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Universidade Autónoma de Lisboa

Luís de Camões

RELAÇÕES INTERNACIONAIS

HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS II

A DESCOLONIZAÇÃO E OS NÃO ALINHADOS

CONSEQUÊNCIAS DA II GUERRA MUNDIAL

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO... 3

CAPÍTULO I... 4

BREVE CARACTERIZAÇÃO DA EUROPA E ÁFRICA... 4

1. O MUNDO DO PÓS II GUERRA MUNDIAL − A EUROPA... 4

2. A SITUAÇÃO PARTICULAR DE ÁFRICA... 5

CAPÍTULO II... 6

EFEITOS DA DESCOLONIZAÇÃO... 6

1. OS PAÍSES EUROPEUS E O FIM DA COLONIZAÇÃO... 8

2. A INDEPENDÊNCIA DOS PAÍSES AFRICANOS... 10

CAPÍTULO III... 12

OS NÃO ALINHADOS... 12

1. CONFERÊNCIA DE BANDUNG... 12

2. UNCTAD... 13

3. G77... 15

4. MOVIMENTO DOS NÃO ALINHADOS... 17

CONCLUSÃO... 18

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-INTRODUÇÃO

No presente trabalho iremos analisar como se processou a independência dos povos de alguns países colonizados, de dois continentes, aflorando muito sumariamente o caso asiático e desenvolvendo o africano, mercê não só da natural evolução dos mesmos, mas também, e fundamentalmente, como consequência do final da II Guerra Mundial.

Por outro lado, abordaremos as principais interferências que se fizeram sentir, nomeadamente com a aprovação da própria Carta das Nações Unidas, e dos movimentos que os países realizaram, numa tentativa concertada de fazerem sentir, a todo o Mundo, que tinham algo a dizer, e que na cena internacional, deveriam ser considerados como actores a quem os restantes países deveriam passar a olhar como iguais. Todavia, este propósito não foi entretanto completamente conseguido, dadas as circunstâncias mundiais e as particularidades destes mesmos países, os quais os têm vindo a impedir de conseguir atingir esta almejada consagração.

Continuaremos, fazendo uma breve dissertação sobre a situação da Europa e a de África. Prosseguiremos, pela afloração do que aconteceu na Europa, pós II Guerra Mundial, e mercê da descolonização verificada, bem como, de como se procedeu à independência dos povos africanos.

Dada a temática que nos propusemos abordar, naturalmente iremos colocar um especial enfoque na formação dos Países Não Alinhados, e dentro destes, a relevância da Conferência de Bandung, da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) e da criação do Grupo dos 77 (G77), concluindo com o Movimento dos Não Alinhados.

No que se refere ao chamado G77, este tem tido ao longo da sua história uma intervenção ao nível da influência dos Estados muito significativa, lutando afincadamente por chamar a atenção para os reais problemas que atingem os países em vias de desenvolvimento, os subdesenvolvidos e as ilhas, que se constituem como Estados em desenvolvimento. Esta influência traduziu-se num apelo sistemático e contínuo para que a cooperação entre as regiões menos desenvolvidas e designadas de Sul-Sul e o diálogo e a cooperação com estas e as mais desenvolvidas, comummente chamadas de Sul-Norte, se tornassem realidades insofismáveis.

No que concerne à intervenção das outras Organizações, como o Movimento dos Não Alinhados (MNA), e da própria UNCTAD, os papéis destas tem sido muito activo e preponderante, resultante dum afincado apelo internacional permanente para as mais diversas áreas sociais, económicas, organizacionais e políticas, entre outras, como as do campo do comércio e do desenvolvimento sustentável, tendo-se consubstanciado numa nova realidade positiva do Mundo, e constituído um marco na história da formação do séc. XX, consagrando-se o MNA como a 2.ª maior organização internacional, logo após a própria Organização das Nações Unidas (UN).

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CAPÍTULO I

BREVE CARACTERIZAÇÃO DA EUROPA E ÁFRICA 1. O MUNDO DO PÓS II GUERRA MUNDIAL − A EUROPA

A II Guerra Mundial veio trazer à Humanidade, após o seu fim, uma nova e histórica etapa. Esta resultou da introdução de profundas mudanças em todos os sectores da sociedade, as quais encontraram pleito em diversos factores, como as perdas de vidas humanas, as repercussões humanitárias, as perturbações socioeconómicas, as remodelações territoriais e as novas formas de ideologia política.

Em termos de perdas, calcula-se que a II Guerra Mundial tenha custado algo como, a valores estimados para a época, dois e meio mil milhões de dólares1, os quais são referentes a vinte milhões

de toneladas de navios afundados, a três milhões de edifícios e a inúmeras obras de arte perdidas, enquanto em termos de vidas humanas, se perderam quarenta milhões de pessoas na Europa, e destas, quinze milhões eram militares.

Quanto a repercussões políticas, verificou-se o findar de algumas monarquias, como a do rei Miguel I da Roménia, a de Simeão II da Bulgária, a de Pedro II da Jugoslávia e a de Humberto II de Itália. O rei Jorge II da Grécia conseguiu manter-se no trono mercê do facto de ter realizado um referendo a seu favor e de ter obtido uma vitória contra a guerrilha comunista.

Num outro campo, a Finlândia e a Áustria tornaram-se países neutrais; surgiu, na cena internacional, uma nova realidade, a Europa de Leste, formada pela União Soviética, pela Alemanha Oriental, pela Polónia, pela Hungria, pela Checoslováquia, pela Bulgária, pela Jugoslávia e pela Albânia.

A Europa dividiu-se em dois Blocos, o Ocidental e o Oriental. O Bloco Ocidental era formado pelos países vencedores, a Grã-Bretanha e a França, pelas nações libertadas, a Noruega, a Dinamarca, a Holanda, a Bélgica e o Luxemburgo, pelos estados atraídos, a Alemanha e a Itália, e pelos mediterrânicos do sudeste europeu, a Grécia e a Turquia. Portugal foi também incluído na Aliança.

A Europa centro-oriental constituiu outro Bloco, muito coeso, motivado pela política estalinista, sendo formado por doze países: a Rússia, a Estónia, a Letónia, a Lituânia, a Polónia, a Alemanha Oriental, a Checoslováquia, a Hungria, a Roménia, a Bulgária, a Albânia e a Jugoslávia. Os primeiros quatro integravam a URSS.

Este sistema de blocos foi imposto pelos exércitos que libertaram os territórios ocupados pelos nazis, exceptuando-se os dos casos finlandês e austríaco.

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2. A SITUAÇÃO PARTICULAR DE ÁFRICA

No início do século XX, somente a Libéria tinha alcançado a independência política em todo continente africano. Isto provava o grau de dependência em relação às metrópoles, bem como o nível de atraso em desenvolvimento tecnológico, industrial e económico, quando comparado com os outros continentes.

Entre 1920 a 1945 o nacionalismo africano despertou, tendo recebido um grande impulso de propagação por personalidades como Léopold Senghor e Aimé Césaire. Foi desenvolvido por políticos como Kwame Nkrumah, Julius Nyerere, Jomo Kenyatta e Fran Fanon, concebendo-o como a exaltação dos valores tradicionais da raça negra − o chamado conceito de negritude.

Os congressos pan-africanos consubstanciaram a expressão de solidariedade e de união entre todos os povos de África. O 1.º congresso foi organizado por um senegalês, Du Bois, em 1919, em Paris, onde se instauraram as bases do plano geral para a independência das colónias. Seguiram-se-lhe os de Londres em 1921, de Lisboa em 1923, Nova Iorque em 1927 e de Manchester em 1945. No final da II Guerra a independência total do continente era o objectivo claro do nacionalismo africano.

Contudo, certas condicionantes eram preponderantes, como a composição tribal das sociedades, e a sua substituição através do desenvolvimento demográfico, da expansão do comércio e das relações de produção capitalista.

A competição pelo domínio foi inicialmente motivada pela expansão da política global, da economia e influência militar. A maioria dos países europeus só concedeu a independência na década de 50 a 60 às suas colónias. Os dois grandes Blocos na altura digladiavam-se de alguma forma pela obtenção duma maior hegemonia nesta área do globo, e para conseguirem obter o controlo dos vastos recursos minerais, bem como, pela colocação de bases militares em pontos estratégicos, tendo em vista o incremento da capacidade de influência global. Neste âmbito, enquanto o Bloco capitalista pretendia o controlo dos recursos naturais e o posicionamento de bases militares, o Bloco socialista já possuía a necessária riqueza de recursos minerais, almejando antes o controlo ideológico e estratégico.

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CAPÍTULO II

EFEITOS DA DESCOLONIZAÇÃO

A descolonização foi um importante acontecimento no campo político, com grandes repercussões no campo das migrações. Entre 1922 e 1975, as colónias de Portugal, Inglaterra, França, Holanda, Alemanha, Itália e Bélgica tornaram-se Estados independentes. Os primeiros sinais de revolta contra o colonialismo apareceram após a I Guerra Mundial e aumentaram durante o período entre guerras. Como na II Guerra Mundial os Aliados lutaram pela autodeterminação dos povos, estes ficaram motivados a clamarem pelos seus direitos, tendo os estados colonizadores tido a necessidade de conceder uma maior atenção a esta problemática.

Na elaboração de uma análise sistemática, demonstra-se que os processos de descolonização se encadearam em cinco fases sequenciais, cada uma com as suas especificidades, conforme o território, o povo colonizado e a opção da metrópole colonial. A primeira, é a fase da tomada de consciência; por norma, é uma elite política que assume a iniciativa e se organiza, visando o direito à independência, procurando depois alargar esta ideia à generalidade do povo que representa ou onde se insere. Segue-se a fase da luta de libertação; esta é exclusivamente política, podendo ser também armada, dependendo tal circunstância do tipo de resposta que a potência colonial concede às reivindicações independentistas. A fase da transferência do poder é a que se segue. Se a fase anterior atingir o grau de luta armada, a da transferência do poder comportará as negociações relativas ao cessar-fogo, constituindo-se tal como uma derrota política, ainda que não militar, para a potência colonial. A seguir temos a fase da independência, correspondente à substituição do aparelho colonial pelas estruturas do novo Estado; esta é por diversas vezes marcada por lutas internas pelo poder. Chega-se finalmente à fase da consolidação da identidade nacional. Frequentemente, o novo Estado não corresponde a uma nação, e quando o seu nascimento envolve lutas internas pelo poder, é difícil que se verifique a emergência de factores de coesão. Todavia, nenhuma destas fases se consubstancia como um compartimento estanque, e indiferente à forma como se processou a anterior. É profundamente condicionada e as influências resultam numa interacção entre a que antecede com a que procede.

No decorrer da década de 30 a Inglaterra e a França perderam o controlo da ligação existente entre colónia e terra-mãe, tornando-se assim a independência a única solução possível, e entre 1950 a 1975, às colónias a quem não foi concedida a independência, assistindo-se a um deflagrar de conflitos armados.

A mensagem do Presidente Norte-Americano Woodrow Wilson (1913) adoptada nas Conferências do fim da I Guerra Mundial iniciou um processo que teve continuidade na Conferência de Paris e nos Tratados de Versalhes e de Sévres (1919-20), em que os indianos

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colaboraram pela primeira vez nas sessões, acompanhando a delegação da Grã-Bretanha. Com o Congresso Pan-africano realizado em Paris, sob os auspícios de Clemenceau, desapareceu a designação de colónia e surgiu uma nova realidade jurídica, a do mandato ou protectorado. Mas com a divisão de África, após a I Guerra entre os países vencedores, um tremendo desprestígio resultou para as Instituições Internacionais, e consequentemente, a Sociedade das Nações perdeu credibilidade.

No final do conflito mundial, a Inglaterra, mercê dos constrangimentos já abordados, foi obrigada a conceder a independência à Índia, em 1947. Depois da independência, o país que tinha rivalidades internas não permaneceu unificado, e dividiu-se em dois estados soberanos:

 República União Indiana, de maioria Hinduísta, governada por Nehru.

 República do Paquistão, (dividida em oriental e ocidental) de maioria Muçulmana, governada por Ali Jinnah, que era chefe da liga Muçulmana.

Em 1945, com a derrota do Japão na 2º Guerra Mundial, foi declarada a independência da Republica da Indonésia. A Holanda não reconheceu este acto e iniciou-se um período de lutas entre o exército holandês e os guerrilheiros nacionalistas. Só em 1949, e depois da medição da ONU e dos EUA, que estavam interessados em estabelecer a sua influência na região, é que a Holanda reconheceu a independência da Indonésia.

O colonialismo colapsou em 1950, e anos antes, entre 1920 e 1930, quer a França quer a Grã-Bretanha rejeitaram todo e qualquer esforço no estabelecimento dum maior desenvolvimento dos recursos africanos.

Com a depressão de 1930, os trabalhadores africanos tiveram de solicitar emprego a empregadores e em cidades onde virtualmente não existiam serviços sociais, facto este que levou a que se realizasse uma vaga de greves que tiveram início em 1935, na actual Zâmbia e que rapidamente se espalhou pelas zonas mineiras. Esta acção abarcou cidades inteiras, desde os caminhos-de-ferro da Costa do Ouro e portos do Quénia até Tanganica, fazendo-se sentir por todo o lado. As próprias Índias Ocidentais foram atingidas por esta vaga e os britânicos verificaram, assim, que esta ameaça ao seu Império demonstrava que a sua capacidade colonizadora e de manutenção das tribos nas suas aldeias tribais se traduzia num falhanço.

Com a guerra, para a qual os africanos deram um contributo com a vida e o trabalho, foram recompensados com pouco ou nada, constituiu-se como mais um factor a acrescentar ao já de si descontentamento por todo o restante tratamento. A própria África francesa mostrou-o, com greves e conflitos que perduraram entre 1945 e 1948.

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1. OS PAÍSES EUROPEUS E O FIM DA COLONIZAÇÃO

A descolonização dos continentes Asiático e Africano iniciou-se como corolário dum processo histórico, o qual teve a sua génese no período entre guerras, ou seja, após a I e antes da II Guerra Mundial. Os povos da Ásia e os da África iniciaram uma acção de rebelião contra as potências metropolitanas, que os colonizavam ou exerciam uma soberania colonial, impedindo a respectiva autodeterminação. Estes eram, principalmente, a Grã-Bretanha, a França, a Holanda e Portugal.

Uma das consequências que levou ao início do movimento independentista foi a famosa crise de 1929 e a sua influência no desenvolvimento dos movimentos nacionalistas, além da própria influência da ideologia marxista no discurso teórico independentista, o que tornou o panorama em ambos os continentes diferenciada. Esta crise desarticulou diferentes sectores da economia e acarretou problemas aos territórios que tinham iniciado um processo de industrialização, como a Índia. As verbas necessárias ao desenvolvimento colonial não foram empregues nestes países, e ao mesmo tempo, nas colónias, verificaram-se deslocações massivas de populações dos sectores mineiros ou industriais para o campo, levando ao aparecimento de movimentos de protesto.

O mundo colonial sofria então de algumas debilidades, quer económicas, quer sociais e políticas, as quais eram a repercussão natural não só dos problemas que atravessavam, como pela evolução e pelo despertar dos povos das próprias colónias. Por outro lado, no momento, a escalada de conflitualidade entre as potências ocidentais era um facto real.

A II Guerra Mundial enfraqueceu significativamente o sistema colonial. Os países colonizadores perderam o prestígio que anteriormente detinham. Um factor que deu algum contributo para esta situação foi o de estes povos colonizados terem servido para preencher as fileiras dos Exércitos aliados, durante a guerra, isto é, terem somente servido como «carne para canhão». Dado que a guerra tinha terminado, haveria que prospectivar uma nova forma de ver e estar no mundo, sentindo-se a necessidade de se desligarem do que os obrigava a estarem ligados à Europa. Os povos asiáticos foram os primeiros a pedir aos europeus para partirem.

Só após o fim da II Guerra Mundial é que a luta pela libertação colonial se começou a impor. E com a aprovação da Carta das Nações Unidas, a 26 de Junho de 1945, com muito mais acuidade as colónias passaram a dispor duma ferramenta legal que lhes permitia passar a usufruir da capacidade legal de autodeterminação. A autodeterminação está deste modo vinculada à figura de colónia, e a esperança de que este direito iria colocar um fim no direito de conquista suscitou um enorme optimismo. Mas uma coisa não ficou nesta altura bem definida: a problemática da divisão dos territórios, ou seja, a questão das fronteiras. Tendo este princípio ficado restrito, o direito dos Estados africanos de verem a sua independência outorgada, sem que nenhuma alteração se repercutisse nas respectivas fronteiras, acarretou problemas de diversa índole, alguns deles nunca

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ultrapassados, não pela questão do próprio território, mas sim pela problemática étnica e da sua fictícia divisão. A Carta da ONU faz duas referências explícitas ao princípio da autodeterminação dos povos. O art.º 1, §2 refere que um dos propósitos das Nações Unidas é o do desenvolvimento de relações amigáveis entre as nações, as quais deverão basear-se no respeito pelo princípio da igualdade de direitos e da autodeterminação dos povos, devendo ser tomadas as medidas necessárias para fortalecer a paz universal. O art.º 5 traz à colação, também, a autodeterminação, referindo-se os Capítulos XI e XII a esta temática, com um especial enfoque.

Os efeitos do fim da II Guerra Mundial culminaram nas independências, em 1946 das Filipinas, em 1947 da Índia e do Paquistão, em 1948 da Birmânia (actual Myanmar) e de Ceilão (actual Sri Lanka), em 1949 da Indonésia e a partir da década de 50, começaram os países africanos. Como na Ásia os tradicionais impérios coloniais, britânico, francês e holandês entraram em queda, e por outro lado, em determinados países, se verificou um vazio de poder, o caminho para a proclamação da autodeterminação destes povos mostrou-se facilitada. Estes factores tiveram como causas, também, o êxito bélico inicial do Japão e o nacionalismo indonésio, com Sukarno. Na Ásia, a evolução sociopolítica da China influenciou através da ideologia marxista a descolonização de áreas como a Indochina e a Mongólia, enquanto no subcontinente hindustânico, e na Indonésia, vingaram as ideologias estritamente nacionalistas. Assim, poder-se-á dizer que na Índia e no Paquistão a mobilização popular foi o factor determinante para a independência, na Indochina e na Indonésia se verificaram lutas contra os países administrantes, e nas Filipinas, Malásia e Myanmar a descolonização foi conseguida através da negociação política e de manifestações anti-imperialistas.

A queda do Império nipónico e as transformações sociais e políticas da China facilitaram a independência da Mongólia e da Coreia.

No mundo árabe e islâmico do Próximo e Médio Oriente, a presença dos nacionalismos árabe e judeu determinou a situação política geral e os diferentes processos de independência, que levaram à criação do Estado de Israel, da independência do Iraque, da Síria, do Líbano, da Jordânia, do Kuwait, dos Iémen do Norte e do Sul, do Qatar, do Bahrein e dos Emirados Árabes Unidos.

O exemplo dado pelos povos asiáticos, o resultado da Conferência de Bandung de 1955, que iremos neste intuito abordar, o recrudescimento dos nacionalismos africanos e a luta pela independência constituíram factores que exerceram a necessária pressão para que estas se viessem a concretizar mais cedo.

Outro factor de importância nesta matéria reside no findar do mito da superioridade branca em África e do fim da hegemonia europeia. E a acção preponderante da ONU, e do estipulado na Carta criaram o necessário clima de confiança, favorável à descolonização, assumindo os Estados Unidos e a União Soviética uma posição anticolonial que foi preponderante nesta afirmação.

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Os movimentos que se afirmaram após a Conferência de Bandung marcaram o início duma nova era de pressão e de caminho para a autodeterminação dos países colonizados.

2. A INDEPENDÊNCIA DOS PAÍSES AFRICANOS

Após o termo da II Guerra Mundial em 1945, o mundo perdeu de alguma forma um pouco a noção do rumo, porque dez anos de guerra deixaram marcas profundas em todas as gerações.

Em meados do século XX, duas superpotências emergiram, desencadeando um confronto, no qual incluíram quase todas as nações mundiais. Estes conflitos caracterizaram-se por serem guerras económicas, sociais, tecnológicas e nucleares, e à qual se deu o nome de Guerra-Fria. Com o fim da II Guerra Mundial, Estados Unidos e União Soviética cresceram de uma forma abismal, em parte pela devastação que a guerra causara em muitos países, em parte pela corrida ao armamento nuclear, sendo certo que os Estados Unidos e a União Soviética iniciaram um confronto sem precedentes que duraria até ao final do século XX, para sermos mais exactos até à queda do muro de Berlim, em 1989. Com o mundo envolvido numa disputa bipolar, outros órgãos mundiais começam a surgir no panorama das Relações Internacionais.

Aliado à questão da guerra, surgiram grupos e movimentos que lutavam em busca da independência política, criando uma onda de libertação que se dispersou por todo o continente e perdurou por vários anos. Posteriormente, o resultado foi a restituição dos territórios e surgimento de pelo menos 49 novas nações africanas.

Porém, a luta pela independência intensificou-se na década de 60, tendo sido marcada pelo derramamento de sangue, uma vez que os actos pacíficos não eram uma forma de se conseguirem atingir os objectivos.

Apesar de todas as adversidades, os países foram alcançando a sua independência política. A divisão dos territórios ficou definida a partir da concepção europeia, a qual não teve em consideração as questões de ordem étnicas e culturais. Esta falta de atenção desencadeou uma série de conflitos em distintos lugares de África, sendo uma das razões a questão da falta de definição de fronteiras, dado que as tribos tinham as suas próprias fronteiras e todos se respeitavam. Com a instauração das novas fronteiras algumas tribos foram separadas, determinados grupos rivais agrupados, sendo factores que colocaram em risco a estabilidade política neste continente.

Analisemos agora alguns casos de independência de países africanos.

Na década de 50 apenas o Egipto, a Etiópia e a Libéria eram independentes. Mas no final da década de 60 quase todo o continente africano estava emancipado do continente europeu.

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A independentização dos países africanos iniciou-se na Líbia, em 1951, e passou para a Tunísia e Marrocos, em 1956. A Argélia em 1954, com o nascimento da Frente de Libertação Nacional (FNL), iniciou uma guerra contra a França. Só em 1958, e já com De Gaulle se iniciou o processo de independência, o qual veio a culminar em 1962 com a independência deste país. O Sudão tornou-se independente em 1956.

Houve descolonizações pacíficas, como as verificadas com Nkrumah na Costa do Ouro / Gana,

descolonizações bélicas, como as do Quénia, e mistas como as da Nigéria.

Noutros locais, as independências ocorreram nos seguintes períodos: Tanganica em 1961, Uganda em 1962, Quénia em 1963, Zanzibar em 1963, Malawi em 1964, Zâmbia em 1964, Botsuana em 1966, Lesoto em 1966 e Suazilândia em 1968. Mais casos houve, mas optou-se por trazer à colação estes países.

No Congo belga, através do líder nacionalista Patrice Lumumba iniciou-se uma luta pela libertação, com violentas manifestações populares. Em 1960 a Bélgica concedeu a independência ao Congo, mas na província do Katanga, o governador local Moisés Tshombe iniciou um movimento separatista, algo que ainda hoje perdura e tem motivado a intervenção da ONU e de outras Organizações Internacionais, como uma missão da União Europeia.

As antigas colónias portuguesas, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, e os arquipélagos de Cabo Verde e São Tomé e Príncipe foram as que mais tardiamente conseguiram obter a autodeterminação. Em 1961 teve início na Guiné-Bissau a luta pela independência, sendo reconhecida a independência em 1974. No ano seguinte Portugal reconheceu a independência a Cabo Verde. Em Moçambique, a Frente de Libertação de Moçambique − FREMILO, fundada por Eduardo Mondlane, iniciou, em 1964, um movimento armado contra o colonialismo português, e em 1975 o governo de Portugal reconheceu a independência da República Popular de Moçambique. Agostinho Neto fundou o movimento Popular pela Libertação de Angola (MPLA), mas também houve outras organizações com o mesmo objectivo. Em 1974, com a assinatura dos Acordos de Alvor, foi estabelecida a independência, a ser concedida no ano de 1975. O arquipélago de S. Tomé e Príncipe foi tornado independente em 1975.

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CAPÍTULO III OS NÃO ALINHADOS

Após 1945 foram realizadas várias Conferências no sentido de se estabelecer a solidariedade afro-asiática. Em 1955, em Bandung, estabeleceu-se o caminho para o não-alinhamento dos países do chamado Bloco do Terceiro Mundo e para a descolonização, a qual se não fosse o resultado conseguido com o fim da II Guerra Mundial, provavelmente nunca se teria obtido.

1. CONFERÊNCIA DE BANDUNG

A Conferência de Bandung − Indonésia realizou-se entre 17 e 24 de Abril de 1955, tendo contado com a participação de 29 delegações de países africanos (7) e asiáticos (22). Estes resolveram participar nesta reunião, porque tinham afirmado o desejo de se tornarem independentes e que se recusavam a alinhar ao lado das potências mundiais.

Esta Conferência foi organizada pelos Primeiros-Ministros dos países que à altura eram chamados de Birmânia e Ceilão, e pela Índia, pela Indonésia e pelo Paquistão. Os líderes reuniram-se inicialmente duas vezes no ano anterior, primeiro em Colombo, no Ceilão, e depois em Bogor, na Indonésia. Destas reuniões resultou um acordo entre estes cinco Estados, no sentido de organizarem uma Conferência de nações asiáticas e africanas.

Entre outros assuntos foi discutido o aumento da tensão entre a China e os Estados Unidos por causa da invasão chinesa de Taiwan, e porque consideraram, também, que os novos Estados independentes africanos teriam de tentar ajudar aqueles que eram considerados como do Terceiro Mundo, a ganharem a sua independência na luta pela emancipação. Todos os que participaram nesta Conferência acordaram no desejo de cooperação na oposição ao colonialismo, ressaltando as seguintes ideias de ordem, a serem prosseguidas entre todos:

 Na descolonização e independência dos povos africanos e asiáticos;  Na coexistência pacífica e no desenvolvimento económico;

 Na não ingerência nos assuntos internos.

Esta Conferência teve um grande impacto psicológico nas potências coloniais, tendo-se delineado os direitos fundamentais dos povos colonizados e do seu direito à resistência ao domínio europeu. Com esta tomada de posição, as potências europeias tiveram de encontrar formas diligentes de obterem um relacionamento privilegiado com as suas colónias. Foram enunciados os

princípios que deveriam orientar as relações entre as grandes e pequenas nações, conhecidos como os Dez Princípios de Bandung. Tais princípios foram adoptados posteriormente como os

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principais fins e objectivos da política de não-alinhamento e os critérios centrais para pertencer ao Movimento:

a. Respeito pelos direitos humanos fundamentais e pelos objectivos e princípios definidos na Carta da ONU;

b. Respeito pela soberania e integridade territorial de todas as nações; c. Reconhecimento da igualdade de todas as raças e a igualdade de todas

as nações, grandes e pequenas;

d. Abstenção de intervenção ou de interferência nos assuntos internos de outro país;

e. Respeito pelo direito à legítima defesa, quer ela seja individual, quer seja colectivamente, e em conformidade com a Carta da ONU;

f. Abstenção do uso de pactos de defesa colectiva ao serviço de interesses particulares de qualquer das grandes potências;

g. Abstenção de todo e qualquer país exercer pressões sobre outros países;

h. Abster-se de realizar actos ou ameaças de agressão, ou de utilizar a força contra a integridade territorial ou a independência política de qualquer país; i. A solução pacífica de todos os conflitos internacionais, em

conformidade com a Carta da ONU;

j. Promoção dos interesses mútuos e da cooperação e o respeito pela justiça e pelas obrigações internacionais.

O Movimento foi adaptando os seus objectivos, forçado pelas circunstâncias resultantes da fome nos países do Terceiro Mundo e da dívida externa dos seus membros. Assim, nos últimos anos a organização tem vindo a apontar objectivos de acordo com o panorama internacional, de que são exemplo a luta contra o terrorismo internacional e a defesa de «um mundo mais justo» em termos económicos e sociais.

2. UNCTAD

Após o término da II Guerra Mundial e ao ocorrer o fenómeno da descolonização, os chamados países do Sul encetaram os trabalhos que entenderam necessários para fazer valer as riquezas e respectivos rendimentos.

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No ano de 1949 realizou-se em Havana uma importante reunião. Nela, os países desenvolvidos não foram capazes de chegar a um consenso para a criação duma Organização Internacional para o Comércio. Contudo, no início dos anos 60, as preocupações com a situação dos países em vias de desenvolvimento no tocante ao comércio internacional fez com que se preparasse a organização duma conferência dedicada à explanação e discussão desta questão, e para que se tentasse identificar as necessárias acções a serem desencadeadas. A Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento − UNCTAD (United Nations Conference for Trade and Development) foi criada no ano de 1964, e destinou-se a promover as políticas de integração dum desenvolvimento amigável dos países em vias de desenvolvimento no mundo económico. Mercê do acumular dos conhecimentos e das suas capacidades de intervenção, a UNCTAD passou a exercer uma acção preponderante nas questões de política interna e da influência internacional, no intuito de que estas se viessem a adequar às do desejado desenvolvimento sustentável. Foram estabelecidas 3 fases para a intervenção, destacando-se, de entre elas, o seguinte:

a. Fase 1 − entre os anos 60 e 70

Debate da Nova Ordem Económica Internacional, dentro da esfera dum fórum de diálogo e negociação dos interesses dos países em vias de desenvolvimento, no relacionamento Norte-Sul; instituição do chamado Sistema de Preferências, onde os países em vias de desenvolvimento passavam a ter acesso a exportar os seus produtos para os países mais desenvolvidos; identificação dos países subdesenvolvidos, os quais necessitam duma maior atenção, como países muito pobres, e pelo aclamar de toda a ajuda internacional para esta situação.

b. Fase 2 − anos 80

As estratégias económicas transformaram-se em orientadas para o mercado, e focadas na liberalização e privatização das empresas estatais; muitos países mergulharam numa grave crise, com crescimentos negativos e altas taxas de inflação, tendo levado à intervenção do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional, tornando-se na designada «década perdida», em particular na América Latina; a interdependência económica cresceu enormemente; aumento do debate intergovernamental, no que respeita à gestão macroeconómica e integração no sistema de comércio mundial, tendo desempenhado um papel de assistência técnica fundamental no Uruguai Round.

c. Fase 3 − a partir dos anos 90

Foi criada a Organização Mundial do Comércio, em substituição do GATT, e a UNCTAD exerceu uma grande influência para o desenvolvimento orientado para uma nova arquitectura financeira internacional; colocou na agenda dos países desenvolvidos o assistirem os países em vias de desenvolvimento, e na expansão e ajuda técnica nos mais

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variados campos, como sejam a gestão da dívida, de políticas de investimento, de políticas de competição, de comércio e de desenvolvimento.

Os objectivos formais da UNCTAD, e que figuram no artigo da resolução que lhe está na génese, são os seguintes:

a. Fomentar o comércio internacional, especialmente com o fim de acelerar o desenvolvimento económico, e em particular, o comércio entre os países que se encontram em diferentes etapas de desenvolvimento, entre países em desenvolvimento e entre países com diferentes sistemas de organização política e social;

b. Formular princípios e políticas sobre o comércio internacional e sobre problemas afins do desenvolvimento económico;

c. Apresentar propostas para levar à prática esses princípios e políticas;

d. Rever e rectificar em geral a coordenação das actuações de outras instituições que participem no sistema das Nações Unidas, na esfera do comércio internacional;

e. Iniciar medidas − quando seja pertinente e em cooperação com os competentes órgãos da ONU − para negociar e aprovar instrumentos jurídicos multilaterais, na esfera do comércio;

f. Servir de centro de harmonização das políticas comerciais e de desenvolvimento dos governos e dos agrupamentos económicos regionais, em cumprimento do disposto pelo art.º 1 da Carta das Nações Unidas.

3. G77

O G-77 foi criado a 15 de Junho de 1964, após a assinatura da chamada «Declaração Conjunta dos 77 Países». Estes 77 países, que na altura eram considerados países em vias de desenvolvimento, participaram, também, na 1.ª Sessão da UNCTAD, a qual teve lugar em Genebra, na Suíça.

Os países desenvolvidos e que também participaram na 1.ª Conferência da UNCTAD deram um especial contributo para a criação do G-77. Estes tinham considerado como ideal a finalidade de que este Grupo pudesse, de forma concertada e mais assertiva, tratar dos problemas específicos dos seus membros, concedendo-lhes, consequentemente, uma voz mais activa. A criação do G-77 foi considerada como um dos mais importantes acontecimentos após a II Guerra Mundial, dado que, e

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pela primeira vez na História, as Nações consideradas marginalizadas, fundaram uma forma de se afirmarem, de se fazerem ouvir a uma só voz, e assim serem capazes de intervir mundialmente.

O principal objectivo, inicialmente, foi o da redefinição das relações Norte-Sul, ou seja as relações entre o que se considerava serem os países pobres do Sul e os países ricos do Norte, forma como na altura se dividia o Mundo. A iniquidade que se verificava existir na ordem económica internacional percepcionou-se como um dos maiores obstáculos ao desenvolvimento. No campo do comércio, das finanças e no da tecnologia, o G-77 encetou uma luta permanente contra a discriminação e a exclusão, bem como, pela obtenção de regras de maior igualdade social.

Julius Nyerere, uma das mais famosas vozes da história recente, fundador da Unidade Africana, e o primeiro Presidente da Tanzânia, afirmou, e em relação ao G-77, que a sua criação foi a oportunidade «para os Países em vias de desenvolvimento serem os principais responsáveis pelos seus próprios destinos».

O principal papel do G-77 na defesa e projecção de interesses dos países em vias de desenvolvimento é o testemunho da relevância continuada do diálogo desenvolvido globalmente.

Os princípios básicos defendidos por esta Organização são os seguintes: − A defesa do multilateralismo no campo político e económico;

− A necessidade de garantir espaço suficiente para que os países possam implementar as suas políticas nacionais, em paridade com o empenhamento internacional;

− A procura de regras mais equitativas no sistema de comércio internacional;

− Manter a grande referência da importância da cooperação entre os países em vias de desenvolvimento;

− O tratamento das questões de interesse abrangerem o maior número de países, e especialmente, serem referentes aos menos desenvolvidos.

O G-77 é o maior grupo do Mundo e tem desempenhado um papel determinante nas relações económicas internacionais. Tem colocado um especial enfoque na diminuição das desigualdades entre os países em vias de desenvolvimento e os países desenvolvidos. Nota-se um papel de elevado empenho nas iniciativas relacionadas com o desenvolvimento das relações de cooperação económicas entre os países em desenvolvimento.

Nos anos subsequentes foram levados a cabo diversos eventos, os quais tiveram como natural objectivo, tornar consequente o empenhamento para a expansão do comércio através dos países em vias de desenvolvimento. Alguns destes programas, eventos onde se reafirmou a manifestação de vontades que se encontra na génese do Grupo, foram o Programa de Mútua Confiança de Aruba e o Programa para as Negociações de 1979; o Programa de Acção de Caracas de 1981; e a Declaração do Cairo para a Cooperação Económica entre os Países em Vias de Desenvolvimento de 1986.

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A Agenda para o Desenvolvimento de Doha, lançada em Novembro de 2001 no Qatar, voltou nessa altura a assegurar a colocação do desenvolvimento e da agricultura no centro das negociações multilaterais da Organização Mundial do Comércio (World Trade Organisation − WTO), algo essencial para a afirmação e o apoio aos países do G-77, bem como aos que não fazendo dele parte, se inscrevem dentro das condições daqueles sobre os quais encetam os constantes apelos e tentam influenciar a ajuda e o reconhecimento internacionais.

Neste momento, e através da dinâmica que o G-77 tem mostrado, os países que o integram na actualidade são mais que os formadores. Contudo, o nome manteve-se para que não fosse alterada / desvirtuada a história da sua criação, a qual assume já um valor histórico no capítulo das relações internacionais. O G-77 é actualmente composto por 132 países.

4. MOVIMENTO DOS NÃO ALINHADOS

O processo da descolonização levado a cabo pela Organização das Nações Unidas foi talvez o factor com maior relevância na formação do Grupo dos países não alinhados. Com inúmeras colónias a reclamar a sua independência, e sem sentido de orientação, muitas procuraram apoio, junto das chamadas superpotências

mundiais dando-lhes dinheiro em troca de apoios governamentais, com o intuito de obterem uma maior prosperidade nacional e riqueza de mercado.

A maior parte das recentes nações encontravam-se numa situação de pobreza extrema, sem vida social, sem capacidade económica, sem dinamização populacional e com uma grande dívida externa por resolver. Encontravam-se num caminho muito perigoso, numa realidade insuportável e de difícil resolução. A instabilidade política, a pobreza extrema, a dívida externa e o receio do conflito capitalista / comunista foram alguns dos primeiros pontos discutidos na conferência de Bandung.

Este movimento poderá então ser interpretado como a criação de uma forma única de cooperação entre países do chamado terceiro mundo de modo a que, de acordo com os estatutos da ONU, pudessem prosperar, acabar com a guerra-fria e afirmarem-se no panorama mundial.

Na verdade, o MNA é uma associação de países, formado com o aparecimento dos dois grandes blocos opostos, durante a Guerra-Fria, liderados pelas super potências de então, os EUA e a URSS. O seu objectivo era o da manutenção de uma posição neutral, não associada a nenhum dos grandes blocos. Estes países apresentaram-se como uma «terceira» via, uma alternativa aos blocos capitalista e comunista. Cientes dos seus interesses comuns, os países saídos da descolonização,

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na política internacional. Foi assim que nasceu a convocatória para a Conferência de Bandung, a qual foi a potenciadora da constituição de um movimento, desencadeado por países de independência recente e descomprometidos com qualquer um dos dois blocos geoestratégicos. Este movimento condenava o colonialismo, rejeitava a política de blocos, apelava à resolução pacífica das divergências internacionais e à proclamação da liberdade e igualdade de todos os povos e nações.

Ser-se membro do MNA é ser-se um actor activo e participativo nas relações internacionais, e o julgamento a produzir nestas matérias resultará mais no mérito do que em posições pré-determinadas. Uma larga maioria dos países do MNA opuseram-se aos EUA durante a Guerra do Vietname (1957-1975) e contra a URSS depois da invasão do Afeganistão, em 1979.

Os principais temas de que o Movimento trata são as lutas nacionais pela independência, o combate à pobreza, o desenvolvimento económico e a oposição ao colonialismo, ao imperialismo e ao neocolonialismo.

O início oficial do Movimento pode ser encontrado na Conferência da Ásia e África, realizada em Bandung, na Indonésia, em 1955.

No ano de 1961, as delegações de 25 países reuniram-se em Belgrado, no período de 1 a 6 de Setembro, na Primeira Conferência dos Chefes de Estado e de Governo Não-Alinhados, a qual se realizou em grande medida por iniciativa do presidente da na altura existente Jugoslávia, o Marechal Tito, tendo como grandes apoiantes, os Presidentes Nasser do Egito, Sukarno da Indonésia, Nkrumah do Gana, Chu En-Lai da China e o Primeiro-Ministro Nehru da Índia. Um dos principais temas da conferência foi a corrida ao armamento entre os EUA e a União Soviética. Nessa Conferência de Cúpula foi estabelecido oficialmente o Movimento de Países Não-Alinhados, sobre uma base geográfica mais ampla, principalmente com novos estados independentes.

Desde então, o número de membros cresceu para 116 (118 após a cimeira de Cuba com a entrada do Haiti e de St Kitts e Nevis, uma ilha das Caraíbas), o que faz deste movimento a organização internacional mais importante a seguir à ONU.

O grupo de países que integra actualmente o Movimento dos Não Alinhados representa cerca de 60 por cento da população mundial e dois terços dos lugares na Assembleia-Geral das Nações Unidas. Embora nunca tenha sido membro, o Brasil acompanha os trabalhos do Movimento na qualidade de observador.

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Após a II Guerra Mundial a Humanidade iniciou uma nova etapa da sua existência, mercê das novas realidades que dela resultaram.

Por um lado, a Europa dividiu-se em dois Blocos, os quais lutavam por uma hegemonia ideológica, e cuja luta se estendeu aos países colonizados. Por outro, os povos e países colonizados acordaram para uma nova realidade, a de que se podiam libertar do jugo colonizador e imperialista das potências europeias.

Com a II Guerra Mundial, os países coloniais perderam parte da sua capacidade de afirmação junto das colónias, e os povos destas também não gostaram de se verem imiscuídos numa guerra que não lhes respeitava, e de terem servido como elemento humano para o preenchimento das fileiras, sem quaisquer retornos por este contributo.

Com a instuição da ONU e das capacidades conferidas pela Carta, e dado que os países envolvidos na Guerra tinham lutado pela autodeterminação, constitui um factor de força para que os colonizados países almejasse, também, a autodeterminação.

As conferências realizadas pelos países do chamado Bloco do Terceiro Mundo foram outro factor preponderante, na afirmação internacional, e da crescente força e vontade de se livrarem das potências coloniais, ganhando a Conferência de Bandung, em 1955 um relevo extraordinariamente importante.

Consequentemente, surgiram movimentos e grupos que conseguiram afirmar-se e exercer a necessária pressão, no intuito da resolução dos problemas que afligiam estes países, apesar de nem sempre as boas vontades e os desejos de resolução terem sido atingidos.

A descolonização ocorreu de diversas formas, havendo casos de conflitos violentos pela emancipação, noutros, esta obteve-se pacificamente, e uma mistura dos dois caracterizou a luta desenvolvida por outros países, tendo-se conseguido a independência destes países.

De entre o não-alinhamento, o G-77 tem assumido e mantido durante todo o período da sua existência um empenhamento continuado e assertivo para o desenvolvimento internacional, nomeadamente ao nível das mais diversas Instituições, celebrando compromissos internacionais multilaterais, incluindo-se nestes, os objectivos definidos no Desenvolvimento do Milénio «Millenium Development Goals» da ONU, nas quais a erradicação da pobreza assume um carácter de grande realização.

Este Grupo assume assim um carácter ímpar, com uma acção de dignificação e melhoria das condições de vida, de desenvolvimento do comércio, das finanças, da economia, e da educação, de todos os países menos desenvolvidos do Mundo, contribuindo para que haja um comprometimento e um diálogo entre estes e os países mais desenvolvidos, ou seja, para que a relação e a cooperação Sul-Sul e a Norte-Sul permaneçam e que, com a última, haja um verdadeiro contributo para o

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O Movimento dos Países Não-Alinhados é um movimento que reúne 116 países, em geral nações em desenvolvimento, com o objectivo de criar um caminho independente no campo das relações internacionais que permita aos membros não se envolverem no confronto entre as grandes potências, constituindo-se como uma resposta a uma crise económica, social e até mesmo cultural, existente nos países do terceiro mundo, e uma preocupação com os efeitos e os desgastes que a disputa entre os Estados Unidos e União Soviética poderiam à altura causar − Guerra-Fria. Este grupo surgiu como resposta a uma situação extremamente grave e a um desejo de acabar com a miséria, a pobreza, a falta de poder económico, e também, como uma forma de mostrar que a cooperação traz boas relações internacionais e pode ajudar à sobrevivência enquanto pátria e nação.

Desta forma se infere que a descolonização foi um factor preponderante para o nascimento e a criação de movimentos, como o Movimento dos Não Alinhados e o próprio Grupo dos 77. Este aparecimento e a possibilidade de estes países se enlearem e imiscuírem como importantes actores na cena internacional foi um dos importantes resultados que advieram como consequência do fim da II Guerra Mundial. Inerentemente, a possibilidade que se criou com a ONU e o direito internacional conferido pela respectiva Carta, onde a capacidade de autodeterminação a ser concedida aos Estados e Países colonizados, as quais há que juntar a Resolução 1514 da Assembleia-Geral, constituíram as ferramentas necessárias à descolonização.

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Referências

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