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H o m i c í d i o Prat i c a d o

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Academic year: 2021

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A Lei no 12.720, de 27 de setembro de 2012, acrescentou o § 6o ao art. 121 do Código Penal, prevendo mais uma causa especial de aumento de pena, dizendo,

verbis:

§ 6o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio.

Definir, com precisão, o conceito de milícia não é tarefa fácil. Historicamente, voltando à época do Império, os portugueses entendiam como “milícia” as chamadas tropas de segunda linha, que exerciam uma reserva auxiliar ao Exército, considerado como de primeira linha. Como a Polícia Militar, durante muito tempo, foi considerada como uma reserva do Exército, passou, em virtude disso, a ser considerada como milícia.

No meio forense, não era incomum atribuir-se a denominação “milícia” quando se queria fazer referência à Polícia Militar. Assim, por exemplo, quando, na peça inicial de acusação ou da lavratura do auto de prisão em flagrante, ou mesmo em qualquer manifestação escrita nos autos, era comum referir-se aos policiais militares, que efetuaram a prisão, como “milicianos”.

Infelizmente, nos dias de hoje, já não se pode mais utilizar essa denominação sem que, com ela, venha uma forte carga pejorativa. Existe, na verdade, uma dificuldade na tradução do termo “milícia”. Essa dificuldade foi externada, inclusive, no Relatório Final da Comissão Parlamentar de Inquérito (Resolução no 433/2008), da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, presidida

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pelo deputado Marcelo Freixo, destinada a investigar a ação dessas novas “milícias”, no âmbito daquele Estado.

Tal dificuldade de conceituação pode ser vislumbrada logo no início do referido Relatório (página 34), quando diz:

Desde que grupos de agentes do Estado, utilizando-se de métodos violentos passaram a dominar comunidades inteiras nas regiões mais carentes do município do Rio, exercendo à margem da Lei, o papel de polícia e juiz, o conceito de milícia, consagrado nos dicionários, foi superado. A expressão “milícias” se incorporou ao vocabulário da Segurança Pública no Estado do Rio e começou a ser usada frequentemente por órgãos de imprensa quando as mesmas tiveram vertiginoso aumento, a partir de 2004. Ficou ainda mais consolidada após os atentados ocorridos no final de dezembro de 2006, tidos como uma ação de represália de facções de narcotraficantes à propagação de milícias na cidade.

Embora de difícil tradução, mas para efeitos de aplicação da causa especial de aumento de pena prevista no § 6o do art. 121 do Código Penal, podemos, inicialmente, subdividir as milícias em públicas, isto é, pertencentes, oficialmente, ao Poder Público, e privadas, vale dizer, criadas à margem do aludido Poder.

Dessa forma, as milícias podem ser consideradas, ainda, militares ou paramilitares. Militares são as forças policiais pertencentes à administração pública, que envolvem não somente as Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica), como também às forças policiais (Polícia Militar), que tenham função específica, determinada legalmente pelas autoridades competentes.

Paramilitares são associações não oficiais, cujos membros atuam ilegalmente,

com o emprego de armas, com estrutura semelhante à militar. Essas forças paramilitares se utilizam das técnicas e táticas policiais oficiais por elas conhecidas, a fim de executarem seus objetivos anteriormente planejados. Não é raro ocorrer e, na verdade, acontece com frequência, que pessoas pertencentes a grupos paramilitares também façam parte das forças militares oficiais do Estado, a exemplo de policiais militares, bombeiros, agentes penitenciários, policiais civis e federais.

As milícias consideradas como criminosas, ou seja, que se encontram à margem da lei, eram, inicialmente, formadas por policiais, ex-policiais e também por civis (entendidos aqui aqueles que nunca fizeram parte de qualquer força policial).

Suas atividades, no começo, cingiam-se à proteção de comerciantes e moradores de determinada região da cidade. Para tanto, cobravam pequenos valores individuais, que serviam como remuneração aos serviços de segurança por elas prestados. Como as milícias eram armadas, havia, normalmente, o

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Comentário

ou por Grupo de Extermínio

confronto entre traficantes, que eram expulsos dos locais ocupados, como também os pequenos criminosos (normalmente pessoas que costumavam praticar crimes contra o patrimônio).

A diferença fundamental, naquela oportunidade, entre a milícia e as forças policiais do Estado, era que os milicianos não somente expulsavam os traficantes de drogas, por exemplo, mas também se mantinham no local, ocupando os espaços por eles anteriormente dominados, ao contrário do que ocorria com as forças policiais que, após algum confronto entre criminosos da região, saíam daquele local, permitindo que a situação voltasse ao status quo, ou seja, retornava ao domínio do grupo criminoso que ali imperava. Atualmente, com a implementação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), como vem acontecendo na cidade do Rio de Janeiro, a Polícia vem ocupando os espaços que, antes, ficavam sob a custódia ilegal dos traficantes de drogas, que mantinham o local sob o regime de terror.

Essa situação original da milícia a identificava como um grupo organizado, não formalizado, ou seja, sem a regular constituição de empresa, voltado à prestação de serviço de segurança em determinada região. Quando havia empresa constituída, esta era puramente de fachada, ou seja, utilizada para dar uma aparência de legalidade aos serviços de segurança prestados que, na verdade, eram impostos, mediante violência e ameaça, à população.

Nesses locais ocorria o chamado “bico” por parte dos integrantes das forças policiais. O “bico” diz respeito a atividade remunerada do policial, quando deixa seu turno de serviço, que é proibido em grande parte dos Estados da federação, e tolerado em outros, permitindo que este consiga auferir um ganho além do seu soldo ou vencimentos, auxiliando nas suas despesas pessoais.

Normalmente, as milícias exercem uma vigilância da comunidade, através de pessoas armadas que se revezam em turnos, impendindo, assim, a ação de outros grupos criminosos.

Com o passar do tempo, os membros integrantes das milícias despertaram para o fato de que, além do serviço de segurança, podiam também auferir lucros com outros serviços por eles monopolizados, como aconteceu com os transportes realizados pelas “vans” e motocicletas, com o fornecimento de gás, TV a cabo (serviço vulgarmente conhecido como “gatonet”), fornecimento ilegal de água, luz etc.

Passaram, outrossim, a exigir que moradores de determinada região somente adquirissem seus produtos e serviços através da imposição do regime de terror. A violência, inicialmente voltada contra os traficantes e outros criminosos, passou a ser dirigida também contra a população em geral, que se via compelida a aceitar o comando da milícia e suas determinações. Para a milícia não havia concorrência, ou seja, ninguém, além de seus integrantes, podia explorar os

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serviços ou mesmo o comércio de bens por ela monopolizado. Em caso de desobediência, eram julgados e imediatamente executados, sofrendo em seus corpos a punição determinada pela milícia (normalmente lesões corporais ou mesmo a morte).

O § 6o do art. 121 do Código Penal assevera que a pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio. Ao se referir à milícia privada, está dizendo respeito àquela de natureza paramilitar, isto é, a uma organização não estatal, que atua ilegalmente mediante o emprego da força, com a utilização de armas, impondo seu regime de terror em determinada localidade.

Podemos tomar como parâmetro, para efeito de definição de milícia privada, as lições do sociólogo Ignácio Cano, citado no Relatório Final da Comissão Parlamentar de Inquérito da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (pág. 36), quando aponta as seguintes características que lhe são peculiares:

1. controle de um território e da população que nele habita por parte de um grupo armado irregular;

2. o caráter coativo desse controle;

3. o ânimo de lucro individual como motivação central;

4. um discurso de legitimação referido à proteção dos moradores e à instauração de uma ordem;

5. a participação ativa e reconhecida dos agentes do Estado.

Se o homicídio, portanto, for praticado por algum membro integrante de milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, a pena deverá ser especialmente aumentada de 1/3 (um terço) até a metade. Assim, por exemplo, imagine-se a hipótese em que um integrante da milícia, agindo de acordo com a ordem emanada do grupo, mate alguém porque se atribuía à vítima a prática frequente de crimes contra o patrimônio naquela região, ou mesmo que a milícia determine a morte de um traficante que, anteriormente, ocupava o local no qual levava a efeito o tráfico ilícito de drogas. As mortes, portanto, são produzidas sob o falso argumento de estar se levando a efeito a segurança do local, com a eliminação de criminosos.

Nesses casos, todos aqueles que compõem a milícia deverão responder pelo delito de homicídio, com a pena especialmente agravada, uma vez que os seus integrantes atuam em concurso de pessoas, e a execução do crime praticada por um deles é considerada como uma simples divisão de tarefas, de acordo com a teoria do domínio funcional sobre o fato.

A Lei no 12.720, de 27 de setembro de 2012, criou ainda, o delito de

constituição de milícia privada, inserindo o art. 288-A no Código Penal, dizendo,

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Comentário

ou por Grupo de Extermínio

Art. 288-A Constituir, organizar, integrar, manter ou custear organização paramilitar, milícia particular, grupo ou esquadrão com a finalidade de praticar qualquer dos crimes previstos neste Código:

Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos.

Embora não faça parte de uma milícia, com as características acima apontadas, poderá ocorrer que o homicídio tenha sido praticado por alguém pertencente a um grupo de extermínio, ou seja, um grupo, via de regra, de “justiceiros”, que procura eliminar aqueles que, segundo seus conceitos, por algum motivo, merecem morrer. Podem ser contratados para a empreitada de morte ou podem cometer, gratuitamente, os crimes de homicídio, de acordo com a “filosofia” do grupo criminoso, que escolhe suas vítimas sob o pretexto de estar realizando uma “limpeza social”.

Conforme esclarecimentos do deputado Federal Nilmário Miranda, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal:

a ação dos grupos de extermínio consiste numa das principais fontes de violação dos direitos humanos e de ameaça ao Estado de direito no país. Essas quadrilhas agem, normalmente, nas periferias dos grandes centros urbanos e têm seus correspondentes nos jagunços do interior. Usam estratégia de ocultar os corpos de suas vítimas para se furtar à ação da Justiça, sendo que os mais ousados chegam a exibir publicamente sua crueldade. Surgem como decorrência da perda de credibilidade nas instituições da justiça e de segurança pública e da certeza da impunidade, resultante da incapacidade de organismos competentes em resolver o problema. Os embriões dos grupos de extermínio nascem quando comerciantes e outros empresários recrutam matadores de aluguel, frequentemente policiais militares e civis, para o que chamam “limpar” o “seu bairro” ou “sua cidade”.1

Gerson Santana Arrais, discordando da possibilidade de se considerar grupo de extermínio as mortes ocorridas “gratuitamente”, e amparado na definição apontada pelo ilustre deputado mineiro, assevera que:

as principais características dos grupos de extermínio são a matança de pessoas, após aqueles serem recrutados ou contratados por pessoas do comércio e outras empresas. Claramente, por óbvio, que esses exterminadores não fazem 1 MIRANDA, Nilmário apud ARRAIS, Gerson Santana. Homicídio simples praticado a partir de atividade de extermínio considerado como hediondo. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/14711/homicidio-simples-praticado-a-partir-de-atividade-de-exterminio-considerado-como-hediondo#ixzz27t0tXHHg. Acesso em: 29 set. 2012.

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esse “serviço sujo” sem ônus, não o fazem “de graça”. Certamente são pagos pelos contratantes – os maiores interessados. Assim, são profissionais do crime que não possuem, em primeiro plano, uma relação de desafeto com as vítimas do extermínio. De tudo isso, não podemos nos furtar em concluir com clareza e inquestionável lógica, que esses exterminadores, ao silenciar as suas vítimas, não estão animados por nenhum motivo de ordem pessoal em relação a elas (frieza e torpeza); são profissionais (recebem pelo que fazem, então alguém os paga); por serem frios e receberem por esse vil mister, agem com futilidade em relação à causa de agir; pelo profissionalismo e destreza que animam os seus perfis (bons atiradores, frios, experientes, treinados, profissionais, normalmente em bando), estão em grande condição de superioridade em relação à vítima ou às vítimas, as quais, na maioria das vezes, não têm possibilidade ou oportunidade de defesa.2

O conceito, no entanto, ainda não se encontra completamente esclarecido, como dissemos no tópico 19.1, do volume 2 do nosso Curso de Direito Penal, parte especial, Editora Impetus, correspondente aos destaques do crime de homicídio, para onde remetemos o leitor a fim de não sermos repetitivos.

2 ARRAIS, Gerson Santana. Homicídio simples praticado a partir de atividade de extermínio considerado como hediondo. Disponível em:

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