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Sumário: Designação de gerentes. Registo do referido facto. Ata notarial. Qualificação. Retificação.

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Proc.º n.º R. Co. 36/2012 SJC-CC

Sumário: Designação de gerentes. Registo do referido facto. Ata notarial. Qualificação. Retificação.

Recorrente: Albino M…..

Recorrida: Conservatória do Registo Comercial de …...

Relatório

1 – A coberto da apresentação n.º …, de 22 de junho de 2012, na conservatória ora recorrida foi efetuada, em termos definitivos, a inscrição n.º 8 respeitante à designação dos membros dos órgãos sociais da sociedade H….. Esteves & G……, Lda., cuja deliberação, tomada em assembleia geral que ocorreu na data supra mencionada, foi consignada em ata notarial redigida pela senhora notária Sofia H…… (convocada pelo sócio a que cabe a presidência da Assembleia Geral), que também desencadeou a instância via online.

O extrato da referida inscrição publicita que foram designados os seguintes gerentes: Bruno D…., Rodrigo D….. e Silvina D…..

2 – No mesmo dia, e com respeito à mesma sociedade, foi apresentado o pedido de registo a que coube a apresentação n.º …, relativo à designação dos gerentes Fernando L… e José C….., que ocorreu sob o signo da inscrição n.º .., a qual veio também a ser efetuada em termos definitivos.

Serviu de base ao registo, igualmente pedido por via online pelo advogado Santos ……., uma ata notarial lavrada pela senhora notária Raquel P……., que acolheu a deliberação pretensamente tomada na assembleia geral do referido dia 22 de junho de 2012.

3 – Quanto ao ponto único da convocatória – eleição e designação de gerentes – consta das aludidas atas, que aqui se dão por integralmente reproduzidas, além do mais, que o sócio Albino M….. propôs que, para exercer o cargo de gerentes fossem designadas as seguintes pessoas: Bruno D…., Rodrigo D…. e Silvina D……, das quais, para demonstração das suas qualidades e experiência profissionais, foi junto o respetivo

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Pelos restantes sócios – Vera, João e Fernando F….1 – foi apresentada a proposta de nomeação dos gerentes Fernando L… e de José C...

O presidente da mesa da assembleia geral declarou, porém, que estes sócios se encontram numa clara situação de conflito de interesses com a sociedade e, por isso, impedidos de exercer o direito de voto de harmonia com o previsto no n.º 1 do artigo 251.º do CSC.

Relembrou também que os referidos sócios foram destituídos dos seus cargos de gerentes, nos termos e ao abrigo do disposto no n.º 2 do artigo 75.º do CSC, em 31 de maio de 2012, e que o único sócio que não se encontra impedido de votar é o sócio Albino M..., que vota, naturalmente, a favor da proposta por si apresentada, aprovando-a.

Os demais sócios contestaram tal aprovação, bem como a existência de impedimentos da parte deles (embora existam impedimentos sim, mas relativamente ao presidente e ao seu representante), pelo que detendo eles a maioria do capital social votam contra esta proposta e votam favoravelmente a proposta que apresentaram elegendo, consequentemente, para gerentes os referidos Fernando L.... e José C...

Por fim, o presidente da mesa reafirmou a aprovação da primeira proposta e a não aprovação da segunda, devido à existência de impedimentos, e deu por encerrados os trabalhos, suspendendo a sessão por uma hora para elaboração da ata, a que se seguirá a leitura e assinatura da mesma.

As duas atas foram assinadas apenas pelo presidente da mesa e, cada uma delas, pela respetiva notária que a redigiu, já que os sócios Vera, João e Fernando abandonaram deliberadamente o local onde decorria a assembleia antes da leitura da ata, vincando que não a pretendem assinar nem, tão pouco, a lavrada pela notária que eles próprios tinham convocado.

1

A sócia Vera procedeu à divisão da sua quota e cessão da nova quota a favor do referido Fernando F…..

Contudo, como se infere da informação carreada para os autos, o consentimento da sociedade não foi prestado, pelo que a cessão de quotas não produz efeitos em relação à sociedade enquanto tal não se verificar, ainda que de forma implícita – cfr. os artigos 221.º, n.º 4, 228.º, n.º 2, 230.º, 246.º, n.º 1, alínea b), do CSC.

Ora, nestas situações, a sociedade pode, querendo, ignorar a cessão da quota, continuando o cedente a ter legitimidade para exercer os direitos sociais, designadamente os respeitantes ao direito de voto – cfr., neste sentido, RAUL VENTURA, in Sociedade por Quotas, Volume I, pág. 585, bem como COUTINHO DE ABREU, in Curso de Direito Comercial, Volume II, págs. 359 e segs.

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4 – A feitura da última inscrição de designação de gerentes (a n.º 9) desencadeou um pedido de retificação (ap. ../20120720) por parte do sócio Albino M..., casado no regime da comunhão geral com a já referida gerente Silvina, com vista à declaração de nulidade do registo já que foi indevidamente lavrado por violação do disposto na alínea a) do n.º 1 do artigo 22.º do CRC, ou, refere ainda à cautela, do disposto na alínea c) do mesmo preceito, devendo, em qualquer dos casos, ser o mesmo cancelado.

Alega, em síntese, que não entende como é que a senhora conservadora considerou que havia sido aprovada a designação dos gerentes Fernando L.... e José C..., quando de nenhuma das atas apresentadas resulta que tenha sido aprovada tal designação, antes delas resultando precisamente o contrário.

Socorrendo-se da doutrina do parecer do Conselho Técnico proferido no proc.º n.º R.Co.5/2010 SJC-CT2, salienta que só podem ser registados os factos constantes de documentos que legalmente os comprovem.

E que da ata não consta que tenha havido aprovação e proclamação – o presidente da mesa da assembleia não declarou que a proposta de designação destes gerentes tenha sido aprovada.

Por outro lado, se dúvidas existirem acerca da existência da própria deliberação social, o registo só poderá ser elaborado em termos definitivos em face do accertamento efetuado em sede judicial.

Ora, in casu, não resulta de nenhuma das atas apresentadas que a designação dos gerentes Fernando L…. e José C…. tenha sido aprovada, pelo que a correspondente inscrição n.º 9 deve ser retificada, por se tratar de um registo indevidamente lavrado, devendo considerar-se nulo nos termos do disposto na alínea a) do n.º 1 do artigo 22.º do CRC, ou, à cautela, do disposto na alínea c) do mesmo preceito, devendo, qualquer que seja o enquadramento legal do caso, tal registo ser cancelado.

5 – A senhora conservadora, depois de salientar (e bem) que compete ao presidente da assembleia geral orientar e dirigir os trabalhos, assim como verificar as presenças e proclamar as deliberações que são aprovadas, e que não lhe compete a ela emitir pronúncia sobre os impedimentos de voto alegados, decide proceder à retificação do registo (instalando alguma dúvida no ora recorrente já que não procede à imprescindível concretização do registo a retificar), qualificando-o como provisório por

2

O aludido parecer encontra-se disponível em www.irn.mj.pt (Doutrina), tendo a decisão nela proferida sido confirmada, nos seus precisos termos, pelo Tribunal da Relação do Porto (3.ª secção) em 29 de Setembro de 2011 (Proc.º n.º 4 847/10.1TBVFR.P1).

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natureza nos termos da alínea b) do n.º 2 do artigo 64.º do CRC, por dependência da inscrição n.º 11 (ap. ../20120912).

Esta inscrição respeita à ação judicial instaurada pelos sócios João, Vera, Rafael, Daniel e Fernando F.... contra o sócio Albino M... e a sociedade «H… Esteves & G…., na qual se pede que seja anulada a deliberação tomada, precisamente, na assembleia geral de 22 de junho de 2012 e consequentemente a destituição dos gerentes Bruno D…., Silvina D…. e Rodrigo D….., e considerada válida a eleição dos gerentes apresentados pelos requerentes.

Decorrentemente é da decisão judicial a proferir no âmbito desta ação que há de resultar a validade e o alcance do título em causa e qual das duas nomeações deve ser considerada válida, pelo que a ação registada tem de ser agora tida em consideração.

6 – É contra o aludido despacho que o requerente vem manifestar a sua discordância interpondo o presente recurso hierárquico (ap…/20121025), reproduzindo na respetiva petição, essencialmente, os argumentos expendidos no pedido de retificação do registo.

Salienta, ex novo, que a decisão padece de nulidade já que além de não se pronunciar sobre o pedido de cancelamento da inscrição n.º 9, parece decidir em objeto diverso do pedido.

Na verdade, não se consegue descortinar, com segurança, qual o registo que vai ser qualificado como provisório por natureza uma vez que invoca o registo da ação intentada pelos sócios não requerentes, o que constitui uma «decisão surpresa» violadora do princípio do contraditório.

Nestes termos, o ato deve ser revogado para todos os efeitos legais, procedendo-se ao conhecimento do pedido de retificação da inscrição n.º 9, o qual por se tratar de um registo indevidamente lavrado, deve ser considerado nulo nos termos da alínea a) do n.º 1 do artigo 22.º do CRC ou, por mera cautela, nos termos da alínea c) do mesmo preceito, com o consequente cancelamento do mesmo.

7 – Os contra-interessados Fernando L…. e José C….3 vêm deduzir oposição com base nos fundamentos que aqui damos por integralmente reproduzidos, sem prejuízo de salientarmos, muito em síntese, o seguinte:

3

Inicialmente os ora oponentes não tinham sido notificados. No entanto, o cumprimento do disposto no n.º 1 do artigo 90.º do CRC exige que todos os interessados não requerentes sejam notificados para, no prazo de 10 dias, deduzirem oposição à retificação.

Ora, para o efeito, consideram-se interessados não requerentes todos aqueles que figurem nas tábuas como titulares de posições jurídicas inscritas, uma vez que podem vir a ser afetados com a decisão de retificação que venha a ser proferida no respetivo processo.

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7.1 – Existe, na verdade, um claro conflito de interesses previsto no artigo 251.º do CSC já o presidente da mesa da assembleia geral, em representação do seu pai, estava a auto-eleger, sendo todos os gerentes nomeados familiares (pai, filho e mãe) que pretendem apenas obter benefícios pessoais em detrimento dos interesses da sociedade.

Admitem que não obstante a lista apresentada pelos sócios Vera, João e Fernando F.... seja a mais vantajosa para a empresa não foi votada, tendo estes sido impedidos de exercer o seu direito de voto, em claro abuso de direito já que não se verificava o condicionalismo legal da inibição referida pelo presidente.

Nestes termos, a deliberação tomada na assembleia geral é anulável, anulabilidade esta que, aliás, foi já arguida em tribunal pelos sócios preteridos.

7.2 – A ilegalidade que, em suma, existe respeita à eleição dos gerentes constantes da inscrição n.º 8, e não à eleição dos gerentes constantes da inscrição n.º 9, razão pela qual deve improceder o pedido de retificação apresentado.

8 – Descrita a factualidade dos autos e as posições em confronto cumpre apreciar, visto que o processo é o próprio, o subscritor da petição de recurso tem legitimidade e o da oposição encontra-se devidamente mandatado, sendo o recurso tempestivo e inexistindo outras questões prévias ou prejudiciais que obstem ao conhecimento do mérito.

II – Fundamentação

1 – O processo de retificação de registos inexatos e de registos indevidamente lavrados encontra-se previsto e regulados nos artigos 81.º e segs. do Código do Registo Comercial (doravante, CRC).

O ora recorrente veio, ao abrigo do disposto no artigo 82.º do CRC, pedir a retificação do registo de designação dos gerentes Fernando L.... e José C... mediante cancelamento, dado que padece da nulidade prevista na alínea a) do n.º 1 do artigo 22.º do citado Código, ou, à cautela, na alínea c) do mesmo número e preceito.

2 – Chamamos a atenção, antes de mais, para o facto de o objeto do pedido de retificação se restringir ao cancelamento da inscrição n.º 9 – designação dos gerentes Fernando L.... e José C... – devido à pretensa nulidade da mesma.

Os sócios Vera, João e Fernando F.... não deduziram qualquer oposição ao pedido de retificação do registo.

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Em face de tal pedido é inconcebível que a decisão do conservador possa recair sobre a retificação de qualquer outro registo ainda que, por esse motivo, tenha tomado conhecimento de alguma outra irregularidade.

Ora, se fosse esse o caso, a senhora conservadora tinha de, por sua iniciativa, promover o respetivo processo de retificação, com observância das disposições pertinentes e, a final, emitir decisão, nos termos legais, dado que lhe incumbe promover oficiosamente a retificação dos registos logo que tome conhecimento de qualquer irregularidade que ponha em causa a exata coincidência do registo com o direito que está titulado4.

Tal exigência decorre inexoravelmente do interesse público na existência de registos válidos, do desiderato essencial da publicidade registral e da presunção derivada do registo por transcrição – cfr. o disposto nos artigos 1.º e 11.º do CRC.

3 – Posto isto, vejamos, então, as melindrosas e complexas questões suscitadas nos autos, designadamente as atinentes aos poderes do presidente da mesa da assembleia geral e à extensão destes, bem como à existência ou não de deliberação consignada na ata notarial subjacente à designação dos referidos gerentes, tendo em conta que a proposta apresentada pelos sócios maioritários Vera, João e Fernando F.... não terá merecido aprovação, porque só os proponentes a votaram favoravelmente e estes, segundo o entendimento (soberano) do presidente da assembleia geral, encontravam-se impedidos de exercer o seu direito de voto.

3.1 – Decorre do n.º 4 do artigo 248.º do CSC que, salvo disposição diversa do contrato de sociedade, a presidência da assembleia geral compete ao sócio que possuir ou representar maior fração de capital, preferindo, em igualdade de circunstâncias, o mais velho.

No caso a presidência pertencia ao sócio Albino M..., que se encontrava representado pelo seu filho Bruno.

A direção e condução dos trabalhos cabe ao presidente da assembleia geral (ao Bruno, in casu), devendo, a final, proceder ao escrutínio e proclamar o resultado das deliberações tomadas.

Quer isto dizer que o controlo da legalidade da reunião dos sócios em assembleia geral compete ao presidente da mesa da assembleia geral – designadamente, o reconhecimento e certificação da identidade dos sócios participantes e a fração de capital

4 Neste sentido, veja-se, entre outros, o parecer proferido no proc.º n.º C.P.27/2001 SJC-CT, in BRN n.º 10/2001.

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que cada um representa, bem como a verificação de quais, entre os presentes, deterão, ou não, direito de voto.

Mesmo quando o ato de documentação da reunião da assembleia geral for lavrado por notário, ao abrigo do disposto no n.º 6 do artigo 63.º do CSC, como é o caso configurado nos autos, é pacífico o entendimento de que não lhe cabe o controlo da legalidade da reunião.

A solicitação do notário para realização do instrumento notarial avulso não o investe numa função de controlo da legalidade da assembleia geral, devendo limitar-se a proceder à narração dos factos relevantes, com a força e as garantias inerentes a um documento autêntico.

Neste sentido, o n.º 6 do artigo 46.º do Código do Notariado (CN) é bem elucidativo dos poderes do notário prescrevendo que este lavra os instrumentos de atas de reuniões de órgãos sociais com base na declaração de quem dirige a assembleia, devendo os referidos instrumentos ser assinados pelos sócios presentes e pelo notário.

3.2 – No que respeita ao escrutínio é de sublinhar, com base nos ensinamentos de Pinto Furtado5, que corresponde a uma acertação ou acertamento constitutivo, pois culmina por uma declaração de ciência (ou declaração de conhecimento) que faz surgir no mundo jurídico uma categoria até aí inexistente.

Sem ele, isto é, sem o escrutínio não pode materialmente saber-se em que sentido se pronunciou o colégio e, assim, se a proposta de deliberação sobre determinada matéria fez ou não vencimento.

É em consequência de tal que o n.º 2 do artigo 63.º do CSC exige que, para além do teor das deliberações tomadas [alínea f) do referido número

],

o resultado conste expressamente da ata, em cumprimento do prescrito na alínea g), do mesmo número e artigo, não podendo consubstanciar-se e ter existência jurídica a deliberação sem o seu concurso. Daqui que a doutrina considere que o seu valor é inexoravelmente constitutivo.

Por seu turno, a proclamação do resultado, sendo embora um ato exterior à deliberação, destina-se ela também a firmar, tal como o escrutínio, a sua certeza de molde a evitar contestações em relação ao resultado obtido, constituindo, pois, verdadeiramente, uma certificação.

Com a proclamação, tal como no escrutínio, o presidente afirma um saber, não um

querer ou um supervoto, que, como se sabe, não lhe assiste.

5

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3.3 – Pois bem, da ata apresentada para registo não só não consta que a proposta apresentada pelos sócios Vera, João e Fernando F....6, tenha sido aprovada, como consta precisamente o contrário.

A atestá-lo transcrevemos a seguir um breve excerto da parte final da ata subscrita pela notária Raquel P….. (que serviu de base ao registo ora posto em crise), referente à declaração do presidente da mesa, imediatamente precedida do encerramento dos trabalhos: «Atento o impedimento dos sócios Vera, João e Fernando F.... quanto ao ponto único da ordem de trabalhos fica aprovada a proposta apresentada pelo sócio Albino M... e consequentemente são eleitos e designados gerentes da sociedade, Bruno D..., Rodrigo D.... e Silvina D....».

3.4 – As deliberações sociais só podem ser provadas pelas atas das assembleias gerais ou, quando sejam admitidas deliberações por escrito, pelos documentos donde elas constem, em face do disposto nos artigos 54.º, n.º 1, e 63.º, n.ºs 1 e 4, do CSC7.

As deliberações correspondem, em regra, a um processo genético próprio, verbal, pelo que é imprescindível vertê-las em documento que as testemunhe. Ora, o documento no qual são consignados os factos ocorridos na reunião do órgão colegial é designado por ata, a qual constitui uma formalidade ad probationem8.

3.5 – Os instrumentos de atas de reuniões sociais podem, porém, ser lavrados por notário quando a assembleia assim o delibere ou a solicitação de qualquer sócio nos termos prescritos no n.º 6 do artigo 63.º do CSC.

A disciplina que rege os referidos instrumentos encontra-se consagrada na lei notarial, diferindo da preconizada para as atas em geral, designadamente no que concerne ao seu conteúdo (artigo 46.º do Código do Notariado) e à sua força probatória.

6 O presidente da mesa da assembleia geral impugna a presença de Fernando F.... em virtude de a sociedade não ter dado consentimento à divisão e cessão de quotas efetuada pela sócia Vera a favor deste – cfr., em conformidade, o que preceitua o artigo 230.º, n.º 6, do CSC.

7 A deliberação, segundo PINTO FURTADO, in ob. cit., pág. 238, pode definir-se como a afirmação de vontade imputável a um ente coletivo, residualmente integrada pelo conteúdo comum do feixe de declarações recetícias paralelas (votos) que formam o seu núcleo mais numeroso (deliberação maioritária).

8 A propósito da natureza da deliberação veja-se também B

RITO CORREIA, in Direito Comercial – Deliberações dos Sócios, III Volume, 1989, págs. 98 e segs., bem como PEDRO PAIS DE

VASCONCELOS, in A Participação Social nas Sociedades Comerciais, 2.ª edição, 2006, págs. 114 e segs., designadamente no que tange ao vício que pode incidir sobre o próprio voto, como por exemplo no caso em que o sócio está impedido de votar (artigos 251.º e 384.º, n.º 6, do CSC).

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De acordo com o prescrito no n.º 1 do artigo 369.º do Código Civil são autênticos os documentos que provenham de autoridade ou oficial público competente em razão da matéria e do lugar, e não esteja legalmente impedido de os lavrar.

Os instrumentos notariais avulsos revestem a forma de documentos autênticos – artigos 369.º e 370.º do Código Civil –, e fazem prova plena dos factos que referem como praticados pelo notário, assim como dos factos que neles são atestados com base na percepção da entidade autenticadora, só podendo ser ilidida mediante a instauração do incidente de falsidade, como decorre do preceituado nos artigos 371.º, n.º 1, e 372.º, n.º 2, do Código Civil9.

4 – O n.º 1 do artigo 32.º do CRC, sob a epígrafe «Prova documental», preceitua que só podem ser registados os factos constantes de documentos que legalmente os comprovem.

Nestes termos, afigura-se-nos que é manifesto que o documento apresentado para titular o registo se mostra insuficiente para a prova legal do facto, razão pela qual o registo peticionado a coberto da ap. ../20120622 deveria ter sido recusado ao abrigo do prescrito na alínea b) do n.º 1 do artigo 48.º do CRC.

Não tendo sido essa a qualificação que, ao tempo, lhe coube, o registo então efetuado é nulo em face do disposto na alínea b) do n.º 1 do artigo 22.º do CRC.

Os registos indevidamente lavrados que enfermem da nulidade prevista na aludida norma podem ser cancelados mediante consentimento de todos os interessados ou em execução de decisão tomada em processo de retificação ao abrigo do prescrito no n.º 2 do artigo 82.º do CRC.

4.1 – No caso vertente, não foi possível obter o consentimento dos demais interessados, pois é patente a litigiosidade existente entre todos eles, restando, portanto, a via da decisão tomada em processo de retificação.

Não obstante a decisão prolatada pela senhora conservadora não concretize sobre que inscrição incide, uma inabalável certeza existe, não se pode pronunciar validamente sobre objeto diverso do que consta do pedido de retificação nem tal terá, certamente, passado pelo seu espírito.

É que tanto o averbamento de pendência da retificação como a anotação da interposição do recurso hierárquico foram, como não podia deixar de ser, devidamente registados com referência à inscrição n.º 9 – cfr. o disposto nos artigos 87.º, n.º 1, 92.º,

9 Veja-se, sobre o ponto, A

NTUNES VARELA ePIRES DE LIMA, in Código Civil Anotado, Volume I,

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n.º 1, e 111.º, n.º 1, todos do CRC –, o que reforça a ideia de que, em última instância, é esta a inscrição visada pela senhora conservadora e não qualquer outra.

4.1.1 – Mas ainda que se defendesse, como o recorrente, que estamos perante uma situação de omissão de pronúncia sobre o objeto do pedido (ou de incerteza acerca do objeto da relação jurídica a que se refere o facto registado) o que conduz à nulidade do despacho prolatado pela senhora conservadora, ainda assim a entidade ad quem é competente para, neste caso, conhecer diretamente do recurso, suprindo a alegada omissão da recorrida, nos termos das disposições conjugadas dos artigos 668.º, n.º 1, alínea d), e 715.º, n.º 1, do CPC, subsidiariamente aplicável por força do disposto no n.º 1 do artigo 81.º do CRC10.

5 – Posto isto, afigura-se-nos ser agora o momento oportuno para se fazer uma breve alusão à limitação dos poderes de qualificação do conservador no que concerne à aferição da existência, ou não, dos alegados impedimentos do exercício do direito de voto dos sócios.

A lei que rege as sociedades comerciais prevê a existência de impedimentos de voto consagrando no seu artigo 251.º um princípio geral, seguido de uma enumeração de vários tipos de situações, meramente exemplificativa11.

Apesar de se verificar uma notória situação de conflito entre os sócios, que alegam de parte a parte a existência de impedimentos, tais incumbências são da exclusiva responsabilidade da assembleia geral, sendo que, no caso de diferendo, tal matéria só pode ser apreciada pelo tribunal, e a solicitação expressa dos interessados12.

Por conseguinte, da concreta existência, ou não, de impedimentos ao exercício do direito de voto apenas aos tribunais cumpre aquilatar, e mesmo assim só mediante pedido expresso dos interessados, sendo que o registrador não pode nem deve

10 Transcrevemos, por ilustrativa e aqui aplicável com as necessárias adaptações, a 5.ª conclusão firmada no parecer proferido pelo Conselho no proc.º n.º R.P.265/2009 SJC-CT, segundo a qual: «Em sede de recurso hierárquico de decisão proferida em processo de registo o presidente do Instituto dos Registos e do Notariado, I.P. deve conhecer do objeto do recurso em substituição do recorrido quando a decisão registral for nula (cfr. art.s 668.º, n.º 4, e 715.º, n.º 1, do C.P.C.)».

11 Confira-se, a este propósito, RAUL VENTURA, in Sociedades por Quotas, II Volume, 1989, págs. 275 e segs.

12 Sobre o ponto veja-se, entre outros, B

RITO CORREIA, in Direito Comercial – Deliberações dos Sócios, III Volume, 1989, págs. 147 e segs.

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se nas questões relacionadas com os alegados impedimentos do exercício do direito de votos dos sócios presentes na assembleia geral13.

6 – Na sequência da metodologia adotada, é tempo de salientar que os próprios oponentes – Fernando e José – salientando embora que a inscrição n.º 9 foi corretamente efetuada, admitem (contraditória e inexplicavelmente, é certo) que a proposta da sua designação não foi aprovada e, por outro lado, reputam apenas de anulável a deliberação de designação dos gerentes inscritos nas tábuas a coberto da ap. ../20120622 (insc. n.º 8).

Ora, consabidamente, a anulabilidade não legitima a qualificação minguante do correspondente pedido de registo, sendo que a mesma só deixará de produzir os seus efeitos caso seja anulada por decisão judicial transitada em julgado, tendo esta, assim, efeitos constitutivos14.

7 – Antes de concluirmos o exame desta problemática não podemos deixar de fazer uma brevíssima referência à existência do registo de ação (ap…/20120912) para sublinharmos que independentemente do sentido da sentença que nela venha a ser proferida, tal não impede que seja prolatada decisão neste processo de retificação de registo (e concretizada, logo que «transite»), sendo que a provisoriedade ora convocada pela senhora conservadora – alínea b) do n.º 2 do artigo 64.º do CRC – é inaplicável ao caso configurado nos autos.

Resulta da aludida norma com razoável clareza que o conservador ao qualificar um pedido de registo que dependa de outro provisório o deve efetuar como provisório por natureza. Esta dependência, contudo, só funciona em sentido descendente, vale por dizer, não é o pedido efetuado em segundo lugar que afeta o primeiro mas este que afeta a qualificação dos subsequentes.

13 Para mais desenvolvimentos sobre a matéria atinente ao impedimento de voto vejam-se os pareceres do Conselho proferidos nos proc.ºs n.ºs R.Co. 130/2001 DSJ-CT, in BRN n.º 6/2003, II Caderno, pág. 29, R.Co. 32/2006 DSJ-CT e R.Co. 5/2008 SJC-CT, estes últimos disponíveis em

www.irn.mj.pt (Doutrina).

14 Vejam-se, entre muitos outros, os pareceres proferidos nos proc.º n.ºs 75/87 R.P.3, in Pareceres do Conselho Técnico, Volume I, págs. 347 e segs., R.Co. 202/2002 DSJ-CT, in BRN n.º 10/2002, II Caderno, págs. 17 e segs., R.Co. 5/2008 SJC-CT e R.Co. 4/2009 SJC-CT, estes últimos disponíveis em www.irn.mj.pt.

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Na verdade, tendo o registo da ação sido efetuado em momento posterior ao do registo da designação dos gerentes e ao do pedido de retificação da inscrição não pode interferir com a decisão do presente processo, atenta a prioridade dos registos.

8 – Assim, em face do que precede, a posição deste Conselho vai condensada nas seguintes

Conclusões

I – O pedido de registo baseado em título insuficiente para a prova do facto deve ser recusado ao abrigo do disposto na alínea b) do n.º 1 do artigo 48.º do Código do Registo Comercial.

II – O registo por transcrição é nulo quando tiver sido efetuado com base em títulos insuficientes para a prova legal do facto registado, como decorre do prescrito na alínea b) do n.º 1 do artigo 22.º do Código supracitado.

III – Os registos indevidamente efetuados que padeçam da nulidade prevista na norma referida na conclusão anterior podem ser cancelados com o consentimento de todos os interessados ou em execução de decisão tomada no âmbito do processo de retificação nos termos do preceituado no n.º 2 do artigo 82.º do Código do Registo Comercial.

IV – As deliberações dos sócios são provadas pelas atas das assembleias gerais ou, quando sejam admitidas deliberações por escrito, pelos documentos donde elas constem, em face do disposto nos artigos 54.º, n.º 1, e 63.º, n.ºs 1 e 4, do Código das Sociedades Comerciais.

V – Decorrentemente, verificando-se que a inscrição da designação de gerentes em apreço foi efetuada com base em ata notarial que não consigna a deliberação desse facto deve ser cancelada, dado que o facto registado não se encontra titulado nos documentos apresentados em cumprimento do prescrito no n.º 1 do artigo 32.º do mesmo Código.

Em conformidade com o exposto, entendemos que o presente recurso hierárquico merece provimento.

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Parecer aprovado em sessão do Conselho Consultivo de 18 de setembro de 2013. Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, relatora, Luís Manuel Nunes Martins, Carlos Manuel Santana Vidigal, Ana Viriato Sommer Ribeiro, Maria Madalena Rodrigues Teixeira.

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