Rodrigo Carlos Silva de Lima
‡rodrigo.uff.math@gmail.com
‡
3 de janeiro de 2018
1 S ´eries 5
1.1 Nota¸c˜oes . . . 5
1.2 Defini¸c˜ao e conceitos b´asicos. . . 5
1.2.1 Mudan¸ca de vari´avel em s´eries . . . 7
1.2.2 Condi¸c˜ao necess´aria para convergˆencia de s´eries . . . 9
1.2.3 Crit´erio de compara¸c˜ao . . . 15
1.2.4 Crit´erio de condensa¸c˜ao de Cauchy . . . 17
1.2.5 S´eries do tipo X∞ k=1 1 kp e divergˆencia da s´erie harmˆonica. . . 19
1.2.6 Divergˆencia da s´erie harmˆonica. . . 21
1.2.7 Divergˆencia de X∞ k=1 1 kp com p <1. . . 23
1.2.8 S´eries de Fun¸c˜oes Racionais . . . 28
1.2.9 Crit´erio de Cauchy para s´eries . . . 30
1.3 S´eries absolutamente convergentes . . . 33
1.3.1 Toda s´erie absolutamente convergente ´e convergente . . . 33
1.3.2 Parte negativa e positiva de uma s´erie . . . 34
1.3.3 Teste da raiz-Cauchy . . . 38
1.3.4 Teste da raz˜ao-D’ Alembert . . . 40
1.3.5 Crit´erio de Dirichlet . . . 46
1.3.6 Crit´erio de Leibniz. . . 49
1.3.7 Crit´erio de Kummer . . . 55
1.4 Comutatividade . . . 60
1.5 Soma sobre um conjunto infinito arbitr´ario . . . 64
1.6 S´eries em espa¸cos vetoriais normados . . . 65
1.7 Soma de Ces `aro . . . 65 3
1.7.1 S´erie de Grandi . . . 72
1.8 Sequˆencias (C, P) som´aveis . . . 73
1.9 S´eries de termos n˜ao negativos . . . 74
1.9.1 Crit´erio de compara¸c˜ao por limite para s´eries de termos positivos 75 1.10 Representa¸c˜ao decimal . . . 79
1.11 Teste da integral para convergˆencia de s´eries . . . 89
1.11.1 Sequˆencia de varia¸c˜ao limitada . . . 91
1.12 S´eries em espa¸cos vetoriais normados . . . 94
1.13 Produto de s´eries . . . 96
1.14 S´eries e desigualdade das m´edias . . . 100
1.15 Extens˜ao do conceito de s´erie para −∞ X k=1 ak. . . 100
S ´eries
Esse texto ainda n˜ao se encontra na sua vers˜ao final, sendo, por enquanto, cons- titu´ıdo apenas de anota¸c˜oes informais. Sugest˜oes para melhoria do texto, corre¸c˜oes da parte matem´atica ou gramatical eu agradeceria que fossem enviadas para meu Email rodrigo.uff.math@gmail.com.
1.1 Nota ¸c ˜ oes
Usaremos o ∆ para simbolizar o operador que faz a diferen¸ca de termos consecu- tivos de uma fun¸c˜ao
∆f(x) := f(x+1) −f(x).
A nota¸c˜ao Q para denotar o operador que faz o quociente, Qf(x) = f(x+1)
f(x) .
1.2 Defini ¸c ˜ ao e conceitos b ´asicos
Vamos definir o somat´orio como Xs
k=s
f(k) =f(s)∀s ∈Z Xb
k=a
f(k) = Xp k=a
f(k) + Xb k=p+1
f(k)∀b, a, p∈Z.
5
Perceba que n˜ao colocamos limita¸c˜ao em b, a e p inteiros , na defini¸c˜ao acima podemos ter b < a. Em especial tomando p=a−1 na identidade acima segue que
Xb k=a
f(k) = Xa−1 k=a
f(k) + Xb
k=a
f(k)
logo deve valer Xa−1 k=a
f(k) =0 que ´e chamada de soma vazia .
m
Defini ¸c ˜ao 1 (S´erie). Sejam a∈ Z, A um conjunto indutivo que contenha a , f(k) :A→R uma fun¸c˜ao . Chamamos de s´erie o limite do somat´oriolims(n) =lim Xn
k=a
f(k) :=
X∞ k=a
f(k) , caso o limite exista, onde
s(n) = Xn k=a
f(k).
Se existir o limite de s(n) com lims(n) = s diremos que a s´erie ´e convergente e sua soma ´e s.
Se o limite lims(n) n˜ao existir diremos que a s´erie diverge. A soma finita s(n) =
Xn k=a
f(k) ´e chamada reduzida de ordemnou n−´esima soma parcial da s´erie X∞
k=a
f(k) . Se a s´erie ´e divergente, pode acontecer de lims(n) =∞, lims(n) = −∞ ou a soma oscilar, isto ´e, quando (s(n)) diverge e lims(n)6=∞ e lims(n)6= −∞.
Se (sn) converge diremos que X∞ k=a
f(k) converge caso (sn) seja divergente di- remos que
X∞ k=a
f(k) diverge , apesar de X∞ k=a
f(k) ser um n ´umero real, caso haja convergˆencia e n˜ao haver n´umero associado a
X∞ k=a
f(k) caso haja divergˆencia, tal uso ´e feito apenas no sentido de nota¸c˜ao . Caso a s´erie seja convergente dizemos tamb´em que (f(k)) ´e som´avel .
b
Propriedade 1. Toda sequˆencia (xn) de n ´umeros reais pode ser considerada como a sequˆencia das reduzidas de uma s´erie.ê Demonstra ¸c ˜ao. Supondo
xn= Xn
k=1
ak aplicando ∆ segue
∆xn =an+1 e para n = 1, x1 =
X1 k=1
ak = a1, se n = 0 temos x0 = X0
k=1
ak = 0 por ser uma soma vazia
Xn k=1
ak= Xn−1 k=0
ak+1 = Xn−1
k=0
∆xk =xk
n
1
=xn−x0 =xn.
Se ∆xn = an+1 n˜ao implica que an = ∆xn−1, pois a primeira vale para n ≥ 0 natural a segunda n˜ao vale para n=0.
Z
Exemplo 1. Encontrar o erro na manipula¸c˜ao 0=0+0· · ·== (1−1) + (1−1) +· · ·=
=1+ (−1+1) + (−1+1) +· · ·=1 logo 1=0.
Come¸camos com uma s´erie X∞
k=1
ak onde cada ak =0=1−1, isto ´e, a soma dos elementos da sequˆencia (0, 0,· · ·) ent˜ao at´e a segunda linha tudo est´a correto, por´em na terceira linha tratamos o termo da s´erie somada como os termos da sequˆencia (1, −1+1, −1+1, · · ·) que ´e uma s´erie diferente da s´erie inicial
1.2.1 Mudan ¸ca de vari ´avel em s ´eries
b
Propriedade 2 (Mudan¸ca de vari´avel em s´eries). Por mudan¸ca de vari´avel temos que se g(n) =Xn k=a
f(k) ent˜ao g(n) = Xn+t k=a+t
f(k−t) com limn = ∞ temos tamb´em limn+t=∞ logo
lim Xn
k=a
f(k) =lim Xn+t k=a+t
f(k−t) = X∞ k=a
f(k) = X∞ k=a+t
f(k−t).
Logo se temos uma s´erie X∞ k=a
f(k) podemos somar t aos limites (t+∞ = ∞, t+a), subtraindo t do argumento da fun¸c˜ao
X∞ k=a
f(k) = X∞ k=a+t
f(k−t).
b
Propriedade 3 (Produto por −1). Por propriedade de somat´orios se g(n) = Xnk=a
f(k) ent˜ao g(n) = X−a k=−n
f(−k) com limn=∞ temos lim−n= −∞ e
lim Xn k=a
f(k) =lim X−a k=−n
f(−k) = X∞
k=a
f(k) = X−a k=−∞
f(−k).
X∞ k=a
f(k) = X−a k=−∞
f(−k).
b
Propriedade 4. Sejam X∞ k=af(k) e c um n ´umero real diferente de zero ent˜ao X∞
k=a
f(k) ´e convergente sse X∞
k=a
cf(k) ´e convergente.
ê Demonstra ¸c ˜ao. Se g(n) = Xn k=a
f(k) ´e convergente, existe o limite limg(n) , vale tamb´em c.g(n) = c
Xn k=a
f(k) = Xn k=a
c.f(k) e existe o limite limc.g(n) = climg(n) implicando que a s´erie
X∞ k=a
cf(k) =c X∞ k=a
f(k) ´e convergente.
Se h(n) = Xn k=a
cf(k) = cg(n) ent˜ao g(n) = Xn k=a
f(k), sendo h(n) convergente, ent˜ao limh(n) = d para algum d real e vale limh(n)
c = limg(n) como c 6= 0 tem-se limg(n) = limh(n)
c = d
c que existe de onde segue que limg(n) = X∞ k=a
f(k) ´e conver- gente.
b
Propriedade 5. Sejam X∞ k=asfs(k)convergente pra toda express˜aofs(k),gs(n) = Xn
k=as
fs(k) , as n ´umeros inteiros e cs n ´umeros reais, para todo s ∈ [1, p]N , ent˜ao Xp
s=1
cs X∞ k=as
fs(k) converge.
ê Demonstra ¸c ˜ao. Considerando a soma Xp
s=1
csgs(n) como os limites limgs(n) existem e pela propriedade de soma de limites segue que existe o limite:
lim Xp
s=1
csgs(n) = Xp
s=1
cslimgs(n) = Xp
s=1
X∞ k=as
fs(k).
1.2.2 Condi ¸c ˜ ao necess ´aria para convergˆencia de s ´eries
b
Propriedade 6 (Condi¸c˜ao necess´aria para convergˆencia de s´eries). Se s(n) = Xnk=a
ak converge ent˜ao limak=0.
ê Demonstra ¸c ˜ao. Temos que se lima(n) =s e tamb´em lims(n+1) =s e
s(n+1) −s(n) =
n+1
X
k=a
ak− Xn k=a
ak=an+1 logo
lims(n+1) −s(n) =liman+1 =lims(n+1) −lims(n) =s−s assim liman+1 =0, liman =0.
Essa ´e uma condi¸c˜ao necess´aria por´em n˜ao suficiente para convergˆencia de s´eries.
$
Corol ´ario 1. Se f(k) n˜ao tende a zero a s´erie n˜ao pode convergir. Esse crit´erio´e ´util para provar que algumas s´eries divergem. Veremos depois que esse crit´erio n˜ao ´e suficiente, pois existem s´eries em que o termo somado tende a zero mas a s´erie diverge, como ´e o caso da s´erie harmˆonica.
Z
Exemplo 2. A s´erie X∞k=1
cos(k),
n˜ao converge, pois n˜ao temos que limcos(n) = 0. Pois se assim fosse, tamb´em ter´ıamos limcos(2n). Por´em
cos(2n) =cos2(n) −sen2(n),
passando ao limite ter´ıamos tamb´em que limsen2(n) =0. Da´ı e da identidade
cos2(n) +sen2(n) =1, na passagem do limite ter´ıamos o absurdo de 0 =1.
b
Propriedade 7. Se X∞k=1
ak ´e convergente ent˜ao X∞
k=1
a2k+a2k−1 ´e convergente e tem mesma soma que a primeira s´erie.
ê Demonstra ¸c ˜ao. Seja sn =
Xn k=1
ak, ela converge, ent˜ao s2n = X2n
k=1
ak= Xn
k=1
a2k+ Xn
k=1
a2k−1= Xn
k=1
a2k+ a2k−1 tamb´em converge e tende ao mesmo limite de sn.
Z
Exemplo 3. A s´erie X∞k=1
a2k+a2k−1 pode convergir por´em X∞
k=1
ak, como ´e o caso de tomar ak = (−1)k a s´erie
X∞ k=1
(−1)k n˜ao converge pois lim(−1)k 6=0, por´em a2k+a2k−1=1−1=0 e a primeira s´erie converge.
b
Propriedade 8. A s´erie X∞k=a
f(k) converge ⇔ a s´erie X∞
k=b
f(k) converge. Esta propriedade nos diz que o estado de convergˆencia da s´erie n˜ao ´e alterado pela redu¸c˜ao ou adi¸c˜ao de um n´umero finito de termos, isto ´e, podemos alterar o limite inferior do somat´orio por outro n´umero real e a convergˆencia da s´erie n˜ao se altera.
ê Demonstra ¸c ˜ao.Tomamos g(n) = Xn k=a
f(k) e h(n) = Xn
k=b
f(k). Se b = a n˜ao temos nada a mostrar, pois as s´eries ser˜ao iguais. Se b > a tem-se
g(n) = Xn
k=a
f(k) = Xb−1
k=a
f(k) + Xn
k=b
f(k) = Xb−1 k=a
f(k) +h(n)
g(n) − Xb−1
k=a
f(k) =h(n)
supondo g(n) convergente e tomando o limite n → ∞ temos que no lado esquerdo temos uma s´erie convergente e no lado direito a s´erie tamb´em ser´a convergente, se h(n) ´e convergente, usamos que
g(n) = Xb−1
k=a
f(k) +h(n)
tomando o limite tem-se que h(n) convergente implica g(n) convergente. Se a > b usamos o mesmo procedimento
h(n) = Xn k=b
f(k) = Xa−1 k=b
f(k) + Xn
k=a
f(k) = Xa−1
k=b
f(k) +g(n). (1.1)
h(n) − Xa−1
k=b
f(k) =g(n) (1.2)
se g(n) converge usamos 1.1 se h(n) converge usamos 1.2.
Como o limite inferior do somat´orio n˜ao altera na convergˆencia, iremos em alguns momentos denotar a s´erie sem o limite inferior, da seguinte maneira
X∞ k
f(k) = X∞
f(k)
Z
Exemplo 4 (S´erie geom´etrica). Vamos estudar a convergˆencia da s´erie X∞k=0
ak. Se a=1 temos a soma
Xn k=0
1=n+1, lim Xn
k=0
1=∞. Se a6=1 temos
Xn−1 k=0
ak= ak a−1
n
0
= an−1 a−1
quando a > 1 o limite liman = ∞, com a < −1 a sequˆencia alterna valores tomando valores positivos para valores pares dene negativos para valores ´ımpares de n, por´em com valor absoluto crescente, o limite n˜ao existe nesse caso. Caso a= −1 o resultado da soma finita ´e
Xn−1 k=0
(−1)k= (−1)n−1
−2
a sequˆencia alterna entre valor 0 para n par e 1 para n ´ımpar. Se |a|<1 tem-se que liman =0 e o resultado da s´erie ´e
X∞ k=0
ak=liman−1
a−1 = −1
a−1 = 1 1−a.
Podemos usar tamb´em a condi¸c˜ao necess´aria para convergˆencia de s´eries. Te- mos que ter liman=0 , isto s´o acontece quando|a|<1, ent˜ao estes s˜ao os ´unicos valores de a para os quais a s´erie ´e convergente.
Z
Exemplo 5. A s´erie ∞X
k=0
a2 (1+a2)k
converge com qualquer a ∈ R. Vale que 1 ≤ a2+1 ∀ a∈ R logo 0 < 1
1+a2 ≤ 1,
portanto a s´erie converge por ser s´erie geom´etrica. Sabemos que X∞
k=0
bk = 1 1−b, substituindo b= 1
a2+1, chegamos no resultado X∞
k=0
1
(1+a2)k = a2+1 a2 ⇒
X∞ k=0
a2
(1+a2)k =a2+1.
Z
Exemplo 6. Mostrar que a s´erie X∞ n=a(−1)nan n!
onde an = Yn
k=1
2k diverge. Vamos chegar primeiro numa express˜ao para o termo geral
an = Yn
k=1
2k= Yn
k=1
2 Yn
k=1
k=2n.n!
logo a s´erie ´e ∞
X
n=a
(−1)n2nn!
n! =
X∞ n=a
(−1)n2n
sendo bn = (−1)n2n o limite limbn = lim(−1)n2n 6= 0 o limite n˜ao existe pois a subsequˆencia b2n =22n tem limite +∞ e a subsequˆencia b2n+1 = −22n+1 tem limite
−∞.
Z
Exemplo 7. Dadas as s´eries X∞k=1
ak e X∞
k=1
bk com an = √
n+1−√
n , bn = log(1+ 1
n) , mostre que liman = limbn =0. Calcule explicitamente as n-´esimas reduzidas sn e tn destas s´eries e mostre que limsn=limtn = +∞.
sn= Xn
k=1
ak= Xn
k=1
√
k+1−√ k=
Xn k=1
∆√ k=√
k
n+1
1
=√
n+1−1
logo limsn =∞ tn =
Xn k=1
log(1+ 1 k) =
Xn k=1
log(k+1) −log(k) = Xn
k=1
∆log(k) =log(k)
n+1
1
=
=log(n+1) −log(1) =log(n+1) logo limtn = +∞. O limite dos termos das s´eries
an =√
n+1−√
n= √ 1
n+1+√
n liman=0 bn =log(1+ 1
n) 0< log(1+ 1
n) = log[(1+n1)n]
n ≤ (1+n1)n n como lim(1 + 1
n)n = e ent˜ao tal sequˆencia ´e limitada, logo lim(1+ n1)n
n = 0
de onde segue por teorema do sandu´ıche que limlog(1+ 1
n) = 0. Usamos que log(n) < n. Assim temos duas s´erie cujos termos gerais tendem a zero, por´em as s´eries divergem, esse exemplo mostra que a condi¸c˜ao de limf(k) = 0 em uma s´erie
X∞ k=b
f(k) ser satisfeita n˜ao garante que a s´erie ser´a convergente, a condi¸c˜ao
´e apenas uma condi¸c˜ao necess´aria.
b
Propriedade 9. Seja (ak) sequˆencia com ak ≥ 0∀ k ou ak ≤ 0 ∀ k. Nessas condi¸c˜oesa s´erie X∞ k=a
ak converge ⇔ s(n) = Xn
k=a
ak forma uma sequˆencia limitada.
ê Demonstra ¸c ˜ao. ⇒). Seja s(n) limitada com ak≥0∀k , temos que s(n+1) −s(n) =an+1≥0⇒s(n+1)≥s(n)
assims(n) ´e uma sequˆencia crescente limitada superiormente, portanto ´e convergente.
Se ak≤0 temos
s(n+1) −s(n) =an+1≤0⇒s(n+1)≤s(n)
logo s(n) sendo limitada inferiormente e decrescente ´e convergente.
⇐).
Agora se a s´erie ´e convergente ent˜ao s(n) ´e limitada , pois toda sequˆencia con- vergente ´e limitada.
m
Defini ¸c ˜ao 2. Quando temos ak≥0 es(n) = Xn k=aak ´e limitada superiormente temos que a s´erie
X∞ k=a
ak converge, ent˜ao neste caso escrevemos X∞
k=a
ak <∞ para simbolizar que a s´erie
X∞ k=a
ak com ak≥0 ´e convergente.
1.2.3 Crit ´erio de compara ¸c ˜ao
b
Propriedade 10 (Crit´erio de compara¸c˜ao). Sejam X∞ k=aak e X∞
k=a
bk s´eries de termos n˜ao negativos. Se existem c > 0 e n0 ∈ N tais que ak ≤ cbk para todo k≥n0 ent˜ao :
1. A convergˆencia de X∞ k=a
bk implica a convergˆencia de X∞ k=a
ak .
2. A divergˆencia de X∞ k=a
ak implica a divergˆencia de X∞ k=a
bk.
ê Demonstra ¸c ˜ao. 1. De ak≤cbk segue
Xn k=n0
ak
| {z }
s(n)
≤c Xn k=n0
bk
| {z }
:=p(n)
se Xn
k=a
bk converge ent˜ao Xn k=n0
bk converge de onde segue que s(n) ´e limitada superiormente e como ´e crescente s(n) converge implicando a convergˆencia de X∞
k=a
bk .
2. Agora se s(n) diverge, como ´e crescente seu limite ´e infinito , pois ela ´e ili- mitada superiormente, de c.p(n) ≥ s(n), p(n) ≥ s(n)
c ent˜ao p(n) tamb´em ´e ilimitada superiormente e ainda por ser crescente tem limite infinito, logo a s´erie associada p(n) =
Xn k=n0
bk tende a infinito.
Z
Exemplo 8. Mostrar queX∞ k=1
kk =∞. De 1< k elevamos a k, 1< kk aplicamos a soma
Xn k=1
n= Xn
k=1
1<
Xn k=1
kk
por compara¸c˜ao (como s˜ao s´eries de termos positivos) segue que X∞
k=1
kk=∞.
Z
Exemplo 9. Se 0< c e 1<|a| ent˜ao Xc+1ak converge.Vale 1
c+ak < 1
ak e a segunda s´erie converge, logo por compara¸c˜ao a primeira converge.
Vamos usar o seguinte pequeno resultado em certas demonstra¸c˜oes.
b
Propriedade 11. Sejam (xn) e (yn) sequˆencias, se ∆xn =∆yn para todo n, ent˜ao xn =yn+c para alguma constante c.ê Demonstra ¸c ˜ao. Aplicamos o somat´orio Xn−1
k=1
em cada lado na igualdade
∆xk=∆yk e usamos a soma telesc´opica, de onde segue xn−x1 =yn−y1⇒xn =yn+x| {z }1−y1
=c
.
$
Corol ´ario 2. Se ∆xn =∆yn ∀ n e existe t ∈N tal que xt =yt ent˜ao xn =yn para todo n. Tal propriedade vale poisxn=yn+c, tomando n=t seguext=yt+c que implica c=0, logo xn =yn para todo n.b
Propriedade 12. Seja n >0∈N ent˜ao Xn−1s=0
2s+1X−1 k=2s
f(k) =
2Xn−1 k=1
f(k).
ê Demonstra ¸c ˜ao.[1-Soma telesc´opica]
Xn−1 s=0
2s+1X−1 k=2s
f(k) = Xn−1
s=0
[
2s+1X−1 k=0
f(k) −
2s−1
X
k=0
f(k)
| {z }
g(s)
] = Xn−1
s=0
∆g(s) =g(n) −g(0)
|{z}=0
=
2Xn−1 k=1
f(k).
ê Demonstra ¸c ˜ao.[2] Para n=1 X0
s=0
2Xs+1−1 k=2s
f(k) = X2−1 k=20
f(k) =
21−1
X
k=1
f(k) Temos que
∆ Xn−1
s=0
2Xs+1−1 k=2s
f(k) =
2n+1X−1 k=2n
f(k) e
∆
2Xn−1 k=1
f(k) =
2n+1X−1 k=1
f(k) −
2Xn−1 k=1
1 kr =
2n+1X−1 k=2n
f(k) +
2Xn−1 k=1
f(k) −
2Xn−1 k=1
f(k) =
2n+1X−1 k=2n
f(k).
logo est´a provada a igualdade.
1.2.4 Crit ´erio de condensa ¸c ˜ao de Cauchy
b
Propriedade 13 (Crit´erio de condensa¸c˜ao de Cauchy). Seja (xn) uma sequˆencia decrescente de termos positivos ent˜ao Xxk converge ⇔ X
2k.x2k con- verge.
ê Demonstra ¸c ˜ao. Usaremos a identidade Xn−1
s=0
2s+1X−1 k=2s
f(k) =
2Xn−1 k=1
f(k).
⇒).
Vamos provar que se X
xk converge ent˜ao X
2k.x2k converge, usando a con- trapositiva, que ´e equivalente logicamente, vamos mostrar que se X
2k.x2k diverge ent˜ao X
xk diverge.
Como xk ´e decrescente ent˜ao vale 2sx2s+1 =
2Xs+1−1 k=2s
x2s+1 ≤
2Xs+1−1 k=2s
xk
aplicando
n−1
X
s=0
segue
1 2
Xn−1 s=0
2s+1x2s+1 ≤
2Xn−1 k=1
xk logo se X
2sx2s diverge ent˜ao X
xk diverge.
⇐).
Vamos provar que se X
2k.x2k converge ent˜ao ent˜ao X
xk converge, de maneira direta. Usando que
2Xs+1−1 k=2s
xk≤
2Xs+1−1 k=2s
x2s =2sx2s
aplicando Xn−1
s=0
segue que
2Xn−1 k=1
xk≤ Xn−1
s=0
2sx2s da´ı se X
2sx2s converge ent˜ao X
xk converge .
Z
Exemplo 10. A s´erie ∞X
k=3
1 [ln(k)]s
diverge para qualquer valor real de s. Se s ≤ 0 o resultado vale pois temos s´erie com soma de [ln(k)]−s que n˜ao converge para zero, se s > 0 temos que
ln(k+1)>ln(k) logo [ln(k+1)]s >[ln(k)]s e da´ı 1
[ln(k)]s > 1 [ln(k+1)]s
ent˜ao a sequˆencia ´e decrescente de termos positivos e podemos aplica o crit´erio de condensa¸c˜ao de Cauchy ∞
X
k=3
2k [k]s[ln(2)]s tal s´erie diverge, pois o termo geral n˜ao tende a zero.
1.2.5 S ´eries do tipo X
∞k=1
1
k
pe divergˆencia da s ´erie harm ˆonica.
b
Propriedade 14. A s´erie X∞k=1
1
kp converge se p >1 e diverge se p≤1. ê Demonstra ¸c ˜ao. Pelo crit´erio de condensa¸c˜ao de Cauchy a s´erie
X∞ k=1
1 kp con- verge, se e somente se,
X∞ k=1
2k 2kp =
X∞ k=1
2k(1−p), tal s´erie geom´etrica converge se 1−p <0, isto ´e, p >1 e diverge caso 1−p≥0⇒p≤1.
Z
Exemplo 11. Estudar a convergˆencia da s´erie X∞k=1
(√
k+1−√ k)p. Primeiro racionalizamos o termo somado
√k+1−√
k= (√
k+1−√ k)(√
k+1+√
√ k)
k+1+√
k = k+1−k
√k+1+√
k = 1
√k+1+√ k,
√ k≤√
k+1⇒2√ k≤√
k+1+
√
k⇒ 1
√k+1+√
k ≤ 1 2√
k, elevando a p segue que
( 1
√k+1+√
k)p ≤ 1 2pkp2
por compara¸c˜ao se p
2 >1⇔p >2, a s´erie converge . De maneira similar 1
2p(k+1)p2 ≤( 1
√k+1+√ k)p, por compara¸c˜ao diverge caso p
2 ≤1.
Z
Exemplo 12 (IME-1964). Estude a convergˆencia das s´eries.1.
X∞ k=1
1
√3
k. 2.
X∞ k=1
1 ek. 3.
X∞ k=1
ln(k) k .
1. A primeira s´erie diverge pois X∞
k=1
1
k31 ´e uma s´erie do tipo X∞
k=1
1
kp, com p = 1
3 <1, que vimos ser divergente.
2. A s´erie X∞
k=1
1
ek, converge por ser s´erie geom´etrica com 0< 1 e <1.
3. A s´erie X∞
k=1
ln(k)
k diverge pois para k grande vale ln(k) >1, da´ı ln(k) k > 1
k, como
X∞ k=1
1
k diverge, ent˜ao por compara¸c˜ao X∞
k=1
ln(k)
k tamb´em diverge.
Z
Exemplo 13. Calcular o limitenlim→∞
Xn k=0
1 (n+k)r
para r >1 real. Escrevemos o somat´orio como Xn
k=0
1 (n+k)r =
X2n k=n
1 (k)r =
X2n k=1
1 (k)r −
Xn−1 k=1
1 (k)r com r > 1 cada uma das s´eries lim
Xn−1 k=1
1
(k)r = s e lim X2n
k=1
1
(k)r = s convergem e para o mesmo valor, como a diferen¸ca dos limites ´e o limite da diferen¸ca em sequˆencias convergentes, segue que
nlim→∞
Xn k=0
1
(n+k)r =lim( X2n
k=1
1 (k)r−
Xn−1 k=1
1
(k)r) =lim X2n
k=1
1
(k)r−lim Xn−1
k=1
1
(k)r =s−s =0.
b
Propriedade 15. Se ak≥0 ∀k∈N e (ak0) ´e uma subsequˆencia de (ak) ent˜ao X∞k=c
ak <∞ implica que X∞
k=c
ak0 <∞.
ê Demonstra ¸c ˜ao. Seja N1 o conjunto dos ´ındices da subsequˆencia (ak0), defi- nimos ck = ak se k ∈ N1 e ck = 0 se k /∈ N1 para todo k natural, ent˜ao temos que ck ≤ ak pois caso k ∈ N1 temos ck =ak caso k /∈ N1 ck = 0 ≤ ak logo em qualquer caso vale ck ≤ak, tomando a soma em ambos lados temos
g(n) = Xn
k=c
ck ≤ Xn
k=c
ak <∞
logo a soma dos termos da subsequˆencia g(n) ´e limitada superiormente e temos tamb´em ∆g(n) = cn+1 ≥ 0 pois se cn+1 = 0 vale cn+1 ≥ 0 e se cn+1 = an+1 e por propriedade da sequˆencia (an) temos an+1 ≥0 de onde segue cn+1 =an+1 ≥0, ent˜ao a sequˆencia∞ g(n) ´e limitada superiormente e n˜ao-decrescente logo convergente e vale X
k=c
ck <∞.
Mostramos ent˜ao que se (an) ´e uma sequˆencia tal que an ≥0 e a s´erie dos seus termos converge ent˜ao dada qualquer subsequˆencia de de (an0) de (an) ent˜ao a s´erie dos termos dessa subsequˆencia tamb´em converge.
1.2.6 Divergˆencia da s ´erie harm ˆonica.
Z
Exemplo 14 (S´erie Harmˆonica). Os n ´umeros harmˆonicos s˜ao definidos como Hn =Xn k=1
1 k temos que lim 1
n = 0 satisfaz a condi¸c˜ao necess´aria para convergˆencia de s´eries mas vamos mostrar que a s´erie
limHn = X∞
k=1
1 k =∞ , isto ´e, a s´erie diverge.
Suponha que a s´erie harmˆonica seja convergente, denotando limHn =H Sejam N1 o subconjunto de N dos ´ındices pares e N2 o conjunto dos n ´umeros ´ımpares.
Se Hn converge temos que a s´erie sobre suas subsequˆencias tamb´em converge,
sendo ent˜ao n
X
k=1
1
2k−1 =tn, X∞
k=1
1
2k−1 =t Xn
k=1
1
2k =sn, X∞
k=1
1
2k =s= 1 2
X∞ k=1
1 k = H
2
temos H2n =sn+tn tomando o limite limH2n =H =lim(sn+tn) =s+t , como s= H
2 segue que t= H
2 pois a soma deve ser H, desse modo a diferen¸ca t−s=0, mas
tn−sn = Xn
k=1
1 2k−1−
Xn k=1
1 2k =
Xn k=1
1
(2k)(2k−1) = 1 2 +
Xn k=2
1
(2k)(2k−1) >0 logo
limtn−sn =t−s >0
de onde segue t > s que ´e absurdo. Pode-se mostrar que limtn−sn =ln(2).
Z
Exemplo 15. Na s´erie harmˆonica percebemos que 13 + 1 4 > 2
4 = 1 2 1
5+ 1 6 + 1
7 + 1 8 > 4
8 = 1 2 1
9+ 1 10 + 1
11+ 1 12 + 1
13 + 1 14+ 1
15+ 1 16 > 8
16 = 1 2
podemos continuar agrupando os termos das somas dessa maneira, vendo que a soma dos termos harmˆonicos n˜ao s˜ao limitados superiormente.
Usando o crit´erio de condensa¸c˜ao de Cauchy X∞
k=1
2k
2k =X
1 diverge.
1.2.7 Divergˆencia de X
∞k=1
1
k
pcom p < 1 .
$
Corol ´ario 3.X∞ k=1
1
kp diverge se p < 1. Para p < 1 vale kp < k e da´ı 1 k < 1
kp, da´ı por compara¸c˜ao como
X∞ k=1
1
k diverge isso implica que X∞
k=1
1
kp tamb´em diverge.
Z
Exemplo 16. A s´erie X∞k=0
√k
12
k+3 diverge, pois vale que
√k
12
k+3 > 1
k+3, onde a s´erie da segunda diverge.
b
Propriedade 16. A s´erie X∞k=2
1 k(ln(k) +c)r diverge se r≤1 e converge se r >1. c≥0.
ê Demonstra ¸c ˜ao.
Usamos o crit´erio de condensa¸c˜ao de Cauchy X 2k
2k(ln(2k) +c)r =X 1 (kln(2) +c)r
que diverge se r≤1 e converge se r >1 .
$
Corol ´ario 4. A seguinte s´erie converge X∞k=2
1 [ln(k)]k.
Como ln(k)>2 para k suficientemente grande , tem-se [ln(k)]k>2k⇒ 1
[ln(k)]k < 1 2k, logo por crit´erio de compara¸c˜ao
X∞ k=2
1
[ln(k)]k converge .
Z
Exemplo 17. Estudar a convergˆencia da s´erie X∞k=1
1 kHk
Hn = Xn
k=1
1 k.
podemos mostrar que Hn ≤ 1+ln(n) da´ı nHn ≤ n(1+ln(n)) 1
n(ln(n) +1) ≤ 1
nHn, logo a primeira diverge por crit´erio de compara¸c˜ao .
Z
Exemplo 18. A s´erieX∞ k=2
1
kln(k)(ln(lnk))r diverge se r≤1 e converge se r >1.
Aplicamos o m´etodo de condensa¸c˜ao de cauchy X∞
k=2
2k
2kln(2k)(ln(ln 2k))r = X∞
k=2
1
kln(2)(ln(k) +ln((ln 2)))r
que converge se r >1 e diverge se r≤1.
Z
Exemplo 19. Provar que a s´erie Xln(n)n2 converge. Pelo crit´erio de condensa¸c˜ao de Cauchy temos que
X2nln(2n)
2n.2n =Xnln(2) 2n tal s´erie converge, logo a primeira tamb´em converge.
Z
Exemplo 20. Mostrar que a s´erie X∞k=1
1
k2 converge, usando o crit´erio de compara¸c˜ao. Come¸caremos com o somat´orio
Xn k=2
1
k(k−1) = − Xn
k=2
1 k − 1
k−1 = − 1 k−1
n+1
2
== −1
n +1= n−1 n
onde usamos soma telesc´opica Xb k=a
∆f(k)
| {z }
=f(k+1)−f(k)
=f(b+1) −f(a) =f(k)
b+1
a
, ∆f(k) = f(k+1) −f(k) ´e apenas uma nota¸c˜ao para essa diferen¸ca. Tomando o limite na express˜ao acima
lim−1
n+1=1= X∞
k=2
1 k(k−1). Vamos mostrar com esse resultado que a s´erie
X∞ k=1
1
k2 converge , temos que para k >1
1
k(k−1) > 1 k2 pois
k2 > k2−k k >0
e k >1 por an´alise de sinal , logo aplicando o somat´orio X∞
k=2
1 k(k−1) >
X∞ k=2
1 k2
somando 1 em ambos lados e usando o resultado da s´erie que foi calculada 2 >1+
X∞ k=2
1 k2 =
X∞ k=1
1 k2.
Z
Exemplo 21. Exemplo de sequˆencia x(n) que diverge, por´em, ∆x(n) con- verge para zero. Sabemos que uma condi¸c˜ao necess´aria mas n˜ao suficiente para convergˆencia de uma s´erieX∞ k=1
f(k) e que limf(k) =0, por´em n˜ao ´e suficiente pois existem s´eries em que limf(k) = 0 e a s´erie diverge, um exemplo desse tipo de s´erie ´e a s´erie harmˆonica, se temos limf(k) = 0 e a sequˆencias x(n) =
Xn k=1
f(k) diverge, temos que ∆x(n) =f(n+1) cujo limite lim∆x(n) =f(n+1) =0 , no caso especial x(n) =
Xn k=1
1
k diverge, por´em ∆x(n) = 1
n+1 converge para zero.
b
Propriedade 17. Sejag(n) = Xn
k=a
f(k) ent˜ao limf(k) =0 equivale a lim∆g(n) =0.
ê Demonstra ¸c ˜ao. Temos que ∆g(n) = f(n +1) logo se limf(k) = 0 temos lim∆g(n) =0 e se lim∆g(n) =0 implica limf(k) =0 .
b
Propriedade 18. Sejam X∞ n=uan e X∞
n=s
bns´eries de termos positivos. Se X∞
n=s
bn=
∞ e existe n0 ∈N tal que an+1 an
≥ bn+1
bn para todo n > n0 ent˜ao X∞ n=u
an=∞.
ê Demonstra ¸c ˜ao. an+1
an ≥ bn+1
bn , Qak ≥ Qbk tomando o produt´orio com k
variando de k=n0+1 at´e n−1 na desigualdade em ambos lados segue Yn−1
k=n0+1
Qak= an an0+1 ≥
Yn−1 k=n0+1
Qbk= bn
bn0+1, an ≥ an0+1 bn0+1bn pois temos termos positivos, tomando a s´erie temos
X∞ n=n0+1
an≥ an0 bn0
X∞ n=n0+1
bn =∞ logo a s´erie tende ao infinito por compara¸c˜ao.
Z
Exemplo 22. Mostre que a sequˆencia definida por f(n) =Xn k=1
1 k+n
converge para um n ´umero em [0,1]. Primeiro vamos mostrar que a sequˆencia ´e crescente
f(n+1) −f(n) = Xn+1
k=1
1 k+n+1−
Xn k=1
1
k+n = 1 2(n+1)+
Xn k=1
1 k+n+1−
Xn k=1
1 k+n =
= 1
2(n+1)+ Xn
k=1
1
k+n+1 − 1 k+n
= 1
2(n+1) + Xn
k=1
∆ 1 k+n =
= 1
2(n+1) + 1
2n+1− 1
n+1 = 1
2n+1 − 1 2(n+1) mas temos 1
2n+1 − 1
2(n+1) > 0 pois 1
2n+1 > 1
2(n+1), 2n+2 >2n+1, 2 >1 agora vamos mostrar que a s´erie ´e limitada superiormente por 1 temos
1
n > 1 k+n k+n > n
pois nosso valor k ´e maior que zero, tomando o somat´orio em ambos lados com k em [1, n] temos
Xn k=1
1
n =n1
n =1>
Xn k=1
1 k+n
assim a s´erie ´e limitada superiormente , crescente e limitada inferiormente pelo seu primeiro termo
X1 k=1
1
k+1 = 1 2
logo a sequˆencia assume valores no intervalo [0,1]. O limite dessa sequˆencia ´e ln(2), podemos mostrar isso transformando o limite numa integral podemos usar tamb´em a fun¸c˜ao digamma
∆ψ(k+n) = 1 k+n Xn
k=1
∆ψ(k+n) =ψ(2n+1) −ψ(n+1) = Xn
k=1
1
k+n =H2n−Hn= X2n
k=1
(−1)k+1 k tendo limite ln(2).
Z
Exemplo 23. Mostre que a s´erie X∞k=0
1
kk ´e convergente.
Para k > 2 vale kk > k2 da´ı 1
kk < 1
k2, da convergˆencia de X 1
k2 segue a convergˆencia de
X∞ k=0
1 kk.
Z
Exemplo 24. A s´erie X∞k=0
1
kln(k) ´e convergente pois para k grande temos ln(k)>2 da´ı segue 1
kln(k) < 1 k2.
1.2.8 S ´eries de Fun ¸c ˜ oes Racionais
Vamos estudar convergˆencia de s´eries do tipo Xp(x)
g(x) onde p(x) e g(x)6=0 s˜ao polinˆomios.
b
Propriedade 19. Se P(x) ´e um polinˆomio de grau n ≥ 2 sem ra´ızes nosnaturais, ent˜ao
X 1
P(x) converge.
ê Demonstra ¸c ˜ao. J´a sabemos que X
x
1
xn converge se n ≥ 2, por exemplo por crit´erio de condensa¸c˜ao de Cauchy, ou por compara¸c˜ao com a s´erie convergente X
x
1
x2 para x suficientemente grande. Tomando um polinˆomio de grau n, temos que an 6=0 e
|anxn+. . .+a0x0|=xn|an+. . .+a0
xn|≥xn| |an|−|an−1
x +. . .+ a0 xn| |, onde usamos que |x+y|≥| |x|−|y| |. Com x suficientemente grande temos que
|an−1
x +. . .+a0
xn|≤ |an|
2 ⇒−|an|
2 ≤−|an−1
x +. . .+a0 xn| da´ı |an|
2 ≤|an|−|an−1
x +. . .+a0
xn|, por isso xn|an|
2 ≤xn|an+. . .+ a0
xn|, para x suficientemente grande,
da´ı, X
x
1
|P(x)| ≤X 2
|an|xn,
que converge, logo temos a convergˆencia absoluta para X
x
1
P(x) e por isso a s´erie converge.
b
Propriedade 20. Sejam polinˆomios Xpk=0
akxk , Xp+1 k=0
bkxk e c > bp+1
ap com c >0, ent˜ao existe x0∈R tal que x > x0 implica
1 cx <
Pp k=0
akxk
p+1P
k=0
bkxk
Z
Exemplo 25. Estudar a convergˆencia da s´erie X∞n=1
Yn s=1
(p+s) (q+s) com p, q reais em [0,∞)
Para q≤p temos q+s≤p+s⇒1≤ p+s
q+s logo 1 ≤ Yn
s=1
(p+s)
(q+s) =an portanto an n˜ao converge para zero e a s´erie n˜ao pode convergir .
Suponha agora p < q, existe t real tal que p+t = q o termo an se escreve
como Yn
s=1
(p+s) (p+t+s).
Vamos analisar os casos de t ≤1 e 2≤t, no primeiro p+t+s≤p+s+1⇒ p+s
p+s+1 ≤ p+s p+t+s aplicando
Yn s=1
na desigualdade acima temos um produto telesc´opico Yn
s=1
p+s
p+s+1 = p+1 p+n+1 ≤
Yn s=1
p+s p+t+s
por compara¸c˜ao com s´erie harmˆonica a soma de an diverge nesse caso . Sendo agora 2≤t
2≤t⇒p+s+2≤p+s+t⇒ p+s
p+s+t ≤ p+s p+s+2 aplicando
Yn s=1
, novamente temos um produto telesc´opico
Yn s=1
p+s p+s+t ≤
Yn s=1
p+s p+s+2 =
Y2 s=1
p+s
p+s+n = (p+1)(p+2) (p+1+n)(p+2+n) logo por crit´erio de compara¸c˜ao a soma de an converge .
1.2.9 Crit ´erio de Cauchy para s ´eries
b
Propriedade 21 (Crit´erio de Cauchy para s´eries). Tem-se que uma sequˆencia´e convergente em R ⇔ ela ´e de Cauchy, logo se definimos s(n) = Xn
k=a
ak temos que a s´erie ´e convergente ⇔ para cada ε >0 existe n0 ∈N tal que n > n0 e para todo p∈N vale |s(n+p) −s(n)|< ε temos que
s(n+p) −s(n) = Xn+p
k=a
ak− Xn k=a
ak= Xn+p k=n+1
ak+ Xn k=a
ak− Xn k=a
ak =
= Xn+p k=n+1
ak logo temos que ter
| Xn+p k=n+1
ak|< ε
b
Propriedade 22. Se f(k)≥ 0 para k ∈[a,∞)Z, a∈ Z ent˜ao a s´erie X∞ k=af(k)
´e convergente ou diverge para +∞.
ê Demonstra ¸c ˜ao. Definindo g(n) = Xn
k=a
f(k) temos que ∆g(n) = f(n+1) ≥ 0 logo g(n) ´e uma sequˆencia n˜ao decrescente, seg(n)for limitada ent˜ao g(n) converge implicando que a s´erie converge, se g(n) n˜ao for limitada, por ser n˜ao decrescente ela diverge para +∞, implicando que a s´erie diverge para +∞.
Da mesma maneira tem-se
b
Propriedade 23. Se f(k)≤ 0 para k ∈[a,∞)Z, a∈ Z ent˜ao a s´erie X∞ k=af(k)
´e convergente ou diverge para −∞.
A demonstra¸c˜ao ´e a mesma que da propriedade anterior, apenas mudando ≥ por ≤, +∞ por −∞ e n˜ao decrescente por n˜ao crescente
ê Demonstra ¸c ˜ao. Definindo g(n) = Xn
k=a
f(k) temos que ∆g(n) = f(n+1) ≤ 0 logo g(n) ´e uma sequˆencia n˜ao crescente, se g(n) for limitada ent˜ao g(n) converge
implicando que a s´erie converge, se g(n) n˜ao for limitada, por ser n˜ao crescente ela diverge para −∞, implicando que a s´erie diverge para −∞.
b
Propriedade 24.X∞ k=a
b converge ⇔ b=0.
ê Demonstra ¸c ˜ao. Seja g(n) = Xn
k=a
b, Se b = 0 temos g(n) = Xn k=a
0 = 0 assim temos que s´erie ´e o limite da sequˆencia constante 0, limg(n) =0 =
X∞ k=a
0. Se X∞
k=a
b converge, pela condi¸c˜ao necess´aria para convergˆencia temos que ter limb=0, como b ´e constante, por propriedade de limites tem-se limb =blim 1 =b= 0 logo b tem que ser zero para que a s´erie seja convergente
X∞ k=a
0=0=0+0+0+0+0+0+· · ·=0.
Se b6=0 ent˜ao a s´erie diverge para +∞ ou −∞ pois ∆g(n) =b, se b >0 tem-se que a s´erie ´e crescente e divergente logo seu limite ´e +∞ se b < 0 segue que ∆g(n)<0 logo decrescente e divergente assim seu limite ´en −∞. As reduzidas s˜ao dadas por X
k=a
b=b(n+1−a), se b <0 X∞
k=a
b=b+b+b+b+· · ·= −∞
se b >0 ∞
X
k=a
b=b+b+b+b+· · ·= +∞.
b
Propriedade 25 (A s´erie harmˆonica diverge para +∞.). Seja 2n ≥ k (n, k naturais maiores que zero), ent˜ao1 k ≥ 1
2n
tomando a soma em [n+1,2n]
X2n k=n+1
1 k ≥
X2n k=n+1
1
2n = n 2n = 1
2
assim o crit´erio de Cauchy, n˜ao ´e v´alido para s´erie harmˆonica, pois tomando ε= 1
2 e p=n n˜ao temos
| X2n k=n+1
1 k|< 1
2
para n suficientemente grande, pois vale para qualquer n
2n
X
k=n+1
1 k ≥ 1
2 sendo g(n) =
Xn k=1
1
k temos ∆g(n) = 1
n+1 > 0 logo a s´erie ´e crescente. Sendo crescente e divergente ent˜ao ela tem limite+∞.Com a s´erie harmˆonica temos um exemplo de s´erie cujo termo somado tem limite 0 por´em a s´erie diverge lim 1
n =0.
1.3 S ´eries absolutamente convergentes
m
Defini ¸c ˜ao 3 (S´eries absolutamente convergentes). Uma s´erie X∞k=a
ak ´e dita absolutamente convergente se
X∞ k=a
|ak| ´e convergente.
m
Defini ¸c ˜ao 4 (S´erie condicionalmente convergente). Uma s´erie X∞k=a
ak ´e con- dicionalmente convergente se
X∞ k=a
ak converge por´em X∞ k=a
|ak| diverge.
1.3.1 Toda s ´erie absolutamente convergente ´e convergente
F Teorema 1 (Toda s´erie absolutamente convergente ´e convergente). Se s(n) = Xn
k=b
|ak| converge ent˜ao Xn
k=b
ak converge.
ê Demonstra ¸c ˜ao. Se Xn k=b
|ak| converge, podemos usar o crit´erio de Cauchy, que garante que para todo ε >0 existe n0 ∈N, tal que para n > n0 e p∈N vale
| Xn+p k=n+1
|ak| |= Xn+p k=n+1
|ak|< ε mas vale a desigualdade
| Xn+p k=n+1
ak|≤ Xn+p k=n+1
|ak|< ε
logo Xn
k=b
ak ´e uma sequˆencia de Cauchy, portanto converge.
ê Demonstra ¸c ˜ao.[2] Temos1 que ak ≤ |ak| e tamb´em −ak ≤ |ak| logo dessa
´ultima 0≤ak+|ak|que por sua vez ´e menor que 2|ak|, como 2 X∞ k=0
|ak|converge ent˜ao X∞
k=0
ak+|ak| tamb´em converge por compara¸c˜ao, da´ı X∞
k=0
ak+|ak|− X∞
k=0
|ak|= X∞
k=0
ak
converge por ser soma de s´eries convergentes.
Daremos uma outra demonstra¸c˜ao dessa propriedade usando o conceito de parte positiva e negativa de uma s´erie.
1.3.2 Parte negativa e positiva de uma s ´erie
m
Defini ¸c ˜ao 5 (Parte negativa e positiva de uma s´erie). Seja Xak uma s´erie, para cada k definimos a parte positiva pk da seguinte maneira
pk=
akse ak ≥0 0 se ak<0
1Solu¸c˜ao de Diogenes Mota