• Nenhum resultado encontrado

O ENVELHECER: UMA ANÁLISE JUNGUIANA NA MITOLOGIA AFRICANA MESTRADO EM GERONTOLOGIA

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2019

Share "O ENVELHECER: UMA ANÁLISE JUNGUIANA NA MITOLOGIA AFRICANA MESTRADO EM GERONTOLOGIA"

Copied!
98
0
0

Texto

(1)

! " "

" "

(2)

! " "

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo como exigência parcial para obtenção do Título de Mestre em Gerontologia, sob a orientação da Profª Drª Elisabeth Frohlich Mercadante.

MESTRADO EM GERONTOLOGIA

(3)
(4)

BANCA EXAMINADORA

(5)
(6)

Primeiramente, agradeço à Deus e aos Orixás, por tudo o que consegui até o momento e por esta, que se torna mais uma conquista em minha vida. Começo agradecendo à Odette Figueiredo Tondato ( , por todo amor a mim dedicado, com sua postura séria, porém acolhedora e cativante e que, hoje, deixa a sua marca e saudades.

Benedicto de Mello, ( ) exemplo de longevidade e maturidade.

À minha mãe, Shirley Iara Figueiredo Tondato, que, mesmo sem saber, me ensinou o gosto por tudo que é da natureza humana e pela cultura e intelectualidade, de maneira geral.

Ao meu pai, Álvaro de Mello, que me mostrou a força, garra e coragem em frente a quaisquer obstáculos em minha vida.

Agradeço também à Maria Tereza Figueiredo Tondato, minha tia, mostrando que as adversidades podem ser enfrentadas de maneira mais leve, sempre sorrindo e, de preferência, com uma boa brincadeira.

À CAPES, pela bolsa concedida, essencial para a concretização deste trabalho.

José Américo Figueiredo Tondato, por toda a força e investimento, ao longo destes anos, sempre acreditando em meu potencial e apostando em mim.

Edith de Mello dos Santos, pela especial acolhida e por toda a dedicação e atenção, ao longo destes anos.

Elisabeth Mercadante, que com todo carinho recebeu o meu projeto de dissertação, que, hoje, transforma>se em um trabalho solidificado, grato pelo

investimento e pela caminhada, junto comigo.

(7)
(8)

MELLO, LEONARDO TONDATO DE. ' ( ) * + ,- ./ 0,

*, 0, 1 ,) 2 Dissertação de mestrado em Gerontologia. Programa de Estudos Pós – graduados em Gerontologia. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2016.

Este trabalho visa proporcionar para psicólogos estudiosos da gerontologia e profissionais das diversas áreas, uma análise da velhice, levando em conta os

pressupostos da psicologia analítica de Carl Gustav Jung e a mitologia junguiana, desta forma fornecendo mais uma visão acerca do envelhecimento, ampliando o estudo deste tema, ainda tão desconhecido. Os orixás são aqui vistos como modelos arquetípicos, formas de envelhecimento, que apontam para o processo de individuação descrito na obra de Jung. Têm>se que à luz da mitologia africana e a psicologia analítica há inter relação entre as temáticas, trazendo, assim, outra concepção sobre o envelhecimento.

(9)

4

MELLO, LEONARDO TONDATO DE. ' ( ) * + ,- ./ 0,

*, 0, 1 ,) 2 Dissertação de mestrado em Gerontologia. Programa de Estudos Pós – graduados em Gerontologia. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2016.

This work aims to provide for scholars psychologists of gerontology and professionals from various areas, an analysis of old age, taking into account the assumptions of analytical psychology of Carl Gustav Jung and Jungian mythology, thus providing more insight about aging, expanding the study this theme, yet so unknown. The deities are here seen as archetypal models, ways of aging, pointing to the individuation process described in Jung's work. To have that in the light of African mythology and analytical psychology there is interrelation between the issues, thus bringing another conception of aging.

(10)

INTRODUÇÃO ... 10

CAPÍTULO 1. ARQUÉTIPO, MITOLOGIA E VELHICE ... 15

1.1 Metanoia ... 32

CAPÍTULO 2. MITOLOGIA AFRICANA E PSICOLOGIA JUNGUIANA ... 38

2.1 O candomblé ... 48

2.2 Os velhos orixás ... 56

2.2.1 Oxalufã... 57

2.2.2Abaluaê/Omulu/Obaluaiê/Omolu ... 63

2.2.3 Nanã de Buruku/Nanã de Burukê ... 71

2.2.4 Preto>Velho ... 81

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 88

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 91

(11)

9

A velhice é uma fase da vida que, na verdade, ainda não é totalmente conhecida, as pessoas não sabem lidar, é uma questão contemporânea, um processo em que ocorrem fenômenos de natureza biológica, psíquica, social e existencial, portanto, deve>se levar em conta a dimensão de sua totalidade. Não se sabe ao certo quando ficamos velhos, envelhecemos e tudo ao redor simplesmente toma outra configuração, sendo esta, também, uma possibilidade de desenvolvimento humano, período em que há o crescimento espiritual. Segundo MINAYO (2002,p.11): “Pelas regras de classificação dos ciclos da vida que vigoram em nossa sociedade, o Brasil precocemente entrou na rota do envelhecimento populacional. Nessa estrada que acolhe os caminhantes grisalhos e sulcados pela vida, o trânsito vai aos poucos ficando congestionado, a ponto de já serem mais de 31 mil os brasileiros remanescentes do século XIX.”

(12)

Em meio a esta trama, cabe ressaltar que envelhecer é uma possibilidade de desenvolvimento humano, possibilidade esta que, na contemporaneidade, encontra>se indesejável, com uma sociedade que apóia o “não envelhecer”. Sobre esta questão, CORREA(2009,p.28) afirma: “Atualmente, a regra é não envelhecer. Não somente a velhice por si só é indesejável, mas a finitude humana também o é. Por isso o envelhecimento permaneceu na orla social por tanto tempo como uma espécie de tabu, da ordem de um interdito em relação ao qual o silêncio seria o melhor aliado.”

Em contrapartida, o aumento da composição demográfica de idosos, fez com que se buscassem novas formas para inclusão e novos símbolos para o idoso, que englobassem além da sabedoria e conhecimento, experiência e maturidade, mas também como visivelmente social, com possibilidades de realizações, planejamentos, atividades. Ainda sobre a questão, CORREA(2009,p.29) coloca que : “O mundo está mais velho. Conhecido por ser um país jovem, o Brasil tem ficado cada vez mais grisalho. O progresso científico, a biotecnologia, os métodos contraceptivos, a maior produção e o acesso a medicamentos, enfim, poderíamos elencar uma série de fatores que podem ter contribuído para o aumento da expectativa de vida. Mas esses não seriam fatores isolados, pois um processo ainda mais complexo aconteceu em poucas décadas, levando a velhice a um até então inalcançado, promovendo mudanças na forma de ver e viver o envelhecimento: a visibilidade social.”

(13)

premente necessidade de delimitar essa população, caracterizá>la, conhecer seu potencial, estabelecer sua funcionalidade, enfim, geri>la de forma eficiente.”

Desta forma, o idoso torna>se eficiente por que assim, agora, o é, como um fenômeno público, como afirma GEERTZ(1989,p.22): “A cultura é pública porque o significado o é. Você não pode piscar (ou caricaturar a piscadela) sem saber o que é considerado uma piscadela ou como contrair, fisicamente, suas pálpebras, e você não pode fazer uma incursão aos carneiros (ou imitá>la) sem saber o que é roubar urri carneiro e como fazê>lo na prática. Mas tirar de tais verdades a conclusão de que saber como piscar é piscar e saber como roubar um carneiro é fazer uma incursão aos carneiros é revelar uma confusão tão grande como, assumindo as descrições superficiais por densas, identificar as piscadelas com contrações de pálpebras ou incursão aos carneiros com a caça aos animais lanígeros fora dos pastos.”

Quando refletimos sobre o processo de envelhecimento nos deparamos com um aspecto complexo, no qual se insere a dificuldade de o velho se reconhecer e compreender, apoiados nos estudos de MERCADANTE (2005).

(14)

em 2000 foi de 16 anos para os homens e de 19,5 para as mulheres.Nesse ano, a esperança de vida do brasileiro aos sessenta anos era de 17,8 anos; aos 65, de 14,3; aos 70, de 11,1; aos 75, de 8,4 e, aos 80, de 6,1 (IBGE, 2000).

Sobre a questão do aumento de idosos, MINAYO (2002,p.11) afirma : “Embora o crescimento do número de idosos na população total e o aumento da expectativa de vida sejam indícios de progresso social, sua ocorrência provoca o aparecimento de novas demandas e de novos problemas.”

A proposta desta dissertação é articular entre a psicologia e a mitologia africana, no estudo da velhice. A metodologia aqui desenvolvida se dá na análise bibliográfica sobre a psicologia junguiana, envolvendo autores como Jung e outros que escreveram sobre a psicologia analítica, como Marie Luise Von Franz, Hollis, entres outros e autores que escreveram sobre a mitologia africana, como Pierre Verger e autores que escreveram sobre os dois temas, procurando uma relação entre eles, como José Jorge de Morais Zacharias.

(15)

de amargores e angústias, temendo a morte, ou então fazer desta nova fase e momento de desenvolvimento, uma “cópia” do que foi realizado na primeira metade de sua vida.

Foi realizada, então, revisão bibliográfica sobre os seguintes temas: Gerontologia, Psicologia Analítica, Mitologia Africana, apresentando, assim, uma interlocução entre eles, ofertando novas perspectivas sobre o tema, apontando para um estudo interdisciplinar.

Este trabalho possui dois grandes capítulos e, também, sub capítulos. No primeiro capítulo, estudou>se a relação entre o arquétipo, a mitologia e a velhice, seguido do conceito de metanoia, essencial na psicologia analítica.

(16)

%2 : ; < "

Os mitos e os símbolos revelam a realidade mais profunda da psique. Os símbolos jamais aparecem da psique e são inesgotáveis em seu significado. A partir da busca dos símbolos e da vida psíquica, Jung formulou a sua teoria, em que ele (o próprio) percebeu a importância dos símbolos, tal como os mitos para o entendimento da alma humana. Segundo GOMES E ANDRADE (2009,p.140): “Então explorou as correspondências entre os símbolos que surgem nas lutas da vida dos indivíduos e as imagens simbólicas religiosas subjacentes, sistemas mitológicos e mágicos de muitas culturas e eras.”

Com esta correspondência, a noção de inconsciente pessoal, o que

corresponderia ao inconsciente freudiano, e de inconsciente coletivo foi formulada. O inconsciente coletivo seria uma estrutura herdada, com conteúdos referentes à

humanidade, morada dos arquétipos. O postulado sobre o inconsciente coletivo permitiu a explicação de fenômenos individuais e a sua correspondência com temas mitológicos, referentes à situações da alma humana, cabendo, então a possível correspondência.

Ainda sobre tal questão, GOMES E ANDRADE (2009,p.141) reitera: “O inconsciente, na perspectiva junguiana é, portanto, uma entidade viva, independente de nossa percepção dele, acima das noções dualistas de bem e mal. É a outra parte de nossa psique que o ego desconhece e que está sempre atuando e fazendo com que os sonhos, em sua linguagem simbólica, sejam as representações fiéis da psique.”

(17)

bem, mal, entre outros.

Ainda sobre esta questão, GOMES E ANDRADE (2009,p.141): “Diante de tais concepções, Jung faz uma interpretação dos mitos acrescentando dimensões mais profundas com relação aos especialistas modernos, considerando os mitos como fenômenos psíquicos que revelam a própria natureza da psique. Para Jung os mitos condensam experiências vividas repetidamente durante milênios; experiências típicas pelas quais passaram e ainda passam os seres humanos. E é a partir desses materiais que os poetas e sacerdotes elaboram os mitos, dando>lhes roupagens diferentes, de acordo com a época e as culturas.”

Novamente GOMES E ANDRADE (2009,p.141):” O mito procura explicar os principais acontecimentos da vida: fenômenos naturais, origens do homem e do mundo através de deuses, semideuses e heróis. A partir disso vemos que todas as culturas têm os seus mitos, muitos dos quais são expressões particulares de arquétipos comuns a toda humanidade. Assim sendo, os mitos são formas de expressão dos arquétipos, falando daquilo que é comum aos homens de todas as épocas.

Os mitos se referem ainda às realidades arquetípicas, isto é, a situações com que todo ser humano se depara ao longo da sua vida, e vão além ao explicar, auxiliar e promover as transformações psíquicas, tanto no nível individual como no coletivo de certa cultura. Toda mitologia se torna, assim, uma forma de tomada de consciência, um elemento para nos identificar. Existem mitos universais e os de cada cultura, mitos iguais para todas as épocas com novas roupagens, porque o que é arquetípico é o tema e a partir deste tema podem surgir novas formas de colocação.”

(18)

(2012,p.31): “Parece>me que as histórias arquetípicas se originam, frequentemente, nas experiências individuais através da irrupção de algum conteúdo inconsciente, que podem surgir em sonhos ou em alucinações em estado de vigília. Algum evento ou alguma alucinação coletiva acontece e, então, o conteúdo arquetípico irrompe na vida nossa. Nas sociedades primitivas, praticamente nenhum segredo é guardado; então essa experiência é sempre comentada, ampliando>se por outros temas folclóricos existentes que a completam. Então, ela se desenvolve tanto quanto um boato.”

O mito é, então, uma produção, também, cultural. Ele apresenta aspectos culturais conscientes, que o ligam àquele lugar história e àquela cultura, fundindo>se com o consciente coletivo, estando, desta maneira, mais próximo daquela realidade cultural, o mito está próximo da consciência.

Pode>se concluir que o arquétipo é, também, universal, remontando ao mais primitivo (em sentido de primordial) e é inconsciente, passando para a consciência de acordo com o indivíduo que o manifesta, trazendo assim “colorido” pessoal para o arquétipo, ou seja, como aquele indivíduo, inserido em um dado momento histórico e cultural, vivencia aquele arquétipo, todavia não é o indivíduo que possui o arquétipo, mas sim o raciocínio contrário numa “possessão”.

O indivíduo não sabe conscientemente que é tomado por aquele conteúdo arquetípico, ele simplesmente age de acordo com aquele arquétipo, por isto o termo. Há uma emersão na consciência em que aquele que é tomado não se dá conta de que sua ação, em dado momento, foi uma manifestação arquetípica.

(19)

O arquétipo é uma forma sem conteúdo. Usar>se>á um exemplo: Um bolo numa forma retangular. A forma retangular seria o arquétipo, não importa o sabor que o bolo seja preparado, sua forma será retangular, dada pela forma a qual foi utilizada para ser feito o bolo.

Do mesmo modo o arquétipo funciona: Ele é quem dá a forma, sendo que o conteúdo ( ou o sabor do bolo) pode ser interpretado como o conteúdo pessoal, a maneira como o indivíduo experimenta e/ou vivência a temática arquetípica.

Ainda na mesma temática, CARDOZO (2004,p.70): “Tais arquétipos são formas sem conteúdo próprio que servem para organizar ou canalizar o material psicológico. Eles se parecem um pouco com leitos de rio secos, cuja forma determina as

características do rio, porém desde que a água comece a fluir por eles. De qualquer maneira as formas existem antecipadamente ao conteúdo.”

Reiterando, (JUNG,2000p.100): “O arquétipo não é uma imagem, mas particularmente uma tendência para formar uma imagem de caráter típico; em outras palavras, um modelo mental tornado visível”

A vivência de um arquétipo provoca reações emocionais de grande poder, pois suscita à imagem primordial inconsciente, por isto é tão poderoso.

O inconsciente é quem cria o sonho, o mito como representação de elementos advindos da psique, ainda citando JUNG (1942, p.109): Os arquétipos não são apenas impregnações de experiências típicas, incessantemente repetidas, mas também se comportam empiricamente como forças ou tendências à repetição das mesmas experiências.

(20)

consigo uma ‘influência’ específica ou uma força que lhe confere um efeito luminoso e fascinante ou impele à ação.”

Então, o mito e o arquétipo se relacionam, já que, o mito conta sobre uma realidade arquetípica e psíquica e, como já dito anteriormente, trata de temáticas

universais, em que o indivíduo pode se encontrar nestas histórias míticas, é o que afirma CARDOZO (2004,p.71): “Por essa definição, vai se tornando evidente a relação entre mitos e arquétipos, pois os mitos nada mais são do que uma forma de expressão dos arquétipos, falando daquilo que é comum aos homens de todas as épocas, porque falam dos valores eternos da condição humana.”

Agora a pouco, citada foi a cultura. Ela é base de estudo da antropologia e não pode ser reduzida, o homem é um ser cultural e está intimamente ligado aos significados que produz e a cultura possui relação com os significados produzidos pelo homem em seus diversos momentos históricos. Sobre a cultura, GEERTZ(1989, p.15): “O conceito de cultura que eu defendo, e cuja utilidade os ensaios abaixo tentam demonstrar, é essencialmente semiótico. Aceitando, como Max Weber, que o homem é um animal amarrado a teias de significado que ele mesmo teceu, assumo a cultura como sendo essas teias e a sua análise; portanto, não como uma ciência experimental em busca de leis, mas como uma ciência interpretativa, à procura do significado”

A cultura é pública e não está como uma “entidade” oculta: Ela está aí, permeia as relações, está presente no cotidiano e permeia as relações humanas. Retomando

(21)

duas coisas juntas, de alguma forma perde o sentido. O que se deve perguntar a respeito de uma piscadela burlesca ou de uma incursão fracassada aos carneiros não é qual o seu

ontológico.

Representa o mesmo que pedras de um lado e sonhos do outro> são coisas deste mundo. O que devemos indagar é qual é a sua importância: o que está sendo transmitido com a sua ocorrência e através da sua agência, seja ela um ridículo ou um desafio, uma ironia ou uma zanga, um deboche ou um orgulho.”

Assim sendo, os mitos, transmitidos de geração para geração, de forma cultural, procuram transmitir, para os seus ouvintes, questões relacionadas à temáticas

arquetípicas humanas, bem como valores estabelecidos e, também, aceitos ou não. Pode>se pensar que a cultura norteia o indivíduo e “conduzem” seu

comportamento dentro de uma dada sociedade e seus significados são socialmente estabelecidos, GEERTZ (1989,p.22) diz: “ A cultura é pública porque o significado o é. Você não pode piscar (ou caricaturar a piscadela) sem saber o que é considerado uma piscadela ou como contrair, fisicamente, suas pálpebras, e você não pode fazer uma incursão aos carneiros (ou imitá>la) sem saber o que é roubar um carneiro e como fazê> lo na prática.”

(22)

alargamento do universo do discurso humano. De fato, esse não é seu único objetivo – a instrução, a diversão, o conselho prático, o avanço moral e a descoberta da ordem natural no comportamento humano são outros, e a antropologia não é a única disciplina a persegui>los. No entanto, esse é um objetivo ao qual o conceito de cultura semiótico se adapta especialmente bem. Como sistemas entrelaçados de signos interpretáveis ( o que eu chamaria símbolos, ignorando as utilizações provinciais) , a cultura não é um poder, algo ao qual podem ser atribuídos casualmente os acontecimentos sociais, os

comportamentos, as instituições ou os processos; ela é um contexto, algo dentro do qual eles podem ser descritos de forma inteligível – isto é, descritos com densidade.”

Esvaziar a cultura é isolá>la do acontecimento e das pessoas que ali atuaram, é simplesmente descontextualizá>la, desprovendo>a de sentido.

Assim, então, envelhecer é um fenômeno cultural e arquetípico. É cultural, uma vez que a forma em que se envelhece, no Brasil, não é a mesma da chinesa ou da egípcia, há peculiaridades, em cada cultura.

Envelhecer é um fenômeno complexo, que não pode e nem deve ser interpretado somente em sua faceta biológica, envelhecer é um fenômeno heterogêneo, é o que afirma MERCADANTE (2005,p.25): “ A complexidade também está presente nos estudos realizados pela antropologia, que evidenciam, entre as várias sociedades primitivas – em um primeiro momento – não uma situação de homogeneidade, mas a presença da heterogeneidade.”

(23)

Joaquim é diferente do processo de envelhecimento de Pedro e assim de João, mas também para cada cultura, envelhecer adquire um conteúdo diferenciado, podendo ser ou não valorizado.

Numa noção de identidade, ser velho implica em uma identidade que define o sujeito velho, em detrimento de outra identidade, o sujeito jovem, ou seja, para que exista um sujeito ou a identidade de um sujeito velho, tem que existir o jovem ou a identidade do jovem, é uma noção opositória. Em tal raciocínio, o “eu” existe em contraposição um “outro” oposto.

O velho é oposto ao jovem e, então, o velho é o “outro”, é uma visão

estigmatizada, uma vez que o velho é o portador de características como: Incapacidade, improdutivo, todos os “im” e o jovem é o sinônimo da potência, a divina juventude e mortal velhice.

Esta identidade do velho é pejorativa e como aponta acima estigmatizadora, pois é depreciativa, negando possibilidades ao velho, como ressalta MERCADANTE

(2005,p.32): “São essas idéias, relacionando velhice e tempo, que apontam para um velho que não investe no presente nem projeto para o futuro. Essas idéias conformam uma noção de idoso que só tem passado, lembranças para rememorar e, no futuro, o confronto com a morte.”

O idoso se torna, então, um sujeito que existiu no passado, junto com a sua potência e produtividade e, agora, é apenas um “peso” que não parece ter nenhum lugar em lugar algum, reforçando a idéia de improdutividade, é claro que isto não é assim em todas as sociedades, o que se percebe é a mudança do panorama sobre o que é velhice e velho em diferentes momentos históricos e de sociedade para sociedade.

(24)

noção de um novo sujeito velho se produzindo não cabe em um modelo contrastivo de identidade, pois faz parte de uma situação complexa. Em outros termos, a forma contrastiva de pensar constitutiva da noção de identidade aponta para idéia simples pouco explicativas da situação complexa da velhice.

Cabe aqui uma análise sobre contemporaneidade e o que acontece com as coisas tradicionais, vive>se em uma sociedade fluída ,fluidez é um conceito utilizado e criado por Zygmunt Bauman (2000,p.100), em oposição ao conceito de solidez, visto nas décadas de 50 e 60. Esta metáfora da líquidez foi conceituada pro Bauman para apresentar as características do mundo atual. Nas épocas de solidez, a característica eram valores definidos, até rígidos, sociedade patriarcal, a família era constituída de um pai que, geralmente, trabalhava para o sustento da família, a mulher, dona de casa e filhos. Em contraposição à solidez este conceito existe, pois, na contemporaneidade, os valores encontram>se em crise e o indivíduo não possui mais medo de fatores externos, mas também, fatores internos agora se juntam como componentes de medo.

(25)

“..idéia que Bauman utiliza para expressar sua concepção de modernidade, que, para ele, adquiriu uma perspectiva “transbordante”, “esvaída”, em oposição ao conceito de “sólido” enquanto duradouro, dada a fluidez do mundo contemporâneo.”

Ainda sobre a questão da fluidez e da sociedade contemporânea, SILVA (2011,p.32) afirma:

“As mudanças experimentadas pela sociedade contemporânea modificaram a forma de interpretar o mundo e, consequentemente, o consumo. A pós – modernidade desvencilha>se de todos os tipos tradicionais de ordem social, de uma maneira que não tem precedente. O contemporâneo passa a ser marcado pelo fim dos padrões, da estabilidade, da segurança e das certezas. Surge o tempo da indefinição, do medo e da insegurança.”

(26)

maior escala tal prática, que novamente será legitimada e levará novamente outra produção, em um ciclo. O que era durável ou tido como bem durável hoje não é mais, é descartado, sendo rei o momento presente, a sua intensidade maior ou menor, sempre com rapidez, com conseqüência o desapego e uma vida almejando a felicidade numa busca incansável. Para manter a auto – estima o consumidor deve comprar um ou outro produto, adquirir, que em breve será obsoleto, tudo isso, para adquirir temporária posição social, na visão do autor.

Assim, um novo sujeito se produz, mas não na contraposição de uma alteridade jovem, mas sim na produção de uma “subjetividade” negadora da identidade estigma.

O mais aconselhável é uma noção de subjetividade, em que o “eu” e o “outro” podem simplesmente existir, sem que um seja o oposto do outro, assim, o velho e o jovem existem, cada qual com suas peculiaridades, sem que haja visão de estigma ou tão esteriotipada, como há no caso da identidade.

A velhice não é o estágio terminal, nem a última parada na estação anterior à morte, que pode acontecer a qualquer momento da vida. Envelhecer é também ganho, e também o desenvolvimento continua na velhice, que não é um processo estático.

Envelhecer não é somente um fenômeno cronológico, mas também kairosiano, o ser humano não é apenas cronos, mas também é kairós!

Filho de Urano e Géia. O mais jovem dos Titãs. Se tornou senhor do céu castrando o pai. Casou com Réia, e teve Héstia, Deméter, Hera, Ades e Poseidon.

(27)

ao pai um remédio que o fez vomitar os filhos, e logo depois o destronou e baniu>o no tártaro. Cronos escapou e fugiu para a Itália onde reinou sobre o nome de Saturno. Este período no qual reinou foi chamado de "A era de ouro terrestre".

Cronos, o "dos pensamentos pérfidos", é o mais novo dos Titãs, filho de Géia, a Terra, e de úrano, o céu estrelado. Foi o único a escutar o pedido de sua mãe, quando Géia, a fim de pôr termo à sua própria escravatura e à dos seus filhos, decidiu armá>lo para que ele vencesse úrano. Com efeito, este, horrorizado com a sua descendência, mantinha>a prisioneira nas entranhas de sua mãe, a Terra. Então Cronos, com um golpe de foice, cortou o órgão sexual de seu pai, afastou>o do poder e apoderou>se do

Universo.

A partir de então, o mundo foi governado pela linhagem dos Titãs que, segundo Hesíodo, constituía a segunda geração divina. Foi durante o reinado de Cronos que a humanidade (recém>nascida) viveu a sua idade de ouro.

Cronos casou com a sua irmã Réia, que lhe deu seis filhos (os Crónidas): três raparigas, Héstia, Deméter e Hera e três rapazes, Hades, Posídon e Zeus.

(28)

iam nascendo.

Desesperada, Reia procurou uma solução, e por conselho de sua mãe decidiu, quando estava grávida de Zeus, refugiar>se em Creta, a fim de que a criança aí nascesse. Assim aconteceu e Geia recolheu o bebé, levando>o para ser educado com os filhos do rei.

Entretanto, Reia apresentou a Cronos uma pedra envolta em panos, que ele engoliu, sem desconfiar.

A infância de Zeus desenrolou>se entre os carvalhos do monte Ida. E para que Cronos não escutasse o seu choro, os Curetes, sacerdotes>soldados de Reia, simulando praticar danças sagradas, faziam retinir os bronzes dos seus escudos.

Quando Zeus cresceu, resolveu vingar>se de seu pai, solicitando para esse efeito o Apolo de Métis > a Prudência > filha do Titã Oceano. Esta ofereceu a Cronos uma poção mágica, que o obrigou a restituir os filhos que tinha devorado.

Então Zeus afastou>o do trono, e segundo as palavras de Homero prendeu>o com correntes, precipitando>o, seguidamente, no mundo subterrâneo, onde Cronos foi encontrado, após dez anos de luta encarniçada, pelos seus irmãos, os Titãs, que tinham pensado poder reconquistar o poder a Zeus e aos seus partidários.

(29)

para a ilha misteriosa de Tule ou teria sido exilado como rei para um sítio ideal onde o "solo fértil produzia colheitas três vezes por ano" e onde se teria prolongado esta idade de ouro, definitivamente terminada com o aparecimento da terceira geração, a de Zeus e dos Olímpicos.

Quanto à famosa pedra, instrumento de liberdade e de vitória, repelida mais tarde por Cronos, mereceu a atenção de Zeus, que a transportou para o futuro lugar de Delfos, a fim de aí ser venerada ao longo dos séculos.

Cronos foi, por vezes, assimilado ao deus fenício Baal, a cujo ídolo eram sacrificadas as vítimas humanas.

Com este deus, utilizando>se da foice, é dado o início da era do curvo pensar (ou era da foice). É com Cronos que se associa, via foice, à transformação, o trem da vida que termina com a morte. Pode>se dizer, em termos da psicologia analítica, que Cronos está ligado ao ego, seu tempo é linear, unilateral, por isto cabe tal ligação, sendo este o tempo (que sofre o efeito, é o que envelhece).

Já Kairós está associado ao momento certo e oportuno. Conta uma história que um herói grego possuía uma biga, puxada por dois cavalos de nome Cronos e Kairós. Enquanto Cronos era responsável por dar movimento à biga, Kairós era quem a puxava no momento certo para o ataque.

Kairós é o tempo das circunstâncias, podendo ser também representado pelo momento interno e, em termos junguianos, pela sincronicidade.

Pode>se pensar em um tempo cronológico, seguindo e obedecendo às

(30)

do envelhecimento, todavia o ser humano não é somente cronológico, mas também é kairosiano, ou seja, existe o tempo interno, tempo das vivências o momento certo e oportuno para “plantar” e para “colher” nos campos da vida.

Segundo ROZENDO e JUSTO (2011,p.157) : “Entre os gregos da Antiguidade, tinha o sentido de tempo peremptório, implacável, que age tiranicamente sobre a vida impondo a ela um golpe final. Kairos, por sua vez, filho de Chronos, aludia ao tempo vivido, construído na experiência e capaz de ser aferido e traduzido pelos

acontecimentos e realizações do sujeito em sua trajetória de vida, agindo sobre Chronos, criando oportunidades e aproveitando as ocasiões propicias para certas ações.”

Eis aí o desafio: Envelhecer cronológicamente, todavia não ser escravo de Cronos, ter ciência e, também, saber vivenciar ou atuar de maneira kairosiana, pois o indivíduo é afetado por este tempo/experiências, porém, por muitas vezes, não se dá conta de tal.

Sobre Kairós, SANTOS (2010,p.25) afirma: “Acredito que Kairos pode ser visto como um momento “ponte” em que é necessário atravessar para enxergar novas

situações, que partem de uma situação e tomam uma direção e um sentido diferente. Compreender em que momento ele surge e uma descoberta individual; cada pessoa sente, percebe de alguma forma quando ele esta acontecendo. E aquele momento que escutamos no consultório quando os pacientes dizem: “que tudo esta conspirando ao meu favor”, no sentido de que as ações feitas, estão sendo realizadas e desenvolvidas no tempo certo.”

(31)

externo), onde como em uma dança, há o momento certo para o passo mais lento, e há o momento certo para o passo mais acelerado, agressivo, entretanto é o ritmo musical que prediz o passo. A pessoa atenta e interessada em respeitar os limites individuais conhece melhor a si mesma, relaciona>se mais facilmente com seu tempo de ser, de estar e viver. Por isso é muito importante conhecer a nossa música interna.”

Ainda, referente à questão, SANTOS (2010,p.56) ressalta: “A partir deste compreender complexo sobre o tempo externo e as emoções, surge um tempo oportuno, o tempo Kairos, que contribui também para a construção do tempo interno, pelo novo direcionamento que ele pode oportunizar.”

É como afirma o médico Jorge Bichuetti, em seu blog, discorrendo sobre a temática entre Cronos e Kairós:

Somos escravos do Cronos... Relógio, calendário, agenda eletrônica,

despertadores, celulares, cartões>de ponto... Dia e noite... As estações... Meses, décadas, séculos e milênios...

Vida cronometrada. Não pode perder o tempo... e o tempo passa e não volta... De fato, o tempo cronológico é o tempo irrecuperável... O passado se desfez, não existe; o amanhã não chegou, igualmente, uma nulidade... É o tempo a soberania do aqui e agora.

Ele rege nosso cotidiano e as nossas paixões... domina nossa vida que se dá sob o domínio dos sentidos e do passional...

É o tempo da produtividade, da velocidade, do tarefismo, do pragmatismo... O tempo dos eternos adeuses.

(32)

Pura desterritorilização num grau máximo que o torna tempo inoperável... Assim, podíamos cair no negativismo e na desilusão e nos acomodar à servidão Cronos.

Todavia, há outro tempo... O tempo Kairós: tempo do instante, do acontecimento e do devir...

Se Cronos é ordem codificada e quadriculada e o aion, um caos indomável; Kairós é caosmose...

O tempo que exige atenção e prontidão, pois, não cronometrado, acontece... Ele > Kairós, é o tempo reconciliável das artes e das percepções sutis, moleculares, que não dadas pelos cinco sentidos , mas pelo afetar e ser afetado à nível da

sensibilidade fina, afetiva, trans>sensorial... Ele, sim, é re>tomável...

Ele, sim, se dá às criações do novo...

Ele, sim, não nos abandona, nem nos atropela... Podemos encouraçados não sermos contagiados, afetados, agenciados...

Nele, um instante é um riacho perene que mesmo inundando o mar, pode ser re> tomado na profundidade das experimentações que longe do soberano Cronos, ocorrem na dimensão das pontes que se dão entre um inconsciente amorfo e velocíssimo, cujo galope nunca alcançamos, e as linhas de fuga, que são arte>vida numa nova

sensibilidade, numa nova subjetivação... O novo na carne e sangue de um

acontecimento que , embora, se consuma num instante, este instante é pernizável e re> conciável, re>tomado.

(33)

Se cronos, nos atolamos na servidão e adoecemos de perdas, nostalgias e

desconexão com o ontem e o amanhã: sem ontem, cairemos e história na corporeidade da vida, e sem o amanhã, nos esgotamos na impossibilidade de dar vida a tanta potência nas gavetas fechadas dos minutos...

Kairós > um novo tempo... Não que seja novo na vida, mas que nos permite reinventar a vida e o mundo num tempo que nem escraviza, nem foge pelos poros da nossa pele e fissuras da nossa alma.

Kairós > o tempo do instante, do acontecimento e do devir... é, também, o tempo da esperança da arte de viver no caminho do vir, artisticamente.

Kairós > a vida como obra de arte...

(34)

Envelhecer É bom envelhecer!

Sentir cair o tempo, magro fio de areia, numa ampulheta inexistente!

Passam casais jovens abraçados!...

As árvores balançam novos ramos!...

E o fio de areia a cair, a cair, a cair... Saul Dias, in Essência

(35)

Este momento é de suma importância para a psicologia junguiana, pois nele lugares são revisitados, há uma retomada da primeira metade da vida, um direcionamento para o mundo interno, onde as exigências do ego não possuem tanta importância.

Sobre a idéia de Self, RAMOS (2002,p.127) coloca: “O self (si mesmo) > É o núcleo não só do inconsciente, mas, também, de toda a psique.

> É o que leva o homem à busca pelo conhecimento de si mesmo, pelo autoconhecimento, pela integração com os demais homens, pela vivência

espiritual, pela integração com . Essa busca é denominada por Jung de

(será falado sobre esse conceito mais adiante) e trata>se da busca pela totalidade psíquica (a integração entre consciente e inconsciente). > A vivência do está associada à .”

Como um arquétipo possui polaridades positivas e negativas, deve>se atentar para o falso self. Sobre esta questão, GALVÃO, GOMES E FERREIRA (2007):

(36)

mesmo com tudo isso, o homem nunca esteve tão solitário e aborrecido, tão distante do seu verdadeiro self.”

Na metanoia, a ênfase maior é em ser, enquanto na primeira metade da vida é o fazer. A personalidade inconsciente passa a ser o foco deste momento, em detrimento à personalidade consciente da primeira metade da vida.

Esta passagem não é feita de maneira fácil ou simples, é uma travessia em que poucos se arriscam, já que, neste momento, valores mudam, entram em crise e o que é novo ou conteúdos ditos sombrios (que possuem relação com o arquétipo da sombra) vêm à tona, tornando>se perigosos fantasmas, caso não sejam olhados, aproximados tais conteúdos.

O arquétipo da sombra também foi postulado por Jung e diz respeito de um lugar psíquico que possui potências relativas ao indivíduo que, por algum motivo, não foram por ele olhados e também possui projeções do indivíduo para pessoas/mundo, além de conter o que não é suportado ser visto pelo indivíduo.

Em tal momento importante, é necessário o diálogo entre a persona e a sombra, para que se busquem soluções para os conflitos. Ainda sobre o tema da sombra, HOLLIS (1995,p.59) afirma: “Examinemos a sombra, que representa tudo o que foi reprimido ou que passou desapercebido. A sombra contém tudo o que é vital, porém problemático – a raiva e a sexualidade,com certeza, mas também a alegria, a espontaneidade e a chama criativa não aproveitada.”

(37)

Sobre a persona, HOLLIS (1995,p.58) reitera: “Desenvolvemos muitas personas, papéis que são ficções necessárias. Comportamo>nos de uma maneira com nossos pais, de outra com nosso patrão e de outra ainda com o nosso cônjuge ou namorado. Embora a persona seja uma superfície comum de contato necessária com o mundo exterior, temos a tendência não apenas de confundir a persona das outras pessoas com a verdade interior delas, mas também de achar que nós também somos os nossos papéis.”

O diálogo entre a persona e a sombra ocorre na metade da vida e representa um equilíbrio necessário ao indivíduo. Pode>se dizer que, na primeira metade da vida, é o momento em que a persona se desenvolve, é o momento de criação e manutenção da persona, a realidade interior é negligenciada.

Na primeira metade da vida, a preocupação, como já dito, está em fazer. É o momento em que a prioridade é: Fazer uma faculdade ou ter um ofício/profissão, comprar uma casa, ter um carro, um emprego que garanta estabilidade, um companheiro(a) e formar uma família.

Já na segunda metade da vida, há uma retomada do que foi “deixado para trás” na fase da primeira metade. É realizado um convite, através de self, para que se retome a própria história. Este encontro com a sombra e a metanoia não são momentos fáceis de superação; ao contrário, são momentos de crise, dolorosos, e que implicam em um sacrifício: Abandonar a persona anterior ou a identificação com uma persona e atender ao chamado de self, é necessário coragem.

(38)

Outro fato que também ocorre no meio da vida é o encontro com a função inferior. Jung postula que quatro funções norteiam a psique: Intuição, sentimento, pensamento e sensação. A intuição possui seu fator subjetivo, ela “vê” a natureza do oculto, ou seja, inconsciente, sendo oposta à sensação.

O sentimento capta o mundo através do juízo realizado pelos sentimentos, como gostar ou não gostar de algo, sua lógica é a emoção.

O pensamento capta o mundo pela lógica da razão, estabelecendo leis gerais e aplicando>as caso>a>caso, julga, classifica as coisas.

A sensação capta o mundo com os órgãos do sentido, dá constatação às coisas que o cercam.

Segundo HOLLIS (1995,p.104): “ Todos possuímos, em proporções diferentes, as quatro funções, pensamento, sentimento, sensação e intuição.”

A função dominante, ou dita superior é aquela a qual se volta de forma reflexiva para apreender a realidade, manifestando>se desde cedo e norteando a visão de mundo do indivíduo. A função superior é assim chamada pelo fator de ser recorrida em maior escala do que outra função, por isso torna>se superior, o mesmo raciocínio cabe para a função inferior.

No meio da vida, a função inferior, anteriormente negligenciada, exige atenção, necessita de ser olhada.

(39)

#2 " " ! "

Nesta parte, são apresentados estudos referentes à temática da mitologia

(40)

de contextualização cultural e análise, além da apresentação sobre o que foi escrito e pesquisado acerca de tal temática.

A mitologia africana, diz respeito aos deuses que habitam o panteão africano e suas histórias míticas. Neste universo, que foi trazido ao Brasil pelos escravos, os deuses são chamados de orixás. Na África, estima>se a contagem de 402 orixás, sendo eles 201 que comandam a parte da “esquerda” (derivações do orixá Exu, senhor dos caminhos) e 201 comandantes da parte da direita.

Na vinda dos escravos, via navios negreiros, para o Brasil, chefes de tribos africanas, famílias inteiras foram separados e mandados para o trabalho escravo, vindos de diferentes regiões africanas, sendo que, na África, orixás diferentes eram cultuados em diferentes regiões, de acordo com a cultura daquela tribo, sua origem e demografia também.

Sobre esta questão, IRIGARAY E VERGARA (2000,p.2) , afirmam: “A presença das religiões africanas no Novo Mundo foi uma conseqüência imprevista do tráfico de escravos, oriundos das regiões das costas ocidental (área entre a Senegâmbia e Angola) e oriental (Moçambique e Ilha de São Lourenço, nome original de Madagascar), para os diversos países das Américas e das Antilhas.

Este processo desarticulado resultou numa multidão de cativos que não possuía um idioma comum, nem professava a mesma fé; em comum, apenas a infelicidade de serem escravos.”

(41)

os católicos na figura de Deus) e os intermediários ( os orixás e os santos, para os africanos e para o catolicismo, respectivamente), a este fenômeno, dá>se o nome de sincretismo, a correspondência dos deuses católicos com as figuras dos orixás.

Sobre a questão do sincretismo, IRIGARAY E VERGARA (2000, p. 4) reiteram:

“O sincretismo foi facilmente instrumentalizado pela similaridade da estrutura organizacional das religiões: um deus supremo (Olorum) com vários intermediários (santos/orixás). Desta forma, Oxalá foi associado a Jesus Cristo, em função de ambos serem o filho do Criador e salvadores dos homens na Terra. O maior exemplo deste sincretismo aparece numa das festas mais populares da Bahia: a lavagem

da escadaria da igreja do Nosso Senhor do Bonfim.

Nanã foi associada a Santana, mãe da Virgem Maria, por ser uma orixá velha. Ela representa as avós, com sua calma e paciência.

Xapanã foi identificado como São Lázaro, pois ambos trazem seus corpos cobertos de chagas. Em algumas regiões, o sincretismo é feito com São Roque, pois este dedicou sua vida a tratar dos doentes e, tal qual seu par africano,

vivia isolado do mundo. Originalmente, Xapanã era o orixá que carregava a chaga (varíola) e, simultaneamente, sua cura. Por este motivo ele era muito respeitado.

Iemanjá é louvada no Brasil como Rainha do Mar, Janaína, Mãe d´Água, Sereia ou Iara. Em relação ao catolicismo, ela foi associada a Nossa Senhora dos Navegantes e Nossa Senhora das Candeias. Ainda hoje suas datas festivas – 1 de janeiro e 2 de fevereiro – são muito comemoradas no Rio de Janeiro e na Bahia, respectivamente.

(42)

tendo a seus pés um leão, símbolo da realeza entre os iorubas.

Ogum está vinculado a Santo Antônio, na Bahia, e a São Jorge, no Rio de Janeiro. O primeiro por haver protegido os portugueses contra os invasores holandeses, e o segundo por ser um santo guerreiro, retratado sobre um cavalo, vencendo um dragão com uma lança.

Oxóssi foi associado a São Sebastião devido ao martírio do santo, que é representado amarrado a uma árvore e com o corpo cravado de flechas.

Oxum se reflete no altar católico como Nossa Senhora da Conceição, representando a fecundidade e a riqueza.

Exu, que na cultura nagô possui um gorro fálico, era o orixá da comunicação e do sexo. Foi imediatamente associado ao diabo, pois este, na concepção católica, possui chifres e tenta a humanidade com o pecado original.”

Desta forma, o sincretismo teve seu início e, concomitante, a formação dos primeiros quilombos no país.

A cultura brasileira possui fortes elementos da cultura africana, quem nunca ouviu falar de Yemanjá? Ou então, na passagem de ano, foi até o mar pular “sete ondinhas” para ter sorte no ano vindouro? Estes elementos estão presentes no arcabouço cultural brasileiro, fazendo parte do cotidiano.

Segundo PASSOS (2004, p.15):

“Mas é justamente no Brasil, que foi, sob muitos aspectos absolutamente africanizado, que a presença da cultura mítica africana se faz relevante. Os mitos da tradição iorubá, sempre reatualizados pela força das religiões afro>brasileiras, permeiam fortemente o inconsciente coletivo do povo brasileiro.”

(43)

divergência entre ele e Freud. Para Jung, além do inconsciente pessoal ( que se assemelha à postulação do inconsciente freudiano) existe também o inconsciente coletivo, onde moram os arquétipos e possui em si as experiências que a humanidade possui com tal arquétipo em diferentes culturas, por isto ele é coletivo.

Sobre este conceito, JUNG (1998,p.13) comenta:

“Diante destes fatos devemos afirmar que o inconsciente contém, não só componentes de ordem pessoal, mas também impessoal, coletiva, sob a forma de categorias herdadas ou arquétipos.”

Retomando, o candomblé aparece como um elemento, ferramenta, que auxilia na manutenção da cultura africana no Brasil e, também como difusão de tal, além de mantenedor das lendas dos orixás, contadas de maneira oral.

Segundo PASSOS (2004, p.17):

“Da simbologia de luta e resistência, corporificada pela forte presença da cultura africana no Brasil, principalmente nas artes (música, poesia, dança) e na religiosidade, os mitos dos orixás foram preservados mais sistematicamente a partir da existência do terreiro, que acabou por ressignificar o culto dos orixás no Brasil, inventando uma nova religião sobre a base espiritual da ancestralidade africana. É na experiência cotidiana do terreiro, que as narrativas míticas das entidades que permaneceram entre nós, se

reatualizam no vigor do culto e das práticas arquetípicas do chamado “povo de santo”, onde cada filho é um tipo de representação viva do seu orixá, possuindo as mesmas características, o mesmo temperamento e os mesmos gestos específicos do seu .”

(44)

filho de dado orixá se comporta.

Para Levi Strauss (1978, p.33), “na mitologia do mundo inteiro, há deidades ou personagens sobrenaturais que desempenham o papel de intermediários entre os poderes de cima e a Humanidade em baixo”. Dessa forma, o universo mitológico cria uma atmosfera relacional entre o plano concreto, material e o plano divino, idealizador, criativo da atividade sócio>cultural humana.

Os mitos africanos, tais como outros mitos, trazem, então, a ligação do homem com os deuses, mas também a ligação do indivíduo com o arquétipo do self. Sobre isto, PEREIRA E SANTOS (2012, p.96) explicam:

“O valor sagrado do mito e sua propriedade de poder ser interpretado e elaborado em diferentes perspectivas tornam>no matéria>prima para novos questionamentos sobre a condição humana. Este aspecto de reatualização do mito confirma sua capacidade de ser, alegoricamente, um instrumento de integração entre o homem e o Cosmo, em que o elemento religioso e mítico recebe novos contornos conforme a necessidade humana.”

O mito então, traz formas de conduta para o homem, além de que, em suas alegorias, trazem histórias que remontam aos arquétipos, ELIADE PEREIRA E SANTOS (2012, p.96):

“Sabendo do aspecto fabuloso, inventivo e ficcional que envolve a definição do mito, Eliade (1992a) pontua que esta visão não é a verificada nos estudos que

(45)

mesmo, significação e valor à existência” (ELIADE, 1992a, p.8).”

Ainda sobre esta questão do mito, FERNANDES E MOTA (2007, p.1) afirmam: “Os mitos dos orixás apontam para uma longa memória – mesmo que construída dialeticamente – e reportam seus adeptos para tempos longínquos em que os deuses habitavam a terra. Na dinâmica dos terreiros de candomblé, os cultuadores dos orixás, o povo do santo, entende esses textos em seu aspecto religioso, o que lhes confere

instrumento que transcende o material, o concreto, o científico, tornando os mitos, nesta perspectiva, instrumento que comunica deuses e homem, terra (àiyé) e céu espiritual (órun).”

Pode>se pensar que os mitos fazem a ligação entre o consciente e o inconsciente, formando assim uma ponte entre os “dois mundos”, sendo uma ferramenta de ampliação de consciência.

O candomblé é parte constituinte da cultura brasileira, e está presente na música, dança, culinária, etc, fazendo parte da cultura e das manifestações populares.

Compreender o candomblé como parte do complexo cultural brasileiro e, no caso desta dissertação, compreender os orixás como modelos arquetípicos de funcionamento, constelando modos de ser, auxiliando psicólogos , como afirma PORTZ(2011,p.15):

“Assim, o psicólogo faz uso dessas histórias míticas para assessorar no tratamento de seus pacientes. Os arquétipos dos orixás, desse modo, cooperam de diferentes formas para a identificação de características pessoais de uma pessoa aos hábitos e atitudes tomados por ela em seu dia>a>dia.”

(46)

religião, ultrapassa as limitações do terreiro, já faz parte do povo e da cultura popular, mesmo daqueles que pouco ou nada sabem sobre estas tradições. No entanto, mesmo que as manifestações da cultura afrobrasileira estejam presentes em nosso cotidiano, a forma mais forte, me parece, de legitimá>la dentro do meio acadêmico ainda é através da produção de conhecimento escrito a respeito do assunto.”

A cultura dos orixás está além da religião, é também manifestação arquetípica, cultura, psicológica, alteridade, como afirma SANTOS (2012,p.17):

“Outra categoria que caberia incluir nessa introdução seria a

(relação com o outro e com a natureza (Orixás) expressa pelo ritual , dança em roda/círculo e que remete a uma rememoração da na memória mítica que é ali celebrada.”

O mito instrui praticantes religiosos, dá ao homem explicações do surgimento do mundo e também, pensando de maneira analítica, o ordena psiquicamente.

Sobre a questão arquetípica, AFONSO (1995,p.40) diz: “As divindades das religiões africanas têm pois personalidades próprias e funcionam como modelos de identificação dos crentes que vão tentar reproduzir o comportamento daquela de que são adeptos. Um deus é uma força pura, sem matéria e só pode ser percebido pelos Homens se incorporar num deles, num dos seus descendentes. Assim, no panteão afro>brasileiro existe uma série de esteriótipos que compreendem características dos humanos.”

(47)

“Essas imagens são comuns a todos os povos, a todas as civilizações. Portanto são universais e fundamentam visões diferentes de mundo. Psicologicamente, essas representam o instinto humano que independe da vontade, e, são consideradas o âmago do inconsciente, o guia e provedor do consciente.”

O self é tido como uma fonte inesgotável de energia psíquica, que ordena a consciência, rumo ao processo de individuação. Nos mitos, observam>se a presença de símbolos, que possui um significado infinito, já que pode representar diferentes representações em diferentes momentos e possuí, também, temática arquetípica.

A respeito do símbolo, RODRIGUÉ (2009, p. 164):

“Símbolo se refere à possibilidade de se expressar a existente polarização através de algo conhecido (pessoal) com algo totalmente estranho que vem de fora, a natureza arquetípica, impessoal, coletiva quer dizer pertencente ao inconsciente coletivo.”

O símbolo, então possui duas partes: Uma pessoal e outra arquetípica, o entremeio entre conhecido e desconhecido, pessoal e coletivo, consciente e inconsciente e é uma estrada para compreensão do que o inconsciente diz, uma vez que pode ser pensado como “recados” oriundos do inconsciente, o objetivo da psicoterapia na abordagem junguiana, pode ser visto como trazer à consciência o processo simbólico.

(48)

se espelhavam na natureza. Esta condição deu origem a um estado de espírito denominado por Lévy>Bruhl de , que é um estado de maior inconsciência, em que o indivíduo experimenta um sentimento de união aos aspectos da natureza, proporcionando uma íntima relação dos fenômenos naturais com os fenômenos psíquicos.”

O mundo de símbolos do individuo implica no contexto simbólico daquele grupo social e de seu subgrupo, e o seu sistema de formação de símbolos, construído a partir das experiências individuais.

Voltando para a questão dos orixás, ZACHARIAS (2010,p.158): “Os Orixás são representações coletivas de características arquetípicas que, semelhante aos deuses gregos, apresentam mitologia e padrões de comportamento ligados aos elementos naturais ou culturais que lhes são próprios.”

Finalizando esta parte, cabe e é de concordância, com a afirmação de ZACHARIAS (2010,p.158):

“O conhecimento do conteúdo simbólico contido nos cultos de Orixá fornece chaves de entendimento para processos psíquicos, sejam estes individuais ou coletivos. Isto só é possível graças às analogias míticas, que podemos traçar entre os deuses de várias culturas. Por exemplo, deuses que têm por elemento o raio e o trovão: Zeus, Tupã e Xangô.

(49)

exercício de interpretação cognitiva, visto estar o helenismo, como religião do povo, morto.

A mitologia dos Orixás está viva e representada na vida religiosa e cotidiana de cada iniciado. Cada pessoa expressa no mundo, na comunidade, na família e em sua própria representação identitária o Orixá vivo e atuante.”

#2% ) *= >

(50)

trabalhar em terras, mantendo o culto e a tradição aprendidos na África.

Ao virem ao Brasil, por conta da igreja católica, os negros foram proibidos de expressar sua religião e as “roças” de candomblé foram perseguidas, sendo que as práticas eram realizadas dentro dos quilombos. O candomblé resistiu às perseguições e hoje se mantém como uma das religiões praticantes.

O candomblé resistiu aos anos e às lutas, sendo hoje uma religião que possui grande influencia no povo brasileiro, por mais que seus praticantes somem, em todo o território nacional, 0,3%, o que corresponderia a 470 mil fiéis praticantes que se denominam candomblecistas. Hoje, o candomblé encontra>se disseminado por todo o Brasil e, existe também a questão de que algumas pessoas freqüentam o candomblé, todavia se denominam católica, pela forte influência da igreja católica no país e o fato das religiões afro>brasileiras serem constantes alvos de críticas e perseguições.

Em primeiro lugar, é importante saber que o candomblé é uma religião panteísta. Esse termo é muito importante para compreensão do candomblé, pois, “panteísmo” significa “Toda Crença em Deus” (do grego . Esse termo sustenta a idéia de que em tudo há um único Deus. Um Deus que está em tudo, onipresente. Também, a idéia politeísta de – vários deuses representando diversos elementares da natureza.

Quando há uma relação pacífica do conceito politeísta com a idéia que exprime um Deus supremo que vive em tudo, podemos afirmar que essa relação é característica do que chamamos de “panteísmo”.

(51)

doutrina, existe um Deus supremo e também outros que estão correlacionados aos elementares da natureza, do universo em geral.

Os deuses do candomblé são genericamente chamados de . O, o candomblé é uma religião cujo país de ascendência –África> tem seus adeptos

generalizados como “ ”.

O candomblé não está presente apenas no Brasil. Existem outros países tais como, Espanha, Portugal, Itália, Alemanha, México, Panamá, Colômbia, Venezuela, Argentina e Uruguai – que abrigam esta religião.

No Brasil, século XVI, as tribos africanas, ainda na África – cultuavam de forma singular um único Orixá. A junção de todos esses Orixás se deu aqui no Brasil com o tráfico de escravos de diferentes tribos para o mesmo local.

Reunidos nas senzalas, os escravos nomeavam um chefe, também negro, responsável por zelar os ritos aos Orixás. Os chefes homens eram chamados de Babalorixás, e as mulheres, Yialorixás.

Desde seu início, 1549, passando pela Abolição da Escravatura em 1888, até os dias de hoje... O candomblé vem resistindo ao preconceito e a força do tempo – o que propõe uma infinidade de mutações temporais.

(52)

sociais. Aproximadamente três milhões de brasileiros freqüentam o candomblé – espalhado por dezenas de milhares de terreiros, como afirma PRANDI (2004).

Só na cidade de Salvador, Bahia, existem aproximadamente 2.300 terreiros registrados na Federação Baiana de Cultos Afro>Brasileiros e catalogados pelo Centro de Estudos Afro>Orientais da UFBA.

Devido a inúmeras parecenças, o candomblé é muitas vezes confundido com Umbanda, Macumba e / ou Omoloko – que são religiões brasileiras, e também, religiões americanas tais como Vodou Haitiano, Santeria Cubana e o Obeah – em Trinidad e Tobago.

Na África, existiam diversos grupos étnicos e que foram trazidos para cá, Brasil. Os mais destacados são:

· Yoruba – grupo étnico oriundo da Nigéria composto por aproximadamente trinta milhões de pessoas. É o segundo maior grupo étnico da Nigéria – representando 20 % da população. A maioria fala o idioma ioruba, também conhecido por ! " # $% ou simplesmente ! ".

Geralmente, estão localizados no Sudoeste da Nigéria, nos estados de Ekiti, Ogun, Lagos, Kwara, Osun, Oyo e Ongo.

(53)

· Ewe – também conhecido como Jeje – habita Gana, Togo e Benin. Falam a língua Ewe – que está relacionada a outras línguas tais como: Aja, Togo, Benim, Gbe e Fon. Essas línguas pertencem à família de Línguas Kwa – que é um ramo da família lingüística nigero>congolesas.

· Fon – população do sul de Benin e do sul de Togo. Os Fons falam a língua Fon e sua maior expressão histórica se deu na fundação do Reino Dahomey (Reino do Daomé). Este era um reino, onde atualmente é Benin, fundado no século XVII e que durou até 1901, quando foi conquistado por tropas senegalesas e pela França. Outra expressão muito forte foi à chamada Diáspora Negra – que é caracterizada pelos acontecimentos em outros países fora da África, devido ao processo escravista através do Vodum (tradição religiosa deles).

Com a semi>independência da religião, o candomblé se espalhou por diversas partes do Brasil, e, devido à soma de fatores históricos, culturais e sociológicos, surgem então as chamadas & ' – que são ramificações do candomblé. Essas nações são conhecidas basicamente como Nagô, Ioruba, Ketu, Efan, Ijexá, Jeje, Xambá entre outras.

Seus fundamentos são muito parecidos, mas há muita diferença entre essas nações, devido aos ocorridos históricos.

(54)

por um Deus supremo.

Na mitologia Yoruba, os Orixás foram criados por um deus supremo chamado Olorum ou Olodumare. Eles acreditam que não há outro deus equivalente a Olodumare.

() % ) * + & , - . /0

Na mitologia Fon, os Voduns foram criados por um deus supremo chamado Mawu.

Na mitologia Bantu, os Nkisis foram criados por um deus chamado Zambiapongo, também conhecido como Zambi.

No candomblé em geral, nós podemos observar uma certa hierarquia para organização e melhor execução. Existem os sacerdotes, os instrumentistas e outras funções, geralmente associadas à organização social.

Ao contrário do que muitos pensam, não é errado dizer que o candomblé é uma religião monoteísta, uma vez que, nessa tradição – Deus supremo é apenas um. Mas, também não é errado dizer que é uma religião politeísta devido o fato de ser panteísta. Cabe a visão de cada um.

(55)

candomblé: pai de Jesus Cristo, quando na verdade não.

Para o culto às forças da natureza (Orixás, Nkisis e Voduns) – podemos observar uma série de fundamentos, sempre na linhagem da devoção materializada paralela a fé. Geralmente são cânticos, oferendas de animais e vegetais, vestimentas especiais e danças. Os cultos estão sempre baseados na comunicação do homem com a natureza.

É realmente uma religião muito vasta, e aos poucos, vamos mergulhando neste maravilhoso mundo dos estudos referentes ao candomblé.

Em síntese, desde 1549 o candomblé vem se desenvolvendo em diversos estados brasileiros, com alguns costumes diferentes e outros parecidos. São quase quinhentos anos de história. O candomblé sofreu repressão por parte da cultura européia, depois foi praticamente liberado, depois de 1888, teve seus primeiros estudiosos e escritores, e hoje passa pela era da informação para todos, através da digitalização. Pode>se dizer que esta era da informação para todos é denominada Modernismo no Candomblé.

A contemporaneidade no Candomblé não visa mudar radicalmente a sua visão e suas práticas, mas sim, adaptar a religião aos dias de hoje, no sentido de que – seus adeptos não podem mais estar totalmente vivendo a religião deixando suas vidas sociais de lado. Todos precisam trabalhar, estudar, cuidar da saúde e todas essas relações sociais são desenvolvidas em tempos e situações diversas daquelas do candomblé.

(56)

indivíduo está imerso , hoje sem valores ou sem padrões, um declínio constante, com superficialidade e rapidez, não gerando um conhecimento verdadeiro e no campo religioso, não trazendo a dimensão numinosa para o homem.

Este termo, numinoso foi concebido, para descrever o fenômeno do sagrado, & , em latim, era um termo aplicado para se referir a divindades menores ou mesmo para se referir ao que seria divino, isto é, algo que transcenderia nossa realidade, nos impactando. Deste modo, religião para Jung era uma atitude que o individuo assumia frente ao numinoso.

(57)

#2# - ' ( -

(58)
(59)
(60)

caráter: Obatala, contração de Oba>ti>o>nla, o rei que é grande ou Oba>ti>ala, o rei em vestes brancas.

Muito antigo, diretamente originado do Ser Supremo, compartilha com Ele alguns nomes: A>te>rere>k>aiye = O que se expande por toda a extensão da terra; Eleda = Construtor; Alabalase = o regente que empunha o cetro (símbolo da autoridade divina); Ibikeji Edumare = Representante de Olodumare; Adimula = Aquele que é suficientemente forte para nos dar segurança. Freqüentemente representado pela figura de um ancião com trajes e ornamentos brancos, todos os objetos a ele associados são igualmente brancos, incluindo>se roupas e ornamentos de seus sacerdotes, sacerdotisas e devotos.

Sobre Oxalá/ Oxalufã, VERGER (2002,p.178) afirma: “ “Òrì_ànlá ou _bàtálá, “O Grande Orixá” ou “ Rei do Pano Branco” , ocupa uma posição única e inconteste do mais importante orixá e o mais elevado dos deuses iorubás. Foi o primeiro a ser criado por Olodumaré, o deus supremo. Òrì_ànlá>_bàtálá é também chamado Òrì_à ou _bà Ìgbò, o Orixá ou o Rei dos Igbôs. Tinham um caráter bastante obstinado e independente o que lhe causava inúmeros problemas”

Ainda sobre Oxalufã, VERGER (2002,p.179) reitera: “ “Òrì_à Olúf_n, Òrì_à fun fun, velho e sábio, cujo o templo é em If_n, pouco distante de Oxogbô. Seu culto permanece ainda relativamente bem preservado nessa cidade tranqüila, que se caracteriza pela presença de numerosos templos, igrejas católicas e protestantes e mesquitas que atraem, todas elas, aos domingos e sextas>feiras, grandes números de fiéis de múltiplas formas de monoteísmos importados do estrangeiro”.

(61)

psíquicas serão posteriormente explicadas).

Oxalufã traz, simbolicamente, a figura do 1 . % . Esta figura, mostra a sabedoria, é o dinamismo patriarcal em seu último estado desenvolvimentário. É dócil, mostra sabedoria ao falar, ao se colocar e colocar suas opiniões, fato este observado em Oxalufã que veste>se de branco, símbolo da pureza e sendo ele o poder de fertilização do masculino, convertido na figura do sêmen.

Em sua polaridade positiva, podem ser observados aspectos como a soberba e a arrogância, além da teimosia e a inflação do ego, por conta de seu poder.

Sobre a questão psicológica de Oxalufã, ZACHARIAS (1998,p.197) versa: “Este último sempre se apresenta vestido de branco e encurvado sob o peso dos anos, apóia>se em um cajado de prata, o paxorô ou opaxorô. Apesar de sua sabedoria e bondade, ele apresenta aspectos de teimosa e arrogância de seu poder, um de seus mitos narra este fato.”

Conforme visto na citação acima, cabe trazer o mito de Oxalufã que mostra a arrogância e sua teimosia:

(62)

nas costas. Oxalufã logo se prontificou e então Exu virou todo o azeite sobre Oxalufã que ficou sujo de dendê. Exu gargalhou e zombava de Oxalufã que não reclamou e foi lavar>se no rio e trocar de roupa. Deixando a roupa suja no rio segui viagem, e encontrou ainda Exu Onidú (Exu dono do carvão) e depois deste Exu Aladi (Exu dono do óleo do caroço do dendê). Mais duas vezes Oxalufã foi vítima da zombaria de Exu, e lavando>se seguiu viagem, agora com a sua última muda de roupa. Entrando no reino de Xangô encontrou um cavalo que ele mesmo havia presenteado Xangô tempos atrás. O cavalo estava perdido e ele resolveu levá>lo de volta. Estava a caminho quando os servidores de Xangô encontraram>no e tomando>o por um ladrão, aprisionaram>no e lançaram>no no cárcere do palácio de Xangô. Por conta disto, não mais choveu, as ervas e animais, bem como os homens tornaram>se estéreis, as doenças campearam pelo reino e durante sete anos o reino de Xangô foi devastado. Inconformado com tal situação, Xangô chama um babalaô que lhe disse o que estava ocorrendo. Então, o babalaô disse>lhe que um velho fora preso injustamente e chamou o velho para sua presença. Eis que, para a surpresa de Xangô, o velho era Oxalufã e, o rei de Oyó, mandou que todos vestissem branco, para saudar Oxalufã.

Novamente acerca do arquétipo do velho sábio, MEDEIROS (2005,p.143) afirma: “O velho sábio é a figura da razão que, geralmente representada por um velho ou por um animal, surge na vida do herói para dar>lhe instruções de como lidar com os problemas que virão e que ele terá, mais cedo ou mais tarde, de enfrentar. Essa figura sábia seria a voz da consciência, aquela que nos guia, aquela que representa a totalidade absoluta da psique, diferentemente do ego, que constitui apenas uma pequena parte; isso tudo representa o self.”

Referências

Documentos relacionados

VICENTE PAULO 1970 N/C GABRIELA SILVA RIO DE JANEIRO EM DR SOCRATES 1971 N/C MARIA CLAUDIA ALMEIDA RIO DE JANEIRO COL SANTOS ANJOS 72795 N/C ANA BEATRIZ PEREIRA RIO DE JANEIRO EM JUAN

massa (que não coza rapidamente); ou farinha com um ovo ou com um pouco de água para fazer a massa – o suficiente para fazer pelo menos 200 minhocas.. • corante alimentar

Enquanto no National Wilms Tumor Study- 2, os resultados indicaram que o pior prognóstico em pacientes com mais de 2 anos refletia a associação com outras variáveis

A seleção portuguesa feminina de andebol de sub-20 perdeu hoje 21-20 com a Hungria, na terceira jornada do Grupo C do Mundial da categoria, a decorrer em Koprivnica, na

No entanto, ainda existem controvérsias quanto aos métodos de desmucilagem, de secagem e o teor de água ideal nas sementes de cafeeiro, sendo poucos os

O histórico do paciente, o exame clínico (otoscopia), o diagnóstico laboratorial micológico, são indispensáveis para diagnóstico preciso e, assim instituir tratamento adequado

Todas essas dimensões, que são construídas culturalmente, podem possibilitar o estado de transe (AUBREÉ, 1996). Assim, acredito que, como a maioria dos corinhos de

pontos de transferências modais mais estratégicos e mais importantes. Uma análise que se pretende útil para o planejamento de investimentos ou medidas de controle para mitigar a