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UMA SEMIÓTICA PARA O (E)TERNO: ANÁLISE DE FIGURINO A semiotics for (E)terno: analysis of costumes

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Academic year: 2021

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UMA SEMIÓTICA PARA O (E)TERNO: ANÁLISE DE FIGURINO A semiotics for (E)terno: analysis of costumes  

 

PERINI, Anerose1; Mestranda em Design Estratégico, Unisinos, aneperini@gmail.com PARODE, Fábio2; Dr. Prof. Design Estratégico, Unisinos.

fparode@unisinos.br  

 

Resumo    

Este estudo de base exploratória e com viés qualitativo busca compreender como o figurino no contexto da obra cênica (E)terno, é composto. A obra contém elementos do senso comum e da cultura. Trata-se de uma pesquisa que se utiliza da análise semiótica como recurso metodológico para a leitura de um único figurino criado para um monólogo.  

 

Palavras Chave: Figurino; Cultura; Senso Comum; Semiótica.    

Abstract    

This exploratory study based qualitative inserting seeks to understand how the costumes in the context of the scenic work (E)terno is made. The work developed in 2010, contains elements of common sense and culture. It is a search that uses the semiotic analysis as a methodological resource for reading a single costume created for a monologue.

Key words: Costumes; culture; Common Sense; Semiotics.    

Introdução    

Por ser uma pesquisa exploratória com viés qualitativo a análise da obra delineia-se sob a percepção de como é o figurino em cena, na construção dos diversos personagens por uma única atriz, em um monólogo. O (E)terno é reconhecido por ser um espetáculo que retrata todas as bases de arte como a música, a dança e a projeção. Também na concepção das cenas segue do processo de movimento e texto, que transcendem a figura inicial da personagem e transmutam em outras personagens em diferentes etapas da vida e vivências.

                                                                                                               

1Anerose PERINI, é mestranda na Unisinos em Design Estratégico, profa. na UniRitter Laureate International

Universities, faz parte do grupo de pesquisa Design Estratégico para a Inovação Cultural e Social (UNISINOS) e do grupo de pesquisa em Semiótica e Culturas da Comunicação (GPESC).

2Doutor em Art & Science de l'Art - IEDES-Université de Paris I – Pantheon Sorbonne. Atualmente é professor na

Universidade do Vale do Rio dos Sinos-UNISINOS-, na Graduação e Pós-graduação em Design Estratégico, na linha de pesquisa Processos de projetação para inovar bens de uso; É editordo periódico científico Strategic Design Research Journal.

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Através da semiótica como recurso metodológico, o presente artigo tem como objetivo compreender como se constrói o espetáculo (E)terno por análise da personagem e do figurino em cena. Para isso, são utilizados autores

Touraine (2011), Geertz (1997), Bourdieu (1996), Lyotard (1989), Baudrillard (1990) que embasam o entendimento sobre cultura, signos, senso comum,

habitus, Crane (2006), Castilho et al. (2005) abordam a significação das roupas, e Pavis (2003), Cortinhas (2010) para o figurino em cena.

Com esse propósito o artigo delineia-se em três momentos, a compreensão da imagética da construção da personagem. O reconhecimento de como o corpo vestido é compreendido pela cultura e pela sociedade; a construção do roteiro que se aproximando da cultura e do senso comum da atriz, para a concepção da peça; e por último o figurino, que assume valor comunicacional e da cultura.

O corpo representado  

O corpo em seu sentido mais amplo, é um meio de trocas de informação e conteúdo, pois, retrata através das vestimentas, sentidos, signos, cultura, identidade sexual, valores sociais e culturais, etc. Adaptar as vestes de um personagem às experiências do sujeito, possibilita percepções pessoais de cada observador sobre o personagem. As experiências de cultura retratadas no figurino de cena, podem ser parte da evolução contínua da cultura, da sociedade e de seu ambiente.  

A estrutura da cultura é apontada por Geertz (1997) como o ‘bom senso’, construída como uma categoria fixa da cultura, expressa no cotidiano como expressão recorrente dos costumes. Geertz (1997) ainda afirma que '...o bom senso é um sistema cultural, e que ele possui uma ordem única, passível de ser descoberta empiricamente e formulada conceitualmente' (GEERTZ, 1997 p.139). Bourdieu (1996) reconhece essas características culturais como o ‘habitus’, cultivado dentro da cultura, que dota de sentido e de valor aspectos estéticos referentes aos conhecimentos tácitos, é a essência do ser intrínsecos ao sujeito.  

Perante isso, em um sistema de valores culturais, pode-se produzir o mesmo efeito de sentido para diversos sistemas culturais semelhantes, quando

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baseados em valores universais compreendidos por muitos. Para Touraine (2011) a experiência humana é, ao mesmo tempo, submetida à necessidade local e global decorrentes de fatores incontroláveis da sociedade, já para Geertz (1997), compreender a experiência humana a partir da realidade, exige elaborar mecanismos de cultura e definir quais as relações sociais intrínsecas, para se manter as regras e fortalecer os valores sociais.  

Crane (2006), afirma que as roupas são carregadas de significados decorrentes do poder cultural, influenciada pelo comportamento e atitudes sociais. Através deste vértice de valores culturais e sociais, e das experiências cotidianas do usuário que categorizam o entendimento sobre as coisas e os significados decorrentes da cultura, tem-se a percepção do que se pode apropriar esteticamente de signos para maior reconhecimento do observador à obra.  

Com isso, entende-se que o homem é parte de um todo e está exposto a uma cultura, e que têm o poder de implicar em suas escolhas e nas ‘relações entre estética e ética’ (LYOTARD, 1989 p.42). Isso, segundo Bourdieu (1996) e Geertz (1997) transformam a força emocional em coisas concretas de experiência estética, e deve-se às convenções sociais que são imediatamente dotadas de sentido e valor pela cultura.  

Mediante essa realidade pode-se perceber que o figurino representa a cultura do personagem, como uma articulação entre o corpo, o personagem, o roteiro, o cenário, a música e a luz. Para que a obra se torne completa, não depende apenas do contexto em que está inserido, mas também depende do

habitus do observador.    

(E)terno: o espetáculo    

A compreensão do que se apresenta na peça é uma representação biográfica da autora e atriz, Tefa Polidoro. A concepção do espetáculo parte de suas vivências e de seu ‘senso comum’ do que é correto ou não, suas vivências e de seus familiares e dos sentimentos guardados.  

As memórias afetivas vão sendo colocadas à mostra em cada cena representada, muitas vezes, em forma de música, dança ou projeção fílmica. Essas representações tentam moldar o imaginário coletivo para guiar a

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construção das personagens no decorrer da história. Segundo Baudrillard (1990), ‘quando as coisas, os signos, as ações são libertadas de sua ideia, de seu conceito, de sua essência, (...). As coisas continuam a funcionar ao passo que a ideia delas já desapareceu há muito.’ (BAUDRILLARD,1990, p.12)

Por ser um espetáculo na forma de monólogo, se divide em roteiro de ações e texto, como por exemplo, o princípio é relacionado a menina e as brincadeiras de infância, e com o tão sonhado casamento. Após esta cena, inicia-se o momento em que, a menina já mulher conhece o homem, nesta cena entra o terno, que representa a forma masculina. O terno, na moda, é a roupa masculina constituidora de identidade, que segundo Crane (2006), é proposta pela tradição estável do homem forte e de boa classe social desde o início do século XX. Castilho et al. (2005, p.54) afirma que ‘a roupa como objeto é revestida de valores para o sujeito que a porta e, ao mesmo tempo, recebe a leitura estética daqueles que veem o sujeito’. Essa roupa parte da construção identitária, pois deve dialogar não apenas com o personagem mas com o imaginário coletivo.  

A partir deste momento, o terno se torna parte do espetáculo, o homem que foi embora e nunca mais voltou. O terno passa sensações relacionadas ao sentimento de espera, da mulher abandonada e da filha que um dia quiçá irá conhecer seu pai (figura1).

 

Figura 1: Isso é do meu pai. Como será que ele é?    Fonte: (E)terno  

   

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Castilho et al. (2005) apontam que a roupa e o corpo tem o poder de se constituir como suporte sensível à materialização das características do tempo e espaço. Na peça a construção de corpo para cada cena condiz com o texto e as necessidades das personagens, e isso transfigura-se no figurino, pois o cenário é o vazio em que o tempo e o lugar não existem. O (E)terno por ser um espetáculo solo e não dispor de cenário apenas o terno flutuando em algumas cenas, faz com que o figurino, torne-se fundamental para compreender a trama e a personagem. A atriz representa três perspectivas diferentes com o mesmo figurino, da mulher repleta de sonhos, da mulher abandonada pelo homem que ama, e da criança que cresce sonhando em conhecer o pai que a abandonou.    

O figurino, objeto consagrado    

Como o figurino tem a perspectiva de representar a segunda pele do ator, sendo que a primeira é o personagem, pode-se encarar como este sendo um objeto consagrado. O figurino introduz os signos necessários para o reconhecimento do personagem, utilizando as características da comunicação simbólica intrínsecos à cultura.  

A roupa de cena é conhecida como o que representa um indivíduo carregado se simbologias e do perfil psicológico do personagem. Reconhecido como figura de linguagem visual que auxilia na compreensão do gênero, do local que passa a cena, do contexto social e das características históricas. O traje contribui para a formação da estética cênica representada, já que uma única peça é usada por todas as personagens representadas por uma única atriz, o figurino se configura de acordo com a necessidade da realidade vivida do personagem.  

Segundo Cortinhas ‘o figurino se encontra carregado com as mesmas qualidades e poderes de seu intérprete, capaz de assumir diferentes formas’ (2010, p.19). Com isso, percebe-se que o figurino tem capacidade de representar uma cultura, pois a retrata em códigos e signos, sua estética faz parte do contexto, ou ainda, parte necessária para a comunicação do personagem com o cenário.  

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Para Pavis (2003) o figurino em cena é definido a partir dos materiais e cores relacionadas em relação ao todo, as relações devem ter coerência de moda a oferecer a informação explícita do que representa.  

Para isso, o figurino foi desenvolvido por Letícia Pinheiro para retratar as metamorfoses da atriz em cena. A cor nude é predominante e tem como objetivo referenciar a inocência da criança, já os tons esverdeados são utilizados em detalhes parcialmente escondidos pela roupa, e representa os desejos escondidos. Segundo Castilho et al. (2005) as roupas têm a função de explorar além dos valores subjetivos, comporta traços de identidade comuns a cultura, e possibilita a apreensão do sentido mais amplo sensorial.  

Para a atuação, no contexto do (E)terno, que envolve dança, poesia e artes visuais o figurino teve que dispor de elementos orgânicos e funcionais, para que não impedisse os movimentos da atriz. A forma do figurino é simples, para aludir as três personagens, o vestido toma forma da feminilidade da mulher. Segundo Letícia o figurino têm ‘... o aspecto velho e manchado, como se tivesse recém saído de um baú de lembranças, por retratar as memórias da intérprete e de sua mãe.’ A figura 2 mostra o figurino em cena.

 

Figura 2: Figurino em cena.  Fonte: (E)terno  

   

Os tecidos utilizados para caracterizar as personagens são a renda e a musseline, que com suas transparências e leveza características, evocam situações emocionais decorrentes da configuração da personagem. Os materiais, por sua vez, representam os sentimentos profundos escondidos, a leveza da feminilidade, e a espera. Por serem tecidos naturais conseguem

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absorver a iluminação cênica em cada mudança de cena ou personagem, como pode ser visto na figura 3.

Figura 3: Figurino em cena  ‘Ventania’.  Fonte: (E)terno  

   

Castilho (2005, p.74) afirma que o discurso da roupa concretiza os níveis das estruturas fundamentais, os sujeitos, os valores e os objetos, com isso, o sujeito passa a construir o discurso por seus habitus decorrentes dos entendimentos das práticas sociais. Nesta geração de sentido mais amplo, compreende-se que no discurso das personagens se passam as relações intertextuais que se estabelecem fora do panorama sócio-histórico do cenário.  

Nesta concepção, o corpo toma forma de acordo com o comportamento do figurino e da personagem. Segundo Baudrillard (1998), o corpo assume diversas figuras pois deixou de ser canônico e passou a assumir diversas metáforas, classes, gêneros diferentes.  

 

Considerações finais    

Para a construção do figurino do espetáculo (E)terno pode-se observar que a roupa assumiu características afetivas e próprias das personagens. Como é utilizado em todos os atos, por uma única atriz, tornou-se necessário que fosse mais sobreo para conseguir passar emoções de cada personagem. Por não ter referências no cenário de época e local, o figurino destaca-se como

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o constituinte de informações do senso comum, para a melhor percepção do personagem pelo espectador, para assim moldar o imaginário coletivo.

Ao compreender a versatilidade do figurino apresentado na peça, vê-se que houve a necessidade de representar o gênero feminino, em diferentes etapas da vida, e em duas personagens distintas. Por isso optou-se o vestido como principal característica feminina que representa suavidade e delicadeza em seus signos constituintes. Também é perceptível no uso dos tecidos, texturas, aviamentos e cores os sentimentos das personagens, que absorvem a perspectiva de cena, do roteiro, da música, das projeções e da iluminação.

Com isso, observa-se que a cor e dos tecidos escolhidos para o figurino, além de influenciarem a percepção geral sob a personagem, também é capaz de se transformar e ser o próprio cenário. Isso porque consegue absorver as características da tela de projeção e da iluminação, e assim, representar com magnitude as diversas fazes das personagens e dos sentimentos representados em cada cena.

Portanto, pode-se compreender que existe a necessidade do figurino condizer com o ambiente cênico, além de ter versatilidade de uso, deve conter características de signos reconhecidos do senso comum. Com isso, consegue se adequar às personagens e ser o objeto consagrado que evolui em cena.

 

Referências Bibliográficas  

BAUDRILLARD, Jean. A transparência do mal: Ensaio sobre fenômenos extremos. São Paulo: Papirus Editora, 4° ed. 1990.

BOURDIEU, Pierre. As regras da arte. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.    

CASTILHO, Kathia; MARTINS, Marcelo M. Discurso da moda: semiótica, design e corpo. / Kathia Cartilho, Marcelo M. Martins. -- São Paulo: Editora Anhembi Morumbi, 2005. --(Coleção moda e comunicação / Kathia Castilho (coordenação).  

 

CRANE, Diana. A moda e seu papel social: classe, gênero, identidade das roupas / Diana Crane: tradução Cristiana Coimbra.- São Paulo: Editota Senac São Paulo, 2006.

CORTINHAS, Rosângela. Figurino: um objeto sensível na produção do personagem. Dissertação de mestrado UFRGS, 2010.

(E)TERNO, peça teatral orientada por Luciane Olendzki, direção Márcio Ramos, atuação Tefa Polidoro. FinanciArte e Universidade Federal do Rio grande do Sul, espetáculo de conclusão do curso de Teatro Bacharelado , de Tefa Polidoro, 2010.

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GEERTZ, C. O saber local. Rio de Janeiro: Vozes, 1997.    

LYOTARD, AJ-J. O inumano: considerações sobre o tempo. Lisboa: Editorial Estampa, 1989. PAVIS, Patrice. A análise dos espetáculos: teatro, mímica, dança-teatro, cinema. Trad. Sérgio Sálvia Coelho. São Paulo: Perspectiva, 2003.

 

TOURAINE, A. Após a crise. Rio de Janeiro: Vozes, 2011.              

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