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HEMORRAGIA
DIGESTIVA BAIXA
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HEMORRAGIA
DIGESTIVA BAIXA
CONTEÚDO: VICTOR PERIM
CURADORIA: NATY VERDIAL
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SUMÁRIO
DEFINIÇÃO ... 4 CAUSAS ... 4 CLÍNICA ... 7 Diverticulose ... 7 Angiodisplasias ... 7 Divertículos de meckel ... 7 Colites ... 7Doença inflamatória intestinal ... 8
EXAME FÍSICO ... 8 INVESTIGAÇÃO ... 8 Colonoscopia ... 9 Arteriografia ... 9 Cintilografia ... 10 MANEJO ... 10 Transfusões ... 11 Sequência do manejo ... 12
Pacientes de baixo risco ... 13
SANGRAMENTO DE ORIGEM OBSCURA ... 13
CIRURGIA ... 14
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DEFINIÇÃO
A hemorragia digestiva baixa (HDB) é de-finida pela presença de foco de sangra-mento no trato digestivo após o ligasangra-mento
duodenojejunal. Todo sangramento que
aconteça acima desse marco anatômico, mais conhecido como ligamento de Treitz, será considerado hemorragia digestiva
alta (HDA), a qual terá causas,
repercus-sões clínicas e manejos diferentes.
O sinal cardinal da hemorragia digestiva é a presença de sangue nas fezes. Na he-morragia digestiva alta, é mais provável que o paciente apresente hematêmese (vômito de sangue vivo), e melena (fezes escurecidas por sangue digerido). Já no caso da HDB o paciente apresenta mais comumente hematoquezia (sangue vivo nas fezes), a qual pode ser referida como “sujou o vaso sanitário de sangue”, e a
en-terorragia, quando o sangue é liberado
mesmo sem fezes, sendo, portanto, a pre-sença de sangue vivo pelo reto. A melena normalmente relaciona-se com a HDA pois o sangue, ao percorrer o trato gastrointes-tinal, passou por um processo mais ex-tenso de digestão e envelhecimento, o que causa um odor fétido e cor escurecida de sangue nas fezes. Porém note que a
melena também pode estar presente na HDB, isso pode acontecer especialmente
quando o foco de sangramento se localiza em cólon direito de pacientes muito
constipados, o que irá favorecer o envelhe-cimento/digestão dos elementos sanguí-neos e consequentemente, formará a me-lena.
Sendo assim, note que os sinais citados
como os mais comuns da hemorragia di-gestiva baixa e da hemorragia didi-gestiva alta não podem ser considerados como exclusivos ou observados isoladamente
durante uma investigação diagnóstica.
CAUSAS
As causas de HDB devem ser divididas a partir das faixas etárias: crianças, adultos
e pacientes >60 anos.
Nas crianças, a causa mais comum de
he-morragias digestivas baixas são os
Diver-tículos de Meckel, o chamado divertículo
verdadeiro. Trata-se da anomalia congê-nita mais comum do trato gastrointestinal, na qual formam-se saculações intestinais (divertículos) contendo todas as camadas da parede intestinal. O acúmulo das
secre-ções intestinais contendo enzimas diges-tivas nesses divertículos pode levar à
ero-são da parede intestinal e, ao atingir vasos sanguíneos, causar sangramento. Essa condição afeta aproximadamente 2% da população infantil, e surge usualmente à 2cm da válvula ileocecal (por isso a carac-terística de hemorragia “baixa”). Outras
5 causas comuns de sangramento digestivo
baixo em crianças são os pólipos
intestinais e as doenças inflamatórias in-testinais.
Já nos adultos, a Diverticulose, ou doença
diverticular do cólon, surge como a
pri-meira causa mais comum de hemorragia digestiva baixa. A formação das sacula-ções (Imagem 01), nesse caso, envolve a
pressão exercida pelas fezes endurecidas contra uma parede intestinal previa-mente enfraquecida, o que promove um
extravasamento da camada mucosa e/ou submucosa através das camadas
musculares, formando os chamados
pseudo-divertículos (não contêm todas as
camadas da parede). Com a exposição da vasa reta a lesão da camada mucosa pela passagem das fezes levará a um conse-quente sangramento digestivo baixo. Dessa forma, perceba que existe íntima re-lação da doença com a idade – quanto mais tempo, maior a chance de haver a for-mação de mais pseudo-divertículos – e
com a alimentação – alimentação rica em
fibras irá favorecer o trânsito intestinal, en-quanto dietas ricas em carnes vermelhas irão favorecer a constipação.
Imagem 01: Fotografia de uma colonoscopia mostrando
6 As doenças inflamatórias intestinais e as
neoplasias, por sua vez, respectivamente,
assumem o segundo e o terceiro lugares nas causas de hemorragia digestiva baixa em adultos.
Entretanto, as principais causas de he-morragia digestiva baixa são àquelas que afetam os pacientes com idade > 60 anos.
São elas, em ordem de prevalência: • Doença Diverticular
• Angiodisplasias • Neoplasias
A diverticulose, apesar de aumentar subs-tancialmente com a idade, não sangra com tanta frequência – apenas de 10-15% das vezes – enquanto a inflamação (diverticu-lite) é mais comum – atingindo até 25% dos pacientes. O achado dos divertículos
é mais comum em cólon esquerdo do que
se comparado ao direito, devido ao menor diâmetro e presença de fezes mais endu-recidas já formadas, o que impõe maior pressão contra a parede intestinal. Por ou-tro lado, os sangramentos são mais
co-muns do lado direito (50-90% dos casos),
devido aos divertículos formados serem maiores e exporem uma área vascular con-sequentemente maior. A natureza no san-gramento em questão é arterial e, quando
acontece, tende a repetir-se.
As angiodisplasias são a segunda causa
mais comum de hemorragia digestiva baixa em idosos. Trata-se de dilatações tortuosas de vasos submucosos,
localiza-dos principalmente no ceco. O sangra-mento, diferentemente do diverticular, é marcadamente venoso, e possui relação com outras comorbidades como doença renal crônica, estenose aórtica, doença de Von Willebrand e as telangectasias he-morrágicas hereditárias (doença de Rendu Osler Weber).
Observação: Síndrome de Heyde ocorre
quando há associação de estenose aórtica + angiodisplasias. Nessa doença, a válvula aórtica estenosada ejeta o sangue sob alta pressão gerando um cisalhamento sanguí-neo importante que promove alterações conformacionais importantes no fator de Von Willebrand as quais prejudicam a co-agulação e favorecem sangramentos. Em terceiro lugar nas causas de hemorra-gias digestivas baixas em idosos estão as
neoplasias e as colites. Apesar das
neo-plasias corresponderem a apenas 10% dos casos, precisamos ficar atentos, especial-mente porque, em alguns casos, podemos diagnosticar a doença pelo simples exame
do toque retal.
As colites, por fim, podem ser de origem
infecciosa (bactérias que promovem
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isquêmica (pacientes com fibrilação atrial
que embolizam parte do trombo presente no átrio esquerdo e causam um possível infarto intestinal com posterior sangra-mento).
E as hemorroidas? Elas são, de fato, a
prin-cipal causa de sangramento colorretal, e poderiam ser encaixadas como causas de hemorragia digestiva baixa, porém não im-põe grandes repercussões hemodinâmi-cas.
CLÍNICA
A clínica do paciente com hemorragia di-gestiva baixa normalmente varia de acordo com a etiologia do sangramento. No en-tanto, é comum que esse tipo de sangra-mento digestivo cause sinais cardinais como a hematoquezia (sangue vivo nas
fezes) e a enterorragia (saída de sangue pela região anal mesmo sem fezes).
Lembre-se, no entanto, que sinais como melena também podem surgir na hemor-ragia digestiva baixa caso esse sangra-mento demore mais a ser expelido, da mesma forma que um sangramento esto-macal somado a um trânsito intestinal mais acelerado pode causar hematoquezia. Sendo assim, os sinais de sangramento
digestivos não são específicos das por-ções alta e baixa.
Diverticulose
Mais comum em idosos, costuma cursar com hematoquezia sem dor, especial-mente em pacientes constipados
cronica-mente. A ausência de dor nesses casos
en-fraquece a hipótese de diverticulite, isso porque a inflamação dos divertículos nor-malmente leva a dor abdominal intensa.
Angiodisplasias
No caso das angiodisplasias o paciente normalmente é idoso e possui alguma
co-morbidade associada como estenose
aór-tica, doença renal crônica e doença de Rendu Osler Weber.
Divertículos de meckel
Os indivíduos mais afetados são as crian-ças, especialmente menores de 10 anos. Os sintomas podem demorar a surgir, mas costumam cursar apenas com dor abdomi-nal intensa e sangramento digestivo baixo causado pelo acúmulo de enzimas no inte-rior do divertículo.
Colites
Na colite isquêmica o paciente usual-mente apresenta doença cardiovascular
prévia que predispõe a formação dos êm-bolos, como fibrilação atrial.
Posterior-mente, os êmbolos formados podem im-pactar em artérias intestinais causando um
8 infarto intestinal e consequente
sangra-mento franco associado a dor intensa.
Já nas colites infecciosas o paciente pode apresentar febre associado à própria he-matoquezia, indicando um quadro infecci-oso. Por vezes, o uso prévio de
antibióti-cos para tratar uma infecção intestinal
pode causar uma disbiose intestinal e pre-dispor ao desenvolvimento de uma colite
pseudomembranosa por Clostridioides.
Em resumo, os sangramentos por colite usualmente possuem uma história previa de comorbidade, sinais de infecção ou uso prévio de antibióticos.
Doença inflamatória intestinal
Nesse caso o paciente – crianças e idosos - tipicamente apresentam, associado ao
sangramento, queixas como febre, sinto-mas constitucionais, perda ponderal sig-nificativa e hiporexia.
Doença hemorroidária
Normalmente inicia-se com um
sangra-mento indolor anorretal associado à eva-cuação. Isso porque esse é o momento em
que há um aumento da pressão exercida pela musculatura anorretal, o que pode fa-zer algum vaso superficial se romper e for-mar rajadas de sangue nas fezes. A dor as-socia-se mais às fissuras anais e a trom-bose hemorroidária do que a presença de hemorróidas.
Telangectasias
As dilatações vasculares são mais comuns nos pacientes que possuem doença de Rendu Osler Weber, em que o quadro pode estar associado a epistaxes de
repe-tição (sangramentos nasais), por
exem-plo, uma vez que as telangectasias podem estar presentes em todo o corpo, até mesmo na via aérea superior.
EXAME FÍSICO
O exame físico inevitavelmente será
fo-cado no exame abdominal, porém não
po-demos subestimar a importância de reali-zarmos o toque retal e a anuscopia nos casos de sangramento digestivo baixo. Isso por que, a partir desses exames rápi-dos e simples, podemos descartar
hipóte-ses mais indolentes como a da doença
he-morroidária pela simples detecção dos fo-cos anorretais de sangramentos, bem como para detectar condições mais
gra-ves de maneira simples e rápida como o
câncer anorretal (50% dos cânceres detec-tados na retosigmoidoscopia são palpá-veis pelo toque retal).
INVESTIGAÇÃO
Sabendo que estamos diante de uma he-morragia digestiva baixa, como devemos
9 prosseguir com a investigação
diagnós-tica?
Os principais métodos utilizados são a
co-lonoscopia, a arteriografia e a cintilogra-fia com hemácias marcadas.
A sonda nasogástrica muitas vezes pode ser citada como um possível método a ser utilizado na investigação diagnóstica, es-pecialmente na diferenciação das hemor-ragias digestivas baixas e altas, porém, na prática, não é um método muito utilizado
para este fim. Colonoscopia
A colonoscopia é o melhor exame para a
investigação da hemorragia digestiva baixa. A sua sensibilidade chega aos 70-90% e, além disso, existe uma possibili-dade terapêutica durante a sua realização
a partir da escleroterapia dos focos de san-gramento. O exame é capaz de detectar
focos de sangramento intermitentes, o
que não exige que o paciente esteja com o sangramento ativo. Ademais, as evidên-cias científicas indicam que a realização da colonoscopia reduz o período de
hospita-lização.
Os lados negativos envolvem a exigência de um preparo intestinal (desidratação in-tensa), a necessidade de sedação (cardio-depressão induzida por fármacos) e os ris-cos de complicações inerentes ao exame
(perfurações de alça intestinal). Dessa forma, especialmente nos casos de pacien-tes com estado hemodinâmico limítrofe, deve haver uma determinação da relação
risco-benefício para a realização da
colo-noscopia.
Arteriografia
A arteriografia é realizada por meio da
li-beração de contraste na circulação arte-rial que irriga o trato gastrointestinal
(imagem 02) – artéria mesentérica superior e inferior e tronco celíaco - após a inserção de um cateter via artéria femoral que irá “desenhar” todo o sistema vascular do trato digestivo e localizar o foco de sangra-mento. A localização focal ocorre com uma
especificidade próxima a 100%, sendo
sensível para sangramentos > 0,5
mL/min, ou seja, se o fluxo for muito dimi-nuto, ou não estiver ativo no momento do
exame, a sensibilidade pode ser
drastica-mente reduzida. A possibilidade de bene-fício terapêutico também existe,
po-dendo-se fazer uma embolização locali-zada, através da colocação de um hemos-tático absorvível ou então pela liberação localizada de vasopressina.
O lado negativo da arteriografia reside em tratar-se de um exame invasivo, que
ne-cessita do uso de contraste, bem como
precisar de um médico experiente. As
10 arterial e lesão renal aguda induzida pelo
contraste acontecem em 2-9% dos casos.
Imagem 02: Arteriografia mostrando áreas de
ex-travasamento de contraste correspondentes aos focos de sangramento (seta em branco).
Cintilografia
A cintilografia é muito semelhante à arteri-ografia na investigação, porém tem a ca-pacidade de detectar sangramentos ainda menores, com até 0.1 mL/min, e a vanta-gem recai sobre a capacidade de detectar
sangramentos intermitentes –
sangra-mento ativo nas últimas 24 horas - pelo uso de hemácias marcadas, além de ser
seguro e pouco invasivo. No entanto, a
cintilografia não possui a capacidade
te-rapêutica e, por isso, pode retardar o tra-tamento.
MANEJO
O primeiro passo do manejo das hemorra-gias digestivas é assegurar a vida,
especialmente diante de um possível cho-que hemodinâmico por conta da perda de sangue. Para isso, devemos buscar dois
acessos venosos calibrosos para a infu-são de cristalóides (Ex.: Ringer Lactato) -
visando a ressuscitação volêmica do paci-ente – e precisamos avaliar os parâmetros
que indicam hipoperfusão tecidual, como
redução do nível de consciência e altera-ções nos sinais vitais. A taquicardia de
re-pouso pode indicar o primeiro estágio de
evolução para o choque hipovolêmico, isso porque diante de uma hipovolemia intensa ocorre um aumento da frequência cardíaca buscando a manutenção da pressão arte-rial. Além disso, perfusão capilar periférica (PCP) lentificada, oligúria, livedo e hipo-tensão ortostática são sinais que podem indicar um estágio mais avançado de cho-que e consecho-quentemente mais ameaçador à vida frente a um quadro de hemorragia digestiva baixa.
Observação: No contexto da hemorragia maciça pode ser necessária transfusão
sanguínea. Porém atente-se que, de início, o hematócrito pode não cair. Guie-se pela condição clínica e hemodinâmica do paci-ente para indicar a transfusão e não so-mente pelo hematócrito.
Em seguida, após garantir a vida do paci-ente no primeiro momento pela estabiliza-ção hemodinâmica, podemos prosseguir para colher os exames laboratoriais:
11 hemograma completo, contagem de
pla-quetas, provas da coagulação, função re-nal, função hepática e eletrólitos.
O hemograma completo possui o objetivo de buscar anemia e avaliar o hematócrito. Pacientes com hemorragia digestiva baixa com anemias normocíticas e normocrômi-cas indicam um sangramento agudo, po-rém caso haja uma anemia ferropriva em idosos, por exemplo, devemos suspeitar de um quadro de sangramento crônico agudi-zado como o das neoplasias de cólon. A contagem de plaquetas é crucial pois pode revelar uma plaquetopenia que está agravando o quadro de sangramento e que, se não tratada, dificilmente permitirá que o sangramento seja contido.
Provas de coagulação são importantes,
especialmente em pacientes sob uso de anticoagulantes orais (Ex.: Varfarina) como na fibrilação atrial. Nesses casos há um
alargamento do INR e do tempo da pro-trombina, sendo assim, precisa haver uma
intervenção com plasma fresco congelado ou complexo protrombínico para aumen-tar efetividade da coagulação do paciente. A função renal deve ser solicitada pois o paciente com doença renal crônica que so-fre uma hemorragia digestiva pode soso-frer uma lesão renal aguda pré-renal devido à circunstância hipovolêmica provocada pelo sangramento, o que vai contribuir
para o agravamento da doença renal já existente.
Função hepática deve avaliada pois
paci-entes com hepatopatia crônica possuem deficiência de alguns elementos da coagu-lação (Ex.: fatores II, VII, IX, X, e proteínas C e S) e por isso são considerados
pacientes de alto risco para hemorragia
digestiva.
Eletrólitos são importantes devido aos
dis-túrbios hidroeletrolíticos envolvidos no sangramento e no choque.
Transfusões
Pacientes com hemorragia digestiva mui-tas vezes necessitam de transfusões ou re-posição específica de elementos sanguí-neos, por isso avaliamos principalmente a hemoglobina, o hematócrito, o INR e a con-tagem do número de plaquetas antes de considerar uma transfusão.
O objetivo de hemoglobina (Hb) deve ser
≥ 7 g/dL de acordo com o guideline mais
recente da associação americana de ban-cos de sangue, visando com esse valor re-duzir as transfusões sanguíneas desne-cessárias. Entretanto, em muitas transfu-sões, especialmente com os concentrados de hemácias, pode haver diluição do
san-gue com hemácias e aumento da pressão
intravascular com piora do sangramento. Uma das possíveis exceções seriam os
12 pacientes com doença coronariana e
arte-riosclerose - risco cardiovascular
impor-tante - os quais podem ter o seu alvo de
hemoglobina elevado pela chance de au-mento de consumo miocárdico.
Se o INR for > 1.5 o paciente deve receber
plasma fresco congelado ou complexo protrombínico pois indica que o tempo
ne-cessário para a coagulação acontecer está aumentado.
Sequência do manejo
A passagem para o próximo passo vai
de-pender da estabilidade hemodinâmica do
paciente. Para isso devemos nos fazer de-terminadas perguntas:
O paciente apresenta sinais de instabili-dade hemodinâmica? Pacientes com
ta-quicardia em repouso, oligúria, livedo, hi-potensão ortostática e PCP lentificada po-dem estar num quadro de choque circula-tório, o que indica que se precisa estabili-zar a partir da ressuscitação volêmica – in-fusão de cristaloides - antes de prosseguir com a investigação.
Em seguida, caso o paciente tenha
preci-sado de ressuscitação volêmica, a
per-gunta é: pode tratar-se de uma
hemorra-gia digestiva alta e não baixa? Entre
10-15% das hemorragias digestivas baixas de vulto são na realidade de origem alta. Os sangramentos digestivos altos são muito
mais frequentes e causam mais instabili-dade hemodinâmica do que as baixas. Por outro lado, a presença de coágulos e he-matoquezia fala mais a favor de uma ori-gem baixa. Sendo assim, caso haja
insta-bilidade hemodinâmica, deve-se iniciar a investigação pela endoscopia, e não pela colonoscopia.
Se na realização da endoscopia a fonte do sangramento for encontrada, o próprio exame pode servir como terapêutica e, caso não consiga conter o sangramento, devemos seguir o manejo das hemorragias digestivas altas.
Entretanto, se a endoscopia não encontrar o foco do sangramento, a pergunta é: o
pa-ciente ainda está com instabilidade he-modinâmica? Se a resposta for sim, o
me-lhor caminho é a arteriografia para detec-tar o foco de sangramento e até mesmo re-solvê-lo pela colocação de hemostático absorvível ou pela administração de vaso-pressina. Porém, caso o paciente já esteja
estabilizado após a endoscopia, pode-se
prosseguir para o melhor exame diagnós-tico, a colonoscopia.
Outro possível cenário seria a chegada de um paciente com o relato de hemorragia
digestiva baixa, porém sem sinais de alerta para instabilidade hemodinâmica,
por vezes até sendo referido como algo que aconteceu no dia anterior. Quando
13 esse for o caso, podemos lançar mão do
método investigativo de escolha logo de
início, a colonoscopia.
Mas a possível dúvida é: e se a endoscopia
e a colonoscopia não encontrarem focos de sangramento digestivo e os sintomas permanecerem? Nesse caso, o manejo
correto é seguir com a investigação para
sangramento de origem obscura. Pacientes de baixo risco
Uma eventual possibilidade seria um paci-ente jovem, com queixa de um único evento de hemorragia digestiva baixa, au-tolimitada e sem sinais e sintomas de ins-tabilidade hemodinâmica aparente. Nesse caso podemos assumir a postura
expec-tante, marcando um retorno após um
perí-odo para reavaliar o paciente e, caso haja uma recorrência dessa queixa e/ou sinais de alarme, iniciar a investigação tra-dicional.
SANGRAMENTO DE ORIGEM
OBSCURA
Quando o paciente se queixa de hemorra-gia digestiva baixa, iniciamos a investiga-ção com colonoscopia e endoscopia, po-rém se não encontrarmos um foco de san-gramento, estamos diante de um
sangra-mento de origem obscura. Atenção para
não confundir sangramento de origem obscura – quando vemos o sangue ma-croscopicamente, porém não detectamos a sua fonte – com sangue oculto nas fezes, que é a pesquisa laboratorial de hemoglo-bina nas fezes quando o sangue não é visto macroscopicamente.
Os sangramentos digestivos baixos que provêm de cólon ou íleo terminal são vistos pela colonoscopia. Já os sangramentos de esôfago, estômago e duodeno são vistos pela endoscopia. Por fim, os sangramentos de vias biliares e ductos pancreáticos são vistos pela colangiopancreatografia retro-grada (CPRE). Sendo assim, resta apenas o intestino médio sem ser visto pelos exa-mes de imagem, e por isso podemos afir-mar que os sangramentos de origem
obscura são de provável origem no intes-tino médio.
Os sangramentos de origem obscura po-dem ser visíveis ou não (sangramentos ocultos de origem obscura).
As principais causas de sangramentos de origem obscura são as lesões vaculares como nas angiodisplasias de delgado, te-langectasia hereditária hemorrágica (Rendo Osler Weber) e enteropatias por uso de anti-inflamatórios não esteroidais. Outra possível causa seriam os imprová-veis tumores de delgado (35x menos fre-quentes que os tumores de cólon), sendo a
14 maioria deles benignos. A melhor forma de
detectar esse sangramento de intestino médio, após repetir a endoscopia e a colo-noscopia, é a chamada capsula
endoscó-pica. Trata-se de uma cápsula que filma o
interior do intestino delgado por 8-12 ho-ras, captando 2 imagens por segundo para visualização de um endoscopista ca-pacitado.
CIRURGIA
Se o paciente permanecer com sangra-mento digestivo baixo por um período muito extenso a despeito das tentativas de manejo clínico e de resolução minima-mente invasivas como endoscopia, colo-noscopia e arteriografia, o paciente pode ser indicado para a cirurgia.
As indicações para a cirurgia de conten-ção do sangramento digestivo envolvem:
• Sangramento persistente > 72 ho-ras;
• Ressangramento volumoso em me-nos de uma semana;
• Instabilidade hemodinâmica após 5 concentrados de hemácias trans-fundidos;
A cirurgia será a ressecção segmentar do
ponto de sangramento. Caso o
sangra-mento seja oculto ou difuso, pode-se optar por uma colectomia subtotal com
ileosto-mia nos casos em que a instabilidade
he-modinâmica é severa e associada a um sangramento franco.
15 @jalekoacademicos Jaleko Acadêmicos @grupoJaleko
REFERÊNCIAS
Clínica Cirúrgica – Sangramentos Digestivos – Hemorragia Digestiva Baixa (Professora Luiza Lapolla). Jaleko Acadêmicos. Disponível em <https://www.jaleko.com.br>.
STRATE, L. Approach to acute lower gastrointestinal bleeding in adults. UpToDate. Disponível em <https://www.uptodate.com>.