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VIOLÊNCIA HOMOFÓBICA NÃO-LETAL EM VÁRZEA GRANDE/MT: ASPECTOS DA REALIDADE PERANTE A LEGISLAÇÃO E DEMANDA CONTIDA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

NÚCLEO INTERINSTITUCIONAL DE ESTUDOS DA VIOLÊNCIA E CIDADANIA CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM POLÍTICAS DE SEGURANÇA PÚBLICA E

DIREITOS HUMANOS

VIOLÊNCIA HOMOFÓBICA NÃO-LETAL EM VÁRZEA GRANDE/MT: ASPECTOS DA REALIDADE PERANTE A LEGISLAÇÃO E DEMANDA CONTIDA

Keile Tatiane Almeida Leonço

Cuiabá-MT 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

NÚCLEO INTERINSTITUCIONAL DE ESTUDOS DA VIOLÊNCIA E CIDADANIA CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM POLÍTICAS DE SEGURANÇA PÚBLICA E

DIREITOS HUMANOS

VIOLÊNCIA HOMOFÓBICA NÃO-LETAL EM VÁRZEA GRANDE/MT: ASPECTOS DA REALIDADE PERANTE A LEGISLAÇÃO E DEMANDA CONTIDA

Monografia apresentada como requisito obrigatório para obtenção do título de Especialista em Políticas de Segurança Pública e Direitos Humanos, pela UFMT – ICHS, sob orientação da Professora Vera Lúcia Bertoline.

Keile Tatiane Almeida Leonço

Cuiabá-MT 2015

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Keile Tatiane Almeida Leonço

VIOLÊNCIA HOMOFÓBICA NÃO-LETAL EM VÁRZEA GRANDE/MT: ASPECTOS DA REALIDADE PERANTE A LEGISLAÇÃO E DEMANDA CONTIDA

Monografia submetida à Banca Examinadora e julgada adequada para a concessão do Grau de ESPECIALISTA EM POLÍTICAS DE SEGURANÇA PÚBLICA E DIREITOS HUMANOS.

Nota obtida:___________

_______________________________________ MSc Vera Lucia Bertoline

Prof.ª Orientadora e Presidente da Banca

_______________________________________ Dr. Moisés Alessandro de Souza Lopes

Prof.º Examinador

_______________________________________ Dr.ª Silvana Maria Bitencourt

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Dedicatória

Dedico este trabalho a todos aqueles que acreditaram na minha vitória.

A minha família que me deu suporte nos momentos que mais precisei.

Aos professores que me deram apoio durante a busca e superação dos desafios.

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Agradecimentos

Agradeço a Deus, por me permitir desfrutar de saúde e paz.

Obrigado pela benção de estar rodeado de pessoas de bem e por estar presente na minha vida me protegendo e orientando pelos caminhos das maravilhas e da fé.

Agradeço a minha família que em meus momentos ausente compreendeu e me incentivou a seguir em frente.

A professora orientadora agradeço pela paciência e apoio.

Enfim a todos os colegas pelos momentos bons que juntos compartilhamos.

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RESUMO

O interesse por este trabalho iniciou-se a partir da atividade na Polícia na 3.ª Delegacia de Polícia Jardim Glória na condição de escrivã nas investigações dos delitos que compõem esta natureza de violência no município de Várzea Grande, em Mato Grosso. Aborda aspectos gerais da história da homossexualidade, das normas internacionais e nacionais em seus afins técnico-jurídicos diante da realidade sócio-empírica. Investiga a realidade empírica dos dados compilados pelas Delegacias da Polícia Civil em Várzea Grande/MT e o que estes fornecem de subsídio quanto à efetivação dos princípios universais de Direitos Humanos, diante da estrutura funcional (atendimento e instauração de procedimento judicial) e a forma da compilação desses dados. A observação constatou que a confecção dos respectivos dados, da forma como ocorre, determina a não especificidade legal de dados da violência homofóbica não-letal, e influencia na contingência desta demanda. Questiona que na atual realidade, a gestão de demanda do quantitativo e qualitativo da criminalidade mediante aplicação de dados, depende da correlação entre a atualização dos Sistemas de Dados Estatísticos da atividade da Polícia Civil, e as características específicas das vítimas lésbicas, “gays”, bissexuais, travestis e transsexuais numa perspectiva de avaliação crítica da realidade institucional. Propõe reflexão de novo paradigma sobre o antagonismo em ser uma pessoa com característica(s) diferente(s) contraria a condição da pessoa humana, e também, de que a realidade da violência e criminalidade homofóbicas está somente na condição de ser uma pessoa com características diferentes. Enfoca nas formas instrumentais que as ciências humanas e sociais referendam essa realidade do fenômeno social, como um rico e proveitoso meio de aprender a conviver em sociedade, mas para tanto e como pressuposto, é necessária a devida formação e a atualização profissional de gestores da demanda e de seus instrumentos de aferição da ocorrência de crimes. Contextualiza que é possível, na forma da lei vigente, fazer gestão de demanda de criminalidade e não de violência.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO... 08

ABORDAGENS SOBRE A HOMOSSEXUALIDADE, VIOLÊNCIA E CRIMINALIDADE NÃO-LETAL... 12

1.1 Nomenclaturas... 12

1.2 Marcos cronológicos sobre a homossexualidade... 14

1.3 Violência homofóbica e Criminalidade homofóbica... 17

REFERÊNCIAS DE DIREITOS CONRA A VIOLÊNCIA À PESSOA HUMANA... 24

2.1 A Declaração Universal dos Direitos Humanos... 24

2.2 A Constituição Federal / 1988 e o Programa Brasil Sem Homofobia lançado em 2004... 24

2.3 O conceito de violência homofóbica não-letal e o Código Penal... 25

2.4 ONG´s e Associações afins: dados estatísticos oficiais e a cifra negra... 32

A COGNIÇÃO DA DEMANDA DOS CRIMES NÃO-LETAIS CONTRA ÀS VÍTIMAS LGBTT EM VÁRZEA GRANDE/MT... 35

3.1 O Fluxo do Sistema de Justiça Criminal e a realidade da ausência de dados de estatística policial... 35

CONSIDERAÇÕES FINAIS... 48

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 49

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CONSULTADAS... 51

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ÍNDICE DE SIGLAS

3.ªDPJG/VGMT – Terceira Delegacia de Polícia/Jardim Glória/Várzea Grande/MT ASTRAMT – Associação Estadual das Travestis de Mato Grosso

CRDH – Centro de Referência de Direitos Humanos GRECO – Grupo Estadual de Combate a Homofobia IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

DERF/VGMT – Delegacia Especializada de Roubos e Furtos/Várzea Grande/MT GGB – Grupo Gay da Bahia

GGI – Gabinete de Gestão Integrada IP – Inquérito Policial

LGBTT – Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais

LIBLÉS – Associação de Defesa dos Direitos Humanos das Mulheres Lésbicas e Bissexuais

de Mato Grosso

PJC/MT – Polícia Judiciária Civil de Mato Grosso

SINESP Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais e sobre Drogas SEJUDH/MT – Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos de Mato Grosso SESP/MT – Secretaria de Estado de Segurança Pública de Mato Grosso

SROP – Sistema de Registro de Ocorrências TCO – Termo Circunstanciado de Ocorrência

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INTRODUÇÃO

O interesse por este trabalho iniciou-se a partir da atividade na Polícia Civil na condição de escrivã nas investigações dos delitos que compõem esta natureza de violência no município de Várzea Grande, em Mato Grosso. De forma particular, quando do atendimento a uma travesti, no exercício das atribuições na 3.ª Delegacia de Polícia Jardim Glória, foi vislumbrada a possibilidade de pesquisar a contingência da demanda a Delegacia pelo público LGBT.

Dentre os objetivos propostos destaca-se: compreender a diferença entre violência e criminalidade homofóbicas não letais e contextualizá-la no âmbito das perspectivas teórica, social, histórica e cultural - trazidos na primeira parte da pesquisa. A fim de elucidar os aspectos da realidade buscou-se respaldo legal, além da observação/vivência da atuação profissional da Polícia Judiciária Civil no controle da criminalidade da violência homofóbica não letal - apresentados na terceira parte do trabalho.

A identificação/disponibilização de dados estatísticos - oficiais e não oficiais - existentes sobre a violência homofóbica não letal, referente à região metropolitana de Várzea Grande/MT, buscou-se trazer para o acervo acadêmico, parte da realidade que a Polícia Civil de Mato Grosso, com enfoque no município pesquisado, suporte necessário diante das exigências profissionais, como cidadãos com deveres pautados nos direitos humanos - responsabilidade de todos em sociedade. Para tanto ao relacionar o serviço público que a Polícia Judiciária Civil/MT deve realizar no que se refere à violência homofóbica não letal, com a competência institucional de controle de criminalidade a partir da garantia da ordem e cumprimento da lei, buscou-se construir, de modo científico, o conhecimento empírico da(s) área(s) urbana(s) da região metropolitana de Várzea Grande de incidência e de perspectivas de incidência criminal e de violência envolvendo a população LGBTT nas condições de vítima de crimes.

É importante frisar que este estudo se caracteriza por seu caráter técnico científico e não militante, uma vez que na nossa cultura de “rotulações”, em tese, necessariamente todos os pesquisadores e agentes públicos que trabalham nas questões afetas à população lésbicas, gays, bissexuais e transexuais e transgêneros (LGBTT) seriam representantes que militam o reconhecimento da liberdade, orientação e dignidade sexual.

Essa cultura de “rotulações” não se sustenta quando se conhece o trabalho de pessoas heterossexuais no combate a homofobia, junto aos Poderes Executivo, Legislativo, Judiciário, Grupo Estadual de Combate a Homofobia no Estado (GRECO), Centro de Referência de Direitos Humanos da capital (CRDH), nas Políticas Sociais, ONGs e todas as instâncias envolvidas distribuídas pelo município pesquisado e no exemplo da própria Universidade de Mato Grosso com o Núcleo Interinstitucional de Estudos da Violência e Cidadania da

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Universidade de Mato Grosso (UFMT) e o Grupo de Pesquisa de Antropologia da UFMT com o Professor Dr. Moisés Alessandro de Souza Lopes – Professor Adjunto do Departamento de Antropologia da UFMT.

Observamos a legislação constitucional, a extravagante,1 a penal vigente observando o movimento dos Projetos de Lei Complementar (PLC) 122 e Projeto de Lei no Senado (PLS) 236/2012, com relação aos princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana e da não discriminação. Toda esta gama de normas é observada quanto as suas aplicabilidades aos crimes de violência não-letal que se estende à população de LGBT, às demais populações consideradas minorias vulneráveis (negros, mulheres, idosos, portadores de necessidades especiais), assim como à qualquer brasileiro ou residente no país que por qualquer meio sofra discriminação - relegado a exclusão da condição de pessoa humana.

O contexto sobre a violência e criminalidade não-letal aos não-heterossexuais ocorre nas formas de homofobia definidas: explícita (agressões físicas e/ou verbais); implícita (ironia, heteronormatividade) e silenciosa (ausência de discussão sobre diversidade sexual) e a demanda de suas causas e consequências está no limiar da atual discussão de análise sócio-cultural e política, servindo de circunstância ao tema deste trabalho, que por sua vez tem por objetivo a demanda de procedimentos policiais de investigação dos crimes, ora existentes em Várzea Grande/MT.

Procuramos descrever essa demanda dentre as demais demandas contidas da Polícia Civil no município investigado, e como as realidades - legal e empírica - se relacionam com as diretrizes governamentais frente à atual realidade de políticas públicas afins.

Dentre as datas que se referem aos principais fatos da história da homossexualidade, a pesquisa bibliográfica em ordem cronológica iniciou-se a partir da antiguidade do mundo ocidental até os tempos atuais, e nesta linha do tempo observamos que na antiguidade haviam regras rigorosas de aceitação e inclusão da homossexualidade. A literatura inscreve que para ocorrer sua inclusão social se cumpriam regras de permissão. Localizamos este dado histórico na sociedade da Grécia antiga a mais de dois mil anos e inserimos na segunda tabela dos marcos cronológicos descrito na primeira parte do trabalho.

Noutro momento da história, quando o império romano decai, elencado na mesma síntese da tabela dos marcos cronológicos, observamos outra sociedade, que a seu tempo, não permite àquelas regras para aceitação, temos um exemplo dos primórdios da exclusão social da homossexualidade na história do mundo ocidental. As pessoas homossexuais continuaram as mesmas pessoas humanas que até então exteriorizavam sua identidade não-heterossexual, mas as regras sociais do pós queda do império romano não reconheciam os princípios de direitos humanos que estavam embutidos nos ideais filosóficos da antiguidade greco-romana tais como “a igualdade da pessoa humana”, de modo que não percebiam nas pessoas não-heterossexuais outra pessoa humana. Até porque o conhecimento não era laicizado, a

1A legislação penal que não está no texto do Código Penal: Lei de Contravenções Penais; Crimes de Competência da Lei 9.099/95 (Juizados Especiais Criminais) Crimes Eleitorais; e Crimes de competência estadual da Lei 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento);

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sociedade passou a ser um misto de guerreiros leigos e servos, classes sem qualquer instrução da literatura Greco-romana.

Observamos que os princípios de direitos humanos existiam para a história do ocidente no período da queda do império romano e também naquele momento eram antagônicos às regras sociais da não aceitação da homossexualidade. Convivemos até hoje co esta recusa social, e estamos convivendo em sociedades que o conhecimento é considerado “laico” em ralação a Grécia antiga, porém a cultura possui a tradição da não aceitação da pessoa humana não heterossexual como uma pessoa humana igual a outra heterossexual. É desta forma que assinalamos as referências de Direitos Humanos na atualidade.

E, esta ‘não aceitação’ não nos parece ter muito a relacionar com “ter conhecimento” dos princípios fundamentais dos direitos humanos, observamos pela bibliografia que a tradição ocidental da recusa da pessoa não-heterossexual como pessoa tão humana quanto a pessoa heterossexual parece ser uma reprodução social de preconceito.

Na mesma tabela citada acima, inserimos na evolução histórica no início dos anos setenta o movimento homossexual até aderirem as demais identidades de gênero, em que o discurso da igualdade entre as pessoas humanas também se vale da Declaração Universal dos Direitos Humanos. É a partir da Declaração Universal dos Direitos Humanos e recorrentes regras normativas internacionais e nacionais, que se instrumentaliza o controle legal da antagonia entre princípios universais de humanidade e a realidade da violência letal e não-letal ao longo da história. É possível deduzir que estes referenciais legais se constróem para reafirmar os movimentos sociais por legislações e normas de conduta a respeito não só deste recorte do objeto referente à forma específica de violência como o da violência em termos gerais.

A par de creditarmos compreensão à importância dos dados elencados no problema de pesquisa, (os dados conhecidos pelo aparato de organizações estatais e não estatais de representação da população de lésbicas, “gays”, homossexuais, travestis e transsexuais - LGBT), seguimos o estudo das relações intrínsecas e extrínsecas entre o movimento de proteção de Direitos Humanos e a Polícia Civil em Várzea Grande/MT. Isto porque, principalmente as organizações afetas diretamente a população alvo são detentores de informações, dados e conhecimentos próprios do meio social das vítimas, que são por essência peça do quebra-cabeça denominado investigação policial.

Por outro lado, relatamos que na história da segurança pública brasileira, a investigação policial da violência letal e não-letal sofrida por vítimas homossexuais, possui um marco importante no ano de 2004 com o lançamento do Programa Brasil Sem Homofobia. Hoje, ainda caminhamos pela efetivação desta primeira política pública do governo federal para a população LGBT.

Buscamos investigar a “efetivação” dos princípios de Direitos Humanos na realidade empírica da atuação profissional da Polícia Civil no citado município, enquanto integrante do Fluxo de Sistema de Justiça Criminal e produtora de procedimentos policiais e da apuração da

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prova criminal que subsidiam a ação judicial - produto do Poder Judiciário -, ao devido processo legal e julgamento.

Não somente isso, mas também, nos deparamos que são necessárias outras pesquisas ainda não realizadas sobre o respectivo município, a fim de responder a questão da efetivação dos Direitos Humanos, tais como: o mapeamento e a vitimização da população não-heterossexual, a interatividade de dados entre as instituições representativas não-estatais e instituições estatais do sistema de justiça criminal, dentre outras.

Sem óbices que o trabalho de investigação é próprio da Polícia Civil, mais importante é a criminalidade não-letal que foi investigada por um trabalho interativo entre órgãos e instituições. A questão pontual foi confirmada na fala do Dr. Anderson Aparecido dos Anjos Garcia atual Delegado Geral de Polícia Judiciária Civil de Mato Grosso, no Seminário ‘Investigação Policial e Crimes de Homofobia’, ocorrido em 17/05/2014 no auditório da Instituição em Cuiabá/MT, em homenagem ao dia 17/05/1990, quando a Organização Mundial de Saúde retirou a homossexualidade do Cadastro Internacional de Doenças.

Todas as pesquisas com o aporte desta e demais vindouras, haverão de contribuir para elaboração de políticas públicas estatais que atendam à demanda da criminalidade não-letal às pessoas LGBT do município de Várzea Grande/MT, haja vista, que a criminalidade letal desta parcela da população várzea-grandense é demanda da Delegacia Especializada de Homicídio e Proteção à Pessoa com sede em Cuiabá/MT.

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ABORDAGENS SOBRE A HOMOSSEXUALIDADE, VIOLÊNCIA E CRIMINALIDADE NÃO-LETAL

1.1 Nomenclaturas:

O termo homossexual:

“A homossexualidade pode ser defina como a atração afetiva e sexual por uma pessoa do mesmo sexo. A palavra homossexual deriva de duas raízes: do grego “hómos” =˃ igual ou o mesmo; do latim – “sexualis” => sexo. É importante ressaltar que a palavra “sexo” é usada em dois sentidos diferentes: um refere-se ao gênero e define como a pessoa é, ao ser considerada como sendo do sexo masculino ou feminino; e o outro se refere à parte física da relação sexual.” (SENASP, 2009, MOD. 1, p. 15-16)

Antes os atos homossexuais eram referidos pelo termo sodomia de origem bíblica narrada em Gênesis 19 em que homens da cidade de Sodoma teriam assediado dois visitantes sexualmente. “Sodomia se define como o “concúbito [ajuntamento carnal] de homem com homem ou mulher com mulher” (Dicionário Michaelis, 1998 In SENASP, 2009, MOD.1, p.24), em 1869 foi cunhado o termo homossexual pelo médico húngaro Karóly Benkert que escreveu uma carta ao Ministério da Justiça da Alemanha, utilizando pela primeira vez o termo homossexual, condenando a artigo 175 daquele novo código penal que determinou que os atos sexuais entre homens fossem considerados delitos (vide Tabela. 2)

As siglas GLBT, LGBT ou LGBTT das identidades das pessoas não-heterossexuais se invertem nas ordens de indicação no decorrer dos tempos, mas não alteram o conteúdo das siglas, que representam (L) lésbicas, (G) gays, (B) bissexuais, (T) travestis e (T) transsexuais. Neste contexto: “Identidade de gênero é o sentimento de masculinidade e feminilidade que acompanha a pessoa ao longo da vida[...]” e “Orientação sexual é a atração afetiva e/ou sexual que uma pessoa sente pela outra[...]” (SENASP, 2009, MOD.1, p. 8). Outros conceito básicos precisam ser citados:

“Gays: são indivíduos masculinos que se relacionam afetiva e sexualmente com pessoa do mesmo sexo[...]; Lésbicas: São mulheres que se relacionam afetiva e sexualmente com outras mulheres; Bissexuais: são indivíduos que se relacionam sexual e afetivamente com pessoas de ambos os sexos; Transexuais: São pessoas que não aceitam o sexo que ostentam anatomicamente. A pessoa se identifica com o sexo oposto[...]; Travestis. A pessoa possui o sentimento de masculinidade ou feminilidade oposto a sua genitália, mas não deseja se submeter a cirurgia de readequação sexual” (SENASP, 2009, p. 18 e p.20)

A atração sexual pelo outro, quando os sexos biológicos opostos se atraem é compreendida por parcela da sociedade como a atração sexual “normal”. Há o famoso estudo de Kinsey sobre esta observação de “normalidade” da qual podemos deduzir que esta parcela

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da sociedade vê apenas o que estava aparecendo na esfera pública social. O estudo de Kinsey resultou em uma tabela conhecida como Escala Kinsey:

“Orientação sexual é a atração afetiva e/ou sexual que uma pessoa sente pela outra. Kinsey(1948), a partir de pesquisas sobre as práticas sexuais de milhares de pessoas nos Estado Unidos na década de 40, estabeleceu uma escala de orientação sexual, variando de 0 (exclusivamente heterossexual) até 6 (exclusivamente homossexual), com diversas graduações entre os dois extremos. Ele constatou que no decorrer da vida de uma pessoa, sua posição na escala pode variar, não necessariamente sendo fixa. Embora o ser humano tenha a possibilidade de escolher se vai demonstra ou não seus sentimentos, os psicólogos não consideram que a orientação sexual seja uma opção consciente que possa ser modificada por um ato de vontade (Conselho Federal de Medicina, 1999)” (SENASP, 2009, MOD. 1, p. 16-17)

TABELA 1 - ESCALA DE KINSEY Ponto na escala Descrição

0 Exclusivamente heterossexual

1 Predominantemente heterossexual e, homossexual apenas casualmente. 2 Predominantemente heterossexual e, homossexual mais que casualmente. 3 Igualmente heterossexual e homossexual (bissexual)

4 Predominantemente homossexual e, heterossexual, mais que casualmente. 5 Predominantemente homossexual e, heterossexual apenas casualmente. 6 Exclusivamente homossexual.

X Assexual (não tem desejo sexual).

Fonte SENASP, Curso à Distância, Segurança Pública Sem Homofobia, Módulo 1, p.17

O Grupo de Pesquisa de Antropologia da UFMT, sob a coordenação do Professor Dr. Moisés Alessandro de Souza Lopes – Professor Adjunto do Departamento de Antropologia da UFMT – desenvolveu pesquisa para “identificar e desenvolver uma análise das diferentes construções de gênero existentes no mundo LGBT de Cuiabá” (LOPES, 2014, p.1), quando também explora que no início era um movimento homossexual de lésbicas nos anos 1970, e após travestis e transexuais no final dos anos 70 e por último bissexuais nos anos 2000 começam a se fazer visíveis.

No Seminário “Investigação Policial e Crimes de Homofobia” realizado no auditório da Diretoria Geral da Polícia Judiciária Civil de Mato Grosso no dia 17/05/2014, em Cuiabá, o professor citado afirmou não concordar com o termo diversidade sexual, “pois a diversidade está nos campos das crenças e etnias, assim como, dizer diversidade sexual seria negar a heterossexualidade e melhor seria a identidade LGBT” (LOPES, In Seminário realizado pela Polícia Judiciária Civil de Mato Grosso ‘Investigação Policial e Crimes de Homofobia’, 17.maio.2014). É segue afirmando que,

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“[...] o termo homofobia, é insidioso e complexo, possui aspectos psicológicos individuais e aspectos sociais, além de ser um fenômeno cultural, assim como, dizer que racismo e sexismo como equivalentes, é o argumento que podemos citar para fundamentar a violência que retira toda a condição de humanidade das vítimas em que o sexo biológico não determina o comportamento de gênero[...]” (LOPES, In Seminário ‘Investigação Policial e Crimes de Homofobia’, 17.maio.2014).

1.2 Marcos cronológicos sobre a homossexualidade

É no contexto da reprovação da condição de humanidade das pessoas não-heterossexuais que se constroem marcos na cronologia da homossexualidade. Reunimos as pontuais referências que a SENASP veiculou em 2009 no conteúdo do Curso de Capacitação à Distância “Segurança Pública Sem Homofobia”, e para ilustrar concentramos em ordem de data as informações dos marcos temporais sobre a criminalidade na tabela que segue:

TABELA 2. CRONOLOGIA DA HOMOSSEXUALIDADE

+ de 2000 anos (Antiguidade) Grécia e Roma relacionamento homossexuais permitidos sobre regras sociais rigorosas, entre homens mais velhos e adolescentes, como forma de transmissão de sabedoria.

Sparta e Tebas, regiões da Grécia em que haviam relacionamentos homossexuais entre soldados.

c. 610-580 a. C. Grécia, a poetisa Safo vivia na ilha de Lésbos onde existia forte cultura de convivência entre mulheres. Origem da palavra “lésbica”.

Declínio do império Greco-Romano As culturas de aceitação da homossexualidade se perderam no tempo.

Concepção Cristã (Idade Média) A homossexualidade da concepção cristã como pecado construiu gradativamente culturas de reprovação.

1533 Lei da Sodomia “Buggery Statute” vigorou até 1861

Determinou como crime as relações sexuais entre homens; entre um homem e um animal e entre uma mulher a um animal e entre uma mulher e um animal (a lei foi omissa em relação ao sexo entre mulheres), tendo como pena o enforcamento. Em 1861 a pena passou a ser a prisão perpétua.

Portugal e Espanha no período da colonização

Instalaram a cultura de repressão à homossexualidade, em particular a masculina, nas colônias do Novo Mundo (ex. Brasil).

Brasil Colônia A prática homossexual já existia entre alguns povos indígenas segundo Luiz Mott(2007). Tupinanbás homossexuais masculinos chamados de “tibira” e lésbicas chamadas “çacoaimbeguira” (MOTT, 2007a).

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1824 Brasil “pederastia” Fim da Inquisição e por influência do Código de Napoleão, a “pederastia” deixou de ser um pecado passível de penalização, passando a ser tratada como doença. (MOTT, 2007b)

1850 a 1946 Europa Central Início do movimento de luta contra a repressão dos atos sexuais de pessoas do mesmo sexo. Liderado na Alemanha por Karl Heinrich Ulrichs que publicou uma série de 12 panfletos sobre homossexualidade e foi considerado o primeiro ativista gay da era moderna.

1869 cunhada a palavra homossexual

O médico húngaro Karóly Benkert escreveu uma carta ao Ministério da Justiça da Alemanha, utilizando pela primeira vez o termo homossexual, condenando a artigo 175 do novo código penal que determinou que os atos sexuais entre homens fossem considerados delitos.

1897 Alemanha Surge o Comitê Científico Humanitário, em que foi um dos fundadores Magnus Hirschfeld, primeiro grupo dedicado à defesa dos direitos de homossexuais, que visava, sobretudo a revogação do artigo 175 do código penal alemão.

1919 Berlim Hirschfeld, que era homossexual e judeu, inaugurou o Instituto para o Estudo da Sexualidade.

1933 Berlim O Instituto de Hirschfeld foi depredado pelo regime nazista: 10.000 livros, fotografias e arquivos foram queimados em praça pública.

1933 a 1946 Europa Na 2.ª Guerra Mundial o regime nazista desmobilizou o movimento homossexual. Homossexuais masculinos eram obrigados a usar o símbolo do triângulo rosa e as femininas o símbolo do triângulo negro. No período pós guerra esses símbolos tornaram-se emblemas de luta.

1948 a 1990 (segunda metade do sec. XIX)

A homossexualidade foi vista como doença. A organização Mundial da Saúde (OMS) a classificou como transtorno sexual. 1950 Estados Unidos Os homossexuais eram tratados com choques elétricos.

1967 Inglaterra Revoga a criminalização de atos sexuais entre homens, após mais de 400 anos. Replicada na maioria das colônias britânicas na América do Norte, Caribe (ex. Jamaica, Trinidade Tobago). 1969 Nova York “Stonewall” 28 de junho de 1969 – movimento homossexual conhecido

como rebelião de “Stonewall” que era (e ainda é) um bar de frequência LGBTT que sofria repetidas batidas policiais sem justificativa. Os frequentadores se revoltaram contra a polícia e o tumulto se seguiu e durou três dias. A data é comemorada todo ano com paradas e eventos.

1978 Brasil Início da organização do movimento homossexual em dois marcos: a fundação do grupo SOMOS – Grupo de Afirmação Homossexual em São Paulo; publicação do jornal Lampião da Esquina no Rio Janeiro.

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Fonte SENASP, Curso de Ensino a Distância, Módulo 1, p. 22-31

Esta tabela reforça a expressão: “O reconhecimento oficial da homossexualidade como mais uma forma das múltiplas expressões da sexualidade é recente, comparada com a milenar reprovação”. (SENASP, Mod. 1, 2009, p. 29). Recentemente o Papa Francisco declarou ao mundo que não julga o homossexual que procura Deus, rompendo com o tradicional discurso religioso homofóbico católico. E suas palavras centram sua reprovação aos lóbis, portanto é claro que se mantém a condição humana da pessoa que de tão humana se revelam suas mais importantes imperfeições. São entre outras suas palavras:

"O problema não é ter essa orientação (homossexual). Devemos ser irmãos. O problema é fazer lóbi por essa orientação, ou lóbis de pessoas invejosas, lóbis políticos, lóbis maçons, tantos lóbis. Esse é o pior problema". (JORNAL NOTÍCIAS. Papa Francisco: "Quem sou eu para julgar um homossexual que procura Deus?". Publicada em 29.07.2013 as 15:33. Disponível em <http://www.jn.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=3347970> acesso 05.nov.2014.

1980 Brasil Início dos anos 80, retrocesso do movimento devido a divergência políticas e à epidemia da Aids.

1985 Brasil 9 de fevereiro de 1985 o Conselho Federal de Medicina transferiu o diagnóstico de Homossexualidade [302.0] da Classificação Internacional de Doenças [CID 9.ª REVISÃO, 1975] (OLIVEIRA, 1985)

1990 Assembleia Geral da OMS 17 de maio de 1990 a Assembleia Geral da Organização Mundial da Saúde aprovou a retirada do código 302.0 (Homossexualidade) da Classificação Internacional de Doenças. A nova classificação entrou em vigor entre os países membro das Nações Unidas, inclusive o Brasil em 1993.

Metade da década de 90 Brasil,

Europa Ocidental, América do Norte, Oceania, Nova Zelândia, Austrália

Retomado o movimento homossexual consolidado na primeira década do século 21 (combate à discriminação e promoção da igualdade de direitos).

2002 Alemanha Perdoados os homossexuais condenados pelo artigo 175 do código penal.

2003 Parlamento Europeu No relatório anual sobre direitos humanos na União Europeia, recomendou que fosse permitido aos homossexuais,casarem-se legalmente e adotarem crianças.

Oriente Médio (islamismo

fundamentalista) e parte da África – pena de prisão e de morte

Pena de prisão em nove países da África (Bangladesh, Butão, Egito, Índia, Maldivas, Nepal, Nicarágua, Cingapura, Uganda e Zanzibar). Ouros nove países há pena de morte por apedrejamento ou decapitação (Afeganistão, Irã, Mauritânia, Nigéria, Paquistão, Arábia Saudita, Sudão, Emirados Árabes Unidos e Iêmen)

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1.3 Violência Homofóbica e Criminalidade Homofóbica

As implicações do estudo da distribuição espacial do crime, segundo Beato Filho(1998), salientam-se na análise da sociologia do crime,

“O estudo da distribuição espacial de delitos tem uma longa tradição nas ciências sociais, na qual Quetelet e Durkheim ocupam uma posição conspícua. O influente trabalho de Shaw e McKey (1942) mostrou como existia um gradiente nas taxas de delinqüência, com altas taxas nos centros das cidades, que iam declinando nos subúrbios. Outros autores analisaram, por meio de conceitos como o de "espaço defensivo", as circunstâncias físicas e ambientais imediatas relacionadas com a incidência de delitos criminais (Newman, 1972). Mais recentemente, tem-se discutido com intensidade a importância da "geografia do crime" (Brantinghan e Brantinghan, 1981) nas estratégias de policiamento e no combate à criminalidade (Evans, 1995; Murray, 1995; Eck, 1997). Existem importantes trabalhos que procuram relacionar a incidência de crimes com a estrutura socioeconômica de Estados-nações (Messner, 1980), regiões (Loftin e Hill, 1974) e áreas metropolitanas (Blau e Blau, 1982).” (BEATO FILHO, 1998, p. 1)

O crime distribuído em determinado espaço territorial só pode ser mapeado a partir de dados válidos para a ciência estatística. Ter conhecimento de que há violência não basta para equacionar onde, quando e como os crimes ocorrem. O objetivo de atingir as políticas públicas de reconhecimento de direitos da população LGBT, não dá enfoque às questões administrativas que antecedem o preconceito ou a violência institucional, que são o nascedouro do controle do crime.

Afirmar positivamente em lei se esta ou aquela ação é ou não discriminatória não é limite ou barreira para que medidas administrativas determinem o controle das ocorrências criminais contra a essa população. Tal afirmação é importante, porque a Polícia Civil de nosso estado ao se dar conta de que as Ong’s afins existentes na capital não dispõem de dados essenciais para o mapeamento do crime, deu “o ponta pé” inicial nos trabalhos administrativos.

Fundamenta esta fala o delegado Anderson Garcia dos Anjos, Diretor Geral da Polícia Judiciária Civil de Mato Grosso, ao palestrar no Seminário realizado pela Polícia Judiciária Civil/MT ‘Investigação Policial e Crimes de Homofobia’ realizado no Auditório PJC/MT em 17/05/2014, quando na pesquisa de campo me fiz presente a todas as palestras, e desta relato que o Delegado Diretor esclareceu as necessidades policiais para fazer o que está ao alcance da instituição.

E também rememorando nossas anotações-sínteses da palestra, divididas pelo palestrante em: 1- 2009 1.º Semestre; 2- 2.º Semestre 2009; 4- Inserção nos Projetos Sociais PJC; 5- Dados Homofóbicos X BO; 6- Providências e Sugestões; 7- Polícia Judiciária Civil X

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LGBT X Inteligência e; 8- Conclusão, podemos então descrever as seguintes ponderações julgadas importantes.

Temos o título da respectiva apresentação “Ações da Polícia Judiciária Civil de Mato Grosso” iniciando pelo item “1 - 2009 1º SEMESTRE”, elencando as seguintes providências:

 Inserido Homofobia no BO eletrônico:  Primeiro Estado inserir neste campo em BO.

 Sugerido informalmente a campanha de conscientização de registro e solicitação da inserção no BO pela população LGBT a motivação homofobia (através de eventos).

 Aproximadamente 600 servidores treinados na capital e interior do Estado, para a identificação homofóbica.

Chama a atenção ao público alvo lembrando o exemplo da lei antiga para a polícia fazer o atendimento ao crime de vadiagem, o que era na época uma antagonia a realidade social. Ponderou que “[...] nós “todos” temos preconceitos em nossas relações interpessoais [...]” (ANJOS, 17.05.2014). Fez uma reflexão sobre o atendimento populacional à pop LGBTT em relação à “minorias vulneráveis e contextualizou o decurso temporal em relação aos preconceitos e as metodologias a partir da década de noventa, um divisor de águas, logo com o advento da Constituição Federal de 1988, decorrendo os efeitos da Globalização em que o crime rompe fronteiras.

Aponta que no sec. XXI o policial está sendo edificado em meio ao enraizamento da cultura social de preconceito, edificando o entendimento por parte de policiais os direitos humanos versus “a lei e à ordem”, ao passo que hoje, o que está acima da “lei e ordem” é o respeito à dignidade humana e à igualdade. O Delegado Geral também descreveu a mudança de visão e de comportamento da polícia civil, contribuição social a partir da missão constitucional de investigação policial, responsabilidade social, pois não somos instituição de governo mas de estado, o que significa que a instituição permanente e precisa de cultura duradoura da “gestão por amor” o que não é condescendência mas valorização da pessoa do profissional o que também deve ser feito no atendimento da população LGBTT.

Citou a Delegada Dra. Thaís Camarinho precursora na mudança de visão da instituição com relação ao tema e manifestou que a respeito da equivalência de inclusão da população LGBT, ora à segregação ora à igualdade, entende que não se dá como segregação, mas como organização política, afirmando “[...] Nós não somos o hoje somos o amanhã.[...]”

E quanto ao segundo momento de sua fala, o palestrante Delegado Geral apresentou o item “2 - 2.º SEMESTRE 2009”, em apontou ações de novas gestões no citado período:

 Inserido o nome social no BO, comparando a “alcunha” já utilizado nos BO´s;

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No item “3 – Participação” no terceiro momento da fala foram relacionadas as participações da Polícia Judiciária Civil de Mato Grosso no período 2009/2013:

 2009 – Seminários LGBT municipal, regional e estadual;  2009 até hoje – Treinamento e conscientização Acadepol;

 2009 – Nos Centro de Referência em Direitos Humanos e Secretaria Nacional de Saúde junto aos profissionais do sexo em Cuiabá e Várzea Grande/MT (crime de disseminação de doença) importante para tipificação;

 2010 – Seminário de Segurança Pública no Interior;

 2010 – Construção da RENOSP Rede Nacional de Operadores de Segurança Publica LGBT/RJ;

 2011 a 2013 - Parada da Diversidade de Cuiabá 1.º Estado a disponibilizar a Viatura Móvel Para registro de BO e atendimento sócio jurídico a pop LGBT;  2012 – Seminário Bulling Homofóbico;

 2013 – Seminário Nivelamento de informação sobre LGBT;

 2011 – GRECO criado por decreto governamental junto à Secretaria Direitos Humanos, conta com a participação de um membro representante da Polícia Judiciária Civil de Mato Grosso;

A fala sobre projetos sociais item “4 - Inserção nos Projetos Sociais PJC” destaca que desde 2012 até hoje o “Projeto De cara Limpa contra as Drogas”, que atualmente é programa e não projeto social, contribui pela conscientização em palestras que são: a) Palestra combate Homofóbico (escola rede pública estadual 250 alunos do ensino fundamental) e; b) Palestra combate ao Bulling (escolas rede pública estadual 400 alunos ensino fundamental)

Sintetiza os dados obtidos no item “5 – Dados Homofóbicos X BO”:Primeiro quadrimestre 2013 – 20 (vinte) Boletins de Ocorrência e Primeiro quadrimestre 2014 – 19 (dezenove) Boletins de Ocorrência. Todavia em análise realizada por erros do servidor quanto a motivação os dados não podem se considerar insumos, pois em 2013 apenas 04 (quatro) Boletins de Ocorrência eram de fato de natureza homofóbica, e por sua vez em 2014 apenas 07 (sete) Boletins de Ocorrência eram de fato de natureza homofóbica

O Delegado palestrante apontou no item “6 - Providências e Sugestões” de sua apresentação que a partir da observação de que os dados são insuficientes para realização de políticas públicas, pois não são fidedignos, que ações fossem efetivadas, quais sejam:

1-A Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa passe a informar a Diretoria de Inteligência da PJC/MT sobre identidade, nome social e motivação de homicídio, tendo como vítima a população LGBT os quais são repassados ao GRECO.

2- Instrumentalizar o próprio segmento LGBT da conscientização das vítimas quanto à necessidade de apontar a motivação no registro do BO.

3- O contato com o Grupo Livre-Mente de Cuiabá para conseguir maiores dados atualizados sobre crimes contra a população LGBT. Nesta ação porém, obteve resposta de que

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o referido grupo trabalha com dados estatísticos do Grupo Gay do Estado da Bahia e junto ao portal deste grupo na internet não há referências estatísticas sobre Mato Grosso.

Discorre no item “7 - Polícia Judiciária Civil X LGBT X Inteligência” que : “[...] Somos embrionários no que tange a estudos estatísticos sobre crimes envolvendo a população LGBT [...]” embora sejam poucas as ocorrências registradas e não identificam ainda o necessário:

a) Motivações específicas;

b) Hot points de ocorrência (‘Ponto quentes’ locais onde mais ocorrem crimes); c) Modus operandi (Modo de agir do autor do delito);

d) Possível agressor contumaz;

O palestrante esclareceu que existem ferramentas de cruzamento de dados, estatísticas denominados ‘Qlik View’ , ‘IDSeg’ e ‘Vinculum’, além de outros ajudam quanto às política de segurança pública como as investigações policiais.

A conclusão levou este próprio nome no item “8 – Conclusão”, e pontuamos a seguinte frase síntese:

“[...] Temos muito a caminhar com relação ao atendimento da população LGBT[...] e angariar confiança e respeito da população LGBT[...] conscientizar ainda mais nossos servidores no que tange ao respeito a dignidade humana frente a população LGBT[...] Homofobia não se justifica, se combate, conscientiza e destrói”(ANJOS, 2014)

É ainda do Seminário a afirmação do Delegado de Polícia Civil do Estado de Sergipe, Especialista em Ciências Criminais e Gestão Estratégica em Segurança Pública - Mario de Carvalho Leony, que atua em uma Delegacia “praticamente” especializada em atendimento às pessoas LGBT, da importância em efetivar atendimento às pessoas com situações e realidades convergentes em estrutura de uma Unidade Policial concentrando: Centro de Referências de Direitos Humanos, Assistência Social e Psicológica, Encaminhamento à saúde pública; a realidade da menor extensão territorial do estado de Sergipe em comparação ao estado de Mato Grosso; a realidade da interação que a população LGBT tem com esta estrutura; até reunindo as vítimas mulheres com a Delegacia de Mulheres no mesmo prédio, enfim tudo o que não é realidade em nosso estado.

Não é forçoso concluir a melhor qualidade do resultado de produção de dados de Sergipe, tanto o é que destacamos alguns fragmentos da fala deste palestrante:

“[...] O que significa um BO de injúria para uma travesti é muito sério porque todos os dias ela sofre injúria [...]”

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“Delegacias que tutelem bens e patrimônio (DERFVA, DERF, Delegacia Fazendária) ou Delegacia de Homicídios de Heterossexuais possuem dados fiéis ao passo que as demais são campeãs em subnotificação dos demais públicos.”

Esclareceu sobre a produção e repercussão da “Cartilha do Grupo Gay da Bahia “GGB” com o slogam: ‘Gay vivo não dorme com inimigo’, diante da clandestinidade do crime homofóbico que se disfarça nas vítimas de latrocínio. Abordou a realidade de que investigadores e peritos devem perder o pudor em perquirir a motivação homo(trans)fóbica. E dada a qualidade de dados pudemos visualizar exemplos de gráficos: Gráfico 2- Lugar do crime homofóbico: via pública, ambiente familiar, trabalho, ambiente escolar escola e universidade, órgãos públicos (delegacias e quartéis); Gráfico 3 - Vínculo de interação social com o agressor; Gráfico 4 - Horário da Ocorrência Noite Dia e Madrugada; Gráfico 5- Frequência do Registro: 75% Não registra. Tentamos conseguir mas não obtivemos estes gráficos do Estado de Sergipe até a data da entrega do presente trabalho, para ilustrar um molde de como poderíamos ter estas informações a partir da Delegacias. Ainda podemos conseguir apresentar estes fontes ilustrativas na data da apresentação deste trabalho.

E nesta contextualização que se colocam os lugares da violência, da homofobia e da criminalidade homofóbica. Compete à polícia ações de controle de criminalidade, como e nos termos em que Beato Filho (1998) subdivide a distribuição espacial do crime:

“Neste artigo, gostaria de salientar algumas implicações do estudo da distribuição espacial do crime para a sociologia do crime:

(a) A confecção de mapas de criminalidade desloca a análise dos criminosos para o delito propriamente dito.1 Do ponto de vista teórico, isto significa uma análise dos processos de tomada de decisão por parte dos criminosos relativos à escolha de locais e alvos viáveis para a realização de determinados tipos de crime. Abordagens espaciais são particularmente apropriadas para a demonstração dos componentes racionais da atividade criminosa, bem como referendam modelos afins à teoria das oportunidades do crime (Cohen e Felson, 1979; Wilson e Herrenstein, 1985; Tedeschi e Felson, 1994; Glaeser et al., 1996).

(b) Em segundo lugar, uma implicação de natureza metodológica muito importante diz respeito ao fato de que abordagens espaciais não tratam do "crime" de uma forma geral, mas das condições de incidência de determinados tipos de crime. Quando falamos de "crime" estamos falando de fenômenos muito distintos: "roubar uma revista em quadrinhos, esmurrar um colega, sonegar impostos, assassinar a esposa, roubar um banco, corromper políticos, seqüestrar aviões — esses e inumeráveis outros atos são crimes" (Wilson e Herrenstein, 1985, p. 21). A importância dessa mudança de enfoque é mostrar como alguns tipos de crime tornam mais visíveis os processos de decision-making cuja orientação é estritamente instrumental. Isto não significa qualificar alguns crimes como sendo mais "racionais" e utilitários que outros; ao contrário, é um convite para utilizarmos amplamente o "princípio de caridade" (Golguer, 1995; Davidson, 1974) a fim de avaliarmos o componente racional de crimes aparentemente non-sensical (Katz, 1988).

(c) Esta estratégia aproxima-se muito da lógica das organizações encarregadas de lidar com o "problema do crime", especialmente a polícia. O combate ao crime por parte de organizações policiais pode perfeitamente prescindir de um diagnóstico de

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suas "causas" para orientar-se pela idéia de que crimes não ocorrem aleatoriamente no tempo e no espaço. Logo, uma orientação pró-ativa deve detectar padrões espaciais e temporais de determinados tipos de delitos a fim de poder antecipar a ocorrência dos eventos (Rich, 1997).

(d) Finalmente, a implementação de políticas públicas preventivas de combate à criminalidade requer a identificação das comunidades e locais que serão objeto da ação assistencialista e preventiva (Sherman, 1997). A literatura sobre políticas públicas de combate à criminalidade tem enfatizado crescentemente a busca por soluções" locais" e descentralizadas, o que conduz necessariamente à identificação de problemas nos contextos específicos de sua ocorrência.” (BEATO FILHO, 1998, p.2)

Os conceitos segurança pública, violência e criminalidade, possuem correlações que são melhores compreensíveis na leitura dos estudos das ciências sociais e pouco compreensiva no direito positivo (leis, códigos, entre outros). O que nos interessa esclarecer é que havendo os dados válidos teremos um norte de gestão da criminalidade.

Noutra comparação com a Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006), ocorridas todas as fases para a constituição do controle da criminalidade, por consequência a notícia veiculada pelos meios televisivos e impresso de comunicação é de que a violência não diminuiu. Ponderamos aqui, se então é o momento de se fazer esta avaliação para reanálise das causas determinantes da criminalidade, posto que, assim um dia poderemos estar diante da reanálise das causas determinantes da violência homofóbica. Por enquanto, precisamos edificar o mapa da citada criminalidade, conhecer suas causas determinantes.

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REFERÊNCIAS DE DIREITOS CONTRA A VIOLÊNCIA À PESSOA HUMANA

“Ominis Potestas Alege”(Todo poder emana da lei)

Insígnia inscrita no Brasão da Polícia Civil do Estado de Mato Grosso

2.1 A Declaração Universal dos Direitos Humanos de 10 de dezembro de 1948

A Declaração Universal dos Direitos Humanos de 10 de dezembro de 1948 institucionou os princípios universais aos quais se deve referenciar para condicionar ou definir quando se trata da pessoa humana a quem os direitos ali instituídos devem servir, “os Direitos Humanos proporcionam abrir um espaço público para além do meramente formal” (SENASP, 2009, Mod.1, p.7).

Por outra senda de entendimento, parece adverso não se ter claro, ainda hoje, à unanimidade, quem são os seres dotados de humanidade. A questão se desvela quando relembramos da história da violência contra a humanidade travada em todas as guerras conhecidas, e os tratados internacionais que regulam a conduta do combatente no campo de batalha essencialmente quando dispõe sobre o “crime de guerra” no momento em que não se permite a violência contra a pessoa humana, passando pelos crimes contra judeus, negros, mulheres.

O fato de um grupo da população total considerado vulnerável ou minoritário possuir características “diferentes” da maioria, e este fato dificultar sua vida em sociedade, demanda invocar seja considerada a condição humana acima de todas as coisas, condição universal, que lhes é de direito, assim promover visibilidade as suas necessidades e demandas.

2.2 A Constituição Federal / 1988 e o Programa Brasil Sem Homofobia lançado em 2004

É do artigo do magistrado sul-matogrossense Roberto Arriada Lorea2, dentre outras, duas pontuações que ressaltamos: a)primeiro o que está perante a lei não está necessariamente perante à cultura, quando cita os artigos constitucionais: art. 3.º, incisos I e IV (os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: constituir uma sociedade

2 Juiz de direito do RS. Professor na Escola Superior da Magistratura. Diretor do Departamento de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos, da Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul, AJURIS. Pesquisador Associado ao Núcleo de Pesquisa em Antropologia Corpo e Saúde, NUPACS/UFRGS. Mestre e Doutorando em Antropologia Social (UFRGS). Membro do Conselho Latino-americano de Promoção de Liberdades de Consciência , de Crença e de Religião, COLAL. In (POCAHY, 2007, p. 57)

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livre, justa e solidária e promover o bem de todos sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação); artigo 5.º caput3; b)segundo: o Estado brasileiro só assumiu o compromisso de minimizar as desigualdades de gênero, em razão dos números nacionais da violência letal visualizados na Conferencia de Cairo 1994 e de Beiging 1995.

A partir de então surgem, “leis estaduais, leis municipais, medidas administrativas, decisões judiciais [...] e lançado pelo governo federal no ano de 2004 [...] o Programa de Combate à Violência e à Discriminação contra GLBT e Promoção da Cidadania Homossexual [...]” (LOREA, In POCAHY, 2007, p.57). O citado programa de governo, conhecido como Programa Brasil Sem Homofobia, é nossa primeira política pública frente à população nacional e aos órgãos internacionais de Direitos Humanos.

Visualizamos na fala do magistrado que a proteção aos Direitos Sexuais, tal como seu artigo os define, subsidia minimizar a violência homofóbica não-letal no âmbito da repressão a essa forma de criminalidade. E, assim, buscamos demonstrar da realidade várzea-grandense nos anos de 2011-2013: qual a estatística existente desta demanda; quais são e como funcionam os instrumentos estatais, ou seja, os procedimentos policiais de apuração da criminalidade homofóbica não-letal. Sem estender no âmbito da prevenção, matéria voltada ao discurso do reconhecimento de igualdade constitucional ou da cidadania sexual, em que os órgãos que representam as vítimas vêm atuando com seus próprios instrumentos.

Será na parte três deste trabalho que discorremos sobre a cognição da demanda e em que realidade ocorre a contingência de dados, fazendo uma reflexão sobre o Programa Brasil Sem Homofobia.

2.3 O conceito violência não-letal e o Código Penal

Deparamos-nos com o termo violência não-letal no texto de Gustavo Ventura organizador da pesquisa Direitos humanos: percepções da opinião púbica: análise de

pesquisa nacional realizada pelo governo federal, publicada em 2010, pela Secretaria

Nacional de Direitos Humanos.

“Denominada “Crimes homofóbicos no Brasil: panorama e erradicação de assassinatos e violência contra GLBT, 2000-2007” (Mott; Fernandez; Martins;

3

Artigo 3.º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: [...] I -constituir uma sociedade livre, justa e solidária(...);

[...]IV- promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Artigo 5.º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade nos termos seguintes:

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Nascimento, 2010), a pesquisa, realizada pela equipe Nugsex-Diadorim/Uneb4, sob a coordenação de Luiz Mott e Osvaldo Fernandez, é uma das mais atuais sobre homicídios e outras formas de violência contra homossexuais no país. Os objetivos foram descrever e analisar as dinâmicas socioculturais de todos os tipos de

violência, letal e não-letal praticada contra segmentos LGBT, além de sua

distribuição espacial e regional. A metodologia empregada combina várias abordagens, qualitativa e quantitativa” (VENTURI In BRASIL, 2010, p. 123) grifo

nosso.

Corrobora o entendimento dos comparativos entre violência e criminalidade homofóbicas, a experiência profissional no ano de 2013, na 3.ª Delegacia de Polícia - Jardim Glória em Várzea Grande/MT, onde fizemos atendimento de vítima travesti registrando boletim de ocorrência (BO), cuja natureza foi lesão corporal e roubo de pertences pessoais, ocorrido na madrugada da data dos fatos, tendo como local da ocorrência o bairro Jardim Potiguar em rua próxima à região conhecida como “Zero Kilômetro”.5

A região do Zero Kilômetro em Várzea Grande é conhecida zona de prostituição frequentada por profissionais do sexo, que enfrentam a criminalidade não-letal e forma simultânea ao enfrentamento ao preconceito e discriminação, tal como, ocorreu no fato da vítima travesti no atendimento que fizemos, diante da busca pelos direitos é do ser próprio relato que citamos:

“Dá muito trabalho. São muitas horas na delegacia, para fazer o BO, até o delegado perguntar o que você fez para apanhar. É muito parecido com a questão da mulher nesse sentido. Depois mais tantas horas no Pronto-Socorro e você responde um questionário igual ao crediário das Casas Bahia e o médico demora para te atender, enrola, embora o caso seja grave”, denuncia a travesti. MIDIA NEWS, 01-12-2013, Intolerância no “Zero”, Disponível em <http://www.midianews.com.br/conteudo.php?sid=3&cid=180762> acesso 18.nov.14

4

Núcleo de Estudos de Gênero e Sexualidade – Diadorim, da Universidade do Estado da Bahia, criado em março de 2003 pelos órgãos dessa universidade e formado majoritariamente por pesquisadores homossexuais de ambos os sexos. (VENTURI In BRASIL, 2010, p 123)

5

A região do Zero Quilômetro em Várzea Grande é um dos mais conhecidos pontos de prostituição. Na região do Zero Quilômetro, conhecida zona de prostituição em Várzea Grande, tem sido rotineira as agressões físicas, e até mortes, contra as travestis. De acordo com a presidenta da Associação das Travestis de Mato Grosso (Astramitis), Lilith Prado, mais de 100 travestis trabalham com sexo em Cuiabá e Várzea Grande. Só no Zero Quilômetro são 49. Ela afirma que acontece muita violência com esse público, principalmente as travestis que trabalham no "ramo do sexo".[...] A presidente da Astramitis, que trabalha como profissional do sexo no região do Zero, enfatiza que tem ocorrido assaltos planejados contra as travestis nesta área.Ela conta que os criminosos vão em três ou quatro, descem, batem e roubam.“Isso estava ocorrendo muito em Rondonópolis, e lá há 49 boletins de travestis denunciando a mesma situação”, destaca.[...] Roubos e Furtos: A Delegacia Especializada em Roubos e Furtos de Várzea Grande tem ciência do problema na região, que é um dos mais conhecidos pontos de prostituição da Baixada Cuiabana.O delegado Wagner Bassi disse, por meio de assessoria, que a Polícia Civil investiga os casos de assaltos e agressões contra as travestis no Zero Quilômetro.Bassi informa que a investigação é feita em conjunto com Polícia Militar[...] Ong Livremente: O presidente da Ong LGBT Livremente, Alexanders Virgulino, entende que as agressões contra as travestis na região do Zero são de cunho homofóbico. Ele ressalta que a Ong não tem números precisos, mas afirma que as agressões são constantes na região, e são físicas e verbais. (grifo nosso) Mídia News, 01-12-2013, Intolerância no “Zero”, Disponível em <http://www.midianews.com.br/conteudo.php?sid=3&cid=180762> acesso 18.nov.14

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A matéria da imprensa midiática narrada pela vítima e outra travesti, foi comentada pela Ong Livre-Mente, o pai de uma travesti assassinada na região do Zero Kilômetro, O Delegado de Polícia, O Secretário de Justiça e Direitos Humanos, e apontam que a realidade das investigações dos crimes ocorridos na citada região da baixada cuiabana, necessitam de um efetivo trabalho integrado das forças policiais e das associações da sociedade civil, ou continua esta mesma realidade.

A narrativa do BO e termo de declarações da vítima noticiam que quatro pessoas desconhecidas, sendo uma mulher e três homens, estavam em um veículo não identificado, de onde a suspeita emergiu parte do corpo para fora e desferiu um golpe de barra de ferro de construção civil na região do rosto da vítima, e depois os demais suspeitos desceram do veículo e desferiram - suspeitos e vítima -, socos e pontapés recíprocos. Foram levados os pertences que a vítima levava consigo, de modo que as lesões sofridas pela vítima travesti foram submetidas a exame de corpo de delito, instaurando-se o Termo Circunstanciado de Ocorrência, ainda que sem identificar a autoria, por isso então se deram início as investigações da autoria.

A vítima aportou na citada Delegacia com ofício de encaminhamento da Secretaria de Segurança Pública reivindicado pela Secretaria Estadual de Direitos Humanos, e da mesma forma já havia sido encaminhada para a Delegacia Especializada de Roubos e Furtos de Várzea Grande/MT com relação à competência de apuração do roubo dos pertences pessoais. A notícia é material da mídia pesquisada e colacionamos como Anexo ao final.

O atendimento chama a atenção e propicia relevância à pesquisa para instrumentalizar a Secretaria de Segurança Pública Estadual de aspectos sobre o fenômeno social da violência homofóbica não-letal na região metropolitana de Várzea Grande/MT, a partir dos dados existentes e daqueles a serem pesquisados.

Além dos crimes homofóbicos não-letais ocorridos em horários e locais públicos específicos de serem frequentados pela população de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transsexuais, ou seja, ocorridos em áreas de incidência característica ao caso citado de atendimento, ainda temos a reivindicação por visibilidade diante da não universalidade do direito à “igualdade”. O exercício do direito à livre expressão pública de orientação sexual tem sido alvo de crimes homofóbicos não-letais, de discriminação e violações contra a população LGBT, assim como também o são os crimes letais.

A violência não-letal e a discriminatória que ocorrem contra as atitudes de exposição pública da orientação sexual fora da esfera privada, não velada, é, por conseguinte, fato não raro. Por outro lado, temos referência na pesquisa exploratória que sem qualquer atitude dessa expressão reivindicatória, basta a simples presunção da orientação sexual feita no imaginário do agressor, para a ocorrência dos crimes homofóbicos de agressões discriminatórias verbais, físicas e letais.

Diante de tal realidade, as políticas públicas afirmativas de proteção, promoção da igualdade social e de reconhecimento da população LGBT como sujeito político de direito, atuam na perspectiva de função pedagógica de cidadania, com a devida utilidade, queremos esclarecer que o reconhecimento de direitos tem uma função de difundir as razões do respeito

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à pessoa humana, mas sozinho não é suficiente para reprimir a criminalidade. A cultura milenar de repressão a população LGBT não irá minimizar apenas com política de reconhecimento de direitos, mas tem função pedagógica de fazer compreender que não há razão que retire lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros da condição de pessoa humana.

Porém, circundando este contexto, o marco inicial da pesquisa de dados visou subsidiar controle dessa criminalidade, além do trabalho pedagógico de trazer a condição humana das pessoas LGBT, através da conscientização das vítimas e também das instituições representantes. A criminalidade antes de tudo precisa ser diagnosticada. É necessário que este diagnóstico tenha importância para as instituições constituídas. E é nesse contexto a mudança de paradigma com relação à referência da pesquisa exploratória sobre dados não conhecidos do crime de características homofóbicas - acenar que há uma razão cultural para a não existência de dados.

A par dessa realidade, temos que para a pesquisa estatística atual a “criminalidade” é mapeada pelos delitos contra a vida, com grave ameaça e/ou ferimento à integridade física da pessoa, agregados nos dados estatísticos dos delitos de homicídio, roubo. A estatística existente inclui o furto por representar outro aspecto da violência englobando o conceito de criminalidade. No Anexo I é possível observar quadro demonstrativo da estatística com dados válidos.

Enfim, nos atemos que a violência especificamente homofóbica não-letal não está assim discriminada nos delitos de homicídio, roubos e furtos. Os órgãos oficiais da Polícia Judiciária Civil e da Polícia Militar não possuem os dados da criminalidade homofóbica “desta forma” distintos, então, é esta a primeira questão pontual de peso.

Com vistas a essa divergência, observamos que o delito de roubo (artigo 157 do Código Penal) dispõe a conduta do agressor que também ocorre nas condutas definidas homofóbicos não-letais,. Como exemplo, no caso da vítima travesti atendida na Delegacia Especializada de Roubos e Furtos de Várzea Grande/MT, em que o procedimento que apura o delito é o Inquérito Policial e pela lei penal o objeto jurídico de proteção é o patrimônio, o uso da agressão física pelo autor do delito é meio para subtrair o patrimônio. Não entende o artigo do Código Penal que sendo a vítima pessoa de identidade LGBT o patrimônio é meio para agredir pessoa de identidade LGBT. É o princípio de direito que “o fato antecede a lei”.

Neste sentido, parece ser uma das razões pelas quais a militância reivindica por legislação específica da tipificação da “violência homofóbica”, nos moldes de como ocorre com a Lei Maria da Penha, em que a conduta típica penal não se altera e sim a identidade da vítima, e nesta última lei em particular, também, há relação íntima de afeto entre agressor e vítima.

O Projeto de Lei Complementar - PLC 122 de 2006 - pretende alterar a Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, para definir e punir os crimes de ódio e intolerância resultantes de discriminação ou preconceito e passar a vigorar com a seguinte redação: “Define e pune os crimes de ódio e intolerância resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião, origem, gênero, sexo, orientação sexual, identidade de gênero ou condição de pessoa idosa ou com deficiência.” E do Projeto de Lei no Senado (PLS nº 236/2012), ressaltamos que

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na parte geral cuida dos aspectos genéricos sobre princípios, aplicação da pena, casos de aumento e diminuição de pena, de isenção da pena etc., trata da a criminalização da homofobia e transfobia de forma pertinente. E assim na parte especial (que trata dos crimes), o PLS nº 236/2012 inclui a homofobia/transfobia nas hipóteses de homicídio qualificado, lesão corporal, injúria preconceituosa, terrorismo, genocídio, transgenerização forçada, genocídio e tortura a homofobia/transfobia (VIANA, 2013, p. 1-2).

Como já vislumbramos com antecedência, entendemos que sem esta lei há total empecilho a apuração dos delitos que vem ocorrendo e a partir deles, com os devidos instrumentos e dados estatísticos, diagnosticar a criminalidade.

O procedimento policial instaurado do Termo Circunstanciado de Ocorrência que apura a agressão física a ser considerada leve ou grave, definida no tipo penal “lesão corporal leve ou grave” (artigo 129 do Código Penal) é àquela mesma ocorrida no “roubo”. O trâmite junto ao Juizado Especial Criminal célere pode propor ao agressor, se condenado, uma pena alternativa e à exceção a prisão.

São os quesitos oficiais do Exame de Lesões:

1) Há ofensa a integridade corporal ou saúde do(a) periciando(a)? 2) Qual o instrumento ou meio que a produziu?

3) A ofensa foi produzida com o emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura ou outro meio insidioso ou cruel ou de que podia resultar perigo comum? 4) Resultou perigo de vida?(resposta especificada)

5) Resultou incapacidade para as ocupações habituais por mais de 30 (trinta dias)?

6) Resultou debilidade permanente de membro, sentido ou função, ou aceleração de parto?(resposta especificada)

7) Resultou incapacidade permanente para o trabalho, ou enfermidade incurável, ou perda ou inutilização de membro, sentido ou função ou deformidade permanente, ou aborto? (resposta especificada)

(ESTADO DE MATO GROSSO, 2011, p.6)

A lei penal vigente distingue quando há intenção de agir e a define por “dolo” e quando não há intenção de agir e a define por “culpa”. Nos relatos da violência homofóbica não haverá “culpa”, tão somente “o dolo”, e a guisa de exemplo para o dolo citamos a vontade de agredir fisicamente outra pessoa, e atualmente não vige com força de lei penal, para nenhuma agressão física, se a vítima sofre a lesão por possuir uma característica diferente das demais pessoas.

A violência homofóbica neste ponto nos traz esse questionamento muito importante ao trabalho da investigação da Polícia Civil, a autoria do delito, ou porque não dizer a

identificação do autor da violência não-letal. Quem eram os agressores-assaltantes da

citada vítima travesti que atendemos na DERF-VG e na 3.ª DP-JG/VG? Haverá de existir todos os instrumentos citados pelos Delegados palestrantes que puseram à mesa as necessidades de apuração do fenômeno social.

Referências

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