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A responsabilidade pelo descarte de medicamentos a luz da Política Nacional de Resíduos Sólidos

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A responsabilidade pelo descarte de medicamentos a luz da

Política Nacional de Resíduos Sólidos

Amanda Leão dos Santos 1 Daniela Buosi Rohlfs 2

1

Farmacêutica pela Universidade Federal de Minas Gerais, Especialização em Vigilância Sanitária pela Universidade Católica de Goiás/IFAR.

E-mail: amandaleaofafar@gmail.com 2

Engenheira Florestal pela Universidade de Brasília; Mestre em Ciências Ambientais pela Universidade de Brasília; Especialista em Gestão Integrada das Águas- Saneamento Ambiental pela Universidade das Águas da Itália; Especialista em Saúde e Poluição Atmosférica pela Universidade de São Paulo. Professora de especialização em Biociências Forenses IFAR/PUC-GO.

E-mail: daniela.buosi@gmail.com

RESUMO

Os medicamentos são produtos farmacêuticos tecnicamente obtidos ou elaborados com finalidade profilática, curativa, paliativa ou para fins de diagnósticos. Entretanto, se não forem descartados de maneira adequada apresentam riscos potenciais ao meio ambiente e à saúde pública. O correto manuseio desses resíduos de medicamentos, no Brasil, é normatizado pelo Ministério da Saúde e Ministério do Meio Ambiente que devem fornecer instrumentos para que os autores envolvidos em atividades que geram resíduos dessa natureza possam dar-lhes a disposição final adequada. O propósito do presente trabalho foi levantar e avaliar as responsabilidades de cada ator na destinação final dos resíduos de medicamentos no Brasil.

Palavras-chave: medicamentos. resíduos. descarte. meio ambiente.

ABSTRACT

The drugs are pharmaceutical products technically obtained or prepared with prophylactic, curative, palliative or diagnostic purposes, however if they are not discarded adequately have potential risks to the environment and public health. The correct handling of waste medicines in Brazil is regulated by the Ministry of Health and Ministry of the Environment that should provide tools for authors involved in activities that generate waste that nature can give them the final disposal. The purpose of this study was to survey and assess the responsibilities of each actor in the disposal of waste medicines in Brazil.

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1 INTRODUÇÃO

Conforme dispõe a Lei nº 5.991 de 17 de dezembro de 1973, os medicamentos são produtos farmacêuticos tecnicamente obtidos ou elaborados com finalidade profilática, curativa, paliativa ou para fins de diagnósticos (BRASIL, 1973). Frisa-se que eles, atualmente, se destacam nas práticas profissionais e culturais relacionadas à promoção ou à recuperação da saúde (MELO; TEIXEIRA; MÂNICA, 2007).

Nas últimas décadas, a sociedade moderna vem se destacando pelo consumo exacerbado, seja em virtude do crescimento populacional, ou dos avanços da ciência e/ou da expansão da indústria (RODRIGUES, 2009). Esse consumismo faz com que a nossa civilização chegue, ao limiar do século XXI, como a civilização dos resíduos, marcada pelo desperdício e pelas contradições de um desenvolvimento industrial e tecnológico sem precedentes na história da humanidade (FERREIRA, 1995).

O desperdício de medicamentos tem várias causas, dentre as quais se destacam: a dispensação de medicamentos além da quantidade exata para o tratamento do paciente, a interrupção ou mudança de tratamento, a distribuição aleatória de amostras-grátis; e o gerenciamento inadequado de estoques de medicamentos por parte das empresas e dos estabelecimentos de saúde (ANVISA, 2012).

As causas do excedente de medicamentos merecem ser tratadas com a devida atenção, uma vez que, esses não terão outro destino senão o descarte. A destinação final dos medicamentos é tema relevante na saúde pública devido às diferentes propriedades farmacológicas dos medicamentos, que, inevitavelmente, se tornarão resíduos e não poderão mais ser utilizados (FALQUETO; KLIGERMAN; ASSUMPÇÃO, 2006). Soma-se a isso o fato dos resíduos de medicamentos pertencerem à classe I (perigosos), segundo a norma NBR 10004 da ABNT, apresentando riscos potenciais ao meio ambiente e à saúde pública. Dessa forma, eles demandam segregação, tratamento, transporte e disposição final correta (FALQUETO; KLIGERMAN; ASSUMPÇÃO, 2006).

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É preciso ressaltar que, no Brasil, o descarte de medicamentos em desuso, vencidos ou sobras é feito por grande parte da população em lixo comum ou em rede pública de esgoto. Atitudes essas que geram a agressão ao meio ambiente, a contaminação da água, do solo e de animais, além do risco à saúde de pessoas que possam reutilizá-los por acidente ou mesmo, intencionalmente, devido a fatores sociais ou circunstanciais diversos (ANVISA, 2012).

O Ministério da Saúde e o Ministério do Meio Ambiente, órgãos responsáveis pela normatização do descarte de medicamentos, no Brasil, devem fornecer instrumentos para que os autores envolvidos em atividades que geram resíduos dessa natureza possam dar-lhes a disposição final adequada. Todavia, até o presente momento, os processos de tratamento e de disposição final dos resíduos não são claramente definidos e verifica-se ainda uma ausência de orientação técnico-científica consolidada na legislação brasileira (FALQUETO; KLIGERMAN; ASSUMPÇÃO, 2006).

Esse cenário tende-se a modificar devido à Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS, Lei n° 12.305/2010 e seu Decreto nº 7.404/2010, que reúnem o conjunto de princípios, objetivos, instrumentos, diretrizes, metas e ações adotadas pelo Governo Federal, isoladamente ou em regime de cooperação com Estados, Distrito Federal, Municípios ou particulares, com vistas à gestão integrada e ao gerenciamento ambientalmente adequado dos resíduos sólidos.

É sabido que a implantação de um programa dessa natureza com abrangência nacional, sobretudo considerando a base territorial do Brasil, não é tarefa fácil. Mas, é possível identificar alguns pontos cruciais necessários a um melhor resultado. Um desses, por exemplo, é a exigida mudança de atitudes no que tange todos os envolvidos no processo de descarte de medicamentos. Isso trará resultados a médio e a longo prazo e irá requerer divulgação das metas estipuladas dentro das várias fases do programa e reavaliação contínua dos resultados obtidos e metas estipuladas (JARDIM, 1998).

Portanto, é importante que os autores envolvidos, direta ou indiretamente, na geração de resíduos de medicamentos se empenhem para implantação e implementação efetiva da Política Nacional de Resíduos Sólidos a fim de proteger a saúde da população e, principalmente, de manter o meio ambiente equilibrado para gerações futuras.

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O propósito do presente trabalho foi levantar e avaliar as responsabilidades de cada autor na destinação final dos resíduos de medicamentos no Brasil. A partir do estudo da legislação brasileira fez-se inferências sobre as dificuldades e avanços encontrados para o descarte ambientalmente adequado dos medicamentos, a fim de proteger a saúde da população e o meio ambiente.

2 METODOLOGIA DA PESQUISA

Para a construção desse trabalho de revisão bibliográfica, foram selecionadas legislações, teses, monografias, artigos e publicações relacionadas ao “descarte de medicamentos”. O termo destacado foi utilizado como o principal descritor de busca.

No caso das legislações, a principal fonte de pesquisa foi o site da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e do Ministério do Meio Ambiente. Também, foi utilizado como instrumentos de pesquisa a base de dados da área da Saúde Bireme, Pubmed, Scileo, além de pesquisas em sítios eletrônicos de órgãos governamentais e de universidade. Os artigos científicos, teses e monografias foram, preferencialmente, os publicados entre 2000 e 2012.

3 DISCUSSÃO

3.1 Proteção ao meio ambiente: responsabilidade de todos

O meio ambiente é um direito indisponível e sua defesa e preservação é dever de todos, por imposição legal.

A Constituição da República do Brasil, promulgada em 1988, destina um capítulo próprio ao meio ambiente. O art. 225 determina que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial

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à qualidade de vida, impondo ao poder público e a coletividade o dever de defendê-lo e preservá-defendê-lo para as presentes e futuras gerações.

Ainda no ordenamento jurídico brasileiro, existem diversas normatizações que ratificam o dever de todos protegerem o meio ambiente e, consequentemente, à saúde da população. Como exemplo, tem-se: a Lei 8080, de 19 de setembro de 1990, em seu artigo 6º, inciso V – define como campo de atuação do Sistema Único de Saúde a colaboração na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho. Também, a Lei nº 6.938/81, explicitou a Política Nacional de Meio Ambiente e criou o Sistema Nacional de Meio Ambiente.

Até o presente momento, nota-se, entretanto, o não cumprimento das exigências dessas regulamentações.

Pesquisas realizadas têm apontado a presença de fármacos residuais nas águas

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causadores de efeitos adverso na saúde, seja humana ou de outros animais, como os peixes (BILA; DEZOTTI, 2003). O pesquisador Stumpf et al (1999), em 1997, detectou a presença de antilipêmicos, anti-inflamatórios e alguns metabólicos em esgoto, em efluente de estação de tratamento, em águas de rios no estado do Rio de Janeiro.

Isso se deve a falta de definição dos processos de tratamento e de disposição final dos resíduos e, também, ausência de orientação técnico-científica consolidada na legislação brasileira (FALQUETO; KLIGERMAN; ASSUMPÇÃO, 2006).

A PNRS reúne, no Art 6º, princípios e objetivos como: o desenvolvimento sustentável; a cooperação entre as diferentes esferas do poder público, o setor empresarial e demais segmentos da sociedade; a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos; proteção da saúde pública e da qualidade ambiental; não geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento dos resíduos sólidos, bem como disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos; estímulo à adoção de padrões sustentáveis de produção e consumo de bens e serviços; articulação entre as diferentes esferas do poder público, e destas com o setor empresarial, com vistas à cooperação técnica e financeira para a gestão integrada de resíduos sólidos. Esse conjunto de princípios e objetivos ratifica a ideia de que todos, de acordo com a sua competência e seu enfoque, devem contribuir para proteção do meio ambiente.

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3.2 As responsabilidades dos atores na destinação final dos resíduos de medicamentos no Brasil.

3.2.1 Órgãos responsáveis pela regulamentação

O correto descarte dos resíduos de medicamentos, no Brasil, é normatizado pelo Ministério da Saúde e pelo Ministério do Meio Ambiente. Ambos devem fornecer instrumentos para que os autores envolvidos em atividades que geram resíduos dessa natureza possam dar-lhes a disposição final adequada (FALQUETO; KLIGERMAN; ASSUMPÇÃO, 2006).

O Ministério da Saúde, por meio da Lei 9782, de 26 de janeiro de 1999, criou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). É uma agência reguladora que tem por finalidade promover a proteção da saúde da população, por intermédio do controle sanitário da produção e da comercialização de produtos e serviços submetidos à vigilância sanitária, inclusive dos ambientes, ou seja, a ANVISA tem, também, por obrigação colaborar na proteção do meio ambiente (ANVISA). Para o cumprimento desta competência expressa em lei , a agência normatiza, controla e fiscaliza o gerenciamento de resíduos de todos os atores envolvidos na produção de resíduos de medicamentos: fabricantes, distribuidores, farmácias, drogarias, hospitais.

O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) foi criado pela lei 6.938/1981 que institui a Política Nacional do Meio Ambiente. Mas, a política Nacional do Meio Ambiente apenas foi estruturada em 1992, quando a secretaria Especial do Meio Ambiente foi transformada em Ministério do Meio Ambiente, que passou a ter atribuições ligadas a política de recursos hídricos, de preservação, conservação e utilização sustentável de ecossistemas e biodiversidade (FALQUETO et al, 2006). Logo, esses organismos governamentais são responsáveis, de acordo com a sua competência e enfoque, pelo fornecimento de instrumentos legais a fim de garantir a proteção do meio ambiente, um desenvolvimento sustentável.

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3.2.2 Da legislação específica aplicável ao descarte de medicamentos

Na tabela 1, será mostrada a compilação de normatizações, em vigor, elaboradas por esses órgãos sobre a destinação dos resíduos.

Regulamentação Assunto Data

Lei nº 12.305 Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos. 2 de agosto de 2010 Resolução CONAMA nº 358 Dispõe sobre o tratamento e a disposição final dos resíduos dos serviços de

saúde e dá outras providências. 29 de abril de 2005 Decreto nº 7.404 Regulamenta a Lei nº 12.305/2010. . 23 de dezembro de 2010 RDC nº 306 Regulamento Técnico para gerenciamento de resíduos de serviços de saúde. 7 de dezembro de 2004 Lei 11445 Estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico; altera as Leis nos 6.766,

de 19 de dezembro de 1979, 8.036, de 11 de maio de 1990, 8.666, de 21 de junho de 1993, 8.987, de 13 de fevereiro de 1995; 5 de janeiro de 2007 Tabela 1. Normas, em vigor, sobre a destinação de resíduos

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revoga a Lei no 6.528, de 11 de maio de 1978; e dá outras providências. Portaria 344 e Instrução Normativa n°. 6 Regulamento Técnico de substâncias e medicamentos sujeitos a controle especial. 12 de maio 1998 29de janeiro de 1999 RDC nº 17 Boas Práticas de Fabricação de Medicamentos. 16 de abril de 2010 RDC nº 44 Boas Práticas Farmacêuticas para o controle sanitário do funcionamento, da dispensação e da comercialização de produtos e da prestação de serviços farmacêuticos em farmácias e drogarias e dá outras providências. 17 de agosto de 2009

Em virtude dos dados expostos na tabela acima, percebe-se a existência de numerosas normatizações sobre o assunto. Todavia, até o presente momento, os processos de tratamento e de disposição final dos resíduos não são claramente definidos e verifica-se

,

ainda

,

uma ausência de orientação técnico-científica consolidada na legislação brasileira (FALQUETO; KLIGERMAN; ASSUMPÇÃO, 2006). A fim de preencher as lacunas existentes em matéria de regulamentação específica para resíduos sólidos no Brasil e, também, estruturas sistemas de RDC: Resolução da Diretoria Colegiada

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logísticas reversa de cadeias específicas, tais como resíduos de medicamentos, instituiu-se a PNRS.

A PNRS prevê a implantação e operacionalização dos sistemas de logística reversa para a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial no intuito de promover o reaproveitamento no ciclo produtivo ou destinação final ambientalmente adequada. Essa nova política incorpora uma nova forma de regulação e implementação de políticas públicas, consequentemente a Anvisa e o Conama, como já está sendo feito, deverão discutir e articular com os diversos entes da cadeia de medicamentos, entre eles: indústria farmacêutica, drogarias, farmácias, distribuidoras, hospitais, conselhos profissionais da saúde (medicina, farmácia, enfermagem, odontologia, medicina veterinária) (ANVISA).

O Ministério da Saúde com o apoio da Anvisa, constituído por representantes do Poder Público, do setor empresarial da cadeia farmacêutica, das entidades de classe e da sociedade civil, coordena Grupo de Trabalho Temático (GTT) de Medicamentos desde 16 de março de 2011. Este grupo provisório deve finalizar os trabalhos em seis meses, podendo sendo prorrogado para mais seis meses, tem o objetivo de estabelecerr um acordo setorial para a logística reversa de

medicamentos em desuso. (ANVISA).

Cabe destacar que a implementação efetiva da PNRS será uma construção, conjunta e contínua, do poder Público com todos os atores envolvidos na produção de medicamentos. Haja vista, tratar-se de uma nova realidade de regulação implementada no cenário jurídico do Brasil. Essa política demandará, com certeza, um contínuo aperfeiçoamento.

3.2.3 Indústria farmacêutica

Atualmente, segundo dados da ANVISA, existem cerca de 450 indústrias farmacêuticas autorizadas a funcionar no Brasil. Essas são geradoras de uma

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quantidade considerável de resíduos de medicamentos. Isso se deve à devolução e ao recolhimento de medicamentos do mercado; ao descarte de medicamentos rejeitados pelo controle de qualidades e perdas inerentes ao processo. Assim sendo, a administração correta dos resíduos abrange uma atividade paralela a fim de proteger, simultaneamente, o ambiente externo e interno. (FALQUETO; KLIGERMAN; ASSUMPÇÃO, 2006).

Os fabricantes são obrigados a tomar medidas necessárias para a proteção do meio ambiente, de acordo com RDC 17 de abril de 2010 (ANVISA, 2010) que dispõe sobre as Boas Práticas de fabricação. Devem, assim, tratar e destinar adequadamente os resíduos de medicamentos gerados.

Ademais, por realizarem atividades consideradas efetiva ou potencialmente causadoras de significativa degradação do meio ambiente, as indústrias farmacêuticas estão sujeitas, de acordo com a Resolução Conama nº 237, de 19 de dezembro de 1997, ao licenciamento ambiental, de forma que são obrigadas a obter a licença ambiental.

A licença ambiental é uma autorização emitida pelo órgão público competente,o qual estabelece regras, condições, restrições e medidas de controle a serem seguidas pelas indústrias a fim de resguardar o direito coletivo ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e a proteção da saúde.

De acordo com a referida Resolução Conama, licenciamento é procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente licencia a localização, instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental, considerando as disposições legais e regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso.

As indústrias farmacêuticas estão, também, sujeitas a Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998 (BRASIL, 1998), que dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente (Lei de Crimes Ambientais). A falha ou ausência de licenciamento ambiental é crime e pode ocasionar pena de detenção de um a seis meses, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente aos empreendedores, na hipótese de construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer funcionar, em qualquer parte do território nacional, estabelecimentos, obras ou serviços potencialmente poluidores, sem licença ou

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autorização dos órgãos ambientais competentes, ou contrariando as normas legais e regulamentares pertinentes.

Diante do exposto, percebe-se a rigorosa normatização a qual se submete as indústrias farmacêuticas. Dessa forma, elas são os autores envolvidos na produção de resíduos de medicamentos, que devem possuir condições adequadas para o tratamento dos mesmos.

É certo que o tratamento dos resíduos gera custos, entretanto, as indústrias farmacêuticas devem espelhar-se na experiência de empresas de outros ramos que adotaram a logística reversa. Esta proporcionou diversos benefícios às empresas como: compensação em seus custos, minimizou penalidades legais, permitiu a construção de uma imagem corporativa ambientalmente responsável e, consequentemente, aumentou a lucratividade (GUARNIERI, 2005).

Apesar do custo monetário para implantação e manutenção, o tratamento de resíduos deve ser analisado sob a ótica da compensação que tal atitude promove a todo o meio ambiente. Logo, percebe-se serum investimento, visto o retorno, e não um custo.

3.2.3 Drogarias,farmácias, distribuidoras e hospitais

Esses atores estão submetidos às normatizações RDC nº 306, de 7 de dezembro de 2004, (ANVISA, 2004) que dispõe sobre o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde (RSS).

Tal gerenciamento constitui-se em um conjunto de procedimentos de gestão, planejados e implementados a partir de bases científicas e técnicas, normativas e legais, com o objetivo de minimizar a produção de resíduos e proporcionar aos resíduos gerados, um encaminhamento seguro, de forma eficiente, visando à proteção dos trabalhadores, a preservação da saúde pública, dos recursos naturais e do meio ambiente.

Todos os geradores de resíduos de saúde (drogarias, farmácias, distribuidores e hospitais) devem possuir um Plano de Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde - PGRSS, baseado nas características dos resíduos

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gerados, elaborado por um profissional, com registro ativo junto ao seu Conselho de Classe.

Além disso, os estabelecimentos citados devem, também, observar a Resolução Conama nº 358 ,de 29 de abril de 2005, que dispõe sobre o tratamento e a disposição final dos resíduos dos serviços de saúde. Segundo essa legislação, cabe aos geradores de resíduos de medicamentos e ao responsável legal, o gerenciamento dos resíduos desde a geração até a disposição final, de forma a atender aos requisitos ambientais e de saúde pública e saúde ocupacional. Os resíduos devem ser acondicionados atendendo às exigências legais referentes ao meio ambiente, à saúde e à limpeza urbana, e às normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT, ou, na sua ausência, às normas e critérios internacionalmente aceitos.

Percebe-se que, por lei, a segregação dos seus resíduos na fonte e no momento da geração é obrigatória, por parte das drogarias, farmácias, distribuidoras e hospitais.

Então, os mencionados estabelecimentos, por estarem mais próximos ao consumidor, devem ser a porta de entrada para a implantação, operacionalização e divulgação do programa de logística reversa previsto na PNRS.

3.2.4 Cidadãos

Como já destacado, a sociedade moderna vem se destacando pelo consumo exacerbado, seja em virtude do crescimento populacional, ou dos avanços da ciência e/ou da expansão da indústria (RODRIGUES, 2009). Este consumismo faz com que a nossa civilização chegue, ao limiar do século XXI, como a civilização dos resíduos, marcada pelo desperdício e pelas contradições de um desenvolvimento industrial e tecnológico sem precedentes na história da humanidade (FERREIRA, 1995).

A população consome indiscriminadamente os medicamentos, acarretando, muitas vezes, sobra de medicamentos (resíduos). Estes remanescentes de medicamentos, por parte da sociedade, têm várias causas, dentre as quais se destacam: a dispensação de medicamentos além da quantidade exata para o

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tratamento do paciente, a interrupção ou mudança de tratamento e a distribuição aleatória de amostras-grátis. (ANVISA, 2012).

Infelizmente, no Brasil, o descarte de medicamentos em desuso, vencidos ou sobras é feito por grande parte das pessoas em lixo comum ou em rede pública de esgoto. Atitudes essas que geram a agressão ao meio ambiente; a contaminação da água, do solo e de animais; além do risco à saúde de pessoas que possam reutilizá-los por acidente ou mesmo, intencionalmente, devido a fatores sociais ou circunstanciais diversos (ANVISA, 2012).

De acordo com pesquisa realizada por Ueda et al. (2009), percebe-se que grande parte da população não tem informação quanto aos métodos e conduta adequada para o descarte de tais produtos, e quanto ao impacto que o descarte inapropriado desses pode provocar ao meio ambiente, inclusive ao próprio ser humano.

A sociedade, entretanto, não é culpada, exclusivamente, por agir dessa forma. O descarte de medicamento realizado pelos consumidores apresenta a maior falha na legislação, pois não há especificações claras sobre a maneira adequada de descarte dos resíduos pelos pacientes. Haja vista que, por lei, estabelecimentos comerciais como farmácias, drogarias e centros de saúde não são obrigados a recolher esses produtos, mesmo se ainda estiverem dentro do prazo de validade (UEDA et al., 2009).

A Resolução da Diretoria Colegiada, RDC Nº 44, de 17 de agosto de 2009 (ANVISA,2009), dispõe sobre Boas Práticas Farmacêuticas para o controle sanitário do funcionamento, da dispensação e da comercialização de produtos e da prestação de serviços farmacêuticos em farmácias e drogarias, somente pontua em seu Artigo 93 que as farmácias e drogarias estão permitidas a participar de programa de coleta de medicamentos a serem descartados pela comunidade, com vistas a preservar a saúde pública e a qualidade do meio ambiente.

Além disso, não há divulgação nos meios de comunicação, seja pelo laboratório responsável pela fabricação, ou pelo Ministério da Saúde, ou pelo Ministério do Meio Ambiente, ou pelos profissionais de saúde sobre a forma adequada de descarte e os perigos de saúde pública e ambiental decorrentes do despejo aleatório desses resíduos no meio ambiente.

Uma vez definidas as responsabilidades de cada ator na destinação final dos resíduos de medicamentos no Brasil, cabe a todos os envolvidos realizar um

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trabalho de sensibilização e divulgação do programa de descarte correto de medicamentos. Pois, a educação é a base de tudo para que a população possa aplicar, em suas ações futuras, atitudes compatíveis como indivíduo, inserido numa sociedade moderna, e, concomitantemente no meio ambiente sustentável.

A sociedade brasileira

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quando reconhecer e assumir suas responsabilidades, e isso começa com a educação implantada às nossas crianças, terá um papel importantíssimo no sucesso da implementação da PNRS, visto que esta poderá denunciar desrespeitos ao meio ambiente; cobrará do Estado que suas regulamentações de proteção ao meio ambiente e à saúde sejam cumpridas e levará os resíduos de medicamentos aos estabelecimentos para a destinação correta dos mesmos.

4 CONCLUSÃO

Os resíduos de medicamentos, como vimos, pertencem à classe I (perigosos), segundo a norma NBR 10004 da ABNT, portanto,apresentam riscos potenciais ao meio ambiente e à saúde pública. Dessa forma, eles demandam segregação, tratamento, transporte e disposição final correta.

Apesar das diversas regulamentações existentes sobre o descarte de medicamentos no Brasil, com base no que foi exposto, podemos perceber que os resíduos de medicamentos ainda não são tratados de maneira efetiva, tornando-se disponíveis ao homem através da água, do solo e do ar e, consequentemente, causando impactos ambientais e na saúde pública.

Os órgão fiscalizadores e normatizadores, Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA e Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa, estão implementado a PNRS a fim de preencher as lacunas presentes no ordenamento jurídico. Essa é uma nova política de regulação no cenário brasileiro que exigirá, antes de tudo, mudança de atitudes no que tange todos os envolvidos no processo de descarte de medicamentos a fim de prevenir e minimizar os riscos sobre a saúde humana e meio ambiente, relacionados com o descarte de medicamentos.

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Concluí-se ser necessária a atuação conjunta dos órgãos fiscalizadores com os estabelecimentos geradores de resíduos, e a sociedade no sentido de implantar e implementar a PNRS com sucesso.

E para tanto, considerando que a responsabilidade pelo descarte, de forma correta, é de todos, ainda, por já existir uma vasta legislação, que necessita ser aplicada para produção dos resultados esperados, sugere-se que seja implantada, juntamente, com uma fiscalização mais eficiente, uma campanha educativa, como meio de instruir e divulgar à toda a sociedade sobre a responsabilidade, de todos, pelo descarte de medicamentos, de forma correta.

Uma sociedade comprometida com um meio ambiente saudável e, além de tudo sustentável, inicia-se pela conscientização de que cada indivíduo é parte importante desse meio ambiente.

5 REFERÊNCIAS

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http://189.28.128.179:8080/descartemedicamentos/apresentacao-1> Acesso em: 01 junho 2012.

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