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Educação de Jovens e Adultos no Contexto da Economia Solidária: uma prática educativa às integrantes de um Banco Comunitário

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Academic year: 2021

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Educação de Jovens e Adultos no Contexto da Economia Solidária:

uma prática educativa às integrantes de um Banco Comunitário

Rita C. Z. Barrofaldi, Renata C. G. Meneghetti

Universidade de São Paulo/ICMC – USP Apoio: Pró-Pesquisa – RUSP Eixo: AP2_8066843

RESUMO

Este artigo trata do ensino contextualizado de matemática para integrantes de um Banco Comunitário (BC), caracterizado como um Empreendimento em Economia Solidária. O Banco Comunitário, localizado no bairro Jardim Gonzaga, no município de São Carlos – SP presta serviços financeiros e bancários aos membros da comunidade local e a outros Empreendimentos em Economia Solidária. Esses serviços são mais acessíveis à comunidade e estimulam o desenvolvimento local e organizacional. Nesse contexto, a Matemática é um dos elementos base no processo de autogestão, pois proporciona conhecimentos básicos necessários à gestão financeira e logística aos membros do BC.

INTRODUÇÃO

Este trabalho de iniciação científica se insere no contexto da educação de Jovens e Adultos e da Economia Solidária, e se dá em parceria com um projeto maior, do Núcleo Multidisciplinar em Economia Solidária (NuMI-EcoSo) , de políticas públicas em Economia Solidária que criou o Banco Comunitário - BC, como condição para o desenvolvimento social/ econômico de bairros carentes da cidade de São Carlos. A área de atuação compreende os bairros Jd. Gonzaga, Monte Carlo e entorno imediato dos mesmos.

A Economia Solidária é definida sinteticamente como o “conjunto de atividades econômicas – de produção, distribuição, consumo, poupança e crédito – organizados e realizados solidariamente por trabalhadores e trabalhadoras sob a forma coletiva e autogestionária”. (BRASIL, 2006). Desta, fazem parte diversos tipos de empreendimentos, tais como cooperativas, associações, clubes de troca, empresas recuperadas autogeridas, organizações de finanças solidárias, grupos informais etc. Tais empreendimentos são caracterizados por algum tipo de atividade econômica que devem atender os princípios da Economia Solidária: cooperação, solidariedade, viabilidade econômica e autogestão. Desde

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1998, o NuMI-EcoSol vem se dedicando a atividades de ensino, pesquisa e extensão, de forma articulada, relevantes para a Economia Solidária. Dentre essas se destacam as que se referem a processos de incubação de empreendimentos econômicos solidários, em várias atividades econômicas e diversas localidades. O NuMI-EcoSol mantém um conjunto amplo e diversificado de projetos de atendimento a segmentos da população que se apresentam excluídos do mercado de trabalho ou inseridos nele de forma precária. Nestes projetos, o processo de organização dos grupos populares é realizado sob a orientação de princípios do cooperativismo popular autogestionário, em diferentes situações: com ou sem demandantes externos, com diferentes tipos de demandantes e parceiros, com ou sem definição prévia dos seguimentos envolvidos da população, com ou sem atividade produtiva indicada, em diferentes municípios etc.

Há uma vertente educacional na implementação desses EES, denominada Educação em Economia Solidária, a mesma deve levar em conta “(...) a solidariedade em sua dimensão ontológica (condição humana, constitutiva da vida social), bem como as diferentes concepções e práticas de solidariedade que se manifestam em diversos espaços/tempos históricos e, inclusive, convivem num mesmo espaço físico/subjetivo” (BRASIL, 2006, p.15). Dentro deste contexto há ainda uma demanda específica da Educação Matemática, que se refere aos conhecimentos matemáticos necessários à implementação de tais empreendimentos, pois os integrantes desses EES precisam se apropriar desses conhecimentos que são inerentes às atividades que realizam, principalmente por se tratarem de pessoas que saíram da escola há muito tempo, ou que muitas vezes possuem baixo grau de escolaridade. É nesse cenário que este trabalho se insere, ou seja, trabalhar a educação matemática de forma contextualizada e visando auxiliar o BC na aquisição de conhecimentos matemáticos importantes no cotidiano de seus integrantes. Vale ainda salientar que, as diretrizes curriculares para Educação de Jovens e Adultos (BRASIL, 2002) destacam a importância de se trabalhar, neste cenário, com situações contextualizadas. Segundo esse documento, isso pode colaborar para uma aprendizagem mais significativa, já que tais situações favorecem a compreensão e contribuem para a construção de conhecimentos matemáticos que, por sua vez, são ferramentas importantes para a compreensão da realidade.

MATERIAIS E MÉTODOS

Para que fosse possível ensinar os conceitos de matemática de forma contextualizada ao grupo que compõe o BC, realizou-se então a revisão da literatura pertinente ao tema deste

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trabalho e uma pesquisa prévia do universo onde estão inseridas as trabalhadoras do banco. A pesquisa do universo de inserção das trabalhadoras se deu de visitas informais ao empreendimento e também através de uma entrevista baseada em um questionário que tinha como principal objetivo investigar como é o cotidiano de trabalho do banco, quais conteúdos de matemática são utilizados pelas integrantes e principalmente quais as dificuldades enfrentadas quanto ao uso da matemática e o grau de escolaridade de cada pessoa que compõe o banco. Isso possibilitou o desenvolvimento de um plano de atividades que se inserem numa proposta de se trabalhar os conteúdos matemáticos, embasados no contexto sócio-etno-cultural dos indivíduos. As atividades envolveram os conteúdos matemáticos sobre proporcionalidade, cálculo de média aritmética e operações básicas com números racionais, e foram realizadas através de oficinas de educação matemática que totalizaram dez horas.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Após a realização das oficinas de educação matemática, observou-se que diversas dificuldades enfrentadas pelas integrantes, referentes aos conteúdos matemáticos foram sanadas, tais como organização do raciocínio matemático para resolver uma situação problema, melhora quanto à realização de algumas operações básicas: divisão e multiplicação envolvendo números decimais; utilização correta da calculadora e ressignificação dos números mostrados no visor da calculadora; compreensão de cálculos proporcionais, pois inicialmente elas utilizavam o algoritmo da regra de três com muita dificuldade para os cálculos proporcionais contidos na planilha de análise e controle de crédito produtivo sem atribuição do significado de proporção. Portanto, foi um período relevante, com grandes melhorias de aprendizagem para o crescimento das trabalhadoras junto ao BC. Além disso, observou-se que através do processo de ensino e aprendizagem de Matemática, realizado através de atividades que se baseiam no cotidiano dos membros desse EES, foi possível estabelecer uma conexão entre os conteúdos de Matemática e a realidade de trabalho dessas pessoas, centrando no processo de construção e organização pessoal da realidade o que possibilitou uma aprendizagem mais significativa, pois favoreceu a compreensão das integrantes em relação aos conhecimentos matemáticos necessários no contexto do BC.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante as intervenções realizadas buscou-se estabelecer a interação entre educador e educando através do diálogo e dando liberdade  para que ambos (pesquisador/sujeito da

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pequisa) pudessem expressar suas ideias, e seu ponto de vista sobre determinadas situações, ou seja, nesse sentido criamos um ambiente de aprendizagem onde foi possível estabelecer uma conexão entre a realidade do indivíduo e um novo conteúdo a ser aprendido. Segundo Mizukami (1986):

(...) O ensino aprendizagem deve ser entendido como algo que deve superar opressor oprimido, onde é preciso que ele seja crítico procurando uma prática libertadora, tendo o diálogo como ponto principal e solidário com o oprimido lutando para transformar a realidade. MIZUKAMI (1986) afirma que “Ensino e aprendizagem assumem um significado amplo, tal qual o que é dado à educação. Não há restrições às situações formais de instrução” (p 97), pois para Freire a verdadeira educação deve ser a que problematiza ajudando na relação opressor-oprimido. (MIZUKAMI,1986, p.97).

Nesse contexto, buscamos confrontar os conteúdos de Matemática aplicados com a realidade social do indivíduo, centrando no desenvolvimento da sua personalidade, em seu processo de construção e organização pessoal da realidade. Nossa intenção pautou-se no fato de que não basta “depositar” conteúdos e conceitos de matemática de maneira formal nas trabalhadoras do BC, ou seja, o intuito foi de se trabalhar a “matemática informal”, no sentido de que essas trabalhadoras se vissem nos conteúdos apresentados, sendo assim possível desenvolver a capacidade de processar informações e lidar com os estímulos do ambiente buscando ampliar suas  experiências e adquirir o aprendizado dos conceitos matemáticos apresentados. Trabalhando desta maneira, percebemos que o processo de ensino respeitou a individualidade das integrantes, já que cada uma delas possui grau de escolaridade diferente, o que nos motivou em certo momento a observar o tempo gasto e a maneira com que cada uma se interagia com o conteúdo abordado. Concluímos que embora as integrantes que tinham grau de escolaridade mais elevado aprenderam o conteúdo com mais facilidade, a integrante com grau de escolaridade mais baixo também conseguiu acompanhar o desenvolvimento dos conceitos matemáticos envolvidos na planilha de análise e controle de crédito produtivo. Percebeu-se então que diversas dificuldades enfrentadas pelas integrantes, referentes aos conteúdos matemáticos foram sanadas. Nesse sentido, atribui-se à Educação Matemática, uma forte participação na cadeia produtiva desse EES, sendo que um trabalho na direção do aqui focado pode

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favorecer o processo de autogestão do grupo focado, pois de acordo com Galvão e Cifuentes (2001):

(...) a autogestão não é somente uma proposta de propriedade coletiva dos meios de produção, ela avança para o campo das relações políticas e comunitárias. Em sua forma ideal, pressupõe uma participação ativa dos trabalhadores em todas as etapas do planejamento e de gestão do empreendimento (...) (GALVÃO & CIFUENTES, 2001, p.38).

REFERÊNCIAS

BRASIL (país). Proposta curricular para a educação de jovens e adultos–Segundo segmento do ensino fundamental. v.3. Ministério da educação. Secretaria da Educação Fundamental, Brasília, 2002. 146 p.

BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego, Secretaria Nacional de Economia Solidária, Atlas de Economia Solidária no Brasil. Brasília, 2006. 59 p.

BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes). I Oficina Nacional de Formação/Educação em Economia Solidária: documento final. Brasília: MET, SENAES, SPPE, DEQ, 2006b.

GALVÃO, M. N. CIFUENTES, R. Cooperação, Autogestão e Educação nas novas configurações de trabalho. Revista Org & Demo , vol. 2, p. 29-40, 2010.

MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Ensino: As abordagens do processo – São Paulo/ EPU, 1986. 119p.

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