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Rev. adm. empres. vol.46 número1

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Academic year: 2018

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A obra do professor Bianor Scelza Cavalcanti nos remete às possibili-dades de gestão profissional dos ge-rentes públicos, ainda que em am-bientes que lhes apresentem restri-ções variadas. In teressan te de se notar a coincidência de a obra ser publicada em um momento brasilei-ro grave, em que se discutem, entre outros tantos assuntos, as frontei-ras que devem existir entre o que seja atividade de governo e o que seja do domínio competente da Ad-ministração Pública, ou seja, da ges-tão propriamente dita.

Nesse ainda início de século XXI, parece que o modelo de controle político sobre a Administração

Pú-AUTOM ODELAGEM ORGANIZACIONAL EM

ADM INISTRAÇÃO PÚBLICA: UM A RECOM ENDAÇÃO

ÉTICA EM DIREÇÃO A RESULTADOS

Por Gilberto de Abreu Sodré Carvalho

Consultor jurídico empresarial e conferencista; membro do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB)

E-mail: gsodre@uol.com.br

RESENHAAUTOM ODELAGEM ORGANIZACIONAL EM ADM INISTRAÇÃO PÚBLICA: UM A RECOM ENDAÇÃO ÉTICA EM DIREÇÃO A RESULTADOS

blica chegou ao seu ponto de esgo-tamento frente à opinião pública brasileira. O caminho que se tem para o Brasil, em boa fé, é o da se-paração entre o governo e a gestão profissional, como ocorre, de regra, nos países desenvolvidos social e econ omicamen te, como o Rein o Unido e a França. Nesses países não existe confusão de identidades en-tre o poder político e a gerência das organ izações pú blicas, em detri-mento da qualidade gerencial e das possibilidades da gestão pública de alto desempenho.

Atualmente parece estar mais cla-ro que os governos – ou seja, os go-vernantes – municipais, estaduais e

o governo federal historicamente tendem a engolfar a gestão das orga-nizações públicas, impedindo, em maior ou menor escala, sua qualifi-cação e congruência para o cumpri-mento direcionado de seus objetivos. Os administradores das organizações públicas, por sua vez, interiorizam “interesses de governo” e criam opor-tunidades de exercício de poder des-comprometido com os fins institu-cionais de cada agência solteira.

Assim, há duas crises ocorrendo simultaneamente no Brasil, em inte-ração simbiótica, que parecem uma só. Primeira, a de governo ou políti-ca, devida aos fundings não contabi-lizados das campanhas eleitorais e

O GERENTE EQUALIZADOR: ESTRATÉGIAS DE GESTÃO NO SETOR PÚBLICO

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GILBERTO DE ABREU SODRÉ CARVALHO

aos distúrbios éticos em geral. Segun-da, a da gestão das organizações pú-blicas. A primeira é ruidosa; a segun-da é mortal e silenciosa.

É n esse qu adro de fu n do qu e s u r ge a o b r a d e Bian o r Scelza Cavalcanti, PhD em Administração e Políticas Públicas pela Virginia Polyt ech n ic In st it u t e an d St at e Un iversity, dos Estados Un idos. Nela, o pesquisador – que também é diretor da FGV-EBAPE – mostra que a segunda crise não há de ser vencida com reformas legislativas dirigidas às estruturas da Adminis-tração Pú blica. Nu ma lin gu agem acessível e com dados obtidos por meio de entrevistas, o autor defen-de a tese defen-de que as estruturas, con-dicionantes legais, diretrizes gover-namentais, recursos orçamentários e os econômico-financeiros em ge-ral não são impedimentos insupe-ráveis para que os gerentes públi-cos possam desenvolver uma ges-tão de alto desempenho.

Os quatro gerentes públicos es-tu dados – Irapoan Cavalcan ti de Lyra, Ozires Silva, Pau lo Vieira Belotti e Sérgio Rudge – mostram que isso é possível. Todos eles, cada qual com o seu estilo próprio e em tipos diversos de organização públi-ca, desenvolveram o que é chama-do pelo autor de equaliz ação. Esse termo é entendido como uma for-ma de gerenciar que busca, para o cumprimento eficaz da missão da organização pública, a proativa in-terpretação operacional das condi-cionantes legais, de governo e das estruturas dadas em geral. Cabe re-gistrar que o direito vê com bons olhos a interpretação e aplicação fi-nalística de normas jurídicas, e que só h aver á boa ger ên cia p ú blica quando houver foco intransigente quanto aos fins.

Ponto importante e elucidado no texto é o fato de que a prática da

“gerência transformadora”, por par-te dos quatro administradores, foi possível na medida em que eles de-finiram espaço para o exercício do seu profissionalismo gerencial. Esse profissionalismo não corresponde ao burocrático, no sentido do cum-primento legalista de regras e de inação quando não houver regra; o que tem sido, muitas vezes, da nos-sa tradição imobilista. O profissio-nalismo que se recomenda é o do agir em busca do cumprimento dos propósitos organ izacion ais, com toda a coragem e a lealdade a esses propósitos. É o que se vê quando se estudam detidamente as experiên-cias de gestão de Irapoan Cavalcanti de Lyra, Ozires Silva, Paulo Vieira Belotti e Sérgio Rudge. É o que con-clui o autor. Cabe ainda registrar que Cavalcanti teve o cuidado de demonstrar que as habilidades dos seus quatro gerentes são ensináveis e, assim, reproduzíveis quanto aos seus benefícios.

No livro – que nos chega, como dito, em momento tão propício para a reorganização da vida brasileira – têm-se a identificação e o mapea-mento da forma de gerir dos admi-nistradores e uma fundamentação teórica que resulta no que pode ser chamado de teoria da equaliz ação. Para esse efeito, Cavalcanti se vale de Karl Weick – conhecido psicólo-go social e teórico organizacional norte-americano – para demonstrar as possibilidades de transformação das organizações públicas. Em vez de acatamento burocrático das es-truturas em sentido amplo, o geren-te público – necessariamengeren-te um profissional a serviço da organiza-ção e não um homem “do” governo – fixa-se nos propósitos e missão institucionais. Então, em processo contínuo e transformador, “equali-za” os recursos interativos de que dispõe na direção dos fins.

Uma novidade importante e que pode ser destacada é que Cavalcanti procura demonstrar, por inteiro, a possibilidade real de superação da dicotomia estrutura-subjetivismo ou estrutura-liderança. A superação se dá na forma da automodelagem das organizações. Nessa superação, o processo social transformador re-sulta em organizações em perma-nente atividade de se organizarem, em que gerenciamento e estruturas in teragem em desdobramen tos e superações sem fim.

Tão importante quanto a funda-mentação empírica e a demonstra-ção teórica de que as organizações são entidades em organiz ação é o fato de o autor desenvolver essa vi-são n o âmbito da Admin istração Pública. Esse ponto nos parece fun-damental, em termos de abertura de espaços novíssimos para a pesquisa e para a prática da gestão em geral. Em outras palavras, o que poderia parecer assunto a ser cuidado em Administração de Empresas surge como tema de Administração Públi-ca. Isso pode ter como conseqüên-cia a abertura de espaço para um tipo de gestão que se poderia cha-mar de “pós-moderna”, abrangendo a Administração Pública e a Admi-nistração de Empresas. O seu “pós-modernismo” está na ultrapassagem do gosto pelas dicotomias, no aban-dono das fórmulas cartesianas ou mecanicistas, na preferência pelo criticismo em desfavor do caminho da repetição confortável de idéias e modelos.

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