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(1)0. UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO FACULDADE DE HUMANIDADES E DIREITO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO. A IGREJA DO NAZARENO: DOS PRIMÓRDIOS (1895) AO CINQUENTENÁRIO NO BRASIL (2008). por Jefferson Rodrigues de Oliveira. São Bernardo do Campo 2011.

(2) 1. UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO FACULDADE DE HUMANIDADES E DIREITO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO. A IGREJA DO NAZARENO: DOS PRIMÓRDIOS (1895) AO CINQUENTENÁRIO NO BRASIL (2008). por Jefferson Rodrigues de Oliveira. Orientador: Prof. Dr. Leonildo Silveira Campos Área: Ciências Sociais e Religião Dissertação apresentada em cumprimento parcial às exigências do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião, para obtenção do grau de Mestre.. São Bernardo do Campo 2011.

(3) 2. FICHA CATALOGRÁFICA Ol4i. Oliveira, Jefferson Rodrigues de A igreja do Nazareno: dos primórdios (1895) ao cinqüentenário no Brasil (2008) / Jefferson Rodrigues de Oliveira -- São Bernardo do Campo, 2011. 155fl. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) – Faculdade de Humanidades e Direito, Programa de Pós Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo Bibliografia Orientação de: Leonildo Silveira Campos.. 1. Santidade - Doutrina bíblica 2. Igreja do Nazareno - Brasil - História I. Título CDD 287.9909.

(4) 3. A dissertação de mestrado, sob o título “A Igreja do Nazareno: dos primórdios (1895) ao cinquentenário no Brasil (2008).”, elaborada por Jefferson Rodrigues de Oliveira foi apresentada e aprovada em 05 de abril de 2011, perante a banca composta pelo Prof. Dr. Leonildo Silveira Campos (Presidente/UMESP), Profª. Drª Sandra Duarte de Souza (Titular/UMESP) e Profª. Drª. Eliane Moura Silva (Titular/UNICAMP).. ______________________________________________ Prof. Dr. Leonildo Silveira Campos Orientador e Presidente da Banca Examinadora. _______________________________________________ Prof. Dr. Jung Mo Sung Coordenador do Programa de Pós-Graduação. Programa: Ciências da Religião Área de Concentração: Ciências Sociais e Religião Linha de Pesquisa: Instituições e Movimento Religioso.

(5) 4. À Simone, ao Nathan e ao Daniel com amor..

(6) 5. AGRADECIMENTOS.  A todos aqueles que diretamente contribuíram para realização desse trabalho, em especial, a Jesus Cristo, Criador da vida e Senhor da força, à Josélia pela inspiração da vitória, à Simone pela inspiração da paciência, ao Nathan pela inspiração da amizade, ao Daniel pela inspiração da alegria.  Ao Instituto Ecumênico de Pós Graduação (IEPG) pela bolsa concedida, durante o primeiro ano do Curso, à Ana Maria pela paciência e boa vontade em fazer com que essa ajuda chegasse a minhas mãos e à Coordenação acadêmica, pela contribuição e informações administrativas.  Aos reverendos Dilo Palhares, que me facultou acesso a importantes documentos da Igreja do Nazareno e ao Geraldo Nunes, reitor da Faculdade Nazarena do Brasil, pela acolhida nas viagens de pesquisa de campo e às bibliotecárias dessa instituição que me facultaram preciosos materiais de pesquisa.  Ao Delegado Francisco Carvalho Martins e à Delegada Marisa de Oliveira Costa, da Polícia Civil de Minas Gerais, que me possibilitaram tempo para empreender-me nas pesquisas.  Aos ilustres professores do Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião da UMESP que, de forma magnífica, trouxeram-me importantes conhecimentos sobre as religiões.  Dedico especial agradecimento ao Doutor Leonildo Silveira Campos, meu orientador, que com seu vastíssimo conhecimento, competência e grande paciência, conduziu-me até à conclusão deste trabalho.  Aos colegas da casa dos estudantes e aos amigos Max, Alex, Rubens, Altair e Val, os quais me fizeram sentir, em São Paulo, a verdadeira hospitalidade mineira.  À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (CAPES), pela concessão da bolsa nos dois últimos semestres do Curso..

(7) 6. Há uma tendência de anular o passado... Quando tentamos anular o passado, nós anulamos com antecedência, de antemão o nosso futuro. Joaquim Antônio Lima (Primeiro Superintendente distrital da Igreja do Nazareno no Brasil, 1961.).

(8) 7. OLIVEIRA, Jefferson Rodrigues de. A Igreja do Nazareno: dos primórdios (1895) ao cinquentenário no Brasil. (2008): Dissertação de Mestrado, Universidade Metodista de São Paulo – UMESP, São Bernardo do Campo, 2011.. RESUMO. Este trabalho é uma descrição e análise sócio-histórica da Igreja do Nazareno nos aspectos mais importantes que contribuíram para sua inserção e expansão no Brasil. Descrevemos a trajetória formativa dessa Igreja nos Estados Unidos, partindo das considerações históricosociológicas dos valores teológicos que ela agrega, como o Arminianismo, a tradição wesleyana e a doutrina da santidade. Buscamos entender, primordialmente, como se deu o processo de inserção e expansão da Igreja do Nazareno no Brasil, sua estrutura de governo, sua prática litúrgica, a formação de pastores, a forma de agregação de membros e a relação que se estabelece entre esses pastores e os membros. O estudo sobre essa denominação ainda é incipiente no meio acadêmico brasileiro, assim, buscamos suplantar a ausência de informações sobre ela, nesse meio. Portanto, ressaltamos os aspectos de um enfoque sócio histórico institucional que podem se distanciar da forma eclesial como os próprios nazarenos compreendem sua denominação. Na abordagem desse objeto, enfatizamos a pesquisa bibliográfica, a análise documental, a utilização de recursos audiovisuais, bem como a observação participante. Este trabalho possibilitou o entendimento de que a Igreja do Nazareno, desde seus primórdios, conduz sua prática pela distinção no meio protestante em que se insere. No caso do Brasil, em que existem muitas outras denominações, a Igreja se firma sobre sua principal distinção, a doutrina da santidade, a qual, por um enfoque da teoria das economias religiosas, tem servido de produto para atender determinado nicho do mercado religioso brasileiro.. Palavras-chave: Movimento de santidade, Doutrina da santidade, Igreja do Nazareno, Igreja do Nazareno no Brasil..

(9) 8. OLIVEIRA, Jefferson Rodrigues. The Church of the Nazarene: the beginning (1895) of the fiftieth anniversary in Brazil (2008). Master‟s thesis - Methodist University of São Paulo UMESP, São Bernardo do Campo, 2011.. ABSTRACT. This thesis is a description and a socio-historical analysis of Church of the Nazarene in all major aspects that contributed to its insertion and expansion in Brazil. We describe the formative history of this church in the United States, drawing on historical and sociological considerations of theological values that it brings, as arminianism, the wesleyan tradition and the doctrine of holiness. We try to understand, primarily, as was the process of integration and expansion of the Church of the Nazarene in Brazil, its governance, its liturgical practice, the training of pastors, the form of aggregation of members and the relationship established between these pastors and members. The study of that denomination is still incipient in the Brazilian academic, so we try to overcome the lack of information about it in the medium. Therefore, we emphasize the aspects of a socio-historical institutional approach that can distance themselves form the Church as the Nazarenes understand their own denomination. In addressing this subject, we emphasize the literature, documentary analysis, use of audiovisual resources, as well as participant observation. This work enabled the understanding that the Church of the Nazarene, from its beginnings, the practice follows the distinction between Protestant in which it operates. In the case of Brazil, where there are many others denominations, the Church has been firmed on its main distinction, the doctrine of holiness, which, by a focus on the theory of religious economies, has served as a product to meet specific market niche Brazilian religious.. Keywords: Holiness Movement, the Doctrine of Holiness, Church of the Nazarene, the Nazarene Church in Brazil..

(10) 9. SUMÁRIO INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 10 CAPÍTULO 1 .......................................................................................................................... 18 ANTECEDENTES SOCIORRELIGIOSOS DA FORMAÇÃO DA IGREJA DO NAZARENO ........................................................................................................................... 18 Introdução ................................................................................................................................. 18 1.1 Esclarecendo a relação entre uma perspectiva sociológica e a eclesiologia....................... 20 1.2 O arminianismo .................................................................................................................. 24 1.3 O arminianismo na Inglaterra ............................................................................................. 27 1.4 A tradição wesleyana .......................................................................................................... 29 1.5. O reavivamento wesleyano ................................................................................................ 32 1.6 Doutrina da Santidade ........................................................................................................ 34 1.7 O Movimento de Santidade ................................................................................................ 38 Conclusão ................................................................................................................................. 55 CAPÍTULO 2 .......................................................................................................................... 57 A IGREJA DO NAZARENO ................................................................................................ 57 Introdução ................................................................................................................................. 57 2.1 Phineas Bresee (1838-1915) ............................................................................................... 57 2.2 As Associações e Igrejas formativas da Igreja do Nazareno .............................................. 66 2.2.1 A formação da Associação das Igrejas Pentecostais da América (AIPA). .............. 66 2.2.2 A formação da Igreja de Cristo em Santidade (ICS) ............................................... 68 2.2.3 A união da Igreja do Nazareno com a AIPA e a ICS ............................................... 71 2.2.4 A consolidação da Igreja do Nazareno: uma interpretação weberiana .................. 77 2.3 A Estrutura de poder na Igreja do Nazareno ...................................................................... 81 2.4 A Mídia Nazarena ............................................................................................................... 93 Conclusão ................................................................................................................................. 98 CAPÍTULO 3 ........................................................................................................................ 100 A IGREJA DO NAZARENO NO BRASIL ....................................................................... 100 Introdução ............................................................................................................................... 100 3.1 A Igreja do Nazareno: sua trajetória de Cabo Verde ao Brasil. ....................................... 101 3.2 A inserção da Igreja do Nazareno no Brasil ..................................................................... 107 3.3 A Igreja do Nazareno vista a partir da economia das trocas religiosas ............................ 117 3.4 A Atualidade da Igreja do Nazareno no Brasil ................................................................. 121 3.5 O Pastorado Nazareno ...................................................................................................... 125 3.6. Cultos e Práticas Nazarenas ............................................................................................. 132 Conclusão ............................................................................................................................... 140 CONCLUSÃO....................................................................................................................... 142 BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................. 151.

(11) 10. INTRODUÇÃO. A Igreja do Nazareno é uma instituição religiosa que surgiu do Movimento de santidade nos Estados Unidos, no final do Século XIX. Em seu Manual -2009-2013(IGREJA DO NAZARENO/MANUAL 2009-2013, 2009, p. 14) ela se apresenta como uma Igreja protestante, cujas maiores heranças são a tradição armínio-wesleyana e a doutrina da santidade. O aparecimento da Igreja do Nazareno se deu em meio ao contexto de convulsões sócio-religiosas do período posterior à Guerra de Secessão estadunidense (1861-1865), em que as denominações1 presentes pareciam não atender as demandas religiosas nem adaptar suas práticas às contingências da sociedade da época. A Igreja do Nazareno se consolidou como expressão nacional de um movimento que buscava atrelar as práticas religiosas às necessidades sociais, tais como: prestar assistência aos pobres, aos viciados, combater a escravidão e promover um estilo de vida regrado. Esse movimento foi chamado de Movimento de santidade ou Movimento “holiness”, do qual a Igreja do Nazareno tornou-se herdeira. A prática dos fundadores da Igreja do Nazareno de se voltarem para as questões sociais, em meio ao crescimento urbano, trouxe divergência com outras denominações, principalmente, com alguns ramos do metodismo que não viam nas ações sociais uma alternativa para os problemas causados pelo desenvolvimento das cidades e, assim, sentiram o esvaziamento de suas igrejas causado pela adesão a um cristianismo mais prático e de valorização dos seres humanos. O Movimento de santidade foi primordialmente voltado aos mais carentes e excluídos, que buscavam aderir a ele como forma de promoção social e religiosa. A adesão à doutrina da santidade proporcionava a todos um novo condicionamento religioso pela purificação dos pecados e um novo “status” social por ingressarem em um ambiente de liberdade e igualdade. 1. Segundo Mendonça, o protestantismo norte americano desenvolveu o fenômeno religioso chamado denominacionalismo. Esse fundamentou uma nova base social civil-religiosa que caracterizava pela associação voluntária às igrejas e que por sua forma expandia o ideal puritano. Cada denominação tinha um propósito ou intenção fundamentada em doutrinas teológicas específicas que por sua vez propugnavam um chamado divino específico. A palavra denominação implica um grupo vinculado a uma instituição maior, a afirmação básica é que a Igreja verdadeira não se identifica com nenhum desses grupos em particular, com isso nenhuma denominação afirma representar toda Igreja de Cristo em particular. Nenhuma denominação insiste que as outras Igrejas são falsas e que a sociedade deveria se submeter aos seus regulamentos eclesiásticos. (Cf. MENDONÇA, Antônio Gouvêa. 1984, p. 45- 46.).

(12) 11. A consolidação da Igreja do Nazareno como maior expressão nacional do Movimento de santidade nos Estados Unidos decorreu da união de vários grupos e igrejas de santidade naquele país. Essa união visou à estruturação institucional em uma única igreja, que harmonizasse a ação e o pensamento das principais lideranças envolvidas com o Movimento de santidade oriundas de todas as regiões dos Estados Unidos. Esse processo refletiu na forma de governo representativa formada por vários níveis hierárquicos de poder. Essa estrutura organizacional expandiu-se pelo mundo, chegando em 1901 nas Ilhas de Cabo Verde de onde vieram os principais missionários que implantaram a Igreja do Nazareno no Brasil, a partir de 1958. O estudo dos primórdios da formação da Igreja do Nazareno até seu cinquentenário no Brasil visa, sobretudo, a compreensão do que é a Igreja do Nazareno, quais foram os principais aspectos sociorreligiosos que contribuíram para seu surgimento, como se formou sua estrutura de poder, como foi sua difusão pelo mundo, como se deu sua chegada ao Brasil, como se consolidou nesse país e que diferencial ela traz em meio ao cenário religioso no Brasil. A fim de responder a essas questões, iniciamos com o enfoque nos antecedentes formativos da Igreja do Nazareno os quais a própria Igreja assume como herdeira desses movimentos e aspectos teológicos, a saber: o arminianismo, a tradição wesleyana, o Movimento de santidade e a doutrina da santidade. A abordagem desses aspectos é feita no capítulo I, no qual se enfatiza as condições sociais e religiosas em que se desenvolveram esses conceitos. Mesmo tendo eles grande valor teológico, partimos da premissa que nenhum constructo humano é apriorístico e não tenha ligação com a realidade em que surgiu. O segundo capítulo aborda a formação da Igreja do Nazareno em si, descreve a ação dos pioneiros nazarenos nos Estados Unidos, destacando a figura de Phineas Bresee. Nesse capítulo, tratamos, também, do surgimento da Associação das Igrejas Pentecostais da América e da Igreja de Cristo em Santidade que se uniram à congregação da Igreja do Nazareno para formarem a maior expressão institucional do Movimento de santidade nos Estados Unidos, a Igreja do Nazareno. Assim, destacamos os dois processos de formação da Igreja do Nazareno. Primeiro, aquele em que ela surge como uma congregação do Movimento de santidade, em 1895 e, segundo, aquele em que ela surge como expressão nacional e institucional desse movimento, em 1908. O processo de consolidação da Igreja do Nazareno, como expressão nacional do Movimento de santidade nos Estados Unidos, desenvolveu uma estrutura hierárquica de governo representativo que possibilitou a ela organizar inserções em várias.

(13) 12. partes fora dos Estados Unidos, tornando uma das principais instituições promotoras da mensagem de santidade no mundo. Enfatizamos, nesse capítulo, o papel que a mídia exerceu na Igreja do Nazareno. Desde os primeiros anos em que se tornou expressão nacional do Movimento de santidade, os princípios nazarenos foram difundidos pela mídia escrita. A literatura de santidade tornou essa Igreja conhecida de um extremo ao outro dos Estados Unidos, ao mesmo tempo, foi um fator importante para sua expansão em áreas mundiais. A Mídia radiofônica nazarena, em muitos casos, precedeu a ação missionária da Igreja pelo mundo. Pela análise desses aspectos, procuramos mostrar que o recurso midiático foi fator preponderante para se legitimar não apenas as ações externas da Igreja, mas, principalmente, criar um vínculo de coordenação entre os vários grupos que a compuseram, a fim de alcançarem uma expressão unilateral do Movimento de santidade nos Estados Unidos e fora dele, principalmente, em decorrência da forte internacionalização que a Igreja do Nazareno já apresentava na segunda metade do Século XX. Abordamos o processo de consolidação da Igreja do Nazareno nos Estados Unidos, a partir de uma perspectiva weberiana, a fim de mostrar o processo de mudança de uma dominação carismática para a dominação burocrática-legal decorrente da rotinização de atividades e das novas gerações de Superintendentes gerais que passaram a direcionar as ações dessa Igreja. No capítulo terceiro, tratamos da Igreja do Nazareno no Brasil. Iniciamos com o estudo de seu desenvolvimento desde Cabo Verde, porque através dessas Ilhas se deu o percurso que os nazarenos fizeram para se chegar ao Brasil. Os principais pioneiros nazarenos tiveram uma passagem importante em Cabo Verde e por meio dessa experiência implantaram a Igreja em território brasileiro. José Zito e Joaquim Antônio Lima foram cabo-verdianos que tiveram papel preponderante nesse processo de inserção e expansão e Earl Mosteller, missionário americano que esteve nas Ilhas por 12 anos antes de vir ao Brasil, é, oficialmente, o fundador da Igreja do Nazareno no país. Nesse capítulo, desenvolvemos o processo de inserção da Igreja na cidade de Campinas e sua expansão para outros centros urbanos, como Belo Horizonte, Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. Destacamos que esse processo foi construído sobre as estratégias de utilização dos espaços midiáticos radiofônicos e escritos, bem como, pela busca de alinhamento político que proporcionaram à Igreja do Nazareno rápido estabelecimento nas cidades escolhidas..

(14) 13. Em perspectiva teológica, defendemos a ideia de que a Igreja do Nazareno procurou se distinguir das outras denominações no cenário religioso brasileiro, por meio da doutrina da santidade. Essa doutrina, tratada em termos do arcabouço teórico da economia das trocas religiosas, deu a essa Igreja a chamada vantagem comparativa, ou seja, a doutrina da santidade foi um produto mercadológico distinto entre os demais produtos religiosos em circulação no mercado brasileiro. A Igreja do Nazareno atendia a um nicho de mercado formado por aqueles que se sentiam insatisfeitos com as igrejas das quais faziam parte e por pessoas que buscavam uma forma diferenciada do cristianismo protestante não vista nas igrejas estabelecidas no eixo de inserção da Igreja do Nazareno no Brasil. A teoria das economias religiosas, utilizada como arcabouço nesta pesquisa, distingue da abordagem mercantilista da religião em que esta é vista dentro de uma lógica em que as igrejas mudam seus padrões de comportamento para atender ao mercado de clientes religiosos. Nessa perspectiva mercantilista, as igrejas utilizam de técnicas e procedimentos do mercado para atrair os fiéis. Estruturas de marketing, gestão, negócios e de administração são utilizadas na busca de se consolidarem no mercado religioso. Ao contrário, a teoria das economias religiosas considera a lógica do mercado, mas não enfoca a mercantilização da religião. Essa teoria percebe as igrejas como instituições que estão inseridas na competição para ofertar produtos religiosos, mas que não mudam seus padrões para alcançar as pessoas e sim buscam atender uma demanda já definida. Em síntese, as diferenças entre as denominações criam um mercado de produtos religiosos que estão em concorrência perfeita, devido à quebra do monopólio religioso da Igreja Católica. Cada igreja busca seu nicho religioso sem alterar ou buscar outras formas teológicas para atender o público, visto que para os proponentes dessa teoria não é possível a uma única instituição religiosa atender toda a demanda. A Igreja do Nazareno, com seu produto diferenciado da santificação, orienta-se para aqueles que visam ao aperfeiçoamento, isso é, a doutrina da santidade é uma expressão teológica que suplanta a simples justificação, pois é um ato posterior a ela. Assim, intrinsecamente, está destinada às pessoas que já tiveram uma experiência da vida religiosa dentro das denominações protestantes. O produto religioso da santificação atende, então, àqueles membros das igrejas que, inconformados com elas, buscam novos caminhos, ou então, atende àqueles que não veem nas membresias dessas igrejas uma mudança substancial de estilo de vida, a ponto de não quererem experimentar a crença dessas pessoas. A doutrina.

(15) 14. da santidade é endereçada ao chamado aperfeiçoamento dos santos, nicho do mercado religioso pouco vislumbrado por outras instituições religiosas. Ao mesmo tempo em que assim caracterizamos a doutrina da santidade na perspectiva da teoria das economias religiosas, podemos observar que a inserção da Igreja do Nazareno no Brasil foi mais uma tentativa de se estabelecer enquanto instituição do que se empenhar no chamado processo de evangelismo em si. A Igreja não se inseriu em um ambiente pagão ou areligioso, pelo contrário, muitas outras denominações já haviam se estabelecido nos grandes centros, de forma que, ela não buscou centros pioneiros de missões, mas o seu estabelecimento em um meio repleto de outras instituições religiosas protestantes. A estratégia de Mosteller foi buscar os centros desenvolvidos culturalmente para que as pessoas que se afiliassem à Igreja do Nazareno pudessem assimilar mais rapidamente a doutrina da santidade. Além disso, Mosteller procurou se alinhar politicamente às autoridades para obter apoio às ações da Igreja. Tais condicionamentos remetem que o objetivo principal da inserção da Igreja do Nazareno no Brasil foi, primeiro, se estabelecer institucionalmente e, segundo, atender a uma demanda teológica não atendida por outras instituições presentes no Brasil. Dessa forma, a inserção da Igreja do Nazareno no Brasil não foi uma forma de contra-cultura, mas de assimilação de todos os elementos que lhe pudessem ser propícios ao seu desenvolvimento no país. Este estudo da Igreja do Nazareno visa também qualificá-la em temos de suas práticas litúrgicas, de formação pastoral, de agregação de membros e de suas crenças básicas. Portanto, aborda aspectos como a centralidade da Bíblia, a dominação carismática pastoral sobre a membresia e a relação burocrática-legal na hierarquia da Igreja. Esses aspectos ressaltam a extensão da influência da Igreja sobre os seus membros, que é percebida além do âmbito meramente eclesial. A figura do pastor adquire proeminência frente às demais lideranças e sobre qualquer pessoa na Igreja, com isso, suas decisões passam a efeito normativo referendado pelo poder da Bíblia. Aliás, a centralidade que a Bíblia tem na Igreja do Nazareno decorre de sua condição como a Palavra de Deus e da interpretação que o pastor lhe dá. Não é comum questionar os atos e discursos do pastor se ambos forem interpretados a luz da Palavra de Deus. Essa interpretação é dada com autoridade pelo pastor, portanto, há uma simbiose entre a Palavra de Deus e a palavra do pastor. Decorre disso, que o pastor, conforme a concepção tomada de Jean-Paul Willaime (2003), torna-se um tipo de clérigo, que assume papéis específicos de manutenção da ordem.

(16) 15. eclesiástica, da qual a Bíblia é o principal instrumento de legitimação. Figuras bíblicas que enaltecem o caráter de liderança são constantemente comparadas aos pastores nazarenos. Ocorre uma sacralização da figura do pastor em relação aos membros das igrejas, de modo que os intentos pastorais geralmente são alcançados. Essa condição somente é perdida, quando o pastor perde o carisma da mensagem. Fora isso, a membresia nazarena está suscetível de incorrer em práticas das mais variadas, somente controladas pela dominação burocrática-legal da hierarquia da Igreja. Em todos esses aspectos, este trabalho procura suplantar a falta de conhecimento sobre a Igreja do Nazareno, trazendo ao conhecimento público as características formativas e essenciais dessa Igreja, por meio do estudo da questão de como foi o processo de formação e consolidação da Igreja do Nazareno até o ano de seu cinquentenário no Brasil. Em decorrência desta problematização, apresentamos como hipótese principal, que o processo de inserção da Igreja do Nazareno no Brasil se deu como resposta à falta de uma instituição no cenário protestante brasileiro que vinculasse sua mensagem diretamente ao aperfeiçoamento dos já convertidos. Assim, apontamos que, a inserção e expansão da Igreja do Nazareno no Brasil visaram cobrir um lapso dogmático que nem as Igrejas clássicas e nem as pentecostais suplantaram com suas mensagens e doutrinas. A Igreja do Nazareno visualizou o cenário religioso brasileiro em termos das economias religiosas, ou seja, um ambiente de concorrência em que seria necessário um fortalecimento institucional, ao invés de uma prática evangelística pulverizada. Mesmo que entendamos que a doutrina da santificação propugnada pela Igreja do Nazareno não se originou com ela e nem é exclusividade dela, os nazarenos entendem que o Movimento de santidade se desvaneceu no âmago de outras denominações que a princípio haviam aderido à doutrina da santidade. Assim como nos Estados Unidos se buscou uma organização centralizada que preservasse e difundisse a mensagem da santidade proveniente do Movimento holiness, assim os nazarenos buscaram implantar uma instituição eclesial no Brasil que difundisse a perspectiva original da santidade. Podemos aventar tal hipótese, pela necessidade apresentada pelo casal Stegemoeller, nazarenos residentes no Brasil, de solicitar à direção da Igreja nos Estados Unidos a vinda de missionários para implantação da Igreja no Brasil, bem como, apesar da ausência da Igreja do Nazareno no país, José Zito, um de seus pioneiros, não ter se filiado às Igrejas Congregação Cristã no Brasil, Presbiteriana, Metodista ou qualquer outra, enquanto a Igreja do Nazareno não se estabeleceu em terras brasileiras..

(17) 16. A doutrina da santidade é patente em toda a forma de argumentação para consolidação da Igreja do Nazareno no Brasil, resta avaliarmos qual o ganho ou perda essa doutrina trouxe para sua afirmação no contexto religioso brasileiro. Pela dificuldade que temos para harmonizá-la dentro das categorias do protestantismo brasileiro, ressaltamos que seus valores essenciais ainda são bem distintos das demais instituições religiosas no país, até mesmo daquelas oriundas do Movimento de santidade. Tal hipótese se revela nas reiteradas vezes que periódicos, boletins, artigos, apostilas, organogramas, etc., oriundos dessa Igreja, insistem em mostrar o vínculo distintivo dessa denominação com a doutrina da santidade. Por fim, ressaltamos que, o foco desse estudo é a descrição e análise da formação e expansão de uma instituição religiosa que visa a se estabelecer em um cenário protestante diversificado. Portanto, esse estudo atende a uma lógica institucional da fundação, desenvolvimento e reprodução de uma organização religiosa, baseado na perspectiva da sociologia da Religião de Max Weber (2004), François Houtart (1994) e Thomaz O‟Dea (1969) e na especificidade de sua inserção em um mercado religioso plural abordado pela teoria das economias religiosas. Para não perdermos os aspectos bíblicos e teológicos pertinentes a essa instituição, buscamos o diálogo com o ramo da Teologia denominado de eclesiologia. No aspecto metodológico, priorizamos a análise dos documentos da Igreja, como manuais, atas, correspondências, ofícios, revistas e jornais, bem como, a análise de material audiovisual, contidos em fitas VHS e em CDs. Efetuamos pesquisas em seminários nazarenos e na Faculdade Nazarena do Brasil. Empenhamos visitas à Igreja do Nazareno central em Campinas e em outras Igrejas dos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Goiás. Coletamos informações, por meio eletrônico, junto às Igrejas das outras regiões do Brasil e dialogamos com importantes lideranças dessa Igreja no Brasil, a fim de obtermos esclarecimentos e informações não disponíveis em documentos. Utilizamos também da observação participante e do diálogo com leigos nazarenos para melhor caracterizarmos o objeto dessa pesquisa Entendemos que, apesar da singularidade da Igreja do Nazareno, seu estudo pode ser proveitoso para aqueles que percebem que os fatos que a envolvem são semelhantes aos que envolvem outras igrejas protestantes e que os aspectos abordados nesse estudo podem ser uma contribuição para aqueles que desejam embrenhar nos caminhos da pesquisa sobre outras.

(18) 17. igrejas. A partir dessas considerações, mostramos a seguir, no primeiro capítulo, a descrição e análise dos movimentos e fatos que formaram o campo ideológico da Igreja do Nazareno..

(19) 18. CAPÍTULO 1. ANTECEDENTES SOCIORRELIGIOSOS DA FORMAÇÃO DA IGREJA DO NAZARENO. Introdução Esse capítulo enfoca os antecedentes sociorreligiosos que contribuíram para a formação da Igreja do Nazareno, no final do Século XIX. Nele, procuramos descrever e analisar os principais fatores que a própria Igreja do Nazareno define como essenciais em sua formação, conforme está estabelecido em seu Manual -2009-2013- (IGREJA DO NAZARENO/MANUAL 2009-2013, 2009.). Trataremos, portanto, das descrições analíticas do arminianismo, principalmente, na sua expressão inglesa; da tradição wesleyana, da doutrina da santidade e do Movimento de santidade ocorrido nos Estados Unidos, no Século XIX. A Igreja do Nazareno é uma instituição religiosa fundamentada nos princípios da Reforma Protestante. Surgida nos Estados Unidos no final do Século XIX, ela se considera herdeira da doutrina wesleyana de santidade que se difundiu nesse país através do Movimento de santidade, ou Movimento holiness como também é conhecido. Essa instituição foi inicialmente denominada de Igreja do Nazareno, a partir da congregação fundada pelo Pastor metodista Phineas Franklin Bresee (1838-1915) e pelo médico, também metodista, Joseph Pomeroy Widney (1841-1938), em 30 de outubro de 1895, na cidade de Los Angeles. Segundo Timothy L. Smith ([195-], p. 123-126), Bresee e Widney, antes de fundarem a Igreja do Nazareno, haviam se associado à Missão Peniel, uma missão que prestava assistência aos pobres em meio o crescimento urbano estadunidense. Enquanto estava vinculado à Missão Peniel, Bresee requereu sua renovação como ministro da Igreja Metodista, que lhe foi negada, ocasião em que se desligou dessa Igreja. Após algum tempo, também se desligou da Missão Peniel por divergências com seus líderes. Bresee e Widney alugaram um espaço na Rua South Main nº 317 (IGREJA DO NAZARENO/MANUAL 1997-2001, 1997,.

(20) 19. p. 18) e anunciaram os mesmos serviços de auxílio aos pobres, denominando esse espaço de Nazareno, por entenderem que era o nome que mais identificava Jesus Cristo com os pobres. O crescimento das atividades na South Main fez surgir a Igreja do Nazareno. A incipiente Igreja do Nazareno cada vez mais se imbricava com os princípios do Movimento de santidade. Aliás, o seu pressuposto de um cristianismo social advinha desse movimento que se solidificava cada vez mais por meio da organização de grupos independentes de santidade que se espalharam pelos Estados Unidos. Entre eles, estavam a Associação de Igrejas Pentecostais da América (1887) e a Igreja de Cristo em Santidade (1894). Em 1896, a Associação das Igrejas Pentecostais da América e a Associação Central Evangélica de Santidade uniram-se, mantendo o nome da primeira associação, cujo principal expoente era o pastor Hiram Reynolds. (IGREJA DO NAZARENO/MANUAL 1997-2001, 1997, p. 17). No final do ano de 1907, essa Associação uniu-se em Chicago à Igreja do Nazareno. Reynolds e Phineas Bresee foram eleitos os Superintendentes gerais da Igreja do Nazareno. Durante o ano de 1908, o Superintendente geral assistente e antes evangelista da Igreja Cristã de Santidade, Christian Wismer Ruth promoveu a união desta com a Igreja do Nazareno, dando origem à Igreja Pentecostal do Nazareno, em 13 de Outubro em Pilot Point, Texas. Tal data é a oficialmente aceita como a da fundação da Igreja Pentecostal do Nazareno, cujo nome foi mudado na Assembleia geral de 1919, para Igreja do Nazareno. (IGREJA DO NAZARENO/MANUAL 1997-2001, 1997, p. 20). A Igreja do Nazareno, mesmo antes de sua data oficial de fundação já efetuava o trabalho missionário em outras regiões, como na Índia e alguns países de América Central. No Brasil, a Igreja se estabeleceu depois de consolidada teológica e administrativamente nos Estados Unidos. Sandro José Hayakawa Cunha (2007, p. 30) descreve a chegada de alguns missionários da Igreja do Nazareno no Brasil. Ele afirma que o desembarque, no Porto de Santos, do pastor nazareno de Cabo Verde, José Zito de Oliveira, em julho de 1956, foi o início da história nazarena no Brasil. Todavia, antes dessa data, já havia membros leigos nazarenos habitando no país, mas que vieram com objetivos trabalhistas e não devido a uma ação missionária da Igreja do Nazareno no Brasil. Segundo relatos de alguns líderes dessa Igreja, o mesmo aconteceu com José Zito que viera ao Brasil para trabalhar e não por mandado oficial da Igreja para atuar como missionário. Oficialmente, a Igreja do Nazareno chegou ao Brasil em 1958, por meio do reverendo Earl Elwood Mosteller e de sua esposa Gladys Marie Parker Mosteller e, pouco depois, com a.

(21) 20. vinda do casal de missionários Charles e Joana Gates. Earl Mosteller e Charles Gates, com suas respectivas esposas e filhos, chegaram ao Brasil a pedido do casal Stegemoller que havia enviado uma carta à sede da Igreja do Nazareno nos Estados Unidos solicitando missionários para instalarem a Igreja do Nazareno no território brasileiro. Os Stegemoller vieram a trabalho em uma indústria de tratores e máquinas pesadas em Campinas, o que significa que não vieram ao Brasil a serviço da Igreja. Outros missionários e novos adeptos da Igreja do Nazareno fizeram com que essa se espalhasse para outros Estados e cidades nos poucos meses posteriores, como é o caso de Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Distrito Federal. Cinquenta anos depois, a Igreja do Nazareno encontra-se em todas as regiões do Brasil com aproximadamente 90 mil membros. (IGREJA DO NAZARENO/AGENDA, 2009.).. 1.1 Esclarecendo a relação entre uma perspectiva sociológica e a eclesiologia A breve explanação que fizemos sobre a Igreja do Nazareno tenta mostrar como a formação institucional é dependente do ambiente sócio-histórico que a circunscreve, portanto o estudo do processo formativo da Igreja do Nazareno servirá dos arcabouços teóricos que privilegiam a institucionalização dos movimentos religiosos, uma vez que buscamos, neste capítulo, o entendimento do processo formativo de uma instituição: a Igreja do Nazareno. Tomamos, portanto, na análise desse objeto os condicionamentos sócio-históricos mais importantes que contribuíram para o surgimento dessa Igreja. Esses condicionamentos são retratados, como já dissemos, a partir das próprias concepções que a Igreja entende como essenciais à sua formação, portanto as definições de arminianismo, da tradição wesleyana e do Movimento de santidade nos Estados Unidos sustentam a abordagem deste capítulo. Assim, a forma de análise que propomos é uma simbiose entre a abordagem da Sociologia da Religião sobre as instituições religiosas2 e a eclesiologia, visto que os aspectos sociais de formação da Igreja estão intrinsecamente ligados aos fatores teológicos que ela adota, ou seja, há uma interpretação teológica dos eventos sociais no âmbito da Igreja do Nazareno. A eclesiologia é um ramo da teologia cristã que estuda a Igreja e suas doutrinas. Conforme Alister Edgar McGrath (2005, p. 543), a eclesiologia busca responder à questão. 2. Nesse aspecto, tomamos como referência teórica as perspectivas sociológicas da religião de Francois Houtart (1994) e Thomaz O‟Dea (1969)..

(22) 21. básica: O que é a Igreja? Dessa forma, essa disciplina estuda uma instituição de cunho burocrático formal, mas também de valor simbólico espiritual. Na perspectiva de uma eclesiologia protestante, tem-se que a Reforma Protestante (1517) se iniciou dentro da visão do que seria a Igreja, visto que de imediato, contradizia os princípios hierárquicos, burocráticos e teológicos da Igreja Católica Romana. Para Lutero, a Igreja Católica havia perdido o direito de ser considerada a autêntica igreja cristã por haver se distanciado da doutrina da graça3. Segundo Walter Altmann (1994), Lutero fazia distinção entre a igreja externa e igreja interna, isso é, a igreja enquanto instituição humana e comunidade mística espiritual. No entanto, essa separação não era tão patente; são “dimensões que se dão sempre em simultaneidade, não como entidades compartimentadas.” (ALTMANN, 1994, p. 126). Mesmo assim, Lutero apresentou contundente crítica à Igreja institucional. Para ele, “o que se crê não é corporal nem visível. Todos nós vemos a Igreja Romana exterior. Por esta razão, ela não pode ser a verdadeira Igreja, que é crida e é uma comunidade ou assembleia dos santos na fé”. (LUTERO, 1987. p. 378). A diferenciação proposta por Lutero estava no conceito utilizado para designar a natureza da igreja, mas não para torná-la intocável do ponto de vista das críticas. As críticas de Lutero se voltavam para a parte visível da Igreja expressa nas figuras do clero. Essa crítica ao clero não visava o esvaziamento do significado religioso da igreja, nem o aniquilamento de seu papel social. Com isso, não se desprezavam os parâmetros espirituais dela, nem se criticava sua influência religiosa, mas a forma como o clero a levava a imiscuir nas questões temporais. Esse aspecto se comprova pela utilização que Lutero fazia dos argumentos teológicos e religiosos para fundamentar sua crítica ao clero e sustentar a ação dos príncipes no meio eclesial. Se a eclesiologia é o estudo da Igreja, tanto no âmbito institucional como transcendental, cabe definirmos o que se entende por Igreja neste trabalho. A palavra “ekklesia” remetia à assembleia dos cidadãos livres da pólis grega para fazerem eleições. No sentido bíblico do Antigo Testamento, as reuniões que ganharam conotações provenientes dos. 3. A graça é um conceito teológico extraído da interpretação bíblica, no qual expressa o favor incondicional de Deus para com os seres humanos, independente desses o conhecerem ou amá-lo. Na perspectiva luterana, a graça suprime a intervenção eclesiástica para que os seres humanos se relacionem com Deus. (Cf. GRENZ; GURETZKI; NORDLING, 2002, In: GRAÇA).

(23) 22. preceitos de Javé, ou em torno dele, eram traduzidas como igreja, conforme estipula a versão dos setenta4. Segundo Edward Schillebeeckx (1989, p. 60), os primeiros cristãos aproveitaram dessa concepção e adotaram-na para se referir à reunião de fiéis aos preceitos de Jesus Cristo em determinado local e também para as várias comunidades cristãs existentes em uma cidade, ou espalhadas no mundo. No caso do protestantismo, o conceito de igreja foi definido, por extensão, aos adeptos do princípio luterano: somente pela graça, somente pela fé e somente pelas escrituras. Os quais implicaram na singela definição encontrada nos artigos de Esmalcada5 em que a Igreja é os cordeirinhos que ouvem a voz de seu pastor. Daí, Altmann (1994. p. 124) ressalta que “há na compreensão de Igreja em Lutero, uma dimensão de forte crítica institucional. Excluída está também de antemão a predominância de uma hierarquia eclesiástica”. Pelos princípios de Schillebeck e de Lutero, entendemos que a Igreja protestante se estabelece em um fundamento transcendente e subjetivo e em outro material histórico. Isso traz a necessidade de uma abordagem social e eclesiológica e, nesse aspecto, visualizamos a Igreja do Nazareno no Brasil por intermédio das relações burocráticas e pelas relações com o sagrado refletido na supremacia da Bíblia e da prédica pastoral como padrão prescritivo na Igreja e na condução dos membros nazarenos. O que ressaltamos é a impossibilidade ou a dificuldade de se fazer um estudo sociológico da Igreja do Nazareno sem levarmos em conta sua inseparabilidade com o valor simbólico da Bíblia. Teólogos modernos como Friedrich Schleiermacher, Rudolf Bultmann, Barth entre outros sustentavam a inseparabilidade da igreja das Escrituras, bem como a primazia dessa na padronização de outras formas eclesiásticas. Conforme ressalta Hugh R. Mackintosh (2004. p. 71), mesmo para Schleiermacher, que via a necessidade de uma maior flexibilidade da dogmática, não se percebe a alternativa de outra medida da verdade sobre a pregação ou confissões da igreja que fosse diversa da interpretação da Palavra de Deus. Por meio dela, pode-se julgar tanto o passado como o presente. Nesse aspecto, tomamos o pensamento de Claude Geffré (2004. p. 14) que retrata bem o valor da Bíblia nas igrejas. 4. Versão dos setenta ou septuaginta refere-se à tradução do Antigo Testamento hebraico para o latim. Segundo a tradição essa versão foi feita por setenta e dois rabinos que, sem se conhecerem, traduziram a Torá sem se contradizerem. 5. Conforme Earle E. Cairns (1995), a liga Esmalcádica era uma organização formada por Príncipes protestantes para defesa mútua contra os católicos, no ano de 1531..

(24) 23. protestantes. “o que é transmitido não é apenas um texto do passado, ou um acontecimento do passado, mas uma realidade sempre atual”. Assim, ressaltamos que um estudo simplesmente sociológico da Igreja do Nazareno não traria a realidade que envolve suas relações, se desconsideramos a legitimidade que as construções teológicas trazem às suas práticas. Dessa forma, acreditamos que quaisquer que sejam as proposições utilizadas para se definir uma igreja, o papel escriturístico é essencial, isso é, podemos pensar uma igreja com muitos, poucos e até com um membro, podemos entendê-la com práticas ortodoxas ou heterodoxas, com variadas formas de governo etc.. Contudo, todos esses aspectos se submetem e são legitimados por uma avaliação bíblica. Qualquer que seja a forma ou conteúdo de uma igreja de linha protestante evangélica são eles fundados ou referendados pela interpretação que se tem das Escrituras Sagradas, ela torna-se o padrão normativoprescritivo de uma instituição religiosa do ramo protestante. C. William Fischer ([19--]), no prefácio de seu livro, Porque sou nazareno e não Católico Romano, Espírita, Testemunha de Jeová, Mormón e Adventista do 7º dia, estipula que o padrão nazareno de interpretação. da Bíblia é o valor principal de diferenciação em relação às outras instituições e não há qualquer outro critério que a suplante. Muitas observações e convicções tornaram esta obra uma tarefa compulsória, e mais que necessária: a sagaz camuflagem da heresia, no empregar um vocabulário, respeitável e ortodoxo [...] Se este livro criar o orgulho ou a arrogância denominacional (dos nazarenos), terá falhado no seu propósito. Se criar ou alargar uma caridosa compreensão naqueles cujas mentes estão distorcidas, e ao mesmo tempo patentear tais distorções à reveladora luz do ‘Assim diz o Senhor’(da Bíblia) e propiciar a todos que o lerem compaixão mais profunda para guiarem os enganados aos caminhos da retidão e da verdadeira fé, terá provado que isso é obra do Espírito. E nesta medida, e somente nesta medida, este volume será útil a todos quantos o lerem e também agradável Àquele em cujo nome foi escrito. (FISHER,. ([19--]), p. 6,7 grifo nosso). Buscamos destacar com esse ponto, que os condicionamentos sociais que influenciam na constituição de uma igreja são, em grande medida, referendados por alguma forma de interpretação bíblica. O surgimento da Igreja do Nazareno é visto por seus adeptos como resultado de uma interpretação escriturística do contexto sócio-histórico feita por seus pioneiros. Nesse aspecto, pode parecer paradoxal a concordância que aqui se tem com as origens sociais das denominações cristãs proposta por Helmut Richard Niebuhr (1992, p. 16) que não se prende à interpretação ortodoxa do denominacionalismo cristão, que “considera os credos oficiais das igrejas portadores da explicação das origens e do caráter das diferenças vigentes” entre as várias igrejas. No entanto, propomos, como sutil diferença à abordagem de.

(25) 24. Niebuhr, o fato de não se entender o credo de forma ontológica, ou seja, como algo distinto da realidade cotidiana, simplesmente baseada nos ditames teológicos. Dessa forma, podemos entender o credo não como um preceito de origem transcendente, mas como resultado da forma de se perceber a realidade que é traduzida, ou é interpretada para e pela linguagem religiosa, que se institucionaliza nas igrejas. Evidentemente, não desconhecemos os momentos críticos que a Bíblia ou a dogmática passaram ao longo da história. No entanto, percebemos que qualquer que fosse o embate entre ciência e dogma que interferisse na vida das igrejas protestantes não se resultou na perda da centralidade das Escrituras no meio eclesial. Seja como forma apologética ou crítica, o lugar de destaque da Bíblia não se desvaneceu no seio das igrejas. Com isso, destacamos que os acontecimentos sócio-históricos exigiram e exigem das igrejas e movimentos religiosos uma postura retroativa fundamentada nos princípios de interpretação escriturísticos que diferenciam as igrejas entre si. Os acontecimentos sociais seriam, nesse aspecto, o ponto de ativação das vertentes teológicas. Os pioneiros da Igreja do Nazareno perceberam a realidade circundante e traduziram-na em termos que consubstanciaram no arcabouço teológico que sustentou o aparecimento e fortalecimento institucional da Igreja do Nazareno, no final do século XIX, os quais veremos a seguir.. 1.2 O arminianismo A Igreja do Nazareno se define como arminiana. Essa ideia remete ao século XVI e aos ensinos do teólogo holandês Jacobus Arminius (1560-1609). Armínio nasceu em Oudewater e estudou na Universidade de Leiden e Genebra. Nesta, se empenhou a estudar o calvinismo sob as orientações do sucessor de Calvino, Teodoro Beza. Ao terminar os estudos, Armínio voltou para a Holanda e assumiu como pastor uma igreja em Amsterdã, nesse tempo, conheceu as idéias de Dirk Koornhert, também teólogo, que combatia as idéias do calvinismo. Armínio de imediato colocou-se contrário a Koornhert, mas aprofundando-se em seus estudos verificou a plausibilidade dos argumentos do teólogo de Amsterdã e passou a adotá-los. Segundo José Gonçalves Salvador ([19--], p. 23), Koornhert, desde 1544, “vinha atacando as idéias de Calvino na Suíça. No conceito de Koornhert, todas as formas de religião deviam ser toleradas, mas, ao externar seu ponto de vista, feriu uma das doutrinas fundamentais do calvinismo, único sistema que o Estado favorecia”..

(26) 25. O calvinismo ganhou ascendência nos Países Baixos em 1560, quando começaram a surgir as primeiras confissões de fé redigidas pelo pastor Guido de Brés, por meio das quais o calvinismo organizou-se em igrejas. Os cinco pontos que resumem a doutrina calvinista são assim expostos, conforme Mcgrath (2005): a) total depravação da natureza pecadora do ser humano; b) eleição incondicional, pois os seres humanos não são predestinados pelo critério dos próprios méritos; c) Cristo morreu somente para salvação dos eleitos; d) os eleitos são inevitavelmente chamados e redimidos; e) os que são eleitos por Deus não podem abandonar esse chamado. O pensamento de Armínio não surgiu em um vácuo social. Os Países Baixos, em decorrência das guerras contra o domínio espanhol, criaram uma mentalidade social que prezava pela liberdade política e religiosa, tudo isso ainda era contornado por intensas atividades comerciais que propiciavam o intercâmbio não somente de mercadorias, mas também de ideias. O ponto crucial da discussão entre Armínio e os calvinistas era a forma como estes tratavam a doutrina da dupla predestinação que dizia haver os eleitos e, por consequência, também os perdidos. No entanto, a morte prematura de Armínio impossibilitou a conclusão do debate que foi retomado pelos arminianos, principalmente, depois de sucessivas perseguições na Holanda, em decorrência das doutrinas que promulgavam. Em síntese, a doutrina da dupla predestinação estabelecia que o tornar-se justo, ou a justificação, é uma condição adquirida somente pela vontade divina, ou seja, aquele que é justificado e tornou-se, por consequência, salvo do castigo eterno, foi escolhido por Deus. Logo, os salvos seriam inoperantes na própria salvação, pois esta não dependia deles, mas do favor divino em escolhê-los. Os “remonstrantes”6 alegavam que a salvação, por intermédio de Jesus Cristo, estava disponível a todos e não somente àqueles que de antemão foram escolhidos por Deus. O sacrifício de Cristo era, pois, de caráter universal e tanto os crentes como os não crentes eram responsáveis por sua salvação. Daí o manifesto desses arminianos “remonstrantes”: Deus, por meio de um eterno e imutável decreto em Cristo, antes da existência do mundo, determinou-se a eleger para a vida eterna, dentre a raça humana pecadora e caída, todos aqueles que, por meio da graça de Deus, crêem em Jesus Cristo e. 6. Essa designação surgiu quando um grupo de pastores adeptos das ideias de Armínio viu se intensificar as perseguições contra suas práticas e ideias, principalmente, em decorrência das ações impetradas pelo docente da Universidade de Leiden, Francisco Gomaro. Em decorrência de tal fato, esses pastores assinaram um documento intitulado de o protesto ou “remonstranza” que rechaçava ainda mais o calvinismo..

(27) 26. perseveram na fé e na obediência.... Cristo, o salvador do mundo, morreu por todos os seres humanos, obtendo dessa forma, pela sua morte na cruz a reconciliação e perdão para todos, de tal maneira, entretanto, que apenas aqueles que são fiéis realmente desfrutam disso. (MCGRATH, 2005, p. 535).. Para os arminianos, o calvinismo coloca Deus como autor do pecado, embora não negassem, de todo, o chamado dos salvos semelhante à eleição. Os arminianos não corroboravam, contudo, com um decreto divino arbitrário de escolha dos salvos, pois se assim fosse os não salvos também seriam decorrentes da escolha de Deus e, para eles, ninguém foi chamado para a perdição. Os “remonstrantes” acreditavam que nenhum ser humano por suas próprias forças podia alcançar a Deus, esse, por intermédio de sua graça, é que chegava até os homens, mas isso não significava que somente alguns tinham a sorte de serem alcançados. A partir da aproximação de Deus é que os seres humanos poderiam escolher se seguiriam ou não os ditames da divindade, mas todos os seres humanos poderiam ter essa escolha. Os questionamentos à doutrina da dupla eleição não trouxe apenas uma nova concepção teológica, mas disseminou a responsabilidade humana também nas questões religiosas, até então tratadas por uma hierarquia de cunho transcendental. Com o arminianismo, os desfechos da ação humana estavam ligados à própria conduta humana e não como imposição de uma ordem superior. O livre arbítrio tornou-se possibilidade de atenuar todos os resquícios de ostentação eclesiástica do período anterior à Reforma que ainda vigoravam no norte da Europa. O individualismo que procurava abandonar o espírito corporativo, o hedonismo baseado na autossatisfação contra a ascese medieval, o antropocentrismo e o humanismo promovidos pelo renascimento pareciam ganhar sua maior expressão religiosa por meio dos pressupostos arminianos. As controvérsias entre arminianos e calvinistas tiveram, oficialmente, um fim quando da promulgação do Sínodo de Dort7 reunido em 1618-1619, no qual se aprovou os cinco artigos contrários à representação dos “remonstrantes” feita 1610. Propomos no quadro abaixo o seguinte paralelo entre as propostas arminianas e calvinistas discutidas no Sínodo de Dort:. 7. Conforme Grenz, Guretzki e Nordling (2002, p. 123), o Sínodo de Dort foi uma assembleia das igrejas reformadas dos Países Baixos, convocada em Dort em 1618-1619, para tratar politicamente da separação entre a igreja e o Estado e teologicamente da questão arminiana. O Sínodo se posicionou contra o arminianismo e estabeleceu bases que confirmavam a doutrina da depravação total da humanidade..

(28) 27. QUADRO 1: Paralelo entre as propostas Arminianas e Calvinistas no Sínodo de Dort. Arminianos. Calvinistas. Eleição condicional.. Eleição incondicional.. Expiação universal.. Expiação limitada.. Incapacidade natural de fazer o bem fora da Incapacidade natural ou depravação total. A Graça divina. regeneração deve preceder a conversão. Graça preventiva ineficaz, conforme a Graça irresistível, o ser humano a quem Deus a vontade do pecador. outorga será salvo. Perseverança condicional, os seres humanos Perseverança podem decair da Graça e perecerem sem incondicional. salvação.. final,. segurança. eterna. Segundo H. Orton Wiley e Paul T. Culbertson ([19--], p. 167.), o que se estabeleceu do arminianismo foi que a obra salvadora de Deus é destinada a toda humanidade, não é um ato arbitrário de Deus para garantir a salvação de alguns e a condenação de outros, mas um ato destinado a todos os homens que respondem ao chamado para a salvação. Portanto, eleição e predestinação se diferenciam no fato de que “a eleição implica escolha, enquanto a predestinação não”. Dessa forma, os eleitos são escolhidos por Deus, mas não, necessariamente, têm que aceitar essa escolha para a salvação, se afirmativamente aceitaremna, por meio da fé, serão então considerados os predestinados. A predestinação é o plano divino pelo qual se leva a termo a eleição. Os pontos mencionados no quadro1 tiveram grande influência no cristianismo europeu, quando os seguidores de Armínio foram depostos de seus cargos na Holanda e disseminaram-se para outras regiões, principalmente para a Inglaterra.. 1.3 O arminianismo na Inglaterra Um dos primeiros passos para que a perspectiva arminiana se tornasse futuramente um dos fundamentos do processo formativo da Igreja do Nazareno foi sua inserção no contexto sóciorreligioso da Inglaterra. O contexto religioso em que se deparou foi de uma reforma iniciada por Henrique VIII (1509-1547) que sofreu oscilações entre os movimentos reformadores posteriores e a manutenção do catolicismo, por não se ter havido uma ruptura drástica com o este último. Segundo, Haroldo Mendes, ([199-], p. 5) “Henrique VIII não fundou uma nova igreja, mas simplesmente separou a igreja que já existia na Inglaterra da tutela e controle romanos por razões políticas, econômicas, religiosas e até pessoais”. Essa.

(29) 28. nova conjuntura religiosa, no aspecto institucional, passou a ser denominada de Igreja Anglicana. No entanto, a separação entre as diversas vertentes religiosas e a Igreja na Inglaterra somente passou a ganhar contornos definidos quando esta se aproximou do calvinismo no reinado de Eduardo VI e com a ascensão ao trono de Elizabeth I (1558-1603) que sucedeu à Maria Tudor, esta de tendências católicas. A rainha Elizabeth I, afeita ao anglicanismo, perseguiu os católicos e consolidou o anglicanismo na Inglaterra. Traçando um breve percurso do protestantismo na Inglaterra, posterior a Henrique VIII, percebemos que o puritanismo8 se tornara uma força teológica e política nesse país. Em 1643, o Parlamento convocou a Assembleia de Westminster, composta por teólogos puritanos. Essa assembleia definiu uma confissão de fé, considerada como credo da Igreja, além de definir sua disciplina e liturgia, ratificando assim o sistema presbiteriano. No entanto, as crises entre o Parlamento e o rei Carlos I, além das dissidências de outras formas religiosas tais como, batistas, congregacionalistas, que desejavam liberdade religiosa, impediram que os propósitos da Assembléia de Westminster fossem estabelecidos de fato. Nessa época, apareceu a Sociedade dos Amigos ou Quakers questionando as formas de governo eclesiástico, os sacramentos, e o culto. Conforme Robert Hasting Nichols, (1981, p. 208), eles propunham que a igreja deveria ser dirigida e instruída pelo Espírito Santo e não deveria haver formas de governo fixo nas igrejas. Esse ambiente plural permitiu ao arminianismo penetrar e desenvolver no território inglês sem significativas oposições. A doutrina proveniente da Holanda foi assimilada tanto por anglo-católicos, como pelos latitudinários, ou seja, por aqueles pertencentes à Igreja Anglicana e eram afeitos ao romanismo e por aqueles que buscavam argumentos racionais nas discussões religiosas. Segundo Salvador,([19--]) havia espaço para o arminianismo e o calvinismo na Inglaterra sem que isso implicasse em confronto. Ele cita que: O Bispo Burnet em 1699, deu um novo impulso às tendências arminianas quando publicou sua obra “exposição dos trinta e nove artigos” dedicada ao rei Guilherme III. Nela ao interpretar o artigo XVII que fala da predestinação deu lhe sentido arminiano e lhe atribuiu igual validez ao calvinista. Quer dizer que tanto importava um quanto outro. Ambos podiam ser aceitos. Havia lugar na Igreja para as duas posições. (SALVADOR, [19--]). 8. Puritanismo foi um movimento de reforma que a princípio buscava “purificar” a Igreja da Inglaterra após a Reforma inglesa. Os puritanos acabaram concentrando-se na purificação dos indivíduos e da sociedade por meio da reforma da igreja e do Estado de acordo com princípios bíblicos. Defendiam uma teologia das alianças e tinham a convicção de que as escrituras estavam devidamente investidas de autoridade para a conduta do indivíduo e para a organização da Igreja. (In: GRENZ, GURETZKI, NORDLING. 2002, p. 111)..

(30) 29. No século XVIII, a doutrina da Igreja Anglicana ainda se mostrava com fortes tendências calvinistas, no entanto, o clero passou por transformações significativas: cada vez mais se mostrava arminiano em suas concepções. É importante ressaltarmos nesse ponto, que já nessa época, John Wesley (1703-1791), o iniciador do movimento metodista, fazia parte dos quadros oficiais da Igreja Anglicana e assistiu essa importante alteração na estrutura eclesiástica. E não apenas a ela, mas também às importantes transformações sociais causadas pela incipiente Revolução Industrial e sua consequente influência em outros campos como da economia, política e da vida urbana, as quais prontamente afetaram a postura de Wesley, ao ponto de seus seguidores constituírem uma tradição wesleyana. Essa junção armíniowesleyana é um dos pontos fundamentais da institucionalização da Igreja do Nazareno, a qual ela preza veementemente. Esse aspecto é o que destacamos a seguir.. 1.4 A tradição wesleyana A Igreja do Nazareno sustenta em sua declaração histórica que um dos pontos no qual se alicerça é o movimento wesleyano e, particularmente, o movimento de reavivamento ocorrido no Século XVIII. Nessa parte, destacamos, portanto, em quais condições sociais e religiosas esse movimento surgiu, bem como, quais foram os fatores que contribuíram para a emergência de João Wesley no cenário protestante inglês e qual foi a contribuição do wesleyanismo para o surgimento da Igreja do Nazareno como instituição nacional, nos Estados Unidos, no início do século XX. Vimos nas páginas precedentes que a monarquia inglesa teve um papel decisivo no que concerne ao aspecto religioso. No entanto, esse papel se deslocou para outras áreas que influenciaram radicalmente a postura dos religiosos ingleses. O fortalecimento do Estado absoluto possibilitou um recrudescimento das atividades comerciais, bem como um aporte de inovações tecnológicas que deram à Inglaterra o pioneirismo na formação de uma sociedade capitalista, bem como um impressionante desenvolvimento industrial que veio a se consolidar na chamada Revolução Industrial. Para Paul Singer (1991), a economia de mercado é bastante antiga. Desde tempos bem remotos as sociedades organizavam sua economia produzindo bens que eram trocados em locais específicos denominados de feiras ou mercado. A produção era artesanal e em cada.

(31) 30. cidade os produtores se organizavam em corporações de ofício para evitarem a concorrência mútua. Singer aponta que o capitalismo é também uma economia de mercado, mas com características próprias que seguiram várias etapas desde o manufatureiro até o industrial, cujo controle mundial estava sob a Inglaterra. A Revolução Industrial no final do século XVIII propiciou a emergência do capitalismo industrial cuja estratégia de expansão baseava-se na unificação dos mercados locais e nacionais e na livre iniciativa, pondo em questão as práticas corporativas. Esse aspecto econômico trouxe a formulação de doutrinas de cunho liberais, individualistas tanto econômica quanto políticas, que também influenciaram no contexto religioso, sobretudo, ao se perceber que na esfera eclesial já havia uma doutrina que amparava a liberdade do indivíduo: o arminianismo. Evidentemente, a Revolução Industrial trouxe novas formas de organização social, muitas delas consubstanciaram em problemas sociais graves. A predominância do trabalho assalariado e o aumento dos ritmos para aumentar a produção fez com que os detentores dos meios de produção investissem no trabalho feminino e infantil ao mesmo tempo em que requeriam dos homens maior carga horária na produção de bens. Esse aspecto trouxe uma instabilidade social, que se configurava em problemas de diversos matizes: falta de habitação, disseminação de doenças, desagregação familiar, mendicância, alcoolismo, prostituição, pobreza, etc.. Tudo isso como consequência do alto contingente populacional que afluía para os centros urbanos em busca de trabalho. Conforme destaca Geoval Jacinto da Silva (2009, p. 35), “O modo de se viver e pensar modificou rápida e radicalmente em todos os lugares onde ocorreu o processo de industrialização”. Esse aspecto também não passou despercebido no transcurso do protestantismo inglês. A forma como o clérigo anglicano João Wesley respondeu a esses problemas e conduziu a intervenção da Igreja no âmbito social para combatê-los foi bastante significativo para o processo de formação institucional da Igreja do Nazareno na primeira década do Século XX..

Referências

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