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(1)

UFRRJ

INSTITUTO DE VETERINÁRIA

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS

VETERINÁRIAS

DISSERTAÇÃO

Miíases Umbilicais em Bezerros Nelore Recém-Nascidos:

Predisposição em Dois Cruzamentos Raciais Criados no

Sistema de Manejo Voisin no Rio de Janeiro e Avaliação de

Medidas Profiláticas em Criação Extensiva no Pantanal

Sul-Mato-Grossense

Marcus Sandes Pires

(2)

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE VETERINÁRIA

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS VETERINÁRIAS

MIÍASES UMBILICAIS EM BEZERROS NELORE

RECÉM-NASCIDOS: PREDISPOSIÇÃO EM DOIS CRUZAMENTOS RACIAIS

CRIADOS NO SISTEMA DE MANEJO VOISIN NO RIO DE JANEIRO E

AVALIAÇÃO DE MEDIDAS PROFILÁTICAS EM CRIAÇÃO

EXTENSIVA NO PANTANAL SUL-MATO-GROSSENSE

MARCUS SANDES PIRES

Sob a Orientação do Professor

Argemiro Sanavria

e Co-orientação do Pesquisador da EMBRAPA-Pantanal

Antonio Thadeu Medeiros de Barros

Dissertação submetida como

requisito parcial para obtenção do

grau de Mestre em Ciências, no

Curso de Pós-Graduação em

Ciências Veterinárias, Área de

concentração em Sanidade Animal

Seropédica, RJ

Agosto de 2008

(3)

636.208964 P667m T

Pires, Marcus Sandes, 1980-

Miíases umbilicais em bezerros nelore recém-nascidos: predisposição em dois cruzamentos raciais criados no sistema de manejo voisin no Rio de Janeiro e avaliação de medidas profiláticas em criação extensiva no pantanal Sul-Mato-Grossense / Marcus Sandes Pires – 2008. 81f. : il.

Orientador: Argemiro Sanavria.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Curso de Pós-Graduação em Ciências Veterinária. Inclui bibliografia.

1. Bezerro – Doenças – Teses 2. Bezerro – Teses 3. Bovino de corte – Melhoramento genético – Teses. 4. Nelore (Zebu) – Teses. I. Sanavria, Argemiro, 1949-. II. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Curso de Pós-Graduação em Ciências Veterinária. III. Título.

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DEDICATÓRIA

Aos meus pais, Elizabeth Tavares Sandes e José Manuel dos Santos Pires, por toda a confiança, atenção, preocupação, entusiasmo, amor e carinho, pois sem todos esses fatores, com certeza esta jornada não se completaria;

Aos meus amigos e companheiros que estiveram presentes em muitos momentos sempre confiantes no meu sucesso;

A Deus, por me proporcionar esta grande oportunidade de aprendizagem e crescimento pessoal e espiritual.

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“Seja a mudança que você deseja ver no mundo”

(7)

AGRADECIMENTOS

À Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, pela oportunidade de realização do Curso de Mestrado em Ciências Veterinárias.

À Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela concessão da bolsa de estudos, que foi fundamental nesta jornada.

Ao Professor Dr. Argemiro Sanavria, pela ajuda, apoio, amizade, incentivos e confiança, sempre presentes.

Ao Pesquisador Dr. Antonio Thadeu Medeiros de Barros da EMBRAPA-Pantanal por aceitar ser co-orientador deste trabalho e pela ajuda e apoio cientifico.

Ao Dr. Heitor Miraglia Herrera, pela fundamental contribuição na execução deste trabalho, assim como para todos os funcionários da Fazenda Alegria que de alguma forma me auxiliaram na conclusão deste estudo.

Ao Dr. Rogério Cavalcanti Van Rybroek, por disponibilizar sua Fazenda a execução deste trabalho, por todo apoio e conhecimentos repassados de sua experiência administrativa.

A toda a equipe de funcionários da Fazenda Santo Antonio, que sempre nos auxiliaram na realização deste trabalho de maneira incondicional.

Ao Dr. Camilo Francesco Cesare Canella, médico veterinário da Fazenda Santo Antônio.

A todos os professores do Curso de Pós-graduação em Ciências Veterinárias pelos conhecimentos transmitidos, fundamentais para minha formação profissional e pessoal.

Aos meus pais, por todo o apoio, incentivo e carinho, sempre presentes. Aos meus familiares, sempre confiantes no meu retorno promissor.

Aos funcionários do laboratório de Doenças Parasitárias da UFRRJ, Cléa Guimarães de Castro, Wanderley Mascarenhas Passos e Luiz Ribeiro da Paz pela excelente convivência.

Aos meus companheiros e amigos de laboratório, Claudia Bezerra da Silva, Joice Aparecida Rezende Vilela, José Antonio Alvarinho Neto, Fernanda Maria Tostes, Rute Maria de Paula Oliveira, Renata Kazuko Sakai, Maria Clara da Silva Negreiros Botelho, Bianca Mendes Ferreira, Edilamar Veloso de Andrade, Guilherme Brito e Alexandre Galvão, por todo ânimo, alegria, incentivo, ajuda e, principalmente, pela ótima convivência de trabalho.

Aos meus amigos Érica Cristina Rocha Roier, Tiago Marques dos Santos, Vinicius Pimentel Silva, Huarrisson Azevedo Santos, Henrique Trevisan, Leandro Galzerano, Daniel da Silva Guedes Junior e todos os demais companheiros de alojamento e de Curso, pelos incentivos, conselhos e alegrias proporcionados no decorrer de todo esse tempo. A todas as pessoas que de alguma forma tenham contribuído para realização destetrabalho.

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BIOGRAFIA

MARCUS SANDES PIRES, filho de José Manuel dos Santos Pires e Elizabeth Tavares Sandes, nasceu em 22 de outubro de 1980, no município do Rio de Janeiro, Estado do Rio de Janeiro.

Cursou o Ensino Fundamental na Escola Estadual Menezes Cortes, em Jacarepaguá, Rio de Janeiro, e o Ensino Médio no Colégio Pedro II, na Tijuca, Rio de Janeiro.

Ingressou na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro em 2000, no curso de Medicina Veterinária.

Durante a graduação, foi estagiário no Laboratório de Microbiologia de Alimentos, do convênio entre a UFRRJ/ Embrapa; estagiário do Hospital Veterinário de Grandes Animais da UFRRJ; estagiário do Setor de Veterinária pertencente a Cavalaria da Policia Militar do Estado do Rio de Janeiro (RPMont) e Bolsista de Iniciação Científica (PIC-UFRRJ) da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, participando de projetos de pesquisa e publicações do Grupo de Pesquisa/CNPq Produção e Saúde dos Eqüinos.

Concluiu o Curso de Graduação em Medicina Veterinária em 2005.

Ingressou no Curso de Pós-graduação em Ciências Veterinárias, nível Mestrado, área de concentração Sanidade Animal, na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, no ano de 2006.

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RESUMO

PIRES, Marcus Sandes. Miíases Umbilicais em Bezerros Nelore Recém-Nascidos: Predisposição de Dois Cruzamentos Raciais Criados no Sistema de Manejo Voisin no Rio de Janeiro e Avaliação de Medidas Profiláticas em Criação Extensiva no Pantanal Sul-Mato-Grossense. 2008. 81p. Dissertação (Mestrado em Ciências Veterinárias). Instituto de Veterinária, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ, 2008.

A pesquisa foi realizada em duas propriedades distintas de criação de bovino de corte. A primeira parte do experimento foi executada na Fazenda Santo Antonio, localizada no município de Miguel Pereira, Estado do Rio de Janeiro tendo como objetivo avaliar a suscetibilidade e a prevalência de miíases umbilicais nos bezerros recém-nascidos, resultantes dos cruzamentos entre touros Brahman P.O (puro de origem) e vacas 5/8 Canchim x 3/8 Nelore e os cruzamentos entre touros Nelore P.O e vacas 5/8 Canchim x 3/8 Nelore. Foi realizado um levantamento observacional descritivo da prevalência de miíases umbilicais após o nascimento dos bezerros, de acordo com as origens raciais e sexo desses animais, no período de agosto a novembro de 2006. Cada grupo das matrizes, composta por 130 fêmeas, entre vacas, novilhas, e 10 touros da mesma origem racial (Nelore e Brahman), alocados em 40 piquetes, tendo cada um desses, de dois a três hectares, utilizando-se o sistema de manejo rotacionado Voisin. Os animais permaneciam em média 24 horas em cada piquete, sendo o período de descanso da pastagem de um mês. A segunda parte do experimento foi realizada na Fazenda Alegria, localizada no município de Corumbá, Estado de Mato Grosso do Sul, tendo como objetivo avaliar a eficácia de medicamentos na prevenção de miíases umbilicais em bezerros da raça Nelore de criação extensiva, nascidos de dezembro de 2006 a março de 2007. Para a avaliação da eficácia dos medicamentos, foram utilizadas quatro invernadas de 850 hectares, contendo 350 vacas, em média, e os bezerros recém-nascidos desses grupos, tratados com a medicação de escolha de cada invernada. Os medicamentos utilizados foram: doramectina 200 µg/kg p.v.a., ivermectina 200 µg/kg p.v.a., ivermectina longa ação 200 µg/kg p.v.a., todos, via parenteral (subcutânea) e solução de DDVP (2,2 diclorovinil dimetil fosfato ou diclorvós) + triclorfon, com aplicação tópica na região umbilical. Após a aplicação eletiva dos medicamentos em cada grupo, realizou-se a avaliação da prevalência das miíases umbilicais nos animais. O monitoramento dos bezerros nas duas propriedades foi até um mês pós-nascimentos, para reavaliação de possíveis ocorrências de miíases umbilicais. Na primeira parte do experimento, dos 152 bezerros recém-nascidos, 75 foram oriundos do cruzamento entre Nelore x 5/8 Canchim/Nelore com uma prevalência de 41,33% de miíases umbilicais, e 77, oriundos do cruzamento entre Brahman x 5/8Canchim/Nelore constatou-se uma prevalência de 54,55% ,de miíases umbilicais, não sendo evidenciado diferença significativa (p>0,05) entre os cruzamentos. Em relação ao sexo dos animais, não houve diferença significativa (p>0,05). Do total de miíases umbilicais observadas, 52,05% ocorreram em machos e 47,95% em fêmeas. Na segunda parte experimental, dos 613 bezerros medicados preventivamente, constatou-se 24 casos de miíases umbilicais, com predominância de ocorrências na época mais quente e de maior índice de precipitação pluviométrica do período observado. Houve diferença significativa (p<0,05) na utilização de doramectina, ivermectina e ivermectina longa ação, aplicadas via sub-cutânea em relação à solução tópica de DDVP + triclorfon como medicação preventiva á miíase umbilical. Não houve diferença significativa (p>0,05) entre as avermectinas utilizadas no estudo, na prevenção de miíases umbilicais.

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ABSTRACT

PIRES, Marcus Sandes. Umbilical Myiasis in Nelore Newborn Calves: Predisposition of Two Racial Crossings Raised in a Voisin System in Rio de Janeiro and Evaluation of Prophylactic Measures in Extensive Cattle Raising in the Pantanal Sul-Mato-Grossense. 2008. 81p. Dissertation (Master Science in Veterinary Science). Instituto de Veterinária, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ, 2008.

The research was done in two distinct properties of beef cattle raising. The first part of the experiment was executed in Santo Antônio Farm, located in Miguel Pereira city, Rio de Janeiro State, with the objective of evaluating the susceptibility and the prevalence of umbilical myiasis in the newborn calves, resultant of the crossings between Brahma pure breed bulls and 5/8 Canchim cows x 3/8 Nelore and the crossings between Nelore pure breed bulls and 5/8 Canchim/Nelore cows x 3/8 Nelore. A descriptive study with observation of the prevalence of umbilical myiasis was carried out after calves’ birth, in accordance with the racial origins and gender of these animals, from august to november 2006. Each matrices group, composed of 130 females, among cows, heifers, and 10 bulls of same racial origin (Nelore and Brahman), placed in 40 poles, having each one of these, two to three hectares, using the Voisin rotation system. The animals remained approximately 24 hours in each pole, after that, they had to avoid the pasture for one month. the second part of the experiment was carried out in Alegria Farm, located in Corumbá city, State of Mato Grosso do Sul, with the objective of evaluating the efficacy of medicines, to do so, were used four separated pastures of 850 hectares, containing 350 cows, approximately, and the newborn calves of these groups, were treated with the medication chosen for each of the separated pastures. The medicines used were: doramectin 200 µg/kg l.w., ivermectin 200 µg/kg l.w., ivermectin long action 200 µg/kg l.w., all, subcutaneously injected and solution of DDVP (2.2-dichlor-vinyl-dimethyl-phosphat or dichlorvos) plus triclorfon, with topic application in the umbilical area. After the elective application of the medicines in each group, it was possible to detect the prevalence of umbilical myiasis in the animals. The monitoring of the calves in the two properties was done until one month after the birth, for new evaluation of possible occurrences of umbilical myiasis. In the first part of the experiment, from 152 newborn calves41,33% of umbilical myiasis, and 77, derived from the crossing between Brahman x 5/8 Canchim/Nelore, 75 were derived from the crossing between Nelore x 5/8 Canchim/Nelore with a prevalence of 54,55%, of umbilical myiasis, not being evidenced significant difference (p>0.05). From the total of umbilical myiasis observed, 52,02% occurred in male and 47,95% in females. In the second experimental part, from 613 calves preventively treated, 24 cases of umbilical myiasis were detected, mostly in the period of heavier rains and higher temperatures. There was a significant difference (p<0.05) in the use of doramectin, ivermectin, and ivermectin long action, subcutaneously application in relation to the topic solution of DDVP + triclorfon like preventive medication to the umbilical myiasi. There was no statistical difference (p>0.05) among the avermectins used in the study, in the prevention of umbilical myiasis.

(11)

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1. Distribuição das áreas de alocação dos tratamentos realizados na Fazenda Alegria-MS, de acordo com as bases químicas e formas de aplicação utilizadas... 27 Tabela 2. Frequência de bezerros recém-nascidos, em função do sexo e grupo

genético, utilizados em estudo realizado na Fazenda Santo Antônio– RJ, no período de agosto a novembro de 2006... 30 Tabela 3. Frequência de bezerros com miíases umbilicais em relação ao número

total de animais, em função do sexo e grupo genético, na Fazenda Santo Antônio–RJ, no período de agosto a novembro de 2006... 31 Tabela 4. Prevalência de miíases umbilicais em relação ao total de ocorrências,

em função do sexo e grupo genético, na Fazenda Santo Antônio–RJ, no período de agosto a novembro de 2006... 32 Tabela 5. Frequência de nascimento de bezerros, distribuídos por tratamento, no

período de dezembro de 2006 a maio de 2007, na Fazenda Alegria, Corumbá, MS... 33 Tabela 6. Distribuição de bezerros recém-nascidos alocados por tratamento, no

período de dezembro de 2006 a maio de 2007, na Fazenda Alegria, Corumbá, MS... 34 Tabela 7. Frequência mensal de miíases umbilicais em bezerros, independente

do tratamento efetuado, no período de dezembro de 2006 a maio de 2007, na Fazenda Alegria, Corumbá, MS... 34 Tabela 8. Frequência de bezerros com miíase umbilical, independente do

tratamento efetuado, em relação às condições climáticas trimestrais observadas no período de dezembro de 2006 a maio de 2007, na Fazenda Alegria, Corumbá, MS... 35 Tabela 9. Frequência de bezerros com miíase umbilical pós-tratamento, no

período de dezembro de 2006 a maio de 2007, na Fazenda Alegria, Corumbá, MS... 37

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1. Bezerros originados dos cruzamentos entre touro Nelore e vaca 5/8 Canchim x 3/8 Nelore (a) e entre touro Brahman e vaca 5/8 Canchim x 3/8 Nelore (b), nascidos na Fazenda Santo Antonio, município de Miguel Pereira, RJ. (detalhe da conformação da região umbilical em ambos os animais, tendo o bezerro de origem Brahman um pouco mais

pendular)... 23 Figura 2. Vista panorâmica dos piquetes em relevo montanhoso, visualizando o

bom aspecto da pastagem no modelo Voisin. Fazenda Santo Antonio, localizada no município de Miguel Pereira-RJ... 23 Figura 3. Vista panorâmica das áreas de pastagens de um dos lotes, contendo

animais dos cruzamentos entre touro Brahman e vacas 5/8 Canchim x 3/8 Nelore (a). Piquetes amplos (b) e relevo montanhoso da propriedade (c)... 24 Figura 4. Vista aérea da Fazenda Santo Antonio–RJ. Curral principal da

propriedade em destaque. Imagem de satélite da área experimental (a). Na parte superior direita, mapa do território nacional, destacando o estado do Rio de Janeiro com o município de Miguel Pereira (b). (Fonte: figura “a” disponível em: Google® Earth-acesso online em 25/01/2007; figura “b” disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/ Imagem:RiodeJaneiro_Municip_MiguelPereira.svg>. acesso em 26/09/2008)... 25 Figura 5. Bovinos da raça Nelore em uma invernada de relevo plano e pastagem

nativa na “época das inundações”. Fazenda Alegria, Pantanal sul-mato-grossense (Foto: H.M. Herrera, 2008)... 26 Figura 6. Bovinos da raça Nelore em área de campo nativo, cercada de

fragmentos florestais (cordilheiras) no “período sem inundações”. Fazenda Alegria, Pantanal sul-mato-grossense (Foto: H.M. Herrera,

2008)... 27 Figura 7. Vista aérea da Fazenda Alegria – MS, ilustrando a divisão das

invernadas (áreas) e distribuição dos grupos tratados: Área I (doramectina), Área II (ivermectina), Área III (ivermectina longa ação) e Área IV (DDVP + triclorfon). Imagem de satélite da área experimental (a). Na parte superior direita, mapa do território nacional, destacando o estado do Mato Grosso do Sul com o município de Corumbá (b). (Fonte: figura “a” disponível em: Google® Earth - acesso online em 25/01/2007; figura “b” disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:MatoGrossoSul_Municip_Coru mba.svg>. acesso em 26/09/2008)... 28 Figura 8. Bezerro recém-nascido apresentando miíase umbilical, com edema na

região umbilical (a), estágio avançado de desenvolvimento larval e presença de corrimento soro-hemorrágico(b). Umbigo cicatrizado (c)... 29

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Figura 9. Nascimento de bezerros e ocorrência de miíases umbilicais observadas pós-tratamento, no período de dezembro de 2006 a maio de 2007, na Fazenda Alegria, Corumbá, MS... 38 Figura 10. Frequência de miíases umbilicais em bezerros recém-nascidos nos

diferentes grupos tratados, no período de dezembro de 2006 a maio de 2007, na Fazenda Alegria, Corumbá, MS... 39

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO... 1

2 REVISÃO DA LITERATURA... 3

2.1 Miíases... 3

2.2 Miíases por Cochliomyia hominivorax (Coquerel, 1858)... 5

2.2.1 Morfologia e biologia... 5

2.2.2 Distribuição geográfica... 6

2.2.3 Importância econômica e aspectos de saúde pública... 7

2.2.4 Patologia da miíase nos animais... 8

2.2.5 Tratamento preventivo e curativo das miíases... 9

2.2.6 Predisposição as miíases... 12

2.3 Importância do Manejo e Cuidados com os Bezerros... 13

2.4 Resistência Racial aos Ectoparasitos e Suscetibilidade as Miíases... 15

2.5 Grupos de Raças Avaliadas no Estudo quanto à Suscetibilidade a Miíase Umbilical 16 2.6 Sistema Extensivo de Criação e Sistema de Pastejo Rotacionado Voisin (PRV)... 18

2.6.1 Criação de gado na região do Pantanal–MS... 20

2.6.2 Criação de gado na região de Miguel Pereira–RJ... 21

3 MATERIAL E MÉTODOS... 22

3.1 Estudos realizados... 22

3.2 Estudo I - Descrição do local e manejo geral na Fazenda Santo Antonio, RJ... 22

3.2.1 Monitoramento dos bezerros recém-nascidos com relação à ocorrência de miíases umbilicais... 24

3.3 Estudo II - Descrição do local e manejo geral na Fazenda Alegria, MS... 25

3.3.1 Monitoramento dos bezerros recém-nascidos com relação à ocorrência de miíases umbilicais... 27

3.3.2 Análise Estatística... 29

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO... 30

4.1 Suscetibilidade de bezerros recém-nascidos a miíases umbilicais em função do sexo e cruzamento racial... 30

4.2 Avaliação de tratamentos preventivos contra miíases umbilicais em bezerros recém-nascidos em um sistema de criação extensiva no Pantanal... 33

5 CONCLUSÕES... 41

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 42

8 ANEXOS... 60

A - Parâmetros climáticos referentes aos locais de estudo, no Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul, obtidos durante os respectivos períodos experimentais... 61

(15)

1 1 INTRODUÇÃO

A miíase caracteriza-se como uma infestação por larvas de dípteros em tecidos de animais domésticos, selvagens e em humanos (ZUMPT, 1965). Dentre as moscas que provocam miíases primária, destaca-se tanto em importância econômica quanto em saúde pública, a espécie Cochliomyia hominivorax (Coquerel, 1858) (Calliphoridae), também conhecida como mosca-da-bicheira ou mosca-varejeira.

Este díptero efetua suas posturas apenas em lesões recentes presentes na pele e cavidades naturais de seus hospedeiros. As larvas recém eclodidas instalam-se promovendo a destruição dos tecidos cutâneos e musculares, constituindo o quadro clínico de Miíase Cutânea Primária, causando severa injúria ao hospedeiro.

Dentre os animais acometidos, tem destacada importância econômica a espécie bovina. As causas relacionadas ao surgimento de feridas nesta espécie animal estão diretamente relacionadas com o manejo utilizado nas diferentes propriedades rurais, dentre as quais: descorna, castração, marcação a ferro quente, contenção dos animais e a falta de desinfecção do umbigo dos recém-nascidos (PALOSCHI, 1985). Contudo, quaisquer formas de ferimento podem ser um atrativo para a postura da mosca-da-bicheira, inclusive os orifícios naturais revestidos por mucosa, como as narinas, vagina e ânus (LELLO et al.,1982). Os bezerros recém-nascidos estão susceptíveis às miíases devido à atração de C. hominivorax pelo tecido umbilical exposto, proporcionando condição adequada para a postura ao redor do cordão umbilical ainda não cicatrizado. Com as infestações de larvas, ocorre dificuldade em sua cicatrização, favorecendo a penetração de agentes patogênicos; possibilitando a ocorrência de onfalite e onfaloflebite nos bezerros (LAENDER et al., 1984). Portanto, uma alta taxa de mortalidade pode estar associada à ocorrência de miíase umbilical.

Desta forma, a desinfecção do umbigo nos bezerros recém-nascidos torna-se um procedimento essencial de prevenção e controle para esta ectoparasitose. Contudo, em situações onde existe uma dificuldade de acesso aos animais, como ocorre na bovinocultura de corte extensiva, o manejo dado aos bezerros recém-nascidos fica comprometido.

Apesar de ocorrer eventualmente à infestação por larvas de C. hominivorax mesmo em animais que obtiveram tratamento adequado, a desinfecção do umbigo dos bezerros promove possíveis cicatrizações mais rápidas, diminuindo assim a chance de ocorrer à infestação. A utilização de quimioterápicos injetáveis tem demonstrado elevada eficácia na profilaxia de miíases nos animais em diferentes regiões.

A prevenção destas larvas por meio de endectocidas ou medicamentos repelentes pode garantir o sucesso no controle desta enfermidade em propriedades de criação extensiva, pois evita maiores gastos nos tratamentos de infecções decorrentes da infestação umbilical do recém-nato, previne a ocorrência de óbitos devido a complicações resultantes da infestação.

Outras espécies de moscas podem causar miíases, contudo a espécie C. hominivorax esta diretamente relacionada à casuística de miíases umbilicais nesta faixa etária dos animais (BIANCHIN et al., 1992) no território nacional, sendo, portanto, o enfoque do presente estudo.

Logo, como formas de interferir na frequência desta ectoparasitose no rebanho bovino, particularmente nesta faixa etária de animais, as formas de manejo empregado na propriedade estão diretamente relacionadas ao sucesso na profilaxia das miíases e tratamento dos animais.

Com isso, a busca por raças bovinas ou seus respectivos cruzamentos, que possuam maior resistência inata, assim como, por tratamentos profiláticos à infestação no umbigo dos bezerros recém-nascidos, pode diminuir os prejuízos relacionados a esta enfermidade nesta faixa etária.

(16)

2 O presente estudo teve como objetivos:

a) Avaliar predisposição a miíase umbilical em bezerros recém-nascidos, oriundos de dois cruzamentos raciais (touros Nelore x vacas 5/8 Canchim 3/8 Nelore e touros Brahman x vacas 5/8 Canchim 3/8 Nelore) e a influência do sexo quando criados em um sistema Voisin, no Rio de Janeiro;

b) Avaliar a utilização de bases farmacológicas distintas com aplicação sistêmica e tópica na prevenção de miíases umbilicais em bezerros nelore recém-nascidos, criados em um sistema de manejo extensivo no Pantanal sul–mato-grossense.

(17)

3 2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 Miíases

Miíase é a infestação e o desenvolvimento de larvas de dípteros em tecidos de animais e/ou de humanos. O termo miíase originou-se da palavra grega “myia”, que significa mosca (GUIMARÃES; PAPAVERO, 1998). A classificação das miíases está relacionada tanto em termos anatômicos da infestação no hospedeiro, como também em termos parasitológicos, salientando a inter-relação entre o parasito e o hospedeiro (HALL; WALL, 1995). Esta classificação também está relacionada à biologia do díptero em questão, e ao tipo de tecido em que o parasitismo ocorre.

De acordo com o local, as miíases podem ser classificadas em: cutâneas (dermal e subdermal) e cavitárias (nasofaringeal, ocular, auricular, anal, vaginal, intestinal, etc). Em relação à biologia do díptero, são classificadas como miíases obrigatórias (primárias), sendo aquelas em que as larvas se desenvolvem exclusivamente em tecido vivo, e as miíases facultativas (secundárias), quando se desenvolvem em cadáveres, tecidos necrosados ou matéria orgânica em decomposição, podendo ocasionalmente parasitar organismos vivos (BROCE, 1985). Existe também um tipo de miíase denominado pseudomiíase, que consiste na ingestão acidental de larvas junto aos alimentos, podendo ser ou não patológica (GUIMARÃES et al., 1983).

Quanto ao tipo de tecido que o estágio larval necessita, para completar seu ciclo biológico, podem ser biontófagas, ou seja, nutrem-se de tecido vivo e também necrobiontófagas, pois acometem tecidos necrosados, mas com o hospedeiro vivo (LINHARES, 1995).

Dentre as moscas que podem causar miíases estão inclusas as das famílias Oestridae, Calliphoridae e Sarcophagidae, as duas primeiras com espécies de grande impacto econômico, por afetar diferentes espécies de animais domésticos, selvagens, de produção e também com importância ao nível de saúde pública, pois muitas dessas acometem o homem. Dentre as moscas que possuem importância médica e veterinária e promovem miíases do tipo primária destacam-se: Dermatobia hominis, Hypoderma bovis, Hypoderma lineatum, Gasterophilus nasalis, Gasterophilus intestinalis, Oestrus ovis, Lucilia sericata, Lucilia cuprina, Chrysomya bezziana e Cochliomyia hominivorax (HALL; WALL, 1995).

Dermatobia hominis (Linnaeus Jr., 1781) é um díptero que cujas larvas promovem a miíase do tipo furuncular cutânea, caracterizada por lesões ulcerativas que danificam principalmente o tecido subcutâneo dos seus hospedeiros, podendo ser animais domésticos, selvagens e o próprio homem, sendo, porém a espécie bovina a mais acometida (GUIMARÃES; PAPAVERO, 1966). Este parasita ocorre nas regiões tropical e subtropical da América Latina, desde o Sul do México até o Norte da Argentina, sendo o Chile o único país em que este díptero ainda não foi encontrado (ANDERSEN, 1960; SANCHO, 1988). No Brasil, o parasitismo por esta espécie ocorre com maior frequência nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso, Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia (MOYA BORJA, 1982).

Outra miíase do tipo furuncular também ocorre nos casos de infestação por larvas de Hypoderma bovis (Linnaeus, 1758) e Hypoderma lineatum (De Villers, 1789). Estes dípteros estão relacionados principalmente à pecuária, associados a prejuízos na produção de leite, e ocorrem naturalmente na América do Norte, Europa, África e Ásia (SCHOOL, 1993). Ambas as espécies possuem em seu ciclo biológico uma fase de migração larval, sendo que na infestação por H. bovis a migração ocorre para a gordura epidural, situa-se anatomicamente entre a dura-máter e o periósteo, presente nas regiões das vértebras torácicas e lombares da coluna vertebral. Já na infestação por H. lineatum a migração ocorre até o tecido conjuntivo

(18)

4 da submucosa do esôfago dos animais acometidos. Podem ocorrer manifestações clínicas como timpanismo ou vômito nestas infestações ou paralisia temporária dos posteriores, quando por H. bovis (SCHOLL, 1993).

As larvas de moscas do gênero Gasterophilus são parasitos obrigatórios da região gástrica dos eqüinos, caracterizando-se também como uma miíase do tipo primária (ZUMPT, 1965). Atualmente possuem distribuição mundial, sendo que no Brasil há registros das espécies G. nasalis (Linnaeus, 1758) e G. intestinalis (De Geer, 1776). Felix et al. (2007) observaram a ocorrência de ambas no Estado do Rio Grande do Sul. Quando as infestações estão instauradas nos animais, estes podem apresentar disfagia, úlceras gástricas e intestinais, obstruções ou vólvulos intestinais, prolapsos retais, anemia, diarréia e outras complicações digestivas (SOULSBY, 1982).

A infestação por Oestrus ovis (Linnaeus, 1761) caracteriza-se como sendo uma miíase nasal, esta espécie possui distribuição mundial e está relacionada principalmente a prejuízos em criações de caprinos e ovinos. Efeitos da infestação por este parasito podem ser insignificantes ou severos (especialmente em cordeiros), com corrimento nasal purulento, espirros repetidos, tremores de cabeça e dificuldades respiratórias (HALL; WALL, 1995). Os adultos são larvíparos, ou seja, depositam diretamente as larvas de primeiro ínstar nas narinas de ovelha e cabras, migrando ativamente pelas cavidades nasais. Nos seios nasais, as larvas se desenvolvem até completarem seus estágios biológicos, quando então são expelidas através de espirros dados pelo animal infestado e, ao cair ao solo, passam ao estágio de pupa (SUAREZ, et al., 2005).

A espécie Lucilia cuprina (Wiedemann, 1830) possui distribuição mundial, mas sua classificação biológica está relacionada ao local de sua ocorrência. Em estudos realizados no Continente Americano (MELLO, 1961), Europa Ocidental e Ásia Central, são discriminadas principalmente como dípteros necrobiontófagos, decompositores de tecidos animais em putrefação ou de carcaças, assim como também causadores de miíases secundárias. Já na Oceania e na África do Sul, está relacionada como responsável por miíases primárias cutâneas, principalmente nos rebanhos ovinos, porém, também acometendo outros animais domésticos como cães e bovinos.

Da mesma forma, a espécie Lucilia sericata (Meigen, 1826) é caracterizada por promover miíases secundárias, como também responsável pela decomposição de carcaças. Entretanto, também existem vários relatos de sua ocorrência como responsável por miíases primárias na Holanda, Inglaterra, País de Galés, Austrália e Nova Zelândia, promovendo graves prejuízos econômicos na ovinocultura destes países, sendo o principal agente causador desta enfermidade; em alguns casos acomete até o próprio homem (SZEKELY et al., 1975).

Em relação às espécies promotoras de miíases primárias destaca-se também Chrysomya bezziana (Villeneuve, 1914), relacionada à grande prejuízo na pecuária. Está distribuída em grande parte da África, Índia, Sul da Ásia, e Papuãna Nova Guiné, afetando uma série de espécies animais e também o próprio homem (HUNPHREY et al., 1980). A fêmea deste parasito deposita seus ovos em feridas recentes ou em orifícios naturais do corpo dos animais. Dependendo da área de infestação e do comprometimento tecidual, pode ocorrer perda de peso dos animais, infertilidade e morte, tanto de animais adultos quanto jovens, sendo os recém-nascidos predisponentes à infestação devido à cicatrização da borda umbilical (PERKINS, 1987).

Contudo, a espécie Cochliomyia hominivorax (Coquerel, 1858) é a que mais se destaca como uma das principais responsáveis por miíases primárias na América Tropical, promovendo severa injúria em seus hospedeiros. Caracteriza-se como um parasito obrigatório, sendo um díptero cujas larvas são biontófagas e as fêmeas ovipositam em feridas recentes. Ao eclodirem, as larvas de primeiro ínstar invadem o tecido e promovem destruições aceleradas de seus constituintes promovendo o quadro de miíase primária crateriforme que,

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5 dependendo do grau e localização, podem levar o hospedeiro ao óbito; acomete vários animais de produção, dentre estes, os recém-nascidos, predisponentes à infestação na borda do cordão umbilical (PALOSCHI, 1985). Este díptero é denominado por diferentes nomes na literatura mundial: mosca-da-bicheira e mosca-varejeira (Brasil), gusano barrenador (México), gusano tornillo (Argentina), bicheira (Uruguai), screwworm (E.U.A) (GUIMARÃES et al., 1983).

Outras espécies de moscas também podem estar envolvidas na casuística das miíases, mas geralmente são classificadas como secundárias, como por exemplo, Cochliomyia macellaria (Fabricius, 1775), agravando o quadro de miíase primária já instalado (GUIMARÃES et al., 1983). Mesmo não sendo tão importante economicamente como causadora de miíase primária, não é rara esta espécie de díptero ser encontrada parasitando tecidos necrosados em mamíferos vivos (GOMES et al., 2000). Da mesma forma, as espécies Chrysomya albiceps (Wiedemann, 1819) e Chrysomya megacephala (Fabricius, 1794) podem deflagrar quadros de miíases secundárias, mas possuem maior ocorrência como decompositores de carcaça. Estas espécies também possuem importância em saúde pública e em medicina veterinária como veiculadores de patógenos, devido ao hábito alimentar ou desenvolvimento larval em lixo, matéria orgânica em decomposição e fezes humanas (CARRARO, 1995).

Desta forma existem várias outras espécies de mosca envolvidas na ocorrência de miíases tanto nos animais quanto no próprio homem, contudo, as miíases relacionadas à maioria dos casos de agravos à saúde animal e prejuízos econômicos no país estão relacionados a infestações por larvas de D. hominis (miíase tipo furuncular) e C. hominivorax (miíase tipo crateriforme). Ambas causadoras de miíases primárias, sendo a última apontada como o terceiro ectoparasito em importância econômica nacional e relacionada a infestações no umbigo dos bezerros recém-nascidos (GRISI et al, 2002; BIANCHIN et al., 1992).

2.2 Miíases por Cochliomyia hominivorax (Coquerel, 1858)

Doutor Charles Coquerel, entomologista e médico da marinha francesa publicou um relatório sobre a ocorrência de alguns homens infestados por larvas de mosca na cavidade nasal. Em março de 1858, ele realizou a descrição da mosca, como Lucilia hominivorax (ALBERTIN; BUXTON, 1934). Posteriormente, Albertin e Buxton (1934) concluíram que a espécie Cochliomyia americana, descrita por Cushing e Patton (1933) como sendo responsável por miíases nos Estados Unidos, era a mesma identificada por Coquerel em 1858, alterando então sua nomenclatura para Cochliomyia hominivorax. Foi utilizado como sinonímia o gênero Callitroga por alguns autores, mas depois de avaliada detalhadamente, a espécie permaneceu no gênero Cochliomyia (HALL, 1965).

2.2.1 Morfologia e biologia

São moscas que possuem tamanho médio, comprimento variando de oito a dez milímetros; coloração azul ou azul esverdeado, abdômen com quatro segmentos. A cabeça com palpos e antenas de coloração amarelo e alaranjado, sendo os mesmos curtos e filiformes; possuem também três faixas longitudinais negras na face dorsal do tórax (GUIMARÃES et al., 1983).

Na fase do terceiro instar larval, possui uma coloração branco-cremosa, assim como uma forma de larva típica, com um corpo cilíndrico de seis a 17mm de comprimento e 1,6 a 3,5 mm de diâmetro. Possui troncos traqueais pigmentados (GUIMARÃES et al., 1983).

Seu ciclo biológico possui quatro estágios, compreendendo as formas de: ovo, larvas (primeiro, segundo e terceiro ínstares), pupa e adulto. As formas adultas se alimentam de

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6 néctar, substâncias açucaradas (OLIVEIRA, 1980) e também do exsudato das lesões produzido pelas larvas (THOMAS; MANGAN, 1989).

As fêmeas depositam de 200 a 300 ovos em massas compactas sobre a pele ao redor de feridas recentes. A eclosão das larvas pode ocorrer de 12 a 24 horas, dependendo da temperatura. Apresentam um comportamento gregário, alimentam-se todas com a cabeça dirigida para dentro da ferida, com os espiráculos respiratórios para fora da lesão, permanecendo no hospedeiro de quatro a dez dias até atingirem seu desenvolvimento pleno (GUIMARÃES, 2001).

Ao abandonar a ferida no terceiro instar, as larvas migram para o solo, passando à fase de pupa, que pode durar de sete dias no verão até 54 dias no inverno (OLIVEIRA, 1980). Após a emergência, as formas adultas copulam por volta do terceiro ou quarto dia, sendo que a fêmea só realiza uma única cópula. A sobrevida dos adultos está em torno de quatro semanas, sob temperatura de 25ºC e cerca de 70% de umidade relativa (LEITE, 2004).

2.2.2 Distribuição geográfica

Historicamente, a distribuição de C. hominivorax estende-se desde o Sul da América do Norte, América Central e Ilhas do Caribe até norte da Chile, Argentina e Uruguai (GUIMARÃES; PAPAVERO, 1998). Contudo, hoje se encontra erradicada nos Estados Unidos da América, México, Belize, Guatemala, El Salvador e Honduras, devido ao Programa de controle através da técnica de esterilização de insetos (WYSS, 2000).

Acidentalmente, ocorreu em 1988, a entrada deste parasito na Líbia, através da importação de animais infestados. Contudo, devido ao receio das autoridades locais e internacionais da disseminação desta mosca no Norte da África, promoveu-se à implantação do mesmo programa de controle utilizado nos Estados Unidos (SIT), utilizando-se a técnica de esterilização dos insetos por radiação (BEESLEY, 1991). Depois de implantado o programa de erradicação, a Líbia foi declarada oficialmente livre deste parasito em 1991 (WYSS, 2000).

No Brasil, miíases determinadas por este díptero ocorrem na maioria dos seus 26 Estados, sendo as regiões Sudeste, Centro-oeste e Nordeste as que apresentam maior número de notificações relacionadas à espécie bovina (HORN; ARTECHE, 1983).

Lello et al. (1982) verificaram no município de Botucatu, São Paulo, a ocorrência de miíases em 50% das 60 propriedades de pequeno, médio e grande porte visitadas, sendo principalmente compreendida sua ocorrência entre os meses de novembro a março, e acometendo mais a espécie bovina.

Em um inquérito epidemiológico realizado entre criadores de ovinos associados a ASPACO (Associação Paulista de Criadores de Ovinos), Madeira et al. (1998) observaram a ocorrência do parasitismo por C. hominivorax no rebanho ovino do Estado de São Paulo, salientando sua importância como a principal ectoparasitose para a criação de ovinos nesta região.

No município de Capão Leão, Rio Grande do Sul, Wiegand et al. (1991) citaram a ocorrência de C. hominivorax em escala reduzida quando comparada a outros dípteros capturados, em estudo da flutuação populacional deste díptero. Seu pico populacional esteve compreendido entre os meses de março e junho, nos anos de 1983 e 1984 e janeiro a junho no ano de 1986, sendo correlacionado a maior flutuação deste díptero à elevada temperatura média do período estudado.

Oliveira (1986) apud Souza (1998) avaliou a influência da temperatura na sazonalidade de C. hominivorax na cidade de Porto Alegre, no estado do Rio grande do Sul, e constatou maior número de capturas no final do verão e no outono (dezembro a junho),

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7 destacando que a temperatura foi o maior fator abiótico que influenciou a atividade do díptero.

Gomes et al. (1998) constataram no município de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, a presença deste díptero ao longo do ano, variando seu pico populacional no período considerado como época seca (maio a setembro). Entretanto, no mês de março (período chuvoso) foi considerado o de maior numero de C. hominivorax capturadas sendo influenciado pelo tipo de vegetação existente, dentre outros fatores.

Almeida et al. (1991) apud Gomes et al. (1998) em estudo realizado em Salvador, Bahia sobre flutuação populacional de C. hominivorax, também observaram a presença deste díptero ao longo do ano.

Oliveira (1980) avaliou a flutuação populacional de C. hominivorax através de armadilhas orientadas pelo vento, no município de Seropédica, Rio de Janeiro, e observou a presença deste díptero também durante todo o período de estudo, compreendido entre setembro de 1979 a agosto de 1980. Os maiores picos populacionais foram observados no mês de outubro de 1979 e entre maio e agosto de 1980, correlacionando este resultado ao baixo índice pluviométrico registrado (OLIVEIRA, 1978).

2.2.3 Importância econômica e aspectos de saúde pública

As perdas econômicas anuais em conseqüência de miíases causadas por C. hominivorax foram estimadas por Baumhover (1966) em US$ 20 milhões no sudeste e US$ 50 -100 milhões no sudoeste dos Estados Unidos.

As perdas econômicas geradas por este díptero, no Brasil, foram estimadas em cerca de US$ 150 milhões por ano (GRISI et al., 2002). Toledo (1950) já salientava os prejuízos causados com miíase em um rebanho de vacas holandesas, promovendo uma perda de 20% na produção leiteira, no município de Campinas, São Paulo.

Em relação a prejuízos devido à mortalidade provocada pela infestação nos animais, Rocha e Vaz (1950) destacaram que em mais de 300 necrópsias realizadas em bezerros no estado de São Paulo, a presença de miíases no rumem, foi considerada entre oito e 15% das causas de óbitos nesta faixa etária.

Carrazzoni e Almazán (1973) constataram na Argentina que as miíases de umbigo foram responsáveis por 10 - 15 % das mortes ocorridas nos bezerros nascidos nas províncias de Chaco e de Formosa no período de 1968 a 1970.

Veríssimo (2003) descreveu a ocorrência de óbito de ruminantes no estado de São Paulo devido à infestação por C. hominivorax no conduto auditivo dos animais.

Da mesma forma que os animais de produção, alguns estudos demonstraram a ocorrência de miíases em animais de companhia, destacando a região de maiores ocorrências, os fatores predisponentes à infestação e critérios para a prevenção desta enfermidade (CRAMER-RIBEIRO et al. 2002a; CRAMER-RIBEIRO et al. 2002b). Mendes-de-Almeida et al. (2007) observaram a prevalência de miíases em gatos no município do Rio de Janeiro, correlacionando o sexo dos animais e o local das lesões, assim como fatores comportamentais desta espécie que poderiam predispor a sua ocorrência.

Em relação à saúde pública, as miíases podem apresentar acentuada importância e prevalência. No Chile foram registrados 81 casos de miíases em humanos entre os anos de 1945 e 1946 (TOBAR; HONORATO, 1946).

Moraes Rego Jr. e Fraiha (1982) descreveram um caso na Amazônia de miíase anal associado a lesões de condiloma venéreo.

Visciarelli et al. (2003) descreveram em um relato de caso em Mendoza, Argentina a associação de miíase à ocorrência de pediculose humana.

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8 No estado do Rio de Janeiro foi realizado um levantamento sobre miíases humanas nos municípios de Nova Iguaçu, São João de Meriti, Duque de Caxias, Nilópolis, Belford Roxo, Japeri, e Queimados. Em sete, dos doze meses estudados, foram observados casos de miíase nas unidades básicas de saúde da região (OLIVEIRA et al., 2004).

Nascimento et al. (2005) descreveram a ocorrência de miíases em humanos no estado de Pernambuco, com 24 casos entre os anos de 1999 a 2002, salientando dentre os fatores predisponentes a debilidade física e mental, desidratação, diabetes, desnutrição, alcoolismo, infestação por piolhos e, principalmente, feridas acidentais.

Também no estado do Rio de Janeiro, em levantamento feito em cinco regiões urbanas, Márquez et al. (2007) associaram fatores sócio-econômicos na ocorrência de miíases humanas, como a ausência de ocupação profissional e baixo poder aquisitivo, além de destacarem a presença de miíases com outra patologia associada (71,5% dos casos).

A miíase umbilical também pode ocorrer em crianças recém-nascidas, como descrito por Duro et al. (2007), em uma área urbana da Argentina.

2.2.4 Patologia da miíase nos animais

Oliveira (1980) observou em estudos com bovinos e ovinos infestados experimentalmente com larvas de C. hominivorax que os animais manifestaram hipertermia, leucopenia, neutrofilia e anemia macrocítica normocrômica. Em todos, foram evidenciadas hemorragias de tamanho variado nos locais das infestações, sendo mais evidentes no terceiro dia de infestação.

Guimarães et al. (1983) constataram que os sintomas mais típicos em cobaios infestados por C. hominivorax são perda de peso, hipertermia, anemia e leucopenia.

Nos bovinos, a infestação por C. hominivorax promove irritação intermitente, pirexia, com formação de lesões crateriformes e progressiva liquefação dos tecidos envolvidos, necrose e hemorragia (HALL; WALL, 1995).

Morais et al. (2003) avaliaram clinicamente bovinos infestados experimentalmente por C. hominivorax e observaram inapetência, inquietação, febre durante todo o período de infestação, assim como aumento da frequência cardíaca e respiratória dos animais.

O processo inflamatório dos bovinos infestados foi caracterizado como linfopenia neutrofílica (MORAIS, 2002).

Em ovinos infestados experimentalmente por C. hominivorax, Lima (2000) observou através de exame de hemograma completo dos animais, leucocitose neutrofílica com desvio à esquerda e, por biópsias feitas nas lesões promovidas pelas larvas, observou-se grande infiltrado de polimorfonucleares na derme, derrame sero-fibrinoso, hemorragia e neoformação vascular no tecido conjuntivo subcutâneo, além de intensa granulação com proliferação de fibroblasto e histiócitos, em áreas com 72 horas pós-infestação. Observou-se também, em áreas com 144 horas pós-infestação experimental, intensificação do processo inflamatório e proliferação do tecido de granulação com fibroblastos, fibrócitos, macrófagos e histiócitos.

Através de análises histopatológicas dos tecidos afetados por larvas de C. hominivorax evidencia-se, em uma primeira etapa, uma intensa infiltração neutrofílica e hemorragias teciduais, estando associadas à fase de desenvolvimento larval. Em uma segunda etapa, já na fase de cicatrização, ocorre uma intensa fibrose tecidual com eosinofilia (HALL; WALL, 1995).

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9 2.2.5 Tratamento preventivo e curativo das miíases

A utilização de diferentes formas terapêuticas para combater as miíases vem sendo mencionada ao longo da literatura médica e veterinária. Rotineiramente, as miíases cutâneas são combatidas com inseticidas em formulações líquidas, pasta ou pó (AMARAL, 1988).

Graham (1979) fez um levantamento sobre as formas de tratamento de miíases no gado utilizado no sudeste dos Estados Unidos durante os últimos 150 anos. O autor salientou os diferentes produtos químicos utilizados no controle e prevenção da infestação por C. hominivorax nos animais, dentre os quais, destacam-se os óleos de petróleo crus, querosene, aguarrás, tabaco, extrato de nicotina e clorofórmio.

Como medidas preventivas da infestação, tanto no umbigo dos bezerros recém-nascidos quando em feridas recentes presentes no rebanho, historicamente foram citados produtos caseiros, como óleo de peixe, óleo de osso, goma de cânfora, adubo fresco, óleo de citronela, ácido tânico e alguns repelentes, dentre outros (BABCOCK; BENNETT, 1921; BISHOPP, 1913; BISHOPP et al., 1917 e 1923).

Contudo, com a melhoria da criação animal, muitas pesquisas foram realizadas para desenvolver melhores larvicidas e repelentes contra C. hominivorax, sendo a descoberta do benzol um importante passo para o tratamento de miíases (BISHOPP et al., 1923).

Melvin et al. (1939), através de diferentes experimentos com animais infestados, observaram que dentre as substâncias sintéticas testadas, a difelinamina promoveu a mortalidade de larvas de primeiro e segundo instares de C. hominivorax em miíases instaladas, demonstrando também o efeito protetor e repelente de tal substância. Melvin et al. (1941), salientaram a associação entre benzol e a difelinamina, chamado de “Ungüento 62”, como importante conduta terapêutica contra miíases. Posteriormente a esta formulação, novos produtos foram desenvolvidos, dentre eles destaca-se o “Ungüento EQ335”, tendo como base o lindane com potente atividade larvicida. Porém, hoje em dia, o lindane está listado como um produto cancerígeno (AMARAL, 1988).

Toledo (1950) observou a atividade larvicida do hexacloreto de benzeno (BHC), sendo preconizada a reaplicação a cada três dias, não observando efeito irritativo nas lesões infestadas.

Rosa e Niec (1961) avaliaram o efeito da aplicação do toxafeno tanto a 15% quanto a 20%, demonstrando a eficácia das duas formulações como larvicidas, contudo não foram eficazes na prevenção da reinfestação.

Cada vez mais se desenvolveram medidas de tratamentos das miíases cutâneas, sendo amplamente difundidos os organofosforados em formulação de aerossol. Dentre eles destacaram-se: diclorvós, naled, coumafós, ronnel, dimpylate e triclorfon (AMARAL, 1988).

Os organofosforados, termo genérico que inclui todos os inseticidas que contenham fósforo, são largamente empregados no combate as miíases. Esta classe de inseticidas é conhecida por produzir grande acúmulo da acetilcolina (ACh) nas terminações nervosas. A acetilcolina é um importante neurotransmissor que, em condições normais, é metabolizada no organismo pela ação da acetilcolinesterase (AChE). Em insetos expostos a esses compostos, a colinesterase é inibida, fazendo com que os níveis de acetilcolina se elevem. Com a inibição da AChE, há um acúmulo de acetilcolina no organismo produzindo sinapses aleatórias, distorção muscular e paralisia do inseto (MADDRELL, 1980)

Drummond et al. (1967) compararam a ação larvicida de 19 inseticidas clorados e fosforados sobre larvas de C. hominivorax, demonstrando que entre larvas de primeiro e segundo dia de idade havia diferença na mortalidade, devido à característica das lesões e capacidade do agente químico de agir em todas as larvas.

Oliveira e Bodden (1982) testaram a atividade larvicida de ronnel a 7,9%, diazinon a 4% e DDPV (2,2 diclorovinil dimetil fosfato) a 0,5% + sevin a 1,5% em ovinos infestados

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10 experimentalmente. Em todas as drogas testadas foi observado efeito larvicida, contudo algumas larvas com 96 horas infestação permaneceram vivas por algumas horas pós-tratamento. Oliveira e Almeida (1980) testaram o emprego de Dursban 5% com diferentes concentrações de cloranfenicol e observaram atividade larvicida em ovinos com miíases.

Beck e Moya-Borja (1982) avaliaram a suscetibilidade de adultos de C. hominivorax aos inseticidas ronnel, coumafós, fanfur, malation, triclorfon, crufomato, observando maior mortalidade em indivíduos machos. Silva et al. (1991) testaram quatro formulações de inseticidas à base de piretróide e organofosforado e observaram que estas bases possuem alta eficácia larvicida em bovinos infestados experimentalmente por larvas de C. hominivorax.

Alguns estudos recomendam como larvicida para infestações por C. hominivorax a mistura dos organofosforatos coumafós (5%) e clorfenvinfós (2%) associados à óleo de base vegetal (HALL; WALL, 1995). Outros grupamentos químicos utilizado contra miíases estão os reguladores de crescimento de insetos (R.C.I.), como por exemplo, o diciclanil, testado como preventivo em bovinos pós-castração, com aplicação local, conferindo proteção contra a infestação por C. hominivorax em 93% dos animais avaliados (ANZIANI et al., 1998).

Contudo, com o advento da descoberta de produtos sistêmicos, como as avermectinas (lactonas macrocíclicas), pôde-se demonstrar que os mesmos possuíam atividade nematocida, acaricida, assim como inseticida (MACEDO et al., 2005).

O modo de ação desta droga foi observado em estudos conduzidos em nervos de lagosta e de grandes nematóides, como o Ascaris lumbricóides, assim com também em sinapses nervosas de cérebro de ratos. Dentre as avaliações realizadas, sugeriu-se que a ivermectina (22, 23-dihydro-avermectin B1) cause paralisia em artrópodes e nematóides por interferir na transmissão de sinais nervosos, através do aumento da permeabilidade da membrana de celular aos íons de cloreto, afetando diretamente os receptores relacionados ao neurotransmissor ácido gama-aminobutirico (GABA), principal neurotransmissor inibitório de mamíferos e invertebrados (CAMPBELL, 1981 apud MACEDO et al., 2005). Com isso, ficou demonstrado que esta droga, não só causa ação agonista no receptor GABA, mas também potencializa a liberação de pré-sinápses e pós-sinápses (CAMPBELL et al., 1983).

Acreditava-se que as atividades das avermectinas produziam uma paralisia nos ectoparasitas através de um aumento na liberação do ácido gama-aminobutírico (GABA). Atualmente sabe-se que possuem alta afinidade aos canais íons cloreto, ligados ao glutamato presente nos nervos e nas células musculares dos invertebrados que, aumentando a permeabilidade da membrana aos íons cloreto, levam a uma hiperpolarização, interferindo na transmissão dos impulsos neurais aos músculos, gerando a paralisia e morte do parasito. Contudo seu mecanismo de ação fisiológica nos ectoparasitos ainda não está completamente elucidado (CAMPBELL, 1989 apud CANAVACI, 2006; SPINOSA et al., 1996).

Lessa e Lessa (1999) avaliaram o efeito preventivo de ivermectina em bolus por via oral contra a infestação de miíases em bovinos pós-castração, sendo evidenciada a cicatrização completa das feridas cirúrgicas com pouco ou nenhuma larva presente no local da ferida cirúrgica. Santos e Lessa (1994) observaram efeito preventivo contra miíase umbilical em bezerros tratados oralmente com solução de ivermectina a 0,4%.

Bianchin et al. (1992) demonstraram a prevenção de miíases umbilicais em bezerros recém-nascidos com a aplicação de ivermectina pela via subcutânea, salientando que a associação de álcool iodado a 10% na ferida umbilical com ivermectina subcutânea confere maior redução no aparecimento de miíases nos bezerros recém-nascidos.

Anziani e Loreficce (1993) observaram o efeito preventivo de ivermectina em miíases provocadas por C. hominivorax tanto em bovinos adultos pós-castração, como também em bezerros recém-nascidos.

Outra avermectina do grupo das lactonas macrocíclicas, utilizadas como potente endectocida é a doramectina (25-cyclohexaxyl avermectina B1) que possui características

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11 farmacocinéticas que conferem uma ação prolongada no organismo animal, demonstrando considerável potência contra diversas espécies de parasitos (LANUSSE et al., 1997). Moya-Borja et al. (1993) observaram tanto o efeito preventivo quanto o curativo contra miíases em bovinos tratados com doramectina pós-castração, sendo os mesmos avaliados até o 14º dia da cirurgia sem a presença de miíase.

A eficácia da doramectina também foi observada em infestações de Cochliomyia hominivorax induzidas em bovinos, sendo efetiva em 100% dos animais do grupo tratado (OLIVEIRA et al., 1993). A persistência da eficácia da ivermectina e doramectina foi promovida em bovinos castrados dez dias depois de tratados com estes endectocidas, sendo a doramectina mais efetiva na prevenção contra miíases (CAPRONI JR. et al., 1998).

O efeito protetor das avermectinas contra a infestação por C. hominivorax em bovinos pós-castração foi observado nos estudos realizados por Mercier et al. (2001), que compararam os efeitos de doramectina 1%, ivermectina 1% e abamectina 1% por 28 dias de avaliação pós tratamento. Os autores observaram larvas de terceiro instares em todos os grupos, dez dias pós-tratamento, sendo que a redução (%) de ocorrências de miíases nos animais tratados foi de 69% para o grupo com ivermectina, 92% para a doramectina e 85% para a abamectina, durante o estudo.

Wardhaugh et al. (2001) avaliaram a eficácia larvicida de lactonas macrocíclicas em infestações experimentais provocadas por Chrysomya bezziana em bovinos, e constataram atividade larvicida em três formulações pour-on; a doramectina promoveu maior eficácia de sete a 14 dias pós-tratamento, a eprinomectina de três a sete dias pós-tratamento e a moxidectina não apresentou eficácia.

A prevenção de miíases por C. hominivorax, tanto em bezerros recém-nascidos quanto em vacas parturientes, foi demonstrada em estudos realizados por Muniz et al. (1995), em desafios a campo, tendo os animais do grupo tratado com doramectina, 100% de proteção contra a infestação natural.

Moya-Borja et al. (1997) observaram em dois estudos a eficácia profilática de doramectina e ivermectina da instalação da infestação por C. hominivorax, através de infestação experimental em bovinos. A doramectina foi 100% efetiva na prevenção da infestação por este díptero, sendo que a ivermectina foi parcialmente eficaz.

Outro derivado de lactona macrocíclica, o spinosad, foi avaliado por Snyder et al. (2005) como potente larvicida, com aplicação local, de feridas com infestações já instauradas sendo considerado um produto preventivo.

Além das lactonas macrocíclicas, outros compostos, como o nitenpyram, com atividade larvicida de ação sistêmica, foram observados em estudo sobre infestações por C. hominivorax nos animais, apresentando 94,11% de eficácia como larvicida nas miíases instauradas, sendo este medicamento utilizado principalmente para o controle de pulgas em cães (MACHADO; RODRIGUES, 2002).

Lima et al. (2004a) demonstraram a atividade larvicida do fipronil a 1%, uso tópico, no dorso de bovinos pós-castração. Este medicamento não demonstrou atividade repelente, pois nas feridas cirúrgicas observaram-se massas de postura de C. hominivorax, mas as larvas recém eclodidas não conseguiram completar seus estágios de desenvolvimento nas feridas.

Além da avaliação da eficácia destes produtos no controle desta enfermidade, vale ressaltar aspectos ecológicos na sua escolha pelo produtor, salientando as conseqüências ambientais da utilização destes medicamentos, além de fatores atrelados ao parasito em si, como a ocorrência de resistência em determinadas populações.

Segundo Herd (1995), as avermectinas demonstraram atuação de forma inibitória na fauna entomológica de colonização da massa fecal dos animais tratados, salientando desta forma algumas de suas desvantagens.

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12 O aparecimento de resistência por parte de algumas populações de endo e/ou ectoparasitos as avermectinas, que embora não tenha sido evidenciada em C. hominivorax, foi observada em algumas espécies de nematóides dos gêneros, Haemonchus e Cooperia (RANGEL et al., 2005). Em relação à resistência em arthóphodes, foram observadas em Sarcoptes scabiei (Acari: Sarcoptidae), Lucilia cuprina (Díptera: Calliphoridae) e Musca domestica (Díptera: Muscidae) (CURRIE et al., 2004; apud ALBUQUERQUE, 2007; RUGG et al., 1998 apud ALBUQUERQUE, 2007; SCOTT et al., 1991 apud ALBUQUERQUE, 2007).

Em estudos in vitro realizados por Klafke et al. (2006) com cepas do carrapato Rhipicephalus (Boophilus) microplus provenientes da região do Vale do Paraíba, em São Paulo, demonstraram resistência a ivermectina.

A identificação molecular da possível resistência de algumas populações de C. hominivorax a medicamentos a base de organofosforado foi demonstrada por Carvalho et al. (2006), contudo em grande parte não tão evidenciada em estudos a campo.

Apesar destas desvantagens, as formas medicamentosas no combate aos parasitos de animais demonstram-se necessárias, devendo-se destacar os fatores favoráveis e desfavoráveis em suas utilizações assim como possíveis estratégias de controle.

2.2.6 Predisposição a miíases

Destacam-se diferentes fatores relacionados à predisposição e o aparecimento de miíases nos animais domésticos, dentre os quais as lesões provocadas por cercas de arame, descorna, castração e a falta de desinfecção do umbigo dos recém-nascidos (PALOSCHI, 1985).

Veríssimo e Franco (1994) observaram a inter-relação entre grau de infestação por carrapatos em bovinos mestiços e a ocorrência de miíases nesses animais devido ao exsudato seroso-sanguinolento produzido pela reação inflamatória no local de fixação dos carrapatos no hospedeiro, o qual é atrativo para as moscas.

Outra associação que favorece a infestação de miíases em bovinos é a lesão provocada por morcegos hematófagos da espécie Desmodus rotundus nestes animais (PICCININI, 1988).

Logo após o nascimento, os bezerros estão susceptíveis as miíases devido à atração e postura de ovos de C. hominivorax nas bordas do cordão umbilical, que ainda está em fase de cicatrização. Caso não sejam tratadas, as miíases podem resultar na morte do bezerro (VERISSÍMO, 2003).

A cura ineficiente do umbigo se constitui em uma importante via de penetração de agentes patogênicos, sendo uma das principais causas do aparecimento de doenças nos bezerros do nascimento ao desmame (BIANCHIN et al., 1992).

Lello et al. (1982) observaram no inquérito epidemiológico realizado no município de Botucatu, São Paulo, que a infestação no umbigo de bezerros foi um dos locais de predileção para sua ocorrência.

Bianchin et al. (1992) constataram também que no município de Terenos, localizado no estado do Mato Grosso do Sul, a ocorrência de miíases umbilicais de 40,7% em bezerros recém-nascidos mantidos sem cuidado de desinfecção do umbigo.

Em estudos realizados por Muniz et al. (1995) na Venezuela e na Argentina, a incidência de miíase umbilicais em bezerros recém-nascidos, sem nenhum tratamento prévio, foi de 48% e 57%, respectivamente.

Sereno et al. (1998) afirmaram que a mortalidade neonatal de bezerros provocada por miíases é alta na região pantaneira, no Estado do Mato Grosso do Sul. Este dado é confirmado por Barros e Vazquez (2004) que relacionaram esta alta ocorrência a alguns fatores, tais como

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13 dificuldades de acesso e manejo, inundações periódicas na região, poucas subdivisões da propriedade e baixo contingente de funcionários nas fazendas.

Desta forma, as miíases umbilicais em bezerros recém-nascidos podem conferir um grave problema para a pecuária, principalmente em situações onde o manejo dos neonatos não seja realizado adequadamente (BARROS; VAZQUEZ, 2004).

2.3 Importância do Manejo e Cuidados com os Bezerros

Com clima favorável e abundância territorial e de vegetação, o Brasil é líder em produção de carne no mundo (FIGUEIREDO et al., 2007). Dados mostram que o rebanho nacional em 2006 esteve em torno de 190 milhões de cabeças de bovinos (MAPA, 2008).

A atividade agropecuária representou em média, no ano de 2005, 30% do PIB (Produto Interno Bruto) nacional, tendo 8% de participação da Pecuária neste contexto (CEPEA, 2008). Com o aumento das exportações de carne a cada ano, a pecuária de corte vem ganhando destaque anualmente na participação direta da economia nacional.

Contudo, devido às características climáticas e territoriais extensivas, o Brasil possui condições favoráveis à ocorrência de diversas doenças parasitárias no rebanho bovino, com elevadas taxas de morbidade e mortalidade, sendo os bezerros os mais afetados (GRISI et al., 2002).

Neste contexto, as perdas geradas por ectoparasitos no rebanho nacional promovem intensa redução na produção, tanto de carne quanto de leite (MARTINEZ et al., 2004). Logo, o sistema de produção de gado de corte está diretamente interligado às condições sanitárias e nutricionais do rebanho e, neste contexto, a criação de bezerros assume grande importância na pecuária nacional (SCHENK et al., 1993).

Os cuidados com o bezerro recém-nascido começam antes do parto, com o manejo das vacas no final da gestação, sendo recomendada à utilização de um pasto maternidade na propriedade, caracterizado como um local de espaço amplo constituído de áreas sombreadas, alimento e água a vontade para todas as vacas em fase final de gestação. É recomendável que este se localize distante de currais ou áreas de grande movimentação dentro da propriedade, pois no momento do parto, a vaca e seu bezerro passam pelo processo de reconhecimento que requer um ambiente apropriado para que isso ocorra (COSTA et al., 2006a).

Durante o período pós-parto, vacas e bezerros apresentam uma série de comportamentos que devem ocorrer a fim de que o bezerro obtenha alimento e imunidade, elevando suas chances de sobrevivência (COSTA et al., 2007). Assim sendo, o desenvolvimento pleno dos bezerros recém-nascidos está intimamente relacionado à ingestão adequada de colostro materno nas primeiras 24 horas de vida, lhe garantido melhor transferência de imunoglobulinas presentes no colostro (COELHO, 2005). O tempo ideal para que o bezerro mame pela primeira vez está em torno de três horas pós-parto. Este tempo pode ser maior em bezerros recém-nascidos de novilhas, pois estas são mais sensíveis ao estresse do parto e inexperientes no cuidado com os filhotes, gerando um comportamento que dificulta o acesso ao úbere. Entretanto, este comportamento diminui à medida que se acostumam com os bezerros (COSTA et al., 2006a).

Nos bovinos, como em outros mamíferos, a relação entre mãe e cria se inicia precocemente, sendo bem conhecido que os embriões de mamíferos promovem comunicação materno-fetal direta, através de hormônios, nutrientes e movimentos físicos dos últimos. Contudo, o comportamento materno em geral pode variar entre indivíduos, possivelmente decorrente de diferenças entre raças, experiência e sistemas de criação (intensivo x extensivo), além da arquitetura do pasto (BROWN, 1998 apud COSTA et al., 2007; FELICIO, 1998 apud COSTA et al., 2007; KILEY-WORTHINGTON; DE LA PLAIN, 1983 apud COSTA et al., 2007; FRASER; BROOM, 1997 apud COSTA et al., 2007).

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14 Logo, a habilidade materna caracteriza-se como um fator importante de avaliação para a criação bovina, sendo correlacionada ao processo seletivo em cruzamentos raciais, ou até mesmo entre indivíduos de um mesmo grupo de origem, tornando-se desta forma crucial à formação de um rebanho produtivo. Esta habilidade materna está relacionada principalmente à capacidade de produção leiteira da vaca e o cuidado da mesma com a cria (OLIVEIRA, 2006a), sendo extremamente importante para a sobrevida e desenvolvimento do bezerro.

Sabe-se que a maioria dos problemas sanitários existentes no território nacional está na fase de cria, sendo alto o coeficiente de mortalidade desses animais no período que compreende o nascimento do bezerro até o desmame (MADRUGA et al., 1984).

Em rebanhos de corte, a taxa de mortalidade gira em torno de 5% a 6%, podendo ser bem maior quando ocorrem surtos de diarréia dos neonatos (RADOSTITS, et al., 1988).

Por se tratar da faixa etária mais susceptível às doenças, as perdas ocasionadas nesta etapa de criação podem ser tanto por óbitos dos animais quando por baixo rendimento no ganho de peso, sendo, portanto, o adequado manejo sanitário desses animais um item essencial no sistema de produção (SILVA; GOMES, 1998).

Em estudo etiológico de algumas doenças em bezerros de corte no Estado de Mato Grosso do Sul, Madruga et al. (1984) observaram altas frequências de onfaloflebites nos recém-nascidos, assim como animais com quadro de coccidiose. Diarréias por enterobactérioses e helmintoses, apresentaram baixa frequência neste estudo e processos anêmicos por anaplasmose e babesiose foram relatados em muitas propriedades avaliadas.

As causas mais comuns de óbitos nesta faixa, etária em criações com enfoque leiteiro, estão relacionadas a doenças entéricas, respiratórias e septicemias pós-natal. O bezerro neonato é especialmente mais vulnerável devido a sua relativa incapacidade de manter a temperatura corpórea e sua menor competência imunológica (RENGIFO et al., 2006).

Donovan et al. (1998) destacaram que as práticas de manejo com a higiene deficiente e baixa transferência de imunoglobulinas pelo colostro, relacionado com o quadro de septicemia foram as maiores causas de mortalidade em bezerros na Flórida, EUA.

A anti-sepsia da cicatriz umbilical evita contaminações por agentes infecciosos que podem geram infecções generalizadas no bezerro (OLIVEIRA et al., 2007). Em estudo realizado por Rengifo et al., (2006) foi observado que uma alta bacteremia em bezerros neonatos pode estar relacionada a processos inflamatórios umbilicais, sendo isolados neste estudo Staphylococcus spp., Streptococcus spp. e Escherichia coli. Abscessos umbilicais ou infecção de qualquer componente do umbigo podem ser fontes de septicemia. Em alguns casos, pode-se notar o aumento de volume do umbigo e drenagem de material purulento, correlacionando assim a ocorrência de onfalite instalada (SMITH , 1993).

Quando se instala um quadro de miíase umbilical, observa-se além do edema inflamatório do tecido, a presença de um exsudato, freqüentemente sanguinolento, sendo que pode se agravar o quadro da infestação, atraindo mais moscas para a ovoposição e podendo também levar o animal a um quadro de septicemia por infecções bacterianas secundárias (SANTOS; LESSA, 1994). Entretanto, a infecção bacteriana pode estar instalada e o animal apresentar sinais clínicos pouco evidentes de septicemia (RENGIFO et al., 2006).

Mizuguchi (1993), analisou o fluido das lesões de bovinos naturalmente infestados por C. hominivorax sendo identificados sete gêneros da família Enterobacteriaceae, porém não foram encontradas mais de três espécies de bactéria por amostra.

Em estudo similar, realizado por Oliveira (2006b), quando avaliou a fauna bacteriana existente no fluido de lesões com miíases umbilicais em bezerros, encontrou baixa frequência de Escherichia coli, salientando esta diferença entre espécies bacterianas encontradas em estudos anteriores, devido à questão ambiental que circunda o animal afetado. Assim, diferenças no manejo de gado de corte em relação ao de leite diminuem as chances de contato dos animais com fezes e moscas sinantrópicas existentes nos arredores dos currais.

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