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Aula 14. Crimes contra o Patrimônio. 1. Introdução

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Curso/Disciplina: Direito Penal

Aula: Direito Penal B – 14 (Crimes contra o Patrimônio – Furto e Roubo)

Professor (a): Marcelo Uzêda

Monitor (a): Gabriel Desterro

Aula 14

Crimes contra o Patrimônio

1. Introdução

Discute-se se o conceito de patrimônio é restrito àquilo que possui conteúdo econômico ou, em uma definição mais ampla, envolveria também um valor sentimental. O professor conta que teve um caso de um cantor que teve seu “Disco de Ouro” furtado. Do ponto de vista material, o Disco, na verdade, não é de ouro, mas de metal comum, mas o STJ entendeu que caracterizaria um crime patrimonial em razão do valor sentimental que o objeto possuía. Essa discussão se coloca, portanto, por causa do princípio da insignificância: a tese defensiva era a aplicação desse princípio, uma vez que a apreciação econômica do disco era baixa, mas o tribunal entendeu haver o crime justamente pelo aspecto emotivo.

2. Furto (art. 155)

Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

§ 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno.

§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.

§ 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico.

O bem jurídico tutelado no furto é tanto a propriedade como a posse. A posse é a exteriorização dos direitos de propriedade, trata-se de uma relação de fato estabelecida entre o sujeito e o direito de usar, gozar e dispor de seus bens. É necessário que a posse seja legítima.

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Ladrão que furta de ladrão: Ladrão que furta de ladrão também incide no tipo de furto, mas a

vítima continua sendo a primeira, que possuía legitimamente o objeto.

Sujeito ativo é qualquer pessoa, salvo o proprietário. Trata-se de crime comum. O sujeito passivo é o proprietário ou possuidor legítimo (pessoa jurídica, inclusive).

Núcleo do tipo é o verbo “subtrair”, que é a inversão da posse, a retirada da coisa da esfera de domínio da pessoa. A subtração admite a violência contra a coisa, mas nunca contra a pessoa (crime de roubo).

“Coisa alheia”, elemento normativo do tipo, é o objeto material do furto. Subtração de coisa própria não pode configurar furto (pode até, eventualmente, ser erro de tipo). Furto de coisa comum é o art. 156.

O exercício arbitrário das próprias razões (art. 346, CP) também pode ocorrer com subtração, mas o crime é outro. Seria o “fazer justiça com as próprias mãos”.

Se o sujeito já estava na posse ou na detenção da coisa (de boa-fé) e há inversão no título da posse, responde pelo delito de apropriação indébita.

Não pode ser objeto material de furto:

 Coisa sem dono (res nullius) – nunca teve dono. Ex.: pegar uma cadelinha de rua sem dono para si.

 Coisa abandonada (res derelictae) – se o dono abandona uma coisa, pois não quer mais. A coisa não pertence mais a ninguém.

 Coisa perdida (res desperdita) – não há subtração, já que a coisa havia saído da esfera de vigilância do sujeito passivo antes.

Caiu na prova da Defensoria Pública: Caseiro encontra anel de brilhante no lixo da casa. Há duas situações: pode ser uma coisa jogada fora (res derelictae) ou uma coisa perdida (res desperdita). Em ambos os casos não há furto (eis que inexiste subtração), mas no segundo caso pode ocorrer a apropriação do art. 169, II, CP.

“Coisa móvel” é tudo aquilo que pode ser transportado, movido. Não se aplica aqui o conceito do Direito Civil.

Furto de energia (§3º)

Equipara-se a coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico (energia solar, mecânica, térmica, sonora, atômica, genética etc.). Segundo a exposição de motivos, é toda energia economicamente utilizável e suscetível de incidir no poder de disposição material e exclusiva de um indivíduo. Ex.: X coloca no telhado uma célula para captar energia solar e o vizinho faz um “gato”, buscando furtar a energia do outro. É furto de energia.

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“Gato-net” é furto de energia? Gato-net é aquela situação em que o sujeito instala ou usufrui

clandestinamente de sinal da TV a cabo. Existem duas situações: (i) sujeito “puxa” um fio do vizinho e consegue fazer passar o sinal na sua casa. Nesse caso não há decréscimo patrimonial para o vizinho nem para empresa (até deixou de ganhar uma assinatura, mas deixar de ganhar não é o mesmo que perder) e, portanto, a princípio, a conduta seria atípica. A empresa poderia, no exercício de seu direito, cortar o sinal e, na esfera cível, cobrar as indenizações cabíveis pelo uso indevido do seu material. (ii) Outra situação é uma central clandestina de “gato-net”, nesse caso há crime contra as telecomunicações, porque esse serviço só pode ser prestado para as empresas concessionárias e habilitadas pelo órgão competente. Esse crime de exploração clandestina de sinal de TV é comum na Justiça Federal (crime contra as telecomunicações é competência federal).

Furto vs. Estelionato

Se o indivíduo passa cabos para obter indevidamente o sinal de TV alheio, há o crime de furto de energia (se o cabo for subterrâneo, por exemplo, vai incidir até a figura qualificada do furto). Situação diversa é o indivíduo que acopla ao dispositivo indicativo de consumo de energia um aparelho que frauda o “relógio” que faz a marcação (Ex.: a pessoa consome o equivalente a R$ 1.000,00 de energia e o dispositivo vai indicar apenas R$ 200,00). Esse segundo cenário caracteriza o crime de estelionato. Isso porque há emprego de uma fraude para obtenção de vantagem indevida em prejuízo alheio (já que alguém pagará essa conta deficitária).

Tipo subjetivo é o dolo, animus furandi, consistente na vontade e consciência de "subtrair coisa alheia móvel". Exige-se, ainda, o elemento subjetivo do tipo na elementar “para si ou para outrem”, que indica o fim de assenhoramento definitivo (animus rem sibi habendi).

“Furto” de uso, que na verdade não configura furto, é a subtração de coisa infungível para fim de uso momentâneo e pronta restituição nas mesmas condições originais. É fato penalmente atípico, mas ilícito na seara civil. No “furto” de uso falta justamente o animus rem sibi habendi.

Consumação e Tentativa

Para a doutrina clássica, é possível identificar 4 correntes sobre o momento de consumação do furto:

I – Teoria da Concretatio: Para a consumação basta que o sujeito encoste no objeto. Tocou no objeto com a intenção de subtrair já é início da execução, ainda que não se consiga de fato subtrai-lo. A teoria da concretatio torna impossível a tentativa.

II – Teoria da Illactio: Só aceita a consumação se o objeto chega ao local destinado. Seria o alcançar a “posse mansa e pacífica” da coisa. É um outro extremo.

III – Teoria da Amotio: Consuma-se com o deslocamento da coisa (inversão da posse, retirada da posse), ainda que o sujeito não tenha a posse tranquila e não chegue ao local desejado.

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IV – Teoria da Ablatio: Consumação só ocorre com a (i) apreensão e (ii) deslocamento do objeto material.

Essas são as visões clássicas. Hoje a doutrina se divide em duas posições, basicamente:

 1ª Corrente (majoritária nos tribunais superiores): O furto se consuma quando a coisa sai da esfera de posse e disponibilidade do sujeito passivo, ingressando na do agente, ainda que este não tenha tido a posse tranquila da coisa (REsp 668857/RS). Veja que prevalece, portanto, nos tribunais a Teoria da Amotio.

 2ª Corrente: A consumação do furto somente ocorre com a posse tranquila (sossegada, a salvo da hostilidade) da coisa, ainda que por curto período de tempo, submetendo-a ao próprio poder autônomo de disposição.

Cabe tentativa. Para a 1ª corrente, é tentado o crime quando o sujeito não consegue, por circunstâncias alheias à sua vontade, retirar o objeto material da esfera de proteção e vigilância da vítima, submetendo-a à sua própria disponibilidade. Já para a 2ª corrente, o crime é tentado quando o sujeito, após retirar a coisa da esfera de disponibilidade, não consegue ter a posse tranquila.

Súmula 145, STF: “Flagrante provocado (ou preparado) – “Não há crime, quando a preparação

do flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação”.

No flagrante provocado há a figura do chamado agente provocador. Seria um “crime de ensaio”, não há crime. No entanto, a existência de monitoramento pela segurança através de circuito interno de TV não torna o crime impossível (é possível a tentativa, portanto). O sistema nesse caso não é infalível, além de faltar o elemento da provocação.

Causas de aumento de pena (§1º)

“Período noturno” – remonta as considerações já feitas no crime de invasão de domicílio. Pode ser ausência de luz solar natural ou, segundo o critério processualista/artificial, de 18hrs às 6hrs.

Diferentemente do conceito do art. 150, aqui é exigido, além de ser à noite, que seja durante período destinado ao descanso, assim qualificado o recolhimento dedicado ao repouso conforme os costumes locais. Para o STJ, é irrelevante o fato de se tratar de estabelecimento comercial ou residência, habitada ou desabitada, ou se a vítima está ou não efetivamente repousando.

“Virada” jurisprudencial – Informativo nº 554, STJ

“DIREITO PENAL. FURTO QUALIFICADO PRATICADO DURANTE O REPOUSO NOTURNO.

A causa de aumento de pena prevista no § 1° do art. 155 do CP - que se refere à prática do crime durante o repouso noturno - é aplicável tanto na forma simples (caput) quanto na forma qualificada (§ 4°) do delito de furto. Isso porque esse entendimento está em consonância, mutatis mutandis, com

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a posição firmada pelo STJ no julgamento do Recurso Especial Repetitivo 1.193.194-MG, no qual se afigurou possível o reconhecimento do privilégio previsto no § 2º do art. 155 do CP nos casos de furto qualificado (art. 155, § 4º, do CP), máxime se presentes os requisitos. Dessarte, nessa linha de raciocínio, não haveria justificativa plausível para se aplicar o § 2° do art. 155 do CP e deixar de impor o § 1° do referido artigo, que, a propósito, compatibiliza-se com as qualificadoras previstas no § 4° do dispositivo. Ademais, cumpre salientar que o § 1° do art. 155 do CP refere-se à causa de aumento, tendo aplicação apenas na terceira fase da dosimetria, o que não revela qualquer prejuízo na realização da dosimetria da pena com arrimo no método trifásico. Cabe registrar que não se desconhece o entendimento da Quinta Turma do STJ segundo o qual somente será cabível aplicação da mencionada causa de aumento quando o crime for perpetrado na sua forma simples (caput do art. 155). Todavia, o fato é que, após o entendimento exarado em 2011 no julgamento do EREsp 842.425-RS, no qual se evidenciou a possibilidade de aplicação do privilégio (§ 2°) no furto qualificado, não há razoabilidade em negar a incidência da causa de aumento (delito cometido durante o repouso noturno) na mesma situação em que presente a forma qualificada do crime de furto. Em outras palavras, uma vez que não mais se observa a ordem dos parágrafos para a aplicação da causa de diminuição (§ 2º), também não se considera essa ordem para imposição da causa de aumento (§

1º). HC 306.450-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 4/12/2014, DJe 17/12/2014.

O julgado acima representa um importante entendimento do STJ, na medida em que a doutrina defendia, majoritariamente, que a causa de aumento de pena (§1º), pela posição topográfica, somente poderia ser aplicada ao furto simples (art. 155, caput, CP). Caso houvesse alguma circunstância qualificadora, a hipótese do §1º estaria abrangida e serviria como circunstância judicial.

No precedente acima citado o STJ, em sentido contrário, firmou seu posicionamento no sentido de que a causa de aumento do §1º se aplica tanto ao furto simples (§1º) como ao furto qualificado (§4º). Esse entendimento vai agravar a situação, por exemplo, daqueles que rompem obstáculo ou realizam escalada, por exemplo, durante o período de repouso noturno, agora a pena será de 2 a 8 mais 1/3 da causa de aumento do §1º. É uma jurisprudência recente que contraria a lógica até então dominante na doutrina e muito provavelmente será cobrada em provas de concursos públicos.

O STJ argumentou que o furto privilegiado (art. 155, §2º) pode ser aplicado também ao furto qualificado (§4º), hipótese que não seria possível caso adotássemos a análise topográfica do artigo, assim, não faria sentido usar o critério topográfico apenas para vedar a aplicação do §1º ao furto qualificado.

Furto Privilegiado (§2º)

 Primário (não reincidente)  Coisa subtraída de pequeno valor

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Preenchidos os requisitos acima o Juiz poderá substituir a pena por detenção, além de diminui-la de 1 a 2/3 ou aplicar somente a multa.

Pequeno valor não se confunde com valor ínfimo, o qual é resolvido à luz do princípio da insignificância (torna o fato atípico). Valor ínfimo é aquele causador de uma lesão inexpressiva, o que se observa levando em consideração o patrimônio do sujeito e o valor da coisa em si. Ex.: sujeito subtrai um botijão de gás vazio avaliado em R$ 20, 00 (vinte reais). A vítima possui um patrimônio relevante e o valor é irrisório para ela. Trata-se de um valor ínfimo. Por outro lado, se a vítima vive em condições precárias e vinte reais fariam diferença em seu orçamento, a lesão jurídica provocada em seu patrimônio não é irrelevante e o valor não será ínfimo.

Superada essa análise do valor ínfimo, passa-se a análise se a coisa é de pequeno valor. A jurisprudência tende a considerar “pequeno valor” a quantia inferior a um salário mínimo. Nesse caso, sendo o autor primário, afigura-se possível o furto privilegiado.

Súmula 511, STJ: “É possível o reconhecimento do privilégio previsto no § 2º do art. 155 do CP

nos casos de crime de furto qualificado, se estiverem presentes a primariedade do agente, o pequeno valor da coisa e a qualificadora for de ordem objetiva”.

“Qualificadora de ordem objetiva” foi a novidade da Súmula, pois a jurisprudência já vinha aceitando a aplicação do §2º simultaneamente ao §4º (furto qualificado). No informativo nº 554 antes citado, inclusive, há menção a esse entendimento.

Furto qualificado (§4º)

I – Com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa

É uma qualificadora de ordem objetiva. Ex.: desarmar um alarme, desmontar um cadeado. Há polêmica quanto ao furto de objeto no interior de veículo com rompimento de obstáculo, como na hipótese do rompimento do vidro. Isso porque, de acordo com o STJ, o rompimento de obstáculo inerente ao objeto do furto não caracteriza a circunstância qualificadora. Assim, esses entendimentos em conjunto poderiam levar a uma situação em que se o sujeito quebrasse o vidro do carro e furtasse o próprio veículo, seria furto simples. Entretanto se o mesmo fosse feito para o furto de um objeto guardado dentro do veículo, seria furto qualificado. A jurisprudência basicamente “recomendava” furtar o carro inteiro!

No informativo nº 429, de 2010, reconhecendo a incongruência da situação anteriormente exposta, que violava a proporcionalidade, o Tribunal entendeu que o rompimento do vidro para furto de objeto no interior do veículo também deveria ser considerado furto simples. Foi uma variação na jurisprudência da Corte.

Na visão atual, mais moderna, entende-se que o vidro configura um mecanismo de proteção contra o furto do próprio veículo, não seria meramente parte integrante do objeto (veículo), razão pela

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qual há uma tendência em se mudar o posicionamento para também qualificar o rompimento do vidro quando o objeto do furto é o carro.

II – Com abuso de confiança

O abuso requer um vínculo subjetivo especial, uma confiança prévia à subtração. A mera relação de emprego não caracteriza a confiança. Se não houver uma confiança concretamente, pode até configurar uma agravante genérica pela violação de dever inerente ao cargo, ofício, ministério ou profissão, mas não haverá a qualificadora.

Na apropriação indébita (art. 168) também há uma modalidade com abuso de confiança, mas nela há uma posse inicial de boa-fé, desvigiada (antes de se apoderar do objeto), já no art. 155 a pessoa não tem a posse inicialmente, não há posse desvigiada, mas o indivíduo, valendo-se da confiança, aproveita o fácil acesso e subtrai o objeto.

É circunstância subjetiva (incompatível com a modalidade de furto privilegiado). III – Mediante fraude

Fraude é empregado para distrair a atenção da vítima, iludir a vigilância do ofendido, a fim de facilitar a subtração. No estelionato, a fraude faz com que a vítima incida em erro, é empregada para obter seu consentimento.

No furto, o sujeito ativo é quem retira o objeto da pessoa, já no estelionato, em função da fraude, é a vítima que entrega o objeto (sua vontade foi viciada em razão do ardil).

É circunstância subjetiva (incompatível com a modalidade de furto privilegiado). IV – Escalada

É o ingresso no lugar do furto, por uma via de acesso que normalmente não é utilizada. Há utilização de um meio artificial, incomum (não violento), ou a demanda de um esforço extraordinário (saltar, rastejar).

É circunstância objetiva (compatível com a modalidade de furto privilegiado). V – Destreza

É uma habilidade especial, uma capacidade especial de retirar a coisa sem ser percebido. Se a vítima percebe a subtração, não há que se falar em destreza (não há tentativa de furto qualificado). Entretanto, se a vítima não nota o movimento, mas um terceiro percebe, aí sim poderá caber a tentativa de furto qualificado pela destreza.

É circunstância subjetiva (incompatível com a modalidade de furto privilegiado). VI – Com emprego de chave falsa

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É qualquer instrumento ou engenho que sirva para abrir uma fechadura, sem danificá-la. Segundo a doutrina, a qualificadora só se verifica quando a chave falsa é utilizada externamente a res furtiva, vencendo o agente o obstáculo propositadamente colocado para protegê-la.

Polêmica: Segundo a posição mais tradicional do STJ, a utilização de chave falsa diretamente na

ignição do veículo para fazer acionar o motor não configura a qualificadora do emprego de chave falsa. No entanto, já caiu na prova da CESPE um precedente em sentido contrário: REsp 906685/RS.

É circunstância objetiva, compatível com a modalidade de furto privilegiado. VII – Mediante concurso de duas ou mais pessoas

Deve haver o concurso efetivo no local (nesse sentido é a jurisprudência e a doutrina), sendo insuficiente a mera participação. Ex.: sujeito empresta um instrumento, mas não vai ao local, é mero partícipe. Nesse caso não incidiria a qualificadora. A qualificadora se dá, segundo a doutrina, pelo aumento da potencialidade lesiva no caso de concurso de agentes.

É circunstância objetiva, compatível com a modalidade de furto privilegiado.

Furto de veículo automotor

§ 5º - A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior. (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996)

Furto de veículo automotor que venha a ser transportado para outro estado ou para outro país. Se o veículo não passa a divisa do estado ou a fronteira, não incidirá a qualificadora.

Furto de veículo automotor não é coisa de pequeno valor, portanto, incompatível com a modalidade de furto privilegiado.

3. Roubo (art. 157, CP)

Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência:

Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.

§ 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro.

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I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma; II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;

III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância.

IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior; (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996)

V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade. (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996)

§ 3º Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de sete a quinze anos, além da multa; se resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta anos, sem prejuízo da multa. (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996) Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90

No caput há a figura do roubo próprio e no §1º o chamado roubo impróprio.

O crime é pluriofensivo, pois tutela, além do patrimônio, bens como a vida, integridade física e liberdade individual.

É crime complexo, pois reúne elementos que isoladamente seriam crimes autônomos. O roubo seria uma combinação de furto com constrangimento ilegal, ou furto e ameaça, por exemplo. O legislador agrupa figurar típicas autônomas em um único delito.

É crime comum (qualquer um pode praticar). Sujeito passivo, em regra, é a vítima da violência ou da ameaça e que tem o patrimônio lesado, mas nada impede que se constranja uma pessoa e subtraia o patrimônio de outra.

Roubo próprio (caput): é a subtração antecedida de violência ou grave ameaça ou qualquer outro meio que impossibilite a capacidade de resistência da vítima.

Roubo impróprio (§1º): primeiro há subtração e depois há a violência para garantir a impunidade ou a detenção da coisa. Aqui há uma progressão criminosa, uma vez que o crime inicialmente é patrimonial não violento e depois evolui para roubo em função da violência empregada depois.

Doutrina classifica a violência em:  Física (vis absoluta)  Moral (vis compulsiva)

 Imprópria – emprego de qualquer outro meio que, de forma ardilosa, reduz a vítima à impossibilidade de resistência (embriaguez, narcotização, hipnotismo).

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Tipo subjetivo é o dolo e um especial fim de agir (“para si ou para outrem”), de maneira semelhante ao furto. Há a exigência de intenção de posse definitiva.

E se o sujeito não tem o ânimo de ficar com a coisa para si ou para terceiro? Por exemplo, constranger uma pessoa a dar carona. Não se está roubando, responderia por constrangimento ilegal.

No roubo impróprio há um outro elemento subjetivo: assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro. Inicialmente há dolo e animus rem sibi habendi, após evolui e agrega-se mais um elemento (assegurar impunidade ou a detenção, manutenção da coisa). Ainda que não se consiga efetivar a intenção (assegurar impunidade, por exemplo), o uso da violência consuma o tipo.

Polêmica: consumação e tentativa

Roubo próprio, quanto ao momento de consumação, enseja a mesma discussão anteriormente exposta sobre o furto.

Roubo impróprio: consumação ocorre no momento do emprego da violência, como já referido. A inversão da posse é anterior à violência, portanto, não admite a tentativa (não se exige resultado naturalístico). Se não emprega esses meios de execução logo depois da subtração, permanece o fato como furto tentado ou consumado.

Concurso de crimes

Subtração de várias pessoas, no mesmo momento, com a mesma ameaça (ex.: roubo em um ônibus), há concurso formal próprio (opinião majoritário). Doutrina e jurisprudência não entendem haver desígnios autônomos nesse caso.

E se o roubo for a uma família? Exemplo: sujeito rouba um carro em que estavam mãe, pai e filhos. Se entendermos que o patrimônio é único, seria um único crime de roubo. Se entendermos que são patrimônios diversos, tal qual o Supremo Tribunal Federal entendeu em um precedente, serão diversos crimes de roubo em concurso formal próprio (igual ao caso do roubo em transporte coletivo).

Hipótese diversa seria um pai com seu filho menor de idade que não possui patrimônio próprio. Nesse caso, seguindo a lógica, seria crime único de roubo, ainda que a violência seja usada contra os dois.

Causa especial de aumento de pena – Roubo circunstanciado (§2º)

Súmula nº 443, STJ: “O aumento na terceira fase de aplicação da pena no crime de roubo

circunstanciado exige fundamentação concreta, não sendo suficiente para a sua exasperação a mera indicação do número de majorantes”.

A causa de aumento do §2º é de 1/3 até metade. Os juízes costumavam aplicar o aumento no máximo (1/2) pela simples existência de mais de uma causa de aumento constantes dos incisos. A

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súmula veio justamente para afastar essa incidência automática do aumento no máximo apenas por essa circunstância, exigindo-se uma fundamentação idônea no caso concreto. Pode aplicar a majorante máxima ainda que esteja presente apenas uma circunstância de aumento, desde que a reprovação da situação concreta assim justifique.

Referências

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