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Dados arqueológicos para identificação da Lagoa de Macaguá - Açude Marechal Dutra (Gargalheiras) Acari - RN

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DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA DO CERES BACHARELADO EM HISTÓRIA

ADRIANO CAMPELO DA SILVA

DADOS ARQUEOLÓGICOS PARA IDENTIFICAÇÃO DA LAGOA DE MACAGUÁ - AÇUDE MARECHAL DUTRA (GARGALHEIRAS) ACARI - RN

CAICÓ 2017

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Profª. Maria Lúcia da Costa Bezerra - - CERES--Caicó

Silva, Adriano Campelo da.

Dados arqueológicos para identificação da Lagoa de Macaguá - Açude Marechal Dutra (Gargalheiras) Acari - RN / Adriano Campelo da Silva. - Caicó: UFRN, 2017.

103f.: il.

Monografia (Bacharel em História) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ensino Superior do Seridó - Campus Caicó. Departamento de História. Curso de História. Orientador: Dr. Fábio Mafra Borges.

1. Área arqueológica do Seridó - Monografia. 2. Lagoa de Macaguá - Monogafia. 3. Levantamento arqueológico - Monografia. I. Borges, Fábio Mafra. II. Título.

RN/UF/BS-CAICÓ CDU 902(813.2) Elaborado por Fernando Cardoso da Silva - CRB-15/759

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ADRIANO CAMPELO DA SILVA

DADOS ARQUEOLÓGICOS DA LAGOA DE MACAGUÁ - AÇUDE MARECHAL DUTRA (GARGALHEIRAS) ACARI - RN

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em História, do Centro de Ensino Superior do Seridó, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito final para a obtenção do título de Bacharel em História, sob a orientação do Professor Dr. Fábio Mafra Borges.

CAICÓ 2017

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ADRIANO CAMPELO DA SILVA

DADOS ARQUEOLÓGICOS DA LAGOA DE MACAGUÁ - AÇUDE MARECHAL DUTRA (GARGALHEIRAS) ACARI/RN

Monografia para obtenção do Grau de Bacharel em História no Curso de Graduação em

História, do Centro de Ensino Superior do Seridó, da Universidade Federal do Rio Grande do

Norte.

Banca Examinadora:

Prof. Dr. Fábio Mafra Borges (UFRN) Orientador

Prof. Dr. Abrahão Sanderson Nunes Fernandes da Silva (UFRN) Examinador

Prof. Dr. Helder Alexandre de Medeiros Macêdo (UFRN) Examinador

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Aos indígenas (in memoriam) mortos nas sangrentas batalhas da Serra da Rajada e da Acauã, injustiçados pelo colonizador que tomou seu território.

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AGRADECIMENTOS

Foi uma longa caminhada em que meus pais não puderam contribuir da forma que eles queriam e que eu necessitava, dentro da nossa realidade e do nosso local de origem e vivenda.

Portanto, inicio agradecendo a eles: Dimas Pereira e Ana Lúcia Campelo. Enquanto eu estudava em Caicó, trabalhavam duro na zona rural de Acari. Em meio a tantas dificuldades foi difícil contribuir financeiramente com meus estudos, o pouco sempre foi muito nessa jornada. Assim como a minha irmã Daiana Carla que me apoiou.

A família Ventura e Campelo, alguns tios e tias, primos e primas que me apoiaram com palavras de incentivo. Em especial minha Avó Madalena (in memoriam) que me aconselhou nessa caminhada, que muitas vezes cobrou a minha presença, e devido a carga horária da faculdade e a distância não pude ser muito presente em seus últimos dias de vida, para qual a morte veio repentina.

A Maria Daguia Medeiros (Guia Pipoca) a responsável por eu ter trocado o curso a distância pelo presencial, pela estadia em sua casa, o companheirismo e conselhos, sem você jamais estaria concluindo este ótimo curso presencial.

A Joadson Vagner pelas orientações, conselhos e amizade, tanto na academia quanto fora dela, e a Josenildo Medeiros pelas dicas, apoio e correções de trabalhos. Os conselhos e dicas desses dois amigos foram muito importantes para o amadurecimento e experiência.

Aos professores do departamento de História do CERES/UFRN: Muirakytan Macêdo, Joel Andrade, Helder Macedo e Antônio Elíbio, que além das orientações em sala de aula buscavam dialogar sobre nosso rendimento, sobre novas pesquisas, projetos e artes. Assim como suas posturas como docentes, onde o sucesso do aluno transpassa seus interesses e ideologias.

Aos moradores da zona rural de Acari que me guiaram e dialogaram sobre as informações dos sítios e vestígios arqueológicos: Zeca Rafael, Isaura Pires, Dimas Pereira, Zé Caboclo, Horacinho, Francisca Dantas (Chiquinha Pires), Teresinha de Zenaide e o historiador Sergio Enilton.

Aos meus queridos colegas de turma que se transformaram em verdadeiros amigos nessa jornada e, que foi motivo para que eu não desistisse: levarei vocês sempre em meu coração, sentirei falta das sinceridades e carinho de Richiele da Terra da Bonita (quase uma irmã); Wesley com seu cuidado de irmão, de Maciel e seus exemplos; da meninice de Jordana companheira de residência; Rafaela que sempre senti um carinho que não sei explicar de onde

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vem; Liudmila com sua mesquinhez, chiliques e as boas gargalhadas (risos) e Tamisiane madura e carinhosa.

Aos meus colegas de quarto na residência universitária: Arthur, Fernando e a Francimar e Antônio em especial por que me acolheram no quarto mais tranquilo e organizado, isso foi indispensável para meu bom rendimento.

De forma muito especial agradeço ao amigo Ivan Simplício que me ajudou a percorrer alguns pontos do açude Gargalheiras e por contribuir com algumas informações. A Jobel que registrou para este trabalho uma foto aérea do açude por meio de drone. A Pedro Brito e Dr. Deise Brito por me darem apoio nas pesquisas. E principalmente a minha companheira de trilhas, Francisca Lúcia de Medeiros, foram muitos dias dentro do açude entre morros, buracos e garranchos, a única que trocava o acordar mais tarde nos domingos para as cinco horas da manhã e andava até 19km, registrando e apreciando.

Ao meu orientador, Fabio Mafra Borges, por ter me dado a oportunidade de ser conhecedor do homem pré-histórico e os indígenas dos quais eu descendo. Por ter ensinado tão bem a trabalhar na prática a arqueologia, assim como agradeço por suas contribuições nas pesquisas arqueológicas do nosso Seridó e por suas aulas brilhantes que não abarcam somente as disciplinas de sua área, mais percorrem uma gama maior de informações que nos ajuda a refletir sobre diversos problemas, soluções e “verdades”.

Aos colegas de campo em campanhas arqueológicas: o próprio Fabio, Joadson, Mizael, Henrique (ao qual também agradeço imensamente pelos mapas), Marcellus, Mônica, Arnaldo e Diógenes. Assim como os colegas do LAS – Laboratório de Arqueologia – e o Professor Abrahão.

E por fim ao meu Deus, minha fonte de fé e perseverança, que me motiva a praticar o bem, ser honesto, humilde respeitando, brancos, negros, não-cristãos e cristãos.

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“Não devemos permitir que alguém saia de nossa presença sem sentir-se melhor e mais feliz”

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RESUMO

O acampamento de inverno dos grupos indígenas Tarairiú foi identificado onde, atualmente, localiza-se o Açude Marechal Dutra – Gargalheiras, Acari/RN (TEENSMA, 2000). Esta proposição teve como base o diário do emissário da Companhia das Índias Ocidentais, Rodolfo Baro, o qual narra os costumes nativos e sua tentativa de reatar a aliança com esses grupos indígenas do interior do Rio Grande, em 1645. Os Tarairiú tinham seu acampamento de inverno às margens da Lagoa de Macaguá, onde realizavam rituais e obtinham seus alimentos através da caça e da pesca (TEENSMA, 2000). A hipótese de Teensma, a qual sugere a localização da lagoa, foi reforçada por Borges (2010), que representou em mapa a reconstituição da rota de Baro, identificando seu local de encontro com os Tarairiú. Os vestígios e assentamentos arqueológicos identificados no entorno do Açude Marechal Dutra, por amadores e moradores locais, são indícios para a verificação material destas proposições. O objetivo principal desse trabalho foi, portanto, realizar um levantamento arqueológico nas imediações do açude, visando demonstrar a potencialidade arqueológica da área no fortalecimento da hipótese que a identifica com a Lagoa de Macaguá e o acampamento de inverno dos grupos Tarairiú. A disposição desses vestígios e assentamento foi georreferenciada através de um aparelho portátil de Global Positioning System (GPS) e representados cartograficamente, com suas respectivas tipologias. Foi possível identificar vestígios arqueológicos sob posse de moradores e em áreas outrora submersas no açude. Esses materiais são a principal fonte do presente trabalho.

Palavras-chave: Acampamento de inverno. Lagoa de Macaguá. Tarairiú. Área arqueológica

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ABSTRACT

The winter camp of the indigenous groups Tarairiú has been identified where, currently, It is located the Marechal Dutra Dam – Gargalheiras, Acarí/RN (TEENSMA, 2000). This proposition was based on diary of the emissary of the East India Company, Rodolfo Baro, which tells the native customs and your attempt to renew the Alliance with these indigenousgroups of the interior of Rio Grande in 1645, The Tarairiú had your winter camp on the shores of the Macaguá pond, where performed rituals and got their food by hunting andfishing (TEENSMA, 2000). The hypothesis of Teensma, which suggests the location ofthe pond, was reinforced by Borges (2010), that represented in the reconstitution of the route map of Baro, identifying your venue with Tarairiú. The traces and archaeological settlements identified around the Marshal Dutra Dam, by amateurs and local villagers, are indications for thematerial of these propositions. The main objective of this work is therefore do anarchaeological survey in the vicinity of the dam, aiming at demonstrate the archaeological potential of the area tostrengthen the hypothesis that identifies with the Macaguá pond and the winter camp of Tarairiú groups. The arrangement of these remains and settlement was georeferenced through a Global portable device de Global Positioning System (GPS) and cartographically represented with their respective types. It was possible to identify archaeological remains under the possession of residents and in areas previously submerged in the dam. These materials are the main source of the present work.

Keywords: Winter camp. Macagua Pond. Tarairiú. Archaeological area of Seridó.

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LISTA DE SIGLAS

AP Antes do Presente

CIA Companhia das Índias Ocidentais

GPS Global Positioning System

LOE Luminescência Oticamente Estimulada

RN Rio Grande do Norte

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LISTA DE TABELAS E GRÁFICOS

Tabela 01: Tabela representando a distribuição por tipos, dos vestígios arqueológicos identificados no Açude

Marechal Dutra e sob posse de moradores. Aqui a quantidade muda pelo fato de alguns fragmentos de cerâmica ou algum material lítico estarem associados a estruturas de combustão, os mesmos foram considerados dentro do ponto topográfico do sítio.

Gráfico 01: Gráfico representando a distribuição das ocorrências arqueológicas na área do Açude Marechal

Dutra.

Gráfico 02: Gráfico representando a distribuição do material lítico, separado por tipos, ocorrências

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01: Vista geral do Açude marechal Dutra (Gargalheiras) a partir da Serra das Cruzes. Ao horizonte se vê

a Serra de Sant’Ana. Foto: Jobel Araújo, 2017.

Figura 02: Mapa de localização dos sítios arqueológicos da área do açude Marechal Dutra (Gargalheiras).

Elaboração: Henrique Roque Dantas, 2017.

Figura 03: A) Vista geral da localização do abrigo, indicado pela seta vermelha; a linha azul indica o curso do

Rio Acauã dentro do açude Gargalheiras; B) Interior do abrigo: painel rupestre; C) Exterior do abrigo rochoso. Foto: Adriano Campelo, 2015.

Figura 04: A) Vista geral do sítio; B) Possível estrutura de combustão e cerâmica associado indicada pela seta.

Foto: Adriano Campelo, 2017.

Figura 05: Vista geral do sítio (localização da estrutura) e estrutura de combustão, respectivamente. Foto:

Adriano Campelo, 2017.

Figura 06: Vista geral do sítio, indicada pela seta a mancha sedimentar indicando possível estrutura de

combustão. Foto: Adriano Campelo, 2017.

Figura 07: Vista geral do sítio, a estrutura de combustão está indicada pela seta. Foto: Adriano Campelo, 2017. Figura 08: Vista geral do sítio, indicada pela seta a possível estrutura de combustão. Foto: Adriano Campelo,

2017.

Figura 09: Vista geral da localidade Bulhões, ao fundo a Serra da Acauã. Indicado pela seta, o campo de futebol

onde se localizam as estruturas de combustão. Indicados pela seta azul, do lado direito da imagem, o Rio Acauã, e do lado esquerdo, o riacho da Soledade. Toda área inunda quando o açude transborda, deixando a área do campo ilhada pelos lados Norte, Sul e Oeste. Foto: Adriano Campelo, 2015.

Figura 10: O campo de Futebol da Comunidade Bulhões, local em que se registraram manchas sedimentares

indicando possíveis estruturas de combustão. Algumas indicadas pelas setas. Foto: Adriano Campelo, 2017.

Figura 11: Localização do Poço Barbosa, indicado pela seta azul, e pelas setas vermelhas, os locais em que se

registra evidências de estrutura de combustão ou manchas sedimentares. Foto: Adriano Campelo, 2015.

Figura 12: Possível estrutura de combustão sendo exposta pelo uso de vicinal, próxima ao Poço do Barbosa.

Foto: Adriano Campelo, 2015.

Figura 13: Vista panorâmica do Açude Marechal Dutra (Gargalheiras), indicado pela seta, a localização do sítio

arqueológico Serrote do Peixe (Volta do Rio). Foto: Adriano campelo, 2013.

Figura 14: Registros rupestres do sítio arqueológico Serrote do Peixe (Volta do Rio), na área anteriormente

submersa do Açude Gargalheiras. A) Conjuntos de antropomorfos da tradição Nordeste; B) Grafismo da tradição Agreste; C) grafismo puro da tradição Agreste. Foto: Adriano campelo, 2015.

Figura 15: Vista geral do sítio Prainha, a seta indica mancha sedimentar de possível estrutura de combustão.

Foto: Adriano Campelo, 2017.

Figura 16: Estrutura de combustão identificada na localidade Abreu, em serra às margens do Gargalheiras. Foto:

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Figura 17: Poço do Saturno. A seta indica algumas das gravuras externas, o seu acesso é muito difícil devido as

condições do lugar. Foto: Adriano Campelo, 2016.

Figura 18: Vista geral do painel com as gravuras rupestres, Poço do Arthur I. Foto: Adriano Campelo, 2013. Figura 19: Sítio arqueológico Poço do Arthur II: A) Grafismos que se assemelham a antropomorfos de costas

um para o outro; B) Paredão com diversos grafismos, entre eles zoomorfos, fitomorfos e puros; C) Paredão com grafismos fitomorfos e outros não reconhecíveis; D) Figura fitomorfa localizada entre o poço do Arthur I e II.

Figura 20: A) Estrutura de combustão as margens do Riacho da Juliana; B) Fragmento cerâmico ao lado da

estrutura. Foto: Adriano Campelo, 2016.

Figura 21: Mapa de localização das ocorrências da área do açude marechal Dutra – (Gargalheiras). Elaboração:

Henrique Roque Dantas, 2017.

Figura 22: Alguns dos fragmentos líticos encontrado próximo ao sítio Acauã A) Fragmento de sílex em área de

declive; B) Fragmento de sílex; C) Fragmento lítico em topo de um morro; D) Núcleo. Foto: Adriano Campelo, 2016.

Figura 23: Alguns dos fragmentos líticos encontrados próximo ao Sitio Boa Vista III; A) Fragmento em sílex

encontrado em morro; B) Fragmento Lítico em área de decline em solo pedregoso; C) Sílex em área plana; Núcleo em área plana. Foto: Adriano Campelo, 2016.

Figura 24: Alguns dos fragmentos líticos em sílex dispostos próximo ao campo de futebol de Bulhões. Foto:

Adriano Campelo, 2016.

Figura 25: Material lítico em sílex. Foto: Adriano Campelo, 2017.

Figura 26: A) Visão geral do Cruzeiro de Bulhões onde os fragmentos foram identificados; B) Sílex identificado

em área plana próximo sítio Barbosa; C) Fragmento em sílex; D) Lítico em rocha ígnea. Foto: Adriano Campelo, 2015.

Figura 27: Alguns fragmentos líticos encontrados entre o Poço do Barbosa e o Serrote do Peixe. Foto: Adriano

Campelo, 2016.

Figura 28: Alguns dos materiais lítico encontrados em área do açude que fica submersa. A) Fragmento em sílex;

B) Fragmento lítico em sílex; C) Lítico Núcleo; D) Fragmento em sílex. Foto: Adriano Campelo, 2015.

Figura 29: Fragmento lítico em sílex isolado entre os sítios Riacho da Juliana e Poço do Arthur I. Foto: Adriano

Campelo, 2016.

Figura 30: Raspador plano-convexo (lesma). Foto: Adriano Campelo, 2015.

Figura 31: Sílex retocado, encontrado por morador local. Foto Adriano Campelo, 2016. Figura 32: Ponta de projétil retocada em quartzo hialino. Foto: Adriano Campelo, 2013.

Figura 33: A) Lítico em Quartzo com marcas de uso em área plana; B) Lítico em Quartzo com marcas de uso

junto a outras rochas. Foto: Adriano Campelo, 2017.

Figura 34: Ferramentas líticas em rocha gnaisse encontradas no riacho da Mochila, localidade Cabeço

Branco. Foto Adriano campelo, 2015.

Figura 35: Ferramenta lítica em gnaisse. Foto: Sergio Enilton da Silva, 2017. Figura 36: Ferramenta lítica inacabada em gnaisse. Foto: Adriano Campelo, 2016. Figura 37: Artefato lítico polido (moedor). Foto: Adriano Campelo, 2017.

Figura 38: A) Fragmentos encontrados próximo a parede de açude; B) Fragmentos localizados a cerca de 50m

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Figura 39: Fragmento de cerâmica próximo ao lajedo: Foto: Adriano Campelo, 2016.

Figura 40: Fragmento cerâmico isolado em área com cota altimétrica acima do espelho d’água do açude. Foto:

Adriano Campelo, 2016.

Figura 41: A) Fragmento de faiança localizado próximo à Prainha; B) Fragmento de faiança registrado do sítio

Abreu; C) Fragmento de faiança encontrado próximo ao campo de futebol de Bulhões e próximo a ruínas. Foto: Adriano Campelo, 2015/2016.

Figura 42: A) Fragmento de grés encontrado no Sitio Acauã, na margem direita do Açude; B) Fragmento de

grés com escrita inglesa 1 LITER; C) Fragmento de grés próximo ao campo de futebol do Sítio Bulhões; D) Fragmento de grés encontrado entre os sítios Barbosa e Serrote do Peixe. Foto: Adriano Campelo, 2016/2017.

Figura 43: Vista geral do vale do Acauã tomada de cima da serra de mesmo nome. À direita, vê-se a Serra da

Lagoa Seca, à esquerda a Serra do Pai Pedro, ao fundo, à direita a Serra do Minador, e ao fundo à esquerda, a Serra das Cruzes no povoado Gargalheiras, local em que foi construída a barragem de concreto do açude, Acari/RN. Foto: Ivan Simplício, 2015.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 16

2 APORTES TEÓRICOS E METODOLOGIA ... 22

3 DADOS ARQUEOLÓGICOS ... 28

3.1 PRIMEIRAS PESQUISAS NO SERIDÓ DO RIO GRANDE DO NORTE ... 28

3.2 A ÁREA ARQUEOLÓGICA DO SERIDÓ ... 28

3.3 SÍTIO ARQUEOLÓGICO MIRADOR ... 30

3.4 SÍTIO ARQUEOLÓGICO PEDRA DO ALEXANDRE – CARNAÚBA DOS DANTAS/RN ... 31

3.5 OUTROS SÍTIOS NA ÁREA ARQUEOLÓGICA DO SERIDÓ ... 31

3.6 OS DADOS ARQUEOLÓGICOS E A RELAÇÃO COM OS GRUPOS ETNOHISTÓRICOS ... 32

4 DADOS ETNOHISTÓRICOS ... 35

4.1 AÇU – ACAMPAMENTO CENTRAL ... 37

4.2 DIÁRIO DE RODOLFO BARO – TRADUÇÃO COM NOMES ESTROPIADOS ... 38

4.3 RIBEIRA DO AÇU ... 42

4.4 RIBEIRA DA ACAUÃ ... 43

4.5 GUERRA DOS BÁRBAROS ... 43

5 RESULTADOS ... 46

5.1 SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS DA ÁREA DO AÇUDE MARECHAL DUTRA (GARGALHEIRAS) – ACARI/RN ... 47

5.1.1 Sítio arqueológico Pedra da Bota ... 49

5.1.2 Sítio arqueológico Riacho do Maracajá ... 49

5.1.3 Sítio arqueológico Acauã I ... 50

5.1.4 Sitio arqueológico Acauã II ... 51

5.1.5 Sitio arqueológico Boa Vista I ... 51

5.1.6 Sitio arqueológico Boa Vista II ... 52

5.1.7 Sitio arqueológico Boa Vista III ... 53

5.1.8 Sítio arqueológico Bulhões ... 53

5.1.9 Sítio arqueológico Barbosa ... 55

5.1.10 Sítio arqueológico Serrote do Peixe (Volta do Rio) ... 56

5.1.11 Sítio arqueológico Prainha... 57

5.1.12 Sítio arqueológico Abreu ... 58

5.1.13 Sitio arqueológico Poço do Saturno ... 59

5.1.14 Sitio arqueológico Poço do Arthur I ... 60

5.1.15 Sítio arqueológico Poço do Arthur II... 61

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5.2 OCORRÊNCIAS ARQUEOLÓGICAS NA ÁREA DO AÇUDE MARECHAL

DUTRA – GARGALHEIRAS, ACARI/RN ... 62

5.2.1 Ocorrências arqueológicas de material lítico ... 64

5.2.2 Ocorrências arqueológicas de material cerâmico ... 74

5.2.3 Ocorrências arqueológicas de faiança Fina ... 76

5.2.4 Ocorrências arqueológicas de grés... 77 6 DISCUSSÃO DE RESULTADOS... 79 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 87 REFERÊNCIAS ... 89 OBRAS CONSULTADAS ... 91 APÊNDICES ... 93 ANEXOS ... 96

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1 INTRODUÇÃO

Antes de o colonizador chegar às terras que hoje pertencem ao estado do Rio Grande do Norte, diversos grupos caçadores-coletores se movimentavam pelo sertão. Deixaram gravados ou pintados em paredões e abrigos rochosos, elementos e cenas do cotidiano. Descartaram materiais usados na caça e na luta contra seus inimigos e materiais usados em algumas de suas necessidades diárias: desde vasilhas para alimentação até utensílios com variadas utilidades. A luta pela sobrevivência fez com que eles se adaptassem ao meio em que viviam.

A presença desses grupos humanos na região do Seridó, localizada no centro-sul do estado do Rio Grande do Norte, data de 9.410 A.P. Esta cronologia foi obtida no sítio arqueológico Mirador, zona rural da cidade de Parelhas, na década de 1980, pela arqueóloga Gabriela Martin, que depois identificou outro sítio na cidade de Carnaúba dos Dantas, com datação de 9.400 A.P.: trata-se do sítio arqueológico Pedra do Alexandre (MARTIN, 2008).

Em meados do século XVII quando os colonizadores europeus chegaram ao sertão do Rio Grande encontraram ainda vários grupos indígenas assentados em diversas localidades do interior, onde eram mais abundantes os recursos naturais essenciais à sobrevivência (MEDEIROS FILHO, 1998).

Os portugueses perceberam o quanto esses locais eram propícios à ocupação e ao desenvolvimento de atividades econômicas, vinculadas ao projeto colonial metropolitano. Além de favorecer o cultivo da cana de açúcar no litoral, a introdução do gado bovino nesses espaços se deu pela existência de terras ainda não exploradas. Assim como pela necessidade de garantir posse desse território interiorano, apaziguar os grupos indígenas e estabelecer rotas terrestres para as capitanias do Ceará e Piauí (MACEDO, 2011).

O vale do Acauã onde hoje corresponde a área do açude Gargalheiras reunia condições necessárias para uma permanência mais prolongada das populações nativas. Os colonizadores perceberam o grande potencial da região e tão logo pretenderam ocupá-lo. Ao mesmo tempo em que existia água no rio, em certos períodos do ano, contava com a existência de poços permanentes e olhos d’água nas serras que o circundavam.

Os “holandeses” 1

aliaram-se à grupos indígenas do interior, os Tarairiú2. Um dos objetivos era manter a posse da capitania, conquistada contra os portugueses no ano de 1633.

1 As aspas em “holandeses” justifica-se porque nesse período o mais correto seria falar Países Baixos. Na

historiografia brasileira a “invasão holandesa” foi realizada por uma empresa financeira (banco), denominada Companhia das Índias Ocidentais. É importante lembrar que, os Países Baixos, eram localizados na Europa

(19)

Durante esse período de ocupação “holandesa” (1633-1654) alguns cronistas fizeram anotações que nos dão conta de que existia um acampamento de inverno dos Janduí, e que nesse local se formava uma grande lagoa nos períodos chuvosos, principalmente no mês de junho (MEDEIROS FILHO, 1998).

Os Tarairiú tinham seu acampamento de inverno às margens da Lagoa de Macaguá, onde realizavam rituais e obtinham seus alimentos através da caça e da pesca. O nome Lagoa de Macaguá é uma reconstituição de Teesma, após reformulações da tradução francesa do manuscrito de Rodolfo Baro3. O original foi escrito no idioma holandês arcaico. Quando traduzido para o francês alguns topônimos foram escritos de forma equivocada (TEENSMA, 2000).

O diário do emissário holandês Rodolfo Baro narra tentativas de reatar a aliança com os grupos indígenas do interior do Rio Grande em 1645, conhecidos como Tarairiú. A aliança desses grupos com os “holandeses” estava abalada em decorrência do assassinato de Jacob Rabi um alemão que era casado com uma índia Tupinambá e primeiro emissário de João Maurício de Nassau. O rei Janduí e seu grupo que eram aliados dos flamengos ficaram muito zangados com a morte de Rabi, arquitetada por seus próprios compatriotas. Pediram que Garstman, comandante do F orte na época, fosse entregue ao grupo para que a morte do seu aliado fosse vingada.

Medeiros Filho (1998) localizou a lagoa na qual os Tarairiú se reuniam. Sua interpretação levou a identificá-la como sendo a lagoa de Bayatagh (Piató), no Açu. Para o autor, a lagoa ficava próxima do acampamento principal desses grupos, no rio Otschunogh (Açu) (MEDERIROS FILHO, 1998).

A partir do trabalho de Teensma (2000), com base nos estudos linguísticos e dos topônimos, há a probabilidade de o referido local ser onde atualmente está localizado o açude Marechal Dutra, o Gargalheiras (BORGES, 2010).

A presente pesquisa tem como tema a Lagoa de Macaguá. Teensma (2000) propôs, com a reconstituição dos topônimos do diário de Baro, estropiados na tradução francesa de Pierre Moreau, publicada em Paris em 1651, a hipótese de identificação da localização dessa lagoa no município de Acari, onde atualmente está situado o açude Marechal Dutra, o Gargalheiras.

Ocidental, na qual circulavam capitais de diversos países, como a Holanda, Bélgica, Áustria, Prússia entre outros. (BORGES, 2010).

2 Esses grupos se autodenominavam OTSCCHIKAYAYNOÉ. Tarairiú é, portanto, uma denominação Tupi

adotada pelos europeus (MEDEIROS FILHO, 1984).

3 O nome do cronista é escrito nos documentos como Roulox Baro, no entanto, o linguista Benjamim Nicolaas

(20)

A hipótese de Teesma (2000) foi reforçada por Borges (2010) que representou em mapa a reconstituição da rota de Baro, proposta por Teensma, localizando a Lagoa de Macaguá. O local identificado coincide com a localização do açude Marechal Dutra (Gargalheiras).

Os longos períodos de seca nessa região, que castigam a população do interior do Rio Grande do Norte no século XIX, tornaram possível a idealização de uma barragem que pudesse suprir a escassez de água no município de Acari, nos períodos de estiagem. A construção do Açude Gargalheiras foi idealizada desde o ano de 1909, concretizando-se finalmente no ano de 1958, com a finalização da barragem de concreto que represa as águas do Rio Acauã, com nascente em terras paraibanas. Com o represamento das águas, uma área de cerca de 1.200 hectares foi inundada (SILVA, 2012).

Para se construir o açude Marechal Dutra foi escolhido um local onde existiam poços permanentes e lagoas naturais, em períodos chuvosos. Moradores mais antigos da localidade relatam sobre a existência de poços com grande profundidade e que passavam longos períodos de estiagem sem secar. Quando chovia, esses locais aumentavam a quantidade de armazenagem de água. Francisca Pires Dantas era residente no sítio Volta do Rio, durante o início dos anos de 1950. Ela comenta como era em períodos chuvosos, quando esses poços localizados no leito do Rio Acauã, dificultavam o trajeto entre a zona rural e a sede da cidade. A casa onde ela residia ficava próximo ao Poço do Barbosa, e a mesma necessitava deslocar-se deslocar-sempre neste trecho (SANTA ROSA, 1974).

Os moradores locais, especialmente os agricultores residentes as margens do açude Gargalheiras, vêm identificando diversos sítios arqueológicos com registros rupestres e materiais arqueológicos, seja em superfície, ou ao escavarem o solo para a construção de alicerces de casa, ou quando trabalham no solo para o plantio.

Foi realizado um levantamento arqueológico na área do açude Marechal Dutra (Gargalheiras), durante os anos de 2015 e 2016, que possibilitou a identificação de uma grande quantidade de registros arqueológicos. O levantamento visou identificar subsídios materiais para confirmar a hipótese de que a Lagoa de Macaguá situava-se onde atualmente está localizado o Açude Gargalheiras (TEENSMA, 2000).

Com base no que foi exposto acima, são fundamentais os seguintes questionamentos como problema desta monografia: (1) Os vestígios e assentamentos arqueológicos identificados por amadores e moradores locais são suficientes para confirmar as proposições de Teensma e Borges, que sugerem o Gargalheiras como acampamento de inverno dos grupos

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indígenas falantes da língua Tarairiú? (2) Os dados arqueológicos, (registros rupestres, material lítico, cerâmico, estruturas de combustão) comprovam as proposições de Teensma e Borges?

Utilizamos para responder essas questões, o registro de fontes materiais de diferentes tipologias. Há indícios de registros rupestres, materiais cerâmicos e líticos e estruturas de combustão, que marcam a interação desses grupos no espaço que compreende o açude Gargalheiras. A disposição desses vestígios foi identificada com a ajuda dos moradores locais, através de entrevista (sem que houvesse o uso de gravação ou filmagem, somente o uso do caderno de campo), os quais foram localizados através de um aparelho GPS de navegação e representados em um mapa com suas respectivas tipologias.

O objetivo geral deste trabalho foi, portanto, realizar um levantamento arqueológico nas imediações do Açude Marechal Dutra (Gargalheiras) Acari/RN, visando demonstrar a potencialidade arqueológica da área e fortalecer a proposição que a identifica com a Lagoa de Macaguá e o acampamento de inverno dos grupos Tarairiú.

O objetivos específicos foram identificar e registrar os objetos arqueológicos dispostos em torno do Açude e que se encontram em posse dos moradores locais. Assim como a elaboração de um mapa arqueológico para demonstrar a potencialidade arqueológica da área do açude.

Durante o período de chuvas irregulares de 2012 até o ano corrente (2017), foi possível identificar os vestígios arqueológicos em áreas outrora submersas no açude Gargalheiras. Os sítios4 e ocorrências5 arqueológicas identificados nesse espaço, com diversas cronologias possíveis, demonstram que o ambiente foi favorável a ocupação humana. Há, portanto, indícios de que tenha existido uma ocupação ininterrupta, ao longo de milhares de anos (BORGES, 2010).

Diante dos dados levantados, propomos a seguinte hipótese: o levantamento arqueológico fornece dados para a confirmação de que o Açude Marechal Dutra foi a lagoa de Macaguá, acampamento de inverno dos grupos Tarairiú.

A pesquisa está inscrita na dimensão da História da Cultura Material, pelo fato dos dados identificados no Açude Gargalheiras serem objetos da interação de grupos humanos pré-históricos, desde períodos mais remotos que datam do Holoceno ±10.000 A.P até o século

4 Um lugar de atividade humana, indicada geralmente por uma concentração de artefatos e materiais descartados

(BAHN e RENFREW, 2007, p. 178).

5

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XVII, quando os colonizadores entraram em contato direto com esses grupos (MARTIN, 2008; BORGES, 2010).

Até hoje usamos a expressão Pré-História para nos referirmos a um passado em que não existia escrita. Quando nos voltamos para historiadores mais antigos como Heródoto, Tucídides, Salústio e Brandel, notamos as suas defesas diante de que a História se faz não necessariamente com documentos escritos. Os antigos já faziam o uso das fontes materiais, daquilo que nós chamaríamos de fontes arqueológicas (FUNARI, 1998).

A abordagem utilizada neste trabalho foi a metodologia arqueológica, para estudar os grupos humanos que estiveram em interação com a materialidade, não deixando documentos escritos (FUNARI, 1998).

A organização deste trabalho se dá em cinco capítulos. No primeiro, discutiu-se os aportes teóricos e a metodologia utilizada para o levantamento dos materiais dispostos em torno do Açude Marechal Dutra, assim como o levantamento arqueológico, análise espacial e tipológica dos materiais.

O segundo capítulo fala sobre os dados arqueológicos da área arqueológica do Seridó, as pesquisas realizadas, quais os sítios mais relevantes e suas cronologias. Apresentando de que forma estes sítios se tornaram importantes para a arqueologia da América e como vem se expandido os estudos nessa área.

O terceiro capítulo aborda os dados etnohistóricos, trabalhos de autores que levantaram informações acerca do território de domínio dos grupos Tarairiú, a formação das primeiras fazendas, vilas e aldeamentos e o conflito denominado pela historiografia como Guerra dos Bárbaros.

O quarto capítulo apresenta os resultados desse trabalho, o levantamento arqueológico realizado do Açude Marechal Dutra, o Gargalheiras. Nele descrevemos a quantidade de sítios registrados, sua localização, de GPS, a descrição de cada um e o registro fotográfico. Assim como também a quantidade de ocorrências, os tipos, a descrição, localização e fotos. E as características de cada assentamento e vestígios.

No quinto capítulo fez-se a discussão dos resultados, um cruzamento do levantamento arqueológico realizado no açude com os dados arqueológicos e etnohistóricos da região do Seridó. Distribuição espacial dos sítios e ocorrências, os dados sobre cada tipo de sítio, as relações culturais (tradições, dados etnohistóricos e históricos) e cronológicas.

A conclusão do trabalho se deu com as Considerações Finais, retomando o problema apresentado e a hipótese. Enfatizou-se a potencialidade da área para que se ocorra

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intervenções a fim de corroborar com as pesquisas na área arqueológica do Seridó, e por fim que haja reconhecimento do espaço histórico para o município de Acari, trabalhando a educação patrimonial a fim de preservar os sítios arqueológicos.

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2 APORTES TEÓRICOS E METODOLOGIA

Ulpiano T. Bezerra de Meneses (1983) destaca posturas comumente equivocadas sobre a natureza da documentação material, ou sobre as dificuldades de seu emprego em estudos historiográficos. Uma das alegações de quem compartilha dessas posturas é que as coisas materiais constituíram uma parcela apenas, e bem reduzida dos fenômenos históricos. Para Meneses negar radicalmente a cultura material e cultura não material é ignorar a ambiguidade das coisas materiais, que penetram todos os poros da ação humana e todas as suas circunstâncias (MENESES, 1983).

É importante percebermos como a Arqueologia está relacionada à História, de como as duas se complementam. As informações levantadas pela História podem fornecer respostas que se fundem aos dados arqueológicos. Diante disso há uma troca de conhecimentos que inter-relacionam uma a outra. No entanto, há casos que o uso das informações arqueológicas, dá-se de maneira puramente instrumental, ou seja, selecionam-se as informações materiais apenas para iluminar os textos. Para Meneses muitas vezes a realidade física da cultura material é ignorada, e os artefatos devem ser considerados sob duplo aspecto:

Para analisar, portanto, a cultura material, é preciso situá-la como suporte material, físico, imediatamente concreto, da produção e reprodução da vida social. Conforme esse enquadramento, os artefatos — que para alguns aspectos, constituem como já foi afirmado, o principal contingente da cultura material — têm que ser considerados sob duplo aspecto: como produtos e como vetores de relações sociais. De um lado, eles são o resultado de certas formas específicas e historicamente determináveis de organização dos homens em sociedade (e este nível de realidade está em grande parte presente, como informação, na própria materialidade do artefato). De outro lado, eles canalizam e dão condições a que se produzam e efetivem, em certas direções, as relações sociais. Em consequência, a arqueologia não precisa mais ser definida como a disciplina que se ocupa dos artefatos, das coisas materiais e seu contexto (isto é, das manufaturas e das relações espaciais nas quais elas se apresentam), mas poderia ser recebida no convívio das demais ciências sociais (MENESES, P.112, 1983).

Utilizamos os dados provenientes do levantamento arqueológico realizado, para confirmação dos dados etnohistóricos. A partir do que diz Meneses (1983), de que os artefatos têm de ser considerados como produtos e como vetores de relações sociais, utilizamos das fontes materiais para dar suporte aos dados históricos sobre os grupos indígenas que foram contatados pelo colonizador europeu, na segunda metade do século XVII, em um dos locais que seria o acampamento de inverno desses grupos. Tendo em vista que algumas informações importantes não foram mencionadas nos relatos dos cronistas ou quando foram, após traduções mal realizadas encontram-se mutiladas.

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Nossa pesquisa busca por meio da cultura material demonstrar a potencialidade arqueológica do açude Marechal Dutra (Gargalheiras), mencionado por Teensma (2000) como a possível lagoa de Macaguá. Esse era o provável local em que grupos indígenas Tarairiú permaneciam durante períodos de inverno. Os artefatos6 identificados no levantamento arqueológico do açude constituem-se como informações necessárias, para fundamentação deste trabalho.

É importante deixar claro que a cultura material apresentada nesse trabalho trata-se de vestígios arqueológicos, e que eles são restos de materiais que se preservaram e que por sua vez são fragmentos de algo que já não existe por completo. Portanto a cultura material é fragmentária e lacunar.

O conceito de cultura material que melhor se encaixa para este trabalho, define-se como o conjunto de restos materiais relacionados cronológica e culturalmente a um nível de ocupação arqueológico7 definido, seja ele pré-histórico ou histórico (PROUS, 1992).

A cultura material ganha ênfase nos trabalhos de Sergio Buarque de Holanda (1995) e Ulpiano Bezerra de Meneses (1983), pioneiros nessa dimensão historiográfica no Brasil. A História da Cultura Material em associação com a Arqueologia no Brasil é recente.

Ainda como conceitos norteadores deste trabalho tem-se: área arqueológica e enclave cultural. O conceito de área arqueológica corresponde a divisões geográficas que compartem das mesmas condições ecológicas e nas quais está delimitado um número expressivo de sítios arqueológicos. Estes correspondem a assentamentos humanos onde se tenham observado condições de ocupação suficientes para se poder estudar os grupos étnicos que os povoaram. O conceito de enclave cultural é usado porque a catalogação e registros de sítios poderá permitir a identificação de enclaves pré-históricos e históricos (MARTIN, 2008). (MARTIN, 2008).

O estudo geomorfológico de uma determinada região, adequada para que ocorra pesquisa arqueológica, deve ocorrer previamente. Geralmente, o que ocorre é que os achados arqueológicos são encontrados e levados por leigos e/ou curiosos; isto dificulta a identificação desses locais de vestígios de atividades humanas e, consequentemente, o estabelecimento de uma área arqueológica.

Esses locais em que se identificam vestígios de ocupação humana, com marcadores culturais e cronológicos de longo período, juntamente com características geomorfológicas e climáticas semelhantes permitem a delimitação de uma área arqueológica (MARTIN, 2008).

6 Constituem o principal contingente da cultura material. No entanto é apenas um dos componentes da cultura

material (MENEZES, 1983).

7 Quando se pode considerar que os vestígios estão mais ou menos no mesmo lugar em que foram abandonados

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A utilização de área arqueológica justifica-se pelo fato de que, o açude é um recorte espacial na área arqueológica do Seridó, e a catalogação e registros de sítios poderá permitir a identificação de enclaves pré-históricos e históricos O recorte se justifica pela própria metodologia arqueológica: passo a passo, novos espaços são analisados e os dados integrados numa pesquisa mais ampla, de área, para a definição dos enclaves culturais.

Por sua vez, enclaves são categorias de saída, culturais e cronológicas. Diferentemente da área arqueológica, os enclaves apresentam limites culturais definidos, que podem abranger ambientes geomorfologicamente variados. Para que se delimite os enclaves culturais é preciso que se busque conhecer os processos que levaram a adaptação humana no ambiente em que viviam, assim como o aproveitamento dos recursos disponíveis e as soluções tecnológicas possíveis (MARTIN, 2008).

Os limites culturais e cronológicos de um enclave cultural são visíveis quando as evidências de um grupo demonstram que ocorreu dispersão para outras áreas. Isso pode ter sido ocasionado por diversos fatores, que podem ter sido pela expulsão do seu habitat por grupos mais fortes, pela falta de recursos ou por pressão demográfica (MARTIN, 2008).

Esse conceito se justifica pelo fato de que ao final desta pesquisa poderemos ter a delimitação de territórios culturais, um conjunto de sítios com um horizonte cultural em comum. Teremos, pois o estabelecimento das relações entre o homem e seu meio, numa área segregada de um espaço maior ou área arqueológica (MARTIN, 2008).

Ao final desta pesquisa identificaremos os enclaves culturais mediante os resultados do levantamento arqueológico na área do açude Marechal Dutra (Gargalheiras).

Dado seu teor interdisciplinar, este trabalho concentra-se no campo da História da Cultura Material, sendo a melhor abordagem a metodologia arqueológica, para estudar os grupos humanos que estiveram em interação com as materialidades, na maioria das vezes, sem registro documental (MENESES, 1983).

O objetivo principal deste trabalho foi realizar um levantamento arqueológico nas imediações do Açude Marechal Dutra (Gargalheiras) no município de Acari-RN. Visa a partir da prospecção, registro e catalogação de sítios, demonstrar o potencial arqueológico da área e fortalecer a proposição que identifica a localidade como a lagoa de Macaguá e o acampamento de inverno dos grupos Tarairiú.

O levantamento de dados dessa pesquisa, realizou-se por meio do levantamento bibliográfico e documental, etnohistórico, como primeiro passo. Depois passou-se para o levantamento e a inspeção arqueológica. A técnica foi a documentação direta, de forma

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exploratória. Realizamos a investigação dos dados materiais confrontados com os dados etnohistóricos para responder a nossa hipótese (LAKATOS; MARCONI, 2003).

Procurou-se identificar e registrar, através desse levantamento, vestígios arqueológicos localizados em abrigos rochosos e sítios a céu aberto, que estivessem dispostos em torno do açude; além daqueles artefatos que se encontravam sob posse de moradores locais.

Para isso foi necessário localizar os moradores que tinham posse dentais materiais e/ou informações arqueológicas. Os entrevistados foram: Francisca Pires Dantas, Dimas Pereira da Silva, José Alves Dantas, José Pereira de Medeiros, Josenildo Dantas de Medeiros e Isaura da Silva Pires.

Adotamos o caderno de campo, haja visto que as informações que buscávamos eram curtas e que não necessitava de gravação de voz ou filmagem. A técnica metodológica empregada foi a entrevista, onde estávamos cara a cara com o entrevistado para obter informações necessárias (LAKATOS; MARCONI, 2003).

A partir de então, realizamos o registro fotográfico a fim de levantar informações sobre os registros arqueológicos encontrados no entorno do açude. Embora, saibamos que tais artefatos não foram coletados mediante a aplicação de técnicas arqueológicas apropriadas, foi possível identificar as características formais e tecnológicas da cultura material dos grupos que ali transitaram.

Cabe aqui explicarmos os conceitos de sítio arqueológico e ocorrência arqueológica. Segundo Bahn e Refrew (2007) sítio arqueológico significa um lugar de atividade humana, indicada geralmente por uma concentração de estruturas, artefatos e materiais arqueológicos associados. As ocorrências arqueológicas são fragmentos de material arqueológico, encontrados dispersos e não associados a concentração maior de vestígios.

Além do registro dos artefatos em posse dos moradores, percorremos o entorno e nas áreas emersas do Açude Marechal Dutra de forma intensiva. Durante dois anos (2015 e 2016), foi possível a identificação de uma grande quantidade de vestígios arqueológicos. Aproveitou-se o período prolongado de estiagem, que fez com que o reAproveitou-servatório Aproveitou-secasAproveitou-se, para a identificação de possíveis sítios e ocorrências arqueológicos preservados. Não sabendo quando o açude voltará a sangrar, deixando toda a área submersa pelas águas, viu-se a oportunidade única de percorrer esse espaço a fim de demonstrar a sua potencialidade.

Encontramos algumas dificuldades na hora de fazer o levantamento e identificação dos artefatos, isso se deu por algumas localidades serem privadas, impossibilitando-nos a inspeção desses espaços.

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Foram identificados no levantamento dezesseis (16) sítios arqueológicos e oitenta e uma (81) ocorrências, a maioriadelas localizadas nas áreas que ficam emersas quando o açude está com sua capacidade máxima.

Identificamos: (11) sítios a céu aberto8, alguns em locais mais altos ou nas encostas de morros e em locais mais baixos perto de poços permanentes de água; e (3) sítios sob abrigos, que oferecem proteções naturais contra o intemperismo (PROUS, 1992).

Em relação às ocorrências (81), pudemos identificar: material lítico (55) (fragmentos, lascas, artefatos em quartzo e com marcas de uso ou polidos), material cerâmico (05), fragmentos de grés (08) e faiança (03), dispersos nas proximidades dos sítios.

Os instrumentos de coleta de dados utilizados aqui foram o registro fotográfico, de modo que fossem apresentados neste trabalho e comparados com outros identificados na área arqueológica do Seridó, e o aparelho GPS de navegação para georeferenciar os materiais registrados e representá-los cartograficamente, com suas respectivas tipologias.

Esses procedimentos foram iniciados na fase exploratória da pesquisa e concluídos na elaboração da pesquisa. De modo que esses instrumentos de coleta e registro possam colaborar com a localização dos sítios e ocorrências identificados, caso haja uma futura intervenção arqueológica nesses locais.

Os pontos topográficos registrados serviram para que fosse elaborado um mapa com a localização de todos os sítios e ocorrências arqueológicas. O objetivo é entender o uso do espaço através desses artefatos. É certo que, muitos se encontram perturbados por terem sido carreados pelas aguas do Rio Acauã e seus afluentes. No entanto, muitos se encontram em áreas em que as águas vindas de correnteza não os removeram de lugar.

Vale ressaltar que, durante o levantamento nos deparamos com locais em que estavam sofrendo depredação antrópica, onde são retiradas toneladas de sedimentos de argila para uso na produção cerâmica. Ao realizarmos a visita em um desses locais foi possível a identificação de alguns artefatos que estavam prestes a serem destruídos, bastava que se retomassem as atividades de remoção de argila. Diante dessa situação, em caso único, realizamos a coleta do artefato a fim de preservarmos os dados arqueológicos do lugar. Para isso realizamos o registro do ponto topográfico para que fosse registrada sua localização.

8 Por sítio a céu aberto, nesse trabalho, entendem-se os assentamentos compostos por estruturas de concentrações

circulares de quartzo pirofraturados associados a poucos fragmentos de material cerâmico e um número maior de material lítico, lascado e polido (BORGES, 2010; NOGUEIRA; BORGES, 2015).

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Os dados levantados por meio de entrevistas e identificação estarão representados mais adiante por meio de mapas demonstrando a potencialidade arqueológica do açude Marechal Dutra (Gargalheiras) e suas cercanias.

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3 DADOS ARQUEOLÓGICOS

3.1 PRIMEIRAS PESQUISAS NO SERIDÓ DO RIO GRANDE DO NORTE

As primeiras pesquisas realizadas na região do Seridó do Rio Grande do Norte se deram por conta do arqueólogo autodidata José de Azevedo Dantas. Um homem pobre que nasceu no sítio Xique-Xique em Carnaúba dos Dantas/RN, onde nas areias do rio Carnaúba aprendeu a ler e escrever sem nunca ter ido à escola. Seus irmãos mais velhos o ajudaram nessa conquista, foram seus professores e o tornaram dele um grande homem interessado pelas coisas de sua terra.

Movido pela curiosidade, em relação a quem produziram as pinturas e gravuras em abrigos sob rocha e em grandes blocos de granito ao longo do leito de rios, iniciou suas andanças por diversos lugares no Seridó do Rio Grande do Norte e Paraíba. Reproduziu de forma fiel e paciente os registros rupestres dessa região mencionada. Suas pesquisas em sítios arqueológicos correram entre os anos de 1924 a 1928, originando um manuscrito por ele intitulado de Indícios de uma Civilização Antiquíssima, que se encontra no Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba. Trabalhou nas obras de construção do açude público Marechal Dutra, o Gargalheiras, onde pode comprar um animal para fazer suas andanças (MACEDO, 2009).

Os escritos de José de Azevedo Dantas são de suma importância para as pesquisas arqueológicas atuais, tanto pelo fato de ter despertado os olhares de profissionais diante do valor arqueológico da região do Seridó presente no seu manuscrito, quanto pelo fato de que alguns registros pintados ou gravados desenhados por ele já terem desaparecido. Ele também percebeu naquela época que os registros pertenciam a grupos culturais diferentes, identificando duas “civilizações” distintas. Suas iniciativas demonstraram que ele era um homem a frente do seu tempo, mas que conseguiu captar a essência de muitas coisas. Morreu no ano de 1929, vítima de tuberculose. Seu trabalho foi publicado como livro, em 1994, a pedido da Profa. Gabriela Martin (MARTIN, 2008).

3.2 A ÁREA ARQUEOLÓGICA DO SERIDÓ

As pesquisas sistemáticas em Arqueologia iniciaram no Seridó em 1976 com o então Instituto de Antropologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e posteriormente

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na década de 1980, quando Gabriela Martin resolveu conferir de perto as pinturas e gravuras, as quais foram desenhadas por José de Azevedo Dantas. Com o intuito de compreender as rotas de dispersão das tradições gráficas registradas e as rotas de povoamento da região Nordeste (MACEDO, 2009; MARTIN, 2008; BORGES, 2010).

Foram então iniciadas prospecções que possibilitaram a delimitação de uma nova área arqueológica. Nessa nova área, os sítios assemelham-se a grande Tradição Nordeste, de registros rupestres, presente no estado do Piauí na região de São Raimundo Nonato. No Seridó ela apresenta peculiaridades em relação a riqueza temática das pinturas. As hipóteses propostas foram que os grupos étnicos da tradição Nordeste, originários do sul do Piauí, deslocaram-se até a região do Seridó encontrando aqui o ambiente adequado para a sobrevivência (MARTIN, 2008).

Outra hipótese, sugerida pela diversidade gráfica, seria a probabilidade de ocupações diacrônicas da região na pré-história através de diversas levas, nas quais seriam portadoras de tradições rupestres diferentes, a partir de dez mil anos antes do presente. É provável que esses grupos étnicos distintos não compartilhassem o mesmo território, pelo fato de serem inimigos (MARTIN, 2008).

Desde então, as pesquisas arqueológicas vêm desenvolvendo-se na região do Seridó, onde os municípios de Carnaúba dos Dantas e Parelhas são o centro das pesquisas, já que os sítios estão em sua maioria situados nos vales dos rios Acauã, Carnaúba e Seridó. Novos dados vêm ampliando essas áreas de pesquisa, o que possibilitou novas intervenções em outros municípios com potencialidades arqueológicas semelhantes.

Ao todo são cerca de vinte municípios do Rio Grande do Norte, além de Picuí e Pedra Lavrada, entre outros na Paraíba, inseridos na área arqueológica do Seridó (VER APÊNDICE A - mapa da área arqueológica do Seridó, Rio Grande do Norte). Em todos esses municípios tem-se a presença de registros rupestres, sejam eles gravados ou pintados. A maioria dos sítios apresentam-se como assentamentos em abrigos sob rocha, na meia encosta das serras, próximos de rios, muitos de difícil acesso. Outros estão ao longo de rios em blocos rochosos e outros a céu aberto (MARTIN, 2008).

Muitas vezes fica difícil compreender a escolha desses locais para se registrarem pinturas ou gravuras. Em alguns locais agradáveis e de fácil acesso não são encontrados registros, enquanto outros de difícil acesso e às vezes expostos são muito comuns.

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A grande potencialidade arqueológica dessa área possibilitou o registro de diversos sítios de diferentes tipologias e funções, com datas que recuam a períodos do Holoceno com ± 10.000 A.P.

Os sítios mais importantes são Mirador em Parelhas e o Pedra do Alexandre em Carnaúba dos Dantas por terem sido escavados e os resultados fornecido datações muito antigas para os enterramentos humanos exumados, a exemplo o temos:

O sítio Pedra do Alexandre [...] foi o que mais rendeu informações em termos da cronologia para a ocupação do Seridó em tempos pré-históricos. Há uma sequência de datações que vai de 9.410 a 2.620 anos antes do presente. Estas datas junto com as obtidas em alguns sítios escavados pela equipe de arqueologia do Museu Câmara Cascudo são as únicas referências cronológicas para o passado pré-colonial potiguar e 9.410 anos AP é a evidência de presença humana mais antiga no estado (SILVA, P.130, 2008).

3.3 SITIO ARQUEOLÓGICO MIRADOR – PARELHAS/RN

No Mirador em Parelhas, as pinturas estão dispostas ao longo de um grande bloco de granito (VER ANEXO A - Visão geral do Sitio Mirador em Parelhas/RN), um local de difícil acesso fazendo com que o sítio tenha se preservado por muito tempo. Atualmente com a sua socialização grupos visitam o local como ponto de encontro para bebedeiras noturnas. O abrigo apresenta uma grande riqueza nos temas e nas cenas pintadas, inserindo-se na Tradição Nordeste9, Sub-tradição Seridó10. (VER ANEXO B - Painel com pinturas da tradição Nordeste, sítio Mirador em Parelhas, conta com uma grande disposição de figuras ao longo do abrigo. A cena mostra um provável momento de caça em que as figuras antropomorfas parecem conduzir os zoomorfos).

No início da década de 1980, no Mirador foram realizadas sondagens, em que foi possível a identificação de enterramentos infantis, em associação com contas de colar de osso e material malacológicos, assim como lascas de sílex finamente retocadas e quartzos somente lascados. Em uma profundidade de 60 cm do sedimento, foram registrados fragmentos de carvão que forneceram uma datação de 9.410 anos A.P. As pesquisas nesse sítio não tiveram

9 A Tradição Nordeste é identificada pela riqueza e variedade dos temas apresentados, a riqueza de enfeites e

atributos que acompanham as figuras Humanas. São geralmente grafismos pequenos e dando a ideia de movimento, cenas de sexo, luta e caça são muito comuns nessa tradição (MARTIN, 2008).

10 A Sub-Tradição Seridó é única e apresenta elementos novos e próprios da região, objetos da cultura material,

pintura corporal, pirogas e figuras fitomorfas, todos esses elementos presentes em cenas de cerimônias, sexo e luta (MARTIN, 2008).

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continuidade, pois ao final dessa primeira intervenção, os proprietários do local na época depredaram o sítio com a finalidade de encontrarem ouro (MARTIN, 2008).

3.4 SITIO ARQUEOLÓGICO PEDRA DO ALEXANDRE – CARNAÚBA DOS DANTAS/RN

O Sítio Pedra do Alexandre, em Carnaúba dos Dantas, consiste em um abrigo em rocha metamórfica, que vem sofrendo decomposição. Existem ainda dois menores abrigos próximos (VER ANEXO C - Vista Geral do sítio arqueológico Pedra do Alexandre em Carnaúba dos Dantas/RN). O abrigo está localizado num pé de serra muito próximo ao leito do rio Carnaúba, nele registram-se tanto pinturas da Tradição Nordeste como da Tradição Agreste e gravuras.

As primeiras sondagens se deram no ano de 1990 e proporcionaram a descoberta de enterramentos, que juntamente com os dados obtidos em Parelhas, anos antes, foram muito importantes para se entender quando se deu a ocupação da América do Sul, sendo um dos cemitérios pré-históricos mais antigos do Nordeste do Brasil. Em associação aos enterramentos foram coletados materiais líticos, estruturas de combustão, restos de fauna e poucos fragmentos cerâmicos (MARTIN, 2008).

As datações para esse sítio chegaram muito próximo ao sítio Mirador, ± 9.400 anos A.P foi a data mais antiga registrada para este sítio em Carnaúba dos Dantas. Os diferentes tipos de materiais evidenciados em uma coluna crono-estratigráfica com cerca de 2m de profundidade demonstram sucessivas ocupações ocorridas na Pedra do Alexandre ao longo de milhares de anos, sendo a data mais recente ± 2.620 A.P. (BORGES, 2010).

Os dados mais importantes recuperados nesse sítio são os enterramentos, onde se apresentam em covas circulares, depositados em lajes planas e ovoides. As rochas dispostas sobre o enterramento são do tipo micaxisto ou quartzito, delimitando as covas ou sobre os restos mortais. Acima desses enterramentos foram acesas fogueiras e associadas a elas restos faunísticos, fragmentos de rochas e restos de lascamentos (BORGES, 2010).

3.5 OUTROS SÍTIOS NA ÁREA ARQUEOLÓGICA DO SERIDÓ

Desde 2008 foram registrados na área arqueológica do Seridó sítios a céu aberto, assim como sítios em abrigos sob rocha, com presença de pacotes estratigráficos. No entanto,

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foram registrados alguns abrigos sem a presença de práticas pictóricas (registros rupestres). Este último difere do padrão de assentamento até então estabelecido para a região, pois não têm vestígios de práticas funerárias, e nem grafismos rupestres, o que difere da função ritualística, sugerindo um novo padrão de assentamento.

Outros sítios importantes na área arqueológica do Seridó forneceram datações relevantes em intervenções realizadas durante os anos de 2007, 2008, 2012 e 2015, foram: Furna do Umbuzeiro 3.630 ±32 A.P (sítio-abrigo rochoso sem a presença de registros gráficos), Baixa do Umbuzeiro 3.761 ±811 A.P, e Meggers III 2.840 ± 30 A.P, localizados no vale do rio da Cobra entre os municípios de Carnaúba dos Dantas e Parelhas/RN e, estes últimos são caracterizados como ocupações a céu aberto. Tais assentamentos apresentaram estruturas circulares de combustão, compostas por quartzos pirofraturados11 e material arqueológico (cerâmico e lítico) em superfície; algumas vezes em associação direta com as estruturas de combustão (BORGES, 2010; NOGUEIRA, 2016).

Além dos sítios mencionados acima, foram realizadas outras intervenções arqueológicas em sítios da área arqueológica do Seridó: Sítio Furna dos Caboclos (1996), Furna do Cupim (1997), Pedra do Vem-Vem (2001), Olho d’água das Gatas (2000/1), Pedra do Chinelo (2001/2), Casa de Pedra (2001), Serrote das Areias (2001), Casa Santa (2006) e Meggers I e III (2014/15); entre outros escavados recentemente, dos quais os dados serão apresentados a partir da conclusão dos trabalhos. Conforme vão se ampliando as pesquisas nessa área, novos sítios vão sendo identificados, diante das suas potencialidades são incluídos em novos projetos de intervenções arqueológicas, a fim de obter novos dados a respeito desses grupos pré-históricos (BORGES, 2010).

O fato das pesquisas estarem centradas nos municípios de Carnaúba dos Dantas e Parelhas, não quer dizer que as áreas que abrangem os demais municípios da região não existam registros arqueológicos, o fato é que tem se realizado prospecções mais intensas nesses municípios. Com a identificação de novos sítios com grandes potencialidades, novas pesquisas poderão surgir a fim de coletar dados para se entender como se deu o povoamento nessa região (MARTIN, 2008).

3.6 OS DADOS ARQUEOLÓGICOS E A RELAÇÃO COM OS GRUPOS ETNOHISTÓRICOS

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Os grupos indígenas que habitavam a região do Seridó eram nômades, ou seja, não tinham habitação fixa. Viviam a se deslocar de um lugar para o outro aproveitando os recursos disponíveis na região para sua sobrevivência. Eles viviam da caça de animais de pequeno porte, da pesca e de coleta de frutos silvestre e mel. Os locais em que esses grupos permaneciam eram, geralmente, a céu aberto, e procuravam ambientes que ofereciam recursos naturais mais abundantes, ou seja, próximos aos rios ou fontes permanentes de água (MEDEIROS FILHO, 1984).

Como conseguimos ver anteriormente, a cronologia para os sítios em abrigo do Seridó (Mirador e Pedra do Alexandre) chegam a 9.410 anos A.P, para enterramentos que estavam associados a estrutura de combustão e outros vestígios líticos e enxovais fúnebres. Em relação a sítios a céu aberto, essas datações chegaram a 3.761 anos A.P. (Baixa do Umbuzeiro). Os os vestígios associados às estruturas de combustão, são fragmentos de cerâmica simples, pontas de projétil e material lítico polido. Para os sítios em abrigo, em que não se registra grafismos rupestres (Furna do Umbuzeiro), foram identificados material feitos em fibras vegetais, material lítico, malacológico e fragmentos ósseos humanos. As estruturas de combustão desses abrigos apresentaram uma datação de 3.630 A.P. (BORGES, 2010).

Os dados arqueológicos obtidos em escavações feita em sítios sob abrigo e a céu aberto, evidenciaram materiais que podem ser relacionados com os dados das populações etnohistóricas da região, indicando assim uma continuidade tecnológica e cultural desses grupos (BORGES, 2010).

Por outro lado, as pinturas da tradição Nordeste existentes em alguns dos abrigos da área arqueológica do Seridó, representam em suas cenas o uso de ferramentas e adornos corporais que estavam ligadas a cultura material desses grupos. Assim como cenas em que eram realizadas danças, lutas, caça e sexo, todas muito bem retratadas em abrigos do Seridó.

Os sítios rupestres em Carnaúba dos Dantas apresentam uma grande riqueza nos elementos representados. Os propulsores de dardos são facilmente identificados como armas utilizadas para caça de animais (VER ANEXO D - Grafismo antropomórfico representando o uso de armas: propulsor de dardos. Localizado ao centro, pintado na cor amarela. Sitio arqueológico Furna do Caboclo, Carnaúba dos Dantas/RN). Esses grupos ainda utilizavam pequenos machados polidos de mão e uma clava de madeira (MARTIN, 2008).

Portanto, através dos registros gráficos presentes nos abrigos dos sítios arqueológicos da região do Seridó, pode-se fazer uma relação com os dados dos grupos indígenas descritos nos documentos históricos da região. Borges nos apresenta essa relação:

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Porém, até o presente momento, não foi identificado nenhum relato histórico que permitisse uma relação de identidade entre estas populações etnohistóricas e os grupos autores dos registros gráficos encontrados em quase todo o estado potiguar. Apesar de muitas áreas descritas como assentamentos Tarairiú estarem associadas a sítios com registros gráficos, a variedade tipológica dos mesmos, não permite qualquer afirmação categórica sobre este tema (BORGES, 2010).

A cultura material dos grupos pré-históricos pode estar relacionada com a cultura material dos Tarairiú. O que permite formular esta hipótese é que há uma continuidade tecnológica e cultural presentes nos dados evidenciados em sítios da região, tais como: propulsores de dardos, cerâmica simples, fibras vegetais, pontas líticas de projétil, cocares, caça e coleta (VER ANEXO E - Painel com diversos grafismos rupestres), o nomadismo e a ausência de registros que indiquem aldeias fixas (BORGES, 2010).

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4 DADOS ETNOHISTÓRICOS

Quando os europeus chegaram ao litoral que viria ser o território brasileiro pela primeira vez, encontraram populações nativas dispersas. Essas populações pertenciam ao grupo linguístico Tupi-Guarani.

No espaço que hoje compreende o estado do Rio Grande do Norte, mais especificamente o litoral, era ocupado por grupos falantes da língua Tupinambá, e eram denominados de Potiguara. Esses grupos resistiram as primeiras tentativas de conquista portuguesa (LOPES, 1998).

Por outro lado, no interior, encontravam-se grupos falantes de uma língua isolada, denominados, de forma pejorativa, como Tapuia. Esses grupos eram conhecidos por Tarairiú e se encontravam divididos em diversas tribos, aliadas ou inimigas, sendo: os Janduí, Kanindé, Jenipapo, Pega, Javó, Sukuru, Panati, Ariú e Paiacú (MEDEIROS FILHO, 1984).

A língua desses grupos não estava relacionada com nenhuma das famílias linguísticas conhecidas, foi classificada como língua isolada, podendo ter uma cronologia muito antiga de há 7.000 anos (URBAN, 1998). Os Tarairiú praticavam o endocanibalismo12, como forma de demonstrar respeito por seus companheiros (MEDEIROS FILHO, 1984).

Os Tarairiú são mencionados em relatos históricos a partir do século XVII. Foram protagonistas da “Guerra dos Bárbaros” onde lutaram por seus espaços. Esses grupos estavam dispersos pelos sertões de fora13 (Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí). A palavra Tarairiú é de origem Tupi, que significa “comedores de traíra”, porém esses grupos se autodenominavam Otschikayaynoé (MEDEIROS FILHO, 1984).

Outros grupos ainda são mencionados nos relatos dos mais antigos moradores de localidades rurais de Acari como: os Mochila e os Maracajá, atualmente nomes de riachos, que, segundo tradição oral, eram de domínio territorial dessas populações remanescentes. Francisca Pires Dantas, residente no sítio Cabeço Branco, em Acari, relata que seus antepassados falavam nesses últimos nativos em riachos que hoje levam os com os quais se denominavam. Os riachos do Tapuia, Mochila e Maracajá, nascem na Serra da Puridade, fazendo divisa com os municípios de Frei Martinho/PB e de Carnaúba dos Dantas/RN. Ao longo desses riachos foram coletados, por antigos moradores, vasilhas de cerâmica e materiais líticos polidos, além da localização de sítios com registros rupestres. Comenta-se também,

12 Compreende-se o hábito de ingestão dos próprios mortos, como ritual funerário (BORGES, 2010).

13 O interior do sertão encontrava-se povoado, principalmente, por dois grupos linguísticos: Kariri, nos “sertões

Referências

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