“Pastagens e Forragens”, vol. 26/27, 2005/06, p.3-13
PRODUÇÃO DE FRANGOS DE CARNE EM PASTAGENS À BASE DE LEGUMINOSAS∗∗∗∗
PRODUCTION OF BROILER CHICKS IN LEGUMINOUS BASED PASTURES P. I. P. Ponte1, C. M. C. Rosado2, J. P. Crespo2, D. G. Crespo2, M. A. Chaveiro Soares3, J. L. Mourão4, I. Mendes5, L. T. Gama1,5, J. A. M. Prates1, L. M. A. Ferreira1, C. M. G.
A. Fontes1
1
CIISA – Faculdade de Medicina Veterinária, Pólo Universitário da Ajuda – Rua Prof. Cid dos Santos - 1300-477 LISBOA
2
Fertiprado - Herdade dos Esquerdos - 7450-250 VAIAMONTE 3
Instituto Superior de Agronomia - Tapada de Ajuda - 1349-017 LISBOA 4
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro - Apartado 1013 - 5000-911 VILA REAL 5
Estação Zootécnica Nacional - Fonte Boa - 2005-048 VALE DE SANTARÉM.
RESUMO
Portugal apresenta reconhecidas potencialidades edafoclimáticas para a produção de pastagens à base de leguminosas, tanto em condições de regadio como de sequeiro. Este trabalho pretendeu avaliar a possibilidade de desenvolver formas alternativas para a produção de frangos de carne em pastagens. Avaliou-se o desempenho produtivo de frangos RedBro Cou Nu x RedBro M mantidos dos 28 aos 56 dias em pastagens de sequeiro, à base de trevo subterrâneo (Trifolium subterraneum) e de regadio, à base de trevo branco (Trifolium repens). Esta avaliação processou-se em diferentes épocas do ano. As aves foram alojadas em gaiolas sem fundo que se deslocam diariamente na pastagem para favorecer o consumo de erva. Em conjunto com a avaliação do efeito da ingestão de biomassa na performance animal, determinou-se a importância nutricional da suplementação do alimento concentrado, fornecido ad libitum, com uma mistura de celulases e hemicelulases. Os resultados mostram que as aves com acesso à pastagem atingiram pesos finais significativamente mais elevados relativamente às aves privadas da biomassa pastoril. Verificou-se, ainda, que a suplementação enzimática não originou melhorias na performance. Quando avaliadas sensorialmente por um painel de consumidores, as carnes provenientes dos animais sujeitos aos tratamentos incluindo pastagens apresentaram uma apreciação global superior. Os resultados sugerem que as pastagens à base de leguminosas características da região mediterrânica poderão servir de base ao desenvolvimento de novos sistemas sustentáveis de produção de aves gerando produtos diferenciáveis e de elevada qualidade.
Palavras-chaves: Frangos; Pastagens; Leguminosas; Celulases; Hemicelulases.
ABSTRACT
Portugal has, recognizably, a huge potential for the production of leguminous based pastures. Here we aim to evaluate an alternative system for the production of broiler chicks in Mediterranean pastures. Performance of RedBro Cou Nu x RedBro M broiler chicks, from days 28 to 56, was evaluated in pastures based either on rainfed subterranean clover (Trifolium subterraneum) or irrigated white clover (Trifolium repens) in three periods of the year (Autumn, Spring and Summer). The birds were allocated in pasture pens that were daily moved in the field in order to potentiate grass consumption. In addition, the capacity of cellulases and hemicellulases to improve the nutritive value of pasture biomass was evaluated. The data showed that birds located in the pastures displayed higher final body weights in relation to the animals that, although located in the proximity, were not allowed grazing. Interestingly, cellulases and hemicellulase supplementation had no impact in broiler performance. Finally, a sensorial analysis suggests that meat originated from pastured broilers displayed higher sensorial properties. Together, the data suggest that leguminous based pastures characteristic of the Mediterranean region have a great potential for the development of sustainable broiler production systems that may generate high quality and differentiable products.
Keywords: Broiler; Pasture; Leguminous; Celullases; Hemicellulases.
1 - INTRODUÇÃO
A maioria dos produtos avícolas que actualmente chegam ao mercado é proveniente de sistemas de produção intensivos, que requerem grandes investimentos em equipamentos e exigem elevados encargos financeiros no funcionamento diário da exploração, nomeadamente em alimentação e condicionamento ambiental. Nos dias de hoje, o consumidor tem vindo cada vez mais a valorizar produtos provenientes de sistemas de produção alternativos, ao ar livre, que são normalmente associados a uma maior qualidade e bem-estar animal. Portugal dispõe de reconhecidas potencialidades edafoclimáticas para a produção de pastagens à base de leguminosas, tanto em condições de regadio como de sequeiro. A utilização destas pastagens na alimentação de frangos de carne poderá potenciar o desenvolvimento de novos sistemas sustentáveis
para a produção de carne de aves, que originem produtos apelativos para o consumidor e que, possivelmente, sejam portadores de uma qualidade diferenciada. Embora seja provável que a erva possa veicular compostos com uma acção benéfica na saúde e desempenho produtivo dos animais, a digestibilidade da pastagem, condicionada pelo seu teor em fibra, poderá limitar a utilização deste tipo de alimento por aves em crescimento (Ponte et al., 2004). Actualmente, complexos de celulases e hemicelulases microbianas são utilizados para melhorar o valor nutritivo de dietas à base de cereais ricos em polissacáridos não amiláceos para monogástricos. A sua utilização resulta numa melhoria significativa dos desempenhos zootécnicos dos animais, muito marcada em frangos em crescimento (Bedford e Classen, 1992); (Choct et al., 1995); (Fontes et al., 2004). No entanto, desconhece-se qual o impacto da suplementação de dietas para monogástricos mantidos em pastagem com celulases e hemicelulases, tanto na saúde como no comportamento produtivo dos animais.
Este trabalho teve como objectivo global a recolha de dados que permitam sustentar o desenvolvimento de formas alternativas para a produção de frangos de carne associadas a pastagens à base de leguminosas. Especificamente, pretendeu-se averiguar o impacto da ingestão de erva no desempenho produtivo de frangos mantidos em pastagem, dos 28 aos 56 dias de idade. Investigou-se, ainda, a capacidade de misturas complexas de celulases e hemicelulases para melhorar a utilização digestiva de dietas contendo uma proporção significativa de biomassa pastoril para frangos em crescimento. Finalmente, quantificou-se a apreciação geral das carnes resultantes destes sistemas de produção por parte de um painel consumidores. Para testar estas variáveis, as aves foram instaladas em gaiolas desprovidas de uma cobertura inferior, permitindo um contacto directo dos animais com a pastagem mas conferindo protecção contra predadores. A movimentação diária das gaiolas na pastagem permite o acesso permanente a erva não pisoteada favorecendo-se, assim, o consumo de biomassa. Este sistema foi desenvolvido tendo por base as normas técnicas preconizadas pela associação americana “Pastoured Poultry Association”, com ligeiras alterações (Salatin, 1999).
2 - MATERIAL E MÉTODOS
Para avaliar o efeito da produção de frangos ao ar livre, em pastagens à base de leguminosas, no desempenho produtivo dos animais e na qualidade sensorial da carne
assim obtida, realizaram-se, em três épocas do ano (Outono, Primavera e Verão), três ensaios seguindo o mesmo delineamento experimental. Os ensaios efectuaram-se em pastagens de sequeiro e de regadio, à base de trevo subterrâneo (Trifolium subterraneum) e de trevo branco (T. repens), respectivamente, instaladas na Herdade dos Esquerdos, Vaiamonte, distrito de Portalegre. As pastagens foram semeadas no Outono de 2002 e os ensaios iniciaram-se na Primavera seguinte tendo ficado terminados no ano de 2003. Distribuíram-se 240 frangos RedBro Cou Nu x RedBro M, com 28 dias de idade, pesados e marcados individualmente, em 24 grupos homogéneos de 10 animais. Dos 28 aos 56 dias de idade, as aves foram mantidas no campo, distribuídas por seis tratamentos replicados quatro vezes, tal como se encontra descrito no quadro 1. Os seis tratamentos resultaram da análise do efeito da introdução de celulases e hemicelulases exógenas (dois níveis: sem e com enzimas) e da pastagem (três níveis: sem e dois tipos de pastagem) na dieta dos animais. Cada tratamento utilizou assim 40 animais, em réplicas de dez animais cada. O delineamento foi desenhado para permitir averiguar o efeito da ingestão de erva e da suplementação enzimática no desempenho produtivo dos animais. Estes ensaios tiveram por base a utilização de gaiolas móveis e sem fundo, que se deslocaram manualmente sobre a pastagem de forma a disponibilizar forragem fresca diariamente aos animais e, assim, potenciar o consumo de erva. Os animais sem acesso à pastagem foram mantidos em gaiolas idênticas, fixas, sobre uma cama de aparas de madeira no local dos ensaios. Semanalmente, foram registados os pesos individuais das aves e o consumo de alimento composto, que foi, tal com a água, fornecido ad libitum em cada gaiola. No ensaio desenvolvido no Outono foi avaliada a ingestão de pastagem pelas aves. Assim, aos 56 dias de idade foi abatido um animal por gaiola e verificada a proporção de pastagem e de alimento concentrado presente no papo, possibilitando-se assim estimar o consumo total de pastagem. Os restantes animais foram abatidos num matadouro comercial e as carcaças congeladas a -20ºC até à realização das análises relativas à qualidade da carne. No dia do abate foram adquiridas, no mesmo matadouro, carcaças de animais provenientes do sistema extensivo de produção de frango ao ar livre, abatidos com 81 dias de idade e do mesmo genótipo dos frangos produzidos em pastagem.
As carnes resultantes do ensaio decorrido na Primavera foram sujeitas a uma avaliação sensorial da sua qualidade por um painel de 30 consumidores, nas instalações da Estação Zootécnica Nacional. Estes ensaios recorreram a consumidores habituais de carne de frango que participaram anteriormente em avaliações sensoriais semelhantes,
mas que desconheciam o objectivo e a natureza deste estudo. Após descongelação, as carcaças foram conservadas sob refrigeração (4ºC), ligeiramente salgadas e cozinhadas durante 40 minutos num forno comercial a 200 ºC. A prova foi realizada em metades de peito servidas sem a pele. Não foi fornecida qualquer informação relativa à carne e aos tratamentos/procedimentos experimentais aos membros do painel. Simultaneamente, apresentaram-se aos 30 membros do painel, pratos contendo 4 porções de carnes numeradas, obtidas de aves dos tratamentos experimentais C0 (sem acesso a pastagem), R0 (com acesso a pastagem de regadio), S0 (com acesso a pastagem de sequeiro) e ainda de carcaças comerciais provenientes de sistema de produção extensivo ao ar livre (frango do campo tradicional). Os consumidores avaliaram cada carne relativamente aos parâmetros tenrura, suculência, sabor e apreciação global, utilizando uma tabela classificativa com valores variando de 1 a 5. Neste trabalho, as significâncias estatísticas foram determinadas desenvolvendo análises de variância recorrendo ao programa SAS (SAS Inst. Inc1994).
QUADRO 1 - Descrição dos tratamentos em estudo, para determinar o impacto da ingestão de pastagem e da suplementação da dieta com celulases e hemicelulases no desempenho produtivo de frangos em crescimento mantidos ao ar livre.
Alimento composto1
Tratamento Pastagem
Suplemento enzimático2
RE Trevo branco em regadio ad libitum sim
R0 Trevo branco em regadio ad libitum não
SE T. subterrâneo em sequeiro ad libitum sim S0 T. subterrâneo em sequeiro ad libitum não
CE - ad libitum sim
C0 - ad libitum não
1
Alimento composto à base de milho e bagaço de soja com EM= 2900 kcal/kg e PB=19,1%. 2
Actividade enzimática por kg de alimento composto: 3920 U de endo-1,4-beta-xilanase; 660 U de endo-1,3(4)-beta-glucanase e 160 U de celulase.
3 - RESULTADOS
Este trabalho pretendeu avaliar o efeito da ingestão de erva fresca no desempenho produtivo de frangos de carne mantidos em pastagens à base de leguminosas e averiguar, até que ponto, a suplementação com celulases e hemicelulases pode contribuir para melhorar a utilização digestiva da biomassa pastoril pelos animais.
Os resultados, apresentados no quadro 2, mostram que o consumo de pastagem originou aves significativamente mais pesadas nas condições de Outono e Primavera. No ensaio de Verão, verifica-se que a ingestão de pastagem não afectou os pesos vivos finais, embora os animais sem acesso à pastagem tivessem atingidos peso maiores que as aves do mesmo tratamento nas condições de Outono e Primavera. Este facto pode resultar da existência de condições ambientais pontuais, mais propícias ao desenvolvimento das aves nos meses de Verão. Por outro lado, a biomassa disponível no ensaio de Verão, tanto nas condições de sequeiro como de regadio, encontrava-se seca, facto que resultou de um problema no sistema de rega que impediu manter a pastagem de regadio em condições de desenvolvimento vegetativo nesses meses do ano. Assim, globalmente estes resultados sugerem que a ingestão de erva tem efeitos positivos no peso vivo atingido aos 56 dias de frangos em crescimento mantidos em pastagem. A suplementação do alimento composto com celulases e hemicelulases não originou, no entanto, melhorias no desempenho produtivo das aves (quadro 2).
QUADRO 2 - Peso vivo de frangos aos 56 dias (em gramas), em ensaios realizados em pastagem em três épocas do ano distintas. Nestes ensaios testou-se o efeito da ingestão de erva e da suplementação enzimática no desempenho produtivo dos animais.
Tratamento Primavera Verão Outono
Sem Pastagem 1950,3 43,5 a 2273,8 22,9 2106,7 24,5 a P. Sequeiro 2069,1 30,7 b 2215,2 29,2 2211,9 24,5 b P. Regadio 2117,3 30,7 b 2285,5 22,9 2178,5 24,5 b p(F) 0,02 0,18 0,02 Sem Enzima 2032,6 28,2 2261,3 21,0 2182,3 20,5 Com Enzima 2058,4 28,2 2255,0 19,7 2149,2 19,6 p(F) 0,52 0,83 0,26 a,b
Letras diferentes na mesma coluna referem-se a diferenças significativas
Avaliaram-se os níveis de consumo de alimento concentrado dos animais dos vários tratamentos. Os resultados, não apresentados, demonstram que as aves mantidas em pastagem ingeriram quantidades significativamente superiores de alimento concentrado, nas condições de Primavera e Outono. No ensaio de Verão não se verificaram diferenças nos níveis de ingestão do alimento à base de cereais, entre animais dos vários tratamentos. No entanto, verifica-se que não existem diferenças significativas ao nível
da eficiência de conversão alimentar, entre os tratamentos com e sem acesso à pastagem, especificamente nos ensaios de Primavera e Outono (dados não apresentados). Assim, globalmente, os resultados sugerem que a ingestão de biomassa da pastagem potenciou um aumento dos consumos do alimento concentrado influenciando assim o desempenho produtivo dos animais. Desta forma, o consumo de erva potencia um aumento da quantidade de nutrientes disponíveis para absorção, por aumento dos níveis de ingestão mais do que por uma melhoria da utilização digestiva dos nutrientes per se.
A metodologia desenvolvida, no ensaio de Outono, para estimar a ingestão de biomassa pelas aves, permitiu avaliar a percentagem de erva ingerida pelos animais em pastagem em relação à ingestão total. Os resultados, apresentados no quadro 3, mostram que em termos de matéria fresca os níveis de ingestão de erva rondam os 18-25% do alimento total. No entanto, considerando que a percentagem de matéria seca da biomassa da pastagem é relativamente reduzida, as percentagens de erva ingerida, em termos de matéria seca, baixam para cerca de 2 a 5% do alimento total.
QUADRO 3 - Ingestão total e percentual de erva por frangos entre os 28-56 dias mantidos em pastagens à base de trevo subterrâneo (sequeiro) e trevo branco (regadio). Dados referentes ao ensaio de Outono.
% da Ingestão Total Ingestão estimada (g)
MS 1 MO 2 MO
Pastagem de Sequeiro 4,38 25,79 891
Pastagem de Regadio 2,46 18,05 1333
1
Matéria seca; 2 Matéria original
Para avaliar as características sensoriais da carne com origem nas aves dos vários tratamentos, os animais foram abatidos aos 56 dias num matadouro comercial e, após refrigeração, as carcaças foram congeladas a -20 ºC. No dia do abate, foram adquiridas no matadouro carcaças provenientes de aves com 81 dias de idade provenientes do sistema de produção de frangos em extensivo e ao ar livre, denominado por "frango do campo".
No momento apropriado, as carcaças foram descongeladas a 4ºC e cozinhadas conforme descrito na secção Material e Métodos para avaliação das suas propriedades sensoriais
por um painel de 30 consumidores. Os resultados, apresentados no quadro 4, mostram que o parâmetro “tenrura” teve a pior classificação para o frango do campo tradicional, factor que pode resultar da idade mais avançada destes animais. Embora não existam diferenças entre as quatro carnes em termos de suculência e sabor, a apreciação global das carnes provenientes de animais em pastagem foram superiores às do frango do campo. No entanto, os consumidores só valorizaram superiormente em termos de apreciação global a carne proveniente de pastagens de sequeiro relativamente aos animais que não ingeriram pastagem. Assim, em termos de apreciação global, a carne proveniente dos animais em pastagens de regadio não é diferente das carnes provenientes de animais mantidos nas mesma condições mas que não ingeriram pastagem.
QUADRO 4 - Avaliação sensorial de carne de frango proveniente de vários sistemas de produção, efectuada por um painel de 30 consumidores.
Tenrura Suculência Sabor Apreciação Global
Sem Pastagem 3,73 a 3,23 3,40 3,33 ab P. Sequeiro 3,97 a 3,30 3,77 3,77 c P. Regadio 3,80 a 3,27 3,47 3,56 bc Frango do campo 1 3,30 b 3,00 3,37 3,10 a EPM 0,120 0,162 0,145 0,146 p(F) 0,0012 0,552 0,196 0,0102 ab
Letras diferentes na mesma coluna referem-se a diferenças significativas; 1
Aves com 81 dias de idade e obtidas segundo o sistema de produção extensivo ao ar livre.
4 - DISCUSSÃO
Com este trabalho pretendeu-se avaliar o efeito da ingestão de erva e da suplementação enzimática da dieta nos desempenhos produtivos de frangos de carne mantidos em pastagens à base de leguminosas de sequeiro ou de regadio. Os resultados mostram que as aves com acesso à pastagem atingiram pesos vivos finais aos 56 dias significativamente superiores relativamente aos animais mantidos nas mesmas condições mas sem acesso à pastagem. Este aumento de peso foi em todos os ensaios em que se manifestou este efeito de pelo menos 100 g de peso vivo por ave nos 28 dias de ensaio. Verifica-se que a melhoria do desempenho produtivo dos animais está dependente da ingestão de pastagens em pleno desenvolvimento vegetativo o que se verificou nos ensaios desenvolvidos na Primavera e Outono. No ensaio de Verão um
problema no sistema de rega resultou na exclusiva disponibilização de pasto seco para os animais instalados tanto nas pastagens de sequeiro como nas de regadio. Assim conclui-se que a putativa ingestão de pasto seco não concorre para a melhoria do desempenho dos frangos em crescimento mantidos em pastagem. Por outro lado é interessante verificar que nos ensaios de Outono e Primavera os efeitos na melhoria do peso vivo se manifestem de forma idêntica tanto nos grupos mantidos nas pastagens de sequeiro como nas de regadio. Verificou-se no entanto que a pastagem foi ingerida em quantidades reduzidas correspondendo a valores que rondam os 2 a 45% da ingestão total de Matéria Seca. A composição florística e o valor nutritivo da erva poderão ter motivado níveis de ingestão mais elevados da pastagem à base de T. repens. No entanto tanto na pastagem de sequeiro como de regadio os níveis de ingestão foram suficientes para potenciar um aumento do consumo do alimento concentrado motivando-se assim uma melhoria no desempenho produtivo das aves em crescimento. Desta forma os resultados sugerem que as melhorias verificadas no comportamento zootécnico dos animais resultam de um aumento da quantidade de nutrientes ingeridos e não da contribuição da erva fresca para a melhoria da utilização digestiva dos nutrientes disponibilizados pelo alimento composto.
Surpreendentemente a suplementação da dieta das aves em crescimento com uma mistura contendo celulases e hemicelulases não influenciou significativamente o peso final dos animais. O facto das enzimas não concorrerem para a melhoria do desempenho produtivo dos frangos em pastagem sugere que a sua acção não contribui para disponibilizar uma quantidade significativa de açúcares para a absorção a nível intestinal. A inacção das enzimas na melhoria do valor nutritivo da erva pode ter resultado de uma gama variada de factores. Assim a adição das enzimas directamente ao alimento concentrado poderá ter prejudicado a interacção dos biocatalisadores celulásicos e hemicelulásicos com os seus substratos alvo em resultado da potencial ingestão diferencial da erva e do alimento concentrado. Por outro lado a elevada complexidade da fibra estrutural da biomassa pastoril poderá requerer para a sua hidrólise completa ou parcial níveis de enzimas mais elevados e/ou tempos de actuação enzimática mais alargados. O trabalho futuro será desenhado para averiguar a fiabilidade destas possibilidades com o objectivo de desenvolver novas estratégias de suplementação enzimática que possam potenciar aumentos de valor nutritivo da biomassa forrageira para monogástricos em pastagem.
Os resultados mostram que os consumidores consideram que as carnes provenientes dos animais com acesso às pastagens são significativamente mais tenras sendo as melhores classificadas numa apreciação global. Estes resultados sugerem que o consumo de erva não só melhora significativamente o desempenho produtivo como contribui para gerar produtos com uma qualidade superior que é adicionalmente diferenciada pelos consumidores. Note-se que as más classificações obtidas pelo tradicional frango do campo devem decorrer da maior idade ao abate destes animais 81 dias comparativamente com os animais utilizados neste ensaio 56 dias. De facto está firmemente estabelecido que a idade ao abate contribui para diminuir a tenrura da carne e que esta variável é a que mais influencia as características sensoriais da carne (Ponte et al. 2004). Para avaliar a possibilidade das diferenças sensoriais observadas pelos consumidores serem reflexo de características intrínsecas e quantificáveis da carne analisada encontramo-nos neste momento a avaliar as propriedades bioquímicas da carne proveniente dos animais deste sistema de produção.
5 - CONCLUSÕES
Os resultados apresentados neste trabalho permitem concluir que a ingestão de pastagem influencia positivamente o desempenho produtivo de frangos em pastagem sugerindo que a ingestão erva potencia o aumento do consumo do alimento concentrado. Celulases e hemicelulases exógenas adicionadas ao alimento concentrado não originam melhorias significativas no desempenho produtivo dos animais com acesso à pastagem. Significativamente um painel de consumidores considerou que as carnes provenientes das pastagens são as melhores classificadas numa apreciação global. Em conjunto estes resultados sugerem que o nosso País reúne as condições favoráveis para o desenvolvimento de novos sistemas sustentáveis para a produção de carne de frango ao ar livre que podem dar origem a produtos de elevada qualidade e capazes de serem diferenciados pelos consumidores.
6 - AGRADECIMENTOS
Este trabalho foi financiado pelo Projecto Agro 57 INIAP. Agradecemos ao Grupo Valouro a disponibilização das suas instalações para o abate dos animais. Patrícia Ponte é bolseira da Fundação para a Ciência e Tecnologia referência SFRH/BD/17969/2004.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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CHOCT, M. et al. (1995) - Non-starch polysaccharide-degrading enzymes increase the performance of broiler chickens fed wheat of low apparent metabolizable energy. Journal of Nutrition. 125:485-492.
FONTES, C. M. G. A. et al. (2004) - A family 6 carbohydrate-binding module potentates the efficiency of a recombinant xylanase used to supplement cereal-based diets for poultry. British Poultry Science. 45:648-656.
PONTE, P. I. P. et al. (2004) - Quality cholesterol and lipid content and sensory characteristics of meat from broilers consuming moderate or high levels of alfalfa. Poultry Science. 83:810-814.
SALATIN, J. (1999) - Pastured poultry profits. USA: Polyface Inc.
SAS INSTITUTE SAS/STAT® (1994) - Guide for personal computers. 7th edition. Cary NC: SAS Institute Inc.
