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Rev. adm. empres. vol.46 número1

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Academic year: 2018

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JAN ./ MAR. 2 0 0 6 • ©RAE • 5 Neste número optamos por destacar duas seções, a

“RAE-clássicos” e o “Fórum”, que explora a questão dos parado-xos. Neste número encerra-se a publicação de uma série de artigos clássicos, sugeridos por Miguel P. Caldas e precedi-dos sempre de uma apresentação. Certamente o termo “clás-sico” em teoria organizacional não tem o mesmo significa-do, em termos de idade, que aquilo que surge noutras áreas de conhecimento. Na verdade, a “ciência das organizações” tem pouco mais de um século, e seu grande desenvolvi-mento ocorreu nas últimas três ou quatro décadas. Os anos 1970 e 1980 foram particularmente enriquecedores para o campo, quando as diversas perspectivas hoje em debate surgiram. O neo-institucionalismo, o simbolismo, a ecolo-gia populacional de organizações, as várias tendências do pós-modernismo e um corpo amplo de idéias sob a rubrica de CMS (Critical Management Studies).

Várias controvérsias foram geradas pelo surgimento de tantas teorias explicativas para o fenômeno organizacional. Fundamentalmente há os que aplaudem e se regozijam com a diversidade, advogando que apenas a multiplicidade teó-rica pode abordar de maneira satisfatória a complexidade organizacional. Por outro lado, há os que lamentam essa mesma pluralidade, responsabilizando-a pela relativa este-rilidade da área e pelo atraso em se lograr a consolidação de uma ciência das organizações. Os partidários da multiplici-dade se apóiam na tese da incomensurabilimultiplici-dade dos para-digmas, derivada de famoso trabalho de Thomas Kuhn, que implica aceitar cada teoria em si mesma abdicando de qual-quer esforço por cotejá-la com as demais. Isso tem gerado uma guerra de paradigmas (teorias) e também alimentado o florescimento da diversidade. Pode ser visto também como forma de estimular a geração de idéias e ainda ajuda na aqui-sição de visibilidade dentro do campo.

Os que lamentam a multiplicidade, de certa forma, tam-bém fazem uso das teses kuhnianas de acumulação de co-nhecimento indicando que é apenas erigindo um paradig-ma e trabalhando dentro dele que se desenvolverá a almeja-d a “ciên cia n o r m al”, ap an ágio almeja-d a m at u r ialmeja-d aalmeja-d e e almeja-d a fecundidade científicas. O debate é uma continuação e uma reformulação do que foi iniciado no século XIX entre filó-sofos alemães n eo-kan tian os sobre a diferen ça en tre as ciências da natureza (naturwissenschaften) e as ciências do espírito (geisteswissenschaften). Os partidários da multipli-cidade podem ser vistos como ainda ecoando a tese de que os dois tipos de ciências são fundamentalmente diversos e que não é possível aplicar as metodologias de umas às outras. As ciências da natureza, modelo de sucesso científico desenvol-vido a partir da revolução filosófica e científica dos séculos XVI e XVII, não podem servir de modelo às ciências sociais. Os defensores da multiplicidade de teorias e paradigmas são os que defendem a irredutibilidade da ciência organizacio-nal, como ciência essencialmente social, ao modelo

científi-EDITORIAL

co das ciências da natureza. Os partidários da adoção de um paradigma para o desenvolvimento de uma ciência normal das organizações possivelmente elegem as ciências da natu-reza como modelo e acreditam que a adoção desse mesmo modelo pelas ciências sociais é a única forma de assegurar cientificidade ao campo.

Os artigos publicados nos últimos cinco números da RAE

são fundamentais para o entendimento dessa questão. Ao decidirmos pela criação da seção “Clássicos”, também nos propusemos desempenhar uma função pedagógica. São ar-tigos mais citados do que lidos. Estamos seguros de estar entregando à comunidade científica um importante instru-mento de trabalho ao disponibilizá-los em português.

O paradoxo pode ser entendido como contendo vários aspectos, o que é ressaltado na introdução preparada pelos organizadores do fórum. Mas sempre há a idéia de poten-cial contradição e a possibilidade de que esta permaneça no tempo, fazendo com que tenhamos que conviver com a am-bigüidade. Os três artigos nos mostram essas aparentes con-tradições ou paradoxos em três momentos. Um é a dicoto-mia sagrado/profano, no caso da análise de uma organiza-ção monástica milenar, que são os beneditinos, e como se insere no temporal por meio de ações políticas e comuni-tárias. Outro paradoxo é o da reorganização de um grande banco múltiplo, com ênfase no varejo, e que acaba gerando conseqüências que não foram contempladas pelos formula-dores do projeto de reestruturação. O terceiro artigo nos fala de finanças comportamentais. Do ponto de vista estritamen-te ortodoxo, estaríamos dianestritamen-te de um oximoro. As finanças têm sido calcadas, até o momento, num modelo exclusiva-mente racional, derivado da teoria econômica clássica. Não se pode negar que foi a fecunda aproximação com a teoria econômica que permitiu à área financeira delimitar um cam-po de conhecimento separado da contabilidade gerencial, que foi seu berço. Mas se a teoria econômica sofreu, em meados do século XX, o impacto da racionalidade limitada, que in-troduziu elementos comportamentais no pensar econômico, isso ainda não havia atingido a área financeira. Apenas agora se iniciam especulações tentando incorporar às finanças não só a racionalidade limitada, mas talvez até mesmo a falta de racionalidade, por meio de emoções e impulsos.

O foco deste editorial em parte do conteúdo desta edição não deve ser entendido como posição valorativa do editor. Trata-se apenas de uma escolha para comentários, dada a exigüidade do espaço que nos reservamos. O restante desta

RAE é entregue aos nossos leitores com o mesmo zelo de sempre, e com os votos de uma profícua leitura e utilizações futuras.

Carlos Osmar Bertero

Referências

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