JOEL TIMÓTEO RAMOS PEREIRA
Juiz de Direito de Círculo
1. CÔNJUGE COMO PARTE EXECUTADA
EXISTÊNCIA DE TÍTULO PRÉVIO
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POR SENTENÇA
Para que o cônjuge do devedor possa ser demandado como parte (executado) é necessário que o credor seja
titular de um título executivo do qual resulte:
1) A condenação do cônjuge no pagamento (sentença)
2) A vinculação voluntária do cônjuge (documento particular)
PROVEITO COMUM DO CASAL
Artigo 1691.º, n.º 1, do Código Civil
São dívidas comuns do casal: (…)
b) As dívidas contraídas por qualquer dos cônjuges, antes ou depois da celebração do casamento, para ocorrer aos encargos normais da vida familiar;
c) As dívidas contraídas na constância do matrimónio pelo cônjuge administrador, em proveito comum do casal e nos limites dos seus poderes de administração;
d) As dívidas contraídas por qualquer dos cônjuges no exercício do comércio, salvo se se provar que não
foram contraídas em proveito comum do casal, ou se vigorar entre os cônjuges o regime de separação de
bens; (…)
1. CÔNJUGE COMO PARTE EXECUTADA
EXISTÊNCIA DE TÍTULO PRÉVIO
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POR SENTENÇA
Para que o cônjuge do devedor possa ser demandado como parte (executado) é necessário que o credor seja
titular de um título executivo do qual resulte:
1) A condenação do cônjuge no pagamento (sentença ou fórmula executória aposta na injunção) 2) A vinculação voluntária do cônjuge (documento particular)
PROVEITO COMUM DO CASAL
O proveito comum do casal não se presume, excepto se a lei o declarar (art.º 1691.º, n.º 3 do CC)
Artigo 15.º do Código Comercial:
«As dívidas comerciais do cônjuge comerciante presumem-se contraídas no exercício do seu comércio».
Prova do credor:
• É comerciante
• A dívida tenha sido contraída no exercício do seu comércio Presunção do proveito comum do casal
[art.º 1691.º, n.º 1, al. d), do Código Civil]
Prova do demandado (ou do próprio cônjuge)
• O credor não é comerciante;
• Ou, ainda que seja comerciante, a dívida tenha sido contraída no exercício do seu comércio
1. CÔNJUGE COMO PARTE EXECUTADA
EXISTÊNCIA DE TÍTULO PRÉVIO
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Os documentos particulares, ainda que assinados pelo devedor, deixam de constituir títulos executivos
POR VINCULAÇÃO VOLUNTÁRIA DO CÔNJUGE TÍTULOS EXECUTIVOS EXTRAJUDICIAIS
REGIME ACTUAL
PROJECTO DE NOVO CPC
Artigo 46.º
1 - À execução apenas podem servir de base: a) As sentenças condenatórias;
b) Os documentos elaborados ou autenticados, por notário ou por outras entidades ou profissionais com competência para tal, que importem constituição ou reconhecimento de qualquer obrigação;
c) Os documentos particulares, assinados pelo devedor, que importem constituição ou reconhecimento de obrigações pecuniárias, cujo montante seja determinado ou determinável por simples cálculo aritmético de acordo com as cláusulas dele constantes, ou de obrigação de entrega de coisa ou de prestação de facto;
d) Os documentos a que, por disposição especial, seja atribuída força executiva.
Artigo 704.º
1 - À execução apenas podem servir de base: a) As sentenças condenatórias;
b) Os documentos exarados ou autenticados, por notário ou por outras entidades ou profissionais com competência para tal, que importem constituição ou reconhecimento de qualquer obrigação;
c) Os títulos de crédito, ainda que meros quirógrafos, desde que, neste caso, sejam alegados no requerimento executivo os factos constitutivos da relação subjacente;
d) Os documentos a que, por disposição especial, seja atribuída força executiva.
Os títulos de crédito (cheques, letras de câmbio) só atingem o cônjuge se este figurar no próprio título
de crédito como devedor cambiário.
1. CÔNJUGE COMO PARTE EXECUTADA
CONSEQUÊNCIAS EM SEDE DE CONTROLO LIMINAR ANTES DA PENHORA
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TÍTULO JUDICIAL
EXCEPÇÃO DE ILEGITIMIDADE PASSIVA
Incumbe ao exequente, autor na acção declarativa, demandar o cônjuge do alegado devedor, quando se trate de dívida da responsabilidade de ambos os cônjuges ou em que opere a comunicabilidade da dívida, a fim de contra o mesmo ter um título executivo. Não o
fazendo, não pode demandá-lo na acção executiva, sob pena de ilegitimidade.
Por sua vez, incumbe ao réu na acção declarativa, se pretender invocar a comunicabilidade da dívida, o ónus de provocar a intervenção principal do outro cônjuge, alegando que a dívida é da responsabilidade de ambos. Se o não fizer, não poderá alegar no processo executivo que a
dívida é comum
Por esta razão, o disposto no art.º 825.º, n.º 5 do CPC não é aplicável quando o título seja judicial, o que é confirmado pelo n.º 6 do mesmo preceito que restringe a possibilidade do executado alegar que a dívida é comum quando a dívida conste de título diverso de sentença.
(O n.º 5 faculta a qualquer dos cônjuges requerer a separação de bens ou juntar a certidão de acção pendente, sob pena de a execução prosseguir nos bens penhorados).
1. CÔNJUGE COMO PARTE EXECUTADA
CONSEQUÊNCIAS EM SEDE DE CONTROLO LIMINAR ANTES DA PENHORA
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TÍTULO JUDICIAL OU EQUIPARADO
REGIME ACTUAL
PROJECTO DE NOVO CPC
Se o cônjuge for demandado como executado, mas não figurar como tal no título executivo:
Remessa do processo para despacho liminar:
Artigo 812.º-C: «o agente de execução que receba o processo analisa-o …» (quando titulo executivo seja sentença)
Artigo 812.º-D, al. f): «O agente de execução que receba o processo deve analisá-lo e remetê-lo electronicamente ao juiz para despacho liminar (…) Se o agente de execução suspeitar que se verifica uma das situações previstas nas alíneas b) e c) do n.º 1 do artigo 812.º-E»
Artigo 812.º-F, n.º 1, al. b): «1 - Nos casos previstos no artigo anterior, o juiz indefere liminarmente o requerimento executivo quando: b) Ocorram excepções dilatórias, não supríveis, de conhecimento oficioso». A ilegitimidade é uma excepção dilatória de conhecimento oficioso: art.º 494.º, al. e) e 495.º, do CPC.
Emprega-se a forma de processo sumário [art.º 551.º, n.º
2, al. b), nos casos em que não deva ser executada no próprio processo declarativo como incidente].
» Ao Agente de Execução cabe «suscitar a intervenção do
juiz, nos termos do disposto na alínea d) do n.º 1 do artigo
724.º, quando se lhe afigure provável a ocorrência de alguma das situações previstas no n.º 2 e no n.º 4 do artigo 727.º, ou quando duvide da verificação dos pressupostos de aplicação da forma sumária» (art.º 857.º, n.º 2, al. b). Art.º 724.º, n.º 1, al. d) – Compete ao Juiz decidir outras questões suscitadas pelo agente de execução (= ao actual 809.º, n.º 1, al. d) CPC);
Artigo 727.º, n.º 2, al. b) – Indeferimento liminar por ocorrência de excepções dilatórias, não supríveis, de conhecimento oficioso.
1. CÔNJUGE COMO PARTE EXECUTADA
CONSEQUÊNCIAS EM SEDE DE CONTROLO LIMINAR ANTES DA PENHORA
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TÍTULO EXTRAJUDICIAL
EXCEPÇÃO DE ILEGITIMIDADE PASSIVA
Apesar da dívida poder responsabilizar ambos os cônjuges, isto é, ainda que a dívida seja comunicável, a execução só pode ser instaurada contra a pessoa (cônjuge) que figure no título como devedor e não contra ambos os cônjuges. Se a execução for instaurada contra ambos os cônjuges, ainda que invocada a comunicabilidade da dívida, ocorre a ilegitimidade passível do que não conste como obrigado no título executivo.
Ac. RP, 16.11.1999, proc. 9820522, www.dgsi.pt – “Instaurada execução cambiária com base em cheque apenas assinado pelo cônjuge marido, não é parte legítima para a mesma o cônjuge mulher”.
Ac. RP, 17.01.2000, proc. 9951390, www.dgsi.pt – “Em execução instaurada com base em letra subscrita, como aceitante, por um dos cônjuges, o outro cônjuge é parte ilegítima, mesmo que se invoque o proveito comum do casal, o qual terá de ser previamente apreciado em acção declarativa”.
1. CÔNJUGE COMO PARTE EXECUTADA
CONSEQUÊNCIAS EM SEDE DE CONTROLO LIMINAR ANTES DA PENHORA
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TÍTULO EXTRAJUDICIAL
REGIME ACTUAL
PROJECTO DE NOVO CPC
Se o cônjuge for demandado como executado, mas não figurar como tal no título executivo:
Remessa pelo AGENTE DE EXECUÇÃO do processo ao
JUIZ para despacho liminar:
Artigo 812.º-D, al. f): «O agente de execução que receba o processo deve analisá-lo e remetê-lo electronicamente ao juiz para despacho liminar (…) Se o agente de execução suspeitar que se verifica uma das situações previstas nas alíneas b) e c) do n.º 1 do artigo 812.º-E»
Artigo 812.º-F, n.º 1, al. b): «1 - Nos casos previstos no artigo anterior, o juiz indefere liminarmente o requerimento executivo quando: b) Ocorram excepções dilatórias, não supríveis, de conhecimento oficioso». A ilegitimidade é uma excepção dilatória de conhecimento oficioso: art.º 494.º, al. e) e 495.º, do CPC.
Depende da forma de processo aplicável
Seguirá a forma de processo sumário e, por conseguinte aplicar-se-á a mesma regra enunciada para a execução de título judicial nos seguintes títulos extrajudiciais: » Em título extrajudicial de obrigação pecuniária vencida, garantida por hipoteca ou penhor;
» Em título extrajudicial de obrigação pecuniária vencida cujo valor não exceda o dobro da alçada do tribunal de 1.ª instância
[art.º 551.º, n.º 2, al. c) e d)]
Excepção (aplica-se a forma de processo ordinário): Art.º 551.º, n.º 3, al. c) – “Quando, havendo título executivo diverso de sentença apenas contra um dos cônjuges, o exequente alegue a comunicabilidade da dívida no requerimento executivo”
1. CÔNJUGE COMO PARTE EXECUTADA
CONSEQUÊNCIAS EM SEDE DE CONTROLO LIMINAR ANTES DA PENHORA
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TÍTULO EXTRAJUDICIAL
PROJECTO DE NOVO CPC
Se o cônjuge for demandado como executado, mas não figurar como tal no título executivo:
Se for aplicável forma de processo ordinário:
A secretaria procede à conclusão do processo ao Juiz para despacho liminar (art.º 727.º, n.º 1) e cabe a este indeferir liminarmente o requerimento executivo quando «ocorram excepções dilatórias, não supríveis, de conhecimento oficioso» (in casu, ilegitimidade passiva do cônjuge do executado) – art.º 727.º, n.º 2, al. b).
O Agente de Execução não tem qualquer intervenção nesta fase liminar do processo.
2. O CÔNJUGE COMO INTERVENIENTE
1. REGRAS GERAIS
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O cônjuge do executado tem uma intervenção específica e própria no processo executivo:
1) ALEGAÇÃO PELO EXEQUENTE DA COMUNICABILIDADE DA DÍVIDA
Quando o exequente tenha fundamentadamente alegado no requerimento executivo a comunicabilidade da dívida que seja constante de título diverso de sentença,
• O cônjuge do executado é oficiosamente citado para, em alternativa e no prazo da oposição, declarar se aceita a comunicabilidade da dívida, baseada no fundamento alegado, com a cominação de, se nada disser, a dívida ser considerada comum, para os efeitos da execução e sem prejuízo da oposição que contra ela deduza (art.º 825.º, n.º 2, do CPC).
• Neste caso, a execução também prossegue contra o cônjuge do executado [passa a ser parte directa], podendo inclusive ver penhorados os seus bens próprios, ainda que
subsidiariamente (825.º, n.º 3, do CPC).
A alegação da comunicabilidade da dívida deve estar alicerçada no regime previsto nos artigos 1691.º e 1692.º, do Código Civil
2. O CÔNJUGE COMO INTERVENIENTE
1. REGRAS GERAIS
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2. O CÔNJUGE COMO INTERVENIENTE
1. REGRAS GERAIS
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2. O CÔNJUGE COMO INTERVENIENTE
1. REGRAS GERAIS
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Alguns casos tratados na jurisprudência:
SITUAÇÕES DE PROVEITO COMUM (COMUNICABILIDADE): a) Existência de consentimento do cônjuge para assinar livrança;
b) Aval de letra para viabilizar funcionamento de empresa;
c) Dívida de impostos; d) Dívidas comerciais.
SITUAÇÕES DE INCOMUNICABILIDADE
(RESPONSABILIDADE EXCLUSIVA DO CÔNJUGE DEVEDOR) a) Aquisição de bens por um cônjuge em situação de separação de facto;
b) Condenação por coima;
c) Indemnizações de responsabilidade civil conexas com crime, sendo nesse caso inadmissível a prova de que tenha contribuído para o proveito comum do casal;
d) Assumpção de obrigação de pagar por um dos cônjuges após aprovado o passivo.
SITUAÇÕES ESPECÍFICAS
Se um dos cônjuges pagar ou for demandado para pagar,
após o divórcio, dívidas da responsabilidade de ambos, só
poderá exigir do outro ex-cônjuge o crédito respectivo no momento da partilha dos bens comuns do casal , por já não se poder aplicar, na execução, o disposto no art.º 825.º do CPC.
O vencimento do cônjuge do executado é um bem comum, pelo que, sendo a dívida comunicável, pode ser objecto de penhora, cessando, todavia, tal penhora com a decretação de divórcio.
Se houver litígio sobre a comunicabilidade da dívida, tal
matéria não pode ser apreciada na execução, mas em acção autonomamente instaurada para o efeito:
• Se o cônjuge não aceitar a comunicabilidade da dívida (art.º 825.º, n.º 2 do CPC), cabe-lhe requerer a separação dos bens art.º 825.º, n.º 4) ou instaurar a competente acção declarativa;
• Se o cônjuge recusar a comunicabilidade e não requerer a separação de bens nem apresentar certidão de acção pendente, a execução prossegue sobre os bens comuns (art.º 825.º, n.º 4, in fine).
2. O CÔNJUGE COMO INTERVENIENTE
1. REGRAS GERAIS
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2) POSSIBILIDADE DE PENHORA IMEDIATA DE BENS COMUNS DO CASAL
Quando sejam penhorados bens comuns do casal, por não se conhecerem bens suficientes próprios do executado, estatui o n.º 1 do art.º 825.º do CPC que o cônjuge do executado é
oficiosamente citado para, no prazo de que dispõe para a oposição, requerer a separação de
bens ou juntar certidão comprovativa da pendência de acção em que a separação já tenha sido requerida.
Este regime é distinto do estatuído pelo DL 38/2003.
• Enquanto anteriormente a penhora de bens comuns não se podia efectuar sem que o exequente expressamente requeresse a citação do cônjuge do executado para que requeresse a separação de bens,
• No regime actual, a penhora é efectuada livremente pelo Agente de Execução, mas se o fizer, está obrigado a citar oficiosamente o cônjuge cujos bens comuns foram penhorados para requerer a separação de bens ou juntar certidão comprovativa da pendência de acção em que a separação já tenha sido requerida.
O art.º 825.º, n.º 1 exclui a possibilidade de, quando houver citação (e oposição à execução) em momento prévio à
penhora, o cônjuge do executado possa alegar a
comunicabilidade da dívida no próprio articulado de oposição, na medida em que toma por pressuposto a já efectivada penhora de bens comuns do casal.
De forma diversa, o n.º 6 permite que o executado, no prazo de oposição, alegue fundamentadamente que a dívida, constante de título diverso de sentença, é comum.
Ou seja, o executado pode alegar a comunicabilidade da dívida em sede de oposição à execução, quer esta seja anterior ou posterior à penhora. Já o cônjuge do executado só o pode fazer em momento posterior à penhora ou após a citação que lhe seja efectuada pelo agente de execução, na sequência de alegação fundada de tal comunicabilidade pelo exequente ou pelo executado.
2. O CÔNJUGE COMO INTERVENIENTE
1. REGRAS GERAIS
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O cônjuge do executado tem uma intervenção específica e própria no processo executivo:
3) FALTA DE ALEGAÇÃO DA COMUNICABILIDADE DA DÍVIDA, TENDO HAVIDO PENHORA DE BENS COMUNS
o cônjuge do executado pode, no prazo da oposição, requerer a separação de bens ou juntar a certidão de acção pendente, sob pena de a execução prosseguir nos bens penhorados
que sejam comuns (art.º 825.º, n.º 5 do CPC ou seja, é do seu interesse directo em fazê-lo) ;
o próprio executado pode alegar, no prazo de oposição, quando o título seja diverso de sentença, que a dívida é comum caso em que o seu cônjuge é notificado para se pronunciar (art.º 825.º, n.º 6 do CPC).
1) Apensado o requerimento em que se pede a separação, ou junta a certidão, a execução fica suspensa até à partilha (art.º 825.º, n.º 7).
2) O exequente tem o direito de promover o andamento do inventário para efeitos da separação de bens [art.º 1406.º, n.º 1, al. b), do CPC];
3) O cônjuge do executado tem o direito de escolher os bens com que há-de ser
formada a sua meação e, se usar desse direito, são notificados da escolha os
credores, que podem reclamar contra ela, fundamentando a sua reclamação [art.º 1406.º, n.º 1, al. d), do CPC].
2. O CÔNJUGE COMO INTERVENIENTE
1. REGRAS GERAIS
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O cônjuge do executado tem uma intervenção específica e própria no processo executivo:
4) ESTATUTO SEMELHANTE AO EXECUTADO
O art.º 864.º-A do CPC confere expressamente ao cônjuge do executado um estatuto processual semelhante ao do executado, a saber, é admitido a deduzir, dentro do prazo concedido ao executado, oposição à execução ou à penhora e a exercer, no apenso de verificação e graduação de créditos e na fase do pagamento, todos os direitos que a lei
processual confere ao executado.
Cumpre notar que o cônjuge do executado não é citado apenas quando sejam penhorados bens comuns do casal, mas igualmente quando a penhora tenha recaído sobre bens próprios do executado que este não possa alienar livremente, ou seja, imóveis ou estabelecimento comercial (art.º 864.º, n.º 3, 1.ª parte, do CPC).
2. O CÔNJUGE COMO INTERVENIENTE
1. REGRAS GERAIS
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O cônjuge do executado tem uma intervenção específica e própria no processo executivo:
5) O ESTATUTO DO CÔNJUGE ESTENDE-SE ATÉ À FASE DA VENDA EXECUTIVA
Cônjuge Remidor - Ao cônjuge que não esteja separado judicialmente de pessoas e bens é
reconhecido o direito de remir todos os bens adjudicados ou vendidos, ou parte deles, pelo preço por que tiver sido feita a adjudicação ou a venda, nos termos do disposto nos artigos 912.º a 915.º do CPC, havendo predomínio do direito de remição sobre o direito de preferência
Contudo, apenas o exequente e o credor reclamante que tenha garantia real sobre o bem por si adquirido têm o direito da dispensa de depósito do preço. Os terceiros adquirentes ou os remidores (cônjuge do executado incluído) não estão dispensados do depósito do preço (art.º 887.º, n.º 1, do CPC)
O exercício do direito de remição está excluído do cônjuge que tenha pedido a “separação de pessoas e bens” (art.º 1407.º do CPC) e não apenas a separação de bens ao abrigo do disposto no art.º 825.º, do CPC.
2. O CÔNJUGE COMO INTERVENIENTE
2. PENHORA DE BENS PRÓPRIOS OU COMUNS
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CÓDIGO CIVIL Artigo 1695.º
Bens que respondem pelas dívidas da responsabilidade de ambos os cônjuges
1. Pelas dívidas que são da responsabilidade de ambos os cônjuges respondem os bens comuns do casal, e, na falta ou insuficiência deles, solidariamente, os bens próprios de qualquer dos cônjuges.
2. No regime da separação de bens, a responsabilidade dos cônjuges não é solidária.
Artigo 1696.º
Bens que respondem pelas dívidas da exclusiva responsabilidade de um dos cônjuges
1. Pelas dívidas da exclusiva responsabilidade de um dos cônjuges respondem os bens próprios do cônjuge devedor e, subsidiariamente, a sua meação nos bens comuns.
2. Respondem, todavia, ao mesmo tempo que os bens próprios do cônjuge devedor:
a) Os bens por ele levados para o casal ou posteriormente adquiridos a título gratuito, bem como os respectivos rendimentos;
b) O produto do trabalho e os direitos de autor do cônjuge devedor; c) Os bens sub-rogados no lugar dos referidos na alínea a).
3. Não há lugar à moratória estabelecida no nº 1, se a incomunicabilidade da dívida cujo cumprimento se pretende exigir resulta do disposto na alínea b) do artigo 1692º.
2. O CÔNJUGE COMO INTERVENIENTE
3. ACTOS A PRATICAR | 3.1. PELO EXEQUENTE
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• Se o exequente pretender que em execução instaurada contra um dos cônjuges, respondam e sejam penhorados bens do outro cônjuge, deverá alegar, fundadamente, no requerimento inicial, a
comunicabilidade da dívida (art.º 825.º, n.º 2).
3. ACTOS A PRATICAR | 3.2. PELO EXECUTADO
• Sendo penhorados bens comuns do casal, por não se conhecerem bens suficientes próprios do executado,
este deve no prazo de quinze dias, alegar fundamentadamente que a dívida, constante de título diverso de sentença, é comum (art.º 825.º, n.º 6) ;
• Ou, na mesma situação, se o exequente não invocar a comunicabilidade da dívida, o executado pode, no prazo da oposição à execução, requerer a separação de bens ou juntar a certidão de acção pendente, sob pena de a execução prosseguir nos bens penhorados (art.º 825.º, n.º 5).
2. O CÔNJUGE COMO INTERVENIENTE
3. ACTOS A PRATICAR | 3.3. PELO AGENTE DE EXECUÇÃO
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• Sendo penhorados bens comuns do casal, por não se conhecerem bens suficientes próprios do executado,
o agente de execução cita o cônjuge do executado para, no prazo da oposição à execução, requerer a separação de bens ou juntar certidão comprovativa da pendência de acção em que a separação já tenha sido requerida (art.º 825.º, n.º 1);
• Se o exequente ou o executado tiverem alegado a comunicabilidade da dívida, o agente de execução cita o
cônjuge do executado para, no prazo da oposição à execução, em alternativa, declarar se aceita a
comunicabilidade da dívida, baseada no fundamento alegado, com a cominação de, se nada disser, a dívida ser considerada comum, para os efeitos da execução e sem prejuízo da oposição que contra ela deduza (art.º 825.º, n.º 2) ;
• No prazo de quinze dias após a efectivação da penhora, o agente de execução cita o cônjuge do executado, quando a penhora tenha recaído sobre bens imóveis ou estabelecimento comercial que o executado não possa alienar livremente, ou sobre bens comuns do casal, para deduzir, querendo, dentro do prazo concedido ao executado, oposição à execução ou à penhora e a exercer, no apenso de verificação e graduação de créditos e na fase do pagamento, todos os direitos que a lei processual confere ao executado,
2. O CÔNJUGE COMO INTERVENIENTE
3. ACTOS A PRATICAR | 3.4. PELO CÔNJUGE DO EXECUTADO
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• Se o cônjuge do executado reconhecer a comunicabilidade da dívida mas não pretender que a execução prossiga relativamente aos bens comuns deverá requerer a separação de bens ou juntar certidão comprovativa da pendência de acção em que a separação já tenha sido requerida (art.º 825.º, n.º 1) . Neste caso, a execução fica suspensa até à partilha (art.º 825.º, n.º 7);
• Se o cônjuge nada disser ou tenha recusado a comunicabilidade mas não requerer a separação de bens ou se não juntar certidão comprovativa da instauração da acção para separação judicial de pessoas e bens, a execução prossegue sobre os bens comuns (art.º 825.º, n.º 4) ;
• Se o cônjuge do executado aceitar a comunicabilidade da dívida e nada requerer, a execução prossegue também contra o cônjuge não executado, cujos bens próprios podem nela ser subsidiariamente penhorados, ou seja, o mesmo adquire o estatuto de parte principal quando seja citado nos termos dos art.os 825.º e 864.º-A do CPC, a título de litisconsórcio passivo .
• O cônjuge do executado que seja citado nos termos da al. a) do n.º 3 do art.º 864.º do CPC, pode deduzir,
dentro do prazo concedido ao executado, oposição à execução ou à penhora e a exercer, no apenso de
verificação e graduação de créditos (incluindo a impugnação de créditos dos credores reclamantes) e na fase do pagamento, todos os direitos que a lei processual confere ao executado (art.º 864.º-A).
2. O CÔNJUGE COMO INTERVENIENTE
4. VISÃO DA POSIÇÃO DO CÔNJUGE NO PROJECTO DO NOVO CPC
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2. Prolação de despacho de citação
• Se deduzido no requerimento executivo, o Juiz, no despacho liminar, ordena a citação do cônjuge do
executado (727.º, n.º 7) para os mesmos efeitos actualmente previstos (requerer a separação de bens ou juntar certidão comprovativa da pendência de acção em que a separação já tenha sido requerida).
• O art.º 743.º, n.º 2, prevê que (qualquer que seja o momento da dedução), o cônjuge do executado é citado.
INVOCAÇÃO DA COMUNICABILIDADE DA DÍVIDA PELO EXEQUENTE (título diverso da sentença)
1. Momento para dedução do incidente de comunicabilidade da dívida
• No requerimento executivo;
• Ou até ao início das diligências para venda ou adjudicação, devendo, neste caso, constar de requerimento autónomo, o qual é autuado por apenso (art.º 743.º, n.º 1).
• Diferença: Actualmente, o momento para esse exercício é apenas o requerimento inicial (art.º 825.º,
n.º 2)
• Consequência: A dedução deste incidente nessa altura, determina a suspensão da venda, quer dos bens próprios do cônjuge executado que já se mostrem penhorados, quer dos bens comuns do casal,
2. O CÔNJUGE COMO INTERVENIENTE
4. VISÃO DA POSIÇÃO DO CÔNJUGE NO PROJECTO DO NOVO CPC
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INVOCAÇÃO DA COMUNICABILIDADE DA DÍVIDA PELO EXEQUENTE (título diverso da sentença)
3. Termos da citação do cônjuge
• O cônjuge é citado para, no prazo de vinte dias, declarar se aceita a comunicabilidade da dívida, baseada
no fundamento alegado
• Cominação: se nada disser, a dívida será considerada comum, sem prejuízo da oposição que contra ela
deduza (art.º 743.º, n.º 2, in fine).
• Diferença: Embora a cominação seja a mesma, não há a alternativa hoje prevista no n.º 2, do art.º
825.º (alternativa entre pedir a separação de bens ou declarar se aceita a comunicabilidade), pois a faculdade de pedir a separação de bens decorre apenas após a penhora de bens comuns (art.º 742.º, n.º 1).
2. O CÔNJUGE COMO INTERVENIENTE
4. VISÃO DA POSIÇÃO DO CÔNJUGE NO PROJECTO DO NOVO CPC
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INVOCAÇÃO DA COMUNICABILIDADE DA DÍVIDA PELO EXEQUENTE (título diverso da sentença)
4. Impugnação da Comunicabilidade (incidente a ser deduzido pelo cônjuge do executado)
4.1. Se comunicabilidade tiver sido alegada no requerimento executivo [743.º, n.º 3, al. a)]
• Cônjuge pretende opor-se à execução: a impugnação deve ser deduzida nesse articulado. Neste caso, se o recebimento da oposição não suspender a execução, apenas podem ser penhorados bens comuns do casal, mas a sua venda aguarda a decisão a proferir sobre a questão da comunicabilidade.
• Cônjuge não pretende opor-se à execução: impugnação deduzida em articulado próprio.
4.1. Se comunicabilidade tiver sido alegada em requerimento autónomo[743.º, n.º 3, al. b)]
2. O CÔNJUGE COMO INTERVENIENTE
4. VISÃO DA POSIÇÃO DO CÔNJUGE NO PROJECTO DO NOVO CPC
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INVOCAÇÃO DA COMUNICABILIDADE DA DÍVIDA PELO EXEQUENTE (título diverso da sentença)
5. Consequências
5.1. Dívida é julgada comum
• A execução prossegue também contra o cônjuge não executado, cujos bens próprios podem ser nela subsidiariamente penhorados (art.º 743.º, n.º 5).
• Regime idêntico ao actual art.º 825.º, n.º 3, do CPC
5.2. Dívida não é considerada comum
• Se tiverem sido penhorados bens comuns do casal, o cônjuge do executado deve, no prazo de 20 dias após o trânsito em julgado da decisão, requerer a separação de bens ou juntar certidão
comprovativa da pendência da acção em que a separação já tenha sido requerida, sob pena de a
execução prosseguir sobre os bens comuns.
• Regime só em parte idêntico ao art.º 825.º, n.º 1 (diverge porque nesta fase já há decisão sobre a natureza da dívida, enquanto que no actual art.º 825.º, n.º 1, o único acto praticado nesta índole é o da penhora de bens comuns).
• Consequência: aplica-se regime do art.º 742.º, n.º 2 - apensado o requerimento de separação ou junta a certidão, a execução fica suspensa até à partilha.
2. O CÔNJUGE COMO INTERVENIENTE
4. VISÃO DA POSIÇÃO DO CÔNJUGE NO PROJECTO DO NOVO CPC
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INVOCAÇÃO DA COMUNICABILIDADE DA DÍVIDA PELO EXECUTADO (título diverso da sentença)
1. Requisitos para invocação
• Execução movida apenas contra um dos cônjuges • Penhora de bens próprios do executado
2. Momento para arguição
• Apenas na oposição à penhora
3. Ónus acrescido à alegação
• O executado deve especificar imediatamente quais os bens comuns que podem ser penhorados (cfr. art.º 744.º, n.º 1). Deve entender-se que a falta desta indicação é fundamento para o incidente não ser admitido pelo Juiz, por falta de um dos seus elementos essenciais.
2. O CÔNJUGE COMO INTERVENIENTE
4. VISÃO DA POSIÇÃO DO CÔNJUGE NO PROJECTO DO NOVO CPC
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INVOCAÇÃO DA COMUNICABILIDADE DA DÍVIDA PELO EXECUTADO (título diverso da sentença)
4. Citação do cônjuge
• O cônjuge do executado é citado para, no prazo de 20 dias, declarar se aceita a comunicabilidade da dívida, baseada no fundamento alegado, com a cominação de que, se nada disser, a dívida será considerada comum (art.º 743.º, n.º 2, ex vi art.º 744.º, n.º 1, in fine).
5. Oposição do exequente ou impugnação pelo cônjuge
• A questão é resolvida pelo juiz no âmbito do incidente de oposição à penhora, suspendendo-se a venda dos bens próprios do executado (art.º 744.º, n.º 2).
6. Consequências sobre o julgamento (se a dívida é ou não comum)
• As mesmas supra referidas quanto a invocação da comunicabilidade da dívida seja feita pelo exequente (art.º 743.º, n.os 5 e 6 ex vi art.º 744.º, n.º 2, in fine).
2. O CÔNJUGE COMO INTERVENIENTE
4. VISÃO DA POSIÇÃO DO CÔNJUGE NO PROJECTO DO NOVO CPC
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OUTRAS MATÉRIAS
1. Citação do cônjuge sendo penhorados determinados bens
• Mantém-se a citação do cônjuge (actualmente prevista no art.º 864.º, n.º 2), quando a penhora tenha recaído sobre bens imóveis ou estabelecimento comercial que o executado não possa alienar livremente [art.º 788.º, n.º 1, al. a)];
2. Os mesmos direitos
• O art.º 789.º do projecto do Novo CPC mantém o mesmo estatuto do cônjuge, actualmente previsto no art.º 864.º-A, com excepção do direito de deduzir oposição à execução. Contudo, na dedução da oposição à penhora, pode cumular eventuais fundamentos de oposição à execução.
• Cfr. o mesmo direito concedido quanto à impugnação dos créditos reclamados (art.º 791.º, n.º 1) e o direito de remição (art.º 844.º), desde que não separado de pessoas e bens.
JOEL TIMÓTEO RAMOS PEREIRA Juiz de Direito de Círculo
Adjunto do Gabinete de Apoio do Conselho Superior da Magistratura
Grato pela atenção dispensada
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