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Grupo de Trabalho 33 - Sexualidade e Gênero: sujeito, práticas e regulações.

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38º Encontro Anual da ANPOCS.

27 a 31 de outubro de 2014.

Grupo de Trabalho 33 - Sexualidade e Gênero: sujeito, práticas e regulações.

Título do trabalho: “Corpo”, Subjetividade e Sexualidade em práticas sado- fetichistas.

Autora: Marcelle Jacinto da Silva.

Coautor: Antonio Crístian Saraiva Paiva.

Universidade Federal do Ceará (UFC).

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Resumo

Neste paper buscamos pensar a respeito de parte do meu material etnográfico resultante de minha pesquisa de mestrado, o qual tem como foco central narrativas sobre repertórios de experiências com/em práticas sócio-sexuais de sado-fetichismo, mais especificamente práticas de feminização no BDSM, cujos protagonistas são sujeitos do gênero masculino que relatam em blogs pessoais suas experiências e performances eróticas, que reforçam a noção de que

“gênero” não é fixo e nem ligado diretamente ao “sexo biológico” (WELZER- Lang, 2004), reinventando seus próprios corpos e produzindo subjetividades.

Tendo como fio condutor a noção de performatividade de gênero (BUTLER, 2013), propomos discutir como os atores se engajam no processo de feminização, como pensam e elaboram suas experiências de vestir-se de outro gênero, como vivenciam performances de gênero inseridas no contexto das práticas do sadomasoquismo erótico ou BDSM, e como corpo, sexualidade e subjetividade podem ser problematizados a partir da observação dessas narrativas.

O universo sado-fetichista em questão: algumas considerações sobre o contexto das performances de gênero

Antes de discutirmos sobre o objeto que propomos, é importante situar o contexto a partir do qual as narrativas são elaboradas. Esse contexto tem como cenário o BDSM. Aqui, apenas um recorte do que pretendo desenvolver em minha dissertação, uma prática exclusiva do BDSM, a feminização masculina, na qual o sujeito se veste, adorna e comporta-se de acordo com estereótipos de outro gênero. Há vários tipos de feminização no contexto BDSM, e são alguns desses diferentes tipos que buscamos problematizar, tomando como referência material etnográfico (narrativas nos blogs e falas de entrevistados).

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O BDSM é uma sigla que se refere a um conjunto de práticas eróticas que envolvem dominação e submissão. O “B” refere-se à bondage, prática de amarração e/ou imobilização da pessoa com algum tipo de corda, barbante ou similares, o “D” refere-se à dominação erótica e disciplina; o “S” ao sadismo erótico e o “M” ao masoquismo erótico.

O tema BDSM vem sendo trabalhado por mim desde 2010, quando iniciei minha pesquisa (SILVA, 2012) sobre linguagens (re)produzidas em blogs de praticantes de sadomasoquismo erótico para pensar convenções de gênero e sexualidade. A dissertação, por sua vez, está sendo pensada como um desdobramento do trabalho anterior e uma experiência de imersão maior nesse universo, mais focado nos discursos sobre práticas de feminização, aliando a escrita nos blogs como fonte sobre o tema, mapeando relatos de experiências, através de contatos online com adeptos de BDSM e observação de blogs pessoais. A ideia que buscamos problematizar é de pensar essas práticas de feminização como performances de gênero, tomando o sentido performativo da categoria gênero (BUTLER, 2010) como sendo criada/vivenciada através de performances sociais contínuas, e nesse sentido, as noções de sexo, masculinidade e feminilidade são tidas como processuais (BUTLER, 2010, p.

201), de acordo com as convenções das práticas BDSM.

Os signos tradicionais do masculino e do feminino tendem a se intercambiar, e a alimentar o tema andrógino que se afirma cada vez mais. O corpo não é mais o destino ao qual nos abandonamos, ele é um objeto que fabricamos à nossa maneira. A relação da consciência do sujeito com seu corpo modificou-se profundamente (LE BRETON, 2012, p. 247).

Inserido nessa nova conscientização do corpo que está o BDSM, como

“muito mais uma somatória de grupos e principalmente de pessoas que se identificam pelas preferências sexuais e atitudes perante o mundo” (LEITE JR.,

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2000, p. 14), e que teve maior difusão a partir da Internet1. Foi a partir da popularização da Internet que foi possível ampliação de espaços para o debate sobre as práticas BDSM, a criação de fóruns e listas de discussão, sites e blogs, servindo como forma de socialização sem fronteiras das experiências, de redes de contatos e discussão sobre regras e convenções do sadomasoquismo erótico.

Por ser um meio que se caracteriza pela facilidade de comunicação, pela promessa de anonimato e pela oportunidade de contatar indivíduos que partilham interesses em comum, a Internet tornou-se ideal para a formação de grupos identitários que criam diversos tipos de comunidades virtuais. Além disso, os discursos sobre o BDSM encontram-se num contexto de suporte à própria ideia de um grupo identitário, pois reproduzem a noção de pertencimento através da informação de técnicas, conceitos e definições (ZILLI, 2009, p.

483-484).

Para citar algumas regras fundamentais na elaboração do discurso sobre o caráter erótico e consensual das práticas BDSM, há o lema SSC (são, seguro e consensual) que é a base do BDSM, para desvincular qualquer imaginário negativo relacionado ao termo “sadomasoquismo”, bem como para impulsionar uma conscientização coletiva de que as práticas devem ser realizadas de forma sadia, principalmente em relações individuais2. Essa questão está diretamente relacionada à patologização dos termos sadismo e masoquismo pelas ciências psi, havendo, por isso, uma intenção de formação de um “campo de ética”

(LEITE JR., 2000, p. 23) no meio BDSM. Outro ponto importante na caracterização como prática sadia e responsável do BDSM é a safeword.

1Podemos constatar isso diante das centenas de páginas na Internet sobre o tema. Em contrapartida, a bibliografia sobre o tema é menor, havendo mais referências estrangeiras do que nacionais.

2Disponível em: <www.senhorverdugo.com/origem-do-ssc.html>. Último acesso em: 03/06/2013.

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O lema SSC significa praticar o sadomasoquismo em plena sanidade mental, o que geralmente inclui a não ingestão de bebidas alcoólicas e qualquer outro tipo de droga, um estímulo à segurança de ambas as partes, desde que seja assegurada a consensualidade dos participantes, e a safeword ou palavra de segurança, é mobilizada como dispositivo que pode ser acionado por ambos os praticantes, no momento mesmo da prática, para avisar quando esta deve ser interrompida, no momento em que um dos praticantes chega a seu limite físico ou psíquico. A safeword “realça o aspecto tido como essencial de qualquer relação BDSM, que é a comunicação. A comunicação permite a negociação, que por sua vez, abre portas para o consentimento – sem o qual não há BDSM”

(ZILLI, 2009, p. 491).

O principal meio de difusão dessas regras, como fora dito, tem sido a Internet. Os blogs, apenas uma parte do material suporte online de informações sobre o tema, são palco para subidentidades no BDSM, personagens que se insurgem/voltam contra “a definição estritamente psiquiátrica/patológica da sua sexualidade através de uma política de afirmação identitária, expressa por um discurso de legitimação de objetivos bem definidos” (ZILLI, 2009, p. 483-490).

Tentamos apreender um pouco do universo do BDSM a partir do material disponível online. Nos blogs pesquisados, as pessoas identificam-se como praticantes de BDSM, ou como praticantes de feminização masculina, relatam experiências vivenciadas segundo as convenções desses grupos, apropriando- se e brincando com convenções sociais, subvertendo-as. A seguir, quatro pontos importantes para situar o contexto do qual partem as narrativas que serão apresentadas no decorrer deste paper, como forma de ilustrar os cenários acionados.

Dominação feminina e submissão masculina no BDSM

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O segundo ponto importante seguido da definição de sadomasoquismo erótico ou BDSM é a identificação do que entendi por Femdom, que significa Female Domination ou Fêmea Dominante, o universo de práticas de dominação feminina, o qual designa tendências de dominação da mulher sobre outra pessoa, que pode ser um homem ou mulher. Na Internet existem sites que explicam e identificam as práticas que constituem esse universo, mas acredito que a melhor definição pode partir da fala de uma dominadora que conheço desde 2011, conhecida como Rainha Frágil.

Eu não bato para castigar. Bato porque me dá prazer. E sinceramente não me importa muito o que é que o escravo está sentindo. Se ele sentir prazer, melhor pra ele. Não me importo. O grande barato pra mim é apenas ele permitir. Permitir que eu o amarre, ou que eu o humilhe, ou que bata nele. E a verdade é como dizia Pat Clemente: os homens tiram prazer de qualquer coisa. Eles dão um jeito sempre…Quanto mais humilhados, quanto mais dor eu puder impor, quanto mais tortura, mais prazer eu terei. Mais orgasmos, mais risos, mais tesão. Tudo me fica a flor da pele se eles me deixam “brincar” à vontade...Misturo disciplina com condicionamento. Geralmente acabam gostando. E, sem dúvida, é muito mais gostoso assim...É por isso que as relações SM precisam de tempo. Porque elas são o contrário das relações baunilha. São como vinho, ficam melhores a cada dia....Quando recebo um novo escravo eu me deixo conduzir por ele, pelos atalhos onde se sinta mais seguro. Aqui e alivio ajustando a nossa rota, e vamos indo, na boa, pra onde eu quero ir. Eu preciso que permitam3.

Rainha Frágil remete à existência da diferenciação de papéis nas cenas BDSM; são adotados títulos relacionados às tendências e personalidades dominadoras e/ou sádicas da mulher, afim de que se diferencie das submissas e/ou masoquistas: títulos como Dominadora/Domme, Mistress, Sádica, Rainha, são nomenclaturas que são funcionais por remeterem e identificarem as

3Ver Meu prazer, seu prazer, disponível no link: Link:

http://rainhafragil.wordpress.com/2008/07/02/meupraze/. Acesso em: 11 de agosto de 2014.

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preferências e as práticas associadas, geralmente ligadas às relações D/s (Dominação/submissão), jogos de controle, físicos e/ou emocionais; práticas que envolvem o sadismo, que causam dor, sofrimentos físico e psicológico no dominado4, empreendendo algo que se assemelha ao “apagamento ritualizado do corpo” (LE BRETON, 2012, p. 204) do submisso.

Estes diversos personagens de fato formam subidentidades na cultura BDSM. Assim, as pessoas identificam-se como um certo “alinhamento”

de sua preferência – e poderão buscar textos, discussões e material erótico mais específicos sobre seus gostos. [No entanto,] Às vezes as fronteiras entre identificação com um personagem e outro é difusa

(ZILLI, 2009, p. 490).

No Femdom, geralmente não acontece o sexo com penetração, ou seja, o homem submisso não usa seu órgão genital para penetrar a dominadora. O submisso é alguém, nesse sentido, tratado como um ser inferior às mulheres, às quais devem prestar reverências, ser disciplinado e entregar-se às vontades da figura feminina dominante5: há uma passagem do corpo sujeito ao corpo objeto6. Isso acontece quando a pessoa, no caso, o homem submisso, sente prazer com situações humilhantes, deseja ser inferiorizado, através de xingamentos e práticas de degradação, como “chuvas dourada, prateada e marrom”, práticas de feminização, principalmente feminização forçada, a objetificação ou uso do sujeito como uma cadeira ou móvel de decoração, e ainda jogos nos quais o

4Ver Dominação Feminina no BDSM, disponível no link:

http://bdsmcave.blogspot.com.br/p/femdom.html?zx=1adaa6c22d922c18. Acesso dia 13 de agosto de 2014.

5Ver Apresentação, disponível no link: Link:

http://submissoreal.blogspot.com.br/2009/10/apresentacao_28.html. acesso em: 12 de agosto de 2014.

6 Le Breton (2012, p. 249) fala o contrário, “passagem do corpo objeto ao corpo sujeito”. Não deixa de ser relevante para a discussão, mas acredito que no caso das performances estudadas, acontece o contrário.

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submisso é tratado como um cachorro e/ou cavalo, chamados de petplay;

também faz parte da humilhação erótica a possibilidade de vivenciá-la de forma privada ou exibição pública, online e off-line.

A partir daí, podemos visualizar formas diferentes de captura de corporeidades, reforçando a relação entre vivencia do corpo, subjetividade, sexualidade e gênero, categorias que atravessam a mobilidade corpórea, seja ela online e/ou off-line: essas duas dimensões da realidade enredam vários níveis e potencialidades de corpo. Um dos pontos que buscamos problematizar é se esses movimentos do corpo reforçam ou reinventam estereótipos de gênero. É possível criar novos estereótipos? Ou é possível desestereotipar, diante da pluralidade cultural incontestável?

Complementando a cena, há o submisso, o qual pode ser masoquista, ou não. Masoquista é aquele que encontra prazer na dor, física e/ou psicológica, em jogos que variam de nível, pesado ou leve. Um fetiche comum relacionado ao masoquismo é o spank, que aparece em algumas das narrativas observadas;

se trata de um jogo no qual o submisso sofre castigos e torturas diversas, seja com o uso de acessórios como chicotes, palmatórias e chibatas, e também com as mãos. Além disso, podemos pensar que o corpo “não transparece verdadeiramente à consciência do homem ocidental a não ser, exclusivamente, nos momentos de crise, de excesso: dor, fadiga, ferimento, impossibilidade física de cumprir determinado ato ou ainda a ternura, a sexualidade, o prazer...”

(LE BRETON, 2012, p. 195), e essa conscientização do próprio corpo é também erotizada.

Uma larga rede de expectativas corporais recíprocas condiciona as trocas entre os parceiros sociais. Em uma mesma trama social, as sensações, a expressão das emoções, os gestuais, as mímicas, as posturas, as etiquetas que regem as interações as representações etc., todas as figuras corporais são partilhadas pelos atores a partir de uma estreita margem de variações (LE BRETON, 2012, p. 191).

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A relação que pode se estabelecer na junção de um submisso e uma dominadora é geralmente chamada de D/s, necessariamente quando há o desejo de jogos de controle do outro, quando o submisso deseja ter seus movimentos e comportamentos controlados e disciplinados. Outra característica desse tipo de relação é o fetiche da dominação psicológica7, que pode se manifestar desde a depreciação do submisso com xingamentos, como fazê-lo realizar atividades que não é acostumado a fazer, por exemplo, a inversão de papéis, um dos passos para a feminização, ou apenas como forma de humilhação. Como o submisso não utiliza seu pênis para penetrar a dominadora é reservado a ele outras práticas, como a inversão de papéis.

Inversão de papéis (sexuais)

De acordo com o material etnográfico, alguns homens fantasiam imaginar-se possuídos sexualmente por uma mulher, através da inversão, ou do crossdresser, situação na qual o homem estaria vestido de mulher e desejaria praticar sexo com uma mulher, outros desejam ver-se ou imaginarem-se forçados a serem travestidos de mulher, ou passivos e humilhados, encontrando na feminização forçada a fantasia ideal para satisfazer seu desejo. Muitos apresentam claramente o desejo por relacionar-se com mulheres e apenas a ideia da exibição para outro homem os fazem perder a ereção. Essa prática vai além do prazer do ato, há uma fantasia com a situação. Em alguns contextos, o homem pode ser masoquista e/ou submisso, pode ser uma experiência na qual

7Ver Entenda o que você gosta, disponível no link: Link:

http://submissoreal.blogspot.com.br/2013/03/entenda-o-que-voce-gosta.html. acesso em 12 de agosto de 2014.

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o homem sinta desejo erótico se vestir de mulher, podendo ou não identificar-se como crossdresser, ou ainda ser bissexual8.

Existe a possibilidade de o homem alcançar o prazer sexual através da estimulação anal, no entanto, essa prática é um tabu entre heterossexuais, um assunto que causa certo pavor, repulsa, havendo muito preconceito circundando a prática do sexo anal, como sendo, eventualmente, indicativo de homossexualidade masculina. Em contrapartida, quando o homem se deixa penetrar por uma mulher, a situação de preconceito continua. É importante dizer que, quando falo que algumas das práticas de feminização masculina, não estou afirmando que o prazer no estímulo anal masculino e/ou a estimulação prostática está diretamente relacionado às práticas BDSM, como submissão, por exemplo. É uma prática isolada que faz parte das possibilidades nos jogos eróticos BDSM9.

Além disso, no Femdom, a inversão de papéis e a feminização são tipos de humilhação, considerados como jogos de subversão de gênero, pois nesses dois fetiches, a mulher dominadora ocupa o papel supostamente (e socialmente) designado ao homem, enquanto este ocupa o lugar reservado a mulher, de acordo com nossa sociedade patriarcal e machista, de passividade e submissão Como fora dito, o Femdom é um contexto de supremacia feminina, portanto, o homem pode ser induzido a transformar-se de “mulher (roupas, maquiagem, expressões femininas) e no ato sexual ocupa a posição passiva na relação”10. A mulher, por sua vez, assume a posição atribuída ao macho, atuando como penetradora, mas como? Utilizando acessórios, como uma cinta atada ao corpo

8Ver Inversão de papéis- como fazer, disponível no link:

http://www.avidasecreta.com.br/inversao-de-papeis-%E2%80%93-tudo-o-que-eu-queria-saber-e- so-aprendi-na-marra/. Acesso em 4 de maio de 2014..

9Ver Inversão de papéis- como fazer, disponível no link:

http://www.avidasecreta.com.br/inversao-de-papeis-%E2%80%93-tudo-o-que-eu-queria-saber-e- so-aprendi-na-marra/. Acesso em 4 de maio de 2014..

10Ver Inversão de papéis, disponível no link:

http://submissoreal.blogspot.com.br/2011/10/inversao-de-papeis-iii.html. Acesso em: 12 de agosto de 2014.

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com um pênis artificial acoplado, comumente chamado de strap-on. Assim sendo, a única relação sexual disponível para o submisso é o sexo anal. Uma das situações em que o sexo anal ou estimulação prostática está no contexto BDSM; alguns desses jogos eróticos envolvem o controle do gozo masculino através do uso do cinto de castidade, um dispositivo que pode ser em acrílico, couro, por exemplo, e uso de dildos, plugs anais, fist fucking e pênis de material sintético11.

Eventualmente o prazer com a estimulação anal vem acompanhado de outras fantasias. O strap-on vem a ser a fantasia de ser literalmente fodido pela parceira com o auxílio de um acessório que é um dildo (pau de borracha), adaptado a uma cinta que anatomicamente firma o acessório ao corpo. Alguns homens submissos têm a fantasia de ser humilhado dessa forma, ser forçado a isso por uma mulher. Outros têm, não apenas este desejo, como também o da feminização forçada.

Ser obrigado a vestir-se como mulher, constranger-se e paradoxalmente excitar-se com a prática 12.

O uso do strap-on agrega uma carga erótica que é explicitamente heterossexual, por estar associado a ele o ato de penetração, mas também pelo formato falocêntrico do objeto sexual13, e é essa situação que é aproveitada no jogo de inversão.

O fetiche da inversão é um dos fetiches mais polêmicos, por mexer muito com fantasias, tanto masculinas como femininas. “Pira a cabeça dos machões

11Ver Inversão de papéis- como fazer, disponível no link:

http://www.avidasecreta.com.br/inversao-de-papeis-%E2%80%93-tudo-o-que-eu-queria-saber-e- so-aprendi-na-marra/. Acesso em 4 de maio de 2014..

12Ver Inversão de papéis- como fazer, disponível no link:

http://www.avidasecreta.com.br/inversao-de-papeis-%E2%80%93-tudo-o-que-eu-queria-saber-e- so-aprendi-na-marra/. Acesso em 4 de maio de 2014.

13 Ver A sexualidade invertida, disponível no link: www.avidasecreta.com.br/a-sexualidade- invertida. Acesso em 1º de maio de 2014.

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de plantão, que não conseguem compreender como um homem ‘de verdade’

sentiria prazer fazendo papel de ‘maricas’. Em contrapartida, muitos dos que já experimentaram lutam contra seus próprios preconceitos para se autoconvenceram de que não são viados”14. Pelo menos 90% dos homens com que Lady Vulgata, bloqueira e dominadora no meio BDSM, praticou a inversão eram heterossexuais.

Dos outros 10%, a maioria tem tendências bissexuais e uma porcentagem reduzidíssima é de fato gay! E por que o gay não curte inversão? Porque o que o atrai é o cheiro, a pele e a “pegada”

masculina. Uma mulher que pratica inversão, por mais poderosa e/ou agressiva que seja, será sempre uma mulher, com cheiro, hábitos, pele e formas suaves 15.

Sendo assim, por que, então, falar que a inversão pode ser exercida como uma forma de dominação psicológica, e também um dos passos no processo de feminização e/ou humilhação eróticas? Porque é uma troca que tem como objetivo a humilhação, mas também “a quebra da resistência psicológica do escravo, visto que o homem foi ensinado durante toda a sua formação que a ele cabe o papel de dominador, simplesmente por possuir entre as pernas aquilo que é o símbolo do poder: o pênis”16.

Até aqui, acentuamos algumas atividades que fazem parte do contexto de inversão de papéis e de brincadeira com hierarquias e convenções socialmente estabelecidas. O BDSM faz isso, provoca o desenho de caricaturas das trocas

14 Ver O prazer da inversão, disponível no link: http://ladyvulgata.blogspot.com.br/2010/01/o- prazer-da-inversao.html?zx=f707c529636d7d36. Acesso em: 14 de agosto de 2014.

15Ver O prazer da inversão, disponível no link: http://ladyvulgata.blogspot.com.br/2010/01/o- prazer-da-inversao.html?zx=f707c529636d7d36. Acesso em: 14 de agosto de 2014.

16Ver A inversão de papéis, disponível no link:

http://fsexuando.blogspot.com.br/2011/02/inversao-de-papeis.html. acesso em: 8 de maio de 2013.

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de poder, erotizando hierarquias. No entanto, o ponto importante dessa subversão, ao qual nos propomos discutir, é a feminização masculina no contexto BDSM. O que se segue são narrativas mapeadas no campo.

A feminização (forçada ou voluntária) do masculino

O início da feminização em minha servidão foi algo que eu não esperava, no início de uma sessão minha dona mostrou as roupas e a sandália e mandou eu me vestir. Minha cabeça estava... meu deus, o que é isso, passou do limite e etc... Porém minha pequena alma estava a mil, queria muito que aquilo acontecesse. Mas não por eu ser bissexual (apenas descobri que sou bi há muito pouco tempo mesmo, quer dizer sempre fui, apenas me descobri), mas sim pela servidão, me vestir de mulher diante de minha Dona era algo que me dava muito prazer e sentimentos gostosos... Estava me sentido ridícula (na época ridículo rs) porém bem comigo mesma, e quis mais... a sensação de liberdade, sinceridade, ser quem eu realmente sou diante de minha Dona que tanto amo. E isso só me despertou esse mundo novo da feminização.17

A feminização é uma possibilidade dentro do universo BDSM, uma prática que tem várias facetas e contextos, envolvendo fantasias de submissão e dominação física e psicológica, acentuando mais a dominação psicológica. O processo de feminização é um processo, sem medo de ser redundante: aos poucos, alguns elementos são adicionados à performance, ao corpo, e vão constituindo a personagem feminina no corpo masculino transformado.

Um tipo de feminização exclusiva do BDSM é a feminização forçada, no entanto, há outros tipos, que são o crossdressing, sissificação, travestismo e fetiche por peças de roupa feminina. Chamaremos atenção, neste paper, para a feminização forçada e para a sissificação, o qual é um tipo de feminização

17 Ver O início de tudo, disponível em: http://feminizacaonobdsm.blogspot.com.br/2009/01/o- inicio-de-tudo.html. Acesso em: 11 de agosto de 2014.

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forçada na qual o homem submisso passa por adestramentos e transformações no corpo, vestimentas e comportamento, porém, ressaltando que há a feminização voluntária nesses contextos “forçados”, já que as práticas são consensuais.

[...] o corpo e os usos que dele fazemos, bem como as vestimentas, adornos, pinturas e ornamentos corporais, tudo isso constitui, nas mais diversas culturas, um universo no qual se inscrevem valores, significados e comportamentos, cujo estudo favorece a compreensão da natureza da vida sociocultural18.

A feminização do homem como humilhação é uma prática presente nas relações Femdom. Geralmente, o sujeito que se identifica com o papel de submisso e/ou escravo passa por uma situação de dominação notadamente psicológica; a dominadora abusa do escravo/submisso,

[...] não somente porque se sente prazer e satisfação com a situação, mas principalmente por saber o que se está causando de desconstrução na mente desse escravo, isso permite é claro a remodelagem de conceitos e atitudes perante sua dominadora, mais do que isso o seu comportamento passa a ser exemplar e dócil num contexto geral19.

18 OTTA, Emma e QUEIROZ, Renato Silva. A beleza em foco: condicionantes culturais e psicobiológicos na definição da estética corporal. In: QUEIROZ, Renato Silva. O corpo do brasileiro: estudos de estética e beleza. São Paulo, Ed. SENAC, 2000, pp.13-66, apud VENCATO, 2005, p. 233.

19Ver Feminização do masculino, disponível no link:

http://kirtychandra.blogspot.com.br/2011/01/feminilizacao-do-

masculino.html?zx=f1215f2bb635fa85. Acesso em: 8 de maio de 2013.

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A ideia é domesticar a masculinidade do homem, discipliná-lo, de várias formas, e a forma mais eficaz é com humilhações, portanto, merece atenção a questão da dominação psicológica.

Como fora dito, a feminização forçada é uma das práticas possíveis em uma relação Femdom20. “Por feminização forçada vamos entender, como manifestação mínima, a obrigação que a Dominadora impõe a seu submisso de se vestir como mulher, completamente ou apenas algumas peças íntimas femininas”21. A prática da feminização vai depender principalmente das fantasias da dominadora, mas também pode ser condicionada pelo próprio submisso, e pode extrapolar a sessão BDSM, podendo haver exposição pública, como parte ou não da carga de humilhação que a feminização tem, lembrando que fazendo parte do contexto BDSM, as práticas reforçam trocas de poder geralmente desiguais, mas são consensuais, como fora dito no início deste paper.

De um lado está a dominadora, figura disciplinadora que representa a personificação do poder, do outro, o submisso, o qual pode vivenciar a prática da feminização de diversas maneiras, duas das quais podem ser: 1) o submisso pode não encontrar prazer na fantasia da feminização em qualquer manifestação, total ou parcial e, nesse sentido, ela “gera uma sensação de humilhação que leva a um prazer masoquista”22; em algumas situações, essa recusa da feminização pode ser acompanhada de pensamentos machistas,

20 Uma referência interessante que ilustra a feminização forçada, na internet, é o vídeo Rainha Frágil – Vestindo sua “sissy” – Dressing your sissy, disponível no Youtube. Em seu blog, Rainha Frágil fala sobre o vídeo e a prática de feminização forçada. Optei por não reproduzir o depoimento porque já o fiz em outro momento (Silva, 2012). Ver Feminização no Youtube, disponível no link: http://rainhafragil.wordpress.com/2008/06/16/feminizacao-no-youtube/, e Rainha Frágil – Vestindo sua “sissy” – Dressing your sissy, disponível no link:

https://www.youtube.com/watch?v=w7sZEkDxja8. Ambos acessados em: 14 de agosto de 2014.

21 Ver Feminização forçada, Travestismo e Disforia de Gênero, disponível em:

http://www.ifetiche.com.br/v1/index.php/artigos/79-fetiches/76-feminizacaoforcada. Acesso em 8 de maio de 2013.

22 Ver Feminização forçada, Travestismo e Disforia de Gênero, disponível em:

http://www.ifetiche.com.br/v1/index.php/artigos/79-fetiches/76-feminizacaoforcada. Acesso em 8 de maio de 2013.

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sendo assim, “a prática se beneficia do preconceito contra a mulher para gerar a humilhação”23; outra situação é o fato de a dominadora simplesmente não aceita-lo como homem, e decide por objetificá-lo e/ou feminizá-lo e despersonalizá-lo, fazer dele uma “caricatura de mulher”. No entanto, no caso da feminização forçada, “o prazer não vem de estar vestido de mulher, mas da humilhação que isso significa diante de sua Dona e diante de si mesmo”24, mas também pode ser um conjunto de fatores no qual estar vestido de mulher e sentir-se humilhado movem a cena. Interessa para nossa discussão lembrar que nem todo submisso passa pelo processo de feminização, até porque há inúmeras de maneiras de humilhá-lo.

Ademais, o submisso pode possuir o fetiche de ser feminizado por uma mulher, ter fetiche por vestimenta feminina como lingeries, ou ainda ser um admirador do universo feminino. Nesse caso, portanto, “o submisso tem prazer em usar as roupas e a caracterização feminina e acaba por usar esse prazer para servir ao prazer de sua Dona. Igualmente pode repetir-se aqui a rejeição da Dominadora à pretensa masculinidade do seu submisso, impondo-lhe a feminização para que possa ficar ao seu lado”25. Os fatores humilhação e imposição tem um peso menor do que na outra situação. Aqui percebemos mais uma feminização voluntária do que forçada.

O termo “feminização forçada” por si é carregado de significados relacionados a degradação, humilhação, imposição e inferiorização, situações que são claramente humilhantes para o submisso e, teoricamente contra sua vontade. “Nesse caso, ao fazê-lo tornar-se mulher, a Dominadora o

23 Ver Feminização forçada, Travestismo e Disforia de Gênero, disponível em:

http://www.ifetiche.com.br/v1/index.php/artigos/79-fetiches/76-feminizacaoforcada. Acesso em 8 de maio de 2013.

24 Ver Feminização forçada, Travestismo e Disforia de Gênero, disponível em:

http://www.ifetiche.com.br/v1/index.php/artigos/79-fetiches/76-feminizacaoforcada. Acesso em 8 de maio de 2013.

25 Ver Feminização forçada, Travestismo e Disforia de Gênero, disponível em:

http://www.ifetiche.com.br/v1/index.php/artigos/79-fetiches/76-feminizacaoforcada. Acesso em 8 de maio de 2013.

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despersonaliza, o obriga a desmontar toda a construção cultural de gênero, ao modo como ele culturalmente aprendeu a se ver com o homem e obrigá-lo a, apesar do pênis, ser uma mulher”26.

Evidentemente, quanto mais chateado e aborrecido ficar o submisso por ter que se vestir e comportar como mulher, mais interessante o jogo fica. Há um prazer todo especial em "vencer" a natureza isso é, domesticar o animal para que ele aja em oposição ao seu instinto.

Nesse sentido, a Dominadora manipula as próprias representações culturais dos gêneros para se impor ao próprio sexo orgânico que o corpo do submisso apresenta. Por esse motivo, há quem veja a feminização como o termo final de todo o processo de submissão27.

O submisso que não possui essa fantasia a rejeita pela identificação com o corpo, gênero e sexo masculino. No entanto, podem continuar no sentido de a prática despertar seu lado masoquista. Em contrapartida, “Toda sua força, seu treino para a dor, são negados. As virtudes do escravo masculino são negadas. O pensamento e, mesmo, a queixa que pode ser verbalizada por um escravo nessa situação é: Para que tanto esforço se o que você queria era um viadinho? Uma mulherzinha?”28. Deparar-se como a negação de sua masculinidade, para alguns submissos, faz com que potencialize a despersonalização, fazendo-os sentirem-se mais escravizados.

26 Ver Feminização forçada, Travestismo e Disforia de Gênero, disponível em:

http://www.ifetiche.com.br/v1/index.php/artigos/79-fetiches/76-feminizacaoforcada. Acesso em 8 de maio de 2013.

27 Ver Feminização forçada, Travestismo e Disforia de Gênero, disponível em:

http://www.ifetiche.com.br/v1/index.php/artigos/79-fetiches/76-feminizacaoforcada. Acesso em 8 de maio de 2013.

28 Ver Feminização forçada, Travestismo e Disforia de Gênero, disponível em:

http://www.ifetiche.com.br/v1/index.php/artigos/79-fetiches/76-feminizacaoforcada. Acesso em 8 de maio de 2013.

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Eu, um rapaz de 20 e poucos anos, no auge da virilidade, sem dúvidas de minha sexualidade (para alguns, hombridade) com um leve (ou não) tesão por BDSM. Conhece uma dominadora através de um amigo comum no meio. Começam as experiências, tesão a mil, muitos medos, mas na minha cabeça, ok... vale a pena. De repente você se vê no espelho, maquiado, roupa de mulher, acessórios, salto alto, sendo chamado de cadela, puta e etc. Ou seja, papéis invertidos. É ou não é algo que deixa qualquer um maluco. Com certeza... fora de sessões quando eu pensava nisso ficava grilhada, não sei explicar na verdade o que eu sentia exatamente, era muito fora da realidade.

Chegava a sessão e começava tudo de novo, era o paraíso. O auge do tesão, uma experiência 100% controlada por minha dona, inclusive eu mesma, 100% controlada. Quando eu podia gozar, saia do corpo.

Quando não podia, decepção e tesão reprimido. Mas normalmente era apenas um "método" para eu entender as coisas que não estavam certas. Se eu fizesse minha "lição de casa", ou seja, fazia por merecer.

Lá vinha o tão esperado orgasmo, que algumas vezes vem sem mesmo ejacular. Esqueço do mundo, de todos. É apenas minha dona, esquecia de mim mesmo, o orgasmo não é meu, e sim de minha Dona, como tudo vindo de mim. Paraíso...29

É importante dizer que, de acordo com narrativas que fazem parte do material etnográfico, nem todo submisso é masoquista, mas necessariamente, no contexto do BDSM, todo feminizado é submisso, e a maioria passa pela despersonalização, também usada como forma de humilhação. “No caso da despersonalização e, em particular, da feminização forçada, cabe à Dominadora o processo de desmontagem”30, e também da montagem31. “O corpo se estuda

29Ver Aceitação e confiança própria, disponível em:

http://feminizacaonobdsm.blogspot.com.br/2009/01/aceitao-e-confiana-prpria.html. Acesso em:

11 de agosto de 2014.

30 Ver Feminização forçada, Travestismo e Disforia de Gênero, disponível em:

http://www.ifetiche.com.br/v1/index.php/artigos/79-fetiches/76-feminizacaoforcada. Acesso em 8 de maio de 2013.

31“[montar é] um verbo constantemente usado no vocabulário dos drag queens, que significa o ato de montar a personagem, criando todos os aspectos que irão compô-la, desde seu

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em compensação pelos privilégios, nomeia-se precisamente diante do espelho”

(VIGARELLO, 2006, p. 135).

Para muitas Dominadoras, a despersonalização proposta pela feminização forçada é tal como outra qualquer. Trata-se de moldar o submisso a seus desejos e caprichos. Tanto faz se o submisso foi transformado em mesa ou mulher. Para outras Dominadoras é realmente uma brincadeira de bonecas feita com gente viva32.

Aqui cabe mencionar outros tipos de feminização que também aparecem no contexto BDSM: o crossdressing, a sissificação e o travestismo; o primeiro e o terceiro, respectivamente, não são exclusivos do contexto sadomasoquista; no contexto BDSM são fetiches que podem extrapolar a esfera do sexual, assim como a sissificação que, em alguns sentidos, pode inclusive extrapolar a noção de SSC. O que interessa é que ambos evocam performances de gêneros, trânsitos de gênero, que são acionados e construídos através de determinadas representações e estereótipos convencionalmente reconhecidos como pertencentes ao mundo feminino e/ou masculino.

Em nível de esclarecimento, tomaremos como “travestismo” a prática de travestir-se com trajes do gênero oposto, atentando para nosso contexto, que aqui é adicionado de caráter fetichista: “Batom, cinta-liga, corseletes, calcinhas, sutiã só fazem sentido para o submisso fetichista se ele compreende o código cultural de vestimentas de sua sociedade. Se as marcas culturais fosse outras,

codinome, sua indumentária, maquiagem, comportamento, modo de falar, etc. Ao se montar, o drag transforma-se em sua personagem” (JATENE, Izabela da Silva. Tribos urbanas em Belém:

Drag queens – rainhas ou dragões? Belém, 1996, mimeo, p. 9, apud VENCATO, 2005, p. 232).

32 Ver Feminização forçada, Travestismo e Disforia de Gênero, disponível em:

http://www.ifetiche.com.br/v1/index.php/artigos/79-fetiches/76-feminizacaoforcada. Acesso em 8 de maio de 2013.

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ele buscaria essas outras marcas para seu travestismo”33, portanto, os estereótipos que são reconfigurados com base em representações culturais já existentes.

[...] a indumentária é um elemento simbólico fundamental na definição das nossas identidades, não só de classe, mas também de gênero.

Como conseqüência, a moda irá manifestar padrões, limites, imposições tácitas de ordens diversas, estabelecendo projeções típicas de comportamento para todas as categorias de indivíduos, fixando um conjunto de significações e valores de um modo sistemático34.

Essa modalidade de travestismo, o fetichista, é episódico, ou seja,

“delimitado a uma cena ou situação”. Nesse sentido, não há uma necessidade de estar feminizado em tempo integral, o que interessa é a feminização em uma cena sado-fetichista.

[...] uma travesti submissa apenas não é uma sissy, ela pode desejar, mas para ser precisa de duas coisas, a primeira a Dona que a quer e deseja. Isto eu tinha, mas faltava a segunda. A roupa. Sim a roupa. Um policial se veste como policial, uma empregada como uma empregada e a sissy tem que se vestir como tal, e na quinta feira que passou a minha amada Dona me deu a primeira roupa. Agora sim posso gritar:

SOU UMA SISSY! Experimentei a roupa completa com bolsinha, almofadinha e arquinho tudo! A minha Dona estreou a jaula dela, me prendeu e passei pelo menos umas 3 horas presa, e ela se deliciando e tirando fotos. (...) Uma sissy real!35

33 Ver Feminização forçada, Travestismo e Disforia de Gênero, disponível em:

http://www.ifetiche.com.br/v1/index.php/artigos/79-fetiches/76-feminizacaoforcada. Acesso em 8 de maio de 2013.

34 (TELES DOS SANTOS, Jocélio. Incorrigíveis, afeminados, desenfreados: indumentária e travestismo na Bahia do século XIX. Revista de Antropologia, vol. 40, no 2, São Paulo, USP, 1997, p.147 apud VENCATO, 2005, p. 236).

35 Ver Uma sissy bem brasileira, disponível em: http://priscilasissy.blogspot.com.br/2013/05/uma- sissy-bem-brasileira.html. acesso em 12 de agosto de 2014.

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Alguns submissos que se travestem relatam a sensação de “caráter liberador” da ridicularização e humilhação, ressaltando o lado do sadomasoquismo como espaço de “experimentação”, além de ser transgressor e provocar rupturas de papéis e identidades de gênero, e também “papéis de sexo, tanto na Dominadora com strap-on, como no submisso travestido”36. A experimentação se dá pelo fato de as pessoas estarem “reinventando as representações culturais para delas, obterem um novo prazer”, mais próximos da criatividade do que da normatividade37.

Ao invés de transformarem o devir mulher em espetáculo, como as drags, o que esses homens desejam é serem submissas a Senhoras, serem humilhadas e usadas em situações rotineiras, uma alusão ao universo que vivem, só que ao contrário, exercendo papéis que usualmente não exercem.

Apesar de manterem níveis de exibicionismo, não o fazem para um público, mas para práticas em parceria ou exibição de forma que seu anonimato seja mantido. Nem sempre uma sissy ou um cdzinha quer se fazer notar pelo público a partir de suas performances, porque a situação só se complementa quando há a relação de dominação e submissão, ou seja, só quando a “fabricação do corpo” (VENCATO, 2005, p. 231) tem como finalidade práticas BDSM.

A sissy maid e a feminização forçada

Umas das várias faces do BDSM é a sissy, sissymaid. Vestir com aquelas roupas alimenta o fetiche de muitas pessoas. Mas o ato de em uma sessão, numa brincadeira a dois imaginar-se com uma produção desta é muito diferente de realmente se produzir destra maneira e mais

36 Ver Feminização forçada, Travestismo e Disforia de Gênero, disponível em:

http://www.ifetiche.com.br/v1/index.php/artigos/79-fetiches/76-feminizacaoforcada. Acesso em 8 de maio de 2013.

37Ver Feminização forçada, Travestismo e Disforia de Gênero, disponível em:

http://www.ifetiche.com.br/v1/index.php/artigos/79-fetiches/76-feminizacaoforcada. Acesso em 8 de maio de 2013.

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diferente ainda é não ser uma sessão ou uma brincadeira a dois mas ser sissy, ser vista e tratada como tal. Ser uma sissy é muitíssimo diferente de estar uma sissy. Ser uma sissy é deixar de ser vista e tratada como um ser humano pela sua Dona, é tornar-se uma boneca, passar a ser seu brinquedo, sem vontades ou desejos, aquentar toda sorte de humilhações, e passar por quaisquer situações sejam elas quais forem. Uma sissy real é propriedade da sua Dona. A sua única vontade permitida o é de servir e agradar sua Dona da forma em que ela quiser. Numa relação deste nível a sissy deixou de ser humano e tornou-se a boneca da sua dona, um objeto e com isto uma das bases do bdsm cai por terra o consensual. Esta relação não tem limites, eles caem por terra. A Dona da sissy a trata e a enxerga como sua boneca e faz o que quiser da forma que quer...38

“A empregada doméstica Sissy é o traje de fantasia mais comum da submissão masculina e está associada à servidão pessoal. Essa fantasia se tornou um dos símbolos representativos da servidão masculina no BDSM”39. Mas não é apenas um traje, e não apenas um fetiche: em algumas situações, pode se tornar um estilo de vida. “Uma empregada sissy pode ter o pênis trancado em um dispositivo de castidade para impedir a liberação sexual. A sissy tem que suportar uma vida de abstinência e deve se contentar sendo invertido pela dona ou com a masturbação quando liberado” 40.

Essa fantasia mobiliza um processo de feminização, forçada e/ou voluntária, que é um treinamento – o jogo de sissificação ou sissification – compreendendo uma série de rituais, os quais possuem elementos de servidão doméstica e pessoal, disciplina, idolatria, e, em alguns casos, é resultado (ou

38Ver Uma sissy real e com orgulho, disponível em:

http://priscilasissy.blogspot.com.br/2014/08/uma-sissy-real-e-com-orgulho.html. Acesso em: 12 de agosto de 2014.

39Ver Sissy e Feminização forçada, disponível no link:

http://submissoreal.blogspot.com.br/2010/11/sissy-e-feminizacao-forcada.html. acesso em 12 de agosto de 2014.

40Ver Sissy e Feminização forçada, disponível no link:

http://submissoreal.blogspot.com.br/2010/11/sissy-e-feminizacao-forcada.html. acesso em 12 de agosto de 2014.

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condicionante) de uma relação 24/7, o que significa dizer que há a servidão integral do submisso/escravo sissy, 24 horas por dia, 7 dias por semana, havendo portanto, uma entrega total à dominadora41. “Esses jogos são combinados com a tortura do pênis e das bolas, bem como o uso de dispositivos de castidade masculino. O tipo de estimulo sexual mais frequente que uma sissy recebe é o anal”42

[...] temos uma relação 24/7, ela controla o que visto o que bebo e o que faço mesmo a distância. Ela me assumiu para alguns como sua sissy, para outros que não entendem como uma travesti que é sua escrava e para o resto uma travesti amiga...Agora como falar sobre sexo se eu não faço sexo? Mas pensando bem será que não faço?

Sou do sexo masculino, isto é nasci e ainda tenho pênis e testículos, mas meu gênero sempre foi feminino. Daí o início da confusão acima:

Sexo masculino e gênero feminino... Fico extremamente excitada com o que me já aconteceu no que a minha Rainha já me transformou e no que vai me acontecer. Por exemplo ela está me preparando para ser uma puta literalmente. Atender clientes em troca de $, tem humilhação pior? E isto me excita e ai fico mais e mais molhada. Então sim. Faço sexo sim! Mas nunca como homem, mas como a mulher que sou. E gozo, pois o gozo está na cabeça, digo que faço sexo 24hs por dia. E como Homem? Não, faço e nunca mais farei sexo... o pênis só serve para urinar e ele junto com os testículos para apanhar pois minha dona ama bater neles43.

Considerações Finais

O corpo, na contemporaneidade, não é óbvio. É possível definir o que é corpo? O que se faz corpo? O que fazemos do corpo? O corpo como suporte,

41Ver Treinamento de um escravo sissy, disponível no link:

http://submissoreal.blogspot.com.br/2013/07/treinamento-de-um-escravo-sissy.html. acesso em:

12 de agosto de 2014.

42 Ver Sissy e Feminização Forçada, http://submissoreal.blogspot.com.br/2010/11/sissy-e- feminizacao-forcada.html. acesso em 12 de agosto de 2014.

43 Ver Sissy x Sexo, disponível em: http://priscilasissy.blogspot.com.br/2013/03/sissy-x- sexo.html. Acesso em 12 de agosto de 2014.

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instrumento, como base, como acessório, como ser? É possível definir o que seria e o que constituiria corporeidade? (SANDER, 2009, p. 388). Estudar as práticas que constituem o corpo é pensar no que o atravessa e na vivência de corpo. Como vivenciamos o corpo em diferentes cenários? “Cada corpo afeta e é afetado pelo outro, produzindo turbulências e transformações irreversíveis em cada um deles. A alteridade, essa condição e afetar e ser afetado, é a referência a partir da qual a subjetividade se faz e refaz permanentemente” (LIBERMAN, 1997, p. 374- 375).

As narrativas que constituem este paper partem da análise de imagens do corpo, imagens no sentido de representações que os sujeitos fazem de si, a maneira pela qual tomam consciência do próprio corpo, que “aparece mais ou menos conscientemente a partir de um contexto social e cultural particularizado por sua história pessoal” (LE BRETON, 2012, p. 231). Partem também da perspectiva de que há um investimento no corpo, e que o corpo é suporte das experiências.

Corpos que possam sair da dureza do contato e da obstrução de seus afetos e produzir estados emocionais os mais variados que, expressos, levam a novos questionamentos, à fabricação de outros corpos. O corpo serviria, assim, como elemento mobilizador de um estado de pesquisa, quando tomado, ele mesmo, um campo de experimentação permanente (LIBERMAN, 1997, p. 375).

Os blogs com temática central as práticas sado-fetichistas são lugares antropológicos que concentram material profícuo acerca de corporalidades, subjetividades e sexualidade, também como fórum de socialização de saberes e experiências, agindo como concentração de conhecimento social em/na rede.

Possibilitam processos de reinvenção de si, dessa forma, são um elemento fundamental que auxilia a configuração das “identidades”, “reais” ou não. Essa afirmação se faz sentir na importância que as informações compartilhadas nos blogs têm para os próprios adeptos do BDSM, como para a possibilidade de estudos científicos como este.

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A feminização masculina, objeto central em meio ao universo que apresentamos neste paper, mobiliza negociações de masculinidades, reinventando os corpos transformando-os em figuras femininas, através da

“performatividade” de gênero, e do “desejo de ser objeto do desejo” (ARENT, 2009, p. 166). “A questão é, pois, como ir despojando-nos, desconstruindo-nos, des/re/dobrando-nos, reconfigurando-nos?” (PAIVA, 2000, p. 34).

Muitos dos relatos estão diretamente relacionados às práticas sadomasoquistas, como: fantasias de submissão, servidão, dominação e humilhação eróticas, com claros elementos fetichistas. Tivemos acesso a relatos de praticantes que transitam entre os gêneros e que, de alguma forma, mantém vida dupla, uma realidade “em segredo”, que e, ainda correndo o risco de serem reconhecidos por pessoas que fazem parte de seus círculos pessoais, compartilham em ambientes online suas experiências, fotografias, vídeos, porque a exibição de suas experiências é um continuum – o exibicionismo é um fetiche complementar. Alguns se “montam” apenas para práticas sexuais com parceirxs que nem sempre são namoradxs e conjugues, outros para masturbação e práticas solitárias, para exibicionismo online e/ou off-line.

Os corpos dos sujeitos se inscrevem no real através dos “processos de feminização”: “montando-se” com maquiagem, acessórios “femininos”, lingeries, vestidos, saias, saltos, perucas, uniformes de empregada doméstica para os submissos/escravos nas relações/sessões de dominação/submissão, o aprendizado de papéis e atividades convencionalmente femininos, comportamentos que devem estar em conformidade com determinados ideais de feminilidade, inclusive, a passividade na relação sexual, a inversão de papéis. Há um aprendizado e uma interiorização de estereótipos. “O corpo e seus vários eus... constroem uma erótica como percepção dilatada pelo desejo que percorre inédito, o obscuro, o marginal, costura carne e espírito” (VILLAÇA, 2007, p. 87).

As experiências que surgem a partir desse estudo podem apontar para recusas de um “disciplinamento machista”, desejo de transgressão, mas também pode ser outra forma de reiterar, inconscientemente, as desigualdades

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entre gêneros, ou ainda, apenas uma forma de brincar com hierarquias, como uma erotização das hierarquias (FACCHINI e MACHADO, 2013), remetem “a processos de [res]significação dos fatos, nos quais o próprio sujeito pode adquirir novos significados” (FACCHINI, 2009, P. 315). Contudo, são indicadores de modelos de “feminilidade” que são reforçados, reconfigurados constantemente em várias esferas da vida cotidiana, nas quais a transgressão da normatividade é vista como subversão das regras da “normalidade”. Aqui, há ressignificação e afrouxamento, inversão de papéis, rompimento de convenções cultural e socialmente aceitas. Como exemplo, podemos tomar a prática da inversão de papéis, sob a qual podemos pensar seguindo a linha de pensamento proposta por Preciado (2002, p. 27):

El ano presenta três características fundamentales que lo convierten em el centro transitorio de un trabajo de deconstruccíon contra-sexual.

Uno: el ano es um centro erógeno universal situado más allá de los limites anatómicos impuestos por la diferencia sexual, donde los roles y los registros aparecen como universalmente reversibles (¿quién no tiene ano?). Dos: el ano es uma zona de passividad primordial, um centro de produccíon de excitacíon y de placer que no figura em la lista de puntos prescritos como orgásmicos. Tres: el ano constituye um espacio de trabajo tecnológico; es uma fábrica de reelaboracíon del cuerpo contra-sexual posthumano.

Finalizamos com a ideia de que, ao passo que o “sexo” é uma “tecnologia de dominação heteronormativa que reduz o corpo às zonas erógenas em função de uma distribuição assimétrica de poder entre os gêneros, associando certos afetos com determinados órgãos e certas sensações com determinadas reações anatômicas” (PRECIADO, 2002, p. 22, tradução minha), as práticas de feminização no contexto BDSM subvertem essa tecnologia: “Las prácticas S&M, así como la creación de pactos contractuales que regulan los roles de sumisión y dominación han hecho manifiestas las estructuras eróticas de poder sub- yacentes al contrato que la heterosexualidad ha impuesto como natural”

(PRECIADO, 2002, p. 28).

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Referências

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