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Políticas públicas de inclusão: desafios e benefícios da

implementação da política de cotas para deficientes nas

universidades federais

Cíntia Beatriz Duarte Pereira

Mestranda em Diversidade e Inclusão e Especialista em Gestão em Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Especialista em Docência no Ensino Superior pelas Faculdades Integradas da Grande Fortaleza (FGF). Servidora do Corpo Técnico-Administrativo daUFF.

Resumo

O presente artigo tem como objetivo relatar os desafios e benefícios da implementação da política pública de cotas nas Universidades Federais do Brasil. A problemática aqui apresentada é a da necessidade de acompanhar, registrar e relatar os desafios e benefícios encontrados pelas universidades federais nessa implementação para que seja registrado como base para futuros estudos e ações. Para a coleta dos dados, foi utilizada a metodologia qualitativa, aplicada com procedimentos de revisão bibliográfica e descritiva sobre os temas pelo qual o estudo perpassa. Num encadeamento lógico e ordenado, foram estudados a legislação que legitima o direito do deficiente a cotas, a implementação das políticas públicas de inclusão nas universidades federais e a inclusão social desses deficientes, observando os desafios e benefícios encontrados nesse processo. Os resultados observados foram, basicamente, comuns entre os autores consultados, destacando os desafios de atenção à acessibilidade, a mão de obra especializada e a permanência. Em contrapartida, os benefícios destacados são: democratização do ensino, a inclusão social de deficientes e não deficientes e a possibilidade de preparação do deficiente para o mercado de trabalho.

Palavras-chave

Ensino superior, implementação, políticas públicas, desafios e benefícios.

Abstract

This article aims to report on challenges and benefits of the implementation of the public quota policy in the Federal Universities of Brazil. The problem presented here is the need to monitor, record and report the challenges and benefits found by federal universities in this implementation to be registered as a basis for future studies and actions. For the data collection, the qualitative methodology was used, applied with procedures of bibliographical and descriptive revision on the themes through which the study runs. In a logical and ordered chain, the legislation that legitimates the right of the disabled to use quotas, the implementation of the public policies of inclusion in the federal universities and the social inclusion of those with disabilities, observing the challenges and benefits found in this process. The results observed were basically common among the consulted authors, highlighting the challenges of attention to accessibility, skilled labor and permanence. On the other hand, the outstanding benefits are: democratization of education, social inclusion of the disabled and non-disabled, and the possibility

of preparing the disabled for the labour market.

Keywords

Higher education, implementation, public policies, challenges and benefits.

Introdução

O cenário educacional brasileiro vem sendo ampliado com o avanço das políticas públicas de cotas, através da reserva de vagas, para um público diverso, em condições socioeconômicas específicas, caracterizados como de maior vulnerabilidade social. A partir de 2017, os deficientes passam a ser contemplados nessa política conforme expresso no decreto

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n.º 9.034 de 20 de abril de 2017 que “Altera o Decreto nº 7.824, de 11 de outubro de 2012, que regulamenta a Lei nº 12.711, de 29 de agosto de 2012, que dispõe sobre o ingresso nas universidades federais e nas instituições federais de ensino técnico de nível médio” (BRASIL, 2017).

O contexto aqui apresentado é o das Universidades Federais Brasileiras no que tange a obrigatoriedade de implementação desse novo eixo da política pública afirmativa de cotas, por uma análise dos desafios apontados pela literatura correlata ao tema, bem como dos benefícios dessa implementação para o deficiente, a comunidade universitária e a sociedade.

O estudo encontra-se centrado na problemática relevante e necessária da carência de observação, acompanhamento, análise e registro dos desafios e benefícios encontrados na implementação dessa política de cotas nas universidades federais, uma vez que a aplicação da legislação é recente e, consequentemente, os estudos na área, ainda, são escassos.

Rua (2014, p. 109) diz que “as políticas públicas são implementadas mediante alguns processos destinados a gerar produtos com a finalidade de produzir efeitos, ou seja, transformar a realidade”. Registrar os desafios na implementação da política de cotas para deficientes tem a finalidade de propor a mudança na realidade citada por Rua (2014), ao identificar os déficits a serem corrigidos tendo por base a resposta do público envolvido na política: os servidores, os deficientes, o Estado e a sociedade. Os benefícios visam demostrar a viabilidade da implementação da política de cotas no contexto social em que a política encontra-se inserida.

Dessa forma, o objetivo da pesquisa é relatar desafios e benefícios da implementação da política pública de cotas para deficientes nas universidades federais. Para isso, foi necessário realizar uma pesquisa que dialogasse com a temática das políticas afirmativas, compreender a política de cotas (reserva de vagas) para deficientes, observar a implementação de políticas públicas, sobretudo, no contexto da inclusão e elencar os desafios e benefícios advindos dessa inclusão social.

O estudo justifica-se pela relevância e a carência de pesquisas que envolvam o acesso de deficientes no ensino superior, a relação desse direito com a implementação de políticas públicas adequadas para o acesso e a permanência desses estudantes, assim como a importância de relatar desafios a serem enfrentados e os resultados benéficos dessa política pública de inclusão para integração do deficiente à comunidade universitária e à sociedade.

Legislação

O direito legal acerca da educação para deficientes foi abordado pela Constituição Federal, artigo 205, ao afirmar que “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (BRASIL, 1988). A educação sendo direito de todos, adicionando, ainda, o contexto da inclusão, foi corroborada na recente declaração de Incheon, no Fórum Mundial da Educação, na Coreia do Sul, Organização das Nações Unidas para a Educação, à ciência e a cultura (ONU, 2015), assim como, o exercício da cidadania e qualificação foram corroborados no contexto do direito legal à educação para o deficiente (BRASIL, 1988; WENCESLAU, 2009).

Embora exista todo o ordenamento jurídico sobre a importância da inclusão do deficiente e dos seus direitos como tal, mais recentemente, o decreto n.º 9.034 de 20 de abril de 2017,

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alterou a Lei de cotas n.º 12.711/2012, que versa sobre o ingresso nas universidades federais e nas instituições de ensino técnico de nível médio, trouxe uma concepção de igualdade para o público deficiente considerado em exclusão, em vulnerabilidade e exposto à invisibilidade e discriminação (BRASIL, 2017; BRASIL, 2012).

Essa política é justificada pela educação básica pública que, ao longo da história, não permitiu o aluno ingressar no nível superior caracterizado como seletivo (TAVARNARO, 2007; OLIVEIRA, 2012).

Uma medida reparadora dentro do contexto da educação pública como um bem para todos (CARA, 2012).

Política Pública de Cotas nas Universidades Federais

O Brasil tem avançado na criação de políticas na área da educação, conduzindo esforços para ofertar formação superior em universidades federais para pessoas deficientes. Num estudo histórico exclusivo sobre políticas afirmativas (cotas), conceituou-se essa política como uma ação ou estratégia em que se define uma porcentagem de vagas para atendimento a um público alvo definido por questões de exclusão social e cuja interferência na sociedade, articula grupos, interesses, expectativas diferenciadas, sendo marcada pela temporalidade (AGUM; RISCADO; MENEZES, 2015; CIANTELLI; LEITE,2016).

No contexto das universidades federais, a política de cotas para deficientes é reconhecida como uma política afirmativa cuja implementação visa corrigir um atraso com relação à educação desse grupo. A implementação da política é iniciada com a reserva de vagas para deficientes por curso de acordo com o número de pessoas nessa categoria dentro da federação em que a universidade se encontra. O ingresso desses estudantes ocorre pelo sistema de seleção unificado (Sisu), que tem como pré-requisito a execução do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem), permitindo democratizar o ingresso. Com o acesso, os alunos são recebidos pelos núcleos de acessibilidade e inclusão responsáveis pelas execuções de diversas ações de apoio no ingresso e permanência desse estudante na instituição, sobretudo, com relação à acessibilidade e desenvolvimento das atividades acadêmicas (OLIVEIRA, 2012; SILVEIRA; BARBOSA; SILVA, 2015; CIANTELLI; LEITE, 2016).

Com esse acesso, as universidades federais encontram-se diante da responsabilidade social de implementar, desenvolver, acompanhar e avaliar todas as condições de adequação desses estudantes no contexto acadêmico, ensino, pesquisa e extensão, (GARCIA; BACARIN; LEONARDO, 2018; BRASIL, 2015).

Inclusão social dos deficientes nas Universidades Federais: desafios

e benefícios

Com a implementação das políticas afirmativas de cotas para deficientes, as universidades estão diante dos desafios da inclusão, através da aceitação social, devido à histórica exclusão de grupos por condições diversas onde se encontra os deficientes. Mesmo diante de desafios a serem enfrentados, é possível reconhecer benefícios sociais oriundos dessa integração entre diferentes grupos pela implementação da política de cotas nas universidades federais.

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Desafios

Dentre os desafios relatados na literatura, a acessibilidade tem destaque, pois representa o atendimento às necessidades básicas de acesso, eliminação das barreiras arquitetônicas, utilização e permanência num determinado espaço. Isso significa a colocação de elevadores com sintetizadores de voz, rampas com inclinação para cadeirantes, piso tátil e placas com identificação/localização em linguagem braille, banheiros e mobiliários adaptados, biblioteca acessível, laboratórios com softwares inclusivos, sites acessíveis, tecnologia assistiva e materiais didáticos (SIEMS-MARCONDES, 2017; BACARIN, GARCIA, LEONARDO, 2018).

Os recursos humanos especializados para o atendimento ao deficiente foram identificados de forma relevante, onde se pode destacar a presença do intérprete de libras, dos servidores técnicos e docentes que saibam lidar com as peculiaridades de cada deficiência, destacando, assim, a relevância de um profissional com uma visão inclusiva. Ressalta-se, sobretudo, a capacitação do professor como um investimento em seus comportamentos, métodos e práticas para adequar-se ao contexto inclusivo da sala de aula (BACARIN, GARCIA, LEONARDO, 2018; ANACHE E CAVALCANTE, 2018).

A permanência como um desafio possui correlação estreita com proporcionar acessibilidade e recursos humanos especializados, citados nos parágrafos anteriores, para que os deficientes possam ter capacidade de se integrar, adequadamente, ao contexto pela diminuição das dificuldades no espaço físico e no acesso a informações e ao conhecimento. Acrescenta-se, ainda, a importância do desenvolvimento de projetos que os incluam, uma vez que as barreiras, ainda, são muitas, além da criação de programas de apoio financeiro como incentivo e auxílio, por exemplo, no atendimento das necessidades básicas de alimentação (NOZU, SILVA, ANACHE, 2018; COSTA; DIAS 2015).

Benefícios

Pesquisadores consideram a “Lei de Cotas” como um marco referencial para o benefício da democratização do ensino brasileiro e a possibilidade de transformar o contexto educacional de formação superior. Essa democratização está correlacionada à igualdade condições de acesso e permanência, o direito à educação gratuita e de qualidade, a não segregação e à cidadania, pois a educação é um direito de todos (BRASIL, 1988; OLIVEIRA, 2012; DOURADO, 2012).

A política da cota trouxe para as universidades o benefício da inclusão da diversidade humana, integração, a aceitação e o respeito à diferença. Há uma troca de experiências de onde surge a valorização da diversidade entre as pessoas e o crescimento dos grupos sociais pelas diferenças de ideias e ações, além da eliminação das barreiras, preconceitos, do medo e da insegurança em lidar com o desconhecido. Professores necessitam adaptar suas aulas, os alunos acabam por se sensibilizar para ajudar o colega e todos se envolvem naturalmente e, para isso, a universidade tem grande papel integrador (BERETA; VIANA,2014).

A Declaração Mundial de Educação para Todos da Organização das Nações Unidas (ONU) propôs, como objetivo básico, a aprendizagem que capacite para participação econômica, social e cultural na sociedade (Jomtien, 1990). Essa participação é, também, proporcionada pelo benefício de formação superior do deficiente de forma a prepará-lo para inclusão no mercado de trabalho visando autonomia e uso da capacidade produtiva. Essa inserção no mercado de trabalho foi ampliada pela “Lei de cotas para deficientes no mercado

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de trabalho” tendo as universidades federais o papel apoiador através da educação inclusiva (BRASIL, 1991; CARLOU, 2014).

Metodologia

Gil (2008) define método como caminho a se percorrer para se chegar a um determinado

fim, utilizando de procedimentos intelectuais e, também, técnicos.

A metodologia desta pesquisa foi realizada sob uma abordagem qualitativa com o propósito de investigar, descrever, compreender e explicar o contexto da política pública de cotas como uma política de inclusão social para pessoas com deficiência dentro das universidades federais pela perspectiva dos desafios e benefícios da implementação da política pública. Os dados coletados foram baseados em informações mais próximas da realidade possível dos grupos envolvidos na temática como forma de atender, adequadamente, aos objetivos da pesquisa (GERHARDT; SILVEIRA, 2009).

A pesquisa foi, ainda, produzida sob o viés da pesquisa aplicada com base teórica na revisão bibliográfica. Sendo uma investigação de natureza aplicada teve o objetivo de produzir um conhecimento sobre a realidade e interesses de um grupo específico a partir de uma reflexão analítica e crítica. Com relação aos objetivos da investigação, a metodologia utilizada foi descritiva, pois buscou descrever fatos atuais vinculados a uma realidade tendo propósito de aplicação prática e contribuição social (GERHARDT; SILVEIRA, 2009; GIL, 2008).

O estudo baseou-se no procedimento de revisão bibliográfica como forma de coleta de dados sobre os temas apresentados em produções científicas públicas. A coleta de dados foi realizada sobre obras escritas, referências teóricas produzidas por outros autores, sobretudo, na forma de artigos científicos oriundos de fontes oficiais, na forma, principalmente, de pesquisa eletrônica e páginas de Web Sites, pois o tema tratado carece de maiores fontes de informações devido aos estudos, ainda, escassos (LAKATOS; MARCONI, 2010).

Desafios e benefícios da implementação da política pública de

cotas para deficientes nas Universidades Federais

A pesquisa realizada alcançou seus resultados ao elencar os desafios e benefícios encontrados na implementação da política pública de cotas para deficientes nas universidades federais em virtude do direito de ingresso desse público no ensino superior. Dessa forma, os resultados e a discussão serão apresentados de acordo com os tópicos estipulados no referencial teórico.

A Constituição Federal/CF (BRASIL, 1988), para o segmento da educação, previu o direito à educação para todos, onde se inclui a pessoa deficiente, buscou destacar o desenvolvimento de cada indivíduo, o exercício da cidadania e a importância da profissionalização para a vida em sociedade. Na mesma linha, Wenceslau (2009) destacou, também, a cidadania e profissionalização como possibilidade de participação social e de formação do deficiente o que é de extrema relevância pensando na perspectiva de direito e garantia da inclusão social pela educação.

O decreto n.º 9.034 de 20 de abril de 2017, alterou a “lei de cotas”, legitimou o direito de acesso do deficiente à universidade federal trazendo a aplicabilidade da lei na forma de política pública para um grupo vulnerável (BRASIL, 2017). Tal vulnerabilidade vincula-se à seletividade que, historicamente, dificultou o acesso às universidades federais (OLIVEIRA,

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2012). A lei, ainda, é relevante, pois é a forma de ajuste por conta da defasagem histórica com relação à inserção dos deficientes na sociedade (CARA, 2012). Dessa forma, percebe-se o quanto é relevante o direito legal e sua aplicação, a criação da política pública como forma de promover ajustes sociais em busca de um contexto social mais igualitário e inclusivo.

A política pública de cotas nas universidades federais pôde ser compreendida como conjunto de ações e estratégias propostas pelo governo para atender à demanda por educação superior para os deficientes (AGUM; RISCADO; MENEZES, 2015). A aplicabilidade prática dessa política pública, realizada pelas universidades federais, inicia com o ingresso dos estudantes pelo sistema do Enem e, posteriormente, pelo Sisu (SILVEIRA; BARBOSA; SILVA, 2015). Todos os candidatos participam igualmente, reservadas as especificidades da deficiência, o que marca a inclusão social e o respeito às diferenças a partir da seleção. Em seguida, são recebidos pelos núcleos de acessibilidade que são centros de apoio e ações no atendimento ao deficiente (CIANTELLI; LEITE, 2016). Esses núcleos são essenciais no apoio aos estudantes, seja por questões financeiras ou atendimento especializado. Nesse momento, as pesquisas começam a relatar os desafios e benefícios dessa implementação política.

Em geral, os autores destacam a importância da acessibilidade e da mão de obra especializada como essenciais e fundamentais, ainda, para o desafio da permanência e se complementam nessa abordagem. A acessibilidade nos espaços físicos foi identificada como mobiliários adaptados, piso tátil, rampas, recursos e materiais adaptados, softwares específicos que são obrigatórios para que o acesso do deficiente seja adequado. Já em relação à mão de obra especializada, destaca-se o intérprete de libras e o docente capacitado às especificidades de cada deficiência (BACARIN; GARCIA; LEONARDO, 2018). Acrescentou-se, ainda, a possibilidade de acessibilidade pelos meios do apoio entre os pares e o uso da tecnologia em favor das deficiências (SIEMS-MARCONDES, 2017). Os funcionários técnicos foram considerados, também, como mão de obra que deve ser capacitada, assim como os docentes, mantendo a atenção na adaptação de recursos pedagógicos acessíveis nesse último caso (ANACHE; CAVALCANTE, 2018).

Acessibilidade e mão de obra especializada foram identificadas pelos autores como tendo estreita ligação como desafio da permanência, ou seja, manter os deficientes nas universidades zelando, dessa forma, pelo desenvolvimento acadêmico (NOZU; SILVA E ANACHE, 2018). Adicionou-se a esse desafio da permanência, a importância de observar o aspecto financeiro para a ampliação do estudante com deficiência quando se pensa no acesso no ensino superior (COSTA; DIAS, 2015). Sendo assim, a acessibilidade e a mão de obra são o alicerce, sobretudo, físico e de apoio educacional apropriado aos estudantes deficientes e, ainda, a estrutura para a permanência que irá mantê-los na universidade para inclusão social e a formação enquanto cidadão e profissional.

Em contrapartida aos desafios a serem superados, oriundos da implementação da política de cotas, a democratização do ensino foi considerada como um avanço social vinculado aos desafios de acesso e permanência (DOURADO, 2012). Esse avanço proporcionou a educação para todos, deficientes e não deficientes, num processo de inclusão social que surge do caráter democrático originado da expansão do ensino superior (OLIVEIRA, 2012). A questão sempre atual da democratização do ensino como um fator beneficiador trouxe a reflexão do direito ao aprendizado, em uma perspectiva mais igualitária que visa o futuro e a ampliação do desenvolvimento social, político e econômico pela educação.

O benefício da inclusão social foi identificado com um processo construtivo ao lidar, aceitar, respeitar, trocar experiências com o outro independente das diferenças e como isso ocorreu, naturalmente, no exercício da socialização acadêmica entre os estudantes deficientes e os ditos “normais” que beneficia a todos (BERETA; VIANA, 2014). Essa integração é uma das bases que auxilia, ainda, a permanência do deficiente na universidade que tem a possiblidade de formá-lo como profissional para exercer participação ativa nos segmentos da

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sociedade (CARLOU, 2014).

Considerações finais

A construção desse estudo permitiu identificar os principais desafios e benefícios na implementação da política pública de cotas para deficientes, nas universidades federais, iniciada em 2017.

A estruturação da pesquisa foi realizada com base na formação do referencial teórico e na apresentação dos resultados e discussão de acordo com os autores abordados. A pesquisa foi iniciada com a legislação sobre a legitimidade acerca do direito do deficiente à reserva de vagas, cotas, no ensino superior, no âmbito das universidades federais. Em seguida, foi realizada uma abordagem sobre políticas públicas, sobretudo as políticas de inclusão, e como ocorreu o processo de implementação da política de cotas nas universidades com a realização dos processos seletivos para ingresso, o Enem/Sisu, e o recebimento dos estudantes pelos núcleos de acessibilidade.

A inclusão social desses deficientes nas universidades federais, podendo ser entendida como o ato da matrícula, foi o momento em que foram ressaltados os desafios da implementação da política pública de cotas que podem ser entendidos como a necessidade de acessibilidade adequada, de mão de obra capacitada que contribuirão para o desafio da permanência desses estudantes ao longo do curso. Em contrapartida, foi possível, perceber que essa implementação trouxe benefícios, sobretudo, sociais onde se destacou a democratização do ensino superior que se encontra em avanço, a inclusão social entre deficientes e não deficientes que implica na isonomia, no respeito ao lidar com o diferente, trocar experiências e aprender nesse processo. Essa inclusão acadêmica se estende à sociedade quando esse deficiente integrado à comunidade universitária obtém uma formação e é preparado para o mercado de trabalho exercendo, de fato, sua cidadania na sociedade.

Tendo em vista os escassos estudos envolvendo políticas públicas de inclusão no ensino superior, o aumento do acesso decorrente das leis de inclusão, torna-se, extremamente, relevante publicar pesquisas, preencher lacunas que possam registrar e relatar esse momento de expansão do ensino superior que se torna mais inclusivo.

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