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DESPACHO. Juiz(a) de Direito: Dr(a). Renata Martins de Carvalho Alves VISTOS.

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Academic year: 2021

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DESPACHO Processo nº: 579.10.000546-6

Classe - Assunto: Ação Civil Pública - Obrigações

Requerente: Defensoria Pública do Estado de São Paulo- Defensoria Regional de Taubaté Requerido: Município de São Luiz do Pariatinga e outro

Juiz(a) de Direito: Dr(a). Renata Martins de Carvalho Alves

VISTOS.

A DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO promove AÇÃO CIVIL PÚBLICA, com pedido liminar, contra MUNICÍPIO DE SÃO LUIZ DO PARAITINGA e ESTADO DE SÃO PAULO alegando, em síntese, que o

aniquilamento e assoreamento da calha do Rio Paraitinga e as várias cheias sucessivas do referido rio indicavam que a enchente que assolou a cidade na passagem do Ano Novo de 2009/2010 era previsível; que vários fatores contribuíram para a perda e o abalo patrimonial e psíquico dos munícipes, especialmente das comunidades pobres, quais sejam, a ausência de projetos habitacionais, a construção de moradias em áreas de preservação permanente pelos pobres com direto estímulo dos Poderes Públicos, a omissão do Estado e do Município no combate aos fatores de degradação ambiental responsáveis pelos impactos negativos na bacia do Rio Paraitinga e a previsibilidade das cheias do rio, fatores que somados às fortes chuvas que atingiram a região no final de Dezembro/09 foram os responsáveis diretos pela maior tragédia ambiental vivenciada pela população de São Luiz do Paraitinga e especialmente pelas 308 (trezentos e oito) famílias constituídas de pessoas pobres que a Defensoria ora representa nesta ação.

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A autora aduz que passados mais de 06 (seis) meses da tragédia as referidas famílias continuam desalojadas, esquecidas em pousadas e abrigos improvisados, e devido ao não cumprimento das promessas políticas veiculadas após a catástrofe, algumas famílias voltaram para suas antigas moradias situadas em área de “alto risco” conforme laudo técnico do IPT. Assevera que o “auxílio-moradia” concedido pelo Governo do Estado, normatizado pelo Decreto Estadual n° 55.334/2010, no ínfimo valor de R$ 300,00 (trezentos reais) mensais, que deveria perdurar durante o estado de calamidade foi cessado sem prévia explicação. Sustenta que o DAEE, autarquia estadual responsável pelos recursos hídricos, até o momento não informou sobre a existência de projeto para a recuperação ambiental das matas ciliares junto ao Rio Paraitinga, bem como para o desassoreamento e a revitalização do rio.

A requerente sustenta que inexistia Defesa Civil estruturada no Município de São Luiz do Paraitinga, apesar de obrigatória a inserção ao SINDEC; que alerta meteorológico foi emitido pelo CPTEC, do INPE, com 72 horas de antecedência da enchente, que poderia prevenir os efeitos do desastre anunciado, mas foi ignorado pela Defesa Civil; que a omissão dos órgãos estatais na fiscalização e na observância das normas ambientais viabiliza as violações ambientais e estimula as construções erigidas em áreas de APPs e na ocupação do Morro do Cruzeiro; que os requeridos devem ressarcir, solidariamente, às vítimas da tragédia que perderam suas casas no âmbito material e moral em decorrência da responsabilidade objetiva do Estado por omissão.

Requer a concessão da antecipação da tutela nos termos dos quatro pedidos descritos no item “A” da inicial e, ao final, a procedência da ação com a condenação dos réus ao pagamento de indenização coletiva conforme pedidos descritos no item “C” da inicial, e do réu Município de São Luiz do Paraitinga a restituir à quantia de R$ 96.108,35 (noventa e seis mil cento e oito reais e trinta e cinco centavos) e na obrigação de fazer de dar a correta destinação ao montante remanescente das doações (R$ 485.514,47). Juntou documentos.

A Promotora de Justiça opinou pela concessão parcial dos pedidos antecipatórios.

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DECIDO.

Com efeito, é de conhecimento público que há muito tempo as águas das cheias do Rio Paraitinga atingem a cidade de São Luiz do Paraitinga e causam prejuízos ao patrimônio público e aos munícipes e, principalmente, aos moradores de baixa renda atingidos em suas residências.

Neste momento processual não cabe analisar as causas e a suposta responsabilidade dos entes e órgãos públicos envolvidos na problemática das sucessivas inundações e enchentes do Rio Paraitinga, porque necessárias as manifestações das requeridas e a produção de outras provas.

Contudo, é fato notório, amplamente divulgado pela imprensa escrita e falada, que a enchente do Rio Paraitinga que assolou parte do Município de São Luiz do Paraitinga na passagem do Ano Novo de 2009/2010 e, sobretudo, tornou submersa parte da área central da cidade, causou prejuízos materiais de grande monta para número significativo de munícipes e, especialmente, para 308 (trezentas e oito) famílias constituídas de pessoas pobres, que foram diretamente atingidas em suas residências pelas águas do rio e tiveram que deixar suas casas, muitas situadas em área de risco, conforme laudo do IPT.

Assim sendo, é inquestionável que intervenções de caráter imediato e emergencial devem ser executadas pelos réus para evitar nova catástrofe, inclusive na estação chuvosa que se aproxima (verão), considerando as precárias condições da calha do rio (assoreamento, erosão, desvio, entulho, etc.) e a necessidade de reconstruir a área central da cidade, incluídas a reconstrução das edificações públicas, dos casarões tombados, dos estabelecimentos comerciais, das residências das famílias atingidas pela enchente, especialmente, das famílias de baixa renda, com a segurança de que o dinheiro público e o investimento privado foram bem empregados.

Os documentos acostados à inicial indicam que estudos técnicos foram iniciados pelos órgãos públicos, especialmente estudo hidrológico e hidráulico

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pelo DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica) da Bacia do Rio Paraitinga, mas decorridos 08 (oito) meses da catástrofe ainda não foram concluídos.

Portanto, assiste razão à requerente ao sustentar que a apresentação do projeto de retificação, desassoreamento e recuperação da calha do Rio Paraitinga e da mata ciliar é medida urgente para evitar nova catástrofe. E nesse sentido a Promotora de Justiça reiterou que é de suma importância a apresentação imediata do projeto.

Por conseguinte, o pedido liminar descrito no item A.1

da inicial deve ser concedido, mas com prazo para o cumprimento de 60 (sessenta) dias, em

razão da complexidade dos trabalhos técnicos e do envolvimento de vários órgãos públicos. No que refere à execução da obra de contenção da encosta da Rua Bernardo Joaquim Dias em relação à Rua Sebastião Pinto Figueira, conforme informação da Promotora de Justiça há procedimento específico em trâmite na Promotoria de Justiça e os documentos acostados comprovam que a obra foi iniciada em 11 de junho de 2010 e o término está previsto para outubro/10, de acordo com o projeto de “Estabilização de Taludes” elaborado pela Prefeitura Municipal de São Luiz do Paraitinga (anexo). Portanto, ao menos por ora, não há necessidade da concessão do pedido liminar descrito no item A.2.

De igual modo, em relação ao pagamento do auxílio habitacional denominado auxílio-moradia, a Promotora de Justiça informou que há Inquérito Civil em trâmite na Promotoria de Justiça em razão de denúncias de irregularidades no cadastramento das famílias beneficiárias (concessão para famílias que não preenchiam os requisitos erigidos no Decreto Estadual n° 55.334/10).

Desta forma, o restabelecimento do pagamento do benefício do auxílio-moradia é medida inadequada e temerária, ante ao risco do pagamento indevido e injusto, de modo que não há como acolher o pedido liminar descrito no item A.3 da

inicial, ao menos até o momento em que a ré Prefeitura Municipal de São Luiz do Paraitinga

elabore novo cadastro com as famílias que realmente atendam aos requisitos do Decreto Estadual n° 55.334/10.

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Em relação ao pedido liminar de bloqueio do valor remanescente das doações recebidas pela ré Prefeitura Municipal de São Luiz do Paraitinga, de cunho humanitário, à evidência, o uso do dinheiro deve observar os princípios norteadores da Administração Pública e ser aplicado em benefício dos luizenses atingidos pela catástrofe.

Os fatos narrados pela requerente indicam que parte do montante foi aplicado para outros fins, o que foi admitido, inclusive, pela ré Prefeitura Municipal de São Luiz do Paraitinga (ofício de fls. 219 juntado à inicial). Assim, como medida de cautela, o bloqueio do valor remanescente é indispensável até que a citada ré apresente um projeto de destinação social dos recursos, no prazo de 30 (trinta) dias.

Isto posto, pelas razões expostas, concedo parcialmente

a liminar para determinar:

1. Ao ESTADO DE SÃO PAULO, através do DAEE e da Secretaria Estadual de Meio Ambiente

e demais órgãos envolvidos na temática, no prazo de 60 (sessenta) dias a contar da intimação desta decisão, para que apresente projeto de retificação, desassoreamento e recuperação da calha e da mata ciliar da Bacia do Rio Paraitinga, como medida necessária para prevenir novos desastres ambientais, contendo cronograma do início e término das obras, sob pena de multa diária de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) em caso de descumprimento da medida;

2. O BLOQUEIO DO VALOR REMANESCENTE DAS DOAÇÕES no montante de R$

388.460,35 (trezentos e oitenta e oito, quatrocentos e sessenta reais e trinta e cinco centavos) ou no valor equivalente ao saldo existente na conta corrente n° 202020-3

do Banco do Brasil e conta corrente n° 006/12-2, da Caixa Econômica Federal, ambas agências de Taubaté;

3. À PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO LUIZ DO PARAITINGA para que apresente

projeto de destinação social do valor remanescente para as vítimas efetivas da enchente, para a recuperação da moradia ou de mobiliário, no prazo de 30 (trinta) dias, sob pena de multa diária de R$ 1.000,00 (um mil reais) até o efetivo cumprimento.

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Proceda-se ao bloqueio das contas correntes através do BACEN/JUD e, se necessário, requisite-se os dados necessários à Prefeitura Municipal de São Luiz do Paraitinga, via telefone, certificando-se. Cumpra-se urgente.

Proceda-se à citação dos réus com as advertências legais e à intimação da presente decisão.

Int.

S.L.P., 18.Agosto.2010.

RENATA MARTINS DE CARVALHO ALVES Juíza de Direito

Referências

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