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ANÁLISE SISTÊMICA: UMA FERRAMENTA PARA ESTUDOS AMBIENTAIS

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Academic year: 2021

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ANÁLISE SISTÊMICA: UMA FERRAMENTA PARA ESTUDOS

AMBIENTAIS

Rafael Campos Vieira1

Décio Cotrin2

Heitor Kirsch3

Grupo de Pesquisa: Agricultura, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

Resumo

Este ensaio é um esforço de revisão teórica no sentido de ampliar a compreensão das vantagens do uso do enfoque sistêmico na análise da relação entre Sociedade e Natureza. Tendo como base às obras dos autores Ludwig Von Bertalanffy, Edgar Morin, Fritjof Capra, Humberto Maturana Romesín & Francisco J. Varela García e Jalcione Almeida buscou-se o entendimento de como estes vêem a análise sistêmica enquanto um qualificador do entendimento da relação do Homem com a Natureza para os estudos em diversas áreas da ciência.

Palavras-chaves: análise sistêmica, questão ambiental

Abstract

This assay is an effort of theoretical revision in the direction to extend the understanding of the advantages of the use of the sistêmico approach in the analysis of the relation between Society and Nature. Having as base the workmanships of the authors Ludwig Von Bertalanffy, Edgar Morin, Fritjof Capra, Humberto Maturana Romesín & Francisco J. Varela García and Jalcione Almeida searched the agreement of as these see the sistêmica analysis while a qualifier of the agreement of the relation of the Man with the Nature for the studies in diverse areas of science.

Key Words: sistêmica analysis, ambient question

1 Licenciado em Geografia, Mestrando em Desenvolvimento Rural ( UFRGS) , Bolsista Capes. 2 Agrônomo, EMATER/RS,Mestrando em Desenvolvimento Rural ( UFRGS).

3 Sociólogo, Docente Universidade Estadual do Mato Grosso- Campus Ponto de Lacerda ,Mestrando em

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INTRODUÇÃO

A análise sistêmica é uma proposta de compreensão da realidade objetiva que tem por objetivo transcender as fronteiras disciplinares e conceituais da teoria cartesiana e reducionista. Morin (2005) acredita que um estado de inter-relação e interdependência é essencial em todos os fenômenos, desta forma, a análise sistêmica se apresenta como um novo paradigma.

A abordagem escolhida para o desenvolvimento deste trabalho se constittui em resgatar autores que estudaram a base conceitual da análise sistêmica como: Ludwig Von Bertalanffy, Edgar Morin, Fritjof Capra, Humberto Maturana Romesín & Francisco J. Varela García e Jalcione Almeida

A obra de Bertalanffy (1973) é apresentada na forma de proposta de uma "Teoria Geral dos Sistemas" cujos princípios gerais se caracterizam por serem aplicáveis aos sistemas em geral, quer sejam eles de natureza física, biológica, ou sociológica. A teoria se constitui em uma ferramenta útil capaz de fornecer modelos a serem utilizados em diferentes campos e transferidos de uns para outros, salvaguardando ao mesmo tempo o perigo das analogias vagas, que muitas vezes prejudicam o avanço nesses campos.

Morin (2005) , propõe uma formulação que o universo não é fundado em uma unidade indivisível, mas em um sistema complexo. Todos os objetos chaves constituem sistemas, nosso mundo organizado é um arquipélago de sistemas. O ser humano faz parte de um sistema social, que está no seio de um ecossistema natural, que está dentro de um sistema solar, que está inserido no sistema galáctico. Num outro sentido, ele é constituído de sistemas celulares, que são constituídos de sistemas moleculares, que são constituídos de sistemas atômicos. Outro conceito importante do autor é que, organização e sistema estão ligados pelas suas inter-relações.

Na obra de Capra (1982) é proposto o principio da homeostase, onde os organismos vivos possuem um estado de não-equilibrio, estando sempre em uma espécie de continua atividade. Há nestes organismos uma tendência à busca de uma estabilidade, fenômeno este denominado de homeostase, caracterizado por um equilíbrio dinâmico, transacional, em que existe grande flexibilidade relativa ao seu estado original.

Os autores Maturana & Varela (1997) elaboram a noção da autopoiese, como forma de organização do ser vivo, diferenciando-os dos demais sistemas, e se auto-explica ao ser compreendida como um operar circular e fechada de produção de componentes que produzem a própria rede de relações de componentes que a geram.

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A obra de Almeida (2003) foi incorporada ao trabalho no intuito de promover o debate sobre o uso do enfoque sistêmico na análise dos problemas ambientais. O autor é enfático em criticar trabalhos que tem recorte reducionista, mas se revestem do manto de holístico e sistêmico para ampliar sua aceitação. Acredita que a teoria sistêmica se constitui num avanço nos estudos sobre problemas ambientais, porém carece de maior esforço de todos na operacionalização destes conceitos.

UMA CONTEXTUALIZAÇÃO NECESSÁRIA...

A sociedade moderna tem como uma de suas características à visão do mundo

fortemente apoiada no enfoque analítico, que surge como uma oposição à visão

característica na Idade Média de um universo orgânico, vivo e espiritual;

estabelecendo-se como pensamento hegemônico a partir do século XVII, e se

consolidando efetivamente com René Descartes (1596-1650).

As principais características do método proposto por Descartes, poderiam ser resumidas em quatro princípios sendo: a) Evidência: que consistia em aceitar por verdadeiro somente aquilo que pode ser comprovado e testado objetivamente; b)Redução: a necessidade em dividir o objeto em partes mais simples para o estudo; c) Causalidade: estudar um problema a partir de sua parte mais fácil de solução; d) Exaustão: possibilidade de estudo exaustiva dos desdobramentos de um problema.

Neste sentido na abordagem analítica supõe-se que um objeto complexo permite ser decomposto em elementos isoláveis entre si, o que remete a uma disciplinaridade e linearidade crescente nas ciências e cuja validação ocorre pela prova experimental. Há, portanto, o estabelecimento de uma independência entre meios e os resultados, que se constituem como o que de fato interessa.

A superioridade do especialista no processo de transmissão do conhecimento e na solução de problemas, bem como a priorização dos aspectos quantitativos e modelos fundamentados nas ciências matemáticas, remetem há uma posição em que o conhecimento é tratado como a descoberta do que já existe a priori, ou seja, há a busca pelo conhecimento de “leis eternas e universais”, que tornam o comportamento previsível, objetivo, leis que sejam aplicáveis universalmente, passíveis de verificação a qualquer momento e lugar.

Na medida em que naturalizamos o processo de fragmentação da realidade e passamos a atribuir uma causalidade aos fenômenos à nossa compreensão do mundo, passamos a dificultar o tratamento de problemas em dimensões globais, dificuldade esta que manifesta na tentativa de estabelecer interconexão dos problemas globais, tanto nos níveis maiores da sociedade como no nível do indivíduo.

Como decorrência, há um efeito desumanizaste e individualizador, em que o homem passa a se outorgar como “dono e possuidor” da natureza e que está a seu dispor.

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AUTORES CONSULTADOS E PRINCIPAIS IDÉIAS ABORDADAS Ludwig Von Bertalanffy

Os conceitos centrais da abordagem analítica começam a ser pontualmente questionamentos quando a sua validade e capacidade explicativa ao final do século XIX, entretanto uma formulação alternativa a ela toma forma conceitual somente na metade do século XX com o biólogo austríaco Ludwig Von Bertalanffy. Os seus trabalhos iniciais datam dos anos 1920 e tem como foco a abordagem orgânica. Com efeito, não concordava com a visão cartesiana do universo.

O autor criticou a visão da crescente divisão das ciências em diferentes áreas de conhecimento cada vez mais específica, como na física, química, biologia, psicologia, etc, na medida em que os princípios e conclusões de algumas ciências tem validade para outras, propondo que se devesse estudar os fenômenos globalmente, de maneira que se pudesse considerar na análise todas as possíveis interdependências de cada parte com o todo, pois cada um dos elementos, ao serem reunidos para constituir uma unidade funcional maior, desenvolve qualidades que não podem ser encontradas e percebidas em seus componentes isoladamente.

A “Teoria Geral dos Sistemas” de Bertalanffy não busca soluções práticas, mas somente teorias conceituais que possam criar condições de aplicação na realidade empírica.

Segundo o autor, quanto a sua natureza, os sistemas podem ser percebidos distintamente como fechados, que são os considerados como estando relativamente isolados de seu ambiente, notadamente os ligados a maquinarias e cujo estado final é determinado pelas suas condições iniciais; enquanto num segundo tipo, os abertos, são caracterizados por um contínuo fluxo de entrada e de saída de energia, matéria e informações, portanto num processo de intercâmbio infinito com o ambiente e diferentemente dos sistemas fechados, seu estado final pode ser atingido por condições iniciais e de maneiras distintas, sendo que os sistemas vivos, são uma de suas referências.

A comunicação e a organização dos/nos sistemas são conceitos igualmente centrais na proposição teórica de Bertalanffy e na compreensão do que denominou de complexidade organizada.

Na medida em que poderíamos sintetizar sua formulação de sistema como sendo um conjunto de elementos interligados para formar um todo e que possui propriedades e características próprias, que não são encontradas em nenhum dos elementos tomados isoladamente, assim, formando um conjunto de objetos unidos por alguma forma de interação ou interdependência e cujas unidades são reciprocamente organizadas e relacionadas, há a necessidade um princípio organizativo e comunicação em todos os sistemas.

Para o autor, sistemas existem dentro de sistemas e cujas funções dependem essencialmente de sua estrutura, cuja constituição pode ser distinguida entre os de ordem físicos ou concretos como objetos ou ainda os abstratos ou conceituais como conceitos, planos e idéias.

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Edgar Morin

O autor é um crítico da ciência reducionista, pois ela nos tirou a idéia sistêmica da vida. Cita, por exemplo, que a química isolou os elementos constituintes do objeto e desta forma criou a idéia de que o átomo é formado de partes indivisíveis e suas composições formam toda a matéria.

Esta visão reducionista foi abalada pela descoberta de que o átomo não é mais uma unidade primária e indivisível, mas na verdade ele é um sistema constituído de partículas em interação mútua. O átomo é considerado um campo de interações especificas e para defini-lo é preciso apelar para as interações que ele participa e para as interações que tecem a organização deste átomo. Desta forma, o universo é fundado não em uma unidade indivisível, mas em um sistema complexo.

A partir da idéia de sistema complexo pode-se dizer que todos os objetos e elementos que constituem a realidade objetiva constituem sistemas. Nosso mundo organizado é um arquipélago de sistema no oceano de desordem. O ser humano faz parte de um sistema social, no seio de um ecossistema natural, que esta dentro de um sistema solar, que esta no sistema galáctico. Da mesma forma, o ser humano é constituído de sistemas celulares, que são constituídos de sistemas moleculares, que são constituídos de sistemas atômicos.

Morin, considera a Natureza como sendo a solidariedade de sistemas embaralhados edificando-se uns sobre os outros. A Natureza são os sistemas de sistemas em série, em galhos, em pólipos, em cascata, em arquipélagos. A vida é um sistema de sistemas.

Um conceito que o autor reforça é o de organização. Considera como sendo o encadeamento de relações entre componentes ou indivíduos que produz uma unidade complexa. A organização transforma, produz, religa e mantém.

Os conceitos organização e sistema estão ligados pelas inter-relações, desta forma toda inter-relação produz caráter organizacional e produz um sistema. Os três termos são inseparáveis, porém a idéia de inter-ralação remete a forma da ligação entre indivíduos e o todo; a idéia de sistema remete a unidade complexa da inter-relação; e a idéia de organização remete a disposição das partes dentro do todo.

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Fritjof Capra

O autor propõe o enfoque sistêmico como um novo paradigma onde a visão transcenda as fronteiras disciplinares e conceituais, típicas do mecanicismo de Isaac Newton, criando uma consciência do estado de inter-relação e interdependência essencial em todos fenômenos físicos, químicos, biológicos, sociais e culturais. Sugere que pensemos em uma “biologia de sistemas” encarando os organismos não como máquinas, mas como um sistema vivo.

A concepção sistêmica, através deste autor, compreende o mundo em termos de relações e de integração. Os sistemas são integrados. A atividade dos sistemas envolve um processo de “transação” como sendo a interação simultânea e mutuamente interdependente entre múltiplos componentes.

Na teoria geral dos sistemas de Bertalanffy (1973) é enfatizada muito mais a relação do que as entidades isoladas. O pensamento sistêmico é o pensamento no processo, a forma torna-se associada ao processo, e os opostos são unificados através da oscilação.

O autor salienta que os “reducionismos” são importantes no entendimento de alguns casos, mas são perigosos como explicação completa. Desta forma, o reducionismo e holísmo são enfoques complementares.

Através do enfoque cartesiano, a interpretação do mundo fica associada a uma analogia que remete a de funcionamento mecânico, cujo modelo exposto por uma máquina, como um relógio, por exemplo, onde a estrutura é determinante, existe um número definido de peças e o funcionamento é determinado por uma cadeia linear de causa-efeito.

No enfoque sistêmico o mundo é visto como constituído por organismos vivos, nos quais suas estruturas orgânicas determinam o processo, onde existe um grau de flexibilidade e plasticidade internas, e são guiados por modelos cíclicos e muitas vezes variáveis.

Desta forma, o autor propõe o princípio da auto-regulação nos organismos vivos, onde a plasticidade e a flexibilidade internas são controladas por relações dinâmicas, e geram propriedades características como a “auto-renovação”, que é a capacidade de renovar e reciclar, e a “auto transcendência”, que a capacidade de dirigir-se para além das fronteiras físicas do aprendizado.

Os organismos vivos dentro do processo de metabolismo possuem um estado de não-equilíbrio, de estar sempre “em atividade”. Os organismos tendem a estar em estabilidade, porém uma estabilidade dinâmica. Desta forma, o conceito de homeostase proposto por Capra é de um equilíbrio dinâmico e transacional, em que existe grande flexibilidade.

Os sistemas organismos são capazes de três tipos de adaptações ao meio ambiente, sendo elas: A mudança ambiental que ocorre em um processo de pequena variação ambiental; a mudança fisiológica que ocorre para restabelecer flexibilidade; e a mudança somática como sendo a mais profunda e duradoura.

O autor sugere que teoria sistêmica é centrada na dinâmica da auto transcendência. Como exemplo, se imaginarmos que em um dado momento um sistema estiver em homeostase, quando ocorrer uma perturbação haverá a tendência da manutenção da estabilidade por mecanismo de realimentação, porém, se a perturbação for forte, acima da

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capacidade de resiliência do sistema, este buscará um novo patamar de estabilidade, uma estrutura nova, outra homeostase será alcançada.

O meio ambiente é em si, para o autor, um sistema vivo capaz de adaptação e evolução. Ele propõe um foco na co-evolução entre organismo e meio ambiente. O reforço interno as flutuações e o modo como o sistema atinge o ponto crítico ocorrem aleatoriamente e sua decisão para a trajetória é aleatória. Desta forma, a evolução não é linear, mas aberta e indeterminada.

Humberto Maturana Romesín & Francisco J. Varela García

Maturana&Varela suscitam uma reflexão inicial sobre o que há de comum em todos os sistemas vivos que permite identificá-los como tal, e, portanto, como distintos dos demais sistemas, num sentido mais amplo, seu questionamento consiste na tentativa de perceber características visando responder ao questionamento: “De que é afinal de contas

um sseerr vviivvoo?”

Sua formulação teórica apontando para necessidade na compreensão de que os seres vivos têm uma condição de entes separados, autônomos, que existem como unidades independentes, que se auto-reproduzem e auto-renovam, e que assim, são portadores de uma autonomia enquanto sistema.

A dinâmica destes sistemas, independentemente de sua natureza, quer seja ela interna ou relacional, tem como peculiaridade de se referirem como unicamente a eles mesmos, na realização de si mesmos, ou seja, operam como sistemas auto-referidos, onde tudo o que lhes acontece tem lugar neles mesmos.

Assim, a existência de um ser vivo se processa em duas dimensões, quais sejam, no seu operar como totalidade em seu espaço de interações como a totalidade, e no seu operar de seus componentes em sua composição, sem fazer referência à totalidade que constituem, que é o espaço onde se constitui, de fato, o ser vivo como sistema vivente.

O estabelecimento da distinção entre o que identificou como sistemas auto-referidos, que consistem em sistemas nos quais seu operar somente faz sentido em relação a si mesmos, e sistemas alo-referidos, que se caracterizam como sendo os que fazem sentido somente em relação a um produto ou algo distinto deles, tais como os elaborados pelos seres humanos, remetem a noção de que os seres vivos passam a serem entendidos, como entes autônomos e auto-referidos, onde os primordiais não são as propriedades dos componentes destes tomados individualmente, mas os processos e as relações que se estabelecem entre os realizados através de seus componentes.

A idéia central destes autores sugere a introdução do conceito de autopoiese como uma forma de organização sistêmica, onde estes produzem e substituem seus próprios componentes, numa contínua articulação com o meio, não somente estabelecendo, mas também mantendo uma fronteira que, simultaneamente, os separa e conectam com o meio ambiente, entendidos assim como sistemas fechados.

Os seres vivos são, a partir deste entendimento, sistema autopoiéticos moleculares, cuja classificação foi estruturada em sistemas em três ordens gerais: sendo as células compõe os de primeira, e que existem, portanto, diretamente como sistemas autopoiéticos moleculares; os organismos, enquanto agregados moleculares, constituídos assim como de segunda ordem; e finalmente os de terceira, onde se incluem a família ou um sistema social,

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enquanto um agregado de organismos. Portanto, sua base de análise se dá a partir do sistema celular, já que este é o sistema autopoiético elementar dos seres vivos.

Assim os seres vivos realizam-se enquanto sistemas autopoiéticos moleculares distintos, cuja dinâmica molecular da autopoiese ocorre, como fenômeno espontâneo, onde os processos moleculares acontecem numa determinação estrutural local sem nenhuma referência a totalidade que constituem, ou seja, a existência dos seres vivos se dá no âmbito da dinâmica corporal e na dinâmica das relações com o meio que se inter-relacionam mutuamente. Os seres humanos são uma exemplificação de sistemas autopoiéticos, na medida em que se reproduzem numa co-evolução contínua com o meio, assim as pessoas respondem às mudanças do ambiente e este responde à intervenção humana.

Jalcione Almeida

O autor, em sua obra, faz suas reflexões sobre o enfoque sistêmico, a partir do uso deste referencial de maneira que ele considera pouco crítica e de sua capacidade explicativa da complexidade do real. Segundo ele, partindo de uma reflexão sociológica do uso desta análise e método nas ciências sociais e na agronomia, não é incomum o seu resultado configurar como simplificador e redutor da realidade social pelo fato de engessá-la.

De acordo com Almeida, o uso desta abordagem surge, como os demais autores abordados neste trabalho, como oposição principalmente às abordagens de cortes analíticos cartesianos, no entanto, aliando-se aos “saberes populares” possuindo no Brasil como marcas mais características: Pretender se afirmar como um paradigma científico; Valorização do saber empírico ou teórico. Vincula-se fortemente à intervenção e à ação, contrapondo-se à pesquisa acadêmica clássica.

Nas concepções do autor o uso desta abordagem nas Ciências Sociais e Agronomia tende a conduzir os trabalhos a acepções de pouco rigor do ponto de vista teórico metodológico e cientifico. Assim, o fenômeno do movimento sistêmico tem colaborado para a criação de uma metáfora sistêmica, auto-explicativa e pretensamente portadora da chave para a compreensão do que os usuários julgam mais adequados da complexidade do real.

Outra questão abordada refere-se ao fato de que são muito comuns análises baseadas em no máximo duas disciplinas, no caso apontado pelo ator à economia e a agronomia, que visam determinar ou explicar o social por meio de instrumentos quantitativos como por exemplo modelos e simuladores para a tomada de decisão.

Percebe-se assim, a influência de reflexos estruturais funcionalistas na busca de descobrir a coerência dos sistemas, confirmando uma tendência reducionista revestida de sistêmica. Tal fato pode ser observado no momento em que aspectos de caráter não técnicos, como a forma de ocupação do espaço e a heterogeneidade social não são levadas em conta, dando ao técnico produtivo uma importância que isoladamente ele não possui.

No tocante ao confronto com o saber científico, o uso de tal abordagem contribuiu para o surgimento do fenômeno intitulado de populismo científico. Tal fenômeno relacionou-se intimamente com o advento dos movimentos de valorização do alternativo, que possuía como predicados negativos uma tendência à idealização da figura do agricultor.

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Para o autor, a abordagem sistêmica deve direcionar os agentes que a usam, no sentido de se construir novos saberes, a partir de um viés multidisciplinar como forma de se sair daquela proposta reducionista, que o discurso da análise sistêmica às vezes encobre, decorrendo em inúmeras vezes, numa apreensão compartimentada da realidade.

Almeida afirma, que não obstante as suas críticas à forma como o método tem sido utilizado, reconhece as virtudes deste método e propõe metas que devem ser alcançadas no aprimoramento do uso desta abordagem, dentre as quais pode-se apontar: a) Ampliação do foco de análise para além do sistema de produção, direcionando-se aqui para o uso na Agronomia; b) Considerar a exigência multidisciplinar da investigação e da reflexão sobre o tema tratado; c)Despir-se do pensamento de que a realidade social é um sistema que determina e é determinado por dinâmicas mais ou menos conhecidas e esperadas, portanto, determinada.

CONCLUSÃO:

O que se buscou identificar como eixo central na abordagem teórica dos pensadores da análise sistêmica é o “problema fundamental do valor da ciência em geral e particularmente das ciências sociais e do comportamento” (Bertalanffy, 1973, p. 79), na medida em que “as realizações da física são usadas para uma destruição cada vez mais eficiente”. (Bertalanffy, 1973, p.79).

A abordagem analítica cada vez mais se apresenta limitada para o entendimento de uma realidade, que por sua vez, se configura continuamente mais complexa e imprevisível.

O ser humano, continuamente sendo colocado como desvinculado em sua relação frente à Natureza, em que cada vez mais é limitado no entendimento da sua interdependência com esta, acaba por colocar a sua própria sobrevivência como ente em risco.

Esse texto busca incitar a compreensão de como a analise sistêmica contribui para pensarmos a relação sociedade natureza.

O estudo das relações que se estabelecem entre sociedade, desenvolvimento e meio ambiente, tem merecido atenção especial, na medida em que o paradigma da confiança no progresso técnico e na racionalidade científica enquanto elementos suficientes para a explicação e superação das problemáticas, inclusive as sociais, começam a esvaecer.

Estes princípios demonstraram sua utilidade para propor soluções das dificuldades encontradas numa sociedade distinta da contemporânea, na medida em que seu foco estava essencialmente voltado a reduzir os fenômenos ou objetos complexos, em simplificados.

Não se pode ignorar que a ciência moderna mudou a concepção e a relação que o homem estabelecia com a natureza, na busca de formular leis universais, simples e imutáveis que dessem conta de explicar fenômenos naturais.

Num contexto de sociedade que paulatinamente avança no sentido de um mundo cada vez mais globalizado, o que se percebe é uma necessidade crescente na consideração das inter-relações e interdependências nos diversos setores e áreas.

Assim, o princípio de complexidade atual, se contrapõe a um reducionismo

praticado de forma generalizada pelas ciências , cada vez mais especificas e especializadas, projetando uma posição de separação na relação homem e natureza.

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A incorporação do princípio da interdisciplinaridade passa, desta forma, a ser uma noção importante na abordagem das relações que se estabelecem entre desenvolvimento e meio ambiente no interior da sociedade.

A identificação e constituição de um campo de pesquisa comum remetem a possibilidade de delimitação de questões que poderão balizar uma investigação interdisciplinar.

Assim, os princípios de uma abordagem sistêmica, a complexidade na compreensão do mundo e a perspectiva interdisciplinar, servirão de idéias basilares no estudo da relação entre processo de degradação ambiental.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, J. O enfoque sistêmico e a interpretação dos processos sociais rurais: uso "redutores" de um pretenso paradigma "holístico". Revista REDES, Santa Cruz do Sul (RS): v. 8, n. 1,jan.-abr. 2003.

BERTALANFFY, L. V. O significado da teoria geral dos sistemas. In: Teoria Geral dos

Sistemas. Petrópolis (RJ): Vozes, 1973. p. 52-81.

CAPRA, F. A concepção sistêmica da vida. In: O ponto de mutação. São Paulo: Editora Cultrix, 1982. p. 259-98.

MATURANA ROMESÍN, Humberto; VARELA GARCÍA, Francisco J.. Prefácio: Vinte anos depois. In: De máquina e seres vivos: Autopoiese – a organização do vivo. 3. ed., Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. p. 9-34.

_________. Introdução. In: De máquina e seres vivos: Autopoiese – a organização do vivo. 3. ed., Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. p. 65-8.

_________. De máquinas viventes e das outras. In: De máquina e seres vivos: Autopoiese – a organização do vivo. 3. ed., Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. p. 69-76.

MORIN, Edgar. A organização (do objeto ao sistema). In: O método 1: a natureza da natureza. 2. ed. Porto Alegre: Sulina, 2005. p. 122-34.

Referências

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