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Clipping SCA. Data de Criação: 15/08/2019. Criado por: Biblioteca. Este material não pode ser publicado, reescrito, redistribuído ou transmitido

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Data de Criação: 15/08/2019 Criado por: Biblioteca

Clipping SCA

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Sumário das

Matérias:

Risco de recessão global eleva tensão nos mercados

Valor – 15 de agosto...01

Governo põe acordo com UE em risco, diz Blairo

Valor – 15 de agosto...04

Suécia é exemplo para as regras fiscais

Valor – 15 de agosto...08

Indústria pede adesão a solução temporária nas disputas da OMC

Valor – 15 de agosto...11

Estados omitem empenho para driblar LRF

Valor – 15 de agosto...13

MP do FGTS traz confissão de dívida pelas empresas

Valor – 15 de agosto...16

Câmara endurece lei sobre abuso de autoridade

Valor – 15 de agosto...19

Tensões políticas voltarão a pôr à prova o Mercosul

Valor – 15 de agosto...22

Elétrons em zigue-zague e neurônios alucinados

Valor – 15 de agosto...23

Petrobras disputará leilão de energia nova com gás natural

Valor – 15 de agosto...26

Embate entre Triunfo e União por Concer se aproxima

Valor – 15 de agosto...28

ArcelorMittal traz ao Brasil a venda customizada

Valor – 15 de agosto...30

Divisão de 'slots' em Congonhas foi política, diz Latam

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Movimento falimentar

Valor – 15 de agosto...34

OMC deve instalar hoje painel contra indianos

Valor – 15 de agosto...53

STJ define aplicação de juros em caso de desistência de imóvel

Valor – 15 de agosto...54

TJ-SP decide não julgar ICMS sobre software

Valor – 15 de agosto...56

Tribunal analisa tributação de hora alimentação

Valor – 15 de agosto...58

O IVA e o setor financeiro

Valor – 15 de agosto...60

Brasileiros acusam empresa de cobrar taxas 'ocultas' que encarecem visto para Portugal

Folha – 15 de agosto...63

Entenda como a MP da Liberdade Econômica muda vida de empresa e trabalhador

Folha – 15 de agosto...66

Medida pode ajudar a melhora qualidade da regulação no país

Folha – 15 de agosto...73

XP Investimentos é inocentada pela CVM por falhas em registros de clientes

Folha – 15 de agosto...75

Empresa é obrigada a trocar seguro por depósito judicial

OESP – 15 de agosto...76

Anac confirma alocação provisória de horários da Avianca em Congonhas

OESP – 15 de agosto...78

Bolsonaro assina decreto reduzindo IPI de jogos eletrônicos

(4)

Decreto autoriza Infraero a reduzir participação acionária em 4 aeroportos

DCI – 15 de agosto...81

Titular de cartório de imóveis não responde por atos lesivos de antecessor

Conjur – 15 de agosto...83

NY recebe mais de 400 ações no primeiro dia de vigência de lei sobre abuso sexual

Conjur – 15 de agosto...85

O STF e os limites à atuação do Coaf

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Valor Econômico

Caderno: Primeira Página, quinta-feira, 15 de agosto de 2019.

Risco de recessão global eleva

tensão nos mercados

Por André Mizutani e Gabriel Roca | De São Paulo

Dados negativos sobre o desempenho das economias da Alemanha, a maior da Europa, e da China, a segunda maior do mundo, alimentaram ontem temores de uma recessão global, provocando nova onda de nervosismo nos mercados. Bolsas de valores sofreram fortes perdas, moedas dos países emergentes perderam valor diante do dólar e taxas de juros recuaram face à expectativa de que as maiores economias adotem estímulos fiscais para reanimar a atividade. Nos EUA, um fato chamou a atenção: o juro do título de dez anos, emitido pelo tesouro americano, caiu abaixo do papel de dois anos durante o dia. No fim, os dois fecharam no mesmo nível (ver gráfico). Trata-se de uma anomalia, uma vez que, por embutir risco mais alto, títulos de prazos mais longos oferecem remuneração maior que os de curto prazo.

01

Temor de recessão volta a

derrubar mercados globais

Por André Mizutani e Gabriel Roca | De São Paulo

Novos dados econômicos

aprofundaram os temores de uma recessão global e levaram os mercados a mais um pregão de perdas expressivas. Desta vez, os indicadores decepcionantes vieram de China e Alemanha. E abateram os ativos mundo afora.

Em Wall Street, o que se viu foi uma venda generalizada de ações. O Dow Jones fechou a sua pior sessão do ano, em queda de 3,05%, a 25.479.42 pontos, enquanto o S&P 500 recuou 2,93%, a 2.840,60 pontos. O Nasdaq perdeu 3,02%. Afora o mercado acionário, o segmento de renda fixa se destacou no tenso dia: o juro do título do Tesouro dos EUA de dez anos ficou abaixo do de dois anos - o que sinaliza um crescente risco de recessão -, algo que não acontecia desde 2007.

O índice de volatilidade VIX, do Cboe, conhecido como "termômetro do medo" de Wall Street, disparou, encerrando a sessão em alta de 26,14%, a 22,10 pontos.

"O mercado de títulos está dizendo que estamos preocupados com o crescimento econômico global. A questão agora é se o mercado acionário é o próximo na fila para fazer a transição para precificar os receios com o crescimento", disse Jack McIntyre, gerente de portfólio da Brandywine Global, filiada à Legg Mason, ao Valor.

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O juro do Treasury de dez anos tocou a mínima de 1,574% durante a manhã de ontem, enquanto o papel de dois anos marcava 1,603%. O evento, conhecido como "inversão da curva de juros", normalmente reflete os temores de piora da economia e precedeu as últimas sete recessões. No fim do pregão em Nova York, os juros dos dois papéis já estavam mais próximos, em torno de 1,58%.

"Quer entremos em uma recessão ou não, este não é um bom sinal", disse Michael Farr, presidente da Farr, Miller & Washington. "Veremos os investidores moderando o seu entusiasmo com mais seriedade a partir de hoje [ontem]", disse Farr à "Dow Jones Newswires".

A divulgação de dados que apontaram retração da economia alemã no segundo trimestre e o pior crescimento da produção industrial chinesa em 17 anos foram o estopim para a volatilidade. Os mercados globais têm enfrentado, desde a segunda-feira passada, verdadeira montanha-russa, com intenso sobe e desce dos ativos ao sabor das notícias, tendo em seu epicentro a guerra comercial entre EUA e China e o receio de que uma recessão global está cada vez mais próxima.

02 Na Europa, o dia não foi diferente. O FTSE 100, índice de referência da bolsa de Londres, recuou 1,42%, enquanto o DAX, de Frankfurt, cedeu 2,19%, e o CAC 40, de Paris, caiu 2,08%. Os três índices já acumulam perdas no mês de cerca de 5%. O setor bancário encerrou o dia em queda de 2,60% no índice pan-europeu Stoxx 600, pressionado por nova queda do rendimento dos títulos de dez anos da Alemanha, que registraram novo recorde de baixa, fechando a -0,649%. No Brasil, todas as 66 ações do Ibovespa fecharam em baixa. O índice encerrou em queda de 2,94%, aos 100.258 pontos. O dólar subiu 1,76%, para R$ 4,0386.

Os olhos dos investidores se voltam agora ao Federal Reserve. O banco central americano não tem como mandato dar suporte ao mercado acionário, mas tem, desde dezembro do ano passado, respondido a quedas acentuadas das ações com sinalizações "dovish" (mais favoráveis a um afrouxamento monetário). Em sua última reunião de política monetária, o Fed cortou sua taxa referencial em 0,25 ponto percentual, mas o presidente da instituição, Jerome Powell, descartou que esse seria o "início de um ciclo de corte de juros".

"Isso foi um erro de comunicação do Fed", disse McIntyre. "Ele não deveria ter dito que não fará cortes consecutivos, pois ele não sabe disso. Agora o Fed está em uma situação difícil e eu acho que eles terão que ser bem 'dovish' em Jackson Hole [evento anual do Fed, agendado neste ano para agosto]. Eu acho que o Fed cortará os juros em 50 pontos-base em setembro", diz.

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Em meio à tensão em Wall Street, o presidente americano, Donald Trump, voltou a atacar o Fed. Por meio do Twitter, Trump chamou Powell de "sem noção" e disse que "a China não é o nosso problema [...] o nosso problema é o Fed".

Os futuros do ouro, outro tradicional ativo de proteção, fecharam a sessão de ontem no maior patamar desde abril de 2013, ao subir 0,90%, a US$ 1.527,80 por onça-troy. As incertezas também derrubaram os preços do petróleo. O contrato WTI fechou em queda de 3,27%, a US$ 55,23 por barril, enquanto o Brent perdeu 2,96%, a US$ 59,48.

https://www.valor.com.br/financas/6391507/risco-de-recessao-global-eleva-tensao-nos-mercados

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Valor Econômico

Caderno: Primeira Pagina, quinta-feira, 15 de agosto de 2019.

Governo põe acordo com UE

em risco, diz Blairo

Por Cristiano Zaia | De Brasília

Ex-ministro da Agricultura, Blairo Maggi entende que o discurso "agressivo" do governo Bolsonaro na área ambiental tem combustível para cancelar o acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia, concluído em 28 de junho. Blairo, acionista da Amaggi, maior trading nacional de agronegócios, está há seis meses "afastado voluntariamente" da política e dos negócios.

Em entrevista ao Valor , ele disse que a "confusão" disseminada na comunidade internacional pela retórica do presidente Jair Bolsonaro e seu staff poderá levar o agronegócio brasileiro à "estaca zero", após anos de esforço para imprimir o meio ambiente como marca dos nossos alimentos. "Não duvido que a gritaria geral da Europa seja para não fazer o acordo. Estamos pagando preço muito alto e acho que teremos problemas sérios. Como exportador te digo: as coisas estão apertando cada vez mais." O ex-ministro, que já ganhou o prêmio "motosserra de ouro" do Greenpeace quando governava o Mato Grosso, eleitor de Bolsonaro, afirma que o Brasil deve reivindicar soberania sobre seu patrimônio ambiental, mas de forma diplomática.

04

Retórica do governo levará

agronegócio à estaca zero, diz

Blairo

Por Cristiano Zaia | De Brasília

Blairo Maggi: "O governo não fez nenhuma mudança, não facilitou a vida, no entanto estamos pagando um preço alto"

Por seis meses "afastado voluntariamente" da política e dos negócios da Amaggi, maior trading do agronegócio de capital nacional da qual é acionista, o ex-ministro da Agricultura Blairo Maggi afirma que o discurso "agressivo" do governo Jair Bolsonaro na área ambiental tem combustível suficiente para cancelar o acordo de livre-comércio entre Mercosul e União Europeia, anunciado em 28 de junho.

Blairo disse ao Valor que a "confusão" que a retórica de Bolsonaro e seu estafe vêm disseminando na comunidade internacional, se não for contida, levarão o agronegócio brasileiro à "estaca zero", após anos de esforço para imprimir o ambiente como marca dos alimentos vendidos no mercado externo.

E, ainda que não chegue ao ponto de jogar fora uma negociação que durou 20 anos, na leitura de Blairo a

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insatisfação do bloco europeu com o Brasil neste momento, sobretudo vinda da França, é tão grande que, no mínimo, pode atrasar mais ainda a entrada em vigor do acordo, bem mais do que os dois anos previstos para que seja ratificado pelo Parlamento de todos os países-membros dos dois blocos.

"Temos uma relação muito complicada com a Europa e podemos ter mais fechamentos de mercado. Não duvido nada que a gritaria geral que a Europa está fazendo seja para não fazer o acordo", admitiu Blairo. "Estamos pagando um preço muito alto e acho que teremos problemas sérios. E como exportador te digo: as coisas estão apertando cada vez mais", acrescentou o ex-ministro de Michel Temer.

Para Blairo, que já ganhou o prêmio "Motosserra de Ouro" do Greenpeace em 2005, ainda em seu primeiro mandato como governador de Mato Grosso, o Brasil deve reivindicar soberania sobre seu patrimônio ambiental, mas de forma diplomática, compondo com outros países.

"Conseguimos conciliar discurso de preservação com produção e conseguimos avançar. E o Brasil já tinha avançado, mas é apenas mais um 'player' no mercado global."

Por outro lado, Blairo, que foi eleitor de Bolsonaro e chegou a ser cogitado para permanecer no Ministério da Agricultura no novo governo, mas foi descartado após declarar que era contrário à fusão dos ministérios da Agricultura e Meio Ambiente, comemora que a atual administração não aprovou qualquer lei para flexibilizar ou mudar o licenciamento ambiental ou regras para afrouxar a fiscalização ambiental, como indica o

05 discurso do atual presidente. A seguir, os principais trechos da entrevista: Valor: Como o senhor vê a reação

negativa no cenário internacional ao discurso do governo Bolsonaro na área ambiental?

Blairo Maggi: Uma verdadeira confusão. O governo não fez nenhuma mudança aqui internamente, não facilitou a vida de ninguém, no entanto estamos pagando um preço muito alto. Acho que teremos problemas sérios. Não tem essa que o mundo precisa do Brasil. Talvez precisem dos agricultores brasileiros em outros países, mas somos apenas um "player" e, pior: substituível. O mundo depende de nós agora, mas daqui a pouco se inverte e ficamos chupando dedo.

"Não duvido nada que a gritaria geral que a Europa está fazendo seja para não fazer mais o acordo com o Mercosul"

Valor: A retórica do governo só

desgasta a imagem do Brasil lá fora ou pode subir a régua de exigências para as nossas exportações de commodities agrícolas?

Blairo: Como exportador que sou, lhe digo: as coisas estão apertando cada vez mais. Há anos o Brasil vinha defendendo preservação com produção, tínhamos avançado bastante, já tínhamos ganhado confiança do mercado, mas com esse discurso [do governo], voltamos à estaca zero. E aqui faço uma analogia:

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o Brasil tinha subido no muro e passado a perna para descer do outro lado, agora fomos empurrados de volta e para bem longe do muro. Não veja como crítica feroz, mas sim como um alerta.

Valor: Existe risco imediato de

importadores, como a União

Europeia, retaliarem o Brasil?

Blairo: Podemos sim ter fechamento de mercado. Temos uma relação muito complicada com a Europa. Para criarem mais mecanismos para dificultar a entrada de carne de frango ou outros produtos do Brasil, é dois tempos. E depois para levantar isso é muito difícil, todo mundo está vendo. Valor: Acha que esse incômodo dos

europeus com o discurso ambiental do governo chega a prejudicar de alguma forma o acordo Mercosul-União Europeia, por exemplo?

Blairo: No acordo tem uma cláusula de precaução que permite que a Europa barre importações do Brasil. Essas confusões ambientais poderiam criar uma situação para a UE dizer que o Brasil não estaria cumprindo as regras. E não duvido nada que a gritaria geral que a Europa está fazendo seja para não fazer o acordo. A França não quer o acordo. Talvez isso seja aproveitado para não se chegar ao acordo. Ou pode demorar mais tempo para o Parlamento Europeu ratificar o acordo - três, cinco anos.

Valor: O senhor já ganhou no

passado o rótulo de "Motosserra de Ouro" pelo desmatamento em Mato Grosso. Que lições daria ao presidente Bolsonaro?

Blairo: Fui criticado na época mesmo, mas depois chamei os agricultores, frequentei fóruns mundiais de ambiente e comecei a

06 estabelecer algumas metas, parâmetros para a questão ambiental e nos últimos anos conseguimos [setor de agronegócios] conciliar discurso de preservação com produção. E avançamos. Agora, o Brasil já tinha avançado. O problema é que o "agro" é sempre o mais prejudicado num discurso que não é adequado. E o discurso do governo está distante da realidade.

Valor: Por quê?

Blairo: Quando estou exportando soja, milho, eles [importadores] querem saber mais do que nunca a origem de certificação do meu produto. Felizmente, no nosso caso, a área de soja e milho em Mato Grosso está muito certinha nos últimos anos e cumprimos todas as exigências, mas elas estão mais rigorosas do que há dois anos, por exemplo. Os importadores, principalmente europeus, vêm visitar mais as lavouras, a produção, e querem saber mais como produzimos. E, se plantamos em área desmatada, eles não compram. Então o discurso só atrapalha.

Valor: E quanto ao Fundo Amazônia, o sr. também defende que ele seja mantido?

Blairo: O Brasil deve reclamar a soberania sobre o ambiente, mas tem como compor com outros países. Acho que o país não precisa do dinheiro do Fundo Amazônia, não resolve nada, só ficamos em posição de débito. Quase nada chega a quem interessa, quem precisa. Tudo vira viagem, estudos, relatórios, congressos. Vá no interior da Amazônia em qualquer município e pergunte se alguém recebeu algum benefício por abrir mão do "progresso" em nome da preservação. Agora, sou defensor de um fundo

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mundial para repassar uma saúde e educação de qualidade a esses brasileiros da floresta. Um fundo que pudesse fazer com que o dinheiro chegasse na ponta para quem abre mão do desmatamento. Ad pessoas que estão na beira do Rio Amazonas, por exemplo, não ganham nada. Valor: Apesar da reação internacional, a bancada ruralista do Congresso anunciou que em breve a Câmara deve pautar o projeto que dispensa licenciamento ambiental para o agronegócio. Isso não pode dificultar mais ainda para a imagem do setor?

Blairo: O que eu acho é que o governo está com um discurso agressivo, mas não tomou nenhuma atitude até o momento. Até agora não tivemos nada de concreto, de ruim. Não mudou o licenciamento no país, não afrouxou regra nenhuma de fiscalização. No projeto sobre o licenciamento, e eu conheço tudo que está ali, não tem nada que aumente desmatamento, ele dá celeridade para o processo, ele dispensa licenciamento para nova estrada. Não tem uma palavra no texto que prejudique o licenciamento ambiental no país.

Valor: E quanto ao desmatamento,

que vem aumentando? O

agronegócio não tem

responsabilidade?

Blairo: Mais uma vez o agronegócio brasileiro apanha sem nenhuma mudança ter ocorrido de fato. Não mudamos os processos internamente. O governo não deixa de ter razão em algumas coisas e os dados sobre desmatamentos têm algumas incorreções sim, mas o problema é a forma que ele expõe isso. Na época que fui governador, fiz um embate gigante com a então ministra do Meio

07 Ambiente, Marina Silva. Ela disse que existia um desmatamento gigante em Mato Grosso. Então visitamos todos os pontos de desmatamento apontados pelo governo. Fui ao Palácio do Planalto, reclamei com o Lula [ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva]. Mostramos por satélite que vários desmatamentos alegados na verdade estavam em áreas de rocha, degradadas, fora de propriedade. Valor: Diante dessa forma errada de

se comunicar, o Ministério da

Agricultura tem mais

responsabilidade de evitar

retaliações comerciais?

Blairo: Fiquei seis meses voluntariamente afastado, não sei o que está acontecendo lá desde que saí de Brasília. Mas o que ouço é que a ministra [Tereza Cristina] está indo muito bem, ela consegue andar no meio desse radicalismo todo.

https://www.valor.com.br/brasil/6391459/retorica-do-governo-levara-agronegocio-estaca-zero-diz-blairo

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Valor Econômico

Caderno: Brasil, quinta-feira, 15 de agosto de 2019.

Suécia é exemplo para as

regras fiscais

Por Ribamar Oliveira

A comissão criada pelo relator da proposta de emenda constitucional (PEC) 438/18, deputado Felipe Rigoni (PSB-ES), para definir um novo desenho de regras fiscais para o Brasil debateu, recentemente, o modelo utilizado pela Suécia. Desde 1997, o governo daquele país adota uma política fiscal que tem um limite para a dívida pública bruta - a âncora do regime - uma meta fiscal e um teto para os gastos de base móvel.

Há um reforço importante às regras: a legislação adotada pela Suécia exige que o governo adote todas as medidas necessárias para evitar que o teto de gastos seja descumprido, inclusive encaminhando ao Parlamento proposições legislativas que julgar necessárias.

Quem tiver interesse em conhecer mais sobre o modelo de regras fiscais daquele país pode acessar o Estudo Técnico nº 24/2018, disponível na página da Comissão Mista de Orçamento do Congresso Nacional, de autoria do economista Hélio Tolini, ex-secretário da Secretaria de Orçamento Federal (SOF) e consultor da Comissão de Orçamento da Câmara dos Deputados.

08

Limite para a dívida pode ser a âncora da política fiscal

A Suécia enfrentou uma grave crise econômica no início da década de 1990 que derrubou o Produto Interno Bruto (PIB) do país por três anos

consecutivos, aumentou o

desemprego e provocou déficits nominais do setor público que excederam 10% do PIB. Para enfrentar a situação, Tolini informa, em seu estudo, que o governo sueco introduziu metas fiscais, fez a reforma da Previdência, a reforma tributária, deu independência ao banco central e instituiu o regime de metas para a inflação.

Uma agenda semelhante, é bom que se diga, à que o governo brasileiro está tentando executar neste momento, em que o país continua com altas taxas de desemprego e com a economia com crescimento anêmico, depois de forte recessão. Como a maioria dos países membros da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), a Suécia utiliza um quadro das despesas de médio prazo (QDMP) como um instrumento básico de sua política fiscal. O quadro é usado pelo governo sueco para realizar o seu planejamento fiscal de médio prazo, fixando o teto de gastos de caráter impositivo com três anos de antecedência e subtetos de caráter indicativo para 27 áreas temáticas, como explica Tolini em seu estudo. A âncora da política fiscal do governo sueco é o limite para a dívida bruta consolidada que, para 2019, foi fixada em 35% do PIB. Se a dívida se desviar, para cima ou para baixo, mais de

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cinco pontos percentuais do PIB, o governo é obrigado a apresentar uma comunicação ao Parlamento, explicando a causa do desvio e apresentando um plano de como pretende retornar a dívida para o patamar determinado.

Ao elaborar a proposta orçamentária, o governo sueco trabalha com um teto de gastos (que exclui a despesa com os juros da dívida) para um período de quatro anos, sendo que o valor definido para o terceiro ano (T+2) é considerado impositivo. Ou seja, não pode ser alterado nos novos cenários a serem apresentados em anos seguintes. Para o quarto ano, o valor é apenas indicativo.

Os novos cenários econômicos são anualmente analisados. Com base neles, o governo define o teto de gastos para outro período de quatro anos. Há, portanto, a possibilidade de ajustar o valor do teto ao fim de três anos. O objetivo do modelo é evitar pressões políticas de curto prazo e dar uma previsibilidade para a trajetória da despesa. As metas de resultado primário são fixadas também para o período de quatro anos. Tanto o teto de gastos como a meta de resultado primário são fixados para manter a dívida bruta na trajetória definida. O modelo sueco prevê também a existência de uma "margem orçamentária". Ou seja, uma reserva de recursos que não é distribuída entre os órgãos. Ela serve para evitar alterações no teto de gastos por causa de incertezas na evolução das despesas provocadas por mudanças da conjuntura econômica ou erros de estimativas. A reserva varia de 1% a 3% do valor do teto, dependendo do ano.

09 Há muita semelhança entre os instrumentos fiscais disponíveis e os processos orçamentários da Suécia e do Brasil. A semelhança mais evidente, segundo Tolini, é a

estruturação do processo

orçamentário em duas etapas distintas. Aqui, a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) antecede a proposta orçamentária. Na Suécia, uma Lei de Política Fiscal, apresentando o cenário macrofiscal, é aprovada antes da lei orçamentária. Mas há, como é evidente, grandes diferenças entre os dois modelos. O teto de gasto no Brasil foi fixado para o período de dez anos, com os valores anuais sendo corrigidos pela inflação. As medidas para o ajuste das contas públicas só podem ser adotadas depois que o teto for descumprido, o que, segundo a área técnica, é algo impossível de acontecer. O teto só será descumprido no momento em que todas as despesas discricionárias (custeio e investimento) forem

cortadas, o que é uma

impossibilidade, pois isso paralisaria totalmente a administração pública. A segunda diferença marcante entre o modelo sueco e o brasileiro é que, no marco legal do Brasil, não existe uma determinação para que as metas fiscais sejam estabelecidas de forma compatível com uma trajetória pré-definida para a dívida bruta. Em seu artigo 30, a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) determinou que o Senado aprovasse limites globais para o montante da dívida consolidada de União, Estados e municípios.

O Senado só aprovou para os Estados e municípios, pois o governo federal nunca aceitou um limite para a dívida da União. A LRF também determinou que fossem aprovado limite para o montante da dívida mobiliária federal e que ele fosse compatível com o

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limite para a dívida consolidada. Isto nunca foi feito.

Na comissão criada pelo deputado Rigoni, que conta com participação de representantes do Ministério da Economia, um princípio de entendimento começou a ser esboçado. A necessidade de estabelecer um limite para a dívida, como âncora da política fiscal, parece ser o caminho a ser proposto, assim como a obrigação de o governo adotar medidas de ajuste para que o teto de gastos seja cumprido.

Ribamar Oliveira é repórter especial e escreve às quintas-feiras E-mail: ribamar.oliveira@valor.com.br https://www.valor.com.br/brasil/6391481/suecia-e-exemplo-para-regras-fiscais Retorne ao índice 10

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Valor Econômico

Caderno: Brasil, quinta-feira, 15 de agosto de 2019.

Indústria pede adesão a

solução temporária nas

disputas da OMC

Por Assis Moreira | De Genebra

Reginaldo Arcuri, presidente da CEB: apoio é importante para garantir acesso interino a recurso de apelação na OMC

A Coalizão Empresarial Brasileira (CEB) pediu nesta semana a adesão do governo de Jair Bolsonaro a uma iniciativa da União Europeia (UE) e do Canadá para atenuar o impasse no mecanismo de solução de disputas da Organização Mundial do Comércio (OMC) e evitar assim "perdas bilionárias" ao Brasil. Para a CEB, grupo secretariado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), o apoio brasileiro se justifica pelo risco iminente de paralisia do Órgão de Solução de Controvérsias (OSC), diante dos bloqueios sucessivos dos EUA à nomeação de novos juízes ao Órgão de Apelação (OA), "e pelo potencial enorme e bilionário de perdas ao Brasil, caso o mecanismo não esteja em seu pleno funcionamento".

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Em dezembro, restará só um dos sete juízes do Órgão de Apelação, espécie de corte suprema do comércio internacional. Os EUA querem uma ampla reforma do sistema, estimando que atualmente os juízes fazem interpretações excessivas das regras e criam novas obrigações aos países, indo bem além do que foi negociado em rodadas multilaterais. Diante do impasse, a União Europeia e o Canadá concordaram agora em resolver suas disputas por meio de um mecanismo de arbitragem. Esperam que os outros países na OMC sigam essa alternativa legal e evitem resolver os conflitos através de medidas unilaterais. Na arbitragem, os juízes devem ser escolhidos por sorteio entre antigos membros do Órgão de Apelação. Os procedimentos devem seguir, tanto quanto possível, aqueles do Órgão de Apelação.

Até agora, não houve entusiasmo entre a maioria dos países na OMC por essa solução temporária. Negociadores apontam insegurança jurídica. Em vez de decisão multilateral sobre uma disputa, a arbitragem é bilateral, não tem decisão obrigatória e enfraquece a legitimidade geral do sistema.

No entanto, em carta ao ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, o presidente da CEB, Reginaldo Arcuri, considera que o apoio do Brasil à proposta europeia torna-se necessário para o país garantir pelo menos o acesso interino a um recurso de apelação na OMC.

Argumenta que o Brasil é o quinto maior usuário do mecanismo de solução de controvérsias da OMC e "figura como o país mais ofensivo entre as maiores economias mundiais". Em 67% das disputas (33 de um total de 49), o Brasil foi o denunciante, questionando medidas

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adotadas por terceiros mercados que afetariam exportações brasileiras.

Mais importante ainda, na visão da CEB, é que o Brasil obteve vitórias em casos envolvendo transações que somam US$ 9,5 bilhões desde 1995, ou US$ 633 milhões por caso, "o que posiciona o Órgão de Solução de Controvérsias da OMC como estratégico para a política comercial brasileira". Os setores que ganharam disputas na entidade incluem aviação civil, siderurgia, algodão, frango, carne bovina e açúcar.

A CEB observa que o Brasil tem atualmente cinco casos como demandante em andamento na OMC, iniciados nos últimos cinco anos. "O potencial de perdas para o país, caso o sistema entre em colapso e não seja possível colher os frutos dessas disputas, é de US$ 7 bilhões para o país, ou US$ 1,4 bilhão por caso", diz Arcuri na carta ao Itamaraty.

A CEB aponta também interesses defensivos na medida em que políticas industriais relevantes para o desenvolvimento econômico do país são questionadas por terceiros países na OMC. "Nesses casos, também é fundamental o pleno funcionamento do sistema de solução de controvérsias para que políticas domésticas que são compatíveis com as regras multilateral possam ser preservadas", diz.

O acordo Canadá-UE sobre arbitragem abre o terreno para o Brasil também solicitar aos canadenses o mesmo tipo de mecanismo no seguimento do conflito envolvendo subsídios recebidos pela Bombardier e que afetariam vendas da Embraer. Como já aceitaram a arbitragem com os europeus, os canadenses dificilmente teriam como recusar o mesmo recurso na disputa com o Brasil. https://www.valor.com.br/brasil/6391457/industria-pede-adesao-solucao-temporaria-nas-disputas-da-omc

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Valor Econômico

Caderno: Brasil, quinta-feira, 15 de agosto de 2019.

Estados omitem empenho para

driblar LRF

Por Edna Simão | De Brasília

Os Estados deixaram de empenhar e pagar R$ 11,4 bilhões em despesas no ano passado para driblar a Lei de Responsabilidade do Fiscal (LRF) e, consequentemente, não ser penalizados. A LRF veda a inclusão de despesas empenhadas sem a correspondente disponibilidade de caixa.

O Boletim de Finanças dos Entes Subnacionais, divulgado pelo Tesouro Nacional, mostra que a ausência dessa despesa inflou o resultado fiscal dos Estados, que apurou superávit de R$ 5,6 bilhões, sendo que, contabilizando esses dados, os entes tiveram na realidade um déficit de R$ 5,8 bilhões. Um indicativo de que os Estados estão escondendo alguns dados é que houve crescimento de 41% na rubrica Demais Obrigações Financeiras do Demonstrativo da Disponibilidade de Caixa e dos Restos a Pagar de 2017 para 2018, que passaram de R$ 59 bilhões para R$ 82 bilhões no agregado dos Estados.

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O secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, ressaltou que, apesar de as contas estarem deficitárias (e não positivas), houve melhora em relação a 2017, quando o rombo foi de R$ 13,8 bilhões. O problema é que o desempenho melhor está vinculado ao aumento da arrecadação, principalmente, de royalties, o que não deve é sustentável ao longo do tempo.

"A suposta melhora do resultado primário deve ser analisada com cautela, pois veio exclusivamente do crescimento da receita muito acima do crescimento do PIB, um padrão de ajuste que não deve continuar ao longo dos próximos anos, a não ser que os Estados façam a opção explícita por aumento de carga tributária nos próximos anos", disse Mansueto.

Os Estados precisam adotar medidas de redução de gastos, principalmente de pessoal. Só em 2018, segundo dados do Tesouro, o déficit dos governos estaduais com pagamento de aposentadorias e pensões passou de R$ 93,9 bilhões em 2017 para R$ 101,2 bilhões, alta nominal de 8% e, conforme Mansueto, sem perspectiva de estabilização se os Estados não aprovarem uma reforma da Previdência.

Nesse contexto de deterioração das finanças estaduais, Mansueto disse que o pacto federativo precisa ser negociado com cautela para que o aumento de transferências federais para Estados e municípios não seja usado para pagamento de gasto com pessoal e de

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custeio, como já ocorreu no passado, o que prejudicou ainda mais as contas estaduais. "Esse debate tem que ser conduzido de forma muito cuidadosa para evitar que mais transferências se transformem em aumento salarial", contou.

Ele lembrou que a forte expansão do crédito para Estados e municípios, com o aval do Tesouro, somou mais de R$ 150 bilhões entre 2010 e 2014. Os recursos acabaram usados em gastos com pessoal, e não para aumento de investimento. Entre 2001 e 2009, disse, o crédito novo para Estados e municípios ficou em R$ 33 bilhões.

No seminário realizado para divulgar o Boletim de Finanças dos Entes Subnacionais, o secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues, destacou que o pacto federativo será um dos grandes temas prioritários do governo neste semestre. "O ministro Paulo Guedes tem falado em um redesenho do pacto federativo, incluindo transferências, mas é preciso pensar em conjunto como esse recurso será gasto", disse.

Entre os pontos do pacto, segundo o secretário, estão: a discussão da cessão onerosa, o plano de fortalecimento de Estados e municípios, o plano de equilíbrio fiscal, a PEC do Pacto Federativo e o redesenho do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) e dos fundos constitucionais.

Das questões que serão analisadas em conjunto com Estados e municípios, o secretário citou a Lei Kandir, a mudança dos Fundos de Participação (FPE e FPM) e a renegociação das dívidas estaduais. "A renegociação de 2015 e 2016 teve, tanto em termos de extensão de prazo, como de redução de juros, perfil muito favorável aos entes subnacionais, agora a situação é

14 diferenciada e não permite renegociação como aquela de 2015."

Na agenda prioritária do governo para 2019, citou ainda a cessão onerosa, que deve render R$ 106,6 bilhões à União, sendo cerca de R$ 73 bilhões líquidos após pagamento à Petrobras, dos quais R$ 10,9 bilhões (15%) irão para os Estados e outros 15% aos municípios. Já para os próximos três anos, a prioridade será o chamado "Plano Mansueto" de equilíbrio fiscal.

O consultor do Senado e pesquisador associado ao Insper Marcos Mendes destacou que estamos num momento que não dá para errar na discussão do pacto federativo para que são seja perdida a "rédea" do controle fiscal, e os Estados coloquem o "pé na jaca" como ocorreu a partir de 2018. "Se existe pacto federativo a ser feito, é de tomada de medidas duras de ajuste fiscal num primeiro momento", disse Mendes. "Principal problema fiscal é a relação federativa e cada um falando uma língua diferente."

O chefe-adjunto de divisão de assuntos fiscais do FMI, Paulo Medas, ressaltou que é essencial criar incentivos apropriados para promover equilíbrio das contas públicas. Ele destacou que no Brasil os incentivos atuais contribuem para o endividamento excessivo, além disso dava-se mais incentivos para os entes com menos capacidade de pagamento. "Estados e municípios só deveriam receber um benefício se cumprissem certas condições", disse Medas referindo-se ao Plano de Recuperação Fiscal. "O custo do crédito é menor para Estados com pior capacidade de pagamento. É o contrário do que se espera. Estamos a distorcer todos os incentivos", ressaltou.

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Já o diretor-executivo da Instituição Fiscal Independente (IFI), Felipe Salto, disse que é preciso ter algum tipo de contrapartida na negociação do pacto federativo para que o ajuste fiscal não fique para depois. "O controle da despesas é essencial", afirmou. Segundo ele, os recursos da "cessão onerosa não são uma nave que caiu do céu para nos salvar" e por isso é preciso utilizar esses recursos para ajustar as contas. (Colaborou Thais Carrança, de

São Paulo)

https://www.valor.com.br/brasil/6391467/estados-omitem-empenho-para-driblar-lrf

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Valor Econômico

Caderno: Brasil, quinta-feira, 15 de agosto de 2019.

MP do FGTS traz confissão de

dívida pelas empresas

Por Fabio Graner e Joice Bacelo | De Brasília

A medida provisória da liberação do FGTS (MP 889) traz uma mudança que estabelece que as empresas ao realizarem os procedimentos para o recolhimento dessa obrigação façam a chamada "homologação automática". Nela, há uma confissão de que o recolhimento é devido, mesmo que a empresa não efetue o pagamento total. A nova sistemática deve permitir não só melhor fiscalização pela Secretaria de Trabalho, mas também mais celeridade para o trabalhador enxergar se os recursos estão sendo depositados e eventualmente acionar a justiça. Nesse sentido, a medida provisória também traz a consolidação de uma prática na qual se interrompe o prazo prescricional de cinco anos do FGTS quando há denúncia de falta de recolhimento. "Na linha da preservação da capacidade de investimento do FGTS, a medida

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aprimora a arrecadação das contribuições, reduzindo a evasão e o inadimplemento dessa obrigação trabalhista", diz a exposição de motivos da MP.

Um interlocutor que participou da elaboração da medida explica que o dispositivo que consta no artigo 17-A abre o caminho para que, a partir de 2020, a operação de envio dos dados e o recolhimento do FGTS sejam feitos de forma individualizada, o que permitirá ao trabalhador saber com defasagem de um ou dois dias se o seu recurso está sendo pago, diferentemente do que ocorre hoje, quando às vezes demora até dois meses para se poder verificar se houve o recolhimento.

A mesma fonte explica que a medida deve tornar as condições de competição entre as empresas mais equânimes, pela menor sonegação, e isso pode abrir espaço para no futuro ocorrer redução dos encargos envolvidos no FGTS.

Atualmente, as empresas fazem o repasse para Caixa Econômica Federal, que é gestora do fundo, de toda a sua folha de pagamento e cabe ao banco fazer a segregação dos valores. Se houver insuficiência, não há uma confissão explícita da companhia que enviou os dados e os recursos. Com a nova sistemática, que se aproveitará do E-social, o sistema se assemelhará ao que ocorre com o Imposto de Renda Pessoa Física, que só pode ser transmitido à Receita após o contribuinte reconhecer o valor devido e emitir o Darf, mesmo que ele não seja pago depois.

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A MP também resolve uma questão jurídica sobre o prazo prescricional. Com a celeridade no depósito, a expectativa é que os trabalhadores e também os órgãos de controle

acompanhem melhor se o

recolhimento está sendo feito e as falhas sejam comunicadas mais imediatamente. A abertura de processo interrompe o prazo, que o STF fixou em cinco anos, conforme expresso no artigo 23-A.

"Há, nesse panorama, grande melhoria na relação jurídica entre Estado e administrado, com significativa redução de custos de transação. O Estado só agirá de ofício quando o empregador ou terceiro obrigado não prestar as referidas declarações, ou as fizer com erros e omissões, ou ainda com o intuito de fraude ou sonegação", diz a exposição de motivos. "Em prol do trabalhador, a medida prevê, no caso do lançamento do FGTS, que o prazo prescricional seja interrompido com o início do respectivo procedimento administrativo ou medida de fiscalização", completa.

Advogados ouvidos

pelo Valor reconhecem que as medida trará maior segurança ao sistema de arrecadação do FGTS, inclusive com impactos positivos na arrecadação do fundo. Mas há também ponderações sobre risco de aumento na burocracia das empresas e dificuldades com o reconhecimento mais imediato de dívidas que talvez elas não tenham capacidade de saldar tão rapidamente, apesar de haver possibilidade de parcelar os débitos. Para a advogada Christiane Valese, coordenadora da área tributária do escritório Rayes & Fagundes, a medida tende a facilitar a fiscalização do FGTS. Da forma como é hoje, ela diz, em que as empresas informam

17 somente a base de cálculo e o valor total do FGTS recolhido, a fiscalização acaba ficando presa à do INSS.

"Se a empresa está pagando INSS

sobre uma base errada,

consequentemente estará pagando o FGTS sobre uma base errada. Mas não há uma fiscalização voltada diretamente ao FGTS", afirma a advogada. "Com a mudança, no entanto, ficará muito mais visível quais são as verbas trabalhistas que estão sofrendo a incidência do FGTS e isso, consequentemente, vai facilitar a fiscalização desses valores", acrescenta a tributarista.

Mas, para ela, é provável que isso gere mais burocracia para as empresas. "Porque se está criando nova obrigação acessória", frisou Christiane. O impacto, ela pondera, vai depender do formato que será exigido - e que não consta na MP. "Se essa obrigação vier no mesmo formato e mesmo molde que permita à empresa utilizar o arquivo que ela já usa para a transcrição do E-Social, talvez seja mais fácil. Mas ainda não temos essa informação."

Richard Edward Dotoli, sócio da área tributária do Costa Tavares Paes Advogados, explica que o artigo 23-A, que estabelece a interrupção da prescrição, cria uma espécie de "prazo decadencial" aos moldes aplicados aos tributos (FGTS é direito do empregado, e não tributo).

O dispositivo prevê uma interrupção da contagem do prazo prescricional, mas não deixa claro quando ela se encerra, especialmente nas hipóteses da entrega da declaração. Isso pode "eternizar" o prazo prescricional, interpretação que provavelmente será levada ao Poder Judiciário a partir do momento em que o órgão gestor do FGTS ou o próprio Ministério do

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Trabalho deixar de fazer a fiscalização ou a cobrança, diz o advogado.

"A princípio, a grande discussão que enfrentaremos será com relação à possibilidade da lei dispor sobre a interrupção do prazo prescricional que foi estabelecido na Constituição", frisa.

Para Marynelle Leite, advogada da área trabalhista do Oliveira&Belém

Advogados, o lançamento

individualizado "por homologação", a princípio, parece tornar mais claras as informações enviadas à Receita Federal e, por oportuno, ao trabalhador. Mas não é só isso. Para as empresas adimplentes, a comprovação do pagamento também terá um viés mais transparente, até mesmo para eventual necessidade de comprovação judicial dos valores pagos a título de FGTS.

Ela explica que, se por um lado há maior segurança jurídica, por outro, para as empresas inadimplentes, esta declaração representará a obrigatoriedade de reconhecimento do débito, garantindo aos trabalhadores o recolhimento da verba fundiária. https://www.valor.com.br/brasil/6391463/mp-do-fgts-traz-confissao-de-divida-pelas-empresas Retorne ao índice 18

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Valor Econômico

Caderno: Politica, quinta-feira, 15 de agosto de 2019.

Câmara endurece lei sobre

abuso de autoridade

Por Raphael Di Cunto, Marcelo Ribeiro e Isadora Peron | De Brasília

Com a Operação Lava-Jato sob contestação, a Câmara dos Deputados aprovou ontem projeto de lei para endurecer a legislação sobre abuso de autoridade. O texto, que define 30 condutas que serão consideradas crime, vale para servidores e agentes públicos de todos os Poderes, mas foi elaborado visando o Judiciário e Ministério Público. A votação foi simbólica.

A votação, antecipada pelo Valor PRO na semana passada, ainda não tinha acabado até o fechamento desta edição, faltava a análise de três emendas, mas o acordo entre a maioria dos partidos era aprovar o projeto da forma como chegou do Senado para encaminhá-lo direto à sanção presidencial. O PSL quer pressionar o presidente Jair Bolsonaro a vetar alguns artigos. A proposta está parada na Câmara há dois anos, mas saiu direto para o plenário, com a aprovação de um requerimento de urgência à tarde e a votação à noite. A pressa ocorreu porque os deputados avaliaram que o cenário era ideal, com as figuras de frente da Lava-Jato com prestígio abalado após a divulgação de conversas particulares.

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O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), negou que a votação seja uma "revanche contra outros Poderes" e disse que optou por esse projeto, de 2017, e não pelo texto votado pelo Senado há dois meses dentro das 10 Medidas Contra a Corrupção porque o segundo tratava apenas de juízes e do Ministério Público. "Entendemos que esse texto atinge, de forma democrática, todos aqueles que podem cometer abuso de autoridade", disse.

Já o líder do Cidadania, deputado Daniel Coelho (PE), criticou a pressa e disse que o projeto visa o Ministério Público e Judiciário. "Não temos, como deputados, prerrogativas para infringir os crimes previstos nesta lei", afirmou. A deputada Carla Zambelli

(PSL-SP) afirmou que as

investigações em curso serão atrapalhadas: "O projeto proíbe o flagrante preparado, muito usado em casos de pedofilia infantil e de tráfico de drogas."

Há outra diferença significativa: as 10 Medidas Contra a Corrupção, além do abuso de autoridade, endurecem a punição para casos de corrupção e tornam crime o caixa dois de campanha eleitoral. A votação teve apoio de quase todos os partidos, do PT ao DEM, e apenas PSL, Novo,

Cidadania e Podemos se

manifestaram contra a proposta. O PSL, contudo, que poderia pedir votação nominal, não fez isso por causa de um acordo.

O projeto estabelece 30 condutas de servidores públicos que serão consideradas crime, com penas que variam de seis meses a quatro anos de prisão, mais multa, e exigência de que a autoridade indenize a vítima. Também poderá haver a perda do

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cargo público e inabilitação para exercício de função pública por um a cinco anos em caso de reincidência. Entre as condutas que serão crime estão algumas adotadas pela Lava-Jato, como decretar a condução coercitiva de investigado sem intimação prévia, "quebrar" o segredo de Justiça de processos (com o vazamento das informações à imprensa) ou divulgar gravação sem relação com a prova que se pretenda produzir, expondo a intimidade ou a vida privada do investigado.

Também será punida a entrada em imóvel sem determinação judicial, obtenção de provas por meios ilícitos, impedir encontro reservado entre um preso e seu advogado, colocar algemas no detido quando não houver resistência à prisão, manter presos, na mesma cela, pessoas de sexos diferentes e filmar ou fotografar o preso sem autorização judicial.

A bancada da bala protestou que as medidas punirão os policiais. "Miraram no Ministério Público e Judiciário e acertaram o tiro nos policiais", afirmou o deputado capitão Augusto Rosa (PL-SP), presidente da frente parlamentar da segurança pública. Eles reclamavam das restrições ao uso de algemas e de precisar proibir pessoas de filmarem presos.

https://www.valor.com.br/politica/6391433/camara-endurece-lei-sobre-abuso-de-autoridade

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Valor Econômico

Caderno: Opinião, quinta-feira, 15 de agosto de 2019.

Tensões políticas voltarão a

pôr à prova o Mercosul

O Mercosul entrará em uma era de conflitos com a provável eleição da dupla Alberto Fernández e Cristina Kirchner para dirigir os destinos da Argentina. O alento dado pela conclusão do acordo entre o bloco e a União Europeia teve vida curta. Dos dois lados da fronteira, aumentaram a intolerância e divergências ideológicas, que colocam em risco o que foi acertado com os europeus. O presidente Jair Bolsonaro disse que receia migração em massa de argentinos para o Brasil em decorrência da "esquerdalha" que ameaça ocupar a Casa Rosada. Ontem, afirmou que "bandidos de esquerda começaram a voltar ao poder". Alberto Fernández disse que Bolsonaro é racista, misógino e violento. Os diplomatas, presume-se, serão muito requisitados.

O Mercosul seguirá sendo um coro dissonante. Quando governos de esquerda controlavam os dois países mais importantes do bloco, não houve progresso institucional ou econômico. Lula assumiu com Néstor Kirchner às voltas com a maior crise argentina em décadas. O nacionalismo kirchnerista foi bem mais defensivo do que o que se esperava e na maior parte do tempo, Lula condescendeu com sucessivas agressões ao comércio bilateral, como a suspensão das licenças automáticas de importação, vigentes por muitos anos. As vendas brasileiras foram travadas durante o reinado dos Kirchner e o resultado da

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política argentina foi o avanço das importações chinesas no mercado vizinho.

Partidos políticos à direita substituíram os governos que criaram o caos econômico dos dois lados da fronteira. O governo de Dilma Rousseff foi ejetado durante a maior recessão da história republicana e o maior escândalo de corrupção em décadas, enquanto que Cristina Kirchner, alvejada por denúncias de desvio do dinheiro público, levou o país rumo à estagnação e à hiperinflação.

O início de um governo liberal na Argentina e, depois, de outro com as mesmas tinturas no Brasil, ainda que muito mais conservador, não trouxe a esperada harmonia. O presidente Jair Bolsonaro não deu primazia às relações com Mauricio Macri, como ficou claro logo de início com a escolha de sua primeira visita oficial não a Buenos Aires, uma tradição do Mercosul, mas aos EUA, e depois ao Chile, com o qual tem relações políticas e econômicas mais distantes - salvo no período militar, que Bolsonaro emula. Macri fez seu trabalho ao retirar a maior parte das travas do comércio que prejudicavam o Brasil, enquanto Brasília esnobava o bloco e desdenhava de sua prioridade. Apesar disso, duas décadas de negociações com a União Europeia levaram ambos os governos a fechar acordo histórico de comércio que agora está sob risco, pelos atos e palavras de Bolsonaro, e pela quase certa volta ao poder de grupos retrógrados e protecionistas em Buenos Aires. Mesmo quando parecia avançar, o bloco terminará por retroceder.

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Com Macri e Bolsonaro, a competição por "relações carnais" com os EUA, que já teve a dianteira argentina, quando Carlos Menem era presidente, passou para o lado brasileiro. O presidente Donald Trump, o patrono da atual diplomacia brasileira, teve influência na aprovação do arriscado acordo do Fundo Monetário Internacional com a Argentina, o maior da instituição (US$ 57 bilhões). A vitória da dupla Fernández-Fernández será um revés para Trump, mudará a direção do acordo e colocará na berlinda o acordo com os europeus. Para a coalizão peronista que venceu as primárias, a indústria argentina foi prejudicada e, se eleita, não deve se esforçar para a ratificação do acordo comercial.

Ainda que haja a possibilidade de o acordo com a UE começar a vigorar antes para o Brasil, se seu Congresso o ratificar antes que o do vizinho o faça, o próprio interesse dos europeus está sob forte teste pelas atitudes do governo Bolsonaro em episódios como as querelas em torno do Fundo Amazônia, a reação nada diplomática do presidente sobre o corte da ajuda alemã para o ambiente, suas palavras pouco respeitosas sobre seus encontros com Angela Merkel e Emmanuel Macron, dirigentes das duas maiores potências econômicas europeias e pela ofensiva do Planalto para o desmonte da política ambiental. Pela direita ou pela esquerda, o primeiro acordo comercial relevante do Mercosul será bombardeado.

A recessão no país vizinho é péssima para o Brasil, cuja economia se arrasta após uma recessão prolongada. O ódio político mútuo provocará ainda mais tensões. Diplomatas hábeis terão de aplainar ásperas arestas, mas é pouco provável que ajam se Cristina Kirchner ocupar

22 a vice-presidência e o Itamaraty seguir seu rumo radicalizado. Um esfacelamento no bloco não é uma hipótese tão remota.

https://www.valor.com.br/opiniao/6391533/tensoes-politicas-voltarao-por-prova-o-mercosul

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Valor Econômico

Caderno: Opinião, quinta-feira, 15 de agosto de 2019.

Elétrons em zigue-zague e

neurônios alucinados

Por Edvaldo Santana

O setor elétrico está apreensivo, tenso. A tensão faz parte da rotina desde 2007. Sem alívio. O Operador Nacional do Sistema (ONS), no seu novo ciclo de planejamento de operação, denominado PEN 2019-2023, sinalizou que a severa escassez de água, desde 2012, pode definir um novo período hidrológico crítico, mais rigoroso que o anterior, de 1948 a 1955.

Para os menos atentos, o último período de chuvas, que este ano encerrou em maio, foi dos mais úmidos e longos. Ainda assim, os reservatórios mal chegaram a 47%. Como até novembro esse índice diminui para 20% ou 30%, será necessário muito mais chuva para que os reservatórios ultrapassem os 60% no fim de abril de 2020 - isto apesar do tímido crescimento do consumo.

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Assim, não é desprezível a probabilidade de que sejam necessários mais 10 ou 15 anos para que os reservatórios alcancem novamente o nível pré-crise (87,8% em 2011, o maior desde o racionamento de 2001). A imprudência foi tamanha que, muito rapidamente, saímos do maior nível de armazenamento do histórico para 16% em 2015, mesmo com todo parque térmico e eólico à disposição. O significado disso é importante: a oferta de energia das hidrelétricas precisaria ser recalculada, obrigação que o governo cumpre de forma errada ou empurra com a barriga desde 2004.

A centralização é a explicação para o irracional uso dos recursos energéticos. A utilização dos reservatórios decorre de decisões orientadas por algoritmos matemáticos vulneráveis a excessivas intervenções, que possuem como premissas a manjada segurança energética e a desgastada aversão a riscos, também lidos como energia a qualquer custo. Foi a segurança energética, para evitar um racionamento em 2014, ano eleitoral, que esvaziou os reservatórios, deixando-os quase irrecuperáveis. Se cada usina fosse responsável pelo uso dos seus respectivos reservatórios, não tenham dúvida, o cenário seria outro. Em 2013, diante das palpáveis perspectivas de aumento da escassez, as próprias hidrelétricas, para se protegerem da elevação dos custos, adotariam estratégias defensivas, para preservar seus reservatórios. Nestas circunstâncias, comprariam energia de outras fontes, construiriam ou incentivariam a construção de

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termelétricas, como acontece em qualquer parte do mundo.

Basta, para isso, que a ordem de acionamento do parque gerador seja definida pelas próprias usinas, que, em leilões no dia anterior, diriam o quanto têm e quanto valem suas disponibilidades no dia seguinte - day ahead. Tudo ficaria mais preciso e os riscos e custo seriam melhor alocados. No dia 25 de julho, a Câmara de Comercialização organizou concorrido evento para discutir a formação do preço. Ótimas cabeças, sem grande ênfase ou convicção, mostraram temer eventuais aumentos de preços com a oferta constituída em leilões diários. Mas são insignificantes essas chances, dado que mais de 90% da energia são comercializados por contratos de longo prazo, e não no mercado spot. Atenção especial se deve ter com o poder de mercado. Há uma concentração no segmento de termelétricas, que teriam relevante participação no atendimento da demanda residual.

Consumidores foram obrigados a contratar mais do que precisam. Pagam pela falta e pela sobra, e pagam muito

Mas vejam que interessante: também em 25 de julho, o mesmo ONS, na definição do programa mensal de operação para agosto, destacou, de forma precisa, que, para todo ano de 2019, a energia contratada ultrapassa em mais de 14 mil MW médios a carga. É uma sobra cavalar, que daria

24 para suprir a região Sul por um ano, e ainda teria para 30% do Nordeste. É sobra equivalente ao consumo de meia Argentina. E deve ir até 2028, pois em 2023 o excedente ainda será de 9 mil MW médios. Se fosse jaca, uma fruta difícil de carregar e de guardar, o vendedor simplesmente reduziria seus preços para desovar o estoque ou eliminar o excedente. Mas não é bem assim. No dia 26 de julho, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) acionou a bandeira vermelha para agosto, que impõe um aumento imediato e não desprezível nas tarifas. A bandeira vermelha significa que o atendimento do total da carga requer o uso de usinas termelétricas, muito mais caras, dado que o produto, energia elétrica, ficou escasso.

Em outras palavras, no setor elétrico escassez e abundância se confundem, andam lado a lado. A energia é escassa, mas os consumidores foram obrigados a contratar muito mais do que precisam. Pagam pela falta e pela sobra, e pagam muito. Um autêntico, e infeliz, "zigue-zague de elétrons". Em artigo (Colapso e explosão tarifária) de 3 de agosto de 2018, neste Valor, alertei para a baixa produtividade do setor elétrico, pois só eram utilizados 40% da capacidade instalada de geração. A situação real é bem pior. Além do que afirmei há um ano, a energia contratada nos festivos leilões é 20% maior do que a necessária, e essa sobra vai aumentar. Como a economia patina e o consumo de energia anda de lado, o excedente de contratos se torna uma perturbação indigesta, como os bagos da jaca.

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Por que isso acontece? Uma explicação estaria na duradoura recessão econômica, que, dada a balbúrdia e o ambiente de guerrilha, seguirá por mais um tempo. Mas o principal determinante são as compras centralizadas, em que o governo adquire, pelo preço que ele define e de projetos que ele prioriza, a energia que as distribuidoras vendem para os consumidores. Como não tem qualquer ônus pelos resultados, o governo compra o que não precisa e para quem não pediu.

O estranho é que o Secretário de Planejamento Energético do Ministério de Minas e Energia idealizou que o leilão A6, previsto para outubro de 2019, será realizado mesmo que não tenha demanda e com metodologia, nota-se, que aumentará essa sobra. E há também Angra 3, que, caríssima, tem enormes chances de extrapolar essas sobras.

Nem os geradores queriam tanto. Sem terem culpa, vendem o que os consumidores não pediram e não precisam, e recebem por isto mesmo que não entreguem, como o caso recente descrito por Camila Maia no Valor de 26 de julho. A distribuidora de Roraima é cobrada por não pagar pela energia contratada do pool de geradores do sistema interligado. Só que ela jamais recebeu a energia, e não a recebeu porque continua isolada. E permanece isolada porque o Estado, via seus múltiplos tentáculos, ainda não autorizou a construção da linha de transmissão, um atraso de 3 anos.

25 O zigue-zague dos elétrons, pelo visto,

nocauteou os neurônios

governamentais, deixando-os alucinados, o que preocupa. Os desafios são inéditos, e não me parece que o desacreditado algoritmo de otimização hoje utilizado tenha alguma serventia em um cenário inaudito, em que sobra é sinônimo de escassez. Tomara que as boas ideias (de livre concorrência) do novo mercado do gás ajudem a organizar o setor elétrico.

Edvaldo Santana é doutor em engenharia de produção, ex-diretor da Aneel e vice-presidente da Electra Energy https://www.valor.com.br/opiniao/6391525/eletrons-em-zigue-zague-e-neuronios-alucinados

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Valor Econômico

Caderno: Empresas, quinta-feira, 15 de agosto de 2019.

Petrobras disputará leilão de

energia nova com gás natural

Por Rodrigo Polito e André Ramalho | Do Rio

Félix, do MME, acredita que o certame marcado para outubro deve negociar ao menos uma usina termelétrica a gás

A Petrobras estuda participar do próximo leilão de contratação de energia nova, seja como geradora com projetos termelétricos ou como fornecedora de gás natural para usinas. Marcado para 17 de outubro, o leilão será do tipo A-6, que negociará contrato de energia de novos empreendimentos com início de fornecimento em seis anos (2025). "Olhamos sim [o leilão A-6], seja através de termelétricas, seja através de fornecedor de gás", afirmou ontem a diretora de Refino e Gás da companhia, Anelise Lara, após participar de seminário sobre gás natural promovido pelo Instituto Brasileiro do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (IBP), no Rio. Ela disse que existe a possibilidade de formar parcerias para o certame.

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Anelise contou que a Petrobras pretende vender 15 de suas 26 termelétricas no país. Segundo ela, a medida faz parte da gestão de portfólio da empresa. "Hoje a Petrobras tem 26 termelétricas. Nossa intenção é vender 15 delas." "Nós vamos ficar com as térmicas que fazem mais sentido no nosso portfólio. O processo de venda de termelétricas, explicou a diretora, deve ocorrer a partir de 2020.

Questionada sobre risco de desabastecimento de gás natural no país a partir do próximo ano, já que a Petrobras não deverá garantir a totalidade da importação de gás natural da Bolívia, a executiva não acredita nessa possibilidade.

"Não acredito [em desabastecimento]. E vamos trabalhar para evitar isso. Foi colocado pelo CNPE [Conselho Nacional de Política Energética] que a Petrobras passa a ser o fornecedor final se tiver problema no sistema, mas para isso temos que estar preparados. E estar preparado, essa flexibilidade custa. Esse gás que vai ficar disponível em qualquer momento, em caso de uma dificuldade do sistema é como o mercado spot [à vista] de energia, ele é mais caro", completou Anelise. Presente ao evento, o secretário de

Petróleo, Gás Natural e

Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia, Márcio Félix, disse acreditar que o leilão A-6 deve negociar ao menos uma usina termelétrica a gás. "[A expectativa é que] Saia alguma térmica de grande porte no A-6. Mas vamos ver como vai ser a competição", disse.

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Segundo ele, projetos de ampliação de usinas existentes ou localizados em Estados que já revisaram suas regras para tornar mais atrativo o mercado livre de gás tendem a ser competitivos.

"Onde já existe uma térmica com capacidade adicional, talvez haja preços mais competitivos", afirmou o secretário. "[Sobre os Estados que estão regulamentando o mercado livre de gás] é uma coisa que está em curso. Vai afetar [os resultados do leilão], mas não dá para prever".

O diretor e professor da FGV e ex-presidente do Banco Central, Carlos Langoni, que tem atuado como consultor do governo para o processo de abertura do mercado de gás natural do país, afirmou que o resultado do leilão será um indicador para o preço do gás natural para as indústrias no futuro.

"O resultado desse leilão vai ser uma 'proxy' do preço do gás natural para o grande consumidor", disse. "Temos semelhança com essa nova figura do novo consumidor efetivo. Esse preço do gás natural de termelétrica de base é uma excelente 'proxy'. Vamos ter uma ideia, tanto para o lado da oferta, quanto para o lado da demanda. Um teste importante e definitivo do choque de competitividade".

https://www.valor.com.br/empresas/6391391/petrobras-disputara-leilao-de-energia-nova-com-gas-natural

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