Noções Básicas na Prática
Microbiológica
Microbiologia Clínica – 2012.1
Prof. Thiago Marconi Cardoso
Pedido do Exame Preparo do paciente Obtenção da amostra Procedimento de medição Procedimento pós-analítico Resultado
Avaliação médica do resultado
Pré-analítico Analítico Pós-analítico Frequência de erros ~60-70% ~20-30% ~10%
Requisição Médica
• Envolvimento do médico com laboratório pode ser útil • Microbiologia envolve etapas interpretativas (flora
normal)
• Suspeita clínica é importante para direcionar os testes • Requisição deve conter maior número de informações
Condições de Segurança
• Um profissional de laboratório nunca deve realizar qualquer procedimento sem antes conhecer as
condições de segurança necessárias à execução de suas tarefas:
– Normas de biossegurança
– Cuidados com derramamentos
– Cuidados com materiais pérfuro-cortantes – Cuidados com respingos
– Cuidados com aerossóis
Coleta
• Todo resultado liberado pelo laboratório é conseqüência da qualidade da amostra recebida
• O material colhido deve ser representativo do processo infeccioso investigado
• A coleta e o transporte inadequados podem ocasionar falhas no isolamento do agente etiológico, favorecendo o desenvolvimento de flora contaminante e induzindo a um tratamento não apropriado
Procedimento de Coleta
• Colher antes da antibioticoterapia, sempre que possível • Instruir claramente o paciente sobre o procedimento
• Observar a anti-sepsia na coleta de todos os materiais clínicos
• Colher do local onde o microrganismo suspeito tenha maior probabilidade de ser isolado
• Considerar o estágio da doença na escolha do material • Colher quantidade suficiente de material para permitir
Transporte e Conservação de
amostras
• Deve assegurar a sobrevivência e
isolamento do microrganismo
• Evitar erro de interpretação de culturas
quantitativas
• Antes da coleta verificar a disponibilidade
dos meios de transporte
Temperatura de transporte
Temperatura Ambiente Líquor
Aspirado de joelho Swab vaginal
Swab cervical
Secreções anaeróbias
35º C - Estufa Hemoculturas
Secreção ocular em placa
2 a 8º - Geladeira Urina Fezes Escarro
Critérios de Rejeição de
Amostras
• Discrepância entre a identificação da
amostra e o pedido médico
• Falta de identificação da amostra
• Origem da amostra ou tipo de amostra
não identificada
Amostras Inadequadas
• Material colhido em formol
• Frascos não estéreis
• Swab seco
• Presença de vazamentos, frascos quebrados ou
sem tampa, com contaminação na superfície
externa.
• Culturas para anaeróbios recebidas em condições
não apropriadas
• Urinas colhidas há mais de 24 horas, que ficaram
guardadas em geladeira, ou colhidas há mais de
duas horas, sem refrigeração
Procedimentos no laboratório
de Microbiologia
• Microscopia
– Preparo de esfregaços – Exame direto a fresco
– Exames diretos corados (Gram e Ziehl) – Exame direto em campo escuro
• Inóculo
– Seleção de meios de cultura
• Incubação
– Atmosfera – Tempo
Procedimentos no laboratório
de Microbiologia
• Morfologia colonial
• Contagem de colônias
• Identificação bacteriana
• Provas bioquímicas
• Antibiograma
• Métodos não convencionais
– Automação
• ANVISA. Manual de Microbiologia Clínica para o Controle de
Infecção em Serviços de Saúde. Brasília: Editora ANVISA, 2004;
• Guder, WG. Coleta de amostras: do paciente para o laboratório:
o impacto das variáveis pré-analíticas sobre a qualidade dos resultados laboratoriais. São Paulo: Editora Câmara Brasileira
do Livro, 1996;
• Oplustil, CP. Procedimentos Básicos em Microbiologia Clínica. 2. ed. São Paulo: Editora SARVIER, 2004.
Staphylococcus sp
Streptococcus sp
Cocos Gram positivos
Microbiologia Clínica – 2011.1 Prof. Thiago Marconi Cardoso
-Staphylococcus sp
Família Micrococcaceae
• Staphylococcus
• Micrococcus
Principais Espécies
• S. aureus
• S. epidermidis
Fatores de virulência
• Proteína “A”
Componente da parede celular
Liga-se à porção Fc da IgG
Reduz opsonização e fagocitose e tem
efeitos quimiotáticos
• Cápsula
Fatores de virulência
Toxinas e enzimas
• Coagulase: converte fibrinogênio em fibrina
• Catalase: catalisa a remoção do peróxido de hidrogênio
• Hialuronidase: hidrolisa o ácido hialurônico no tecido conjuntivo, promovendo a disseminação dos Staphylococcus nos tecidos
• Fibrinolisina: dissolve coágulos de fibrina • Lipases: hidrolisa lipídeos
• Nucleases (DNAse): hidrolisa DNA • Penicilinase: hidrolisa penicilinas
Fatores de virulência
Exotoxinas
Três mais importantes:
* Enterotoxina: causa intoxicação alimentar, vômitos e diarréia. É resistente ao calor
O alimento é (1) cozido, (2) Manipulado (portador) e (3) deixado resfriar lentamente a bactéria produz e secreta a toxina mesmo que o alimento seja reaquecido, a toxina não é destruída
* Toxina da Síndrome do Choque Tóxico: mulheres menstruadas (absorvente interno) ou pacientes com infecções de feridas
* Esfoliatinas (5% das cepas de S. aureus)
- Ação localizada Impetigo Bolhoso ( Bolhas na pele)
- Ação generalizada Síndrome da Pele Escaldada (toxina é produzida no sítio de infecção e levada pela corrente circulatória)
S. Aureus – agente mais comum de infecções piogênicas
Intoxicações
• Decorrente de um processo infeccioso: 1. Síndrome da pele escaldada
- Deslocamento de extensas áreas da epiderme - Toxina esfoliatina ou epidermolisina
2. Impetigo bolhoso (ação localizada) • Na ausência de processo infeccioso:
1. Intoxicação alimentar
- Ingestão de toxinas previamente formadas em alimento contaminado pelo S. aureus
- Chamadas enterotoxinas (superantígenos) – são termostáveis 2. Síndrome do choque tóxico
- Geralmente mulher no período menstrual
- Febre alta, eritema com descamação da pele, insuficiência renal, diarréia, etc.
S. aureus
– agente mais comum de infecções piogênicasPele
Foliculite – Infecção de um folículo piloso em decorrência de sua obstrução
Furunculose – Infecção de folículos pilosos ou glândulas sebáceas obstruídas, com envolvimento de tecido celular subcutâneo. Carbúnculo – Furúnculo com vários sítios de drenagem localizado
na nuca ou parte superior das costas.
Terçol – Infecção de glândula sebácea marginal das pálpebras.
Indivíduos debilitados
Bacteremia – Pode ter origem em qualquer infecção estafilocócica localizada
Endocardite – Pode surgir em decorrência de bacteremias, ou em conseqüência de próteses e processos cirúrgicos cardíacos. Pneumonia – Mais freqüente no primeiro ano de vida. As viroses
S. epidermidis
* Bacteremia
* Infecções de próteses valvulares ou articulares
* Infecções de ferimentos cirúrgicos
* Endocardite
S. saprophyticus
• Mecanismos de patogenicidade: aderência ao epitélio urinário
• Causa infecção urinária em mulheres jovens sexualmente ativas
Staphylococcus
Diagnóstico - Cultura
• Placa de Ágar Sangue, a 35º C, 24 - 48 horas
• Crescimento rápido em condições aeróbicas ou
microaerófila
• Em meios sólidos, as colônias são redondas, lisas,
elevadas, cremosa, brilhantes, amarela ou branca
• As colônias de S. aureus são amarelo-ouro,
normalmente ß-hemolíticas
• As colônias de S. epidermidis apresenta coloração
branca não hemolítica
Hemólise em AS
Diagnóstico - Catalase
– Diferencia Streptococcus
(-) de
Staphylococcus
(+)
– Reagente: H
2O
2a 3%
– Reação: 2H
2O
2+ Catalase 2H
2O + O
2– Procedimento:
• Gotejar 1ml do reativo sobre o crescimento bacteriano. O meio não poder conter sangue;
• Alternativamente pode-se fazer o teste em lâmina, retirando-se uma porção da colônia da placa,
Cocos Gram
positivos CatalaseTeste da Teste da Catalase Catalase Positivo Catalase Negativo Catalase Negativo Staphylococcus Streptococcus Streptococcus
Diagnóstico - Coagulase
– Diferencia S. aureus
(coagulase +) de outras
espécies
– Reagente: Plasma não diluído de coelho
– Procedimento:
• Emulsionar alça cheia de bactéria em solução salina
• Adicionar 1 gota do plasma e homogeneizar
• Resultado positivo é indicado por aglutinação em 10-15’’
Cocos Gram
positivos Teste da Catalase Teste da Catalase Catalase Positivo Catalase Negativo Catalase Negativo Staphylococcus Streptococcus Streptococcus Teste da Coagulase Teste da Coagulase Coagulase Positivo Coagulase Negativo Coagulase Negativo S. aureus Staphylococcus Coagulase negativo
Diagnóstico - Novobiocina
• Teste de sensibilidade à Novobiocina
– Staphylococcus saprophyticus são resistentes
S. saprophyticus S. epidermidis
ou S. aureus
Diagnóstico - DNAse
• DNAse
» Incubar por 18-24 horas em meio específico » Adicionar ácido clorídrico após incubação
» Reação positiva: Presença de zona transparente ao redor do crescimetno bacteriano
S. aureus positivo
ESPÉCIE COAGULASE ou DNAse SENSIBILIDADE À NOVOBIOCINA
S. aureus + Sensível
S. epidermidis – Sensível
Tratamento
95% cepas resistentes á Penicilina G
* ß-lactamase
* Penicilina sensível à ß-lactamase (amoxicilina)
* Penicilina resistente à ß-lactamase (naficilina ou cloxacilina) e algumas cefalosporinas e vancomicina
* Associação de Penicilina sensível à ß-lactamase com ácido clavulânico (inibidor de ß-lactamase).
20% são resistentes a meticiclina (ou naficilina) – droga de escolha é a Vancomicina.
Streptococcus sp
Cocos Gram (+) Catalase (-)
• Família Streptococcaceae
• Principais Gêneros:
– Streptococcus
– Enterococcus
– Lactococcus
– Vagococcus
Epidemiologia
• Comumente encontrado como parte da flora normal
• Contaminantes de espécimes clínicos
• Espécies importantes:
– Estreptococos β-hemolíticos: • S. pyogenes (Grupo A) • S. agalactiae (Grupo B) • Grupos C, F e G – S. pneumoniae – Estreptococos Grupo D • S. bovis e S. equinus – Enterococos • E. faecalis • E. faecium − Estreptococos viridans (Latim: vĭrĭdis = verde)• S. mutans • S. salivarius • S. mitis
Categorias de estreptococos de importância médica: 1. Estreptococos beta-hemolíticos (ou piogênicos) 2. Pneumococos
3. Estreptococos do Grupo D (S. bovis) 4. Estreptococos Viridans
Estes estreptococos podem ser facilmente identificados utilizando testes laboratoriais relativamente simples:
Características Grupo
Sorológico
Hemólise Bacitracina Optoquina Bile
Solub CAMP BE PYR 6,5%NaCl
S. pyogenes A b S (R) R - - - + -S. agalactiae B (b) R R - + - - (+) Grupos C e G C ou G b R R - - - - -S. bovis D g, a R R - - + - -S. pneumoniae - a R S + - - - -Viridans (-) g, a (R) R - - (-) - -Enterococcus -* a b, g R R - - + + +
Patogênese
• S. pyogenes
– Fatores de virulência:
• Estreptolisinas S e O: provoca produção de auto-anticorpos febre reumática e glomerulonefrite
– Faringite 90% das faringites bacterianas
– Piodermites Impetigo e erisipela
• S. agalactiae
– Infecções geniturinárias
– Meningite neonatal
Patogênese
• S. pneumoniae
– Pneumonia
– Meningite
– Septicemia
– Otite média
– Sinusite
– Vacina polissacarídica 23 valente
• S. bovis
– Bacteremia, meningite e endocardite
– Associado a carcinoma de cólon
Patogênese
• Grupo Viridans
– Bacteremia
– Endocardites
– Abscessos
– Infecções do trato geniturinário
– S. mutans formação de placa dentária
• Enterococcus spp.
– Infecções nosocomiais
– Infecções urinárias
Diagnóstico Laboratorial
• Cultivo em AS, 35º C, 5 a 10% de CO
2• Hemólise em AS
Ausência de hemólise Alfa Beta
S. penumoniae S. viridans Streptococcus Grupo D S. pyogenes Streptococcus Grupo B e D Streptococcus Grupo D
Cocos Gram
positivos CatalaseTeste da Teste da Catalase Catalase Positivo Catalase Negativo Catalase Negativo Staphylococcus Streptococcus Streptococcus
Sensibilidade à Bacitracina
• Discos de Bacitracina inibem o crescimento do
S.
pyogenes
em ágar sangue
• Sensível: formação do halo de inibição.
• Resistente: não há formação do halo de inibição
S. pyogenes S. agalactiae
Teste do PYR
(Pirrolidonil-β-Naftilamida)
• Avalia a capacidade da bactéria hidrolisar a
PYR.
– Reação positiva: Cor vermelha após 5’
• Enterococcus e Streptococcus Grupo A (S. pyogenes)
+
-Sensibilidade à Optoquina
• Discos de Optoquina inibem o crescimento do
S.
pneumoniae
em ágar sangue
• Sensível: formação do halo de inibição > 14 mm
Solubilidade em Bile
• Realizado quando inibição da optoquina fica entre 10 e 14 mm
• 20% dos pneumococos são resistentes à optoquina
– Teste positivo: Meio fica límpido S. pneumoniae
– Teste negativo: Meio continua turvo Enterococos, Grupo Viridans ou Grupo D
Teste de CAMP
– Identifica Streptococcus Grupo B (S. agalactiae)
– Inocula uma amostra de S. aureus produtor de beta lisina – Inocular as amostras testes em estrias perpendiculares
– As estrias devem estar próximas mas não encostar no S. aureus
S. aureus
S. pyogenes S. agalactiae
Hidrólise do Hipurato
• A enzima hipuricase hidrolisa o hipurato para produzir glicina, que é detectada por oxidação
• Reação positiva: Cor Azul escura
Meio de Bile Esculina Ágar
• Meio de cultura com 40% de Bile
• Reação positiva é detectada com a hidrólise da
esculina no meio, escurecendo o meio
Caldo Hipercloretado
(NaCl 6,5%)
• Avalia a capacidade de crescimento em
meio com altas concentrações de sal
– Positivo: Enterococcus spp.
COCOS
Gram-Positivo
Catalase
Staphylococcus Streptococcus
Morfologia colonial / hemólise
ß-hemolítico α-hemolítico Não-hemolítico
Micrococcus (+) ( - ) . . . . . . . . .
β β β β-Hemolítico Bacitracina PYR Bacitracina PYR Bacitracina (S) PYR (+) Bacitracina (S) PYR (+) S. pyogenes Grupo A S. pyogenes Grupo A Bacitracina (R) PYR (-) Bacitracina (R) PYR (-) Teste do CAMP Hidrólise do Hipurato Teste do CAMP Hidrólise do Hipurato Teste do CAMP (+) Hidrólise do Hipurato (+) Teste do CAMP (+) Hidrólise do Hipurato (+) S. agalactiae Grupo B S. agalactiae
Grupo B Hidrólise do Hipurato (-)Teste do CAMP (-)
Teste do CAMP (-) Hidrólise do Hipurato (-)
Bile Esculina Bile Esculina Bile Esculina (+)
Bile Esculina (+) Bile Esculina (-)Bile Esculina (-)
PYR / NaCl 6,5%
PYR / NaCl 6,5% Não Grupo A, B ou DNão Grupo A, B ou D PYR (+) / NaCl 6,5% (+) PYR (+) / NaCl 6,5% (+) PYR (-) / NaCl 6,5% (-) PYR (-) / NaCl 6,5% (-) Grupo D Grupo D Enterococos Enterococos
α αα α-Hemolítico Optoquina Optoquina Optoquina (S, >14 mm) Optoquina (S, >14 mm) S. pneumoniae S. pneumoniae Optoquina (I, 10-14 mm) Optoquina (I, 10-14 mm) Bile Solubilidade Bile Solubilidade Bile Solubilidade (+) Bile Solubilidade (+) S. pneumoniae
S. pneumoniae Bile Solubilidade (-)Bile Solubilidade (-)
Bile Esculina Bile Esculina
Bile Esculina (+)
Bile Esculina (+) Bile Esculina (-)Bile Esculina (-)
PYR / NaCl 6,5%
PYR / NaCl 6,5% Grupo ViridansGrupo Viridans PYR (+) / NaCl 6,5% (+) PYR (+) / NaCl 6,5% (+) PYR (-) / NaCl 6,5% (-) PYR (-) / NaCl 6,5% (-) Grupo D Grupo D Enterococos Enterococos Optoquina (R, <10 mm) Optoquina (R, <10 mm)
Não-Hemolítico
Bile Esculina Bile Esculina
Bile Esculina (+)
Bile Esculina (+) Bile Esculina (-)Bile Esculina (-)
PYR / NaCl 6,5% PYR / NaCl 6,5%
Outros Streptococcus não hemolíticos Outros Streptococcus não hemolíticos
PYR (+) / NaCl 6,5% (+)
PYR (+) / NaCl 6,5% (+) PYR (-) / NaCl 6,5% (-)PYR (-) / NaCl 6,5% (-)
Grupo D Grupo D Enterococos