• Nenhum resultado encontrado

Clipping SCA. Data de Criação: 29/10/2019. Criado por: Biblioteca. Este material não pode ser publicado, reescrito, redistribuído ou transmitido

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Clipping SCA. Data de Criação: 29/10/2019. Criado por: Biblioteca. Este material não pode ser publicado, reescrito, redistribuído ou transmitido"

Copied!
68
0
0

Texto

(1)

Data de Criação: 29/10/2019

Criado por: Biblioteca

Clipping SCA

Este material não pode ser publicado, reescrito, redistribuído ou transmitido por broadcast sem autorização da Siqueira Castro - Advogados

(2)

Sumário das

Matérias:

Brasil assume protagonismo com pré-sal e nova regulação Valor ––29 de outubro...01 ‘Pré-sal é o que há de mais atrativo’, diz IHS Markit Valor ––29 de outubro...08 Empresas podem registrar filiais na junta do Estado da matriz

Valor ––29 de outubro...12 MPs devem avançar em semana de agenda fraca Valor ––29 de outubro...13 A doença holandesa e a doença de custos

Valor ––29 de outubro...15 STF confirma mudanças de 2003

Valor ––29 de outubro...18 Perto de finalizar plano, Odebrecht planeja refundação via construtora

Valor ––29 de outubro...20 Trechos de ferrovias abandonados poderão voltar a ser licitados

Valor ––29 de outubro...24 Crédito fiscal de R$ 1 bilhão ajuda Klabin

Valor ––29 de outubro...26 Teles tentam provar que 5G pode conviver com canais de TV

Valor ––29 de outubro...29 Tarifa de importação menor põe varejo e indústria em campos opostos

Valor ––29 de outubro...29 Aumento à vista nos custos dos fertilizantes

(3)

PEC da Previdência limita em 60 meses parcelamento de dívidas

Valor ––29 de outubro...35 Nova Lei de Falências poderá tramitar com urgência Valor ––29 de outubro...37 Os desafios de um código brasileiro de energia Valor ––29 de outubro...39 Isenção de visto para chineses e indianos surpreende diplomatas, que temem por segurança

Folha ––29 de outubro...42 Governo estuda até fim do monopólio da Petrobras para reduzir preço de voo

Folha ––29 de outubro...45 Imposto único elevará mensalidade escolar e plano de saúde, dizem empresas

Folha ––29 de outubro...48 Delegados da PF vão à Justiça para derrubar portaria de Moro

Folha ––29 de outubro...51 B2W e Centauro fecham parceria para comércio eletrônico de artigos esportivos

OESP ––29 de outubro...53 Reforma tributária e pacto federativo

OESP ––29 de outubro...55 Lei que veta uso de banheiro por pessoas trans é inconstitucional, diz TJ-SP

Conjur ––29 de outubro...56 Operadora de celular indenizará idosa de 91 anos por excesso de ligações de cobrança

Migalhas ––29 de outubro...58 PL prevê arbitragem tributária como solução para recuperação do crédito público

(4)
(5)

Valor Econômico

Caderno: Primeira Página, terça-feira

29 de outubro de 2019.

Brasil assume protagonismo

com pré-sal e nova regulação

Brasil caminha para ser uma das maiores potências petrolíferas do mundo

Por Rodrigo Polito, André

Ramalho e Francisco Góes — Do Rio

O Brasil caminha para ser uma das maiores potências petrolíferas do mundo. Já está entre os dez maiores produtores e, dada a elevada produtividade do óleo explorado na camada pré-sal, pode se tornar a segunda maior fonte de crescimento da produção mundial de petróleo até 2030, só atrás dos EUA.

“O Brasil tem os recursos petrolíferos ‘offshore’ (no mar) mais produtivos do mundo. Enquanto um poço [no pré-sal] pode ter produtividade de 60 mil barris por dia, no Golfo do México é algo como 12 mil a 13 mil barris por dia. São cinco vezes mais”, disse ao Valor Carlos Pascual, vice-presidente da IHS Markit. “Outra parte fundamental foram as reformas dos últimos dois anos no setor, abrindo a possibilidade de haver outros operadores [no pré-sal], não somente a Petrobras.”

01

Às vésperas do megaleilão dos excedentes da chamada “cessão onerosa”, o diretor-executivo da Agência Internacional de Energia (AIE), Fatih Birol, disse ao Valor que, com os recordes sucessivos do pré-sal, o Brasil “veio para ficar”. O economista turco lembrou que a rodada, no dia 6 de

novembro, leiloará volumes

recuperáveis entre 6 bilhões e 15 bilhões de barris de óleo equivalente, segundo estimativa da Agência Nacional do Petróleo (ANP).

“É certamente uma das maiores [reservas] da história do setor”, observou Birol. A expectativa da AIE é que o país acrescente 1,2 milhão de barris diários de óleo à oferta global até 2024, o que representaria aumento de cerca de 45% frente aos níveis produzidos pelo país em 2018, de 2,6 milhões de barris/dia.

Sobre a quebra do monopólio da Petrobras no refino, Birol vê com cautela as expectativas de que a abertura do setor atrairá investimentos em novas refinarias. “Globalmente, vemos poucos investimentos em refino fora da Ásia e Oriente Médio”, informou. Birol está no Brasil para fazer uma palestra sobre a transição energética, hoje, na Offshore Technology Conference (OTC), no Rio. O executivo continua a ver papel relevante para as petroleiras nas próximas décadas, já que o mundo ainda “precisará de petróleo e gás por muitos anos”.

(6)

Brasil veio para ficar no

mercado de petróleo, diz AIE

País será um dos responsáveis pelo aumento da oferta até 2030, sinaliza agência de energia

Por André Ramalho e Rodrigo Polito — Do Rio

Fatih Birol: “Esperamos que a produção do Brasil cresça muito nos próximos anos” — Foto: Divulgação

Com os recordes sucessivos de produção no pré-sal, o Brasil será um dos pilares de sustentação do crescimento da oferta mundial de petróleo até 2030, atrás apenas dos Estados Unidos, estima a Agência Internacional de Energia. Diretor-executivo da AIE, o economista turco Fatih Birol conta que o Brasil “veio para ficar” como um dos principais supridores da commodity no mundo e que o megaleilão dos excedentes da cessão onerosa, marcado para dia 6 de novembro, será “certamente um das maiores da história do setor”.

02 Em meio às tensões no Oriente Médio, após os ataques por drones às instalações sauditas, em setembro, ele acredita que a produção crescente do Brasil se trata de uma “adição bem-vinda à oferta internacional”, por trazer mais diversidade de suprimento ao mercado, contribuindo para a segurança global do petróleo. “Mas a Arábia Saudita continua sendo um importante exportador global”, ressalvou o executivo, em conversa exclusiva ao Valor, por e-mail.

A agência estima que o Brasil acrescentará mais 1,2 milhão de barris diários de óleo à oferta global até 2024, o que representaria um aumento de 45% frente aos níveis produzidos pelo país em 2018. Segundo Birol, ainda é cedo para afirmar se o atual ritmo de crescimento brasileiro se manterá na segunda metade da próxima década. A tendência, contudo, é de alta.

“Graças às mudanças no marco regulatório, esperamos que a produção do Brasil cresça muito fortemente nos próximos anos. A próxima rodada de licitações dos excedentes é, certamente, uma das maiores da história do setor global de petróleo e o alto nível de interesse é um reconhecimento dos esforços do Brasil [nas reformas regulatórias] nos últimos anos”, comentou o executivo, em referência ao leilão que ofertará de 6 bilhões a 15 bilhões de barris, segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP).

Sobre a quebra do monopólio do refino, Birol vê com cautela as perspectivas de que a abertura do setor desencadeie em novas refinarias. “Globalmente, vemos poucos investimentos em refino fora da Ásia e do Oriente Médio”, disse.

(7)

Birol veio ao Brasil para apresentar uma palestra sobre a transição energética, hoje, na Offshore Technology Conference (OTC), no Rio. Embora as grandes multinacionais do setor estejam aumentando seus investimentos em renováveis, o executivo ainda vê um papel relevante para as petroleiras nas próximas décadas, já que o mundo ainda “precisará de óleo e gás por muitos anos”.

“A demanda [por petróleo] não desaparecerá da noite para o dia. No longo prazo, porém, as petroleiras verão oportunidades para [usar] seus conhecimentos técnicos e recursos financeiros na mudança gradual em direção às energias renováveis e à economia de baixo carbono”, comentou. O economista turco vê com certo ceticismo o alcance das metas do Acordo de Paris, de 2015. A AIE mapeia como a indústria de energia está progredindo rumo ao cumprimento da meta climática e de compromissos como o acesso universal à energia e a redução substancial da poluição do ar nas cidades. Dos 45 setores críticos rastreados pela agência, apenas sete estão no “caminho certo”. “Se levarmos em consideração todas as políticas existentes e anunciadas em todo o mundo que analisamos, o mundo não está no caminho de reduzir as emissões, de acordo com o Acordo de Paris”, disse Birol.

Com o aumento da frota de carros elétricos, a AIE acredita que o setor de transporte deixará de ser o principal impulsionador da demanda global po petróleo. “[Os petroquímicos] devem responder por mais de um terço do crescimento do consumo até 2030 e quase a metade até 2050, à frente de

03 caminhões, utilitários esportivos, aviação e transporte marítimo”, afirmou.

Embora a AIE não publique projeções de preços, Birol disse ainda que não vê perspectivas de uma valorização acentuada do barril até meados de 2020, exceto se houver uma crise geopolítica. Ele lembrou que o mercado mundial passa por uma desaceleração. Ainda assim, a demanda global de petróleo deve crescer, anualmente, mais de 1 milhão de barris/dia no médio prazo.

(8)

‘Pré-sal é o que há de mais

atrativo’, diz IHS Markit

Atentado à Saudi Aramco, em

setembro, mostrou mudança

estrutural no mercado de petróleo Por Rodrigo Polito e Francisco Góes — Do Rio

Carlos Pascual, da IHS Markit: “O mundo vai ter que descobrir cerca de 40 milhões de barris/dia para o ano de 2040” — Foto: Luciana Whitaker/Valor

As jazidas de petróleo do Brasil no pré-sal representam o que há de mais atrativo na indústria de óleo e gás, na visão de Carlos Pascual, vice-presidente sênior da IHS Markit, uma das principais empresas globais de informação, análise de dados e consultoria da área de energia. “O que está em oferta no Brasil no dia de hoje [no pré-sal] não tem comparação com qualquer outro país na América Latina”, disse Pascual. Para ele, trata-se ainda de um dos melhores ativos do mundo. Dois pontos sustentam o argumento: a

04 produtividade dos campos e as melhorias regulatórias feitas nos últimos anos. “O Brasil tem os recursos petrolíferos offshore mais produtivos do mundo, quando você pensa que um

poço [no pré-sal] pode ter

produtividade de 60 mil barris por dia. No Golfo do México, é algo como 12 mil a 13 mil barris por dia. São quatro vezes mais.”

Nascido na Havana, em Cuba, e criado desde pequeno nos Estados Unidos, Pascual tem longa carreira diplomática pelos EUA, tendo servido em diversos países, inclusive no México, onde mora hoje. A IHS Markit, da qual ele é um dos principais executivos, é uma empresa “global e local”, afirma. Tem escritórios em mais de 30 países, e cerca de 15 mil colaboradores no mundo. A companhia é resultado da compra pela IHS, em 2004, da Cambridge Energy Research Associates (CERA), fundada por Daniel Yergin, considerado como um dos “papas” da indústria de petróleo.

O que está em oferta no Brasil no dia de hoje não tem comparação com qualquer outro país na América Latina”

Yergin é vice-presidente da IHS, que presta serviços não só a empresas da área de energia, mas também a outros setores, como automotivo, aeronáutico, de tecnologia e financeiro. Nesta entrevista, realizada ontem no escritório da IHS Markit, no Rio, Pascual também falou sobre geopolítica do petróleo, área que está diretamente sobre sua influência na companhia. Para ele, um possível acordo comercial entre EUA e China terá papel-chave para o mercado de petróleo. Leia a seguir, os principais trechos da entrevista:

(9)

Valor: Que efeitos os atentados sobre

a Saudi Aramco tiveram sobre o mercado de petróleo?

Carlos Pascual: O ataque na refinaria e nos campos da Saudi Aramco teve um impacto estrutural não somente no mundo de petróleo e gás, mas sobre questões de segurança. O episódio mostrou que, com um ataque, foi possível derrubar mais de 50% da produção da Saudi Aramco em um dia e afetar o exportador número um de petróleo do mundo. O impacto imediato era esperado: o preço subiu a US$ 69 por barril. Mas o que não se esperava era que o preço subisse somente até ali e que, um mês depois, o preço estivesse outra vez em US$ 60 por barril. Isso mostra duas coisas. A primeira é a fragilidade que existe na demanda e a incerteza não somente do mercado de petróleo, mas também em relação à falta de um acordo entre Estados Unidos e China, o que afeta o crescimento econômico do mundo e os mercados de commodities e de equity [ativos reais]. Isso tem implicações para o futuro da demanda de petróleo. Hoje a demanda não só é frágil, mas incerta. Vimos, por outro lado, uma nova capacidade de produção que considera o shale gás nos Estados Unidos e sua interação com os países da Opep e desta com a Rússia. O que tem ocorrido é uma redefinição sobre como funciona o mercado de petróleo hoje entre incertezas relacionadas a questões geopolíticas e econômicas.

Valor: Mas essa dinâmica já existia. O

que mudou?

Pascual: Temos visto cada vez mais a necessidade de participação de investidores privados. O ataque à Saudi Aramco representa para a empresa saudita outro desafio, que é o seu IPO.

05 A companhia precisa convencer o mercado e mostrar que ainda tem a capacidade de continuar no mercado e avançar na abertura de capital. Nesta semana haverá uma reunião da Saudi Aramco com investidores e um dos temas principais é como a Arábia Saudita pode assegurar que vai continuar a avançar com investimentos no país em ambiente em que há insegurança e incerteza. Essa é uma parte nova da equação. Cito outro ponto: se olharmos do ponto de vista de segurança, há três países - EUA, Rússia e China - que têm uma capacidade militar assimétrica em relação a outros países. Quando se passa de um mundo de capacidade militar convencional ou nuclear para um mundo de ameaças cibernéticas e o uso de drones, essa diferença [entre os países] diminui pelo custo e acesso de tecnologia. Mas cria-se outra assimetria porque o uso dessas ferramentas é baixo, mas o impacto pode ser enorme. Passa-se, assim, de uma assimetria de poder para uma assimetria de impacto que leva os países a mudar a forma como pensam sua segurança. EUA, Rússia e China vão ter que pensar a segurança para o futuro. Países democráticos e abertos idem, pois podem ser mais vulneráveis. Quais são as implicações para o setor energético, não só petróleo e gás, mas refinarias, plantas de geração de energia, usinas nucleares? Há uma vulnerabilidade contra a qual é muito difícil se defender. É algo que não tínhamos visto de modo tão profundo antes da Aramco.

Valor: A abertura de capital da Saudi

(10)

Pascual: Vão seguir avaliando. Estão usando o petróleo para facilitar os recursos necessários para fazer outros investimentos que os ajudem a diversificar a economia.

Valor: A Opep avalia cortar 1,2

milhão de barris/dia. Haverá efeitos nos preços a curto prazo?

Pascual: A parte mais difícil dessa equação é a demanda. As petroleiras têm controle sobre a parte da produção, volume de investimento e equipe de perfuração, por exemplo. Mas o outro lado do mercado pode depender de muitas coisas. Hoje uma das principais é se haverá um acordo entre EUA e China e o que ele vai abarcar. Pode ser que haja um acordo-ponte [transitório]. Isso pode ser reforçado pelo interesse do presidente dos EUA [Donald Trump] de se reeleger. Do lado de China, é preciso ver como o acordo pode afetar crescimento econômico e a capacidade de exportar.

Valor: A morte do líder do Estado

Islâmico terá efeito de curto prazo no mercado de petróleo?

Pascual: Não tem impacto imediato no mercado. O assunto principal vai ser como vai evoluir o balanço de segurança no Oriente Médio, como vai afetar os produtores de petróleo e se vai criar mais certeza.

Valor: Vê com preocupação o

momento que vive a América Latina?

Pascual: Temos visto protestos por toda a região por fatores distintos. Pode ser o preço da gasolina ou o preço do transporte. Os protestos indicam um nível de preocupação com a iniquidade social. Vamos ver mais desse tipo de protesto. As condições podem ser

06 distintas, em diferentes países, mas as tendências são as mesmas. A questão é

como reagir de uma maneira

construtiva para controlar essas preocupações e resolvê-las.

Valor: Algo parecido ao Chile pode

acontecer no Brasil?

Pascual: Creio que ninguém tem essa resposta. Quem teria imaginado, quando esses protestos começaram no Chile, que um dos resultados seria o presidente pedir desculpas e destituir o gabinete? É quase impossível de prever. Valor: O Brasil retomou as vendas de

áreas de petróleo e terá agora o leilão do excedente do cessão onerosa. Como avalia o interesse dos investidores no Brasil?

Pascual: O Brasil tem os recursos petrolíferos offshore mais produtivos do mundo, quando você pensa que um

poço [no pré-sal] pode ter

produtividade de 60 mil barris por dia. No Golfo do México, é algo como 12 mil a 13 mil barris por dia. São quatro vezes mais. Outra parte fundamental foram as reformas dos últimos dois anos, abrindo a possibilidade de haver outros operadores [no pré-sal], não somente a Petrobras. A renovação do Repetro deu ao investidor uma confiança de que o investimento pode ser competitivo em comparação com outros países. Outro ponto importante foram as mudanças de requisitos de conteúdo local, que foram equilibrados de modo a atender às necessidades do Brasil, mas sem exigência que torne impossível produzir a custo competitivo.

Valor: O Brasil está em uma posição

privilegiada em relação a outros países da região quando se olha para investimentos em petróleo?

(11)

Pascual: O que está em oferta no Brasil no dia de hoje não tem comparação com qualquer outro país na América Latina. É claramente o mais atrativo que há em toda a região. E diria que, para o offshore, se não é o mais atrativo, é uma das ofertas mais atrativas que estão no mercado globalmente.

Valor: O que podemos esperar para o

Brasil no futuro como produtor e exportador de petróleo?

Pascual: Primeiro que não será apenas produção de petróleo, mas produção de gás. Esse será um fator importante para o Brasil. Será como assegurar que o gás seja competitivo no mercado. Vai ser importante porque, com a preocupação com a mudança climática e a emissão de dióxido de carbono, há movimento para mais uso de gás nos sistemas energéticos. Uma coisa fundamental para resolver essa questão não é somente a produção, mas o escoamento e como assegurar que o gás seja competitivo. Um ponto forte que o Brasil tem é que o desenvolvimento não será de apenas uma companhia, mas vai ser um desenvolvimento com sócios que virão de todo o mundo, que terão

interesse de poder seguir

desenvolvendo esse recurso, trazer os materiais e a melhor tecnologia. A aplicação da tecnologia digital, para reduzir custos, vai ser fundamental para a produtividade e a competência. Será importante e necessário atrair não somente investidores privados, mas que tragam com eles as melhores tecnologias. Outro assunto tem haver com a mudança climática. Há uma pressão por redução de emissões. É algo que teremos que fazer para sobreviver como planeta. Para o Brasil, como todos os países petroleiros, vai haver uma

07 combinação de desafios. Um deles é como utilizar o petróleo para diversificar a economia. O mundo vai ter que descobrir cerca de 40 milhões de barris/dia para o ano de 2040, para responder ao crescimento de demanda. O desafio é, de um lado, reduzir emissões, proteger o planeta e facilitar a transição energética para sistemas com menos uso de dióxido de carbono. De outro lado, o desafio é fornecer os hidrocarbonetos que serão necessários para apoia

https://valor.globo.com/impresso/noticia/2019/10/29 /brasil-assume-protagonismo-com-pre-sal-e-nova-regulacao.ghtml

(12)

Valor Econômico

Caderno: Brasil, terça-feira 29 de

outubro de 2019.

‘Pré-sal é o que há de mais

atrativo’, diz IHS Markit

Atentado à Saudi Aramco, em

setembro, mostrou mudança

estrutural no mercado de petróleo Por Rodrigo Polito e Francisco Góes — Do Rio

Carlos Pascual, da IHS Markit: “O mundo vai ter que descobrir cerca de 40 milhões de barris/dia para o ano de 2040” — Foto: Luciana Whitaker/Valor

As jazidas de petróleo do Brasil no pré-sal representam o que há de mais atrativo na indústria de óleo e gás, na

08

visão de Carlos Pascual, vice-presidente sênior da IHS Markit, uma das principais empresas globais de informação, análise de dados e consultoria da área de energia. “O que está em oferta no Brasil no dia de hoje [no pré-sal] não tem comparação com qualquer outro país na América Latina”, disse Pascual. Para ele, trata-se ainda de um dos melhores ativos do mundo. Dois pontos sustentam o argumento: a produtividade dos campos e as melhorias regulatórias feitas nos últimos anos. “O Brasil tem os recursos petrolíferos offshore mais produtivos do mundo, quando você pensa que um

poço [no pré-sal] pode ter

produtividade de 60 mil barris por dia. No Golfo do México, é algo como 12 mil a 13 mil barris por dia. São quatro vezes mais.”

Nascido na Havana, em Cuba, e criado desde pequeno nos Estados Unidos, Pascual tem longa carreira diplomática pelos EUA, tendo servido em diversos países, inclusive no México, onde mora hoje. A IHS Markit, da qual ele é um dos principais executivos, é uma empresa “global e local”, afirma. Tem escritórios em mais de 30 países, e cerca de 15 mil colaboradores no mundo. A companhia é resultado da compra pela IHS, em 2004, da Cambridge Energy Research Associates (CERA), fundada por Daniel Yergin, considerado como um dos “papas” da indústria de petróleo.

O que está em oferta no Brasil no dia de hoje não tem comparação com qualquer outro país na América Latina”

(13)

Yergin é vice-presidente da IHS, que presta serviços não só a empresas da área de energia, mas também a outros setores, como automotivo, aeronáutico, de tecnologia e financeiro. Nesta entrevista, realizada ontem no escritório da IHS Markit, no Rio, Pascual também falou sobre geopolítica do petróleo, área que está diretamente sobre sua influência na companhia. Para ele, um possível acordo comercial entre EUA e China terá papel-chave para o mercado de petróleo. Leia a seguir, os principais trechos da entrevista:

Valor: Que efeitos os atentados sobre

a Saudi Aramco tiveram sobre o mercado de petróleo?

Carlos Pascual: O ataque na refinaria e nos campos da Saudi Aramco teve um impacto estrutural não somente no mundo de petróleo e gás, mas sobre questões de segurança. O episódio mostrou que, com um ataque, foi possível derrubar mais de 50% da produção da Saudi Aramco em um dia e afetar o exportador número um de petróleo do mundo. O impacto imediato era esperado: o preço subiu a US$ 69 por barril. Mas o que não se esperava era que o preço subisse somente até ali e que, um mês depois, o preço estivesse outra vez em US$ 60 por barril. Isso mostra duas coisas. A primeira é a fragilidade que existe na demanda e a incerteza não somente do mercado de petróleo, mas também em relação à falta de um acordo entre Estados Unidos e China, o que afeta o crescimento econômico do mundo e os mercados de commodities e de equity [ativos reais]. Isso tem implicações para o futuro da demanda de petróleo. Hoje a demanda não só é frágil, mas incerta. Vimos, por outro lado, uma nova

09 capacidade de produção que considera o shale gás nos Estados Unidos e sua interação com os países da Opep e desta com a Rússia. O que tem ocorrido é uma redefinição sobre como funciona o mercado de petróleo hoje entre incertezas relacionadas a questões geopolíticas e econômicas.

Valor: Mas essa dinâmica já existia. O

que mudou?

Pascual: Temos visto cada vez mais a necessidade de participação de investidores privados. O ataque à Saudi Aramco representa para a empresa saudita outro desafio, que é o seu IPO. A companhia precisa convencer o mercado e mostrar que ainda tem a capacidade de continuar no mercado e avançar na abertura de capital. Nesta semana haverá uma reunião da Saudi Aramco com investidores e um dos temas principais é como a Arábia Saudita pode assegurar que vai continuar a avançar com investimentos no país em ambiente em que há insegurança e incerteza. Essa é uma parte nova da equação. Cito outro ponto: se olharmos do ponto de vista de segurança, há três países - EUA, Rússia e China - que têm uma capacidade militar assimétrica em relação a outros países. Quando se passa de um mundo de capacidade militar convencional ou nuclear para um mundo de ameaças cibernéticas e o uso de drones, essa diferença [entre os países] diminui pelo custo e acesso de tecnologia. Mas cria-se outra assimetria porque o uso dessas ferramentas é baixo, mas o impacto pode ser enorme. Passa-se, assim, de uma assimetria de poder para uma assimetria de impacto que leva os países a mudar a forma como pensam sua segurança. EUA, Rússia e China vão ter que pensar a segurança para o

(14)

futuro. Países democráticos e abertos idem, pois podem ser mais vulneráveis. Quais são as implicações para o setor energético, não só petróleo e gás, mas refinarias, plantas de geração de energia, usinas nucleares? Há uma vulnerabilidade contra a qual é muito difícil se defender. É algo que não tínhamos visto de modo tão profundo antes da Aramco.

Valor: A abertura de capital da Saudi

Aramco está mantida?

Pascual: Vão seguir avaliando. Estão usando o petróleo para facilitar os recursos necessários para fazer outros investimentos que os ajudem a diversificar a economia.

Valor: A Opep avalia cortar 1,2

milhão de barris/dia. Haverá efeitos nos preços a curto prazo?

Pascual: A parte mais difícil dessa equação é a demanda. As petroleiras têm controle sobre a parte da produção, volume de investimento e equipe de perfuração, por exemplo. Mas o outro lado do mercado pode depender de muitas coisas. Hoje uma das principais é se haverá um acordo entre EUA e China e o que ele vai abarcar. Pode ser que haja um acordo-ponte [transitório]. Isso pode ser reforçado pelo interesse do presidente dos EUA [Donald Trump] de se reeleger. Do lado de China, é preciso ver como o acordo pode afetar crescimento econômico e a capacidade de exportar.

Valor: A morte do líder do Estado

Islâmico terá efeito de curto prazo no mercado de petróleo?

10

Pascual: Não tem impacto imediato no mercado. O assunto principal vai ser como vai evoluir o balanço de segurança no Oriente Médio, como vai afetar os produtores de petróleo e se vai criar mais certeza.

Valor: Vê com preocupação o

momento que vive a América Latina?

Pascual: Temos visto protestos por toda a região por fatores distintos. Pode ser o preço da gasolina ou o preço do transporte. Os protestos indicam um nível de preocupação com a iniquidade social. Vamos ver mais desse tipo de protesto. As condições podem ser distintas, em diferentes países, mas as tendências são as mesmas. A questão é

como reagir de uma maneira

construtiva para controlar essas preocupações e resolvê-las.

Valor: Algo parecido ao Chile pode

acontecer no Brasil?

Pascual: Creio que ninguém tem essa resposta. Quem teria imaginado, quando esses protestos começaram no Chile, que um dos resultados seria o presidente pedir desculpas e destituir o gabinete? É quase impossível de prever. Valor: O Brasil retomou as vendas de

áreas de petróleo e terá agora o leilão do excedente do cessão onerosa. Como avalia o interesse dos investidores no Brasil?

Pascual: O Brasil tem os recursos petrolíferos offshore mais produtivos do mundo, quando você pensa que um

poço [no pré-sal] pode ter

produtividade de 60 mil barris por dia. No Golfo do México, é algo como 12 mil a 13 mil barris por dia. São quatro vezes mais. Outra parte fundamental foram as reformas dos últimos dois anos,

(15)

abrindo a possibilidade de haver outros operadores [no pré-sal], não somente a Petrobras. A renovação do Repetro deu ao investidor uma confiança de que o investimento pode ser competitivo em comparação com outros países. Outro ponto importante foram as mudanças de requisitos de conteúdo local, que foram equilibrados de modo a atender às necessidades do Brasil, mas sem exigência que torne impossível produzir a custo competitivo.

Valor: O Brasil está em uma posição

privilegiada em relação a outros países da região quando se olha para investimentos em petróleo?

Pascual: O que está em oferta no Brasil no dia de hoje não tem comparação com qualquer outro país na América Latina. É claramente o mais atrativo que há em toda a região. E diria que, para o offshore, se não é o mais atrativo, é uma das ofertas mais atrativas que estão no mercado globalmente.

Valor: O que podemos esperar para o

Brasil no futuro como produtor e exportador de petróleo?

Pascual: Primeiro que não será apenas produção de petróleo, mas produção de gás. Esse será um fator importante para o Brasil. Será como assegurar que o gás seja competitivo no mercado. Vai ser importante porque, com a preocupação com a mudança climática e a emissão de dióxido de carbono, há movimento para mais uso de gás nos sistemas energéticos. Uma coisa fundamental para resolver essa questão não é somente a produção, mas o escoamento e como assegurar que o gás seja competitivo. Um ponto forte que o Brasil tem é que o desenvolvimento não será de apenas uma companhia, mas vai

11 ser um desenvolvimento com sócios que virão de todo o mundo, que terão

interesse de poder seguir

desenvolvendo esse recurso, trazer os materiais e a melhor tecnologia. A aplicação da tecnologia digital, para reduzir custos, vai ser fundamental para a produtividade e a competência. Será importante e necessário atrair não somente investidores privados, mas que tragam com eles as melhores tecnologias. Outro assunto tem haver com a mudança climática. Há uma pressão por redução de emissões. É algo que teremos que fazer para sobreviver como planeta. Para o Brasil, como todos os países petroleiros, vai haver uma combinação de desafios. Um deles é como utilizar o petróleo para diversificar a economia. O mundo vai ter que descobrir cerca de 40 milhões de barris/dia para o ano de 2040, para responder ao crescimento de demanda. O desafio é, de um lado, reduzir emissões, proteger o planeta e facilitar a transição energética para sistemas com menos uso de dióxido de carbono. De outro lado, o desafio é fornecer os hidrocarbonetos que serão necessários para apoiar o crescimento econômico da maneira mais eficiente possível.

https://valor.globo.com/brasil/noticia/2019/10/29/pr

e-sal-e-o-que-ha-de-mais-atrativo-diz-ihs-markit.ghtml

(16)

Valor Econômico

Caderno: Brasil, terça-feira 29 de

outubro de 2019.

Empresas podem registrar

filiais na junta do Estado da

matriz

Medida tem como objetivo

desburocratizar e reduzir custos, devendo ter um impacto grande sobretudo no setor de varejo Por Fabio Graner — De Brasília

O governo concluiu neste mês o processo de integração de sistemas e já está funcionando a ferramenta que permite às empresas abrirem filiais em outros Estados, mas registrando na junta comercial onde a matriz estiver instalada. O diretor do Departamento Nacional de Registro Empresarial e Integração (Drei) do Ministério da Economia, André Santa Cruz, disse ao Valor que a medida é mais um passo de desburocratização e redução de custos, com um impacto grande sobretudo no setor de varejo.

“É uma medida revolucionária. Até então, quando você ia abrir filial, seja no ato da abertura da matriz, seja depois, tinha que ir em cada junta comercial da cidade ou do Estado. Isso não só aumentava custos como fazia com que o processo ficasse mais demorado”, afirmou ele.

“Agora, com a nova regulamentação e com a evolução dos sistemas, consegue-se fazer isso de forma simultânea,

12

abrindo quantas filiais quiser. E tudo será feito na junta da matriz, e esta vai comunicar às juntas dos Estados onde estarão as filiais”, completou Santa Cruz.

Segundo ele, redes de farmácia, supermercados e bancos serão bastante beneficiados, já que cada unidade nova demandava um registro na junta local, com tempo de espera para análise de processos, custos de viagens e riscos de exigências diferentes em cada local. “Agora é só apresentar todos os atos de filiais na junta onde a matriz estiver, e só vai mudar o endereço.”

Em carta enviada ao Ministério da

Economia, o Instituto de

Desenvolvimento do Varejo (IDV) destaca que o novo processo promove simplificação, redução de custos, maior controle a partir da uniformização de dados fornecidos, bem como do procedimento de análise dos pedidos pelas juntas.

Apesar de o processo ter tido regulamentação em agosto por Instrução Normativa, a integração dos sistemas só foi concluída neste mês, permitindo a validade da norma. Santa Cruz afirmou que algumas juntas chegaram a reclamar devido ao risco de perda de receitas, mas, segundo ele, prevaleceu a leitura de que a medida é

positiva para promover o

empreendedorismo e facilitar a vida do cidadão.

https://valor.globo.com/brasil/noticia/2019/10 /29/empresas-podem-registrar-filiais-na-junta-do-estado-da-matriz.ghtml

(17)

Valor Econômico

Caderno: Politica, terça-feira 29 de

outubro de 2019.

MPs devem avançar em

semana de agenda fraca

MPs devem ser votadas na Câmara e no Senado

Por Marcelo Ribeiro — De Brasília

Com agenda esvaziada, a Câmara dos Deputados e o Senado contam com apenas duas propostas com alta probabilidade de se tornarem leis nos próximos 180 dias, segundo projeção de Estudos Legislativos e Análise Política do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap/Ello) feita ao Valor Política.

De acordo com a projeção, a Medida Provisória (MP) que trata da criação do Programa Médicos pelo Brasil tem alta chance de aprovação no plenário da Câmara. Outro texto de provável aprovação seria a MP que transformou o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) em Unidade de Inteligência Financeira (UIF) e passou a vinculá-lo ao Banco Central. A proposta tramita em uma comissão mista do Congresso Nacional.

O levantamento do Cebrap/Ello considerou 64 propostas com impacto econômico que estão na pauta de plenário da Câmara e do Senado ou em fase terminativa nas comissões (quando dispensa votação em plenário). A probabilidade de aprovação, referente

13

aos próximos 180 dias, é baseada em um modelo estatístico sobre o histórico de votações desde 1988.

As comissões da Câmara dos Deputados e do Senado realizam esta semana 22 e

seis audiências públicas,

respectivamente, para tratar de temas economicamente relevantes, de acordo com o levantamento. A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara discute hoje, às 9h30, sobre a proposta de emenda constitucional (PEC) que trata da regra de ouro. O ministro da

Economia, Paulo Guedes, foi

convidado, mas não deve comparecer. A expectativa é que o relator do projeto, João Roma (PRB-BA), faça a leitura de seu parecer em uma sessão do colegiado ainda hoje, caso supere a obstrução dos parlamentares da oposição. No Senado, a Comissão Mista Permanente de Mudanças Climáticas faz debate nesta quarta-feira, às 14h30, sobre biocombustíveis e matriz de energia elétrica.

O ‘Decisão Legislativa’ é um serviço exclusivo, desenvolvido em parceria com o Cebrap/Ello, para acompanhar o processo decisório no Congresso Nacional sobre temas relevantes para a economia.

https://valor.globo.com/politica/noticia/2019/10/29/ mps-devem-avancar-em-semana-de-agenda-fraca.ghtml

(18)

Valor Econômico

Caderno: Opinião, terça-feira 29 de

outubro de 2019.

A doença holandesa e a doença

de custos

O estabelecimento de tarifas de importação variáveis é algo que o Ministério da Economia poderia adotar

Por Luiz Carlos Bresser-Pereira

— Foto: Daniel Wainstein/Valor

Enquanto o governo brasileiro se dispõe a abrir unilateralmente a economia para deixar a indústria com uma desvantagem competitiva ainda maior do que ela já é, David Kupfer, provavelmente o melhor economista brasileiro na questão industrial,

15

escreveu no Valor (14/10/19) um excelente artigo no qual ele nos fala das duas doenças da indústria brasileira: a doença holandesa e a doença de custos. Ele mostra que no último ciclo de crescimento da economia brasileira (2004-2010) houve “um nítido descolamento entre as trajetórias percorridas pela economia e pelo setor industrial”. De fato, a indústria se beneficiou do aumento da demanda interna causada pelo boom de commodities e, nos três primeiros anos (2004-2006), beneficiou-se também da moeda desvalorizada pela crise financeira de 2002. Nos quatro anos seguintes, porém, ocorreu um ciclo vicioso de fragilização da indústria manufatureira caracterizado por baixa taxa de investimento no setor e um hiato crescente de produtividade. E, a partir de 2011, enquanto o crescimento da economia diminuiu, teve início uma

segunda grande onda de

desindustrialização (a primeira ocorreu na primeira metade dos anos 1990, a partir da abertura comercial).

Tarifas de importação variáveis é algo que o governo poderia adotar

e administrar sem grandes

dificuldades

Por que a economia quase parou de investir a partir de 2007 e a produtividade da indústria caiu? David Kupfer explica o problema com “a adoção pelas empresas de estratégias minimizadoras de investimento” - quando a demanda cresce elas fazem pequenos investimentos para aproveitar os ativos existentes ao invés de investir em expansão de capacidade. Assim, como os custos de produção não diminuem, surge a doença de custos; a

(19)

indústria brasileira se atrasa no plano tecnológico e perde competitividade. Mas por que adotam uma estratégia minimizadora de investimento? Porque as empresas, corretamente, entendem que as oportunidades de investimento que surgiram com a expansão da economia poderão desaparecer, não apenas porque o ciclo de expansão pode ser curto, mas também porque, dada a doença holandesa não neutralizada e as entradas de capitais atraídos por juros altos, a taxa de câmbio poderá voltar a se apreciar a qualquer momento e as empresas incorrerão em perda de competitividade econômica - aquela decorrente da apreciação cambial. Foi o que ocorreu com a indústria brasileira entre 2011 e 2014 enquanto a

taxa de câmbio permanecia

absurdamente apreciada, a preços, de hoje, em torno de R$ 2,50 por dólar. Em 2014, caíram os preços das commodities enquanto as empresas industriais, endividadas, sem lucros e sem crédito, pararam de investir, e a crise financeira se desencadeou e se transformou em crise econômica da qual o país ainda não se recuperou. Em consequência da queda do preço das commodities, a doença holandesa tornou-se menos grave; ao mesmo tempo, com a econômica, os juros baixaram. Os dois fatos contribuíram para que, depois da depreciação a taxa de câmbio não voltasse a se apreciar e a taxa de câmbio se mantivesse competitiva flutuando em torno de R$ 4 por dólar.

Mas, dada a persistência da quase-recessão e a insegurança econômica reinante, as empresas não voltaram a investir. Ao invés, estão sendo ameaçadas com maior abertura comercial, a partir do diagnóstico do

16 governo que, dada uma tarifa aduaneira média de 14,5%, a economia brasileira continua “protecionista”.

Este é um grande engano. Há duas razões não-protecionistas para tarifas elevadas: a condição de indústria infante, bem conhecida de todos e que não se aplica ao Brasil senão marginalmente, e o fato de tarifas neutralizarem a doença holandesa em relação ao mercado interno. Esta segunda condição poucos sabem, mas a neutralização dessa desvantagem competitiva via tarifas foi fundamental para que muitos países, inclusive o Brasil e os Estados Unidos, se industrializassem e se mantivessem industriais.

Se pensarmos nas tarifas sobre bens industriais (mais precisamente, sobre bens e serviços tradable non-commodity) como uma política de neutralização da doença holandesa, estas tarifas deveriam variar para cima e para baixo conforme estiverem os preços internacionais das commodities exportadas pelo país. Agora, por exemplo, quando os preços das commodities estão relativamente baixos, as tarifas de importação poderiam ser baixas; na medida em que eles voltem a crescer, a tarifa seria elevada. Não caso a caso, mas linearmente, para todos os bens e serviços importados não-commodities. Eu sei que nenhum país neutralizou a doença holandesa desta maneira, mas por que não sermos os primeiros? Este mecanismo neutralizaria a doença holandesa em relação ao mercado interno; em relação às exportações seriam necessários subsídios também variáveis, mas isto não é possível no quadro da OMC. Na verdade, a política mais correta de neutralização da doença

(20)

holandesa, tanto em relação ao mercado interno quanto ao externo, seria uma retenção variável sobre as exportações de commodities, mas as dificuldades políticas em relação a um imposto dessa natureza são grandes. Já o estabelecimento de tarifas de importação variáveis é algo que o Ministério da Economia poderia adotar e administrar sem grandes dificuldades. Dessa forma o governo estaria se comprometendo com uma taxa de câmbio real livre de doença holandesa. Uma taxa de câmbio corrigida, consideradas as tarifas, muito mais estável, que terminaria com a grande desvantagem competitiva representada pela doença holandesa e daria às empresas industriais brasileiras muito mais segurança. E assim elas investiriam para o aumento de capacidade, superando também a doença de custos.

Luiz Carlos Bresser-Pereira é professor emérito da FGV

https://valor.globo.com/opiniao/coluna/a-doenca-holandesa-e-a-doenca-de-custos.ghtml

Retorne ao índice

(21)

Valor Econômico

Caderno: Politica, terça-feira 29 de

outubro de 2019.

STF confirma mudanças de

2003

Ainda há seis ações para serem julgadas relativas às mudanças constitucionais de 1998

Por Isadora Peron — De Brasília

Após 15 anos, o Supremo Tribunal Federal (STF) concluiu o julgamento de

uma Ação Direta de

Inconstitucionalidade (ADI) movida pela Associação dos Magistrados do Brasil (AMB) que questionava a reforma da Previdência aprovada em 2003. Por unanimidade, os ministros julgaram improcedente o pedido. A resposta da Corte acontece no momento em que entidades que representam juízes e procuradores de todo o país preparam uma ofensiva jurídica contra a nova PEC que alterou as regras da aposentadoria, cuja tramitação no Congresso foi concluída na semana passada.

Após a aprovação da reforma de 2003, a AMB entrou com uma ação no Supremo em agosto de 2004. O julgamento, no plenário virtual da Corte, porém, aconteceu somente entre os dias 4 e 10 de outubro deste ano. O acórdão (resultado) foi publicado no Diário da Justiça Eletrônico (DJE) da última sexta-feira.

18

A reforma de 2003 foi promovida pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva e teve como foco o funcionalismo

público. Entre as mudanças

estabelecidas, a Emenda Constitucional 41 alterou o cálculo dos benefícios e passou a cobrar 11% de contribuição previdenciária dos servidores já aposentados.

Na época, a AMB argumentou que as alterações violavam o princípio da autonomia administrativa e financeira dos tribunais e o da independência do Poder Judiciário, a quem caberia fixar a remuneração e os subsídios de seus integrantes.

Segundo levantamento da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe), ainda tramitam no Supremo outras seis ADIs movidas por entidades ligadas a magistrados e que questionam as reformas da Previdência aprovadas no passado, a maioria dela em relação às mudanças no sistema promovidas em 1998.

Mesmo diante do recente revés, representantes da AMB, da Ajufe e de outras associações vão se reunir hoje para traçar uma estratégia para acionar o STF após a promulgação da nova reforma - o que deve acontecer nas próximas semanas.

Segundo a presidente da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), Noemia Porto, o grupo já decidiu que vai questionar as novas regras, só falta definir quais pontos serão levantados e decidir se o grupo vai entrar com uma única ADI ou se cada entidade vai abordar um artigo diferente na Corte.

(22)

Organizações que representam procuradores, como Associação Nacional dos Membros do Ministério Público (Conamp) e Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), também vão participar da reunião para debater o assunto.

Entre os pontos que devem ser questionados pelas entidades está a

progressão da alíquotas

previdenciárias. O argumento é que, somadas à taxação do imposto de renda, o percentual terá um caráter quase “confiscatório”, tomando praticamente metade da remuneração dos funcionários públicos.

Outro ponto considerado injusto pelos servidores são as regras de transição aprovadas. As entidades também levarão ao Supremo a discussão sobre a redução da pensão por morte, que ficou reduzido a 50% do valor da remuneração, além de 10% por dependente.

Ao todo, a reforma da Previdência altera regras de aposentadorias e pensões para mais de 72 milhões de pessoas, entre trabalhadores da iniciativa privada e servidores públicos federais.

Agora, quem receber um salário maior terá que contribuir mais - até 14% no INSS e até 22% no serviço público, para

quem receber acima do teto

constitucional de R$ 39,2 mil.

Com a reforma, o país passa a ter uma idade mínima para aposentadorias, de 65 anos, para homem, e 62 anos, para mulher. Quem já está na ativa poderá contar com diferentes regras de transição. A equipe econômica do governo Jair Bolsonaro estima que a

19 economia, com as novas regras, será de R$ 800 bilhões nos próximos dez anos. A previsão inicial era de um alívio fiscal de mais de R$ 1 trilhão.

https://valor.globo.com/politica/noticia/2019/10/29/ stf-confirma-mudancas-de-2003.ghtml

(23)

Valor Econômico

Caderno: Empresas, terça-feira 29 de

outubro de 2019.

Perto de finalizar plano,

Odebrecht planeja refundação

via construtora

Grupo negocia com bancos

solução para dívida financeira de R$ 55 bilhões

Por Graziella Valenti — De São Paulo

20

O desenho do futuro financeiro da Odebrecht está ganhando os contornos finais. O grupo e os principais cinco bancos credores estão perto de acertar as bases para um acordo que definirá o plano de recuperação judicial, com

cerca de R$ 40 bilhões em

compromissos, e também como vão ficar os vencimentos de quase R$ 15 bilhões que estão fora desse processo na Justiça. A dívida total da empresa é de R$ 55 bilhões. Para além das finanças, o futuro é mais incerto. A aposta está na refundação a partir da construtora,

ainda que em tamanho nada

comparável ao do início desta década. O plano de recuperação prevê a venda de negócios e desmonte de boa parte da diversificação acelerada na era de Marcelo Odebrecht. Com o acordo, a companhia quer tempo para organizar e vender ativos de forma a extrair o maior valor possível, e assim também aumentar o fôlego para reerguer a construtora, rebatizada OEC.

Na Justiça, ao pedir recuperação judicial em 17 de junho, a Odebrecht listou R$ 98 bilhões em dívidas. Contudo, o que ela precisa renegociar efetivamente são R$ 55 bilhões. Há R$ 33 bilhões em dívidas entre empresas do grupo e R$ 10 bilhões em compromissos com seguradoras que ainda não foram sequer alvo de execução. O processo está aos cuidados

da RK Partners, de Ricardo

Knoepfelmacher, e do escritório E.Munhoz. Se conseguir aprovar o que planeja, a holding do grupo sai do processo com dívida contábil de R$ 15 bilhões - que já têm cobertura.

(24)

Nas negociações, os cinco bancos credores que desenham o plano junto com a Odebrecht - Itaú, Bradesco, Santander, BNDES e Banco do Brasil - demonstram disposição para um acordo que dê um tempo de reorganização ao grupo. O conglomerado entende que precisa de um intervalo entre cinco e dez anos para essa gestão.

Nesse diálogo, as instituições não escondem o desinteresse em voltar a fornecer crédito ou se relacionar comercialmente, além da gestão do que for acordado. Para os bancos, o plano de recuperação é um fim organizado do conglomerado. Mas, essa posição não parece interferir no projeto de refundação do grupo, que vê novas fontes de crédito no horizonte com o cenário de queda de juros no país. A relação com os bancos está abalada desde que a Operação Lava-Jato atingiu o conglomerado. Após a prisão de Marcelo, mesmo com todos os esforços em concluir os acordos de leniência e se manter em dia com credores, só foram obtidos R$ 2,6 bilhões em linhas novas, de Itaú e Bradesco, em 2018.

No acerto em discussão com os bancos, deve ficar definido que a Odebrecht terá acesso não só ao dividendo da Braskem relativo a 2018 (cerca de R$ 250 milhões), como também a uma fração contínua dos proventos durante os próximos anos, até vender a petroquímica. Essa será a principal fonte de recursos para a holding coordenar a gestão dos negócios.

Todas as ações da Braskem detidas pelo grupo estão cedidas na forma de alienação fiduciária a Itaú, Bradesco, BNDES, Banco do Brasil (BB) e Santander, assim como os dividendos que elas rendem, para cobertura de R$

21 12,6 bilhões em dívidas diversas. O tamanho do que ficará acessível para a

Odebrecht está em discussão

exatamente nesse momento.

Também ficarão documentadas as regras e ritos para a já esperada venda da Braskem - o ativo de maior valor e único com liquidez do grupo todo - e de outras empresas. A expectativa é que o processo da petroquímica comece em 2020, mas a alienação mesmo deve exigir tempo e ocorrer apenas em 2021 ou à frente, quando é esperado que o ciclo desse setor esteja melhor.

Toda a dívida de R$ 55 bilhões será reestruturada, e não só os R$ 40 bilhões que estão dentro do processo de recuperação judicial. As dívidas com os bancos nacionais fora do processo, de quase R$ 15 bilhões serão alongadas e algumas terão redução de custo. Especialmente os R$ 2,6 bilhões fornecidos por Itaú e Bradesco, em 2018, mais os juros já incorridos sobre essas linhas.

Nessa negociação, será definido o caixa mínimo que o grupo precisa para gerir a execução do próprio plano e para lidar com eventuais contingências.

A recuperação judicial da holding do grupo, Odebrecht S.A., conhecida pela sigla ODB, tem uma particularidade: é uma reestruturação de avais e garantias. Ou seja, o que será definido é como a holding arcará com as dívidas que as empresas operacionais não forem capazes de pagar e que têm cobertura da controladora. Portanto, quando houver solução diretamente nas controladas, pode haver alívio também na holding.

(25)

Os R$ 40 bilhões em compromissos dentro do processo serão convertidos em títulos de participação em ganhos futuros, semelhantes a uma debênture de participação em lucros. Deixarão de ser dívida, mas também não serão ações. A operação tornará o balanço muito mais leve.

Esses novos papéis serão servidos pelo resultado da venda integral ou parcial das empresas, ao longo dos próximos anos, e pelos dividendos. Os principais ativos que deverão ser alienados no futuro, além da Braskem, são a segunda maior sucroalcooleira do país, a Atvos, a empresa de sondas petroleiras Ocyan e a participação na usina hidrelétrica Santo Antônio. Como ativo, a ODB também considera um crédito de US$ 1 bilhão para o litígio pela expropriação do gasoduto sul-peruano, que é

discutido em uma arbitragem

internacional (ainda não iniciada). Hoje, nem todas essas outras empresas juntas chegam perto da riqueza que pode ser obtida pela venda de Braskem, onde a Odebrecht, sócia da Petrobras, tem 38% do negócio. Os títulos resultantes da conversão da dívida dentro da recuperação só poderão receber remuneração com a venda da petroquímica se sobrar dinheiro além dos R$ 12,6 bilhões já garantidos pelas ações. Daí, o desejo de tempo para buscar o maior valor possível para tudo. Os bancos credores estão, até o momento, empenhados em buscar uma solução. A companhia quer aprovar o plano neste ano, em assembleia de credores. Há cerca de um mês, as reuniões com os bancos ocorrem com frequência e têm evoluído para um

consenso. Contudo, validar

reestruturações de dívida - em especial deste porte - dentro dos comitês de

22 crédito das instituições públicas não é tarefa simples. Por isso, uma aprovação até março de 2020 ainda seria considerada como vitória internamente. Uma das dificuldade nas conversas é que a Odebrecht quer ficar com uma parte - ainda que pequena - do resultado da reorganização e venda de ativos. Os bancos não querem, em especial porque, mesmo se ficassem com todos os ativos, não cobririam o crédito concedido. Essa é a parte mais delicada da negociação. Para alguns, essa questão é mais sensível até mesmo que a definição sobre a divisão dos dividendos da Braskem.

A avaliação da Odebrecht, segundo pessoas que acompanham o assunto, é que, se for para entregar tudo, seria mais fácil, rápido e sem risco transferir aos bancos o controle das empresas ou liquidar os ativos agora mesmo. Mas os credores também não querem as empresas para gerir.

Sem contar o setor petroquímico, cujo início dos investimentos ocorreu em 1977, a diversificação e expansão da

Odebrecht foi financiada

principalmente pelos bancos públicos. Dos R$ 33 bilhões em compromissos dentro e fora da recuperação judicial com os bancos nacionais, BNDES, BB e Caixa respondem por R$ 23 bilhões. As instituições privadas Itaú, Bradesco e Santander têm cerca de 10 bilhões. Na recuperação judicial, a força está toda concentrada nas instituições públicas: R$ 17 bilhões dos R$ 40 bilhões que votarão em assembleia de credores, ante R$ 1,3 bilhão de Itaú, Bradesco e Santander. Os créditos dos bancos privados estão, em sua maioria, garantidos pelas ações da Braskem, portanto fora da recuperação judicial e,

(26)

por isso mesmo, sem voto na assembleia sobre o plano.

Pela participação desproporcional dos bancos públicos no total dos R$ 40 bilhões em negociação, o risco maior para a Odebrecht de insucesso para aprovação do plano está em uma eventual decisão do governo de politizar o assunto e orientar os bancos públicos contra o plano - o que, até o momento, não parece ser o caso.

A Odebrecht concentrou as negociações em cinco dos seis bancos credores

porque a conversa passa

necessariamente pela dívida garantida por Braskem - e a Caixa, com créditos totais de R$ 5 bilhões, não possui tal cobertura. Essa situação levou o banco liderado por Pedro Guimarães a adotar a postura mais agressiva dentre todos. Coordenar o plano com os demais permite ao grupo prescindir do aval da Caixa na assembleia, mas torna posição de BNDES e BB determinantes.

Além dos ativos que serão

reorganizados para serem vendidos, algumas companhias terão a estrutura reduzida e poderão desaparecer no futuro. É o que se espera para o estaleiro Enseada, que entrou em recuperação judicial na Justiça do Rio. A empresa de incorporação imobiliária OR já está muito menor do que foi - chegou a ser a terceira maior do Brasil. Com dívidas de cerca de R$ 2,6 bilhões, negocia uma solução com os bancos credores. Conforme fontes envolvidas com o assunto, já houve acordo com Bradesco. Itaú e Votorantim estão próximos de uma definição. A Caixa, se não entrar em acordo, pode terminar sozinha em mais uma recuperação judicial ligada ao grupo, já que os demais bancos estão resolvendo o caso.

23 A situação financeira do conglomerado piorou após a Operação Lava-Jato. Mas, internamente, a percepção é de que o

grupo enfrentaria problemas

importantes mesmo sem o escândalo de corrupção, devido à concentração de risco em empresas ou regiões dependentes do petróleo e à elevada alavancagem de algumas companhias que enfrentaram suas próprias crises setoriais, como é o caso da sucroalcooleira Atvos e da OR.

No plano de revitalização, um ponto de interrogação do mercado é o quanto Marcelo Odebrecht, com seu desejo de voltar a aconselhar sobre os negócios por meio da holding familiar Kieppe, pode prejudicar o resultado do esforço. A família, representa por Emílio Odebrecht, diz estar fechada na decisão de não permitir essa interferência.

Os bancos, tradicionalmente,

concederam crédito calcados no histórico de pagamentos do grupo e na saúde da construtora. Em 2016, quando o conglomerado começou a negociar o acordo de leniência com as autoridades brasileiras, suíças e americanas, a ODB tinha menos de R$ 20 bilhões em avais assegurados e era dona de Braskem, Ocyan e Atvos. Quando entrou em recuperação judicial, os avais e garantias debaixo do guarda-chuva da holding passavam de R$ 50 bilhões - considerando seguros de obras que foram retirados do processo na Justiça - e as companhias citadas estavam cedidas em alienações fiduciárias como parte de reestruturações intermediárias que não solucionaram de forma definitiva o futuro.

https://valor.globo.com/

(27)

Valor Econômico

Caderno: Empresas, terça-feira 29 de

outubro de 2019.

Trechos de ferrovias

abandonados poderão voltar a

ser licitados

Por Renan Truffi e Daniel Rittner — De Brasília

Em discussão no Senado Federal, o novo marco legal das ferrovias deve prever a possibilidade de que trechos abandonados possam, novamente, ser ofertadas ao mercado, seja por concessão, autorização ou permissão. É o que prevê o relator do projeto, senador Jean Paul Prates (PT-RN), em parecer a ser apresentado nesta semana na Comissão de Infraestrutura (CI) da Casa.

O projeto é de autoria do senador José Serra (PSDB-SP) e tramita em caráter terminativo, o que dispensa aprovação do Plenário da Casa. Por isso, a discussão tem sido acompanhada de perto pelo Ministério da Infraestrutura, que negociou uma série de ajustes com o parlamentar petista. O objetivo tanto do Senado como do governo é fomentar o interesse por faixas de domínio que estão sem atividade há décadas.

“Uma das soluções é que, uma vez que seja verificado que um pedaço da malha

está abandonado, o próprio

concessionário possa dizer que está interessado em devolver, mas sem

24

maiores dificuldades, ou seja, para que ele possa devolver sem maiores traumas. [O concessionário possa tomar essa decisão] sem ter que pagar um montante ao Estado para devolver algo que já está há 40 anos abandonado”, disse Jean Paul.

Apesar de muitos desses trechos não terem mais trilhos ou qualquer tipo de estrutura, a proposta é considerada um avanço. Ela facilitaria o acesso às chamadas “faixas de servidão de áreas desapropriadas destinadas a construção e passagem das ferrovias. “Quase um terço do investimento em ferrovia é faixa de servidão. Essas negociações por desapropriações, por exemplo, consomem um terço dos recursos para um projeto novo de ferrovias. No caso das ferrovias abandonadas, vai se usar a mesma faixa de domínio, pode não se usar o trilho, bitola, porque talvez essas estruturas não existam mais, mas só de poder usar o mesmo domínio já é um grande avanço”, disse.

Um estudo feito pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), no ano passado, identificou que quase um terço dos trilhos no país não recebe um único trem por dia. Dos 28.218 quilômetros

de malha ferroviária, 8.600

quilômetros (31%) estão

completamente inutilizados. Desse total, cerca de 6.500 quilômetros já se deterioraram tanto que não podem ter

operações nem mesmo que as

concessionárias quisessem.

Segundo uma fonte oficial ligada à área de infraestrutura, o governo tem “80% de concordância” com a versão dada pelo senador Prates ao projeto. A ordem, neste momento, é acelerar a tramitação do projeto e não gastar tanta

(28)

energia em detalhes. Ajustes podem ser

negociados na Comissão de

Constituição e Justiça (CCJ), que deve analisar o texto em caráter terminativo no Senado, ou então durante a tramitação na Câmara.

Nos bastidores, o governo diz já ter recebido manifestações de interesse dos investidores estrangeiros em usar esse novo modelo em discussão para construir as chamadas “short lines” - pequenas ferrovias que operam em ramais secundários, a partir das

grandes linhas férreas.

Hipoteticamente, seria um ramal de curta extensão saindo da Norte-Sul para escoar os grãos de uma fazenda em Goiás ou saindo da Malha Paulista para atender a uma fábrica no interior de São Paulo. Nos Estados Unidos, existem 603 “short lines” em funcionamento. Elas representam 29% de toda a malha existente no país.

Além dessa mudança, o relator trata de regular o regime de autorização, como forma de facilitar e permitir à iniciativa privada a construção e a operação de suas próprias ferrovias.

Na prática, replicaria no sistema ferroviário uma experiência já bem sucedida nos portos, que receberam bilhões de reais de investimentos em novos terminais usando um regime mais flexível.

Nesse sentido, a proposta estabelece que as autorizações não terão vigência predefinida, sendo extintas somente por cassação, caducidade, decaimento, renúncia, anulação ou falência. Essa possibilidade de negócio será feita em regime de direito privado e realizada mediante autorização, precedida de chamada e anúncio públicos, explicou o senador.

25 O ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, gostaria de usar o modelo de autorização para levar adiante a Ferrogrão - um projeto de R$ 14 bilhões que ligaria Sinop (MT) a Miritituba (PA).

Como só existe um grupo

declaradamente interessado e há riscos

maiores do que em outros

empreendimentos, Tarcísio considera a autorização mais adequada do que uma concessão.

https://valor.globo.com/empresas/noticia/2019/10/2 9/trechos-de-ferrovias-abandonados-poderao-voltar-a-ser-licitados.ghtml

Referências

Documentos relacionados

horizontais para fechá-las na parte inferior. Nenhum tipo e fio devem ser utilizados para separar as colunas ou as linhas; h) no caso de tabelas grandes e que não caibam em um só

Em uma primeira etapa, os dados da pesquisa realizada por Tontini e Sant´Ana (2007) foram utilizados para classifi car os atri- butos segundo o Modelo Kano e identifi car

A pesquisa desenvolvida até o momento e quase em fase de conclusão versa sobre a relação entre teoria do conhecimento e educação na filosofia de Platão. O texto

NC 32 IGOR CRISTIANO DE ALMEIDA ROVER IMBITUVA/PR COMPENSADOS RELVAPLAC/ECO SUL MADEIRAS 115.200 1 NC 37 EDUARDO MARAFON SILVA UNIÃO DA VITÓRIA/PR MENE MOTOS / MARCAL

Segundo BEZERRA e NASCIMENTO (2005) Este modelo prevê tanto o cálculo do custo total das atividades que se originaram em função das escolhas dos fornecedores pela empresa (Fórmula

udj jeêcg}o ~jpxgmucjpdoexo udj jeêcg}o ~jpxgmucjpdoexo ~pfauehj% Ho ajxf# ejzuocj ~pfauehj% Ho ajxf# ejzuocj po}~f}xj afpjd pomfphjhj} po}~f}xj afpjd pomfphjhj} qophjho} auehjdoexjg}

- 6.000 baino handiagoa da, baina 8.000 baino txikiagoa. - Batekoen zifra milakoen zifra baino unitate bat handiagoa da. Soluzio bat baino gehiago daude.. 50 baino handiagoa al da?

O desenvolvimento de cancro de cólon é mais rápido na síndrome de Lynch, que ocorre em menos de 3 anos comparativamente aos cancros esporádicos, pois a sequência