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Por LUCIANO VELLEDA
Vancouver é daquelas cidades capazes de arrebatar pelo charme cosmopolita, pela infinita possibilidade de atividades indoor e outdoor
e pelo estilo de vida pra lá de descolado que incita
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Ao lado, vista de Vancouver e da marina. Na página ao lado, moradores caminham na orla da cidade ao amanhecer. Na dupla de abertura, escultura emblemática na cidade com downtown ao fundo
DOWNTOWN É COSMOPOLITA
SEM OS EXCESSOS DE UMA
GRANDE METRÓPOLE
O piloto sentado ao lado checa se o cinto de segurança está bem afive-lado, pergunta como está o ajuste do fone de ouvido, do microfone, e faz sinal de “ok” anunciando a partida. As hélices passam velozmente acima da cabine de vidro, enquanto o baru-lho do motor é agudo, constante e alto. Com gestos firmes, ele aperta um botão que aciona diversas luzes, mexe em outro, mais um, e parece saber exatamente pra que serve cada um dos muitos indicadores do pai-nel. O zunido do motor aumenta; as hélices parecem girar mais rápido. Com a mão pousada sobre o man-che, o piloto faz um movimento leve e, então, o helicóptero começa a se desgrudar da plataforma. Os arbus-tos e as porções de neve no chão lentamente se distanciam, o campo de visão se amplia, os pinheiros antes tão altos agora diminuem até parecerem pequenas árvores de Natal, e rapidamente a amplidão da Grouse Mountain, a mais famosa atração ao ar livre de Vancouver,
se revela por inteira vista do céu. O chão de vidro na parte frontal do
helicóptero facilita admirar a paisagem lá embaixo, com as encos-tas e paredões das montanhas cober-tos por uma densa floresta de pinheiros douglas e cedros-verme-lhos, pontuada pelo branco da neve que, mesmo com a proximidade do verão, ainda ocupa extensas áreas.
fo to L uc ian o V ell ed a fo to L at in st oc k/ © T im T ho m ps on /C or bi s/ C or bi s ( D C )
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Ao lado, navio deixa a cidade canadense rumo ao Alasca, roteiro comum, e passa pelo Stanley Park. Na página ao lado, vista aérea de Yaletown, bairro mais chique de Vancouver
O frio na barriga aumenta depois de sobrevoar próximo
a um pico nevado e, ao cruzá-lo, ver abrir-se
majestosa-mente a baía de águas claras e azuis que cerca o centro de
Vancouver. O helicóptero segue seu rumo sobre o
Stan-ley Park, o maior entre os 180 parques existentes na
ci-dade, com 404 hectares (o Central Park, em Nova York,
tem 350), e então começa a sobrevoar a região central,
popularmente chamada de downtown, e onde se
con-centra grande parte da vida social da cidade canadense.
downtown tem em torno de 600 mil, o que lhe confere um charmoso ar cosmopolita sem os excessos de uma grande metrópole. Vista de cima, enquanto o piloto conduz o helicóp-tero fazendo um círculo sobre o centro, é possível compreender seu impecável planejamento urbano, com ruas paralelas que se cruzam moldando quadra após quadra, num traçado facilmente assimilável por qualquer visitante.
Do céu, bairro a bairro
Apontando para o chão, o piloto in-dica o bairro de West End, as mar-gens da English Bay, misto de área residencial e comercial, com boas opções noturnas de bares e restau-rantes; em seguida, o helicóptero so-brevoa Yaletown, bairro residencial caro e elegante, com grandes pré-dios que miram o céu; o famoso Chinatown vem logo depois, consi-derado o terceiro bairro chinês mais importante da América do Norte (depois dos de Nova York e San Francisco) devido ao seu tamanho e ao comércio genuíno, onde é possí-vel encontrar alimentos e ervas me-dicinais como se se estivesse em Shangai; e então o piloto aponta no-vamente e faz uma deferência espe-cial ao bairro de Gastown, o mais antigo de Vancouver, onde a cidade foi fundada em 1886 com a chegada da ferrovia. Durante décadas po-voado por pequenos prédios, gal-pões e armazéns onde viviam e trabalhavam os homens da linha fér-rea, Gastown passou por uma ampla restauração recentemente.
Preser-fo to L ati ns to ck /© Jo se F us te R ag a/ C or bis /C or bis (D C ) fo to L at in st oc k/ © T im T ho m ps on /C or bi s/ C or bi s ( D C )
vando sua arquitetura histórica, o bairro hoje se revitalizou com desco-ladas lojas de design, decoração e arte, alguns dos melhores bares e pubs de Vancouver e, principal-mente, pela excitante cena gastronô-mica que cresce a cada dia, com novos restaurantes atraindo morado-res locais e viajantes.
O dia claro, de sol e sem nuvens, per-mite admirar com exatidão esta jovem cidade que tem se desenvolvido em harmonia com a exuberante natureza que a cerca. Talvez não seja à toa que tenha sido em Vancouver que, em 1971, um grupo de imigrantes ameri-canos fundou aquela que viria a ser a mais famosa ONG ambientalista do mundo – o Greenpeace. De lá pra cá, a cidade cresceu, é a oitava maior do Canadá e a primeira em sustentabili-dade, considerada a mais “verde” do país. O título é motivo de orgulho e não foi obtido por acaso – as autori-dades locais investem pesado. Van-couver já tem a menor emissão de carbono na atmosfera de toda a América do Norte e um audacioso programa quer transformá-la na cidade mais “verde” do mundo até 2020, tornando-a exemplo de ecodesenvolvimento.
Quando o piloto aterrissa novamente o helicóptero na mesma plataforma da partida, no alto da Grouse Mountain, cerca de 20 minutos se passaram,
em-bora a sensação de sobrevoar tão fascinante cidade faça com que o voo pareça ter durado bem mais.
Vida ao ar livre
A intrínseca relação de Vancouver com a natureza se evidencia na Grouse Mountain, o centro das ati-vidades esportivas de montanha da cidade, um complexo com restau-rantes, cafeteria e até dois ursos vivendo numa área protegida. Lo-calizada ao norte de downtown, na região batizada de North Vancou-ver, no inverno é a vez das pistas de esqui e snowboard ficarem cheias (inclusive à noite, pois as pistas são iluminadas e funcionam até as 22h), enquanto no verão e na pri-mavera turistas e moradores per-correm suas trilhas em meio a florestas de pinheiros. A última novidade em Grouse Mountain chama-se Eye of the Wind – uma enorme torre de geração de energia eólica de 65 metros de al-tura. Está erguida na parte mais alta do complexo, onde um teleférico leva o visitante até lá, que segue de-pois por um curto trajeto até a base da estrutura. Este caminho, em pleno mês de maio, estava ladeado por uma parede de neve de dois me-tros de altura. A torre é a primeira no mundo a ter um elevador interno que leva o visitante até o topo, a 1.273 metros acima do nível da ci-dade – considerando que a própria Grouse Mountain já está a pouco mais de 1.200 metros de altitude. Lá de cima, se o tempo ajudar, a pai-sagem compensa.
Ao lado, comerciante oferece embutidos em uma das bancas do Public Market, em Granville Island. Na página ao lado, pro-dutos do mesmo mercado, popular entre moradores e turistas
A VOCAÇÃO GOURMET DA
CIDADE É EXACERBADA
NO PUBLIC MARKET
fo to L uc ia no V el le da fo to L uc ia no V el le daAo lado, as pedras são elementos presentes nas ruas e construções da Cidade Antiga. Na página ao lado, a igreja na Royal Mile xxxxxxx
altura pode aproveitar
uma parte do chão feita
de grossos vidros e
cur-tir o visual embaixo.
Em dias de vento forte,
há relatos em tom
irô-nico de que a torre de
energia eólica balança
como um boneco
joão-bobo. Saindo da Eye of
the Wind e descendo o
teleférico que conecta a
Grouse Mountain com
sua base, próximo dali
encontra-se a segunda
mais importante
atra-ção turística de
Van-couver, a imagem que
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BAIRRO MAIS ANTIGO DA
CIDADE, GASTOWN TEM
AGITO E RESTAURANTES
Abaixo, o bar Reflection, no terraço do Rosewood Hotel. Na página ao lado, o Hawksworth, considerado o melhor restaurante do Canadá. No detalhe, um dos pratos do mesmo restaurante. Na dupla anterior, o Science World com sua arquitetura peculiar ao entardecer
ilustra muitos folders e cartões-postais: a clássica
Capilano Suspension Bridge. Construída em
1889, a ponte pênsil de 137 metros de
compri-mento cruza o rio Capilano a 70 metros de altura.
A mais antiga atração da cidade atualmente recebe
cerca de 1,5 milhão de visitantes por ano.
Ao chegar diante da ponte, é admi-rável o fluxo de pedestres que vão e voltam se balançando alegremente, sempre parando para sessões de fo-tografia. E quando algum grupo mais audacioso incentiva o balanço além da conta, uma voz metálica brada no alto-falante pedindo que o movimento seja interrompido. A última novidade na área chama-se Cliffwalk, aberto em 2011 após quatro anos de construção. Trata-se de uma firme passarela de madeira sustentada por cabos, formando um caminho que segue rente à encosta do penhasco, com o rio Capilano correndo no fundo do vale. Ao longo do percurso, placas e painéis reforçam conceitos ambientalistas de valorização dos recursos natu-rais, preservação e consciência eco-lógica, ideias que, em Vancouver, os moradores dizem que as crianças aprendem desde cedo na escola.
Vida urbana
Ao cruzar a pomposa Lions Gate, que conecta North Vancouver com Stanley Park e dali com o centro, a faceta urbana da cidade é tão atraente quanto a natureza que a cerca. O bairro da moda agora é Gastown. Durante o dia, lojinhas transadas garantem o movimento do comércio, mas é ao cair do sol que o bairro mais antigo de Vancouver se revela e diversos bares, como o Peckinpah, se agitam.
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Situado num dos tantos prédios históricos que
caracteri-zam a zona, logo na entrada uma estilosa garçonete de
batom preto, unhas azuis e piercing de argola no nariz já
oferece um copo d’água e gentilmente se dispõe a servir
uma bebida, enquanto o rock’n’roll embala o ambiente.
Não muito longe dali, o Clough Club leva o cliente para um
mergulho ao passado, porém, com toques de modernidade.
Paredes antigas de madeira e portas pesadas e grossas
lem-bram os velhos tempos de Gastown, enquanto a
ilumina-ção sutil e bem posicionada e o som animado de balada dão
o ritmo do pub, que antes das 20h já está bem agitado.
tauração da região, a parede de ti-jolo à vista faz referência à história do bairro, mas a música instrumen-tal, a primorosa carta de vinhos, as tábuas de frios e os menus de quei-jos em nada lembram a dureza de épocas antigas. No subsolo, uma imensa mesa de madeira rústica ao lado da adega é um cobiçado local para eventos e festas privadas. Mesmo não ficando exatamente em Gastown, embora esteja bem pró-ximo, o restaurante Hawksworth é reconhecido por revistas especiali-zadas em gastronomia não apenas como o melhor de Vancouver, mas também o melhor restaurante de todo o Canadá. Localizado no lu-xuoso Rosewood Hotel Georgia, sua marca é a dedicação exclusiva à culi-nária elaborada somente com produ-tos regionais e da estação. Em seus quatro elegantes salões, aromas e sabores se misturam e se reorgani-zam numa atmosfera de charme, re-quinte e prazer. O hotel é, aliás, prova de que a hotelaria na cidade faz jus à veia cosmopolita que per-corre Vancouver ao lado do Hotel Fairmont Pacific Rim e do Shangri-La, também luxuosos representan-tes da arte de receber.
A efervescência gastronômica de Vancouver pode ser observada, e provada, no colorido e festivo The Public Market, em Granville Island, próximo ao bairro de Yaletown.
SOB A GROUSE MOUNTAIN,
CAPILANO BRIDGE É
CARTÃO-POSTAL E ÍCONE DA CIDADE
Ao lado, a Capilano Suspension Bridge, um dos pontos turísticos obrigatórios na cidade. Na página ao lado, a estreita relação de Vancouver com a natureza e com a prática de esportes ao ar livre, como o caiaque fo to L uc ia no V el le da fo to L uc ia no V el le da
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Aberto diariamente das 9h às 19h, o mercado,
defi-nitivamente, não é lugar para quem está de dieta.
De-zenas de tendas e bancas oferecem desde queijos e
embutidos, peixes, chocolates enfeitados e frutas
exóticas até temperos indianos, cafés da Costa Rica,
do Quênia e Papua-Nova Guiné, pimentas
tailande-sas, chás, azeitonas de diversas partes do mundo,
pães caseiros e o que mais você puder encontrar.
E quando o visitante se cansar de tanta comida, ele pode alugar ao lado do mercado um caiaque para um tranquilo passeio pela canal False Creek, gastando as calorias adquiridas e admirando os imponen-tes e modernos prédios de Yale-town. Ou, se preferir, alugar uma bicicleta e percorrer os 28 km do seawall, uma ciclovia que contorna toda downtown, sempre ao lado das águas limpas que banham a cidade. Esse belo trajeto, aliás, é apenas uma pequena fração dos 300 km de ciclovias espalhadas por Vancouver, a moderna e mais ecológica cidade
do Canadá e, em breve, do mundo.
GUIA TOP
Quem leva: A Air Canada tem voos
diários partindo de São Paulo (Gua-rulhos) para Toronto (10 horas de viagem) e de lá conexão para Van-couver (mais 4h30). Passagem em classe econômica a partir de US$1.060 + taxas. Reservas: (11) 3254 6630 ou aircanada.com.br
Onde ficar: Hotel Fairmont Pacific Rim. Diárias, com café da manhã, a
partir de US$ 343 para o casal. Re-servas: fairmont.com/pacificrim
Rosewood Hotel Georgia. Diárias,
com café da manhã, a partir de US$ 250 para o casal. Reservas: rose-woodhotelgeorgia.com
Shangri-La Hotel. Diárias a partir
de US$ 320, para duas pessoas, com café da manhã. Reservas: shangri-la.com/vancouver
Onde comer: Hawsworth Restau-rant. Pratos a partir de US$ 36.
Re-servas: hawksworthrestaurante.com
Oru Cuisine. Pratos a partir de
US$ 24. Reservas: orucuisine.com Market. Pratos a partir de US$ 27. Reservas: shangri-la.com/Vancouver
A RELAÇÃO ÍNTIMA COM A
NATUREZA É REFORÇADA NA
ARQUITETURA DOS HOTÉIS
Ao lado, vista a partir do banheiro da suíte presidencial do Fairmont Pacific Rim. Na página ao lado, a piscina e área externa do mesmo hotel
Vista de Vancouver com a Grouse Mountain ao fundo to L ati ns to ck /© C hr is C he ad le/ A ll C an ad a P ho to s/ C or bis /C or bis (D C )