual da população com de 60 anos ou mais, em países selecionados

Fonte: OMS, 2001.

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esperança de vida ao nascer, em todo Distrito Federal, em 2000, era, em média, de 73,8 anos; a cidade satélite de Brazlândia apresentou o menor índice, 69,03 anos, e o bairro do Lago Norte, o maior, ou seja, 76,82 anos (SEPLAN-DF, 2001).

Do ponto de vista político, a Constituição de 1988 externou sua preocupação em relação aos números da população de idosos, bem como quanto à atenção que deve ser a ela dispensada. Com base nisso, foi definida a Política Nacional do Idoso que alinhou os direitos dessa população aos princípios de atuação setorial, estendidos às instituições de ensino superior que criaram cursos de geriatria e gerontologia social, visando ao trabalho com o idoso.

Nesse sentido, Brasília foi pioneira ao criar uma Subsecretaria para Assuntos do Idoso e instituir o Estatuto do Idoso, cujos princípios registram os direitos do idoso a uma ocupação de trabalho, ao acesso à cultura, à justiça, à saúde e ao poder de participar da família e da comunidade (IBGE, 2002).

Em nível federal, em outubro de 2003, foi sancionado o Estatuto do Idoso (apud

ABREU FILHO, 2004), estabelecendo seus direitos referentes à educação, à saúde e ao lazer, entre outros.

Os dados do IBGE (2002) também esclarecem que a maioria dos idosos vive nas grandes cidades numa relação média de quase 30 idosos para 100 crianças.

Considerando a desvalorização do idoso, em face das relações de produção, e o aumento significativo da população idosa, decorrente do avanço da ciência, fica clara a necessidade de se manter o idoso em condições de lutar contra sua exclusão social.

Nesse contexto de auto-soerguimento do idoso, à Biodança, objeto deste estudo, interessa investigar de que forma ela pode contribuir positivamente para a melhoria das

0 20000 40000 60000 80000 100000 120000 140000

2000 2004 2005

Total Homens

Mulheres

Figura 1.3: Aumento da população de 60 anos ou mais, por sexo, no Distrito Federal

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variáveis que interferem nas dimensões fisiológicas, psicológicas e sociais do respectivo processo.

Do processo fisiológico

O processo de envelhecimento, relata Néri (2002), envolve alterações de natureza genético-biológico-sociocultural que determinam modificações em várias áreas da vida do idoso. De maneira geral, diminuem a plasticidade de mudança para adaptação ao meio, a capacidade de reagir a determinadas situações e de recuperar-se de seus efeitos.

O ciclo vital e o envelhecer, em particular, implicam necessariamente muitas perdas, podendo-se citar entre as mais comuns: a deterioração da saúde, a ausência de papéis sociais valorizados, o isolamento crescente e dificuldades, até financeiras, que afetam a auto-estima do idoso (GATTO, 2002).

O processo de envelhecimento é normalmente acompanhado de um declínio das funções gerais, inclusive a motora, envolvendo a participação, a integração e a sincronia dos sistemas ósteo-muscular, nervoso, neuro-endócrino, cardiovascular e sensorial. Entre essas alterações, citam-se: a diminuição da velocidade, da altura e do comprimento dos passos, redução de amplitude de movimento de diversas articulações como a de flexão e extensão dos joelhos e tronco, perda de sincronismo de movimentos dos membros superiores. A degeneração das estruturas articulares e a diminuição da amplitude dos movimentos das articulações podem gerar desestabilização, o que ocorre juntamente com alterações morfológicas, anatômicas e bioquímicas estruturais (GOMES; DIOGO, 2004).

O envelhecimento é acompanhado de uma perda de massa óssea que predispõe o idoso à osteoporose e fraturas e também ao aumento de pressão arterial, que pode desenvolver no idoso cardiopatias isquêmicas e acidentes vasculares cerebrais, ao mesmo tempo que surge uma resistência periférica à insulina, favorecendo o desenvolvimento do diabetes. Além disso, observam-se alterações no sistema imunológico, predispondo o idoso a infecções e enfermidades e alguns tipos de tumores (MAÑAS, 2000).

As perdas fisiológicas se refletem diretamente na capacidade funcional do idoso, relacionada com a habilidade de execução das tarefas físicas, com a preservação de atividades mentais e com a situação adequada de integração social (BRITO; LITVOC, 2004).

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a qual constitui uma das alterações mais importantes do processo de envelhecimento que compromete as funções motoras.

Essa alteração da capacidade funcional, definida como “a incapacidade de funcionar satisfatoriamente sem ajuda, por motivos de limitações físicas ou cognitivas” (GOMES; DIOGO, 2004, p. 117), constitui um dos fatores mais significativos da dependência funcional do idoso. Essa dependência, por sua vez, tende a levar a uma deterioração geral, porque normalmente é acompanhada do estado de desamparo e da falta de motivação.

Do processo psicológico

O envelhecimento também é acompanhado de perdas psicológicas, principalmente em relação à memória e à inteligência fluida1 (MAÑAS, 2000).

Segundo Freire (2002), à medida que se processa o envelhecimento, as influências normativas de natureza biológica tornam-se negativas e ameaçam a capacidade de adaptação do idoso ao meio ambiente. Muitas perdas ocorrem nesse período, determinando a necessidade de utilização das reservas de capacidade para fortalecer as condições de adaptação. Nesse processo de adaptação, dois grupos de fatores têm influência: os determinantes biológicos e ambientais, ligados à idade cronológica, e os determinantes ligados à história pessoal, também com aspectos biológicos e ambientais, ou seja, aqueles não previsíveis que variam de um sujeito para outro.

Freire (2003) esclarece que a competência do indivíduo, refletida em sua capacidade funcional, diz respeito a respostas flexíveis aos desafios resultantes do corpo, da mente e do ambiente; é, portanto, de natureza biológica, mental, autoconceitual e socioeconômica.

Baltes (apud PAPALIA; OLDS, 2000) explica que as influências normativas que regulam a natureza do desenvolvimento durante todo o ciclo vital do sujeito, influenciando seu desenvolvimento individual, implicam a interação de três sistemas relacionados com: a idade, a história e o desenvolvimento do ciclo vital.

Em suas multidimensões, a capacidade adaptativa do idoso também envolve aspectos: emocionais, no sentido de estratégias e habilidades pessoais para lidar com o ambiente; cognitivos, relacionados com a capacidade de resolução de problemas; comportamentais, referentes ao desempenho e a competência social.

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Da interação entre fatores biológicos e ambientais e das mudanças na velhice resultam três tipos de dependência: a dependência estruturada, relacionada com o valor do indivíduo no processo produtivo; dependência física, decorrente da incapacidade funcional; dependência comportamental, por conta da situação de desamparo criada ou da própria utilização de dependência como instrumento (DIOGO, 2004).

Freire (2002) afirma que, nesse processo de adaptação, o self se utiliza de estratégias para enfrentar as mudanças decorrentes do envelhecimento, podendo-se citar entre elas a mediação dos traços de personalidade que servem como indicadores de que alguns indivíduos podem lidar melhor com o desafio da velhice do que outros. Entre esses traços, citam-se: a seleção de metas, o ajustamento das aspirações por meio de comparações sociais e temporais, entre outros. Um estudo desenvolvido com pessoas de 30, 40 e 50 anos, citado por esse autor, apontou que, com o avanço da idade, há um aumento de características como responsabilidade, confiabilidade e autocontrole das pessoas, o que pode ter, em contrapartida, uma emocionalidade negativa.

Numa visão positiva do envelhecimento, o processo envolve a preservação e a expansão de reservas de desenvolvimento pessoal que possibilitam o acesso a um conjunto de

selves, os quais vão funcionar como fonte da motivação que liga as mudanças no conteúdo às prioridades da vida. “As pessoas selecionam, ajustam e refinam seus padrões de atividades e harmonizam-se com seu auto-sistema, o que contribui para continuidade de seu estilo de vida” (FREIRE, 2002, p. 933).

Para um bem-estar psicológico na velhice, Freire (2003, p. 26) cita um modelo teórico com suas dimensões de funcionamento, cujos efeitos são reproduzidos no bem-estar:

1)Auto-aceitação: implica uma atitude positiva do indivíduo em relação a si próprio e a seu passado; implica reconhecer e aceitar diversos aspectos de si mesmo, incluindo características boas ou más.

2)Relações positivas com os outros: envolve ter uma relação de qualidade com os outros, ou seja, uma relação calorosa, satisfatória e verdadeira; preocupar-se com o bem-estar alheio; ser capaz de relações empáticas, afetuosas.

3)Autonomia: significa ser autodeterminado e independente; ter habilidade para resistir às pressões sociais para pensar e agir de determinada maneira; avaliar-se com base em seus próprios padrões.

4)Domínio sobre o ambiente: ter senso de domínio e competência para manejar o ambiente; aproveitar as oportunidades que surgem à sua volta: ser hábil para escolher ou criar contextos apropriados às suas necessidades e valores.

5)Propósito de vida: implica ter metas na vida e um sentido de direção; o indivíduo percebe que há sentido em sua vida presente e passada; possui crenças que dão propósito à vida; acredita que a vida tem um propósito e é significativa.

6)Crescimento pessoal: o indivíduo tem um senso de crescimento contínuo e de desenvolvimento como pessoa; está aberto a novas experiências; tem um senso

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de realização de seu potencial, e suas mudanças refletem autoconhecimento e eficácia.

Gatto (2002) se refere à importância da manutenção das atividades ocupacionais do idoso, desde que essa ocupação seja isenta de fatores como:

- o interesse pelas atividades oferecidas deve ser espontâneo e não imposto ao idoso porque “nós acreditamos ser o melhor para ele”;

- o idoso determinará quanto tempo destinará à atividade: afinal, ele viveu cumprindo horários e prazos e agora tem todo o direito de decidir como usará seu tempo livre;

- as atividades devem proporcionar interações sociais positivas;

- devem possibilitar ao idoso, se ele assim o desejar, retirar uma remuneração pelo produto destas atividades (GATTO, 2002, p. 111).

Gomes e Diogo (2004), por sua vez, se reportam à autonomia do idoso, ou seja, a sua capacidade de decisão e comando das próprias ações, de estabelecer e seguir as próprias regras. A autonomia é mais que a independência, pois o idoso pode ser independente (com renda de aposentadoria, por exemplo) sem ser autônomo (não pode decidir sobre suas necessidades, por apresentar demências); pode ser autônomo (decidir sobre si mesmo) sem ser independente (porque precisa de auxílio, por exemplo, para locomoção).

Do processo social

A população idosa atual provém de uma época marcada por valores culturais, nos quais a família exerce um papel fundamental, principalmente na sociedade rural, por exemplo, na qual a convivência com parentes próximos fazia parte do cotidiano. Existia, uma espécie de ampliação da família que, de alguma forma, provia necessidades de apoio a seus membros. Havia, portanto, uma valorização do afeto familiar que permanece ainda nítida no consciente ou inconsciente do idoso (LEME; SILVA, 2002).

As relações familiares são as que o idoso vive com mais intensidade e assiduidade, já que, ao longo da história, a estrutura familiar foi fundamental para ele em vários aspectos: do mando e da influência, do cuidado e da proteção, da aceitação e valorização social de sua experiência acumulada. Mas em muitas sociedades, porém, a consideração do idoso pela família é determinada por relações econômicas que governam as trocas sociais (RODRIGUES; RAUTH, 2002).

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etapas da vida do idoso que contribuem positiva ou negativamente para sua adaptação à nova condição: a aposentadoria, a qualidade do relacionamento conjugal e as doenças.

A aposentadoria no Brasil, como instituição, data do final do século XIX e significa “tomar aposento”, ou seja, recolher-se à parte íntima da casa “para esperar a morte chegar”. Àquela época, o homem tinha uma expectativa de vida de 33 anos e aos 40 anos era considerado velho (NEVES, 2006, p. 51).

Nos dias atuais, mesmo tendo havido um ganho significativo na expectativa de vida do trabalhador, a aposentadoria constitui um marco importante na vida do idoso, porque há uma perda do papel profissional, da produtividade e das relações significativas dessa esfera. A qualidade do relacionamento conjugal pode ser abalada por perdas da função de provedor da família, podendo dificultar o relacionamento intergeracional. A deteriorização física e mental pode ser ampliada pela depressão, pelo sentimento de desamparo e pelo medo da perda de controle. “Essas preocupações ecoam a ansiedade de outros membros da família quando esta responde a uma doença” (WALSH, 1995, p. 276).

Moragas (1997) se reporta aos aspectos sociais da velhice, questionando, entre outros, o papel do idoso na sociedade contemporânea. O papel do idoso nas sociedades agrárias era valorizado pela experiência; na sociedade industrial, esse papel representa uma situação ambígua, na qual, de um lado, o idoso é liberado de obrigações, como por exemplo, a trabalhista, e por outro, essa mesma liberação priva-o de um status econômico e social positivo, tornando seu papel “carente de sentido para os valores atuais”.

O surgimento da sociedade capitalista fez com que a capacidade de produção de bens materiais passasse a ter um valor maior que as pessoas. “Não sendo mais produtivo economicamente, o velho perdeu seu lugar na sociedade. Passou a ser considerado como algo descartável, improdutivo, incompetente e decadente. Perdeu espaço social” (ACOSTA-ORJUELA, 2002, p.981).

Deps (2003) se reporta às oportunidades oferecidas ao idoso, geralmente permeadas por uma percepção negativa. Em geral, o investimento nele é subestimado, porque não se acredita na possibilidade de retorno. Com isso, as oportunidades de trabalho no mercado são reduzidas, e os investimentos para sua reciclagem ou atualização ou são escassos ou não existem. Assim, o idoso tende a achar que não tem mais nada para fazer e renuncia a projetos, pensado não ter mais tempo para executar nada.

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O corpo humano assume, em cada sociedade, desde a pré-história, um sentido e valor que lhe são singulares. Segundo Renaud (1989), a concepção conceitual do corpo tem sido construída ao longo do tempo, desde os antigos gregos até o dia de hoje. Ressalte-se, nessa evolução, o período inquisitório da Idade Média, no qual o corpo era punido com o objetivo de alcançar as idéias, atingi-las e purificar a alma. (SIMÕES, 1994).

O mais arcaico e disseminado conceito de corpo é o que o concebe como o instrumento da alma. Mas somente com o estabelecimento do dualismo cartesiano no Século XVII, a instrumentalidade do corpo, até então em voga, deixou de se apresentar de maneira tão marcante. Sendo a alma e o corpo duas substâncias distintas, conforme Descartes (1998), não existe, em absoluto, nenhuma interdependência entre os movimentos corporais e o pensamento; movimentos e calor corporal pertencem somente ao corpo. Sob esse ponto de vista, o corpo é uma máquina que caminha por si só.

Merleau-Ponty (1994), contrapondo-se a Descartes, afirmou que não há sujeição ou independência da alma ao corpo ou do corpo à alma: a conexão do corpo à alma forma uma identidade na qual a totalidade do corpo e da alma é expressão.

Na história da filosofia, o corpo era exaltado por virtudes, como “aquele que está acordado e consciente diz: sou todo corpo e nada fora dele” (NIETZSCHE, 1994, p. 51), e também considerado pelas suas limitações: o corpo é o “túmulo ou prisão da alma”. (PLATÃO, apud ABBAGNANO, 1982, p. 196).

Na perspectiva psicológica, o corpo foi abordado de variadas formas, de acordo com diferentes orientações terapêuticas. Por exemplo: para William James (1890), o corpo é a origem das sensações e está subordinado às atividades mentais. De acordo com Sigmund Freud (1976, p. 40), o corpo é o centro de funcionamento da personalidade: “o ego é, antes de tudo, um ego corporal”. Reich se contrapunha a qualquer separação do corpo, das emoções e da mente; corpo e mente formam uma unidade indivisível (PUCCI JR, 2004). Frederick Perls (1977) considerou o corpo como manifestação direta do indivíduo e classificou o dualismo corpo-mente presente em diversas teorias psicológicas como autoritária e falaciosa. Já Carl Jung (1989, p. 69) afirmou que “corpo e mente são os dois aspectos do ser vivo” e utilizou o conceito de sincronicidade para explicar a unidade mente-corpo. Carl Roger (1970) não destacou o corpo em sua teoria e tampouco em seus trabalhos grupais denominados “grupos de encontro”. Para Skinner, a importância do corpo é essencial; é um sistema baseado exclusivamente em dados observáveis (apud FADIMAN; FRAGER, 2002).

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tradicionais não distinguem o corpo da pessoa.” Os elementos constituintes de sua densidade corpórea são os mesmos que dão consistência aos seres cósmicos e à natureza. Todos são tecidos por um fio comum e único, mas possuem texturas e cores diversas.

Ainda para Le Breton (1995, p. 8),

Nossas concepções atuais do corpo estão vinculadas com o crescimento do individualismo como estrutura social, com a emergência de um pensamento racional positivo e laico sobre a natureza, com a regressão das tradições populares locais e, também, com a história da medicina que representa, em nossas sociedades, um saber de alguma forma oficial sobre o corpo humano.

Várias são as definições de corpo citadas por Costa (1998); entre elas, destacam-se: “O corpo existe para o mundo (e no mundo), para o descobrir (e ser descoberto) e para transformar (e ser transformado). É pelo corpo que eu atinjo o fim, realizo o gesto e concretizo a tarefa que organiza a ação” (MERLEAU-PONTY, apud COSTA, 1998, p.68 ).

O corpo é o território subjetivo da liberdade e nele se dá o encontro do subjetivo com o objetivo. O corpo é objetivo porque é território, é local concreto dentro do qual o ser existe. É subjetivo porque, na realidade, o sujeito que “eu sou” identifica-se com o meu corpo e conclui: eu não devo dizer que “tenho corpo”, mas que “sou corpo” (OLAVO FEIJÓ, apud COSTA, 1998, p. 67 ).

Barros (1998, p. 129) explica que o corpo é o depositário de toda a experiência pessoal; é a soma e expressão vivenciada “da história de cada ser humano, bem como de seu grupo social”.

O corpo é o veículo da presença humana no mundo, local da atividade, da emoção e do desejo (LAPIERRE; AUCOUTURIER, 1980). Sendo uma fonte de sua significação, ele possui atitudes e sentimentos peculiares que possibilitam a expressão corporal, a realização de gestos e de movimentos (BARROS, 1998).

Segundo Merleau-Ponty (1994, p. 203), “o corpo é nosso meio geral de ter um mundo”, de perceber o mundo.

A maneira de o homem relacionar-se com o seu corpo e seus códigos de conduta é construída socialmente, traduzindo, assim, o curso do processo histórico em que se encontra inserido. De forma simultânea, a relação individual de cada humano espelha as características do grupo a que pertence, como uma unidade (GONÇALVES, 2002).

O tratamento oferecido ao corpo bem como o comportamento corporal varia de acordo com determinado contexto social. Dessa maneira, ocorrem variações quanto às técnicas corporais relacionadas a movimentos como:

- andar, pular e nadar;

- movimentos expressivos (posturas, gestos, expressões faciais) que são formas simbólicas de expressão não-verbal;

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- o controle de estruturas de impulsos e das necessidades (GONÇAVES, 2002, p.14).

Esses quatro aspectos das técnicas corporais utilizadas na execução do movimento diferenciam-se não somente “em sua ordenação e coordenação, de sociedade para sociedade, como também” no seio da própria sociedade, de acordo com o gênero, posição social, idade, religião etc. (GONÇALVES, 2002, p.14).

Ortiz (2004, p. 2) distingue corpo e corporeidade, caracterizando o corpo como veículo do ser corporal, e a corporeidade, como a manifestação do ser humano como ser corporal. Cada pessoa manifesta-se com seu corpo e através dele. “Essas manifestações (pensamentos, emoções e sentimentos) fazem parte desse corpo que vive.”

Por isso, para Boscaine (1985, p. 149-150), é no corpo,

que se exprime o indivíduo, é através do corpo que a pessoa fala de si, porque o corpo é a síntese dos modos de ser do indivíduo: o corpo é a matéria mas é também psique, emoções, linguagem, história, presente, passado e futuro. Quando se fala de uma pessoa ou se fala diretamente com esta, não se pode jamais deixar de atentar para o seu corpo porque negá-lo significa negar a existência desta pessoa. Falar do corpo nas duas dimensões, quer dizer falar da criança, do homem na sua totalidade.

A corporeidade pode ser definida, segundo esta perspectiva, como “a vivência de fazer, sentir, pensar e querer.” Sob este ponto de vista, o ser humano se expressa, se comunica, vive com, por e através de sua corporeidade (ZUBIRI, apud ORTIZ, 2004, p. 2).

O corpo próprio ou vivido é dotado de uma intencionalidade operante nos quais todos os sentidos se unem pela experiência perceptiva. Nessa corporeidade, a experiência originária do corpo consigo mesmo é fundamental para a relação do homem com o mundo.

Em sendo o corpo ao mesmo tempo visível e vidente, sensível e “sentiente”, pode-se dizer que ele possibilita o vínculo entre o eu e as coisas, superando a cisão entre sujeito e objeto (GONÇALVES, 2002).

Le Breton afirma que, no transcurso da vida cotidiana, o corpo desvanece. Embora infinitamente presente na vida cotidiana com suporte inevitável do homem, o corpo está infinitamente ausente de sua consciência. Nas sociedades ocidentais, por exemplo, o corpo ocupa o lugar do silêncio, de discrição, incluído em rituais que o escamoteiam da consciência de si. “A socialização das manifestações corporais se fazem sob os auspícios da repressão” (LE BRETON, 1995, p. 122).

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Traduz-se, dessa forma, nas sociedades ocidentais, a existência de uma descorporalização que é definida por Gonçalves (2002, p. 17) como um movimento no qual, ao tempo em que o homem se torna progressivamente mais independente, reduz sua capacidade de percepção sensorial e aumenta o controle sobre seus afetos, “transformando a livre manifestação de seus sentimentos em expressão e gestos formalizados”.

A descorporalização é tratada por Lara (2004) como fragmentação, um ultraje e uma violência contra a própria carne, em face da unidade que o corpo representa em sua forma primordial.

O corpo do idoso

Quando me olho no espelho, me acho revoltada, velha, deformada, queria ficar sempre jovem, sem envelhecer! Me sinto fracassada, tenho vergonha de mim mesma (P6, 67 anos).

Segundo Giddens e Synnot (apud MARZANO-PARIZOLI, 2004), existe, nos tempos atuais, um projeto de reconfiguração do corpo humano, objetivando atender a modelos de mercado que rejeitam e culpabilizam aqueles que não se enquadram nos modelos propostos.

A imagem do corpo “ideal contemporâneo” é um corpo “completamente enxuto, compacto, firme, jovem e musculoso: um corpo protegido dos sinais dos tempos” (MARZANO-PARIZOLI, 2004, p. 31). Um corpo idoso, por exemplo, foge do padrão exigido pelos modelos comerciais.

Gaiarsa refere-se aos parâmetros culturais impostos ao idoso como

ser velho, portanto, além de um fato, é um conjunto de convenções sociais da pior espécie. Não sei o que pesa mais sobre os velhos, se a idade ou a idéia que fazem de si mesmos, movidos pelo modo como são tratados, levados pelas idéias que orientam o comportamento da maioria frente a eles (GAIARSA, 1991, p. 18)

Simões (1994) reporta-se à repercussão dessa exigência de um modelo de beleza e juventude sobre a corporeidade do idoso, reafirmando que, no momento atual, as pessoas vivenciam o corpo e a corporeidade em um mundo que exige um padrão ideal de juventude, força, produtividade e beleza, padrão este que o idoso, em particular, já não consegue ter. Como conseqüência, o idoso percebe o seu corpo como marginalizado,

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Sob outro aspecto, o corpo também é visto como instrumento de trabalho, voltado para a produtividade. Na velhice, por ser considerado improdutivo, o homem “é relegado ao ostracismo, perdendo seu sentido social ao retirar-se para a vida privada” (GONÇALVES, 2002, p. 30).

De acordo com Simões (1994), a velhice não é sinônimo de enfermidade biológica ou social, ela deve ser vista e vivenciada como uma fase potencial de crescimento humano, com características bem singulares, à semelhança das demais fases do curso de vida.

Para o idoso, é essencial reapropriar-se do seu corpo, no sentido de reintegrá-lo, de torná-lo uno como sujeito ativo que faz, percebe, deseja, comunica-se e está vivo. Só com a certeza de que seu corpo ainda pode realizar muitas coisas é que esse ser-idoso-no-mundo poderá manter a consciência de seu potencial de realização e valor nessa fase da vida (SIMÕES, 1994).

O objetivo proposto neste trabalho se insere exatamente nessa perspectiva de que o idoso ainda pode realizar coisas, a partir do momento em que descobrir outras potencialidades ou retomar suas descobertas em novas perspectivas (nova visão de seu autoconceito).

Capítulo 2

AUTOCONCEITO

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autoconceito, auto-estima e auto-imagem. Não seria por demais explicitar ainda que estes conceitos, freqüentemente, confundem-se e, nesta dissertação, a definição da Maria Helena Novaes (1985) será privilegiada.

2.1. Self

O estudo do self possui uma longa tradição que se originou na Antiguidade. Platão, por exemplo, referia-se ao self como alma, e Aristóteles realizou uma descrição sistemática do eu. Na Idade Média, São Agostinho registrou “o primeiro indício de introspecção do self” e, no século XVIII, esta conceituação aparece refletida no pensamento de Hobbes, Locke e Descartes (FERNÁNDEZ, 2002, p. 1).

Contudo, foi esse último filósofo, René Descartes (1998), um dos grandes expoentes da filosofia moderna, que em seu livro Princípios de Filosofia, publicado em 1644, realizou uma importante reflexão sobre o autoconceito, discutida até hoje. Nesta obra, o autor relaciona o self com o pensamento: “Penso, logo existo!” Sob esse prisma, a existência humana dependia da consciência de estar vivo.

William James (1890), no final do século XIX, inaugurou uma etapa de estudos do

self realizada em uma nova área de pesquisa, a psicologia. Para Fernández (2002), James identificou o self como sujeito da consciência, além de trazer o seu conteúdo, diferenciado em elementos cognitivos, afetivos e conativos, esses definidos por Ferreira (1999) como aspectos que levam a uma atuação consciente. Assim, para James e seus seguidores (apud

FERNÁNDEZ, 2002), existe, no homem, uma consciência de si mesmo que proporciona sentido existencial, identidade e direcionamento à ação.

Do ponto de vista psicológico, o self é conceituado “como um conjunto de estruturas de autoconhecimento que representa o que o indivíduo pensa de si mesmo e quanto gasta de energia, tempo e cuidados consigo mesmo.” Ele se desenvolve gradualmente, a partir da interação do indivíduo com os outros, regulando a personalidade (FREIRE, 2002, p. 930).

Segundo Fadiman e Frager (2002), na visão freudiana, o self é o ser total, isto é, corpo, instintos, processos conscientes e inconscientes. Não há, dessa forma, um self

independente do corpo ou separado dele.

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arquétipos2, o arquétipo central e regulador do psiquismo. O self abrange tanto o consciente quanto o inconsciente, e ambos se complementam mutuamente na sua formação, afirmou Jung (1964).

Rogers, um dos fundadores da psicologia humanista, define self como conjunto de percepções e crenças que a pessoa possui sobre si mesma. Este conjunto inclui sua natureza, as qualidades pessoais e o comportamento típico. Para ele,

como resultado da interação com o ambiente, e particularmente como resultado da interação avaliatória com os outros, é formada a estrutura do self – um padrão conceitual organizado, fluido e coerente de percepções de características do ‘eu’ e do ‘mim’, juntamente com os valores ligados a este conceito (ROGERS, 1992, p. 566).

Segundo Rogers (1977), essas características do “eu” ou do “mim” e os valores ligados a estes conceitos são admissíveis à consciência, ou seja, podem se tornar conhecidos pelo indivíduo. Fadiman e Frager (2002) traduzem o pensamento de Rogers, afirmando que o

self é uma “gestalt3”, isto é, um sistema organizado que consiste em um processo de formação contínua, ou seja, em um processo de construção, na medida em que as situações mudam.

Rogers (1977, p. 165) considera a existência de um self ideal diferente da existência do self real. O self ideal é definido por como “conjunto das características que o individuo mais gostaria de poder reclamar como descritivas de si mesmo”.Já o self real é o conjunto de características (qualidades e defeitos) próprias do indivíduo. É uma estrutura móvel, assim como o self ideal,que passa por constantes redefinições (GOBBI; MISSEL, 1998). Conforme Nunes (1997, p. 47), quanto maior é o grau de discrepância experimentado pelo indivíduo entre o self ideal e o self real, “maior é o seu estado de incongruência / desacordo interno e, conseqüente sofrimento, pelo qual esta autopercepção leva a pessoa a vivenciar sentimentos de baixa auto-estima, de desvalorização e pode ser uma fonte de inadequação social”.

Para James (1890), o self é a manutenção do si mesmo, ou seja, de ser único como pessoa, naquilo que cada indivíduo reconhece em si a cada dia. Fadiman e Frager (2002) exemplificam essa caráter do self com o fato de que, a cada dia, o homem se reconhece como igual ao dia anterior, ao acordar.

James (1890) descreveu várias camadas hierárquicas do self: a material, básica, incluindo as coisas com as quais há identificação (próprio corpo, família, amigos, casas e

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Arquétipos, segundo Silveira (1986, p. 77), “são possibilidades herdadas para representar imagens similares, são formas instintivas de imaginar. São matrizes arcaicas onde configurações análogas ou semelhantes tomam formas”.

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outros); a social, intermediária, que constitui os papéis desempenhados e aceitos de forma voluntária; a espiritual, a camada mais importante, que é interior e subjetiva.

James (apud FREIRE, 2002) também distinguiu o self como consciência do eu, subjetivo, e o self como objeto da consciência, chamado “mim”, que se constituem como dois elementos indissociáveis de um mesmo processo. O self objetivo recebeu esse nome porque pode ser analisado como estrutura e ser observado em três focos: self atual, ideal e auto-estima. O primeiro engloba as características que a pessoa possui; o segundo envolve aqueles que gostaria de possuir. A auto-estima é a avaliação da pessoa sobre seu próprio valor, dependendo da percepção de si mesma.

Cárdenas (2000) considera o self como um construto evidenciado na linguagem de quem fala de si mesmo, avalia-se, define-se, qualifica-se. Sob esta percepção, a narrativa veste-se de palavras para dar à luz a conceitos, juízos de valor e sentimentos sobre o si-mesmo.

2.2. Autoconceito

Os construtos auto-referentes como autoconceito e auto-estima são muito semelhantes em seu significado e “a literatura revela confusão conceitual e dificuldades na definição de ambos”(GOBITTA; GUZZO, 2002, p. 145). Além destes, termos como auto-conhecimento, auto-avaliação ou auto-descrição são utilizados em publicações “quase que como sinônimos”, embora diversas linhas teóricas indiquem um ou outro vocábulo como o mais adequado (FERNÁNDEZ, 2002, p. 3).

Uma grande variedade de palavras faz referência ao construto autoconceito, embora elas possam ter um significado diferente, de acordo com a orientação dada por cada pesquisador. Wells e Marwell (1976) revisaram alguns termos utilizados em estudos para se referir ao autoconceito e encontraram, entre outros: amor próprio, autoconfiança, auto-respeito, auto-aceitação, auto-satisfação, auto-avaliação, autovalia, sentido de eficácia pessoal e sentimento de competência.

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Autoconceito também é definido como auto-imagem; a distinção é muito delicada, conforme explica Blackerby (2006, p.1) que se refere à auto-estima “como a soma, em nível de identidade/crença, de todas as auto-imagens que o indivíduo tem sobre vários aspectos de si próprio.” Para ele, auto-estima e auto-imagem provêm da resposta a duas perguntas, respectivamente: “Que tipo de pessoa eu sou?” e, “Que evidência tenho disso?” A evidência é o que se sente no mundo ao redor; é o que se vê, ouve, sente, cheira e se degusta sobre si mesmo. O significado da evidência é o conjunto de atributos, qualidades ou características. A soma disso tudo forma a auto-imagem, e o significado atribuído a essa soma é a auto-estima.

Fernández (2002) considera o autoconceito o componente básico do psiquismo que facilita a compreensão do indivíduo sobre si em sua totalidade. O autoconceito controla e organiza a conduta e constitui uma fonte de saúde física e mental. Ele também concebe o autoconceito como o construto4 geral referente ao si mesmo, o self. Construtos como auto-estima e auto-imagem também participam do autoconceito, de forma indissociável, como referenciais do self.

O autoconceito se configura como o conjunto organizado das percepções sobre si mesmo, admitido pela consciência, produto da interação social. Freire (2002, p. 930) afirma que, do ponto de vista sociológico e psicológico, o âmago do autoconceito é o self, “a consciência que o indivíduo tem de sua contínua identidade e de sua relação com o ambiente, ou do que vê como essencial sobre si mesmo”.

Sanchez e Escribano (1999) definem autoconceito como uma atitude valorativa do indivíduo acerca de si mesmo, envolvendo estima, sentimentos, experiências ou atitudes que o indivíduo desenvolve sobre si mesmo. O autoconceito tem um papel fundamental sobre o psiquismo do indivíduo, sendo muito importante para suas experiências, saúde psíquica, atitudes para consigo e para os demais, base para a construção da personalidade.

Segundo Erikson (1987), o processo de estruturação do autoconceito é complexo e provoca crises e conflitos. Mas mesmo assim, os valores implícitos nele devem ser considerados positivos, pois as crises contribuem para unificar as pessoas, consolidando seu autoconceito.

L’Ecuyer (apud NOVAES, 1985) desenvolveu um modelo teórico de autoconceito com base em um sistema hierárquico multidimensional, composto de estruturas fundamentais e categorias configuradas pela experiência vivida, percebida, simbolizada e conceituada.

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Como se trata de um construto dinâmico que varia constantemente no processo evolutivo, de sedimentação não cumulativa nem gradativa, ele surge do sentimento de unidade, da coerência e da estabilidade que permitem ao indivíduo reconhecer-se em qualquer situação. O modelo de L’Ecuyer pressupõe quatro hipóteses:

1. Organização hierárquica em estruturas, subestruturas e categorias, de características que diferenciam idade, gênero e grupos culturais;

2. Percepções centrais e secundárias, constituído de agrupamento da percepção central e da intermediária no processo, ressaltando-se que elas podem se inverter, a depender das circunstâncias sócio-culturais;

3. Diferenças intersexuais, fundamentadas no pressuposto de que existe uma organização do autoconceito baseada em diferenças entre sexos, seja em relação a conteúdos perceptivos mais específicos, seja em relação aos mais abrangentes; 4. Evolução do autoconceito que admite esse processo por toda trajetória de vida do

indivíduo e por meio da qual se pode analisar o desenvolvimento de suas dimensões integrantes, de suas complexidade e peculiaridades.

Diante disso, o autoconceito pode ser analisado em várias dimensões do self (Quadro 1.1), quais sejam:

Estrutura Subestrutura Categoria

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1. Self-material

2. Self-pessoal

3. Self-adaptativo

4. Self-social

5. Self e não-Self

Self-somático

Self-possessivo

Imagem do self

Identidade do self

Valor do self-

Atividade do self-

Preocupações e atividades sociais

Referência ao sexo

Referência aos outros

Opiniões dos outros sobre si

Aparência Condição física

Posse de objetos Posse de pessoas

Aspirações

Sentimentos e emoções Gostos e interesses Qualidades e defeitos

Papel e status

Consistência Ideologia Identidade abstrata Competência Valor pessoal Autonomia Ambivalência Dependência Estilo de vida Receptividade Dominação Altruísmo Referência simples Atração e experiência sexual

Quadro 1.1: Dimensões analíticas do autoconceito

Fonte: L’Ecuyer, apud Novaes, 1985, p. 29.

Infere-se daí que o autoconceito permeia vários campos do self, denotando-se a extensão das implicações de seu desenvolvimento, positivo ou negativo.

Para Campbell (1990), a principal função do autoconceito é a de regulação do comportamento. Ele orienta e capacita os indivíduos a desempenhar os seus papéis ao longo da vida.

Para Brändtstädter, Wentura e Greve (1993), o autoconceito tem como papel capacitar o indivíduo a assimilar e acomodar as transformações advindas do processo pessoal, através de adaptações típicas.

O autoconceito tem outras funções específicas, nas quais se destacam as seguintes: harmonizar os afetos, funcionar como uma fonte de motivação e estímulo para o comportamento, dotar o indivíduo de um sentido de continuidade no tempo e no espaço e desempenha um papel de integração e organização das experiências importantes do indivíduo (MARKUS; WURF, 1987).

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autoconceito sofre influência das variáveis ambientais, dando-lhe forma. Entre essas variáveis podem ser citadas: características sócio-culturais da região, ideais e expectativas e, seqüelas sociais. Eles explicam que o autoconceito é fundamentalmente social e tem uma relação muito estreita com a autopercepção, também sofrendo influências da interpretação das experiências pelo ambiente, dos reforçamentos, das avaliações pelos outros significativos e do próprio comportamento. “A percepção de si faz-se a partir das representações dos outros, sem ser exclusivamente uma reprodução das mesmas. O outro funciona como espelho, onde o indivíduo, a partir da imagem que ele reflete, se descobre, se estrutura e se reconhece”. Segundo resumem, o autoconceito tem sua origem na relação do indivíduo consigo mesmo, nas suas vivências corporais e na inter-relação com o meio social. (PAULLINELI; TAMAYO, 1986, p. 116).

O desenvolvimento do autoconceito começa na infância, quando a criança inicia suas experiências, motivada pela atualização e pela socialização. E na medida em que vai adquirindo um autoconhecimento, também desenvolve a necessidade de uma aceitação positiva e sensação de ser amada e valorizada pelas pessoas, principalmente pelos pais (ROGERS, 1992).

Erikson (1998, p. 69) abordou o desenvolvimento do indivíduo, dividindo-o em estágios psicossociais. Sua classificação parte do princípio de que a adaptação humana tem como base tanto os potenciais sintônicos e distônicos, quanto os simpáticos e antipáticos. “O ser humano não compartilha o destino dos animais de se desenvolver de acordo com uma adaptação instintiva a um ambiente natural circunscrito que permite uma divisão clara e inata de reações positivas e negativas.”

Depreende-se, nesse contexto, que o desenvolvimento do autoconceito também pode ser observado na ótica proposta por seus estágios, quais sejam:

1. Confiança básica versus desconfiança: é atingido quando o bebê sente-se bem cuidado e seguro, em vez de vulnerável e inseguro.

2. Autonomia versus vergonha e dúvida: quando a criança mais nova conquista um sentimento de domínio por meio do autocontrole.

3. Iniciativa versus culpa: quando a criança ganha confiança a partir do estabelecimento de metas e realizações.

4. Produtividade versus inferioridade: quando a criança alcança metas e conquista habilidades sociais.

5. Identidade versus confusão de identidade: quando um adolescente obtém um senso de identidade central com o tempo.

6. Intimidade versus isolamento: quando o adulto jovem desenvolve relacionamentos íntimos a longo prazo.

7. Generatividade versus estagnação: quando um adulto encontra sentido na família e em realizações ocupacionais.

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Sanchez e Escribano (1999, p. 22) traçam um perfil evolutivo do autoconceito, na perspectiva da cognição e da ontogênese. Até os 12 anos, observam-se alguns aspectos importantes relacionados com o autoconceito: a aquisição de um sentimento de autonomia, desenvolvimento de uma confiança básica em seu ambiente, a reação das pessoas importantes para a criança e as novas vivências desenvolvidas a partir da ampliação da experiência social.

No geral, esse período é caracterizado pelo acúmulo e pela hierarquização de várias imagens que a criança vai tendo de si e que repercutem sobre seu sentimento de identidade. O autoconceito “vai se definindo e delineando em virtude das experiências, exigências e expectativas que o mundo propicia”.

Na adolescência (dos 12 aos 18 anos), o autoconceito se define de modo a que o indivíduo possa se identificar como pessoa singular, diferente dos outros. Contribuem para isso o amadurecimento físico e a aceitação de suas transformações, a distinção que ele faz entre si mesmo e seus pais, depois, entre si e os colegas. Embora estruturados nas relações sociais, desde a mais tenra infância, tanto o autoconceito quanto a auto-estima são construtos individuais que fundamentam a representação social que o adolescente tem de si mesmo (SANCHEZ; ESCRIBANO, 1999).

Na maturidade adulta (entre 20 e 60 anos), o autoconceito não só evolui como é submetido a constantes reformulações, em função dos acontecimentos importantes que ocorrem nesse período, considerando-se entre eles o início da vida profissional, o sucesso ou fracasso no trabalho, maternidade ou paternidade, status sócio-econômico, entre outros (SANCHEZ; ESCRIBANO, 1999).

De acordo com Fernández (2002), o autoconceito não possui uma estrutura inata; ele se desenvolve a partir de experiências acumuladas, ao longo da vida, em um processo contínuo e organizado. O autoconceito tem a capacidade de se reajustar e se desenvolver ao integrar novas experiências, estando aberto a trocas com os demais indivíduos e com a realidade do meio ambiente.

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O vocábulo estimar, de origem latina, estimãre, apresenta dois significados: avaliar e amar (CUNHA, 2001). Dessa forma, etimologicamente, auto-estima é, ao mesmo tempo, uma auto-avaliação e o sentimento que se tem por si mesmo.

James, em 1890, manifestou a importância da auto-estima na mesma obra em que se referia ao autoconceito. Desde então, a auto-estima e autoconceito foram objeto de muitas pesquisas.

Woolfolk (2000, p. 79) registrou o pensamento de James em relação à auto-estima:

Há mais de 100 anos, William James (1890) sugeriu que a auto-estima é determinada pelo grau de sucesso que alcançamos em tarefas ou objetivos que valorizamos. Se uma habilidade ou realização não é importante, a incompetência nessa área não ameaça a auto-estima.

De acordo com Gobitta e Guzzo (2002), se forem considerados os pensamentos relativos ao self de James, Adler, Cooley, Mead e Rogers, neles podem ser encontradas as primeiras noções do construto auto-estima. A contribuição de James relaciona-se com a maneira que o indivíduo escolhe as suas metas; a de Adler, com a aceitação de si mesmo; a importância do outro como pessoa significante vem de Cooley e Mead e a autenticidade do eu, de Rogers .

Coopersmith (1967) estudou os fatores que fortalecem ou enfraquecem a auto-estima, utilizando “tradicionais métodos psicológicos, particularmente mediante a observação controlada.” É um dos autores mais citados, tanto em trabalhos de revisão do tema, quanto em estudos empíricos relativos a esse construto, como os de Bednar e Peterson (1995), Bracken (1996), Andrey e Tracy (1996) e Mruck (1998), mencionados por Gobitta e Guzzo (2002).

Para Coopersmith (1967, p. 4-5), a auto-estima é uma auto-avaliação que o indivíduo faz e mantém. “Expressa uma atitude de aprovação ou desaprovação e indica o grau em que o indivíduo considera capaz, importante e valioso. (...) É uma experiência subjetiva que o indivíduo expõe aos outros por relatos verbais e expressões públicas de comportamentos”.

“Auto-estima é a tendência a aceitar e dar valor a si mesmo. Ela avalia em que medida alguém quer bem a si próprio e o grau de positividade com que se vê” (SIMMONS, SIMMONS JR. e JOHN, 1999, p. 8).

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sedimentada, de qualidades e defeitos que o indivíduo faz de si mesmo. A importância maior não é dada à realidade dos fatos e sim a certeza “que se tem de ser portador de qualidades ou de defeitos, de potencialidade ou de limites”. A autoconfiança refere-se à capacidade de agir adequadamente em situações consideradas importantes. Entre as três bases, é a mais objetiva porque se traduz em ações. Tais ações irão desenvolver ou manter a auto-estima.

No quadro seguinte, André e Lelord (2003, p. 25) relacionam as origens, os benefícios dos três pilares da auto-estima e suas conseqüências em caso de falta:

- AMOR A SI MESMO(A) VISÃO DE SI MESMO(A) AUTOCONFIANÇA

ORIGENS Qualidade e coerência dos “alimentos afetivos” recebi-dos pela criança.

Expectativas, projetos e projeções dos pais sobre o filho.

Aprendizagem das regras de ação (ousar, perseve-rar, aceitar os fracassos). BENEFÍCIOS Estabilidade afetiva, relações

alegres com os outros, resistência às críticas ou à rejeição.

Ambições e projetos que se tenta realizar, resistência aos obstáculos e aos contratempos.

Ação no cotidiano fácil e rápida.

CONSEQÜÊNCIAS EM CASO DE FALTA

Dúvidas quanto à capacidade de ser estimado pelos outros; convicção de não se achar à altura; auto-imagem médio-cre, mesmo em caso de sucesso material.

Falta de audácia nas escolhas existenciais; com-formismo; dependência das opiniões dos outros; pouca perseverança em suas escolhas pessoais.

Inibições, hesitações, abandonos, falta de perseverança.

Quadro 1.2: Os pilares da auto-estima

Fonte: André e Lelord, 2003, p. 25.

Branden, em 1992, esclareceu que a auto-estima abrange dois elementos: o sentimento de competência pessoal e o de valor pessoal; ela é a soma da autoconfiança com o auto-respeito e reflete a capacidade pessoal de se lidar com as dificuldades da vida e com o direito de ser feliz. Enquanto a baixa auto-estima proporciona um sentimento de inadequação à vida, não aos fatos em particular, a alta auto-estima traz os sentimentos de competência, merecimento e adequação. Branden (1996) definiu a auto-estima plena como “a vivência de que somos adequados para a vida e suas exigências”. Ela traduz a confiança na capacidade de realização dos desafios da vida e no crédito de vencer e ser feliz, de ter valor e merecimento.

Para Clark, Clemes e Bean, (1994), a estima implica basicamente em auto-respeito, autoconfiança, auto-aceitação e auto-segurança.

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Figura 1.3: Aumento da população de 60 anos ou mais, por sexo, no                     Distrito Federal
Figura 3.1: Primeira configuração do modelo teórico da Biodança                                                 Fonte: TORO, 2002, p
Fig. 3.3: Modelo teórico da Biodança                                                                                       Fonte: TORO, 1991, p.260

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