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Ecopedagogia: uma nova educação

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Academic year: 2021

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(1)Revista de Educação. ECOPEDAGOGIA: UMA NOVA EDUCAÇÃO. Vol. XII, Nº. 14, Ano 2009. Christine Yates Halal Universidade Federal do Pampa Unipampa chrishl77@yahoo.com.br. RESUMO Neste novo século, busca-se uma nova concepção de educação, mais voltada à sustentabilidade. A Ecopedagogia, também conhecida como Pedagogia da Terra, é uma dessas novas educações onde valores humanos fundamentais como amizade, respeito, aproximação entre o simples e o complexo, atenção, leveza, carinho, desejo e amor são tratados. Num mundo globalizado, onde se busca novas construções paradigmáticas, a Ecopedagogia surge num contexto de uma educação voltada à humanidade, para uma sociedade sustentável, onde os seres humanos possam interagir com a natureza desde o princípio de sua educação, aprendendo a respeitá-la. Além disso, a Ecopedagogia trata da forma de aprender a partir de uma visão de mundo. A abordagem deste trabalho visa produzir um artigo científico de cunho teórico sobre educação ambiental, enfocando a Ecopedagogia. Palavras-Chave: pedagogia da terra; educação ambiental; desenvolvimento sustentável; ecologia humana; educação do futuro.. ABSTRACT In this new century, a new conception of education is searching, more unsay to the sustentability. The Ecopedagogy, also known as Pedagogy of the Land, is one of these new educations where basic human values as friendship, respect, approach between the simple and the complex, attention, lightness, affection, desire and love are treated. In a globalize world, where new constructions paradigmatic is found, the Ecopedagogy appears in a context of an education unsaid to the humanity, toward a sustainable society, where the human beings can interact with the nature since the beginning of its education, learning to respect it. Moreover, the Ecopedagogy deals with the form to learn from a world vision. The approach of this work aims toproduce a scientific article of theoretical matrix on environmental education, focusing the Ecopedagogy. Keywords: pedagogy of the land; environmental education; sustainable development; human being ecology; future education.. Anhanguera Educacional Ltda. Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 2000 Valinhos, São Paulo CEP 13.278-181 rc.ipade@aesapar.com Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Artigo Original Recebido em: 23/10/2009 Avaliado em: 21/9/2010 Publicação: 18 de agosto de 2011. 87.

(2) 88. Ecopedagogia: uma nova educação. 1.. INTRODUÇÃO O homem ocidental, durante o período capitalista e numa visão modernista e antropocêntrica, colocou-se sobre a natureza na busca de satisfação e conforto material, porém custou a perceber o inexorável esgotamento do meio ambiente (TORALES; LEVY, 2003). Situações como catástrofes ambientais mais frequentes, crescimento da desertificação e graves alterações climáticas fazem com que o homem reflita ante a possibilidade da vida tornar-se inexecutável no Planeta Terra (ARAUJO; SILVA, 2007). Hoje, percebe-se que as pessoas estão imersas numa crise ambiental sem precedentes afetando, inclusive, a própria sociedade. A partir deste fato, surgem novos atores sociais, chamados Educadores Ambientais, que atuam mundialmente tanto na Educação formal como informal, defendendo a natureza. Para eles, o homem faz parte da natureza. Por isso, estes Educadores trabalham como pensadores e ativistas, buscando uma sociedade sustentável para as gerações de hoje e do futuro (TORALES; LEVY, 2003). “Muito nos interessa a luta desses atores sociais abrindo trincheiras, trilhando caminhos para consolidar um novo paradigma, a nova idéia do cidadão ecológico, seus movimentos, suas lutas” (TORALES; LEVY, 2003, p.2). A Ecopedagogia, também conhecida como Pedagogia da Terra, entendida como movimento pedagógico, abordagem curricular e movimento social e político, representa um projeto alternativo global que tem por finalidade promover a aprendizagem do sentido das coisas a partir do cotidiano e a promoção de um novo modelo de civilização sustentável.. 2.. DESENVOLVIMENTO. 2.1. Educação Ambiental A Educação é compreendida dentro de uma concepção freireana em que a reflexão sobre a realidade é tida como algo possível de buscar o cuidado de seus elementos opressores. Nessa concepção, a ação transformadora sobre essa realidade é um passo para a libertação do sujeito. Na perspectiva freireana, Educação é essencialmente um ato político que visa a possibilitar ao educando a compreensão de seu papel no mundo e de sua inserção na história (FREIRE, 1987; ANTUNES, 2002). Conforme a Política Nacional de Educação Ambiental (BRASIL, 1999), Entende-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.. Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2009 • p. 87-103.

(3) Christine Yates Halal. 89. De acordo com vários autores, poder-se-ia caracterizar a circunstância do despertar da Educação Ambiental a partir de diversos eventos internacionais, como publicações de denúncias na forma de livros na década de 60, de que foi marco a “Primavera Silenciosa” de Rachel Carson; encontros no final dos anos 70, em Tbilisi, na Rússia, palco para a formalização da prática educativa, sendo um projeto transformador, crítico e político; ou o surgimento, em vários países, de ações populares na década de 80, dedicadas ao crescimento a partir da Revolução Industrial (OLIVEIRA, 2000). Os testes nucleares contribuíram para fazer diferença em relação à existência do homem no planeta Terra. A partir deste fato macabro, pôde-se encontrar referência com o atual termo Educação Ambiental (OLIVEIRA, 2000). As pedagogias tradicionais, fundadas no princípio da competitividade, do processo seletivo e classificatório, não percebem a formação de um cidadão que precisa ser mais cooperativo e ativo. A educação ambiental em muitas escolas tem sido o ponto de partida dessa conscientização, embora se saiba que o ensino para um futuro sustentável é mais amplo do que uma educação ambiental ou escolar. A Educação Ambiental muitas vezes limitou-se ao ambiente externo sem se confrontar com os valores sociais, com os outros, com a solidariedade, não pondo em questão a politicidade da educação e do conhecimento (GADOTTI, 2000b, p.88).. A Educação Ambiental multiplica conceitos que muitas vezes servem de balizadores de ações pedagógicas em diversos grupos organizados. Fala-nos Reigota (1994, p.121) que A Educação Ambiental promove a construção de saberes pessoais que são a inscrição de subjetividades diversas na complexidade do mundo. Este conhecimento pessoal é construído em um processo dialético de confronto com a realidade e de diálogo com o outro (com os outros), que dá consistência e coerência ao saber, além de confrontar interesses, muitas vezes contrapostos, mas inseridos nos saberes pessoais e coletivos do mundo.. A educação ambiental atua no ponto de vista de cada indivíduo a partir de sua relação com os outros, possibilitando o conhecimento pessoal; e sua relação com o mundo, contribuindo para seu crescimento como cidadão.. 2.2. Globalização, Educação e Sustentabilidade – um enfoque na Ecopedagogia O homem vem há séculos explorando a natureza, usando-a irresponsavelmente em nome do desenvolvimento e do seu bem-estar. Com o surgimento da Revolução Industrial, a exploração pelos recursos naturais foi exagerada e hoje existe uma grande preocupação em encontrar alternativas que mudem a mentalidade de que o meio-ambiente nunca vai entrar em decadência.. Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2009 • p. 87-103.

(4) 90. Ecopedagogia: uma nova educação. O consumismo, modo de produção capitalista, principal responsável pela degradação do meio ambiente e esgotamento dos recursos materiais do planeta, baseado no lucro e na exclusão social, distancia cada vez mais ricos e pobres, países desenvolvidos e subdesenvolvidos, globalizadores e globalizados. Perdemos o norte, impulsionados por uma lógica da acumulação. Esse empenho inumano do paradigma mecanicista nos levou, entre outros nefastos resultados, à super-exploração do planeta Terra (GADOTTI, 2005b). Segundo Schmied-Kowarzik (1999, p.6), vivemos uma era de exterminismo. Pela primeira vez na história da humanidade, pelo descontrole da produção industrial, podemos destruir toda a vida do planeta. Passamos do modo de produção para o de destruição. “A possibilidade da autodestruição nunca mais desaparecerá da história da humanidade. Daqui para frente todas as gerações serão confrontadas com a tarefa de resolver este problema” (SCHMIED-KOWARZIK, 1999, p.6). O processo da globalização está mudando a política, a economia, a cultura, a história, portanto, também, a educação. Esse é um tema que deve ser enfocado sob vários ângulos. A globalização remete ao poder local e global fundido numa mesma realidade. A escola continuará sendo o principal canal de acesso às necessidades básicas de aprendizagem, mas há outros veículos de formação, como rádio, televisão, clubes, bibliotecas e outras múltiplas formas de educação comunitária, formal ou não formal, com uma vasta gama de tecnologias educacionais apropriadas a essas modalidades de formação (SANTOS, 2000). A globalização em si não é problemática, pois representa um processo de avanço sem precedentes na história da humanidade. O que é duvidoso é a globalização competitiva onde os interesses do mercado se sobrepõem aos dos humanos, onde os interesses dos povos se subordinam aos dos corporativos das grandes empresas transnacionais. Assim, podemos distinguir uma globalização competitiva de uma possível globalização cooperativa e solidária. A primeira está subordinada apenas às leis do mercado, e a segunda, aos valores éticos e à espiritualidade humana. O capitalismo agravou a capacidade de destruição da humanidade do que o seu bem-estar e prosperidade (FERREIRA, 2008). Hoje, as discussões estão centradas na preservação do presente, com vistas à sustentabilidade das gerações futuras. Para Gadotti (2003, p. 11): A sustentabilidade tornou-se um tema gerador preponderante neste início de milênio para pensar não só o planeta, um tema portador de um projeto social global e capaz de reeducar nosso olhar e todos os nossos sentidos, capaz de reacender a esperança num futuro possível, com dignidade para todos.. Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2009 • p. 87-103.

(5) Christine Yates Halal. 91. A educação é de grande importância na formação desta sociedade sustentável, pois “a educação, num sentido amplo, cumpre uma iniludível função de socialização, desde que a configuração social da espécie se transforma em um fator decisivo da hominização e em especial da humanização do homem” (PÉREZ GÓMEZ, 1998, p.13). Educação, nos dias atuais, tem a função de mediar o processo ensinoaprendizagem, o que deve ocorrer de forma significativa, pautada no cotidiano, na experiência vivenciada pelos aprendizes. “A educação terá um papel determinante na criação da sensibilidade social necessária para reorientar a humanidade” (ASSMANN, 2001, p. 26). Educar não seria, como dizia Émile Durheim, a transmissão da cultura de uma geração para outra, mas a grande viagem de cada indivíduo no seu universo interior e no universo que o cerca (DURHEIM apud GADOTTI, 2000b). Para Hutchison (2000, p. 164): Nossa tarefa para o futuro imediato deve ser a de continuar a articular essa visão e a de construir um paradigma curricular para as escolas que nos possa ajudar, da melhor forma possível, a recuperar um modo humano autêntico de relação com o mundo natural e a enfrentar de modo direto os desafios ecológicos com os quais nos deparamos atualmente.. Neste novo paradigma está inserida a Ecopedagogia, uma educação voltada ao respeito da natureza a partir de nossas atitudes diárias e que busca soluções para os problemas gerados pelo homem ao meio ambiente. O termo sustentabilidade tem sido associado à necessidade de se preservarem os recursos ambientais e de promover um tipo de desenvolvimento (humano e econômico) capaz de atender às necessidades das gerações atuais sem comprometer a sobrevivência das gerações futuras. Assim, teremos uma educação voltada para a conscientização de que existe uma inter-relação entre o homem e a natureza, e com a degradação do planeta, também será a extinção de todos os seres que o habitam. Através da educação para a sustentabilidade haverá reflexões e ações que proporcione “uma educação sustentável para a sobrevivência do planeta” (GADOTTI, 1998, p. 83). Para Francisco Gutiérrez, parece impossível construir um desenvolvimento sustentável sem uma educação para o desenvolvimento sustentável. Para ele, o desenvolvimento sustentável requer quatro condições básicas. Ele deve ser: a) economicamente factível; b) ecologicamente apropriado; c) socialmente justo; e d) culturalmente eqüitativo, respeitoso e sem discriminação de gênero (GADOTTI, 1998b, p. 2).. Essas condições são claras e auto-explicativas. O desenvolvimento sustentável, mais do que um conceito científico, é uma idéia mobilizadora, neste início de milênio. A Ecopedagogia tece críticas à supremacia neoliberal que assume as relações na sociedade contemporânea, caracterizada pelo surgimento de fronteiras econômicas e. Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2009 • p. 87-103.

(6) 92. Ecopedagogia: uma nova educação. financeiras, estimulada pelo livre comércio, gerando desemprego, aprofundamento das diferenças entre classes sociais, perda de poder e de autonomia estatal e nacional, além do distanciamento dos sujeitos do processo de tomada de decisão. É neste contexto que está centrado o debate em torno da sustentabilidade para a Ecopedagogia, ou seja, na compreensão da incompatibilidade entre o princípio do lucro, inerente ao modelo de desenvolvimento capitalista, e a sustentabilidade, tratada nas diversas dimensões, tanto social como política, econômica, cultural e ambiental (GADOTTI, 2000b). Gutiérrez e Prado vêem, na base deste modelo de sociedade, uma ordem préestabelecida, ordenada e dominante, que se apoia no poder, na máxima, na norma. Conferem essa ordem a uma concepção de mundo derivada da ciência mecanicista de Descartes e Newton. Em contrapartida, situa a Ecopedagogia no enfoque flexível, progressivo, complexo, coordenado, interdependente, solidário (LAYRARGUES, 2004). A Ecopedagogia acredita numa sociedade mais justa, em que o processo repressivo dê lugar a uma cidadania planetária, baseada no respeito às várias formas de vida no planeta. Conforme as palavras de Gadotti “precisamos de uma Pedagogia da Terra, uma pedagogia apropriada para esse momento de reconstrução paradigmática, apropriada à cultura da sustentabilidade e da paz. (GADOTTI, 2005a, p.12) “ Por isso, a educação deveria mostrar e ilustrar o Destino multifacetado do humano: o destino da espécie humana, o destino individual, o destino social, o destino histórico, todos entrelaçados e inseparáveis. Assim, uma das vocações essenciais da educação do futuro será o exame e o estudo da complexidade humana. Conduziria à tomada de conhecimento, por conseguinte, de consciência, da condição comum a todos os humanos e da muito rica e necessária diversidade dos indivíduos, dos povos, das culturas, sobre nosso enraizamento como cidadãos da Terra (MORIN, 2003, p. 61).. É nesse contexto, neste novo milênio, que devemos pensar a educação do futuro, começando por nos questionar sobre as categorias que podem explicá-la. As categorias “contradição”, “determinação”, “reprodução”, “mudança”, “trabalho” e “práxis” aparecem frequentemente na literatura pedagógica contemporânea, evidenciando uma perspectiva da educação, a perspectiva da pedagogia da práxis (MALDONADO et al., 2004). Para pensar a educação do futuro, é necessário observar sobre a técnica de globalização da economia, da cultura e das comunicações. Promover a justiça diante do direito humano é fundamental ao acesso à educação, mas também à permanência e possibilidade de usufruir dos benefícios provadores dela (PAULINO, 2007). Essas categorias, clássicas na explicação do fenômeno da educação, constituem-se um importante referencial para a nossa prática. Não podem ser negadas, pois ainda nos ajudarão, para a leitura do mundo da educação atual e, também, para a compreensão dos caminhos da educação do futuro (MALDONADO et al., 2004).. Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2009 • p. 87-103.

(7) Christine Yates Halal. 93. Aprender é muito mais que compreender e conceitualizar: é querer, compartilhar, dar sentido, interpretar, expressar e viver. Os sistemas educativos tradicionais privilegiaram a dimensão racional como a forma mais importante de conhecimento. A nova educação deve apoiar-se também em outras formas de percepção e conhecimento, não menos válidas e produtivas. (GUTIÉRREZ e PRADO, 1999, p. 68).. 2.3. Ecopedagogia A Ecopedagogia, também denominada Pedagogia da Terra ou Educação Sustentável, surgiu como proposta pedagógica para formação da sociedade sustentável, pois, conforme se lê na Carta da Ecopedagogia A sustentabilidade econômica e a preservação do meio ambiente dependem também de uma consciência ecológica e esta da educação. A sustentatibilidade deve ser um princípio interdisciplinar reorientador da educação, do planejamento escolar, dos sistemas de ensino e dos projetos político-pedagógicos da escola. Os objetivos e conteúdos curriculares devem ser significativos para o(a) educando(a) e também para a saúde do planeta (INSTITUTO PAULO FREIRE, 1999, p. 1).. O documento, ainda que minuta de discussão do Movimento pela Ecopedagogia, apresenta a Ecopedagogia como subsídio para ações educativas com a finalidade de reorientar o olhar das pessoas, “tendo como propósito a formação de cidadãos com consciência local e planetária que valorizem a autodeterminação dos povos e a soberania das nações” (INSTITUTO PAULO FREIRE, 1999, p. 1), ou seja, “Uma educação para a cidadania planetária”, tendo esta por finalidade “ a construção de uma cultura da sustentabilidade, isto é, uma biocultura, uma cultura da vida, da convivência harmônica entre os seres humanos e entre estes e a natureza”( INSTITUTO PAULO FREIRE, 1999, p. 2). É neste contexto que a Ecopedagogia propõe uma nova pedagogia dos direitos que associa direitos humanos – econômicos, culturais, políticos e ambientais - e direitos planetários, impulsionando o resgate da cultura e da sabedoria popular. Ela desenvolve a capacidade de deslumbramento e de reverência diante da complexidade do mundo e a vinculação amorosa com a Terra (INSTITUTO PAULO FREIRE, 1999, p. 2). A Ecopedagogia tem por finalidade reeducar o olhar das pessoas, isto é, desenvolver a atitude de observar e evitar a presença de agressões ao meio ambiente e aos viventes e o desperdício, a poluição sonora, visual, a poluição da água e do ar etc. para intervir no mundo no sentido de reeducar o habitante do planeta e reverter a cultura do descartável. A tomada de consciência dessa realidade é profundamente formadora. O meio ambiente forma tanto quanto ele é formado ou deformado. Precisamos de uma ecoformação para recuperarmos a consciência dessas experiências cotidianas. Na ânsia de dominar o mundo, elas correm o risco de desaparecer do nosso campo de consciência, se a relação que nos liga a ele for apenas uma relação de uso (MMA, 2000, p.2). Dizendo de outra forma, trata-se de uma pedagogia cujo objetivo é proporcionar discussões, reflexões e orientar a aprendizagem a partir da vivência cotidiana, subsidiada na percepção e no sentido das coisas, significativa para o aprendiz a ponto de mudar-lhe o comportamento e propiciar a sua interação com o meio em que esteja inserido (local e planetário), buscando a harmonia e a sustentabilidade. De acordo com Gutiérrez e Prado. Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2009 • p. 87-103.

(8) 94. Ecopedagogia: uma nova educação. (1999), define-se Ecopedagogia como a “teoria da educação que promove a aprendizagem do sentido das coisas a partir da ‘vida cotidiana’.” Algumas das características que marcam a Ecopedagogia, como planetaridade, cidadania planetária, cotidianidade e pedagogia da demanda, inserem-se nas seguintes linhas teóricas: holismo, complexidade e pedagogia freireana. O surgimento do pensamento holista data de meados do século XVIII, nas teorias do naturalista inglês Gilbert White (GRÜN, 1996), mas é Fritjof Capra uma das principais referências do holismo para a Ecopedagogia. Para Capra (2003, p.37), “a concepção do universo como um sistema mecânico composto de unidades materiais elementares está atrelada à crença num progresso material ilimitado a ser alcançado através do crescimento econômico e tecnológico.” Propor novas fundamentações para compreensão do mundo implica uma mudança no pensamento, na percepção e nos valores que regem a relação do ser humano com o universo. O momento de crise enfrentado pela humanidade contemporaneamente faz parte de uma profunda transformação cultural. Leonardo Boff, outra referência para a Ecopedagogia, associa estas novas formas de significar o mundo a “novos modos de ser, de sentir, de pensar, de valorizar, de agir, de rezar (...) novos valores, novos sonhos, e novos comportamentos assumidos por um número cada vez maior de pessoas e de comunidades” (BOFF, 1996, p.30). A base dessa mudança deve ser ética, fundada no pathos – sensibilidade humanitária, inteligência emocional – e no ethos – conjunto de inspirações, valores e princípios que orientarão as relações da sociedade com a natureza, dentro da sociedade, com o outro, consigo mesmo e com Deus (BOFF, 2003). A Terra é compreendida como “novo patamar da realização da história”, como “totalidade físico-química, biológica, socioantropológica, espiritual, una e complexa” (BOFF, 2003, p.23). As duas últimas características, especialmente, dão o tom da abordagem metodológica desta vertente que busca contribuir para a formação de novos valores para uma sociedade sustentável. (AVANZI apud LAYRARGUES, 2004, p.38). O autor Edgar Morin é outro destaque na Ecopedagogia. Num breve relato, alguns de seus elementos são: a recusa a um conhecimento geral e seguro que disfarça as dificuldades e dúvidas do processo de compreensão; a busca por ajustes entre ordem e desordem, já que para o autor a organização não pode ser reduzida à ordem, mas comporta uma “idéia enriquecida” de ordem, que engloba também a desordem; a junção entre o singular/local e o universal; a compreensão do mundo a partir de uma abordagem transdisciplinar e sistêmica, procurando inclusive estabelecer combinações intersistêmicas entre natural e social (MORIN, 1973, 1989, 1998b).. Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2009 • p. 87-103.

(9) Christine Yates Halal. 95. Por toda parte o princípio de disjunção e o de redução quebram totalidades orgânicas e são cegos em relação a uma complexidade cada vez menos escamoteável. Por toda parte o sujeito se reintroduz no objeto, por toda parte o espírito e a matéria chamam um pelo outro em vez de se excluírem, por toda parte cada coisa, cada ser reclama a sua reinserção no ambiente (MORIN, 1998a, p.207).. De acordo com as palavras de Morin, a concepção de Educação que fundamenta a Ecopedagogia baseia-se nas teorias de Paulo Freire. Uma das hipóteses centrais da Ecopedagogia, o “caminhar com sentido” (GUTIÉRREZ;PRADO, 2000, p. 39), advém da educação problematizadora proposta por Freire que coloca em questionamento o sentido da própria aprendizagem. Da pedagogia freireana sucede também a ética como essência do processo educativo e a compreensão deste como relação entre sujeitos que aprendem juntos a partir de diálogos entre si e com a realidade a ser compreendida de maneira rigorosa e imaginativa (FREIRE, 1998). “Para que se estabeleça esta relação dialógica e ética são necessárias: construção do respeito ao outro, relação harmoniosa com o mundo e com os homens, ideia sobre a imperfeição e infinitude próprios do ser-humano” (ANTUNES, 2002, p. 76-78). “A ecoformação, proposta por Gaston Pineau nos anos 1980, é identificada por Moacir Gadotti (2000a) como mais uma influência para as propostas da Ecopedagogia” (LAYRARGUES, 2004, p.38). Tendo em vista o cotidiano ser o lugar da intervenção pedagógica para a Ecopedagogia, os diversos espaços educativos são por ela valorizados. Não se trata de uma pedagogia escolar, mesmo que considere a escola como articuladora dos demais espaços educativos. Para que a escola assuma este papel, ressaltase a importância da reestruturação do gerenciamento político-administrativo, financeiro e pedagógico dos sistemas de ensino atuais, ou seja, uma descentralização democrática e a instauração de relações pautadas no diálogo (GADOTTI, 2000a). O conhecimento da Ecopedagogia do ponto de vista da sociedade e da política decorre no centro da sociedade civil, preocupado com o meio ambiente por uma ação pedagógica efetiva, introduz-se no movimento de renovação educacional como a transdisciplinariedade e o holismo (TORALES, 2003). Enfim, a questão da dimensão social diferente daquela visão primária naturalista do ambientalismo deve obrigatoriamente estar presente nos debates, e consequentemente na educação e na educação ambiental, pois segundo Gadotti (2000a, p. 241) “Isso exige, certamente, uma nova compreensão do papel da educação para além da transmissão da cultura e da aquisição do saber. Implica construção de novas relações.” O Movimento pela Ecopedagogia foi criado durante o I Encontro Internacional da Carta da Terra na Perspectiva da Educação, em agosto de 1999, na cidade de São Paulo. Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2009 • p. 87-103.

(10) 96. Ecopedagogia: uma nova educação. A organização do evento ficou a cargo do Instituto Paulo Freire com apoio da Unesco e do Conselho da Terra. “O intuito deste movimento é estimular experiências práticas na perspectiva da Ecopedagogia que estarão alimentando a construção de suas propostas teórico-metodológicas” (AVANZI apud LAYRARGUES, 2004, p.42). A Ecopedagogia procura se desenvolver, atualmente, como movimento social e também abordagem curricular. O primeiro é marcado por seu surgimento vinculado à ação política de Organizações não Governamentais e outros movimentos da sociedade civil em torno da discussão e elaboração da Carta da Terra. (AVANZI apud LAYRARGUES, 2004, p.41).. A Ecopedagogia implica uma reorientação dos currículos para que incorporem certos princípios defendidos por ela. Esses princípios deveriam, por exemplo, orientar a concepção dos conteúdos e a elaboração dos livros didáticos. Piaget nos ensinou que os currículos devem contemplar o que é significativo para o aluno. Sabemos que isso é correto, mas incompleto. “Os conteúdos curriculares têm de ser significativos para o aluno, e isso só se realizará se esses conteúdos forem significativos também para a saúde do planeta, para o contexto mais amplo” (GADOTTI, 2000b, p. 92). Como diz Gadotti (2000a, p.234), para que tenhamos uma Ecopedagogia temos de realizar uma educação para o desenvolvimento sustentável, pois as questões econômicas que permeiam o ensino devem ser revistas para trabalharmos na formação do “cidadão ambiental”. Gutiérrez, em seu livro Pedagogia para el Desarrollo Sostenible (MALDONADO et al., 2004, p. 85-86), o desenvolvimento sustentável aponta para novas formas de vida do “cidadão ambiental”: a) Promoção da vida para desenvolver o sentido da existência. Devemos partir de uma cosmovisão que vê a Terra como um “único organismo vivo”. Entender com profundidade o planeta nessa perspectiva implica uma revisão de nossa própria cultura ocidental, fragmentária e reducionista, que considera a Terra um ser inanimado a ser “conquistado” pelo homem. Uma visão que se contrapõe à cultura ocidental imperialista, que nos causa impacto, pela maneira peculiar com que se relaciona com a natureza, é a filosofia Maia. Ao invés de agredir a Terra para conquistá-la, os maias, antes de ará-la para “cultivá-la” (= cultuá-la), eles fazem uma cerimônia religiosa na qual pedem perdão à Mãe Terra por ter que agredila com o arado para dela tirarem o seu sustento. b) Equilíbrio dinâmico para desenvolver a sensibilidade social. Por equilíbrio dinâmico Gutiérrez entende a necessidade de o desenvolvimento econômico preservar os ecossistemas. c) Congruência harmônica que desenvolve a ternura e o estranhamento (“assombro”, capacidade de deslumbramento) e que significa sentir-nos como mais um ser - embora privilegiado - do planeta, convivendo com outros seres animados e inanimados. Segundo Gutiérrez (1994, p. 19), “... na busca desta harmonia será preciso uma maior vibração e vinculação emocional com a Terra...” Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2009 • p. 87-103.

(11) Christine Yates Halal. 97. d) Ética integral, isto é, um conjunto de valores -consciência ecológica- que dá sentido ao equilíbrio dinâmico e à congruência harmônica e que desenvolve a capacidade de auto-realização. e) Racionalidade intuitiva que desenvolve a capacidade de atuar como um ser humano integral. A racionalidade técnica e instrumental que fundamenta o desenvolvimento desequilibrado e irracional da economia clássica precisa ser substituída por uma racionalidade emancipadora, intuitiva, que conhece os limites da lógica e não ignora a afetividade, a vida, a subjetividade. Ou, como diz Morin e Kern (1993, p. 69-148), por uma “lógica do vivente”: Nós tivemos que abandonar um universo ordenado, perfeito, eterno, por um universo em devir dispersivo, nascido no cenário onde entram em jogo, dialeticamente -isto é, de maneira ao mesmo tempo complementar, concorrente e antagônica- ordem, desordem e organização. (...) É por isso que todo conhecimento da realidade que não é animado e controlado pelo paradigma da complexidade está condenado a ser mutilado e, neste sentido, à falta de realismo.. O paradigma da racionalidade técnica, concebendo o mundo como um “universo ordenado, perfeito”, admitindo que é preciso apenas conhecê-lo e não transformá-lo, acaba conduzindo à naturalização das desigualdades sociais. Elas deveriam ser aceitas porque o mundo é “assim mesmo” e é “natural” que seja assim. A racionalidade técnica acaba justificando a injustiça e a iniqüidade. f) Consciência planetária que desenvolve a solidariedade planetária. Um planeta vivo requer de nós uma consciência e uma cidadania planetárias, isto é, reconhecermos que somos parte da Terra e que podemos viver com ela em harmonia - participando do seu devir - ou podemos perecer com a sua destruição. A partir dos estudos realizados, pode-se afirmar que são princípios da Ecopedagogia (GADOTTI, 2000b): a) O planeta como uma comunidade única; b) a Terra como mãe, organismo vivo e em evolução; c) uma nova consciência que sabe o que é sustentável, apropriado, faz sentido para a existência humana; d) a bondade para com essa casa. O endereço dos homens é a Terra; e) a justiça sociocósmica: a Terra é um grande pobre, o maior de todos os pobres; f) uma pedagogia que promove a vida: envolver-se, comunicar-se, compartilhar, problematizar, relacionar-se, entusiasmar-se. Do. “Tratado. de. educação. ambiental. para. sociedades. sustentáveis. e. responsabilidade global”, Gadotti (2000b, p. 95-96) destaca alguns princípios básicos que podem revelar a compreensão que os partidários da Ecopedagogia têm da Educação Ambiental: •. Ter como base o pensamento crítico e inovador, em qualquer tempo ou lugar, em seus modos formal, não formal e informal, promovendo a modificação e a construção da sociedade; Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2009 • p. 87-103.

(12) 98. Ecopedagogia: uma nova educação. •. abranger uma visão holística, enfocando a relação interdisciplinar entre o ser humano, a natureza e o universo;. •. estimular a solidariedade, a igualdade e o respeito aos direitos humanos;. •. integrar conhecimentos, aptidões, valores, atitudes e ações, convertendoos em experiências educativas das sociedades sustentáveis;. •. auxiliar o desenvolvimento de uma consciência ética sobre formas de vida existente, respeitando seus ciclos vitais e impondo limites à exploração dessas formas de vida pelos seres humanos. Além disso, a educação ambiental é individual e coletiva. Tem intenção de formar cidadãos possuidores de consciência local e planetária, que respeitem a autodeterminação dos povos e a soberania das nações (FÓRUM GLOBAL 92, 1992, p. 194-196 apud GADOTTI, 2000b, p.95-6).. Gadotti (2000b, p.96) esclarece que: “A Ecopedagogia não se opõe à Educação Ambiental. Ao contrário, para a Ecopedagogia a Educação Ambiental é um pressuposto. A Ecopedagogia incorpora-a e oferece estratégias, propostas e meios para a sua realização concreta”. No entanto, seus autores compreendem-na como sendo mais ampla que a Educação Ambiental “por se preocupar com o sentido mais profundo do que fazemos com nossa existência a partir da vida cotidiana” (GADOTTI, 2000b, p.97). A “ecologia fundamentada eticamente” é o que embasa a compreensão de sustentabilidade defendida pela Ecopedagogia, a qual, segundo Gutiérrez e Prado (2000, p. 33), é mais ampla do que aquilo que chamam de “ambientalismo superficial”: Enquanto o ambientalismo superficial apenas se interessa por um controle e gestão mais eficazes do ambiente natural em benefício do ‘homem’, o movimento da ecologia fundamentada na ética reconhece que o equilíbrio ecológico exige uma série de mudanças profundas em nossa percepção do papel que deve desempenhar o ser humano no ecossistema planetário.. 2.4. Aplicação e Possíveis Caminhos para a Ecopedagogia. Prática da ecopedagogia em instituições de ensino Santana e Lima (2009) desenvolveram um método para inserir a Ecopedagogia no currículo escolar. A Escola pesquisada foi a Ramiro Júlio da Paixão, do município de Santo Estevão, Estado da Bahia, tendo como objetivo “contribuir com a construção de uma nova percepção humana sobre o meio ambiente e sobre todas as formas de vida.” (SANTANA; LIMA, 2009, p.03) Para alcançar o objetivo, organizou-se o trabalho da seguinte forma: inicialmente, os autores fizeram um diagnóstico da realidade, coletando informações sobre as necessidades educacionais de professores e alunos, principalmente pelo método de. Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2009 • p. 87-103.

(13) Christine Yates Halal. 99. observações e diálogos. A seguir, estruturou-se um plano de intervenção, partindo-se do “princípio que os currículos escolares, ao incorporarem alguns aspectos defendidos pela Ecopedagogia, poderão nortear de outra forma a abordagem aos conteúdos escolares, interrelacionados com a questão ambiental” (SANTANA; LIMA , 2009, p.04). Com isso, os conteúdos abordados em sala de aula, como a cultura das famílias e a inserção do mundo rural, passaram a ter significado aos alunos, indivíduos integrados ao todo, ao planeta. Já Sobrinho (2007), da Universidade Federal do Piauí (UFPI), refletiu sobre a importância da inserção da disciplina Ecopedagogia no Currículo do Curso de Licenciatura Plena em Pedagogia e as suas contribuições para a formação continuada de professores experientes, das séries iniciais do Ensino Fundamental. Utilizou-se um questionário para saber informações a respeito dos conteúdos relativos ao meio ambiente abordados nas séries iniciais, formas de abordagens desses conteúdos, recursos didáticos, contribuições da Ecopedagogia para a formação docente e relações entre o processo pedagógico, a cidadania ambiental e a cultura de sustentabilidade. Os conteúdos abordados foram ciclo da água, solo, poluição, desertificação, lixo, conservação do meio ambiente, queimadas, reciclagem de materiais, meio ambiente e relações do homem, entre outros. A abordagem dos conteúdos foi feita da seguinte forma: aulas expositivas dialogadas, estudos em grupo, atividades práticas, demonstrações individuais e/ou em grupos, visitas e outras. Quando os professores resolveram fazer aulas de campo, constataram que os discentes conseguiram respostas mais próximas dos conceitos científicos. Já as contribuições da Ecopedagogia para a formação de professores foram diversas. A seguir, alguns relatos de docentes sobre esta questão: •. “A principal contribuição foi o chamamento para uma visão do mundo. E pensar sobre a responsabilidade que me é designada na formação do cidadão planetário.”;. •. “[...] através dessa disciplina tivemos mais conhecimentos e informações para passarmos para os nossos alunos sobre a importância de preservar para que tenhamos no futuro: água, ar puro ...”. •. “Contribuiu na abordagem de temas a serem trabalhados e como devem ser inseridos no cotidiano escolar!”. Caminhos para a ecopedagogia Tomando como base o capítulo 5 do livro de Gutiérrez (2002, p. 75-76), que trata sobre praticar nossas relações cotidianas, podemos adotar outros referencias de indicadores de processo: Precisamos de novos indicadores (indicadores de processo) que apontem valores que, como sabemos, estão em clara contradição com muitas das “verdades” e “princípios” e “valores” de uma sociedade patriarcal, hierárquica e dicotômica.”. Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2009 • p. 87-103.

(14) 100. Ecopedagogia: uma nova educação. Requeremos novos estilos de vida pessoal, institucional e organizacional. A realidade descoberta pela física quântica não está rígida pelas leis mecânicas e lineares, mas pelos princípios da abertura, relatividade, complementariedade, iter-relacionalidade e autoorganização. O paradigma da nova ciência fundamenta-se muito mais nos processos que nos produtos. Além disso, são os processos dinâmicos, concordantes e harmônicos os primeiros produtos aos quais devemos apontar com insistência. A lógica de uma sociedade fundamentada em produtos deve dar lugar a outro tipo de lógica que se preocupa muito mais pelo crescimento das pessoas que pela produção e acumulação.. Em vista disso, muitas iniciativas, projetos e atitudes em diferentes ramos, como educacional, social, ambiental e econômica, têm nos desvendado experimentar diferentes indicadores e caminhos prováveis, comprometendo-se com os princípios ecopedagógicos. Nesse sentido, iniciativas educacionais, sociais, ambientais e econômicas, incluindo projetos e atitudes revela-nos o sabor humano de experimentar outros indicadores e caminhos possíveis, que afirmam na prática o comprometer-se com os princípios ecopedagógicos. Alguns exemplos: “Economia Solidária, Projeto Eco-Político Pedagógico, Orçamento Participativo, Agenda 21, Rede Virtual de Construção Intercultural da Paz, Fórum Social, Protagonismo Infanto-Juvenil e Adulto, Gestão Democrática entre tantas outras”, com destaque ao projeto de formação de formadores sociais chamado “Projeto JOVemPAZ – Construção intercultural da paz e da sustentabilidade”, em parceria entre Escolas Públicas, ONGs, e Empresa Pública, gerando uma experiência com os princípios e indicadores que sustentam a cultura ecopedagógica. (OLIVEIRA apud OLIVEIRA, 2003). Ainda de acordo com Oliveira (2003), [...] a cultura ecopedagógica poderá e deverá ser um caminho para um agir sustentável em relação às raças, gêneros, culturas locais, sexo, recursos naturais, organizações políticas, ambientais, econômicas e sociais, que possibilitará a todos terem o direito de viver e escolher os indicadores de qualidade e felicidade de vida, inspirados em princípios de respeito, solidariedade, igualdade, justiça, participação, paz, segurança, conservação, honestidade, precauções, entre outros valores, que pressupõem uma prática ecopedagógica emancipatória, voltada para uma cidadania planetária, ao se fazer com o outro e com o mundo.. 3.. CONCLUSÃO A partir da pesquisa sobre Ecopedagogia, conclui-se que as propostas pedagógicas de educação ambiental e sustentável abarcam os interesses e complexidades das discussões sobre educação e sustentabilidade, suscitando uma nova visão pedagógica que atenda as necessidades da sociedade e da educação contemporânea: a Ecopedagogia. A educação deverá ser reorientada tendo como princípio norteador a sustentabilidade do ser e do planeta. E isso a Ecopedagogia oferece. Essa nova educação está voltada à formação de cidadãos ativos com as questões ambientais. Cabe então à escola inserir em seu projeto político pedagógico e no planejamento escolar, objetivos e conteúdos curriculares que. Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2009 • p. 87-103.

(15) Christine Yates Halal. 101. sejam oriundos da prática cotidiana de sua clientela para se tornarem significativos para os mesmos. Pois, somente por meio de ações e reflexões é que se adquire saberes necessários para aprender a conhecer, a ser, a fazer e a conviver. Esses saberes deverão subsidiar as ações, decisões a fim de perceber o outro, a garantir o respeito e a harmonia consigo, com o outro, as nações, a natureza e o planeta.. REFERÊNCIAS ANTUNES, Ângela. Leitura do mundo no contexto da planetarização: por uma pedagogia da sustentabilidade. 2002. v. 1. Tese (Doutorado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo/SP. ARAUJO, Luiz Ernani Bonesso de; SILVA, Andressa Corrêa da. Um olhar ecopedagógico no direito. In: GORCZVESKI, Clovis. (Ed. Evangraf). Direitos Humanos, Educação e Meio Ambiente. Porto Alegre/RS: Ed. Evangraf, 2007, 341 p. ASSMANN, Hugo. Reencantar a educação: rumo à sociedade aprendente. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 2001, v.1, 251p. BOFF, Leonard. Ethos mundial. Rio de Janeiro: Sextante, 2003, 131p. ______. Ecologia: grito da terra, grito dos pobres. 2.ed. São Paulo: Ática, 1996, 342 p. BRASIL. Lei nº. 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental, e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 28 ab. 1999. Seção 1, n° 79, p. 1. CAPRA, Fritjof. O ponto de mutação: a ciência, a sociedade e a cultura emergente. 24ªed. São Paulo: Editora Cultrix, 2003, 448p. FERREIRA, Nereis Paula. Ecopedagogia e cultura da sustentabilidade frente à globalização. (Site do Web of Science), jul. 2008. Disponível em: <http://www.webartigos.com/authors/2970/Nereis-Paula-Ferreira>. Acesso em: 10 abr. 2009. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. 9. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998, 268p. ______. Pedagogia do oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987, 184p. GADOTTI, Moacir. Ecopedagogia e educação para a sustentabilidade. Canoas: Gráfica da ULBRA, 2005. ______. Ler e reler o mundo. São Paulo: Artmed, 2005. ______. A Ecopedagogia como pedagogia apropriada ao processo da Carta da Terra. Revista de Educação Pública, Cuiabá, v. 12, n. 21, 5p. jan./jun. 2003. ______. Pedagogia da terra. 5.ed. São Paulo: Ed. Fundação Peirópolis, 2000. 217p. ______. Perspectivas atuais da educação. 1.ed. Porto Alegre: Livraria Artmed, 2000, 294p. ______. Pedagogia da práxis. 2.ed. São Paulo: Cortez, 1998, 333 p. GRÜN, Mauro. Ética e educação ambiental: a conexão necessária. 7.ed. Campinas: Papirus, 1996, 120p. GUTIÉRREZ, Francisco. Pedagogia para el desarrollo sostenible. Costa Rica: Editorialpec, 1994, 14p. GUTIÉRREZ, Francisco; PRADO, Cruz. Ecopedagogia e Cidadania Planetária, Guia da Escola Cidadã – Instituto Paulo Freire. Trad. Sandra Trabucco Valenzuela. v.3, São Paulo: Cortez, 2002. ______. Ecopedagogia e cidadania planetária. 2.ed. São Paulo: Cortez, 2000, 128p.. Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2009 • p. 87-103.

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(17) Christine Yates Halal. 103. Educação Ambiental) - Programa de Pós-Graduação em Educação Ambiental, Curso de Educação Ambiental, Universidade do Rio Grande, Rio Grande/RS. Christine Yates Halal Graduação em Engenharia de Alimentos pela Universidade Federal do Rio Grande (2002), especialização em Gestão Ambiental em Municípios pela Universidade Federal do Rio Grande (2008), especialização em Didática e Metodologia do Ensino Superior pela Faculdade Atlântico Sul do Rio Grande (2009) e mestrado em Engenharia e Ciência de Alimentos pela Universidade Federal do Rio Grande (2005). Atualmente é integrante da Universidade Federal do Pampa.. Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2009 • p. 87-103.

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